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ILUMINAÇÃO
De nacionalidade francesa, Gian Carlo C. Bortolotti, o ‘Gianzinho’, filho deGian Carlo Bortolotti, pioneiro na iluminação cênica no Brasil, seespecializou como coordenador de equipes de iluminação convencional eautomatizada, programador e operador de iluminação automatizada, diretor-técnico e iluminador nas áreas de dança, teatro e música.
Karyne [email protected]
J
PerfilGian Carlo C. Bortolotti
á foi solicitado para trabalhar como chefe de equipes deiluminação para grandes eventos, como o show da turnêVoodoo Lounge, dos Rolling Stones, em 1995, o New
York City Ballet e o show Bridges to Babylon, dos Rolling Stones,em 1998. Foi iluminador da banda Raimundos, de LucianaMello, Mamonas Assassinas (1995 / 1996 - Concepção, 160shows e DVD no Metropolitam, atual Citibank Hall), Camisade Vênus e Banda Taffo. Atualmente, é sócio-gerente da em-presa Ibeam, em São Paulo, e iluminador da cantora Maria Rita.
Revista Backstage - Quando iniciou sua carreira no mer-
cado de iluminação?
Gian Carlo Bortolotti - Meus primeiros trabalhos como profissio-nal, ou seja, me pagavam para executá-los, foram Romão e Julinha(espetáculo infantil) e Pássaro do Poente (espetáculo adulto), em1986. Eu tinha 14 anos.
O que chamou sua
atenção para traba-
lhar com iluminação?
Bortolotti - Nascinesse ambiente. Minhamãe era atriz e meu paieletricista de teatro.
Por ter iniciado
com dança e teatro,
como isso o ajudou
no segmento do show
business?
Bortolott i - Osshows que realizo ho-
je possuem uma assinatura teatral e é por causa desse conceitoque as pessoas me chamam.
Como desenvolveu a sua linguagem de trabalho?
Bortolotti - Trabalhando e estudando sempre. Trabalhandoporque em cada trabalho há novas idéias, novos desafios. E estu-dando muito para sempre poder ter à disposição um conheci-mento que me permite usar todas as ferramentas que são ofere-cidas aos profissionais.
Você fez parte da equipe técnica do Dama Xok, em São
Paulo. Quais as dificuldades de se fazer luz naquela época em
uma casa de shows?
Bortolotti - Para ser sincero, nenhuma. Eu e Tato Goubert(meu ex-sócio), da Stage Luz & Magia, tínhamos um equipa-
mento de ponta, mui-to à frente do nossotempo, já com padrãointernacional. O Da-ma Xok tinha, semnenhuma dúvida, omelhor sistema de luzinstalado para showsno Brasil, tanto emqualidade como emquantidade. Portantoera muito fácil de tra-balhar. Também tive-mos sorte de termosuma equipe que trei-namos e funcionavamuito bem.Gian utiliza os conceitos de ballet e teatro na maioria de seus projetos de luz
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lgação
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O que aprendeu com as bandas in-
ternacionais que se apresentavam lá?
Bortolotti - Que podemos atendê-los semnenhum problema, mesmo sem termos a gra-na que eles têm lá. É só trabalhar direito.
Você adotou essa experiência para
trabalhar com as bandas nacionais?
Bortolotti - Sim, principalmente noque se refere à metodologia de trabalho:um cronograma estabelecido na cabeça doque fazer, chegar com as coisas definidas edeixar para sonhar em casa. Na hora damontagem, é executar com a melhor per-feição possível o que você idealizou. Sesouber o que quer, tiver mapa de luz, rotei-ro, idéias, enfim, tudo pronto para execu-tar, o tempo que você tem no local dá parafazer mais coisas. Se ficar criando in loco,você consegue realizar muito menos.
Em 1989, você viajou como técnico
de luz da banda RPM. Como era a situ-
ação de um artista de rock pop em ter-
mos de iluminação na época?
Bortolotti - Devemos lembrar queRPM era uma das maiores bandas dos anos80. Nessa época, tínhamos o que quisésse-mos dentro da realidade do Brasil. Viajáva-mos com tudo. Eram três carretas de equi-pamento. Nas décadas de 1980/90, isso eramuita coisa. Tinha até raio laser.
Quais os conceitos de iluminação de
rock que você adotou para os mapas de
luz do RPM? Baseou-se nas referênci-
as das bandas internacionais com as
quais trabalhou?
Bortolotti - Na verdade, de bandas derock, nenhuma. Utilizei muito os conceitosde luz utilizados em ballet e teatro. Quan-do fiz a luz do RPM, utilizei muitos gobos,laterais, luzes escuras, cores fortes, etc.
Pode falar um pouco da sua forma
pessoal de trabalhar com concepção
para shows?
