Download - PARQ0061-D

Transcript
  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLGICO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO

    MIGUEL CORREIA DE MORAES

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Dissertao de Mestrado

    FLORIANPOLIS 2007

  • MIGUEL CORREIA DE MORAES

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Dissertao de mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo

    da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Orientadora: Prof Vera Helena Moro Bins Ely, Dr.

    FLORIANPOLIS 2007

  • MIGUEL CORREIA DE MORAES

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Esta dissertao foi julgada e aprovada para a obteno de grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo no Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Florianpolis, 26 de Junho de 2007.

    ____________________________________________

    Prof. Alina Gonalves Santiago, Dr. Coordenadora do Programa

    ____________________________________________

    Prof. Vera Helena Moro Bins Ely, Dr. Orientadora

    BANCA EXAMINADORA

    ____________________________________________

    Prof. Leila Amaral Gontijo, Dr. UFSC, Dept. de Engenharia de Produo

    Membro Avaliador

    ____________________________________________

    Prof. Antnio Renato Pereira Moro, Dr. UFSC, Dept. de Educao Fsica

    Membro Avaliador

    ____________________________________________

    Prof. Marta Dischinger, PhD. UFSC, Dept. de Arquitetura e Urbanismo

    Membro Avaliador

  • Aos meus pais Carlos e Silvete, minha irm Monick e

    minha esposa Ramona.

  • Agradecimentos

    painho, Carlos Jos de Moraes Sousa, e mainha, Silvete Correia de Moraes, pelo apoio moral e financeiro, amor, incentivo e principalmente por nunca me permitirem deixar de sonhar. So meus eternos heris.

    minha esposa, Ramona Sant Ana Maggi de Moraes, por ser uma Santa e ter suportado sem fraquejar toda as intempries advindas dessa fase da minha vida.

    Professora Vera Helena Moro Bins Ely pela pacincia e dedicao, mesmo nos momentos mais difceis.

    Aos membros das bancas, que gentilmente aceitaram participar e contribuir para a avaliao e concluso deste trabalho.

    minha irm, Monick Correia de Moraes, que apesar da distncia geogrfica tambm um incentivo para que eu continue lutando pelos meus sonhos.

    s associaes que contriburam para este trabalho: ACIC e AFLODEF. Parabns pelo excelente trabalho que desenvolvem.

    Cris, Geofilho, Nelson, Thiagus, Yuri e a V.

    Aos meus amigos de jornada, Alberto, Claudio, Gabriela, Maria Aline e em especial para minha grande amiga Claudete.

    Ivonete, por ser nossa socorrista de planto, ajudando no que for possvel e impossvel.

    Ao PET Arquitetura da UFSC, pelo intercambio de conhecimentos.

    Noah, por ter ficado sempre comigo, inclusive nas madrugadas enquanto eu escrevia incessantemente.

    Enfim, a todos aqueles que mesmo no tendo sido mencionados sabem que direta ou indiretamente contriburam para a realizao desse trabalho.

    A vocs, o meu sincero muito obrigado!

  • Resumo MORAES, Miguel Correia de. Acessibilidade no Brasil: anlise da NBR 9050. Florianpolis, 26 de junho de 2007, 166 p. Dissertao (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Programa de Ps-graduao, UFSC, 2007.

    As normas tcnicas destinadas ao espao construdo existem para garantir sua padronizao quanto a atributos como: qualidade, segurana, confiabilidade e eficincia. O objeto de estudo desse trabalho uma dessas normas tcnicas, a NBR 9050, que trata da acessibilidade no espao construdo, de modo a garantir que todas as pessoas possam se orientar e se deslocar facilmente em um ambiente, fazendo uso dos elementos que o compem com segurana e independncia, isto , sem acidentes e sem necessidade de solicitar ajuda para realizar tarefas. Alm disso, tambm visa facilitar a comunicao entre as pessoas. Esse trabalho tem como objetivo analisar essa norma, a fim de contribuir para o aprimoramento dos estudos da acessibilidade no espao construdo, mais especificamente no Brasil, tanto de um ponto de vista terico-cientfico como de um ponto de vista prtico. Para isso estabeleceu-se uma seqncia de 2 etapas metodolgicas utilizando diferentes mtodos. Na primeira etapa foi realizada pesquisa bibliogrfica compreendendo alguns temas pertinentes a NBR 9050, tais como: acessibilidade, Desenho Universal, deficincia e restrio, alm do estudo da antropometria, uma vez que a norma se utiliza dessa cincia para a elaborao de seus parmetros tcnicos. Aps essa pesquisa houve a discusso desses conceitos no contexto da norma brasileira. Na segunda etapa metodolgica, realizou-se uma pesquisa de campo qualitativa, avaliando algumas das solues propostas na NBR 9050 de 2004, identificadas em reas livres e edificaes de Florianpolis, a partir de sua utilizao por usurios. Para essa avaliao, foi utilizado o mtodo da observao sistemtica. De

    forma a enriquecer o trabalho, foi realizada uma anlise comparativa entre a NBR 9050 e algumas normas internacionais, focando os elementos construdos contemplados na pesquisa de campo. Com o embasamento terico e a sustentao prtica da pesquisa de campo, foi possvel identificar alguns dos problemas contidos na NBR 9050 e que se refletem diretamente nas aes em prol da acessibilidade no espao construdo. Ao fim, realizada uma sntese dos principais problemas identificados e discusses sobre estes. Espera-se que essa dissertao reforce a importncia do ambiente construdo para a acessibilidade no cotidiano, podendo ser esse ambiente um agente facilitador, garantindo o direito de igualdade sem nenhuma forma de discriminao entre as pessoas, ou um agente que muitas vezes dificulta ou impede a utilizao do espao construdo por todas as pessoas. Tambm espera-se, principalmente com os resultados obtidos nos estudos prticos, contribuir para no desenvolvimento efetivo da acessibilidade espacial no Brasil.

    Palavras-chave: acessibilidade espacial, NBR 9050, antropometria.

  • Abstract MORAES, Miguel Correia de. Accessibility in Brazil: analyzing the NBR 9050. Florianpolis, June, 26, 2007, 166 p. Dissertation (MA in Architecture and Urbanism) Programa de Ps-graduao, UFSC, 2007.

    The standards destined for constructed areas have uniform guarantees giving the attributes like: quality, safety, reliability and effectiveness. This study objective is about one of these standards, the NBR 9050, which deals with the access of constructed space, in a way to guarantee that anyone will have the ability to locate and to move around the area easily, using the elements available safely and independently, that is, without accidents or the necessity of third parties. This also aims to facilitate communication among people in general. This study has as the objective to analyze this standard with ends to contribute to the betterment of the constructed area access, more specifically in Brazil, as much the technical scientific point of view as the practical one. In

    order to establish this, a sequence of two methodological phases was analyzed using two different methods. A bibliographic study was implemented in the first stage, using several theories developed in the field in relation to NBR 9050, like certain concepts: accessibility, Universal Design, disability and restriction, besides an anthropometric study, once this norm is utilized in this science to elaborate technical parameters. After the research done, a discussion was held about these themes in context to Brazilian standards. During the second phase, a field research was performed evaluating the relationship between people and some solutions proposed for NBR 9050 of 2004. To achieve this, a qualitative field research was done, utilizing the systematic observation method. To enrich the study, a comparative analysis between NBR 9050 and several international norms was performed, focusing on contemplated elements from the field research. With the theoretic base and practical support of the field research, it was possible to identify several problems found in NBR 9050 and subsequently reflects directly on actions in favor of accessibility to constructed spaces. Finally, a summary of the principal problems were identified and appropriate suggestions were given to resolve these problems. Hopefully, this dissertation demonstrates the importance of constructed environments for daily use, allowing the same to be a facilitating agent, guaranteeing equal rights without any form of discrimination among people or an agent which may difficult or impede socialization. In the same way, this study hopes to contribute to the effective development of accessible space in Brazil.

    Key words: accessibility, NBR 9050, anthropometry.

  • Lista de Ilustraes

    Ilustrao 1 - Sinalizao visual informando sobre o ambiente______________________________ 31 Ilustrao 2 TDD________________________________________________________________ 31 Ilustrao 3 - Traduo em Libras ____________________________________________________ 31 Ilustrao 4 - Pessoas cruzando uma faixa de pedestres por uma guia rebaixada ________________ 32 Ilustrao 5 - Pessoa usando o elevador com autonomia e segurana _________________________ 32 Ilustrao 6 - Porta automtica_______________________________________________________ 34 Ilustrao 7 Bancada de cozinha ____________________________________________________ 35 Ilustrao 8 Informao pictrica em um manual montagem de uma cadeira ________________ 36 Ilustrao 9 Interfone que maximiza a percepo da informao ___________________________ 36 Ilustrao 10 Anfiteatro Bradford Woods_____________________________________________ 37 Ilustrao 11 Maaneta que propicia melhor pega ______________________________________ 38 Ilustrao 12 Painel informativo do Museu Nacional da Colmbia _________________________ 38 Ilustrao 13 Sem restrio de orientao_____________________________________________ 44 Ilustrao 14 Com restrio de orientao ____________________________________________ 44 Ilustrao 15 Ambiente possibilita a no restrio de comunicao_________________________ 45 Ilustrao 16 Sem restrio de comunicao __________________________________________ 45 Ilustrao 17 Sem restrio de deslocamento __________________________________________ 46 Ilustrao 18 Com restrio de deslocamento__________________________________________ 46 Ilustrao 19 Sem restrio de uso __________________________________________________ 47 Ilustrao 20 Com restrio de uso __________________________________________________ 47 Ilustrao 21 O Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci _______________________________ 49 Ilustrao 22 Exemplo de medio antropomtrica esttica _______________________________ 52 Ilustrao 23 Exemplo de medio antropomtrica dinmica______________________________ 52 Ilustrao 24 Exemplo de medio antropomtrica funcional _____________________________ 53 Ilustrao 25 Instrumentos de Medio ______________________________________________ 53 Ilustrao 26 - Exemplo de Mtodo Direto (medida do permetro do abdome) _________________ 54 Ilustrao 27 - Exemplo do uso da fotogrametria digital para se obter medidas do nariz __________ 55 Ilustrao 28 Banco de praa ______________________________________________________ 58 Ilustrao 29 Capacidade de alcance de uma mulher sentada______________________________ 58 Ilustrao 30 Cinto com furos Exemplo de projetos para faixas da populao _______________ 59 Ilustrao 31 Banco de carro com vrios comandos de ajuste _____________________________ 59 Ilustrao 32 Brao binico confeccionado sob medida para o usurio ______________________ 60 Ilustrao 33 Recorte da figura 20 da NBR 9050 (ABNT, 2004, p.15) ______________________ 72 Ilustrao 34 figura 1 da NBR 9050 (ABNT, 2004, p.5) _________________________________ 74 Ilustrao 35 figura 3 da NBR 9050 (ABNT, 2004, p.6) _________________________________ 74 Ilustrao 36 figura 135 da NBR 9050 (ABNT, 2004, p.74) ______________________________ 76 Ilustrao 37 Figura 8 da NBR 9050 (ABNT, 2004, p.9) - Alcance manual frontal Pessoa em p 78 Ilustrao 38 Simulao da altura do centro da mo com o brao a 45 da horizontal (percentis 5% e 95%) a partir de dados obtidos na figura 8 da NBR 9050 (ABNT, 2004, p.9) __________________ 78 Ilustrao 39 Figura 13 e 14 da NBR 9050 - ngulos de trao e compresso ________________ 79 Ilustrao 40 Outros formatos de seo permitidos pela NBR 9050 de 2004__________________ 80 Ilustrao 41 Exemplos de sees no circulares da ADA ________________________________ 81 Ilustrao 42 Exemplos de dispositivos de comando ou acionamento _______________________ 81 Ilustrao 43 figura 19 da NBR 9050 - Movimento dos olhos e da cabea ___________________ 82 Ilustrao 44 Movimento dos olhos _________________________________________________ 83 Ilustrao 45 Dimenso do piso ttil de alerta _________________________________________ 86 Ilustrao 46 montagem da tabela 3 da NBR 9050 de 2004 _______________________________ 86 Ilustrao 47 montagem da tabela 4 da NBR 9050 de 2004 _______________________________ 87 Ilustrao 48 Corte em uma rampa identificando a guia de balizamento _____________________ 88 Ilustrao 49 Sinalizao em escadas na NBR 9050 de 2004______________________________ 89 Ilustrao 50 Escadas no sinalizadas na NBR 9050 de 2004 _____________________________ 89 Ilustrao 51 Exemplos de portas sem sinalizao na NBR 9050 de 2004____________________ 90

