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Os Muckers
Wesley Mendes de CarvalhoProfessor- Maria RonildaWurdel Gouvêa
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVILicenciatura em História- Estágio I
30/10/2011
RESUMO
O presente trabalho visa buscar de maneira vivencial as ocorrências de sala de aula. Primariamente foi feito simples observações de caráter investigativos da relação aluno-professor, suas práxis docentes, acompanhando-os nas respectivas escolas e analisando-os junto aos alunos num panorama geral de postulados pedagógico e político dessas instituições . Também, focamos a escola holisticamente seja a espacialidade, o PPP, a comunidade ou os professores, procurando obter leituras do processo ensino-aprendizagem de maneiras diversas. Ainda com base na área de pesquisa, História do Tempo Presente/História Regional, foram feitas algumas perguntas como metodologia de pesquisa com vista à área de concentração abordada: os Muckers. Revolta que aconteceu no século XIX entre uma colônia alemã radicada no Rio Grande do Sul que deixou marcas indeléveis, testemunhando um legítimo massacre e cuja líder Jacobina Mentz Maurer se tornara símbolo de um messianismo característico em revoltas sociais e civis como há exemplificado em tantos outros recortes históricos de levantes no Brasil e no mundo.
Palavras-chave: Os muckers. Vivências docentes. Messianismo.
1- INTRODUÇÃO
O estágio foi realizado no Centro de Ensino Médio Pastor Dohms e na Escola Municipal de
Ensino Fundamental Mahatma Gandhi. Nesta, bem como naquela, serão realizadas um total de 20h
de observações afora outras atuações.
Nessa etapa inicial o estágio consistirá de simples observações em sala de aula sem
nenhuma atuação mais direta de regência. Apenas acompanharemos observando as aulas
ministradas nas respectivas escolas nas quais estaremos.
Além disso, faremos uma entrevista com oito perguntas relacionadas ao tema: história
regional e/ou história do tempo presente aos professores estes que os observei em sala de aula.
Basicamente para enveredamos por caminhos históricos pouco conhecido e contidamente
trabalhado que são as áreas de concentração história do tempo presente e história regional, exceto a
Guerra do Farrapos. Perquiriremos sobre um revolta de cunho político-social acontecida no então
município de Sapiranga, acontecimentos esses pouco trabalhados, como de praxe acontecem em
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nossos currículos escolares, terminantemente focado nas coordenadas da política educacional do
governo. E quando há alguma abordagem, isso ocorre de modo fugaz encabeçado por assuntos
“maiores” _ se conclui maior na concepção deduzida_ , apenas coadjuvando assuntos centralizados
e mais explicitados.
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A revolta dos Muckers, acontecimento de um certo modo ainda pouco explorado e que com
certeza perfaz vieses a serem melhor analisados a partir de posicionamentos mais imparciais. Um
crudelíssimo acontecimento no Estado do Rio Grande do Sul com marcas deixas na história alemã
em solo brasileiro. Mucker é uma palavra alemã que pode ser traduzida como o verbo incomodar.
Esta revolta aconteceu no final do século XIX, entre os anos de 1868 e 1874, em Sapiranga, Rio
Grande do Sul.
Tendo em vista o estigma deixado como uma revolta de cunho político-religioso, onde se
instaura um movimento cujo fanatismo religioso houvera sido a veia artéria de toda amotinação,
sumamente no tocante a líder Jacobina Mentz Maurer. Não é menos que necessário analisarmos
lançando mão de uma leitura sem qualquer pré-concepções. Do contrário seria um extremo
simplismo.
Falar de assuntos históricos que abarcam personagens distante dos aclamados feitos dos
grandes nos gera certa repulsa ao descobrir que há muito a saber, pois há muito não sabido. O ponto
de vista do soldado difere do ponto de vista do comandante. Nesse modelo, a nova história surge,
como Burke assinalou: o anseio da busca de novas perspectivas que trouxesse as ideias vistas pelo
soldado raso que do grande comandante. (1992)
Assim buscamos considerar a história da Revolta do Muckers e suas perspectivas,
particularidades essas enegrecidas se a vermos através de lentes que não concernentes ao
acontecimento.
