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Erika M. Robrahn González

Paisagens CulturaisPaulistas

A história do Estado de São Paulocontada pela Paisagem

Erika M. Robrahn González

Apoio

Colaboradores

Desenvolvimento

Paisagens Culturais Paulistas - A história do Estado de São Paulo contada pela Paisagem

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Erika M. Robrahn González

Paisagens Culturais PaulistasA história do Estado de São Paulocontada pela Paisagem

Apoio

Colaboradores

Desenvolvimento

A partir de 2009, a AES Tietê, juntamente com as demais empresas que compõem o Grupo AES Brasil, buscou alinhar as práticas socioambientais à sua estratégia de negócio com um objetivo claro: contribuir para um modelo de desenvolvimento sustentável, que levou à criação de uma política e de compromissos e metas que consideram o equilíbrio econômico, social e ambiental nas decisões diárias, posicionando a sustentabilidade no centro do planejamento estratégico.

Essa decisão não poderia ser diferente pelo fato de o Grupo prestar um serviço essencial à sociedade, seja na geração ou na distribuição de energia elétrica. A relevância do Grupo em seu setor traz oportunidades inovadoras de trabalhar em prol do interesse comum de todos os seus públicos.

Procuramos desenvolver nossos negócios de forma que preservemos os recursos naturais e respeitemos as comunidades onde atuamos, garantindo a valorização do seu patrimônio histórico e cultural, proposta presente no Programa de Gestão do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural dos Onze Aproveitamentos Hidrelétricos da AES Tietê S/A.

O programa, desenvolvido e implementado pela empresa Documento Arqueologia e Antropologia, é fundamentado em três eixos básicos de atuação: Preservação do Patrimônio; Utilização de Valores Científicos e Culturais; Educação Patrimonial.

Durante as pesquisas históricas, foram identificados 122 sítios arqueológicos nas margens dos reservatórios da AES Tietê, nas bacias dos rios Tietê, Grande e Pardo. As descobertas evidenciam ocupações indígenas e históricas de grande importância para a compreensão dos modos de vida das regiões em que se encontram.

Este livro relaciona as descobertas realizadas pelo Programa, que representam não só grande interesse regional, mas possuem também relevância para o País, por apresentar uma nova perspectiva ao explicar a história, a arqueologia e a cultura dessas localidades.

Essa é a forma do Grupo AES Brasil de fazer negócios, buscando inovar para gerar valor compartilhado a toda a sociedade.

Ítalo FreitasVice-presidente de Operações da Geração

Mensagem da AES Tietê

9Paisagens Culturais Paulistas8 Paisagens Culturais Paulistas

Mensagem da AES Tietê ..................................................... 6Prefácio ................................................................................ 11Apresentação ...................................................................... 17Paisagens e Tradição .......................................................... 21Bacia do Tietê ....................................................................... 23Bacia do Rio Grande ............................................................. 27Bacia do Rio Pardo ............................................................... 31Modos de Vida ..................................................................... 39Cultivadores e Ceramistas .................................................... 41Tradição Itararé ..................................................................... 43Tradição Tupi-Guarani ........................................................... 47Tradição Aratu-Sapucaí ......................................................... 49Colonização .......................................................................... 61Imigrantes ............................................................................. 79Cafeicultura ........................................................................... 93Ferrovias ............................................................................... 99Quilombolas .......................................................................... 109Sociedade e Cultura Artística ................................................ 113São José do Rio Pardo a Terra de Euclides da Cunha ......... 121A Cultura Caipira ................................................................... 123Poços de Caldas ................................................................... 127Ficha Técnica ...................................................................... 135Bibliografia .......................................................................... 136Agradecimentos .................................................................. 141

Artefato Lítico encontrado

nas medições da UHE Nova Avanhandava

UHE IbitingaAcervo: AES Tietê

Os projetos desenvolvidos neste trabalho de constante preservação dos patrimônios histórico, arqueológico e cultural brasileiros estão inseridos no Programa de Manejo Arqueológico Aproveitamentos Hidrelétricos, realizado nos estados de São Paulo e Minas Gerais.

Nestas regiões, foram construídas dez Usinas Hidrelétricas (UHEs) distribuídas no vale do rio Tietê (UHEs Nova Avanhandava, Promissão, Ibitinga, Bariri e Barra Bonita); no vale do rio Grande (UHE Água Vermelha) e no vale do rio Pardo (compreendendo as UHEs Limoeiro, Caconde, Euclides da Cunha e a Pequena Central Hidrelétrica em Mogi Guaçu).

Todos os empreendimentos abrangem, principalmente, municípios do estado de São Paulo, mas dois deles, as UHEs Água Vermelha e Caconde, estão localizados em trechos de rios que fazem divisa com Minas Gerais. Por essa razão, os projetos também englobam cidades do estado mineiro.

Os empreendimentos já estão em operação e foram inicialmente implantados pela CESP (Companhia Energética de São Paulo) a partir da década de 60. Durante os processos de privatização, a responsabilidade pela manutenção e operação das usinas foi transferida para a AES Tietê, empresa que atua no Brasil desde 1999. Entre as prioridades da companhia está a implantação de um modelo de desenvolvimento sustentável voltado à preservação do meio ambiente.

