Download - Pastorinha
De como uma pastorinha da Serra veio a casar com um príncipe - Porto da Cruz (uma versão madeirense da Gata Borralheira)
Certo homem a quem morrera a esposa, ainda jovem, apenas tinha uma filhinha que tratava com muito carinho.
A pequena que pouco sentira o apego do calor materno, via-se só, ainda que sempre sob as vistas do pai.
A mãe morrera havia muito e o pai vendo que ela se tornara uma mulherzinha, pensou iniciá-la na vida do campo. Comprara-lhe uma vaquinha e todas as manhãs, lá ia ela, a pobre pastora, de monte em monte, pastar o gado.
Entretanto, o pai casou e a madrasta, pessoa crua e pouco carinhosa fazia de tudo para tramar a pequena Maria … Sempre que a Mariazinha ia para o monte, a madrasta sobrecarregava- a de enormes
meadas de linho para que enquanto pastoreasse o gado, fosse fiando …
Aflita e angustiada a pobre zagala chegava-se junto da vaquinha que parecia compadecer-se dela …
Certo dia, a vaquinha levantando as ventas disse-lhe:
- Não chores Maria, senta-te aqui e vai sarilhando esses novelos nos meus cornos.
Assim fazia a rapariga. E à tarde, quando o sol virava, ela descia com as meadas completamente desfeitas.
Mas a madrasta malvada nunca satisfeita com o seu veneno, um dia resolveu adoecer e pedir ao seu estimado esposo, carne de vaca.
O pobre homem que estimava a filha procurou satisfazê-la com outra coisa que não a vaca, único bem de sua filha. Mas a mulher invejosa não cedia e o pobrezinho cedeu.
Quando Maria muito aflita e angustiada se preparava para matar a vaca no monte e levar a carne para a maldosa madrasta, ouviu:
- Não chores, Maria – disse-lhe a vaquinha – tira um pedacinho dos meus quartos que eu lamberei e tudo ficará sarado …
Assim fez, porém, a maldita mulher lembrou-se de pedir um pedacinho de coração de vaca …
Agora é que não havia nada a fazer, mas antes disso a vaca referiu:
- Não te preocupes e quando me matarem, vai tu própria arranjar o debulho e lá encontrarás uma varinha de condão. Guarda-a e não a dês a ninguém…
Maria assim fez e quando sozinha no fundo do ribeiro, onde fora lavar o estrampalho e as tripas da vaca, encontrou a mágica varinha que escondeu.
A antiga alegria voltara-lhe e como lá no meio da serra ficava um grande palácio habitado por três fadas, a rapariga resolveu visitá-las. Não estando ninguém em casa, Maria resolveu fazer a limpeza e arrumar tudo.
Quando as fadas chegaram, admiradas com tanta limpeza disseram umas para as outras:
- Fademos irmãs, fademos … quem nos fez isto, que seja mais brilhante que o sol e um diadema de ouro lhe rodeie a fronte …
E Maria ficou mais linda que o sol e uma auréola parecia rodear-lhe a cabeça. Eis que ao chegar a casa, a irmã, filha da madrasta ficou invejosa e lhe perguntou o que fizera para ficar assim.
Fui a casa das fadas – respondeu ironicamente Maria – e sujei todos os aposentos.
… o resto da história já conseguem imaginar