Os muckers deixou sua historicidade em solo riograndese num período de instabilidade
nacional e revoltas,primariamente precedidos por perfis político-religiosos como os “sebastianistas
em Pernambuco; os jagunços, chefiados por Antônio Conselheiro, na Bahia; o do Contestado, em
Santa Catarina” (PETRY, 1957, pg.173). Estes anteriores aos muckers, mas ainda permanecendo
vivo na coletividade o caráter que inspira subversão num Brasil em transição política.
A revolta dos Muckers (beatos) foi um movimento messianista e sangrento de colonos
alemães protestantes, ocorrido de 1872 a 1874 no município de São Leopoldo RS. Teve
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inicio quando o carpinteiro João Jorge Maurer, casado com Jacobina Mentz, afirmou ter
ouvido vozes que o aconselhavam a deixar seu ofício e dedica-se a curar seus semelhantes.
Logo João ganhou fama e prestígio como curandeiro. Excitada pelo ambiente místico,
Jacobina começou a ter visões de Jesus Cristo e sonhos proféticos. Fundou um culto e
começou a fazer proselitismo. (BARSA, 1999).
A insurreição de movimentos religiosos, messiânicos, surge não por acaso, simplesmente
por razões inatas desvinculadas de qualquer razão particularmente real, concreta e contextual, diz
Scliar: os Muckers foi resultado de uma situação penosa de pobreza e desamparo ocorrido no sopé
do morro Ferrabrás. Tratava-se de uma comunidade religiosa de características rígidas e
consequentemente fanáticas. Imigrantes alemães chegados a partir de 1824, fazendo parte de um
projeto de assentamento agrícola que sem amparo do governo ficou ao sabor das difíceis
contingências. (2003)
Na verdade a grande idealização de ter o seu próprio chão era o impulso à motivação dos
colonos.
O colono, que na velha pátria vivera em meio de necessidades e privações, podia agora
olhar, como proprietários, para uma extensão de terra de uns 200 a 300 hectares. Aos
primeiros imigrantes não tardaram a seguir outros. As informações dos compatriotas que os
haviam precedido, e as vantagens sedutoras que se lhes ofereciam, atraiam bem depressa
centenas e centenas de indivíduos, a quem as condições prementes na pátria se haviam
tornado insuportáveis. (SHUPP, 1938, pg. 25)
Os muckers eram chefiados por uma mulher, Jacobina mentz Maurer, que já desde a criança
experimentava transes que dava a ela poderes para diagnosticar doenças. Jacobina se julgava a
reencarnação de Cristo; dizia promessas de construir a “cidade de deus” a seus seguidores
(SCLIAR, 2003).
O movimento cresce em força e número. Seus seguidores reuniam-se em sua casa e de seu
esposo, João Maurer. Dentre os seguidores, Jacobina escolheu seus discípulos. O código de conduta
era proibitivo, como não beber, não fumar, não ir às festas. O que era motivo de chacota para os
spotters, alcunha que os muckers davam aos seus adversários. Ainda, retiravam os filhos das
escolas e recusavam-se a pagar os tributos (SCLIAR, 2003).
Os muckers foram atacados e começaram também a atacar seus inimigos: casas eram
incendiadas, pessoas eram mortas. Houve intervenções militares (28 de junho 1874).
Aproximadamente cem soldados comandados pelo coronel Genuíno Sampaio, sitiaram o
reduto do muckers. Na batalha em questão, os legalistas, despreparados pra esse tipo de
confronto, foram vencidos, o que tornou Jacobina ainda mais afamada ante a comunidade.
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Em 18 de junho uma nova investida fora iniciada, de novo comondada pelo coronel
Genuíno. Incendiaram a casa, entretanto os muckers não se entregaram_ preferiram morrer,
acreditando na ressurreição pregada e prometida por Jacobina. (SCLIAR, 2003, pg. 183)
Em primeira mão relegamos a história a um fanatismo absurdo que nos impede vê-los
contextualmente. E os aceitamos da mesma maneira dos que o relegam depreciativamente.
“Compreendi a revolta desses homens que compareciam ao Ferrabraz,
quando sentiram as graves injustiças, as violências e perseguições contra
eles cometidas por autoridade atrabiliárias, prepotentes e inescrupulosas. E
compreendi também sua resolução extrema de fazerem justiça por suas
próprias mãos” 1.
Para Petry era necessário ter olhos de colonos para entender os colonos, mas não ao ponto de
ignoramos os seus delitos.