Em 2011, a AES Tietê investiu R$ 19,5 milhões em pesquisa e desenvolvimento, sendo 39% em melhorias de planejamento e de operação e 18% em fontes renováveis ou alternativas de geração de energia. As usinas hidrelétricas da AES Tietê estão localizadas em um dos mais importantes depositários da biodiversidade do planeta: a Mata Atlântica. Para contribuir com sua preservação, a companhia participa de várias frentes, em parceria com a Comissão Interministerial de Mudança do Clima, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, o Fórum Paulista de Mudança do Clima e Biodiversidade, o Banco Mundial, a Fundação SOS Mata Atlântica, entre outras instituições.Diante desta perspectiva de atuação, a empresa vem trabalhando na regularização dos licenciamentos ambientais para a operação das usinas deste trabalho. Dentre eles, destaca-se o Programa de Manejo do Patrimônio Arqueológico existente nas bordas dos reservatórios. A criação de Reservas Arqueológicas no estado de São Paulo, a utilização de valores científicos e culturais através da implantação de pesquisas e levantamentos, além da realização de programas de educação patrimonial são os principais eixos estratégicos utilizados no modelo sustentável de desenvolvimento.

No Brasil, o Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural é fiscalizado,

protegido, restaurado e preservado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Vinculado ao Ministério da Cultura, ele é responsável por preservar a diversidade das contribuições dos diferentes elementos que compõem a sociedade brasileira e seus ecossistemas, preservando, divulgando e fiscalizando os bens culturais brasileiros, bem como assegurando a permanência e usufruto desses bens para a atual e as futuras gerações.

Para isso, o Programa de Manejo Arqueológico Aproveitamentos Hidrelétricos segue todas as diretrizes executivas impostas pelo IPHAN, que traz regulamentos para os parques nacionais brasileiros e também para os processos de educação patrimonial fornecidos pelo International Finance (IFC).

Paisagens Culturais Paulistas - A história do Estado de São Paulo contada pela Paisagem.

A participação efetiva das comunidades impactadas pelos empreendimentos é fundamental na preservação do patrimônio arqueológico e cultural existentes. Durante todo o Programa, as ações de educação patrimonial realizadas em parceria com a DOCUMENTO Ecologia e Cultura (empresa brasileira especializada em Programas, Planejamento e Gestão de Patrimônio Cultural) promove a conscientização pela valorização dos patrimônios nacionais, em projetos que unem ciência e tradição.

Este trabalho de manejo já conta com a participação de mais de 5.000 pessoas em atividades destinadas ao reconhecimento da identidade local, com a realização de exposições oficinas, entrevistas, descrição de práticas tradicionais e compartilhamento de informações científicas e culturais. Além dos trabalhos presenciais, plataformas multimídia exclusivas como blogs, sites, redes sociais, twitter e ferramentas criadas especialmente para o Programa, como o Museu Virtual (que expõe todo o acervo arqueológico resgatado) e o Arqueo@ Parque, ambiente que fornece acesso aos estudos, pesquisas e equipes, serão utilizadas como forma de unir, ainda mais, os processos científicos e tecnológicos aos sociais.

A identificação e caracterização das diversas culturas que ocuparam os locais contemplados pelo Programa, assim como a sua inserção em contextos arqueológicos e históricos são algumas das premissas deste trabalho de manejo. Para isso, é necessário compreender os espaços geográfico, ambiental e temporal dos sítios arqueológicos, estudar os remanescentes da

Prefácio

15Paisagens Culturais Paulistas14 Paisagens Culturais Paulistas

cultura material resgatados nas localidades, além de colher testemunhos de sociedades que habitaram as regiões, em tempos passados.

Todo e qualquer elemento que caracterize a presença humana nas áreas dos empreendimentos, independente do período cronológico a que se relaciona, também será considerado como vestígio arqueológico neste trabalho. Com isso, não serão tratados apenas sítios arqueológicos mais antigos, mas também os vestígios históricos, associados às diferentes fases de formação da sociedade nacional, de acordo com a definição da legislação atendida para este Programa.

A história dos povos que ocuparam as localidades contempladas neste trabalho será sempre pesquisada e estudada em conjunto com toda a comunidade. A relação dessas sociedades com o espaço, a paisagem natural que foram construindo, toda história que viveram e os vestígios que deixaram terão um trabalho contínuo de estudo e de preservação.

Sempre é importante relembrar que a comunidade moradora dessas regiões também participa das mudanças destes cenários. O conceito de Arqueologia Pública, o qual enfatiza o relacionamento entre a pesquisa e o manejo de bens culturais e dos grupos sociais interessados, é base de todo o Programa. O foco é promover a constante participação da sociedade na gestão de seus Patrimônios Arqueológico, Histórico e Cultural, pois consiste em um dos atores principais na construção dos bens nacionais.

A perspectiva transdisciplinar é aplicada no processo de desenvolvimento neste Programa de Manejo Arqueológico Aproveitamentos Hidrelétricos realizado em São Paulo e nos municípios mineiros. Em um período de oito anos, foram realizadas a caracterização e a definição de um Zoneamento Arqueológico para as áreas de estudo, até a análise, o monitoramento e o controle de processos erosivos ocorridos sobre os sítios. Algumas ferramentas como análises de imagens de satélites, criação e alimentação de sistemas de informação (GIS), por exemplo, estão inclusos nas responsabilidades de nosso trabalho.

As demandas da sociedade em geral, ligadas à gestão e manejo de seus bens culturais, implicam na construção de uma conduta compartilhada. Os impactos sobre o Patrimônio Cultural ocorrem em ritmo acelerado, e a sua concepção necessita sempre ser renovada de forma a contemplar as atuais percepções de valor. Isso significa que não basta preservar monumentos e bens históricos ou arqueológicos, mas também direcionar um olhar apurado nas paisagens e na amplitude de contextos onde os patrimônios estão inseridos.

Suas particularidades e o ambiente social formado pelos grupos de pessoas que, ao mesmo tempo valorizam, preservam e destroem seu patrimônio devem ser conteúdos de pesquisa das diversidades culturais existentes.

A garantia de uma correta abordagem dos diversos assuntos envolvidos é indispensável para que se alcance a sustentabilidade deste Programa. É desta maneira que ampliamos o interesse da sociedade sobre o seu patrimônio e criamos, paralelamente, a sustentação necessária para as suas medidas de preservação.

