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Prof.: Sebastian MelloAluna: Izabela Saraiva

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO

1. HISTÓRICO

Em 1764, Beccaria começou a defender a humanização das penas, mas nessa época

ainda não se falava das penas alternativas, as quais somente começaram a ser dispostas em lei

no Direito Soviético (1926; prestação de serviços à comunidade) e no Direito Inglês (1948;

prisão de fim de semana).

No ano de 1948, também surgiu a Declaração Universal de Direitos Humanos, num

momento pós-guerra. Nessa Declaração, passou a se defender a existência de penas que

respeitassem a dignidade do homem, não se admitindo penas cruéis e degradantes.

A partir da DUDH, passou-se a discutir sobre penas alternativas à pena de prisão, as

quais tiveram suas regras mínimas estabelecidas na Resolução 45/11C (1990), chamas “Regras

de Tóquio”.

Embora tais regras não possuíssem força de lei, foram fundamentais para a

interpretação a ser realizada pelos operadores do direito (acabaram se tornando normas

consuetudinárias).

2. NOMENCLATURA

A nomenclatura aqui utilizada será a de Luis Flávio Gomes, ressaltando que existem

diversas classificações de outros autores.

Inicialmente, vale dizer que há diferença substancial entre penas alternativas e medidas

alternativas, senão vejamos:

Penas alternativas sanções de natureza criminal distintas da prisão. Exemplos:

restrição de direitos; multa; reparação do dano extintiva da punibilidade.

Medidas alternativas sanções, a exemplo da suspensão condicional do processo,

que visam impedir que ao autor de uma infração penal venha a ser aplicada uma pena

privativa de liberdade.

Essas duas figuras podem ser consideradas espécies do gênero alternativas penais.

Ainda, temos que as penas podem ser:

a) Consensuais, a exemplo da transação penal;

b) Não consensuais:1

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Diretas;

Substitutivas: o juiz, primeiramente, aplica a pena de prisão para só

depois substitui-la.

No bojo das penas não consensuais substitutivas é que vão se enquadrar as penas

restritivas de direito.

Quanto à nomenclatura utilizada pelo Código Penal Brasileiro, o legislador não foi

muito feliz, uma vez que, dentre as penas elencadas, aquela que constitui, essencialmente, uma

pena restritiva de direito é a “interdição temporária de direitos”.

3. CARACTERÍSTICAS

3.1. AUTONOMIA (CP, art. 441)

As penas restritivas de direito não são acessórias, de modo que é inadmissível, ao

menos em princípio, a sua cumulação com pena privativa de liberdade. Fala-se em “ao

menos em princípio”, porque, por vezes, o legislador comete algumas incongruências, a

exemplo do art. 78, da Lei 8.072/90:

Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas, cumulativa ou

alternadamente, observado odisposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal:

I - a interdição temporária de direitos; (...)

Ressalte-se que, apesar de autônomas, as penas restritivas de direito não estão previstas

no preceito secundário de nenhum tipo penal.

3.2. SUBSTITUTIVIDADE

São aplicáveis como alternativas à pena privativa de liberdade. Ou seja, o juiz,

primeiramente, fixa a pena privativa de liberdade e, atendidos os requisitos legais, a substitui

por pena restritiva de direito.

3.3. REVERSIBILIDADE

Está ligada ao estudo da conversão. Os autores geralmente não tratam como

característica. As penas restritivas de direito são reversíveis, porque, mesmo após aplicada, é

possível a reaplicação da pena privativa de liberdade com o fim de garantir a eficácia da

pena restritiva de direito.

1 Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: (...)2

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Duração da pena restritiva de direito: em regra, é a mesma duração da pena

privativa de liberdade aplicada. Exceção: art. 46, §4º, CP:

§ 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir

a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena

privativa de liberdade fixada. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

Crimes hediondos (Lei 8.072/90): não há vedação à aplicação de penas restritivas de

direitos.

Lei Maria da Penha: não obstante vede a aplicação dos dispositivos da Lei 9.099/95,

não há qualquer vedação acerca da aplicação das penas restritivas de direito.