  • Ilustrao 52 montagem da figura 137 da NBR 9050 de 2004 _____________________________ 91 Ilustrao 53 Piso Alerta Pesquisa de Campo ________________________________________ 99 Ilustrao 54 Piso Direcional Pesquisa de Campo ____________________________________ 100 Ilustrao 55 figura 65 da NBR 9050 de 2004 ________________________________________ 101 Ilustrao 56 montagem sobre texto da NBR 9050 de 2004______________________________ 102 Ilustrao 57 - Exemplo de composio de pisos tteis no Manual de Castilla-La Mancha _______ 103 Ilustrao 58 - Exemplo de composio de sinalizao ttil de alerta e direcional em diferentes tipos de travessia de pedestre______________________________________________________________ 103 Ilustrao 59 Piso Direcional Pesquisa de Campo ____________________________________ 104 Ilustrao 60 Composio de Pisos Tteis Pesquisa de Campo__________________________ 104 Ilustrao 61 Pisos Tteis Pesquisa de Campo Pessoa B _____________________________ 105 Ilustrao 62 Pisos Tteis Pesquisa de Campo Pessoa C _____________________________ 105 Ilustrao 63 Pisos Tteis Pesquisa de Campo Pessoa E _____________________________ 106 Ilustrao 64 Croqui e planta da rampa em estudo _____________________________________ 107 Ilustrao 65 Rampa Pesquisa de Campo___________________________________________ 108 Ilustrao 66 - Exemplo de rampa ___________________________________________________ 110 Ilustrao 67 Clculo para aferio dos desnveis mximos para GDN e Castilla-La Mancha ___ 110 Ilustrao 68 - Exemplo da guia de balizamento servindo de proteo _______________________ 112 Ilustrao 69 Percurso realizado na rampa de estudo ___________________________________ 114 Ilustrao 70 Rampa Pesquisa de Campo Pessoa A _________________________________ 114 Ilustrao 71 Rampa Pesquisa de Campo Pessoa B _________________________________ 115 Ilustrao 72 Rampa Pesquisa de Campo Pessoa C _________________________________ 115 Ilustrao 73 Rampa Pesquisa de Campo Pessoa D _________________________________ 116 Ilustrao 74 Rampa Pesquisa de Campo Pessoa E _________________________________ 116 Ilustrao 75 Rampa Pesquisa de Campo Pessoa F _________________________________ 117 Ilustrao 76 Rampa Pesquisa de Campo Pessoa G _________________________________ 117 Ilustrao 77 - Croqui e planta da rampa em estudo _____________________________________ 119 Ilustrao 78 Escada Pesquisa de Campo___________________________________________ 120 Ilustrao 79 baco para escadas da NBR 9050 de 2004________________________________ 121 Ilustrao 80 - Percurso realizado na escada de estudo ___________________________________ 124 Ilustrao 81 Escada Pesquisa de Campo Pessoa B _________________________________ 125 Ilustrao 82 Escada Pesquisa de Campo Pessoa C _________________________________ 125 Ilustrao 83 Escada Pesquisa de Campo Pessoa D _________________________________ 126 Ilustrao 84 Escada Pesquisa de Campo Pessoa E _________________________________ 126 Ilustrao 85 Escada Pesquisa de Campo Pessoa F _________________________________ 127 Ilustrao 86 Croqui dos corrimos em estudo ________________________________________ 128 Ilustrao 87 - Corrimo 01 ________________________________________________________ 129 Ilustrao 88 - Corrimo 02 ________________________________________________________ 130 Ilustrao 89 Corrimo Pesquisa de Campo Pessoa B _______________________________ 133 Ilustrao 90 Corrimo Pesquisa de Campo Pessoa C _______________________________ 134 Ilustrao 91 Corrimo Pesquisa de Campo Pessoa D _______________________________ 134 Ilustrao 92 Corrimo Pesquisa de Campo Pessoa E _______________________________ 135 Ilustrao 93 Corrimo Pesquisa de Campo Pessoa F______________________________ 135 Ilustrao 94 Croquis e plantas da porta em estudo ____________________________________ 137 Ilustrao 95 Porta Pesquisa de Campo ____________________________________________ 138 Ilustrao 96 - Parmetros tcnicos para espaamento junto s portas NBR 9050_____________ 138 Ilustrao 97 Outros tipos de parmetros tcnicos para porta trazidos na ADA/ABA __________ 140 Ilustrao 98 - Parmetros tcnicos para espaamento junto s portas - GDN _________________ 140 Ilustrao 99 - Parmetro tcnico pra espaamento junto s portas - Castilla-La Mancha ________ 140 Ilustrao 100 Porta Pesquisa de Campo Pessoa A__________________________________ 142 Ilustrao 101 Porta Pesquisa de Campo Pessoa A Continuao______________________ 143 Ilustrao 102 Porta Pesquisa de Campo Pessoa B ________________________________ 143 Ilustrao 103 Porta Pesquisa de Campo Pessoa C__________________________________ 143 Ilustrao 104 Porta Pesquisa de Campo Pessoa D__________________________________ 144 Ilustrao 105 Porta Pesquisa de Campo Pessoa E __________________________________ 144

  • Ilustrao 106 Porta Pesquisa de Campo Pessoa F __________________________________ 144 Ilustrao 107 Barras de Apoio Pesquisa de Campo __________________________________ 146 Ilustrao 108 - Parmetros tcnicos para barras de apoio lateral e de fundo NBR 9050________ 148 Ilustrao 109 Barras de Apoio Pesquisa de Campo Pessoa A _________________________ 149 Ilustrao 110 Barras de Apoio Pesquisa de Campo Pessoa D _________________________ 149 Ilustrao 111 Barras de Apoio Pesquisa de Campo Pessoa F _________________________ 150 Ilustrao 112 Bacia Sanitria Pesquisa de Campo ___________________________________ 151 Ilustrao 113 - Distncia do eixo da bacia sanitria parede______________________________ 152 Ilustrao 114 Uso da bacia sanitria Pessoa G ____________________________________ 154 Ilustrao 115 Bacia Sanitria Pesquisa de Campo Pessoa A__________________________ 154 Ilustrao 116 Bacia Sanitria Pesquisa de Campo Pessoa D__________________________ 155 Ilustrao 117 Bacia Sanitria Pesquisa de Campo Pessoa E __________________________ 155 Ilustrao 118 Bacia Sanitria Pesquisa de Campo Pessoa F ________________________ 155 Ilustrao 119 Tranferncia usando a barra do fundo Pessoa A________________________ 156 Ilustrao 120 Transferncia usando a barra lateral Pessoa A _________________________ 156 Ilustrao 121 Uso do boxe Pessoa G____________________________________________ 157 Ilustrao 122 Lavatrio Pesquisa de Campo _______________________________________ 158 Ilustrao 123 rea de aproximao ADA/ABA ______________________________________ 159 Ilustrao 124 Lavatrio Pesquisa de Campo Pessoa A ______________________________ 161 Ilustrao 125 Lavatrio Pesquisa de Campo Pessoa B ______________________________ 161 Ilustrao 126 Lavatrio Pesquisa de Campo Pessoa C ______________________________ 161 Ilustrao 127 Lavatrio Pesquisa de Campo Pessoa D ______________________________ 162 Ilustrao 128 Lavatrio Pesquisa de Campo Pessoa E ______________________________ 162 Ilustrao 129 Lavatrio Pesquisa de Campo Pessoa F ______________________________ 162