17Paisagens Culturais Paulistas16 Paisagens Culturais Paulistas

UHE BaririAcervo: AES Tietê

Desde sempre, as sociedades humanas organizam-se em determinados espaços e constroem relações recíprocas, constituindo comunidades que compartilham costumes e propósitos entre si. Ainda que esses grupos sejam devastados por questões políticas e culturais, ou pela intervenção do homem e pela inevitabilidade dos fatores ambientais, os vestígios de sua história permanecem vivos por meio de restos materiais e valores imateriais. Seus costumes, modos de vida, fragmentos de objetos construídos com intuitos de caça, utilidades domésticas ou artefatos religiosos se mantêm registrados naquele local, indestrutíveis mesmo com a ação do tempo.

Essas lembranças, memórias e tradições que impactam, indubitavelmente, a construção da identidade das sociedades atuais são denominados Patrimônios Culturais. Cada nação, comunidade ou grupo étnico- social possuem expressões, criações artísticas, científicas e tecnológicas, obras, construções urbanas e sítios arqueológicos de valores histórico, paisagístico e artístico próprios.

Os patrimônios representam mais do que as heranças materiais de uma sociedade: eles contribuem também para a formação de identidades sociais. Por isso, sua conservação é de interesse tanto do poder público quanto da comunidade.

Contar a respeito dos trabalhos de preservação e o manejo dos Patrimônios Culturais existentes nas bordas dos dez empreendimentos, contemplados no Programa de Manejo Arqueológico dos Aproveitamentos Hidrelétricos é o objetivo deste livro.

Realizado desde agosto de 2006, o Programa está sob a responsabilidade da AES Tietê pela manutenção e operação das usinas hidrelétricas localizadas nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Os empreendimentos estão distribuídos no vale do rio Tietê (UHEs Nova Avanhandava, Promissão, Ibitinga, Bariri e Barra Bonita); no vale do rio Grande (UHE Água Vermelha) e no vale do rio Pardo (compreendendo as UHEs Limoeiro, Caconde, Euclides da Cunha e a Pequena Central Hidrelétrica em Mogi Guaçu). A Arqueologia é, em essência, a busca dos vestígios de experiências humanas, uma história de ideias e de descobertas, de formas de olhar o passado. E cada olhar constitui um reflexo ou produto de seu próprio tempo. Se no início podíamos chamar de “arqueólogo” aquele que registrava cenas de sua cultura em paredes de pedra, hoje este cientista é aquele que se vale de modernos conceitos teóricos, técnicas sofisticadas e grandes organizações de trabalho para explicar a história humana.

ApresentaçãoCom a fundação da WAC (World Archaeological Congress) em 1986, a

Arqueologia tem tratado de forma mais sistemática o relacionamento entre a pesquisa, o manejo de bens culturais e os grupos sociais interessados, amadurecendo, nas discussões estratégicas, a relevância do caráter público da disciplina e sua importância social.

Este movimento vem sendo internacionalmente denominado “Arqueologia Pública”, voltada ao relacionamento entre a pesquisa e o manejo de bens culturais com os grupos sociais, de forma a promover a participação da sociedade na gestão de seu patrimônio arqueológico e histórico.

Um dos benefícios públicos da Arqueologia está justamente em contribuir para o fortalecimento dos vínculos existentes entre a comunidade e seu passado, ampliando o interesse da sociedade sobre o Patrimônio Cultural e criando medidas de sustentação permanentes dos registros de sua história. A opção em trabalhar com plataformas eletrônicas de organização e disponibilização de dados se insere nesta discussão, na busca de garantir o acesso, participação e troca de conhecimento dos diversos grupos envolvidos. Desta forma, é possível atingir o objetivo de se estimular nas comunidades a busca pelo conhecimento de sua história, ampliando novas perspectivas de tratamento patrimonial.

Pela sua própria natureza e característica, o Programa de Manejo Arqueológico Aproveitamentos Hidrelétricos realizado nos estados de São Paulo e Minas Gerais não é um produto fechado ou acabado. Sua elaboração inclui o conceito de melhoria continuada, permitindo ajustes permanentes para incorporar as evoluções e aprofundamento do conhecimento sobre as áreas onde as dez hidrelétricas estão localizadas.

A utilização de valores científicos e culturais, com a implantação de programas interpretativos e a educação patrimonial, são as bases fundamentais deste trabalho de valorização do Patrimônio Cultural.

Nesta obra, o leitor não irá apenas conhecer quais são as reservas arqueológicas existentes nas regiões. Os conteúdos aqui descritos também irão aprofundar os conhecimentos sobre as civilizações antigas que habitaram as localidades, além de fatos históricos que marcaram as sociedades para sempre. Uma viagem aos meandros paisagísticos e aos costumes tradicionais das populações moradoras dos municípios serão revisitados, tanto por meios dos textos quanto pelas imagens fotográficas, verdadeiras obras de arte criadas pela natureza.

Boa leitura.

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UHE Barra BonitaAcervo: AES Tietê

Paisagens e tradição

Vista do entardecer nas mediações da UHE Barra Bonita

O Tietê é um rio geologicamente novo, com idade aproximada de 12 milhões de anos. Já foi chamado de “Anhembi”, segundo o topônimo empregado pelos indígenas antes da chegada dos portugueses em terras tropicais. Suas águas nascem no município de Salesópolis, cidade interiorana do estado de São Paulo, em meio à cadeia de montanhas da Serra do Mar e a 22 km do Oceano Atlântico. Por se tratar de um marco histórico para o estado pela importância do rio durante o processo de colonização do país, sua nascente está protegida pelo Parque Estadual Nascentes do Rio Tietê, principal atração turística da cidade de Salesópolis e que diariamente recebe visitantes.