4. REQUISITOS (que devem estar presentes simultaneamente)

4.1. OBJETIVOS

a) Quantidade de pena aplicada2

O legislador exige que a pena aplicada não seja superior a 4 anos. Entretanto, no caso

dos crimes culposos, é possível que a pena ultrapasse esse limite. O teto de 4 anos, portanto, se

aplica somente aos crimes dolosos.

De acordo com o art. 44, §2º, CP3, quando a pena aplicada for igual ou inferior a 1

ano, a substituição pode ser feita por 1 pena restritiva de direito, apenas, OU por multa.

Quando a pena for superior a 1 ano, a substituição vai ser feita por 1 pena restritiva de

direito + multa OU por 2 penas restritivas de direito.

2 E não a quantidade de pena cominada em abstrato.3 § 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva

de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de

direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.3

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Crime doloso pena inferior a 4 anos;

Crime culposo pode ultrapassar o

limite.

Pena restritiva de direito quanto à

quantidade de pena aplicada

Pena igual ou inferior a 1 ano 1 pena

restritiva de direito OU multa;

Pena superior a 1 ano 1 pena

restritiva de direito + multa OU 2 penas

restritivas de direito.

OBSERVAÇÕES:

- A conveniência da modalidade de pena a ser aplicada segue o disposto no art. 44, III, CP4;

- A pena restritiva de direito que diz respeito à prestação de serviços à comunidade ou a

entidades públicas só é aplicado, apenas, a condenações superiores a 6 meses.

- É possível a cumulação de 1 pena restritiva de direito + multa no caso de condenação até

1 ano. Ex.: usurpação (CP, art. 1615). Cezar Bittencourt diz que, na verdade, o que o

legislador proíbe é a substituição cumulativa, e não a aplicação cumulativa.

b) Modalidade de execução

O crime não pode ser praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa. O

desvalor invocado aí é o desvalor da ação.

Vale dizer que existem alguns delitos, como a lesão corporal leve, o constrangimento

ilegal e a ameaça, que se consumam com a violência ou grave ameaça, mas também constituem

crimes de menor potencial ofensivo. A doutrina majoritária (Bittencourt, Prado, Greco) se

posiciona no sentido de que alguns crimes cometidos com violência ou grave ameaça à

4 CP, Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:

III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as

circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.

5 CP, Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para

apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:

 Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

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pessoa (a exemplo dos mencionados acima) continuam fora da proibição, menos por

causa da sua natureza, e mais por causa da disciplina legal a que estavam submetidos

antes da entrada em vigor da Lei 9.714/98, diploma que alterou o regramento das penas

restritivas de direito.

Há quem discorde do posicionamento acima, como Guilherme Nucci, alegando que não

caberia ao magistrado fazer a interpretação quando o legislador o faz de maneira diversa.

Todavia, esta é a corrente minoritária.

4.2. SUBJETIVOS

a) Não reincidência em crime doloso

Somente a reincidência em crime doloso pode, em regra, impedir a substituição por

pena restritiva de direitos. É suficiente, portanto, que o crime seja culposo para que o réu

atenda a esse requisito.

Essa regra, todavia, não é absoluta. Nem mesmo a reincidência em crime doloso será

sempre considerada como fator absoluto de impedimento. Somente a reincidência específica

(= prática do mesmo crime) constitui impedimento absoluto da substituição, nos termos do art.

44, §3º, CP:

CP, art. 44, § 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição,

desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável

e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.

b) Prognose de suficiência da substituição

Consiste num juízo de probabilidade, ou seja, o juiz vai verificar se o condenado

possui condições pessoais indicativas da conveniência da substituição. Dos elementos do

art. 59, os únicos que não serão avaliados aqui são o comportamento da vítima e as

consequências do crime.

Observação importante!

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O art. 44 da Lei 11.3436 (Lei de Drogas) veda a substituição da pena privativa de

liberdade por pena restritiva de direitos aos crimes do art. 33, caput e §1º, 34 a 37 do

mesmo diploma legal. Sucede que, em julgamento realizado no dia 1º/09/2010, o STF

declarou, incidentalmente , a INCONSTITUCIONALIDADE deste dispositivo . Este

julgado não possui efeitos erga omnes, todavia já serve como indicativo de jurisprudência e

parâmetro para outros julgamentos sobre este mesmo tema.