  • Lista de Tabelas

    Tabela 1 - Percentis e seus coeficientes em destaque o percentil do exemplo a seguir __________ 55 Tabela 2 Piso Alerta Pesquisa de Campo____________________________________________ 99 Tabela 3 Piso Direcional Pesquisa de Campo ________________________________________ 99 Tabela 4 Piso Alerta NBR 9050 x Normas Internacionais 01 ___________________________ 100 Tabela 5 Piso Alerta NBR 9050 x Normas Internacionais 02 ___________________________ 101 Tabela 6 Descrio da rampa estudada ______________________________________________ 107 Tabela 7 Rampa NBR 9050 x Normas Internacionais 01 _____________________________ 109 Tabela 8 Rampa NBR 9050 x Normas Internacionais 02 _____________________________ 111 Tabela 9 - Rampa NBR 9050 x Normas Internacionais 03 _____________________________ 111 Tabela 10 - Rampa NBR 9050 x Normas Internacionais 04 ____________________________ 111 Tabela 11 - Rampa NBR 9050 x Normas Internacionais 05 ____________________________ 112 Tabela 12 Escada Pesquisa de Campo _____________________________________________ 119 Tabela 13 Escada NBR 9050 x Normas Internacionais 01 ____________________________ 120 Tabela 14 Escada NBR 9050 x Normas Internacionais 02 ____________________________ 121 Tabela 15 Escada NBR 9050 x Normas Internacionais 03 ____________________________ 122 Tabela 16 Escada NBR 9050 x Normas Internacionais 04 ____________________________ 122 Tabela 17 Escada NBR 9050 x Normas Internacionais 05 ____________________________ 123 Tabela 18 Escada NBR 9050 x Normas Internacionais 06 ____________________________ 123 Tabela 19 Corrimo 01 Pesquisa de Campo ________________________________________ 129 Tabela 20 Corrimo 02 Pesquisa de Campo ________________________________________ 130 Tabela 21 Corrimo NBR 9050 x Normas Internacionais 01 __________________________ 131 Tabela 22 Corrimo NBR 9050 x Normas Internacionais 02 __________________________ 131 Tabela 23 Corrimo NBR 9050 x Normas Internacionais 03 __________________________ 132 Tabela 24 Porta Pesquisa de Campo ______________________________________________ 137 Tabela 25 Porta NBR 9050 x Normas Internacionais 01 _____________________________ 139 Tabela 26 Porta NBR 9050 x Normas Internacionais 02 _____________________________ 141 Tabela 27 Porta NBR 9050 x Normas Internacionais 03 _____________________________ 141 Tabela 28 Barras de Apoio Pesquisa de Campo______________________________________ 146 Tabela 29 Barras de Apoio NBR 9050 x Normas Internacionais 01 ____________________ 147 Tabela 30 Barras de Apoio NBR 9050 x Normas Internacionais 02 ____________________ 147 Tabela 31 Barras de Apoio NBR 9050 x Normas Internacionais 03 ____________________ 148 Tabela 32 Bacia Sanitria Pesquisa de Campo ______________________________________ 151 Tabela 33 Bacia Sanitria NBR 9050 x Normas Internacionais 01 _____________________ 152 Tabela 34 Lavatrio Pesquisa de Campo ___________________________________________ 157 Tabela 35 Lavatrio NBR 9050 x Normas Internacionais 01 ___________________________ 158 Tabela 36 Lavatrio NBR 9050 x Normas Internacionais 02 ___________________________ 159 Tabela 37 Lavatrio NBR 9050 x Normas Internacionais 03 ___________________________ 160

  • SUMRIO CAPTULO 1 - INTRODUO ______________________________________________ 16

    1.1. JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA _____________________________________ 16 1.2. QUESTES DE PESQUISA ___________________________________________ 19 1.3. OBJETIVOS ________________________________________________________ 20

    1.3.1. Objetivo Geral ___________________________________________________ 20 1.3.2. Objetivos Especficos ______________________________________________ 20

    1.4. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ________________________________ 20 1.4.1. Pesquisa Bibliogrfica _____________________________________________ 20 1.4.2. Pesquisa de Campo________________________________________________ 21

    1.5. ESTRUTURA DA DISSERTAO _____________________________________ 23 CAPTULO 2 - REFERENCIAL TERICO_____________________________________ 24

    2.1. ACESSIBILIDADE __________________________________________________ 24 2.2. DESENHO UNIVERSAL______________________________________________ 33 2.3. DEFICINCIA E RESTRIO _________________________________________ 39 2.4. ANTROPOMETRIA__________________________________________________ 48

    CAPTULO 3 - DISCUSSO TERICA _______________________________________ 61 3.1. CONCEITOS DA NBR 9050 ___________________________________________ 61

    3.1.1. NBR 9050 de 1985 ________________________________________________ 61 3.1.2. NBR 9050 de 1994 ________________________________________________ 63 3.1.3. NBR 9050 de 2004 ________________________________________________ 65 3.1.4. Anlise comparativa dos conceitos das trs verses da NBR 9050 ___________ 67 3.1.5. Concluso sobre os conceitos da NBR 9050 ____________________________ 70

    3.2. DADOS ANTROPOMTRICOS DA NBR 9050 de 2004 ____________________ 71 3.2.1. Percentis ________________________________________________________ 72 3.2.2. rteses _________________________________________________________ 73 3.2.3. rea de circulao ________________________________________________ 75 3.2.4. rea de transferncia e rea de aproximao ____________________________ 76 3.2.5. Alcance manual __________________________________________________ 77 3.2.6. Foras de trao e compresso _______________________________________ 79 3.2.7. Empunhadura ____________________________________________________ 80 3.2.8. Manipulao e controle ____________________________________________ 81 3.2.9. Parmetros sensoriais ______________________________________________ 82 3.2.10. Concluso sobre os dados antropomtricos da NBR 9050 de 2004__________ 83

    CAPTULO 4 PESQUISA DE CAMPO_______________________________________ 85 4.1. DESCRIO DO EXPERIMENTO______________________________________ 85

    4.1.1. Montagem do experimento__________________________________________ 85 4.1.2. Aplicao do experimento __________________________________________ 98

    4.2. PISOS TTEIS ______________________________________________________ 98 4.2.1. Descrio _______________________________________________________ 98 4.2.1.1. Piso Alerta _____________________________________________________ 99 4.2.1.2. Piso Direcional _________________________________________________ 99 4.2.2. Anlise comparativa das normas ____________________________________ 100

  • 4.2.2.1. Piso Alerta ____________________________________________________ 100 4.2.2.2. Piso Direcional ________________________________________________ 102 4.2.3. Resultado e discusso _____________________________________________ 104

    4.3. RAMPA___________________________________________________________ 107 4.3.1. Descrio ______________________________________________________ 107 4.3.2. Anlise comparativa das normas ____________________________________ 108 4.3.3. Resultado e discusso _____________________________________________ 113

    4.4. ESCADA __________________________________________________________ 119 4.4.1. Descrio ______________________________________________________ 119 4.4.2. Anlise comparativa das normas ____________________________________ 120 4.4.3. Resultado e discusso _____________________________________________ 124

    4.5. CORRIMO _______________________________________________________ 128 4.5.1. Descrio ______________________________________________________ 128 4.5.2. Anlise comparativa das normas ____________________________________ 130 4.5.3. Resultado e discusso _____________________________________________ 133

    4.6. PORTA ___________________________________________________________ 136 4.6.1. Descrio ______________________________________________________ 136 4.6.2. Anlise comparativa das normas ____________________________________ 138 4.6.3. Resultado e discusso _____________________________________________ 142

    4.7. BARRAS DE APOIO ________________________________________________ 145 4.7.1. Descrio ______________________________________________________ 145 4.7.2. Anlise comparativa das normas ____________________________________ 146 4.7.3. Resultado e discusso _____________________________________________ 149

    4.8. BACIA SANITRIA ________________________________________________ 151 4.8.1. Descrio ______________________________________________________ 151 4.8.2. Anlise comparativa das normas ____________________________________ 152 4.8.3. Resultado e discusso _____________________________________________ 154

    4.9. LAVATRIO ______________________________________________________ 157 4.9.1. Descrio ______________________________________________________ 157 4.9.2. Anlise comparativa das normas ____________________________________ 158 4.9.3. Resultado e discusso _____________________________________________ 160

    4.10. DISCUSSO PESQUISA DE CAMPO _________________________________ 163 CAPTULO 5 CONCLUSES E RECOMENDAES _________________________ 166 REFERNCIAS __________________________________________________________ 170 Apndice 1 ______________________________________________________________ 175

  • 16161616

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 16161616

    CAPTULO 1 CAPTULO 1 CAPTULO 1 CAPTULO 1 ---- INTRODUO INTRODUO INTRODUO INTRODUO

    1.1. JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA

    Existem inmeras normas tcnicas destinadas ao espao construdo. Pode-se dizer que essas normas existem para garantir uma padronizao desses espaos de maneira a garantir-

    lhes atributos como qualidade, segurana, confiabilidade e eficincia. Tendo em vista os aspectos citados, percebe-se a grande importncia das normas tcnicas, no s de um ponto de vista econmico, como tambm social, j que promovem qualidade de vida. Para celebrar a importncia das normas no cotidiano das pessoas, comemora-se no dia 14 de Outubro, em

    todo o mundo, o Dia da Normalizao, o world standard day, criado pela International Organization for Standardization, ISO.

    No Brasil as normas tcnicas so elaboradas pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas, ABNT, associao civil sem fins lucrativos, fundada em 1940, sendo considerada de utilidade pblica pela Lei n 4.150, de 21 de novembro de 1962. Dentro da ABNT existem os Comits Brasileiros, chamados de CB, que so os rgos responsveis pela coordenao, planejamento e execuo das atividades de normalizao tcnica (ABNT, 2006).

    O objeto de estudo desse trabalho uma dessas normas tcnicas, a NBR 9050 que trata da acessibilidade no espao construdo. Esta norma pretende garantir que todas as pessoas

    possam se orientar e se deslocar facilmente em um ambiente, fazendo uso dos elementos que o compem como telefones, mesas, guichs, mquinas de auto-atendimento, entre outros

    com segurana e autonomia, isto , sem acidentes e sem necessidade de terceiros para essas tarefas. Alm disso, tambm se visa facilitar a comunicao entre as pessoas.

    A NBR 9050 mais atual, datada de 2004, tem 97 pginas e dividida basicamente em trs partes:

    1. Primeira parte (representa cerca de 5% da norma em n. de folhas) apresenta a norma, os propsitos, traz a aplicao da norma e definio de termos usados no documento como acessibilidade, deficincia e desenho universal;

  • 17171717

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 17171717

    2. Segunda parte (representa cerca de 10% da norma em n. de folhas) apresenta os parmetros antropomtricos da norma, como rea de cadeira de rodas, medidas de alcance mximo e mnimo, rea de transferncia e aproximao, etc., necessrios para formulao dos parmetros tcnicos.

    3. Terceira parte (representa cerca de 85% da norma em n. de folhas) apresenta os parmetros tcnicos e as determinaes para os elementos espaciais. Considerou-se para

    este trabalho que, quando a norma define uma mensurao para determinado elemento espacial, ela est definindo um parmetro tcnico. J quando define apenas o uso ou quantidade de um elemento sem mensurar, ela est fazendo uma determinao. Por exemplo:

    Elemento rampa;

    Parmetros tcnicos inclinao, largura mnima, etc.; Determinao quantidade de rampas que deve existir em um determinado ambiente.

    A NBR 9050 foi concebida pelo Comit Brasileiro 40 da ABNT, CB-40, que trata da acessibilidade espacial. Ela serve para que arquitetos e outros projetistas do ambiente possam conceber ambientes acessveis no Brasil. O termo acessibilidade, que est presente em todo

    trabalho e inclusive no ttulo, ser melhor discutido e exposto no captulo 2.1. No momento, para proporcionar uma idia inicial sobre o tema, deve-se considerar acessibilidade como um conjunto de qualidades que deve dispor o ambiente construdo de modo a ser confortvel e seguro, proporcionando autonomia todos os cidados, independente de suas habilidades ou dificuldades em executar as tarefas do cotidiano.

    A NBR 9050 foi criada em 1985, tendo passado at o presente momento por duas revises, uma em 1994 e a ltima em 2004. Por se tratar de uma norma que pretende assegurar qualidade ao meio construdo em todo o territrio nacional, notrio o seu alcance

    e importncia social.