A extensão do Tietê é de cerca de 1.100 km, atravessando a cidade de São Paulo, e desembocando no rio Paraná, na divisa de Mato Grosso do Sul, entre os municípios de Itapura, Ilha Solteira e Castilho.

Ao todo, o rio banha 62 municípios brasileiros e possui sub-bacias hidrográficas: o Alto Tietê, que abrange a área de seu nascimento e a região metropolitana da cidade; a Bacia do Médio Tietê, compreendendo trecho que vai desde o reservatório de Pirapora até a Barragem de Barra Bonita, numa extensão de 367 km. Neste trecho, seus principais afluentes são os rios Piracicaba, Capivari, Jundiaí (pela margem direita) e o rio Sorocaba (pela margem esquerda). Cidades mineiras como Extrema, Itapeva, Toledo e Camanducaia também são banhadas pelo rio nesta divisão. Por fim, há o Baixo Tietê composto por parte das microrregiões de Araçatuba, Bauru, Campinas, Central e de São José do Rio Preto.

Montanhas e colinas, de média declividade, são marcantes nas paisagens das regiões Centro e Centro-Oeste paulista, com formações rochosas esparsas. As bases geológicas do Médio Tietê, nas bordas das cuestas basálticas (formas de relevo que não são assimétricas) são constituídas por uma terra roxa, composta por piçarras (mistura feita com pedra, areia e terra) e linhas de cascalho.

A vegetação é de floresta ombrófila densa, representada pelos domínios da Mata Atlântica, com árvores de folhas largas e de um verde vivo. As altas temperaturas oferecem um ar cálido ao desenho da paisagem, alternando com períodos chuvosos bem distribuídos durante o ano, praticamente sem secas.

Há pelo menos 9 mil anos, os povos indígenas iniciaram o manejo deste ambiente. Historicamente, são conhecidas antigas trilhas que uniam diferentes núcleos de ocupação a regiões distantes, como o Planalto Central ou o Sul do Brasil. Estas trilhas (dentre as quais a mais conhecida é a do Peabiru) utilizavam os cursos dos rios e as altas cristas de divisores de águas como traçado em suas rotas. Tanto os jesuítas como os bandeirantes se valeram, em grande parte, destes mesmos caminhos para suas incursões ao interior do rio Tietê.

Ao se buscar reconstruir a história da ocupação das bacias do Médio e Baixo Tietê, é necessário ter em mente um aspecto específico que marcou todo o processo de povoamento

Bacia do Tietêdas terras planaltinas paulistas e o estabelecimento da vila – depois cidade – de São Paulo. A história da ação colonizadora no planalto paulista pode ser compreendida pelo esforço contínuo em abrir caminhos e estabelecer áreas de influência cada vez mais distantes do núcleo irradiador da cidade.

A vila de São Paulo nasceu em 1554,com a construção do Colégio de São Paulo de Piratininga (hoje,resguardado no Pateo do Collegio, no centro da cidade ). Tornou-se sede da Capitania de São Vicente em 1681 e, em 1711, com a alteração do nome da Capitania para São Paulo, a cidade homônima consolidou sua condição de ponto de referência para a Capitania ao desempenhar, concomitantemente, as funções: evangélico-religiosa, desde a fundação do colégio dos jesuítas à motivação da criação dos aldeamentos indígenas próximas ao núcleo inicial; político-administrativa, além de se tornar cada vez mais o elo político da Capitania com a Corte no final do século XVII e no delinear do XIX; e militar.

A história de São Paulo é também a que o historiador brasileiro Capistrano de Abreu contou em “Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil”, uma de suas obras mais importantes, na qual descreve os movimentos de povoamento, os avanços para o sertão e os principais centros de penetração durante o período colonial. Diante desta perspectiva de integração, as águas do rio Tietê continuaram sendo, entre os séculos XVI, XVII e XVIII, a principal referência paisagística de ocupação do espaço e transporte de mercadorias, pessoas, mão-de-obra e conhecimentos.

Pode-se dizer que a expansão das lavouras de café no Oeste Paulista, na metade do século XIX, se tornou o elemento crucial para a aceleração do processo de ocupação do Tietê. A produção agrícola modificou o cenário paisagístico de sua vegetação nativa, substituída por áreas de cultivo que, a cada década, se ampliavam.

A região ocupada pela cidade de São Paulo jamais deixou de ser ponto de passagem quase obrigatório para o comércio, a defesa e a ampliação da ocupação colonial. De meados do século XIX em diante, o transporte fluvial pelo rio Tietê só foi levado a cabo por expedições turísticas ou científicas. Houve, também, iniciativas de ordem estratégico-militar que objetivaram estabelecer um caminho alternativo para se alcançar a bacia do Paraná por meio da região do Pantanal, procura essa que foi alavancada principalmente durante a Guerra do Paraguai. Com o passar dos séculos, paulatinamente, a cidade de São Paulo foi estabelecendo meios de comunicação que favoreceu a ocupação do sertão paulista. Longe de terem se constituído como núcleos de povoamentos meramente isolados, estas áreas fizeram parte de um movimento histórico em que o conhecimento do território permeou toda a formação dessa sociedade que teve na cidade de São Paulo o seu ponto de partida.

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Patrimônio Paisagístico presente nas mediações da UHE Barra Bonita

Serra de Botucatu, interior de São Paulo

Vegetação característica nas mediações da UHE Nova Avanhandava

A Bacia do Rio Grande é o principal formador do Rio Paraná, um dos maiores rios sul-americanos. Sua nascente desemboca na vertente continental da Serra da Mantiqueira, próximo do município mineiro Bocaina de Minas. Em uma extensão de aproximadamente 700 km, o Rio Grande percorre o território de Minas Gerais onde recebe, como contribuição principal, em sua margem direita, o Rio das Mortes, importante meio de transporte durante a expansão colonialista.