5. ESPÉCIES

As espécies que serão tratadas abaixo são aquelas previstas no Código Penal, todavia

existem outras penas restritivas de direito estabelecidas na legislação extravagante, a exemplo

do art. 8º, Lei 9.605/987 (Lei dos Crimes Ambientais).

As penas restritivas de direito não estão condicionadas ao consentimento do

condenado.

Vale dizer, também, que as espécies do Código Penal são taxativas, em regra. A

exceção encontra-se no art. 45, §2º8. Assim, ao juiz é vedada a imposição de qualquer pena

sem a expressão previsão legal.

5.1. PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA (CP, art. 45, §1º)

CP, art. 45, 1o A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a

seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de

6 Lei 11.343, Art. 44.  Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e

insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em

restritivas de direitos.

7   Art. 8º As penas restritivas de direito são:

I - prestação de serviços à comunidade;

II - interdição temporária de direitos;

III - suspensão parcial ou total de atividades;

IV - prestação pecuniária;

V - recolhimento domiciliar.

8 § 2o No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir em

prestação de outra natureza. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)6

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importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a

360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante

de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários.

(Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

Também chamada de multa reparatória, consiste no pagamento em dinheiro à

vítima ou aos seus dependentes, entidade pública ou privada, de um valor, como forma de

reparação ao dano causado pelo crime. O dano deve ser comprovado, sob pena de

enriquecimento sem causa.

O valor pago será deduzido do montante de eventual indenização por reparação de

danos imposta no âmbito cível, desde que coincidentes os beneficiários.

Ressalte-se que a preferência é das vítimas e dos seus dependentes, e depois vêm as

entidades públicas e privadas.

5.2. PRESTAÇÕES DE OUTRA NATUREZA (CP, art. 45, §2º)

CP, art. 45, § 2o No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do beneficiário,

a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza. (Incluído

pela Lei nº 9.714, de 1998)

A exposição de motivos da Lei 9.714/98 traz dois exemplos:

Oferta de mão-de-obra;

Pagamento de cestas básicas.

Parte da doutrina entende que essa previsão legislativa é inconstitucional, porque se

trata, na verdade, de pena inominada, e, por isso, pode ser considerada como uma pena

indeterminada, ferindo o princípio da reserva legal.

5.3. PERDA DE BENS E VALORES (CP, art. 45, §3º)

CP, art. 45, § 3o A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á,

ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu

valor terá como teto – o que for maior – o montante do prejuízo causado ou do

provento obtido pelo agente ou por terceiro, em conseqüência da prática do crime.

(Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

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A perda de bens e valores pertencentes ao condenado, ressalvado o disposto na

legislação especial (ex.: Lei 11.343/06 – FUNAD), vai se dar em favor do Fundo

Penitenciário Nacional (FUNPEN).

Os bens (tudo o que tem valor econômico) podem ser móveis ou imóveis. Já os valores

compreendem todo título ou papel representativo de uma obrigação em dinheiro ou

mercadoria (ex.: cheque, apólice, nota promissória etc.). O limite dessa pena vai ser o

montante do prejuízo ou do provento obtido com a prática da infração penal.

Cumpre salientar que a perda de bens e valores não se confunde com os eventuais

efeitos da condenação (CP, art. 91).

Quanto à natureza dessa pena, ainda, temos que Cézar Bittencourt sustenta que se trata,

em verdade, de uma pena de confisco, a qual não é mais adotada pelo nosso D. Penal moderno.

Luis Flávio Gomes, em contrapartida, é favorável à existência da pena de perda de bens e

valores.

Estende-se a pena de perda de bens e valores aos herdeiros?

Para Prado, não é possível a extensão dessa modalidade de pena aos sucessores do

condenado. Para Luís Flávio Gomes e Greco, por outro lado, é possível, sim, tal extensão,

porque estaria sendo realizada uma extensão da reparação dos danos.