3- OBJETIVOS
_ Uma leitura equidistante da Revolta Muckers;
_ Explorar nuances da revolta fazendo uma releitura;
_ A representatividade do fenômeno ocorrido e a identidade do povo ;
_ Levantar dados procurando entender sob os olhares da época, seja dos colonos alemães, os
muckers, bem como dos nãos conversos aos mesmos ideais;
_ Taumaturgias Jacobiniana;
4- VIVÊNCIAS DO ESTÁGIO/IMPRESSÕES
Como o estágio foi feito em duas escolas diferentes, vamos representá-las, as respectivas
escolas, como escola A e escola B.
Na escola A verificamos, no aspecto de infraestrutura e localização, que a situação da escola
é privilegiada. A escola dispõe de uma avantajada estrutura, bem como de espaço sobrando. Áreas
1 Prólogo do livro O episódio Ferrabraz de Leopoldo Petry, 1957.
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cobertas, qualitativamente, salas organizadas, com sua maioria dispondo de lousas. Salas de
projeções, laboratórios, quadra coberta e um enorme acervo bibliográfico.
A escola A possui um corpo técnico – administrativo, os quais atuam na gestão escola,
muito bem estruturado, porém existe carência de mais profissionais para suprir a demanda. São
estes os gestores: diretor-supervisor, duas profissionais da área pedagógica, um profissional na
logística do almoxarifado e uma secretária, além de quatro bibliotecárias, duas em cada turno.
No quesito caracterização do corpo docente , todos profissionais possuem experiências de
longos anos, alguns sendo especializados, outros mestres e/ou mestrando e ainda uma doutora.
Na escola há uma reunião pedagógica semanal com o núcleo da coordenadoria e uma reunião
quinzenal pedagógica com todos os professores.
A escola A possui um número total de alunos pouco mais que duzentos.
Observação das aulas: das 15h aulas que observei notei uma metodologia ativa no espaço escolar.
Aprendizagens de maneira diferentes ora saindo da sala de aula para outros departamentos, até
mesmo um pequeno bosque com belas árvores, ora mesmo em sala de aula os professores se
demonstraram muito competes e presentes na relação ensino-aprendizagem.
Na escola B, pública, diferentemente da outra possui uma infraestrutura precária. Sendo a
localização e espacialidade da mesma indesejada pra fins de educação. O local quando chove cria-
se uma grande complicação pelo fato das ruas não serem calçadas e a escola estar em um desnível,
quase um vão, que quando chove, acumula muita água, o que atrapalha até aos alunos saírem de
casa. A escola em si, dentro das suas possibilidades, é muito bem organizada: com boas salas e uma
disposição mínima suficiente para a demanda de menos de duzentos alunos. Mas existem algumas
precariedades.
A escola é gerida por diretor e vice, supervisora, orientadora e secretariado. O modelo fixo
do ensino público: muitos profissionais pra pouca demanda, a meu ver.
No quesito, caracterização do corpo docente, todos profissionais possuem no mínimo
especialização.
Observação das aulas: Das 4h aulas observados pude perceber que o professor é extremamente
tradicional, dirigindo suas aulas por questionários no quadro e exercícios no livro. Não vi
absolutamente nada, além disso. Sendo dois períodos no 6 ano e dois na 8 série repedida a mesma
postura para os mesmo: no 6 ano exercícios do livro durante os dois períodos, o que considero
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suficiente para fazer e corrigir, nem sequer foram corrigidos. E na 8 série, questionários passados na
lousa. Bem característico do ensino público.
Observação
Consideremos, também, que estive por mais hora presente na escola A que na B. E que a escola A
é particular.
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REFERÊNCIAS
BURKE, Peter, Organizador. A Escrita da História- Novas Perspectivas. São Paulo: Editora
UNESP, 1992.
PETRY, Leopoldo. O Episódio do Ferrabraz. São Leopoldo: Casa Ed. Rotermund & Co,1957.
NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA. Rio de Janeiro: Enciclopédia Britânica do Brasil, 1999. CD-
ROM.
SCLIAR,Moacyr. Saturno no trópicos: a melancolia europeia chega ao Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003.
SCHUPP, Ambrósio. Os Muckers: episódio histórico extraído da vida
contemporânea nas colônias alemãs do Rio Grande do Sul. 3. ed. Porto Alegre:
Selbach & Mayer Editores, s/d (a 1. edição é de 1901) 1938.