Pela margem esquerda do Rio Grande, está o afluente Rio Sapucaí, águas batizadas com esta denominação por conta das sapucaias, árvores com flores arroxeadas e perfumadas (provenientes da Floresta Pluvial Atlântica) que crescem em suas margens.

No seu curso inferior, o rio Grande constitui a divisa natural entre os estados de Minas Gerais e São Paulo. Campos e regiões de serras com relevo ondulado compõe o traçado da bacia, com áreas de topos e cristas, características predominantes da geologia da Serra da Mantiqueira. A fauna local apresenta riquezas de espécies, como o macaco-prego, tamanduá-mirim, lobo-guará, jiboia, jararaca, tucanos, papagaios e preguiças.

O clima tropical úmido predomina por quase toda a bacia. Em uma pequena área que corresponde à porção Sudeste do rio, contemplando os municípios de Ariranha, Fernando Prestes, Monte Alto, Pirangi, Taiaçu e os seus entornos, a sensação é de um clima quente, úmido, com invernos não muito frios.

A fertilidade da terra, acompanhando o curso dos rios, propiciou aos municípios banhados por suas águas o desenvolvimento de várias atividades econômicas, estreitando a relação existente entre as paisagens e a ocupação humana. O sítio arqueológico Água Vermelha 3 apresentou datação com esta antiguidade, colocando a região entre as mais antigas do estado de São Paulo.

Enquanto área de ligação entre o Planalto Meridional (ao sul), o Planalto Central (a oeste) e os campos gerais (ao norte), a bacia do rio Grande traz vestígios de ocupações ceramistas diversificadas, inseridas pelos arqueólogos nas tradições Tupi-Guarani, Itararé e Aratu-Sapucaí, modos de vida que veremos nos próximos capítulos desta obra.

Esta área teria sido densamente ocupada quando da chegada do colonizador europeu, que ali ocorreu entre os séculos XVII e XVIII.

Bacia do Rio Grande

Arqueólogos em monitoria no Síto Pontal - UHE Água Vermelha

Visão Geral do Sítio Viçosa - UHE Água Vermelha30 Paisagens Culturais Paulistas

Vista do entardecer nas

mediações da UHE Barra Bonita

Bacia do Rio PardoA nascente da bacia hidrográfica do Rio Pardo aponta na Serra do Cervo, no

município mineiro de Ipuiuna, cidade cujo nome em Tupi-Guarani significa “olho de água escura”. É de lá que surgem as águas de coloração turva desse rio, que tem entre os seus principais afluentes os rios Capivari e Guaxupé (pela margem direita), e os rios Grande, Verde e Lambari, pela sua margem esquerda.

Localizada ao sudeste do País, a bacia abrange pequena área do Planalto Sul de Minas e da porção nordeste do estado de São Paulo. Pertence à Bacia do Alto Paraná em virtude de ser o Pardo afluente do rio Grande, um dos formadores do rio Paraná.

Percorre 100 km das terras mineiras, contraforte da Serra da Mantiqueira, numa região de topografia acidentada. A Bacia do Rio Pardo ingressa no estado de São Paulo pelo município de Caconde, cortando São José do Rio Pardo, cidade onde escritor Euclides da Cunha viveu e trabalhou durante vários anos. A história de “Os sertões’’, obra clássica da literatura brasileira, traz por meio de sua história um pouco da alma do povo rio-pardense.

Ao entrar em terras paulistas, percorre aproximadamente 58,5 km até a barragem de Euclides da Cunha. Desta barragem percorre mais e 200 km até desaguar no rio Grande, no município de Colômbia.

Com características muito diversificadas regionalmente, a bacia hidrográfica do Rio Pardo abrange diferentes modos de vida e aspectos históricos e culturais. Na comunidade de Caconde, por exemplo, é possível vivenciar a tradição quilombola e o resgate da copeira como mecanismo integrador de uma identidade cultural, símbolo de luta ao sistema escravagista.

A Mata Atlântica do Interior é a vegetação nativa da bacia do Rio Pardo. Há animais terrestres, como capivaras e preás, mas as aves são as predominantes. Espécies como canário-da-terra, tico-tico, beija-flor, bem-te-vi, andorinhas e pica-paus compõem os cenários natural e sonoro da bacia.

Ao longo dos séculos, o avanço da ocupação e das atividades humanas trouxe a necessidade de proteção e recuperação das águas da bacia do Rio Pardo. As andanças de roceiros e donos de estalagens à procura de ouro foram comuns entre esses homens, que privilegiaram em suas buscas os afluentes do rio Grande e as encostas da Serra da Canastra, áreas que atualmente compõem os limites territoriais entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. Depois de anos de descobertas e explorações, uma jazida de ouro foi encontrada nas cabeceiras do rio Pardo, em 1765. Com a descoberta foi criada a primeira freguesia paulista localizada ao norte do rio Pardo, a Nossa Senhora da Conceição das Cabeceiras do Rio Pardo - hoje, a atual Caconde.

Devido às suas condições geológicas e topográficas, com a predominância de campos nativos, o chamado sul de Minas (que contemplava o Termo de São João Del-Rei, Jacui, Baependi e Tamanduá) se acostumou a desenvolver, simultaneamente, as atividades de mineração e de agropecuária, sendo esta uma vocação tanto para o consumo interno de subsistência como para o comércio.

As próprias condições de produção da pecuária regional explicitavam uma estruturação produtiva para o mercado. Os currais, por exemplo, possuíam uma dependência à parte, a fim de que fosse aproveitado o leite e feito o tão famoso queijo de Minas; a utilização de cercas de pau-a-pique, valos e muros de pedra mostrava a organização do espaço e das atividades; os pastos recebiam melhores cuidados, sendo geralmente divididos em partes para aperfeiçoar a alimentação do gado.