5.4. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS A ENTIDADE PÚBLICA OU PRIVADA (CP, art. 46)

 CP, art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é

aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade. (Redação

dada pela Lei nº 9.714, de 1998)

§ 1o A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na

atribuição de tarefas gratuitas ao condenado.  (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

§ 2o A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais,

hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas

comunitários ou estatais. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

§ 3o As tarefas a que se refere o § 1o serão atribuídas conforme as aptidões do

condenado, devendo ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de

condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho. (Incluído

pela Lei nº 9.714, de 1998)

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§ 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a

pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa

de liberdade fixada. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

Consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado, em conformidade com as

suas condições pessoais. Ressalte-se que o rol do art. 46, §2º é meramente exemplificativo.

As tarefas serão cumpridas à razão de 1 hora por dia de condenação. Deverão

respeitar o princípio da humanidade das penas (não pode ser vexatória, por exemplo). Ainda, a

sua realização se dá de forma gratuita, não constituindo relação de trabalho.

Levanta-se a discussão sobre a necessidade de consentimento do condenado. Alguns

doutrinadores sustentam que, em face da não exigência do consentimento, essa pena seria uma

reminiscência da ideia de “trabalho forçado”. Luiz Flávio Gomes, por outro lado, defende a

constitucionalidade dessa pena de prestação de serviços.

5.5. INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS (CP, art. 47)

A interdição temporária de direitos é a única que, de fato, vai representar uma limitação

à capacidade jurídica do condenado, caracterizando, propriamente, uma pena restritiva de

direito.

Essa pena também não se confunde com os efeitos da condenação (CP, art. 92), os

quais são, somente, conseqüências reflexas.

Essa espécie, consubstanciada numa obrigação de não-fazer, é subdivida em 4

subespécies:

I - Proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de

mandato eletivo:

A interdição não é definitiva, mas temporária. Passado o período do seu cumprimento,

o funcionário voltará, normalmente, às suas atividades, a não ser que exista alguma

limitação no âmbito do Direito Administrativo.

O crime praticado precisa ter relação inerente ao cargo, emprego ou função que ele

exerça, o que não quer dizer que essa pena só será imposta em caso de crime contra a

Administração Pública.

Quanto à proibição do exercício de mandato eletivo, a doutrina observa que esse

dispositivo é inconstitucional, porque os parlamentares só podem ser impedidos de exercerem o

mandato na forma estabelecida na Constituição Federal.

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II - Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de

habilitação especial, de licença ou autorização do poder público:

Exemplo: crimes de violação de segredo; advogado que pratica patrocínio infiel;

professor que comete maus tratos ao aluno. Essa seria uma pena restritiva de direitos

específica.

Essa pena não vai poder ser imposta a toda e qualquer profissão que o indivíduo exerça,

mas tão somente àquela que suscitar a aplicação de uma pena.

III - Suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo:

Segundo Luis Flávio Gomes, Régis Prado e Flávio Augusto Monteiro de Barros, este

inciso, no ponto em que ele se refere a “suspensão da habilitação”, foi derrogado pela Lei

9.503/97 (CTB). A parte da “autorização” permanece, pois, intacta.

Há outros autores que defender que esse inciso só será aplicado, ou seja, somente

subsistirá como pena, quando a pena privativa de liberdade for aplicada por crime excluído do

CTB. Ex.: acidente ferroviário.

IV - Proibição de freqüentar determinados lugares:

Esta restrição tem a finalidade de evitar que o indivíduo volte a frequentar lugares

que poderiam ensejar a reincidência. É passível de muitas críticas. Ressalte-se que o local

deve ter relação com o crime que foi praticado.

5.6. LIMITAÇÃO DE FIM DE SEMANA (CP, art. 48)

CP, Art. 48 - A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos

sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro

estabelecimento adequado. 

Parágrafo único - Durante a permanência poderão ser ministrados ao condenado

cursos e palestras ou atribuídas atividades educativas.

Não são todos os estados que possuem Casa do Albergado, como tem a Bahia, por

exemplo. Assim, o juiz, vendo que não há tal instituição na comarca, provavelmente aplicará

outra pena.

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É possível que esse inciso se aplique também aos feriados, desde que anteceda ou

suceda o fim de semana (ex.: feriadão). Não há previsão legislativa quanto a isso, todavia exista

o questionamento.

6. CLASSIFICAÇÃO

As penas restritivas de direitos podem ser classificadas em:

a) PRD genéricas: aplicadas a qualquer infração penal;

b) PRD específicas: aplicadas em determinados casos previstos pelo legislador. Ex.:

CP, art. 44, II.