    Por muito tempo os espaos foram, e muitos ainda so, projetados sem levar em considerao o homem como ser passvel de limitaes no desempenho de atividades. Essas limitaes podem ser resultado de diversos fatores, entre eles:

    Processos naturais como o envelhecimento e a gravidez;

  • 18181818

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 18181818

    Eventos cotidianos como um simples passeio usando um carrinho de beb ou se deslocar carregando sacolas de compras;

    Acidentes, que dependendo da intensidade podem deixar seqelas e causar limitaes;

    M formao ou desenvolvimento de rgos do corpo.

    Geralmente as pessoas com maiores dificuldades em executar atividades nos ambientes, principalmente as pessoas com deficincia, ficam margem da sociedade. Muito disso se deve ao fato desses ambientes no auxiliarem as pessoas amenizando suas dificuldades. Sendo assim, o ambiente exerce um papel fundamental na sociedade, uma vez

    que tem o poder de facilitar ou de impedir a realizao das tarefas cotidianas dos cidados. Ao projetar o ambiente de maneira a ser um agente facilitador, garante-se o direito de igualdade sem nenhuma forma de discriminao, estabelecido pela Constituio Federal de 1988.

    Atualmente tem-se observado grande esforo para a incluso social, tanto por parte da sociedade civil como da esfera pblica. Um exemplo disso o crescente poder poltico das

    organizaes de pessoas com deficincia, que teve como reflexos mais recentes: a prpria NBR 9050 de 2004 e a Lei que a regulamenta e promove, Lei Federal n. 10.098, de 19 de dezembro de 2000, regulamentada pelo Decreto n. 5296 de 02 de dezembro de 2004, que estabelece normas gerais e critrios bsicos para a promoo da acessibilidade. Aliado a isso, v-se a questo da incluso social sendo reforada pelos mais diversos veculos da mdia, mostrando que salutar conviver com as diferenas, pois fomenta as habilidades sociais.

    Apesar da existncia do arcabouo tcnico e jurdico para a acessibilidade no ambiente construdo, e de toda a campanha de conscientizao da populao dos benefcios de um ambiente acessvel e da necessidade da acessibilidade, principalmente para a incluso social, ainda so poucas as entidades de ensino superior, mais especificamente nos cursos voltados

    construo civil como arquitetura e engenharia civil, que trazem o tema em sua grade curricular. Sendo assim, so poucos os profissionais qualificados para projetar um ambiente acessvel. Somado a isso, temos no Brasil apenas 22 anos de aplicao e desenvolvimento das leis e normas de acessibilidade espacial, considerando a data de publicao da primeira NBR 9050, que se acredita ter sido o primeiro ato concreto para a promoo da acessibilidade espacial no Brasil.

  • 19191919

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 19191919

    Nessa conjuntura observa-se que muitos profissionais desconhecem tanto os benefcios da acessibilidade espacial, como os problemas que essa se prope a solucionar. Partindo do princpio de que para criar boas solues necessrio conhecer o problema, acredita-se que no Brasil haja uma dificuldade na relao entre o profissional e a norma. Dessa forma, mesmo tendo a NBR 9050 em mos, muitos profissionais no sabem o porqu de determinado parmetro tcnico ou determinao e, consequentemente, no avaliam quais

    os reflexos que determinados elementos tero quando implantados ou edificados no ambiente.

    Sendo assim, esse trabalho justifica-se por seu alcance social, uma vez que o objeto de estudo, a NBR 9050, se prope a tornar acessveis os ambientes construdos, de modo a possibilitar a socializao de todos os cidados brasileiros independente de suas dificuldades na realizao de tarefas, proporcionando ainda qualidade de vida. Alm do alcance social,

    acredita-se que esse trabalho tambm tenha um alcance cientfico, pois pretende contribuir para o aprimoramento dessa rea do conhecimento, principalmente no que tange a normalizao da acessibilidade espacial no Brasil.

    1.2. QUESTES DE PESQUISA

    As questes que norteiam este trabalho e que sero expostas a seguir so originrias da

    vivncia do autor nesta rea do conhecimento, como tambm do conhecimento adquirido durante o desenvolvimento dessa dissertao.

    1. A parte terica das trs verses da NBR 9050 traz conceitos condizentes com seu perodo histrico? Ela suficiente para suprir a carncia de informao dos profissionais que iro projetar o ambiente?

    2. Quais dados antropomtricos foram utilizados na elaborao da NBR 9050 de 2004? 3. A verso mais recente da norma traz em seus elementos, parmetros tcnicos condizentes

    com seus conceitos e dados antropomtricos? 4. Como est a NBR9050 de 2004 se comparada s demais normas utilizadas no mundo?

    Existem bons exemplos nas normas internacionais que possam ser teis no contexto da norma brasileira?

  • 20202020

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 20202020

    1.3. OBJETIVOS

    1.3.1. Objetivo Geral

    Analisar a NBR 9050 de 2004, a fim de contribuir para o aprimoramento dos estudos da acessibilidade no espao construdo, mais especificamente no Brasil, tanto de um ponto de

    vista terico-cientfico como de um ponto de vista prtico.

    1.3.2. Objetivos Especficos

    1. Discutir os conceitos de acessibilidade, Desenho Universal, deficincia e restrio, dentro do escopo da NBR 9050;

    2. Verificar se teoricamente a norma traz informaes suficientes para suprir a carncia dos profissionais no familiarizados com a acessibilidade espacial;

    3. Discutir e analisar os dados antropomtricos utilizados para a elaborao da NBR 9050 de 2004;

    4. Testar e discutir alguns parmetros tcnicos de elementos espaciais da NBR 9050 de 2004, avaliando sua eficcia em promover a acessibilidade a todos;

    5. Analisar comparativamente os parmetros tcnicos de elementos selecionados para o estudo de campo com os de outras normas internacionais, para verificar a condio da

    norma brasileira no cenrio internacional, alm de observar possveis bons exemplos que poderiam ser teis na NBR 9050.

    1.4. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    Para alcanar os objetivos acima citados, estabeleceu-se uma seqncia de 2 etapas nas quais foram utilizados diferentes mtodos.

    1.4.1. Pesquisa Bibliogrfica

    Essa pesquisa compreendeu alguns dos trabalhos tericos desenvolvidos nos campos do conhecimento pertinentes a NBR 9050, como os conceitos de: acessibilidade, Desenho Universal, deficincia e restrio. Alm desses, tambm foi estudado a antropometria, cincia

  • 21212121

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 21212121

    que trata das medidas do corpo humano, pois a norma se utiliza desta para a elaborao dos parmetros tcnicos para os elementos espaciais. Desta forma tm-se:

    1. Conceitos intrnsecos NBR 9050 de 2004 acessibilidade, Desenho Universal, deficincia e limitaes a fim de: 1.1. Levantar o estado da arte;

    1.2. Analisar esses conceitos aplicados a NBR 9050 de 2004; 1.3. Comparar os conceitos das trs NBR 9050 1985, 1994, 2004 a fim de analisar

    as mudanas ocorridas e verificar quais os reflexos de tais mudanas na norma; 1.4. Verificar se a NBR 9050 de 2004 traz informaes suficientes para suprir a

    carncia dos profissionais no familiarizados com a acessibilidade espacial; 2. Antropometria, objetivando-se:

    2.1. Levantar o estado da arte; 2.2. Analisar e discutir os parmetros antropomtricos da NBR 9050 de 2004;

    3. Normas de acessibilidade usadas em outros pases a fim de verificar se h uma equiparao entre seus parmetros tcnicos com os da NBR 9050 de 2004, estudados na pesquisa de campo. Alm disso, espera-se apontar boas solues utilizadas nestas normas que poderiam ser utilizadas na norma brasileira. Para seleo dessas normas definiram-se dois critrios: 3.1. Normas de pases com reconhecida experincia e aplicao de normas tcnicas de

    acessibilidade;

    3.2. Normas referenciadas em outros trabalhos cientficos.

    1.4.2. Pesquisa de Campo

    Como um dos objetivos desta dissertao a anlise dos parmetros tcnicos dos elementos espaciais da NBR 9050, foi necessria a realizao de uma pesquisa de campo avaliando a relao entre os elementos e pessoas em situaes reais. Para isso foi realizada uma pesquisa de campo qualitativa, utilizando o mtodo da observao sistemtica com o objetivo de coletar dados reais que pudessem servir de suporte para a discusso dos parmetros tcnicos dos elementos da NBR 9050 de 2004.

    A pesquisa qualitativa, pois serve como suporte necessrio para explicar os reflexos

    das relaes entre as pessoas e os elementos espaciais. No mtodo qualitativo considerada a

  • 22222222

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 22222222

    subjetividade do sujeito que no pode ser traduzido em nmeros (SILVA, 2001). A observao realizada foi sistemtica, pois tem planejamento, realiza-se em condies controladas para responder aos propsitos preestabelecidos (SILVA, 2001). Segundo Suassuna (1998) uma das principais limitaes desse tipo de observao que o pesquisador est impossibilitado de ocultar a realizao da pesquisa. A presena do pesquisador pode provocar alteraes no comportamento dos observados, destruindo a espontaneidade dos

    mesmos e produzindo resultados pouco confiveis (SUASSUNA, 1998). Mesmo assim, acredita-se que este foi o mtodo de observao mais adequado para obteno dos dados nessa pesquisa de campo.

    Na impossibilidade de testar e discutir todos os elementos espaciais, optou-se por avaliar uma pequena amostra, devido ao curto espao de tempo em comparao ao nmero de

    parmetros tcnicos contidos na norma; e a escassez de solues espaciais de acordo com a NBR 9050 de 2004 em Florianpolis, Santa Catarina.

    Foram selecionados elementos encontrados em Florianpolis, que tinham parmetros tcnicos condizentes com a NBR 9050 de 2004. Ao todo foram selecionados nove elementos localizados em ambientes internos e externos. Aps a seleo, foram analisados comparativamente os parmetros tcnicos desses elementos na norma brasileira a nas normas internacionais previamente escolhidas. O objetivo dessa anlise foi identificar os parmetros de maior divergncia entre as normas, e assim dar maior enfoque esses.

    Em seguida definiu-se o grupo de pessoas que iria interagir com os elementos

    espaciais selecionados, tendo como critrio de escolha o grau de dificuldade do convidado para desempenhar certas atividades do cotidiano. Ao todo, contou-se com seis pessoas para essa pesquisa: uma pessoa em cadeira de rodas; uma pessoa que no enxerga; uma pessoa que tem dificuldades de enxergar, mas consegue distinguir cor e forma; uma idosa; uma pessoa

    que usa muletas; e uma pessoa jovem e sem deficincia. Pediu-se s pessoas que interagissem com elementos selecionados enquanto eram filmadas. Essas pessoas interagiram com os

    elementos sem nenhuma informao prvia sobre os mesmos.