As influências da imigração italiana no Vale do Rio Pardo, que começou em 1890, são marcantes no ambiente sociocultural na região. Os imigrantes chegavam de trem até Rio Pardo e seguiam viagem de carroça até chegarem às fazendas de café. Gradativamente, com o crescimento das cidades, os italianos expandiram suas atividades nas áreas urbanas e rurais, influenciando, portanto, a cultura e arquitetura regionais.

35Paisagens Culturais Paulistas34 Paisagens Culturais Paulistas

Plantação de café em

Botelhos, Bacia do Rio Pardo

Vista do Sítio Caconde 6 - Próximo à área de pasto

Amanhecer em Poços de CaldasSitio Caconde 6 - Caconde

Praça Pedro Sanches - Poços de Caldas

UHE Euclides da Cunha

Acervo: AES Tietê

modos de vida

Os cultivadores e ceramistas foram grupos que construíram grandes aldeias no período pré-colonial há milhares de anos, alguns antes da era cristã. Com uma economia baseada no cultivo de mandioca, milho e tubérculos, estes grupos eram canoeiros e suas aldeias formadas próximas aos rios, em áreas de colinas e florestas. Os vestígios de cerâmicas, que podem ser lisas ou com pinturas decorativas, são as principais lembranças deixadas pela ocupação desses grupos no Brasil.

Mas, em São Paulo, ainda é bastante incompleto o conhecimento sobre a passagem dos grupos cultivadores e ceramistas no estado. Atualmente, são identificados cerca de 300 sítios arqueológicos, porém, este número está longe de corresponder à sua verdadeira totalidade. Uma das justificativas seria o fato de termos grandes extensões territoriais praticamente desconhecidas, como é o caso das regiões nordeste, norte, noroeste e central do país, áreas diretamente tratadas por este Programa de Manejo.

Também há a hipótese de considerarmos o estado de São Paulo como uma terra de fronteiras que, apenas a partir dos últimos séculos a.C., os grupos de cultivadores e ceramistas começaram a ocupa-lo. Isso significa dizer que cada unidade classificatória analisada das tradições ceramistas não foi estabelecida neste estado, mas sim em outras regiões brasileiras, que teriam constituído suas bases centrais de ocupação.

As evidências de grupos ceramistas em São Paulo apontam para contextos arqueológicos bastante distintos, apresentando uma série de especificidades locais. Sendo assim, transformações nas produções cerâmicas permitiram a definição de três grandes unidades classificatórias dessas tradições: a Tupi-Guarani, a Itararé e a Aratu-Sapucaí.

Cultivadores e Ceramistas

Tigela de cerâmica pintada em área de escavação44 Paisagens Culturais Paulistas

Em poucos séculos, o planalto sul-brasileiro passou a ser palco de uma grande concentração de grupos ceramistas cultivadores, que ocuparam toda a região. Isso foi há cerca de 1,8 mil anos, por volta do ano mil d.C. Sítios com características bastante peculiares estão localizados na porção centro-sul de São Paulo, e sua indústria cerâmica foi relacionada, tanto no vale do Ribeira quanto no vale do Itararé (alto vale do Paranapanema), à tradição Itararé.

A civilização está muito associada aos povos da língua indígena “Jê”, falada neste período na região sul-brasileira, onde sua maior concentração esteve presente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, onde os sítios são extremamente numerosos.

Na porção centro-sul de São Paulo, e no vale do Ribeira, o grupo deve ter permanecido até o período da colonização europeia, entre os séculos XV e XVII. Nestas áreas, até o momento, o maior número de sítios está no vale do Ribeira de Iguape, onde pesquisas identificaram 128 deles. Os sítios a céu aberto apresentam pequenas dimensões (área média de 550 m2) e estão localizados em todas as situações topográficas existentes.

Nesses sítios, as variações de tamanho e morfologia, por exemplo, refletem uma hierarquia social de seus ocupantes, sugerida pelas diferenças de tamanho das sepulturas encontradas nos sítios cemitério. Já a estrutura do assentamento seria formada por diferentes agrupamentos, distribuídos ao longo dos afluentes de relevo.

Indícios científicos também revelam que pode ter havido uma forte interação entre os habitantes: a proximidade dos sítios, a homogeneidade nos padrões de implantação e distribuição tornam difícil conceber a ideia de isolamento. Muito pelo contrário. Os vestígios deixados por esse povo sugere uma vivência interligada com a intensa circulação de informações, objetos e pessoas por toda a extensão do território do assentamento.

Quanto às atividades econômicas, análises indicam que a tradição Itararé realizava intensa exploração de produtos de cultivo. Esta atividade parece ter sido explorada individualmente pelos membros integrantes de cada habitação. Entretanto, a exploração de recursos nas matas foi desenvolvida de forma coletiva e em áreas relativamente distantes (aproximadamente 10 km dos sítios habitação).

Além dos sítios a céu aberto e cemitério, também foram identificados no vale do Ribeira sítios em abrigo, possivelmente cerimoniais, e sítios oficina, onde eram intensivamente realizadas atividades de lascamento lítico (a ação de lascar estruturas de pedra). Já no vale do Itararé, no alto Paranapanema, estão presentes

sítios do estilo de casas subterrâneas, como uma adaptação a áreas de clima frio, com a presença de árvores de araucárias, que forneceriam coleta de pinhão.

A cerâmica constitui o principal vestígio material destes sítios, com vasilhames pequenos, em sua maioria, além de médios e grandes. Das nove formas reconstituídas, três têm formato direto, simples, e seis são infletidas, com contornos semielípitcos, esféricos, cônicos e cilíndricos. Pode-se notar que a técnica de manufatura predominante para a construção das peças foi a de roletes, embora os vasilhames pequenos e as suas bases tenham sido visivelmente modelados. A matéria-prima para a confecção dos artefatos foi o antiplástico mineral que, em geral, são os cacos moídos, areia e carvão mineral.