7. CONVERSÃO

As penas restritivas de direitos podem ter caráter liberativo ou detentivo, senão

vejamos:

7.1. LIBERATIVO (LEP, art. 180)

LEP, Art. 180. A pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser

convertida em restritiva de direitos, desde que:

I - o condenado a esteja cumprindo em regime aberto;

II - tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um quarto) da pena;

III - os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão

recomendável.

Nessa situação, o sujeito está cumprindo a pena privativa de liberdade e , NO

ÂMBITO DA EXECUÇÃO , converte-se para pena restritiva de direito . A conversão já se

opera durante o cumprimento da pena e vai constituir um incidente de execução.

“Não superior a 2 anos” = a essa expressão deve dado interpretação extensiva, ou seja,

mesmo que a pena aplicada seja superior a 2 anos, ela pode ser convertida para restritiva de

direitos, desde que o restante da pena a cumprir seja inferior a 2 anos . Ex.: sujeito foi

condenado a 5 anos, mas só falta 1 ano e 8 meses (cumpridos os demais requisitos, é possível a

conversão de caráter liberativo).

7.2. DETENTIVO (CP, art. 44, §§ 4º e 5º)

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CP, art. 44, § 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade

quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da

pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena

restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou

reclusão.  (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz

da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for

possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. (Incluído pela Lei nº

9.714, de 1998)

Na situação do §4º, a conversão é OBRIGATÓRIA, e ocorrerá em caso de

descumprimento injustificado da restrição imposta pelo juiz. A conversão será facultativa

em caso de nova condenação, de acordo com o §5º do mesmo dispositivo. O objetivo desse

instituto (caráter detentivo da conversão) é garantir a eficácia da pena restritiva de direito.

Uma vez ocorrida a conversão, computa-se, na duração total da pena privativa a ser

executada, o quantum de cumprimento efetivo da pena restritiva de direito. O instituto a ser

utilizado, nesse caso, é o da detração penal (CP, 42), já estudado anteriormente.

Vale dizer, por fim, que nem todas as penas restritivas de direitos são suscetíveis de

conversão. A pena de prestação pecuniária e a perda de bens e valores são exemplos de

penas que não são passíveis de conversão. Isso porque, se elas fossem convertidas, estar-se-ia

violando o princípio constitucional que veda a prisão por dívida.

Luiz Flávio Gomes leciona que, nas penas “temporariamente imensuráveis” (prestação

pecuniária ou de outra natureza), deve ser feito algum débito no tempo que será cumprida a

pena. Não havendo outro critério mais específico, deve-se utilizar o princípio da equidade; ou

seja, nem ele mesmo deixa muito claro como isso será feito.

O Código Penal, em seu art. 44, § 4º, dispõe que essa conversão deve respeitar o saldo

mínimo de 30 dias. Ainda que se esteja cumprindo pena restritiva de direitos, se o sujeito

infringir alguma regra relativa à conversão, esta deverá respeitar o SALDO MÍNIMO de

30 dias. Parte da doutrina acredita ser um dispositivo injusto, e até mesmo inconstitucional.

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PENA DE MULTA

1. INTRODUÇÃO

A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário de uma quantia

fixada na sentença e calculada em DIAS-MULTA. Essa pena será no mínimo de 10 e no

máximo de 360 dias-multa. O valor de cada dia-multa pode variar entre 1/30 do salário

mínimo e o valor correspondente a 5 vezes o salário mínimo.

2. SISTEMA DO DIA-MULTA

Na doutrina, há pelo menos 4 sistemas a respeito da multa. Nosso Código adota o

sistema do dia-multa, uma criação brasileira do Código Criminal de 1830.

O sistema de dias-multa é composto de duas fases:

1ª fase : O magistrado vai fixar o NÚMERO de dias-multa, segundo a

culpabilidade do réu.

2ª fase : O juiz vai fixar o VALOR de cada dia-multa, que vai estar diretamente

ligada à condição econômica do réu.

O Código Penal fala, ainda, que esse valor da multa pode ser elevado até o triplo se o

juiz verificar que, em virtude da situação econômica do réu, a pena é ineficaz , embora

aplicada no máximo (CP, art. 60, § 1º).