    O experimento foi realizado com um convidado por vez, para que as observaes no fossem influenciadas por terceiros. Todo o perodo em que o autor esteve em contato com

  • 23232323

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 23232323

    esses, foi gravado em udio para que no se perdessem as informaes oralizadas obtidas nos experimentos e nas conversas durante o deslocamento entre elemento e outro.

    Toda a pesquisa de campo, com critrios estabelecidos e outros aspectos, ser melhor

    apresentada no captulo 4.

    1.5. ESTRUTURA DA DISSERTAO

    Na introduo apresentam-se as justificativas e a relevncia da realizao dessa dissertao, bem como os objetivos e os procedimentos metodolgicos para alcan-los. Faz-se uma breve descrio da NBR 9050 abordando sua utilizao, seus objetivos e como organizada. Tambm so expostos brevemente alguns conceitos que sero estudados neste trabalho.

    O captulo 2, referencial terico, trata da conceituao dos temas centrais da NBR 9050. So expostas as definies relativas : acessibilidade, Desenho Universal, deficincia e restrio. Alm disso, tambm apresentado o estudo realizado sobre antropometria que teve como objetivo a fundamentao terica para a discusso dos parmetros antropomtricos usados para a realizao da norma citada.

    No captulo 3 realiza-se a discusso dos conceitos presentes nas trs NBR 9050, tendo como fundamentao terica os conceitos expostos no captulo 2. Tambm so discutidos os parmetros antropomtricos da NBR 9050 de 2004, tendo como fundamentao terica o tema antropometria, igualmente exposto no captulo 2.

    J no captulo 4 exposta a pesquisa de campo. Primeiramente retoma-se a descrio dos mtodos, que aqui dividida em dois momentos: a montagem e a aplicao. Em seguida

    se expe as discusses e resultados obtidos.

    Finalmente, no captulo 5, realizada a concluso final da dissertao, que consiste numa sntese das concluses realizadas ao decorrer do trabalho, onde procurou-se responder

    as questes de pesquisas e objetivos contidos na introduo. Ao final so sugeridos alguns temas para futuras pesquisas com os assuntos que no foram aprofundados nesse trabalho.

  • 24242424

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 24242424

    CAPTULO 2 CAPTULO 2 CAPTULO 2 CAPTULO 2 ---- REFERENCIAL TERICO REFERENCIAL TERICO REFERENCIAL TERICO REFERENCIAL TERICO

    A NBR 9050 de 2004, intitulada acessibilidade a edificaes, mobilirio, espaos e equipamentos urbanos (ABNT, 2004, p.1), alm do conceito de acessibilidade, tambm traz intrnseco os conceitos de Desenho Universal, deficincia e restrio. A importncia de estudar esses conceitos est no conhecimento dos problemas que a NBR 9050 pretende solucionar. Acredita-se que quanto maior o conhecimento do problema, mais variadas e bem sucedidas sero as solues.

    O estudo da antropometria tambm necessrio para analisar e discutir os parmetros antropomtricos utilizados na elaborao da NBR 9050 de 2004, que ser realizado no captulo 3.

    Este referencial terico trar uma reviso histrica e conceitual que contemplar esses

    temas, de maneira que proporcione um melhor entendimento dessa dissertao.

    2.1. ACESSIBILIDADE

    Acessibilidade de forma simplificada significa acesso. Um ambiente acessvel seria ento um ambiente onde possvel o acesso. Para uma melhor compreenso desse termo, inicialmente ser exposto seu elemento antagnico a barreira elemento que impede o

    acesso. Segundo Mozos & Lpez (2005, traduo nossa), as barreiras geram uma srie de circunstncias que podem dificultar o desenvolvimento das atividades cidads mais comuns,

    tais como caminhar pelos passeios, cruzar uma avenida, utilizar um transporte pblico, pedir informao, solicitar um servio, etc.. Para uma conceituao mais detalha, usaremos as trs classificaes propostas por Dischinger et al (2004):

    Barreiras Atitudinais esto principalmente relacionadas ao preconceito. Tambm

    so chamadas de barreiras invisveis j que so barreiras estabelecidas na esfera social, em que as relaes humanas centram-se nas limitaes dos indivduos e no em suas habilidades, dificultando sua participao na sociedade (DISCHINGER et al, 2004). Pode-se dizer que essa barreira envolve questes sociais, a partir do momento em que o indivduo possa no ser aceito por aqueles que o cercam, e questes de

  • 25252525

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 25252525

    igualdade, quando a pessoa no tratada como igual, ou quando no lhe so ofertadas iguais oportunidades, sejam quais forem os motivos;

    Barreiras Fsicas so de origem arquitetnica originrias de elementos fsicos ou do desenho espacial que dificultam ou impedem a realizao de atividades desejadas de forma independente causando diversos tipos de [limitaes] (DISCHINGER et al, 2004). Essa barreira ainda pode ser dividida em dois outros tipos (OLIVEIRA, 2006):

    o Barreiras Fsicas Fixas so aquelas imveis por um longo espao de tempo, como postes, a maioria das cabines de telefone pblico, bancos de praa, etc;

    o Barreiras Fsicas Dinmicas so aquelas que se deslocam em curtos espaos de tempo, como veculos estacionados ilegalmente em passeios pblicos, equipamento de venda ambulante como um carrinho de pipoca

    posicionado de maneira incorreta em reas de circulao de pedestres, etc.

    Barreiras de Informao esto principalmente relacionadas com comunicao e a

    sinalizao, uma vez que so [...] os elementos de informao adicional (placas, mapas, sinais sonoros, etc.) e os elementos de informao verbal (interpessoais), que perturbam ou reduzem as possibilidades de obteno da informao espacial desejada (OLIVEIRA, 2006).

    Desta forma, v-se que as barreiras podem fazer com que as pessoas tenham grandes

    dificuldades na realizao de atividades em um ambiente construdo, o que se pode chamar tambm de dificuldade de acesso ao ambiente.

    Segundo Halden (2005, p.3, traduo nossa) acessibilidade a facilidade com que qualquer indivduo ou grupo de pessoas podem alcanar um objetivo ou grupo de objetivos. Pode-se dizer ento que, de maneira genrica, acessibilidade significa promover o acesso a

    algo. Esse algo pode ser sade, educao, moradia, entre outros. Sendo assim, podemos encontrar o termo acessibilidade nas mais diversas reas do conhecimento, tendo significados

    especficos cada uma delas.

  • 26262626

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 26262626

    Acredita-se que o conceito mais amplo de acessibilidade, o conceito geogrfico de Milton Santos. Este fala da acessibilidade, como o acesso ao territrio, seus bens e servios, enfatizando que na sua ausncia, no h como exercer a cidadania.

    Mais do que um direito cidadania, o que est em jogo o direito a obter da sociedade aqueles bens e servios mnimos, sem os quais a existncia no digna. Esses bens e servios constituem um encargo social, atravs das instncias do governo, e so devido a todos. Sem isso, no se dir que existe o cidado. (...) A acessibilidade compulsria aos bens e servios sociais seria [deveria ser] uma parte obrigatria dos diversos projetos nacionais. (SANTOS, 1998, p. 129-130)

    Atualmente, no meio cientfico, o conceito mais comum aquele que trata a

    acessibilidade como sendo um conjunto de caractersticas do qual deve dispor um ambiente, produto ou servio, de modo que este possa ser utilizado com conforto, segurana e autonomia por todos crianas, adultos e idosos independente de suas habilidades ou

    limitaes. Esse conceito que apresenta a acessibilidade como algo que favorece a todos, est presente nos trabalhos de autores como Aldan (2004), Baptista (2003), Cabrero (2004), Cebreros e Pelln (2004), Dischinger e Jackson (2005), Ely (2004a), Lagarn (2004), Lopes (2005), Lpez (2004), Mozos (2004), Nart (2004), Oliveira (2006). Mas nem sempre foi assim.

    Antes do sculo XX, tinham-se os dois primeiros estgios da acessibilidade definidos por Baptista (2003), que so estgios da evoluo dos projetos de ambientes focados na acessibilidade espacial.

    Estgio 1 Projetos sem adequao estgio mais primitivo, onde as pessoas com deficincia eram postas margem da sociedade, chegando at mesmo a serem sacrificadas, como usualmente ocorria na antiguidade greco-romana;

    Estgio 2 Projetos para segregao estgio caracterizado por uma eugenia sanitarista, onde as pessoas com deficincia eram, quase sempre, enviadas asilos,

    hospcios e outras unidades de sade especializadas. Este estgio foi bem explicito no sculo XIX, quando foram criados, em vrias partes do mundo, os primeiros centros

    de educao voltados exclusivamente para pessoas com deficincia; os primeiros

  • 27272727

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 27272727

    hospitais especializados em um determinado tipo de deficincia; os primeiros centros de tratamento, entre outros (BRADDOCK & PARISH, 2000).

    Como se pde observar, a incluso social era algo no cabvel neste momento

    histrico o que imperava era justamente o contrrio, a excluso social. Acredita-se que o pensamento corrente era que por serem diferentes, as pessoas com deficincia no estariam

    aptas a serem consideradas cidads, alm de causar mal estar populao.

    Em 1973 houve um grande intento do Congresso Norte Americano em promover o acesso pessoa com deficincia no espao construdo, viabilizado pela seo 504 da Lei de Reabilitao. Essa Lei previa que as novas construes fossem livres de barreiras fsicas (BRADDOCK & PARISH, 2000, p. 78). Nessa mesma dcada, inicia-se o penltimo estgio descrito por Baptista (2003, p. 10).

    Estgio 3 Projetos acessveis de carter exclusivo os projetos livres de barreiras eram muito limitados em sua concepo. No se tinha uma compreenso das reais

    necessidades advindas das diferentes deficincias. Alm disso, s eram consideradas as barreiras fsicas, enquanto as barreiras atitudinais e as de informao eram ignoradas.

    Nesse estgio aparece o chamado projeto livre de barreiras, essas apenas constitudas de elementos fsicos contidos no ambiente. Nisso, subentende-se que o pensamento era de que

    apenas liberando os caminhos, se garantiria a incluso de pessoas com deficincia no ambiente construdo. Desconsideravam-se outros tipos de barreiras que, em certos casos, podem tornar um ambiente menos acessvel do que um com apenas barreiras fsicas. Nas consideraes de Saeta e Teixeira (2001) sobre esse perodo, surge o termo barreiras atitudinais, que como j visto refere-se principalmente ao preconceito. Tudo isso leva a crer que nesse estgio o objetivo era favorecer apenas as pessoas com limitaes ligadas a locomoo, como os cadeirantes e os muletantes.