Bortolotti - Conversar com as pessoasenvolvidas, desde o artista até o empresárioe/ou produtor para tentar entender ao má-ximo que linha querem seguir, se mais tea-tral, se mais “show” cheio de pirotecnia, semais clássico, etc. Às vezes, as opiniõesmudam de pessoa para pessoa, mesmo den-tro de um mesmo projeto. Da parte do artis-ta, tento descobrir os gostos pessoais, se temalguma coisa que gosta em particular oudesgosta especificamente. Da parte doempresário, até que ponto podemos ir em
matéria de dinheiro mesmo, quanto pode-mos gastar. Depois vem a parte de escutaras músicas. Sempre sem tentar concebernada, deixando algumas idéias virem àcabeça naturalmente. Idéias visuais especí-ficas. Escuto as músicas (ou leio o roteiro)tentando especificar momentos, climas eefeitos de luz que mais se encaixam ao queestá acontecendo. Em seguida, conversocom o diretor e /ou artista sobre o caminhoque as coisas estão tomando e então traçodiretrizes mais claras. Faço um roteiro dos
efeitos de luz e um mapa baseado neste,sem muitas limitações. Refazer o mapa ten-tando otimizar equipamentos. Conversarcom todos (empresários $$, artista, se achamuito, pouco, bom, etc...), refazer o mapadentro das estruturas possíveis do show emquestão, seguindo as diretrizes das pessoasacima, lista de equipamento, refazer o ro-teiro, relatórios, juntar toda esta documen-tação em uma “Bíblia”, fazer a requisiçãotécnica oficial, mapa de luz, lista de equi-pamentos, páginas de patch, relatórios, ro-teiro e, por fim, entregar tudo.
Que tipo de referências você busca
quando vai montar uma luz ou pensar a
iluminação de um artista?
Bortolotti - Primeiro depende do queartista e/ou diretor pedem. Depois, buscoreferências em filmes, fotos e cenas que serelacionem com o tema proposto. AInternet é tudo de bom para isso hoje emdia. Por exemplo, quando Maria Rita pe-diu velas, o Imagens, no Google foi ótimo.
Como você casou suas referências e
conhecimentos à tecnologia atual? Como
a criação pode se destacar em meio a tan-
ta tecnologia no segmento de iluminação?
Bortolotti - Temos que pensar emtecnologia como uma ferramenta para rea-lizar o que você idealizou. Se você temuma referência visual de que gosta, vocêusa a tecnologia adequada para conseguir.Por exemplo, quero que chova no palcoporque a cena é num dia chuvoso ou amúsica fala de chuva. Vamos atrás detecnologia, gobos, projetores, cenários, coi-sas que façam isso acontecer. Acho muitoerrado esse negócio de usar o que tem denovo só porque é novo. Tem que ver o quevocê quer fazer e correr atrás da ferramen-ta que faça isso acontecer. Devemos estaratualizados e pesquisar tudo o que puderpara poder ter idéias sem limitações.
Você foi Coordenador de Equipes de
Iluminação Convencional e Automati-
“Escuto as músicas (ou leio o roteiro)
tentando especificarmomentos, climas
e efeitos de luzque mais se
encaixam ao queestá acontecendo”
Gian é iluminador da cantora Maria Rita
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zada. Você ainda coordena essas ativida-
des? Elas são voltadas para que propósito?
Bortolotti - Conceber luz e fazer luz écomplicado. Você tem que ter bastantetempo (para fazer direito) e tem que teruma afinidade com o artista/diretor mui-to grande. Sim, faço esses trabalhos,principalmente em eventos corporativos,shows internacionais, etc. Pagam bem,que mal que tem, não é?
Você coordenou a equipe de luz do Free
Jazz Festival e Carlton Dance Festival.
Como foi sua pesquisa para trabalhar
com a luz de cada um destes eventos?
Bortolotti - O Carlton Dance era bemfácil. Tinha um iluminador estrangeiro, oDan, que era responsável por pegar todos osmapas de luz de todos os balés e construirum mapa único para o festival, atendendoàs necessidades de todos. Este foi o processoque acabei utilizando nas edições do FreeJazz junto com o Naldo Bueno e o Zé Luís,da Oficina de Luz (RJ).
Quais as inovações que aconteceram
no mercado brasileiro depois que Rio de
Janeiro e São Paulo assistiram ao show
da turnê The Girlie Show, de Madonna,
em 1992, quando o Brasil ainda come-
çava a trabalhar com os primeiros
moving lights? Alguém no Brasil já
atendia a esse tipo de show ou veio tudo
com a produção do show?
Bortolotti - Veio tudo com a produ-ção da cantora. Nós colocamos somente20 técnicos de luz para a montagem do
show. O Zé Luiz (Oficina de Luz) erameu chefe nesse show, ele ficou no Rio eeu em São Paulo. Consigo resumir a res-posta para esta pergunta usando uma fra-se que li na época: “O iluminador daMadonna conseguiu trazer a Broadwaypara um estádio de futebol”.
Como você aprendeu a manusear os
equipamentos importados para atender
a essas demandas internacionais, se
ainda grande parte deles não estava dis-
ponível no Brasil?
Bortolotti - Estudando. Os equipa-mentos seguem uma linha de raciocíniológico, são evoluções uns dos outros. Oque não pode é ter preguiça de pensar. Écorrer atrás de saber o que é, como funci-ona, como faz aquilo, etc.
O brasileiro sabe usar a tecnologia
que compra?
Bortolotti - Não. Temos algumas ex-ceções, mas ainda existe o problema de‘vamos comprar porque é moda’.
Como o brasileiro ‘peca’ nesse sentido?
Bortolotti - Tem que estudar e definirmuito bem o que realmente você quer usarpara tirar o melhor proveito dele. Comprar oupedir só porque aquilo é tão legal não rola.
Um conselho para quem pretende
trabalhar com iluminação e está entran-
do agora no mercado.
Bortolotti - Goste muito do que fazou então não faça.
A equipe técnica de Madonna trouxe toda aestrutura de iluminação
Vinte técnicos brasileiros trabalharam na montagemda luz do show de Madonna, em 1992