CP, Art. 60 - Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente,

à situação econômica do réu.

§ 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em

virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo.

A Lei de Crimes contra a Ordem Financeira (Lei n. 8.137, art. 10) fala em sua

elevação até o décuplo.

O pagamento da multa, vale dizer, pode ser parcelado, a depender de requerimento do

condenado.

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3. EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA

Extração do livro de Cléber Masson:

Discute-se a forma adequada para a execução da pena de multa. Existem três posições

sobre o assunto:

1ª posição : a pena deve ser executada pelo Ministério Público, junto à Vara de

Execuções Penais, pelo rito da LEP;

2ª posição : a pena deve ser executada pelo Ministério Público, junto à Vara de

Execuções Penais, pelo rito da Lei 6.830/80 (LEF);

3ª posição: a pena de multa deve ser executada pela FAZENDA PÚBLICA,

perante a Vara de Execuções Penais, vez que a multa é considerada como

“dívida de valor”, devendo ser cobrada, assim, por sua credora, qual seja, a

Fazenda Pública. É o entendimento do STJ 9 .

4. MULTA SUBSTITUTIVA (CP, art. 60, §2º)

CP, art. 60, § 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis)

meses, pode ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III

do art. 44 deste Código

É também chamada de multa vicariante. De acordo com o tirocinista Lucas, esse

dispositivo foi revogado tacitamente.

Extração do livro de Cléber Masson:

A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 meses, pode ser substituída

pela pena de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44, CP (art. 60, §2º, CP).

Como não há menção ao inciso I do art. 44, CP, não se aplica o limite temporal de quatro

anos no tocante aos crimes dolosos. Dessa forma, a multa substitutiva da pena privativa de

liberdade tem natureza jurídica distinta da pena de multa cominada pelo tipo penal.

9 AGRAVO REGIMENTAL. PENAL. PENA DE MULTA. DÍVIDA DE VALOR. ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA EXECUÇÃO. INTELIGÊNCIA DO ART. 51 DO ESTATUTO REPRESSIVO. 1. Resta pacificado o entendimento, neste Sodalício, de que o Parquet não possui legitimidade para executar pena de multa, haja vista a nova redação dada ao art. 51 do CP pela Lei 9.268/96, cabendo à Fazenda Pública ajuizar eventual ação executiva. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AGRESP 200902348262 - STJ - Ministro(a) JORGE MUSSI - DJE - DATA:29/11/2010 - Decisão: 26/10/2010)

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Permanece, pois, o teto de 6 meses, e independe do emprego de violência ou grave

ameaça à pessoa. Basta que o réu não seja reincidente em crime doloso e, ademais, a

culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem

como os motivos e as circunstâncias indiquem a suficiência da substituição.

Obs. Súmula 171 do STJ: “Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativas de

liberdade e pecuniária, é defeso a substituição da prisão por multa”. Essa súmula foi idealizada

para ser aplicada ao crime de porte de substância entorpecente para uso próprio, à época

definido pelo art. 16 da Lei 6.368/76, diploma já revogado do nosso ordenamento. Apesar de tal

revogação, a súmula permanece válida e cabível aos casos que se amoldem à sua definição.

5. VANTAGENS DA PENA DE MULTA

A não retirada do condenado do seio familiar;

Para o Estado, a captação de recursos (o FUPEN possui arrecadação dessas multas

e das casas lotéricas)

6. DESVANTAGENS

Por ser uma pena de caráter pecuniário, poder-se-ia comprometer a sua finalidade

quando um terceiro arcasse com o custo dessa pena de multa. Destaque para a Súmula 171 do

STJ, mencionada acima.

7. PRESCRIÇÃO DA PENA DE MULTA

O art. 114, CP, trata da prescrição da pena de multa. Veja a transcrição do mencionado

dispositivo:

CP, Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá:

I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada;

II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade,

quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente

aplicada.

8. EXTENSÃO DA PENA DE MULTA AOS HERDEIROS DO CONDENADO

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Se o sujeito não tem condições de pagar, o que fazer? A Lei 8.137/90 (crimes contra a

ordem econômica) autoriza a redução para até um décuplo Sebástian defende a analogia in

bonam partem para aplicar este dispositivo à pena de multa relativa a qualquer outro crime.