    A partir da dcada de 70 temos nos Estados Unidos e parte da Europa, a poca mais

    significativa para o incio das aes de acessibilidade, uma vez que as leis formuladas aqui j incluam aspectos do que Silvertein (2000) chama de novo paradigma da deficincia, que considera as limitaes como parte normal e natural da vida humana. Sendo assim, o novo

  • 28282828

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 28282828

    paradigma focado na superao das limitaes, com aes para adequar o ambiente construdo pessoa com limitaes, contrariando o que se vinha fazendo, que era forar que a pessoa se adequasse a um ambiente inspito, repleto de barreiras.

    Em um contexto global, a dcada mais importante para o incio efetivo das aes para a acessibilidade, a de 80. Em 1980 a Assemblia Geral da Organizao das Naes Unidas, pela resoluo n. 31/123 de 1979, declarou o ano de 1981 como Ano Internacional da Pessoa Deficiente (SILVA, 2002, p. 41). O Ano Internacional da Pessoa Deficiente deu origem ao Programa Mundial de Ao para as Pessoas com Deficincia, que foi aprovado em Assemblia Geral das Naes Unidas (SILVA, 2002, p. 46). Este programa propunha, entre vrias outras aes de assistencialismo, a insero total dessas pessoas na sociedade em condies de igualdade, de forma a oferecer equiparao de oportunidades (BRADDOCK & PARISH, 2000, p. 85).

    A partir da dcada de 80 vrias aes em prol da acessibilidade, do ponto de vista jurdico e normativo, so visveis no mundo todo. No Brasil divulgada a primeira NBR 9050 em setembro de 1985, norma esta que tratava da adequao das edificaes e do mobilirio urbano pessoa deficiente (ABNT, 1985), seguida da Constituio Brasileira de 1988, que deu guarida a dispositivos de acessibilidade nas edificaes e transportes (SANTOS, 2003). Em 1982, nos EUA, foi publicado um guia de normas mnimas para o desenho acessvel. Em novembro de 1990 foi lanada a primeira verso completa da norma europia de acessibilidade, contudo seu desenvolvimento comeou em maio de 1985 (EuCAN, 2003).

    Foi graas a trs acontecimentos desse perodo que a acessibilidade comea a ser discutida com mais afinco no Brasil: Ano Internacional da Pessoa Deficiente, 1981 (Silva, 2002, p. 41); Programa Mundial de Ao para as Pessoas com Deficincia, 1982 (BRADDOCK & PARISH, 2000, p. 85); Assemblia Nacional Constituinte, 1987 a 1988 (Silva, 2002, p. 14). Depois de 1987 com o desenvolvimento do conceito de Desenho Universal por Ron Mace1 (ver captulo 2.2), que se inicia a transio do estgio 3 da acessibilidade para o ltimo estgio definido por BAPTISTA (2003).

    1 Arquiteto norte-americano que em 1987 criou o termo Universal Design (BERNARDI e KOWALTOWSKI,

    2005, p.158).

  • 29292929

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 29292929

    Estgio 4 Projetos universais de carter inclusivo nesta fase o conceito de acessibilidade torna-se mais abrangente. Antes, um ambiente acessvel para um

    determinado grupo de pessoas poderia no ser acessvel para outro. A acessibilidade agora aquela que reconhece a existncia dos outros tipos de barreiras, e que visa elimin-las do ambiente construdo, de maneira que todos possam utiliz-lo. Sendo assim, o estgio da acessibilidade onde se conhece mais as necessidades originrias

    das limitaes humanas, fazendo com que os projetos sejam cada vez mais seguros, confortveis, favorecendo a autonomia dos usurios dos ambientes, independente de

    suas limitaes ou habilidades.

    Passadas pouco mais de duas dcadas desde o inicio efetivo das aes em prol da acessibilidade no Brasil, j se pode observar um quadro bastante evoludo. Tem-se hoje uma das legislaes mais amplas do mundo, no que tange a igualdade de direitos e deveres dos cidados (Silva, 2002). A Lei Federal brasileira mais recente de promoo da acessibilidade a de n. 10.098, de 19 de dezembro de 2000, regulamentada pelo Decreto n. 5296 de 02 de dezembro de 2004. No artigo 10 deste decreto, diz-se que a concepo e a implantao dos

    projetos arquitetnicos e urbansticos devem atender aos princpios do Desenho Universal, tendo como referncias bsicas as normas tcnicas de acessibilidade da ABNT, a legislao especfica e as regras contidas neste Decreto (BRASIL, 2004).

    A acessibilidade no mais vista como simples eliminao de barreiras fsicas, que visa apenas o deslocamento, como era comumente difundida. Com todos os avanos

    cientficos que ocorreram nas reas relacionadas com a acessibilidade, esta passou a significar mais que acesso. Atualmente a acessibilidade vista como um meio de possibilitar a participao das pessoas nas atividades cotidianas que ocorrem no espao construdo, com segurana, autonomia e conforto. Isto enfatizado por Ely (2004a, p.19) ao dizer que para [...] haver incluso e participao de todas as pessoas na sociedade, independente de suas limitaes, fundamental que se possibilite pleno acesso aos mais variados lugares e

    atividades.

    Para melhor compreender e facilitar os estudos em acessibilidade espacial, Dischinger

    e Ely (apud OLIVEIRA, 2006) definem quatro componentes fundamentais da acessibilidade: orientao; comunicao; deslocamento; e uso. Essas componentes foram de grande utilidade

  • 30303030

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 30303030

    no desenvolvimento dessa dissertao, tanto na parte referente teoria como prtica, como poder ser melhor observado no captulo 4.

    Segundo Dischinger et al (2004), Orientao um processo cognitivo no qual o indivduo pode tanto se situar quanto se deslocar dentro de um dado arranjo fsico. Em relao ao meio construdo, tem-se orientabilidade como um conjunto de caractersticas que permite a obteno de informaes espaciais e sua compreenso. Desta forma, a orientao trata de como os indivduos se deslocam nos ambiente, ou como encontram seu destino, mesmo num espao desconhecido [...] (DISCHINGER, 2001b). Para isto necessrio representar mentalmente caractersticas de um arranjo fsico e poder situar-se dentro desta representao (DISCHINGER, 2001b).

    Todo e qualquer edifcio carrega informao social e cultural em sua configurao espacial e no edifcio adequadamente desenhado o sistema de rotas deve articular uma distribuio de atividades com ele compatvel. A funo do edifcio deve ser evidenciada naturalmente no arranjo espacial das linhas de movimento; so as seqncias espaciais. Diz-se a que o espao funciona,

    inteligvel, tem fcil leitura (Aguiar, 2002).

    Alm da configurao espacial, elementos informativos adicionais (como painis, letreiros digitais, etc.) podem auxiliar na orientao dentro de um ambiente construdo. Como exemplo pode-se citar um hall de um aeroporto internacional (ver ilustrao 1) que deve oferecer aos usurios inmeras informaes sobre os vos, chegadas e partidas, horrio, nmero do vo, portes de embarque, plataformas. Para que as informaes sejam acessveis todos, elas devem ao menos ser comunicadas de forma visual e sonora. Essas informaes

    so dispostas em vrias lnguas, no mnimo a lngua local e uma lngua de uso internacional (como o ingls) em painis, digitais ou analgicos, e pelo sistema de udio do aeroporto. Desta forma pessoas das mais diversas localidades, sejam elas alfabetizadas ou no, com dificuldades em enxergar ou ouvir, podem compreender a informao.

  • 31313131

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 31313131

    Ilustrao 1 - Sinalizao visual informando sobre o ambiente Fonte: http://wangjianshuo.com/personal/places/pudongairport/shanghai.pvg-people.waiting.arrival.exit.jpg.

    Segundo Oliveira (2006), a componente Comunicao seria a condio de troca e intercmbio entre pessoas e entre pessoas e equipamentos de tecnologia assistiva (como terminais de computadores e telefones com mensagens de texto), que permitam o ingresso e uso do ambiente. O exemplo da ilustrao 2 mostra teclado para telefone, TDD

    telecommunications device for the deaf, que permite que pessoas com dificuldades de audio ou aquelas totalmente surdas, se comuniquem com outras pessoas por meio de texto j que dispe de visor.

    A outra ilustrao mostra um coral sendo traduzido na linguagem brasileira de sinais,

    Libras. A Libras uma importante ferramenta de auxilio a comunicao entre as pessoas, tenham elas dificuldades de audio ou de fala. No caso trazido na ilustrao 3, a Libras possibilitou a participao de pessoas com dificuldades de audio na atividade ali desenvolvida.

    Ilustrao 2 TDD Fonte: http://newweb.cistera.com.

    Ilustrao 3 - Traduo em Libras Fonte: http://www.ufmg.br

  • 32323232

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 32323232

    Deslocamento a ao de se fazer mudar de lugar ou posio. a pessoa ir onde ela queira em um determinado ambiente. Para as autoras, o ambiente deve propiciar um

    deslocamento [...] de forma independente em percursos livres de obstculos, que ofeream conforto e segurana ao usurio (OLIVEIRA, 2006). A ilustrao 4 mostra um grupo de pessoas cruzando uma faixa de pedestres por meio de uma guia rebaixada. Esse tipo de soluo, se bem elaborada, reduz a fadiga muscular, proporcionando, alm de conforto,

    segurana e autonomia aos pedestres. Apesar da imagem s mostrar pessoas em cadeiras de rodas, esta soluo proporciona igual conforto, segurana e autonomia todos as pessoas, de

    diferentes idades e habilidades, como uma me que leva seu beb em um carrinho, um idoso, uma pessoa que est engessada, entre outros.

    Ilustrao 4 - Pessoas cruzando uma faixa de pedestres por uma guia rebaixada Fonte: LOPZ, 2006.

    O Uso a condio que possibilita a utilizao dos equipamentos e a participao nas atividades fins (OLIVEIRA, 2006). Os equipamentos contidos no ambiente construdo devem propiciar o uso independente, confortvel e seguro para todos os cidados que deles

    necessitem. A ilustrao a seguir mostra uma pessoa que necessita de uma cadeira de rodas para se locomover. Por estar sempre sentada, a pessoa tem limitaes de alcance. Neste caso,

    o boto foi posicionado numa altura tal que todas as pessoas, independente de sua estatura, pudessem acion-lo sem maiores problemas, como uma criana ou um ano.

    Ilustrao 5 - Pessoa usando o elevador com autonomia e segurana Fonte: BRASIL, 2005.

  • 33333333

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 33333333

    Conclui-se, ento, que para se promover a acessibilidade em determinado ambiente, devem-se eliminar todas as barreiras existentes, que de alguma forma possam restringir as atividades do cidado, independente de suas habilidades ou limitaes, sem deixar de garantir-lhe independncia, conforto e segurana no ambiente construdo.