No vale do Ribeira de Iguape, pequenas variações na cerâmica ocorrem em sítios do médio vale (no rio Betari) e no baixo vale (próximo à cidade de Eldorado), onde há datações mais recentes. Lá, os artefatos são sempre grandes, pesados, feitos principalmente em fragmentos de bloco, detritos, seixos e grandes lascas. Os suportes não apresentam uma forma específica, mas tamanho e peso comuns e um bordo naturalmente presente que se adapta ao uso desejado.

Ao contrário do que se observa aos sítios relacionados à tradição Tupi-Guarani, os vestígios das cerâmicas pertencentes à Itararé estão mais concentrados pelo estado, e sugerem maior homogeneidade de traços culturais, remetendo a um contexto de ocupação notadamente diverso.

Tradição Itararé

47Paisagens Culturais Paulistas46 Paisagens Culturais Paulistas

Vestígio Cerâmico

coletado nas mediações da UHE

Promissão.

Por volta de 3,5 mil anos atrás, em algum ponto da Amazônia Central (provavelmente no baixo vale do rio Madeira), especula-se que teria surgido uma nova unidade cultural, cujos sítios foram enquadrados na tradição Tupi-Guarani. Sua origem estaria vinculada aos grupos da tradição Polícroma Amazônica, definição científica para os vestígios de cerâmicas que datam da pré-história sul-americana.

Pesquisas revelam que uma expansão de amplitude “nacional” teria partido da Amazônia Central e, em pouco mais de mil anos, se espalhou continuamente pelo território. Neste período, um dos movimentos se dirigiu da Amazônia, em direção leste, descendo pela costa do Oceano Atlântico e formando uma larga faixa que se estende do Maranhão até São Paulo. Seus sítios foram relacionados à sub-tradição Tupinambá.

Um outro movimento, contudo, partiu para a direção sul, desceu pelo rio Madeira-Guaporé, passou pelos rios Paraguai e Paraná e, finalmente, subiu ao longo da costa até algum ponto próximo à atual divisa dos estados de São Paulo e Paraná. Seus sítios foram relacionados à sub-tradição Guarani. Durante os deslocamentos, as áreas eram incorporadas dentro de um processo de expansão territorial.

De um modo geral, este movimento acompanhou as áreas tropicais brasileiras, indicando uma ocupação especializada no manejo deste ambiente. Os grupos seguiram diversas rotas, tanto a rede hidrográfica quanto uma vasta rede terrestre de caminhos. O mais famoso deles é o Peabiru, que partia de Cananéia, no sul de São Paulo, até a cidade de Assunción, no Paraguai.

Em Campos de Piratininga, região próxima à cidade de São Paulo, há indicações de aldeias Tupi-Guarani no século XVI, e também indícios de cerâmica da etnia em alguns de seus bairros. De resto, boa parte do território paulista foi imensamente ocupado por grupos Tupi-Guarani na época do descobrimento, principalmente em sua porção litorânea e em extensa faixa central.

Os sítios mais antigos dessa tradição estão localizados no estado de São Paulo, fato que indica a primeira ocupação ceramista da região. O mais clássico deles está no vale do Tietê, com idade aproximada de 250 aC. Os demais ocorrem a partir do início do século V, após a era cristã, com datas de 400 dC, para o sítio Franco de Godoy (vale do Pardo) e 410 dC para o sítio Jango Luís (vale do Paranapanema). O mais recente deles, com idade de 1.480 dC, é o sítio Almeida, também no vale do Paranapanema.

A permanência destes ceramistas no estado, até meados dos séculos XVI e XVII, período em que já havia contato com os colonizadores, pode ser comprovada

por sítios como os aldeamentos jesuítas, no Paranapanema, e por vestígios encontrados em diferentes cidades do litoral: Peruíbe, Iguape, Praia Grande e Ubatuba.

As datações obtidas indicam uma ocupação em São Paulo de grupos portadores de cerâmica Tupi-Guarani por mais de 1,7 mil anos, período em que certamente ocorreram diversas variações nos assentamentos. Na maioria dos estudos realizados, há modificações, por exemplo, nos tipos decorativos da cerâmica. No vale do Tietê, a diversidade na decoração entre os 25 sítios identificados traz a hipótese da presença de dois agrupamentos distintos: um no baixo vale e outro no médio vale. O mesmo foi observado no vale do rio Pardo (englobando a bacia de Mogi-Guaçu), onde as proporções entre as cerâmicas pintadas e as produzidas com outras matérias- primas variariam significativamente. Outra ressalva importante está no vale do Peixe, onde há mais de uma dezena de sítios dispersos, sendo que as cerâmicas apresentam decorações plásticas e pintadas. Na região de Paranapanema, alguns sítios têm grande quantidade de peças corrugadas e unguladas (incluindo urnas funerárias), enquanto em outros sítios predominam peças pintadas, com grande diversidade.

E no médio Paranapanema de Piraju (que faz parte da Província da Depressão Periférica) há ocupação de vertentes suaves, com declividade ao redor, e uma capa de colúvio cobrindo os vestígios arqueológicos. Já no Pontal do Paranapanema (que faz parte do Planalto Ocidental) os sítios cerâmicos estão em amplos terraços marginais associados às cascalheiras.

Também ocorrem variações na morfologia dos sítios, que podem medir de 100 X 50m (sítio Nunes) a 400 X 200m (sítio Prassévichus).