É bom ressaltar que a pena de multa não passa aos herdeiros, uma vez que constitui

“pena”, decorrente de sentença penal condenatória, não podendo passar da pessoa do

condenado (CF, art. 5º, XLV10).

-

SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA

“SURSIS”

10 XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do

perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor

do patrimônio transferido.16

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1. CONCEITO

Trata-se de instituto destinado à suspensão condicional da execução da pena

privativa de liberdade, sendo regulada pelos arts. 77 a 82, CP.

CP, Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois)

anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: (Redação dada

pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº

7.209, de 11.7.1984)

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem

como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;(Redação

dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.

(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício.

(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser

suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de

idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão. (Redação dada pela Lei nº 9.714,

de 1998)

CP, Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à observação

e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz. (Redação dada pela Lei nº

7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade

(art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48). (Redação dada pela

Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2° Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as

circunstâncias do art. 59 deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz

poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas seguintes condições,

aplicadas cumulativamente: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)

a) proibição de freqüentar determinados lugares; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;  

(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e

justificar suas atividades.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

       

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CP, Art. 79 - A sentença poderá especificar outras condições a que fica subordinada

a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado.  

(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

CP, Art. 80 - A suspensão não se estende às penas restritivas de direitos nem à

multa.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

CP, Art. 81 - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário: 

(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso; (Redação dada pela Lei

nº 7.209, de 11.7.1984)

II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo

justificado, a reparação do dano; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - descumpre a condição do § 1º do art. 78 deste Código.  (Redação dada pela Lei

nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - A suspensão poderá ser revogada se o condenado descumpre qualquer outra

condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por

contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos.  (Redação dada

pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - Se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção,

considera-se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo.  (Redação

dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 3º - Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o

período de prova até o máximo, se este não foi o fixado. (Redação dada pela Lei nº

7.209, de 11.7.1984)

CP, Art. 82 - Expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se extinta

a pena privativa de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O sujeito é condenado a uma pena privativa de liberdade, e o juiz, presentes alguns

requisitos, suspende a sua execução, mediante o cumprimento de determinadas condições.

A ideia do sursis é evitar o cumprimento da pena privativa de liberdade de curta

duração. Vale dizer que até pouco tempo atrás, mais especificamente até a edição da Lei

Maria da Penha, o sursis era pouco utilizado.

SURSIS x SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

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A “suspensão condicional da pena” não se confunde com a “suspensão condicional do

processo”, esta prevista na Lei 9.099/95 (art. 8911), também chamada de “sursis processual”.

Este instituto é aplicado antes da sentença, no início do processo. É medida processual

concedida logo após o oferecimento da denúncia. Cumpridas todas as condições, ao final, é

extinta a punibilidade do agente, não havendo que se falar em condenação, nem gerando

reincidência.

No sursis, por outro lado, são gerados todos os efeitos da condenação, bem como a

reincidência, pois o que ocorre, apenas, é a suspensão da execução da pena, e não a sua

extinção.

2. COMPETÊNCIA

Quem concede o sursis é o JUIZ PROCESSANTE, e não o juiz da execução. O

magistrado condena e, após, verifica se cabe a substituição por pena restritiva de direito, e, por

fim, não cabendo a substituição, analise o cabimento do sursis.

3. REQUISITOS

3.1. CONDENAÇÃO A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ATÉ 2 ANOS

Primeiramente, cumpre destacar que o sursis não alcança as penas restritivas de

direitos e nem as penas de multa (CP, art. 8012). Exemplo: sujeito é condenado, por roubo

tentado, a 1 ano e 4 meses de reclusão + multa – o sursis não alcança a multa. No crime de

trânsito, o sursis não alcança, por exemplo, a proibição de dirigir veículo.

Ressalte-se que há exceções à regra de que a pena não deve ser superior a 2 anos:

o Sursis etário (condenado maior de 70 anos) e Sursis humanitário

(problemas de saúde) - CP, art. 77, §2º 13 - a condenação pode ser até 4 anos;

11 Lei 9.099/95, Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou

não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a

quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime,

presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).12 CP, Art. 80 - A suspensão não se estende às penas restritivas de direitos nem à multa.13 § 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis

anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.

(Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)19

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o Lei 9.605/98, art. 16 14 (Crimes Ambientais) – condenação até 3 anos .

3.2. NÃO REINCIDÊNCIA EM CRIME DOLOSO

Exceção: condenação anterior à pena de multa (CP, art. 77, §1º). Se alguém foi

condenado, pelo crime X, a uma pena de multa, e, depois de transitar em julgada a condenação,

for novamente condenado pela prática do crime Y, não haverá impedimento à aplicação do

sursis. Este é posicionamento, inclusive, sumulado pelo STF:

STF, Súmula 499. Não obsta a concessão do "sursis" condenação anterior à pena de

multa.

3.3. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS FAVORÁVEIS

É possível constatar que, se a pena-base for fixada no mínimo legal, é porque todas as

circunstâncias judiciais são favoráveis.

3.4. NÃO SER INDICADA OU CABÍVEL A SUBSTITUIÇÃO POR PENA

RESTRITIVA DE DIREITO

O sursis é de concessão subsidiária, somente podendo ser aplicada se não for cabível a

substituição por pena restritiva de direito.

Basicamente, o sursis acaba sendo aplicado nos casos em que o crime é cometido

com violência ou grave ameaça à pessoa, ou quando a reincidência for específica e

aplicada a pena de multa.

4. PERÍODO DE PROVA

É o tempo em que o condenado estará submetido às condições estabelecidas pelo

juiz na sentença. O sursis é concedido mediante algumas condições, as quais devem ser

observadas pelo condenado num “período de prova”, a ser fixado pelo magistrado, entre 2 e 4

anos. No sursis etário e humanitário, o período de prova é maior, podendo durar de 4 a 6

anos.

14 Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena pode ser aplicada nos casos de

condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos.20

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5. CONDIÇÕES

As condições vão depender da espécie de sursis aplicada.

5.1. SURSIS SIMPLES (CP, art. 78)

Há condições legais (decorrentes da lei) e judiciais (arbitradas pelo juiz de acordo com

o caso concreto).

Condições legais: durante 1 ano.

o Prestação de serviços à comunidade;

o Limitação de fim de semana.

Condições judiciais: na prática, refere-se à proibição de frequentar

determinado lugares, beber em lugar público etc.

5.2. SURSIS ESPECIAL (CP, art. §2º)

Nessa situação, há mais dois requisitos especiais, quais sejam:

Reparação do dano;

Circunstâncias judiciais do art. 59, CP inteiramente favoráveis não pode

existir nada que desabone a conduta do réu (pena fixada no mínimo legal).

Existem também três condições legais cumulativas (alíneas do §2º, art. 78, CP):

Proibição de frequentar determinados lugares;

Proibição de ausentar-se da comarca (= abrange região metropolitana)

onde reside, sem autorização do juiz;

Comparecimento pessoal e obrigatório, mensalmente, para informar e

justificar suas atividades.

Obs. A 6ª Turma do STJ já decidiu que o juiz não pode estabelecer como condições judiciais

no sursis simples as condições legais do sursis especial , sob pena de bis in idem.

6. REVOGAÇÃO DO SURSIS (CP, art. 81)

Cumpridas todas as condições, a pena privativa de liberdade é extinta. Caso não haja a

revogação do sursis, o seu tempo será computado para efeito de prescrição da reincidência.

“No curso do prazo” = durante o período de prova.

Assim, o benefício será revogado se, durante o período de prova, o condenado:

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I – For condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso: pouco

importa se o crime doloso é cometido antes ou depois do período de prova.

Exceção: condenação anterior à pena de multa.

II – Não pagar a multa, sem motivo justificado, ou não efetuar a reparação

do dano.

 III – Descumprir condição legal do sursis simples.

Vale dizer, ainda, que o art. 81, §1º trata da revogação facultativa, e o §3º dispõe sobre

a prorrogação facultativa, quanto também o é a revogação.

Quanto ao §2º, diz-se que, se durante o período de prova, o sujeito está sendo

processado por outro crime, o prazo é prorrogado até o julgamento definitivo.

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