    2.2. DESENHO UNIVERSAL

    A conceituao de Desenho Universal se fez necessria por ser uma das palavras-chave da NBR 9050 de 2004, sendo at definida na mesma, e por estar ligada aos mais recentes conceitos de acessibilidade, como j foi visto anteriormente. Sendo assim, ser realizado um breve histrico sobre o referido conceito, a fim de contextualiz-lo, antes de

    conceitu-lo.

    Segundo Bernard & Kowaltowski (2005) a evoluo do Desenho Universal comeou na dcada de 50, com projetos visando a incluso das pessoas com deficincia. J na dcada de 70, Europa e EUA comeam a dar nfase a solues especiais atravs de normalizaes e integrao, e surge a terminologia projeto acessvel. Ainda nessa mesma dcada, surge o barrier-free design, o projeto livre de barreiras, introduzido pelo arquiteto norte americano Michael Bednar. A idia era que a capacidade funcional, de todas as pessoas, seria realada

    quando as barreiras fsicas fossem removidas (BERNARD & KOWALTOWSKI, 2005). Anteriormente mostrou-se a classificao e implicaes das barreiras. Foi visto que alm das

    barreiras fsicas, tambm existem as atitudinais e de informao, e que a eliminao de apenas uma dessas, no implica a acessibilidade do local. Tendo em vista esse conhecimento, fica clara a falha neste tipo de projeto onde as barreiras ligadas ao preconceito e a informao so desconsideradas.

    S na dcada de 80, mais precisamente em 1985, surge o termo Desenho Universal DU criado pelo arquiteto Ron Mace (DISCHINGER et al, 2004). O arquiteto acreditava que o DU seria um estmulo percepo das necessidades humanas para que se pudesse, a partir da, projetar produtos que pudessem servir todas as pessoas, independente de suas limitaes ou habilidades (BERNARD & KOWALTOWSKI, 2005). Segundo o Centro para o Desenho Universal, CUD, da Universidade do Estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos da Amrica, a diferena bsica entre Desenho Universal e outros conceitos como acessibilidade,

  • 34343434

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 34343434

    adaptabilidade e projeto livre de barreiras, que este pretende eliminar a necessidade de equipamentos e espaos especiais que, alm de embaraar e estigmatizar as pessoas, ainda so freqentemente mais caros (CUD, 2000). Sendo assim tem-se que Desenho Universal um conceito que reconhece, respeita, valoriza e pretende abranger a maior quantidade possvel de

    pessoas no desenho de todos os produtos, ambientes e sistemas de informao (CUD, 2000, traduo nossa). Segundo Dischinger et al (2001a, p.24) [...] bons exemplos de Desenho Universal atendem todos os usurios e usualmente passam despercebidos, pois somente podem ser identificados atravs do conhecimento das razes que motivaram as solues de desenho desenvolvidas.

    O CUD desenvolveu os sete princpios do Desenho Universal como parte do projeto Estudos para Auxiliar o Desenvolvimento do Desenho Universal. Estes princpios

    constituem uma importante ferramenta para projetistas e educadores, e sero apresentados a seguir de acordo com o CUD (2000).

    Princpio 1 Uso eqitativo a caracterstica do ambiente ou elemento espacial que faz com que ele possa ser usado por diversas pessoas, independente de idade e habilidade. Para ter o uso eqitativo deve-se: propiciar o mesmo significado de uso para todos; eliminar uma possvel segregao e estigmatizao; promover o uso com privacidade, segurana e conforto, sem deixar de ser um ambiente atraente ao usurio.

    Uma porta de acionamento automtico por sensor, um exemplo de uso eqitativo. Ela permite que todas as pessoas, independente de suas habilidades ou

    limitaes, altas ou baixas, em cadeira de rodas ou no, entrem facilmente nos recintos (ver ilustrao 6);

    Ilustrao 6 - Porta automtica Fonte: CUD, 2002.

  • 35353535

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 35353535

    Princpio 2 Uso flexvel a caracterstica que faz com que o ambiente ou elemento espacial atenda uma grande parte das preferncias e habilidades das

    pessoas. Para tal devem-se oferecer diferentes maneiras de uso, possibilitar o uso para destros e canhotos, facilitar a preciso e destreza do usurio e possibilitar o uso de pessoas com diferentes tempos de reao estmulos. A ilustrao 7 mostra um tipo de bancada de cozinha, projetada de modo que pudesse ser ajustada dos mais diversos modos. Ela possui quatro reas: preparo de alimentos; placa para cortes; lavagem; e cozimento. Essa bancada gira em torno de seu

    eixo e pode ser regulada em altura de 65 cm 95 cm. Desta forma, ela pode ser usada por pessoa mais baixas ou altas, crianas e adultos, pessoas em p ou sentadas, etc. Alm disso, seu projeto foi pensado de modo a ser flexvel destros e canhotos.

    Ilustrao 7 Bancada de cozinha Fonte: CUD, 2002.

    Princpio 3 Uso simples e intuitivo a caracterstica do ambiente ou elemento espacial que possibilita que seu uso seja de fcil compreenso, dispensando para tal, experincia, conhecimento, habilidades lingsticas ou grande nvel de concentrao por parte das pessoas. Como exemplo deste princpio, mostrado algo bem comum, e que grande

    maioria dos produtos traz: o manual de instrues com ilustraes. Esse tipo de informao visual extra facilita bastante a compreenso das instrues escritas

    contidas no manual, podendo tambm ser compreendida por pessoas analfabetas ou que desconheam o idioma do manual (ver ilustrao 8);

  • 36363636

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 36363636

    Ilustrao 8 Informao pictrica em um manual montagem de uma cadeira Fonte: CUD, 2002.

    Princpio 4 Informao de fcil percepo Essa caracterstica do ambiente ou

    elemento espacial faz com que este seja redundante e legvel quanto a apresentaes de informaes vitais. Essas informaes devem se apresentar em diferentes modos

    visuais, verbais, tteis fazendo com que a legibilidade da informao seja maximizada, sendo percebida por pessoas com diferentes habilidades cegos, surdos, analfabetos, entre outros. O interfone da ilustrao 9 apresenta este princpio do Desenho Universal. Possui grandes botes com pictogramas e texturas de modo a diferenciar uns dos outros. Alm disso, possui visor que possibilita ver a pessoa com quem se fala, o que

    auxilia bastante a comunicao, principalmente no caso de uma pessoa que tenha que se comunicar em linguagem de sinais, ou que por algum motivo esteja impossibilitada de falar;

    Ilustrao 9 Interfone que maximiza a percepo da informao Fonte: CUD, 2002.

    Princpio 5 Tolerncia ao erro uma caracterstica que possibilita que se minimizem os riscos e conseqncias adversas de aes acidentais ou no intencionais

    na utilizao do ambiente ou elemento espacial. Para tal devem-se agrupar os elementos que apresentam risco, isolando-os ou eliminando-os, empregar avisos de

  • 37373737

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 37373737

    risco ou erro, fornecer opes de minimizar as falhas, e evitar aes inconscientes em tarefas que requeiram vigilncia.

    O anfiteatro abaixo (ver ilustrao 10) localizado na Universidade de Indiana, Estados Unidos, um bom exemplo deste princpio. As paredes e o piso tm cores

    contrastantes, o que auxilia as pessoas a se orientar no espao, principalmente as

    pessoas com dificuldade em enxergar. Os corredores entre uma arquibancada e outra

    so bem largos, de modo que as pessoas, mesmo em cadeira de rodas, se desloquem sem esbarrar nas outras que esto sentadas. Alm disso, os corrimos tm prolongamento nas extremidades, alertando as pessoas para o incio dos degraus, evitando acidentes.

    Ilustrao 10 Anfiteatro Bradford Woods Fonte: CUD, 2002.

    Princpio 6 Baixo esforo fsico Nesse princpio, o ambiente ou elemento espacial deve oferecer condies de ser usado de maneira eficiente e confortvel com o mnimo de fadiga muscular do usurio. Para alcanar esse princpio deve-se: possibilitar que os usurios mantenham o corpo em posio neutra; usar fora de operao razovel;

    minimizar aes repetidas; e minimizar a sustentao do esforo fsico. Um exemplo corriqueiro de elemento que obedece a esse princpio a

    maaneta de porta tipo alavanca. Esse tipo de maaneta possibilita a abertura da porta sem o uso das mos, podendo ser acionada pelo cotovelo, dedo, apenas o brao, etc. Isso muito til quando se est carregando coisas, ou at mesmo quando se tem alguma leso na mo, onde essa precise ser imobilizada. Na ilustrao 11 mostrada uma maaneta do tipo citado, contudo ela tem outras caractersticas que a fazem se destacar das demais. Alm do desenho da maaneta se adequar a forma da mo, ela

    possui ainda uma superfcie de atrito, possibilitando uma melhor pega do usurio;

  • 38383838

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 38383838

    Ilustrao 11 Maaneta que propicia melhor pega Fonte: CUD, 2002.

    Princpio 7 Dimenso e espao para aproximao e uso Essa caracterstica diz que

    o ambiente ou elemento espacial deve ter dimenso e espao apropriado para aproximao, alcance, manipulao e uso, independente de tamanho do corpo, postura e mobilidade do usurio. Desta forma, deve-se: implantar sinalizao em elementos importantes e tornar confortavelmente alcanveis todos os componentes para usurios

    sentados ou em p, acomodar variaes de mos e empunhadura, e por ltimo implantar espaos adequados para uso de tecnologias assistivas ou assistentes

    pessoais.

    O exemplo abaixo do Museu Nacional da Colmbia, em Bogot. Trata-se de

    um painel onde so expostas informaes sobre o museu e sobre as obras nele expostas. O painel foi projetado de tal forma que todas as pessoas, independente de idade e habilidades ou limitaes, pudessem ter acesso s informaes nele contidas. Na ilustrao 12 mostrada uma pintura do general Bolvar, em seqncia sua

    representao ttil no painel e um desenho em perspectiva do painel. Observa-se a altura utilizada de 87 cm, visando favorecer pessoas de variadas estaturas. Nota-se

    tambm uma abertura central visando aproximao de usurios de cadeiras de rodas, alm da barra lateral para que as pessoas possam se apoiar, o que auxilia principalmente as pessoas com dificuldade em se equilibrar.

    Ilustrao 12 Painel informativo do Museu Nacional da Colmbia Fonte: CUD, 2002.

  • 39393939

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 39393939

    Com a exposio dos princpios e dos exemplos acima, ficam evidentes as vantagens do Desenho Universal, principalmente do ponto de vista do conforto e segurana das pessoas. Como o uso do ambiente e objetos se torna atrativo s pessoas, por todas as caractersticas dos sete princpios, acredita-se que o Desenho Universal seja um bom investimento, tanto em qualidade de vida como em aspectos econmicos. Um estabelecimento comercial que teve em seu projeto a preocupao com o Desenho Universal, tem maiores chances de atrair maior nmero de consumidores do que um outro estabelecimento, por exemplo. Ao possibilitar a participao de todos no espao construdo, o DU se mostra uma poderosa ferramenta para a incluso social.

    2.3. DEFICINCIA E RESTRIO

    Indivduos com deficincias j faziam parte da ordem social antes mesmo da evoluo do homem, o que comprovado por evidncias antropolgicas de indivduos com deficincia vivendo em grupos pr-histricos de primatas (BRADDOCK & PARISH, 2000).

    Na civilizao greco-romana, aproximadamente entre os sculos X a.C. e V d.C., as deficincias eram bastante comuns, principalmente pelas doenas, guerras, falta de cuidados pr-natais, desnutrio e leses decorrentes do trabalho pesado. Contudo, o governo garantia

    suporte financeiro aos adultos com deficincia, contanto que estes comprovassem real incapacidade de realizar tarefas economicamente rentveis (BRADDOCK & PARISH, 2000).

    Na Idade Mdia surgiram os primeiros hospcios, que serviam de refgio para as pessoas com deficincia. Logo aps, cerca do sculo XVI, surgem as primeiras instituies de segregao de pessoas, no caso os doentes de Hansenase tambm conhecida como lepra.

    Nesta poca tambm era comum pensar as deficincias, principalmente deficincia mental, surdez e epilepsia, como tendo causas sobrenaturais ou demonacas (BRADDOCK & PARISH, 2000).

    Segundo Oliveira (2006), na era Moderna clara a busca de solues tcnicas que tentam amenizar as dificuldades de pessoas com deficincia, evidenciada pelos vrios

    inventos que foram criados para propiciar meios de trabalho e de locomoo a essas pessoas, tais como a cadeira de rodas, as bengalas, as muletas, os coletes, as prteses, etc.

  • 40404040

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 40404040

    Em 1975, a ONU promulgou a Declarao dos Direitos da Pessoa Deficiente, definindo que o termo pessoa deficiente refere-se a qualquer indivduo incapaz de assegurar a si mesmo, total ou parcialmente, o atendimento s necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrncia de uma deficincia, congnita ou no, em suas capacidades

    fsicas ou mentais (LOPES, 2005). Essa definio considera a pessoa com deficincia como incapaz. No se tinha conscincia de que em um ambiente acessvel e dispondo de uma

    tecnologia assistiva adequada, uma pessoa com deficincia pode participar, sem maiores limitaes, das atividades que ali houver.

    Aproximadamente a partir da metade do sculo XX, a histria da evoluo do conceito

    de deficincia se confunde com a da acessibilidade, j mostrada neste trabalho. De qualquer maneira, neste perodo pode-se observar a expanso de instituies para pessoas com

    deficincia; o desenvolvimento de aes em prol das pessoas com deficincia, em especial a fsica; o desenvolvimento das organizaes de pais, amigos de deficientes e deficientes; a ascenso de polticas de incluso e direito a tratamento, etc. (BRADDOCK & PARISH, 2000). Acredita-se que hoje a sociedade j comea a compreender que a pessoa com deficincia uma pessoa como outra qualquer, com habilidades e limitaes.

    A NBR 9050 de 2004 define deficincia como uma reduo, limitao ou inexistncia das condies de percepo, mobilidade e utilizao de ambientes construdos, em carter temporrio ou permanente (ABNT, 2004). Desta forma, o termo estigmatiza a pessoa, pois imprime um carter de incapacidade mesma, a partir do momento que fala em reduo, limitao ou inexistncia das condies. Como foi visto anteriormente, mesmo que a pessoa

    tenha dificuldades sejam elas de locomoo, audio, visual, etc. o ambiente pode auxiliar tanto na eliminao dessas dificuldades como tambm pode aumentar a dificuldade.

    Uma pessoa que tem uma deficincia nas pernas que a impede permanentemente de

    andar tem grandes chances de ter dificuldades, em alguns momentos, para realizar atividades referentes, principalmente, ao deslocamento. Para auxiliar na reduo dessa limitao, faz uso

    de uma cadeira de rodas. Desta forma, em um ambiente acessvel dificuldade quanto ao deslocamento anulada. A pessoa conseguir se locomover e desempenhar qualquer atividade que exija deslocamento nesse ambiente em grau de igualdade com uma pessoa que no tenha deficincia. Sendo assim, a deficincia fisiolgica, nesse caso no ocasionou uma limitao. vlido frisar que no so apenas as pessoas com deficincia que podem sofrer esse tipo de

  • 41414141

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 41414141

    dificuldade. Uma pessoa, mesmo no apresentando nenhuma deficincia, mas com o p machucado, cimbra ou ainda com um carrinho de beb, tambm teria uma limitao quanto ao deslocamento em um ambiente no acessvel.

    Sendo assim, o termo deficincia usado neste trabalho, assim como em Oliveira (2006), ser referente a problemas especficos de disfunes fisiolgicas, no fazendo nenhuma meno habilidades ou limitaes do indivduo. Para a classificao de deficincia ser utilizado Dischinger et al (2001a), que elaborou uma classificao onde foram priorizadas as relaes entre os indivduos e o meio-ambiente. Isto porqu as demais classificaes que existem no Brasil tm o foco voltado para as questes mdicas da

    deficincia. Dessa forma a classificao de deficincia se dividir da seguinte forma: deficincias sensoriais, deficincias cognitivas, deficincias fsico-motoras e deficincias

    mltiplas.

    1. Deficincias sensoriais so aquelas que causam srias perdas na capacidade do sistema de percepo, gerando assim dificuldades na percepo das informaes, tanto as vindas do ambiente como das pessoas. Pessoas com surdez ou cegueira, so exemplos de indivduos que tm este tipo de deficincia;

    2. Deficincias cognitivas enquanto a deficincia sensorial est ligada a percepo das informaes, a deficincia cognitiva est relacionada a compreenso e ao tratamento da informaes, podendo gerar dificuldades de concentrao, memria e raciocnio.

    Pessoas com sndrome de Down ou paralisia cerebral, so exemplos de indivduos que tm este tipo de deficincia;

    3. Deficincias fsico-motoras referente capacidade de motricidade do indivduo, podem causar limitaes nas atividades que exijam esforo fsico, coordenao motora, preciso, mobilidade, entre outros. Pessoas com paralisia infantil ou que tiveram membros amputados, so exemplos de indivduos que tm este tipo de

    deficincia; 4. Deficincias mltiplas quando uma pessoa tem dois ou mais tipos de deficincia ao

    mesmo tempo, diz-se que ela tem deficincia mltipla. Pessoas com deficincia visual e com paralisia nos membros inferiores, so exemplos de indivduos que tm este tipo de deficincia.

  • 42424242

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 42424242

    Como j foi dito, a acessibilidade visa eliminar as limitaes que o indivduo encontra na vivncia de um ambiente construdo. Sendo assim necessrio compreender as necessidades advindas destas limitaes. Tendo em vista a diversidade do ser humano seria muito difcil uma classificao das distintas habilidades e limitaes. Dischinger et al (2004) diz que, apesar de [...] qualquer tentativa de classificao [ser] necessariamente incompleta, [...] fundamental a existncia [...] de classificaes para que possamos compreender como o ambiente pode melhor se adequar a indivduos com diferentes habilidades e necessidades.

    A Organizao Mundial de Sade, OMS, procurou produzir uma classificao internacional de sade que fosse nica em uso, significados e conceitos para todos, como uma

    linguagem comum (WHO, 2004). Segundo o Centro Brasileiro de Classificao de Doenas, CBCD, que colabora com a OMS para a Famlia de Classificaes Internacionais, at o

    presente momento, as classificaes da OMS relacionadas sade so:

    ICD Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas Relacionados Sade Atualmente est em sua dcima reviso, sendo a ltima de uma srie que se

    iniciou em 1893 como a Classificao de Bertillon ou Lista Internacional de Causas de Morte. a mais antiga das classificaes e v as deficincias apenas como patologia como frisa Lopes (2005);

    ICF Classificao Internacional de Funcionalidades, Incapacidades e Sade uma reviso da Classificao Internacional de Deficincias, Incapacidades e Limitaes, ICIDH, publicada inicialmente pela Organizao Mundial da Sade em carter

    experimental em 1980. Em 1993, decidiu-se iniciar o processo de reviso da ICIDH. Essa verso, que foi chamada preliminarmente de ICIDH 2, foi desenvolvida aps

    estudos de campo sistemticos e consultas internacionais. Aps as duas verses Beta, a ICF foi aprovada pela Assemblia Mundial de Sade em 22 de maio de 2001, resoluo WHA54.21 (CBCD, 200-). a classificao relacionada a sade do indivduo, suas condies corporais e seu desempenho para a realizao de uma atividade e de participao na sociedade (OLIVEIRA, 2006).

    Segundo Dischinger et al (2004) a ICF traz uma questo positiva nunca antes mencionada, que seria o termo funcionamento, que seria um termo que engloba todas as

    funes do corpo, atividades e participao, [...] [denotando] os aspectos positivos da

  • 43434343

    ACESSIBILIDADE NO BRASIL: ANLISE DA NBR 9050

    Arq. Miguel Correia de Moraes 43434343

    interao entre um indivduo (com uma condio de sade) e seus fatores contextuais individuais (fatores ambientais e pessoais) ICF (CBCD, 200-).

    Um conceito encontrado na ICF que ser amplamente utilizado neste trabalho, o de

    restrio, ou restrio de participao. Para a ICF (CBCD, 200-), este termo se caracteriza por (...) problemas que um indivduo pode enfrentar no envolvimento nas situaes da vida. A presena da restrio de participao determinada pela comparao entre a participao individual com aquela esperada de um indivduo sem deficincia naquela cultura ou sociedade (CBCD, 200-). Sendo assim, observa-se que a restrio no uma condio inerente apenas s pessoas com deficincias, j que restrio est ligada a interao do indivduo e o meio. Um turista sem prvio conhecimento da lngua e da cultura do pas que visita, sofre srias restries de participao, de tal forma que, sem algo que lhe auxilie,

    provavelmente passar por severas privaes, de maneira similar uma pessoas que necessite de uma cadeira de rodas para se locomover ao se deparar com uma escada como nico meio de entrada em uma edificao, ou com objetos postos em alturas elevadas, impossibilitando o alcance.

    A restrio, portanto refere-se interao entre o indivduo e o meio construdo. Diz-se ento que um indivduo sofre restrio na realizao de determinada atividade dentro de certo espao construdo.

    Visando uma melhor compreenso do tema, ser elaborada uma classificao de restrio que ter como referncia as quatro componentes da acessibilidade espacial de

    Dischinger e Ely (apud OLIVEIRA, 2006): Orientao; Comunicao; Deslocamento; e Uso. Ser conceituada cada restrio, com referencia direta as componentes acima citadas, e em seguida sero dados exemplos de situaes sem e com restrio.

    1. Restries de Orientao diz respeito s dificuldades pa


Top Related