Com todas essas informações coletadas por pesquisadores, cientistas e arqueólogos, a conclusão a que chegamos é a de que os sítios com cerâmica Tupi-Guarani, centralizados no estado de São Paulo, estão bem longe de uma unidade histórica e cultural. Ao contrário disso, os indícios de peças e vestígios fornecem importantes especificidades locais e regionais.

Tradição Tupi-Guarani

51Paisagens Culturais Paulistas50 Paisagens Culturais Paulistas

Primeiros aldeões de que se tem conhecimento em território brasileiro, a tradição Aratu-Sapucaí ocupou regiões dos estados de Minas Gerais e Goiás, e grande parte do nordeste do país. Cultivadores de tubérculos, feijão, algodão e milho, esses povos confeccionavam vasilhames de tamanhos diversos, e a matéria-prima para a produção das peças era a argila.

Em São Paulo, os vestígios dessa civilização, normalmente organizada em disposição circular, em espaços abertos, estão representados por três sítios do estilo aldeia: Água Vermelha 2, Maranata e Água Limpa. Todos se localizam no extremo norte do estado e ainda estão em processo de estudos.

Pesquisas realizadas recentemente, tanto na bacia do rio Grande quanto nas proximidades do reservatório de Água Vermelha, identificou uma extensa aldeia de grupos ceramistas com aproximadamente 400 metros de diâmetro. O material cerâmico, ainda em estudo, tem mostrado diversas semelhanças com a cerâmica da tradição Aratu-Sapucaí, como a presença de vasilhames cônicos, predominantemente sem decoração, formas duplas e fusos. Perto dessa aldeia está sendo escavado um sítio que, além de apresentar cerâmica por toda a estratigrafia, possui grande quantidade de material lítico lascado e polido, além de vários sepultamentos e restos de fauna.

Entre as bacias do Grande e Tietê (na altura do município de Olímpia), está o sítio Maranata, e que pode ter associação com a tradição Aratu-Sapucaí, sobretudo pelas formas reconstituídas dos vasilhames. As primeiras impressões dos arqueólogos em seu trabalho de campo apontam para a hipótese da aldeia ter possuído vasta dimensão. Grande quantidade de material ósseo humano também foi uma das descobertas dos cientistas, sugerindo sepultamento de povos desta tradição.

O sítio Água Limpa, situado no vale do Grande (no município de Monte Alto)

parece remeter à tradição Aratu pela morfologia de seus vasilhames cerâmicos. Sua morfologia é desconhecida, embora pesquisas tenham evidenciado nove manchas escuras, interpretadas como estruturas habitacionais, onde materiais cerâmicos, líticos, faunísticos e vestígios de fogueiras estão concentrados. Materiais esparsos, algumas estruturas de fogueira e vestígios de sepultamento foram também encontrados pelos arqueólogos.

Tradição Aratu-SapucaíUHE Barra BonitaAcervo: AES Tietê

Vestígio Cerâmico coletado nas mediações da UHE Ibitinga

Vestígio Cerâmico coletado nas mediações da UHE Promissão

52 Paisagens Culturais Paulistas

UHE Nova Avanhandava

Acervo: AES Tietê

Vestígio Cerâmico coletado nas mediações da UHE Nova Avanhandava Arqueólogo em atividade de registro fotográfico nas mediações da UHE Caconde

Arqueólogo em atividade de prospecção nas mediações da UHE Nova Avanhandava Arqueólogo em atividade de prospecção nas mediações da UHE Caconde

Como o leitor já acompanhou anteriormente, no capítulo Paisagem e Tradição, no início desse livro, o processo de ocupação das bacias do Baixo e Médio Rio Tietê (atualmente composta por parte das microrregiões de Araçatuba, Bauru, Campinas, Central e de São José do Rio Preto) nos revelou como os movimentos históricos acontecem a partir da interferência do homem em seu meio, e onde os fatores naturais e culturais articulam-se conforme as necessidades da cada época.

Quanto à ação colonizadora, é importante enfatizar que o processo ocorre no cotidiano, com populações que precisam garantir dia após dia as condições essenciais para sua sobrevivência.

A história da ação colonizadora no Planalto Paulista, por exemplo, pode ser compreendida pelo contínuo esforço em abrir caminhos e estabelecer áreas de influência cada vez mais distantes do núcleo irradiador de São Paulo.

No entanto, a cidade jamais deixou de ser ponto de passagem quase obrigatório para a difusão do comércio, ampliações de estratégias militares e à ocupação colonial. São Paulo também serviu de ponte para a conquista gradativa dos sertões paulista, desempenhando, desde sua fundação, a atividade de ponto intermediário na ligação entre o planalto e o litoral, especialmente com o porto de Santos.

Durante os séculos XVI e XVII a ocupação humana na região se valeu de percorrer os sertões em busca de indígenas para mão-de-obra, movimento bastante difundido pelo “bandeirante paulista”. A atividade bandeirante seguiu o roteiro estabelecido pelos padres da Companhia de Jesus, que se internaram muito precocemente nos sertões com fins catequizadores. Num primeiro momento, a ação dos jesuítas se ateve às cercanias da vila de São Paulo, estabelecendo aldeamentos nas regiões de Santo Amaro, Nossa Senhora dos Pinheiros, Carapicuíba e algumas um pouco mais distantes.

Ainda no século XVI, aldeamentos eram criados em diversas regiões nas margens do Rio da Prata, em território espanhol nas Américas. As regiões hoje compreendidas pelo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e mesmo pelo Paraguai e Uruguai foram profundamente envolvidas pela ação evangelizadora jesuítica entre os índios Guarani. No planalto, a grande maioria dos indígenas, embora houvesse cada vez mais etnias representadas, era de Guaianazes, dando origem a missões de proporções gigantescas, com dezenas de milhares de indígenas retirados de suas aldeias, atraídos para os centros jesuítas e reorganizados sob uma lógica espiritual de governo. Esses agrupamentos de indígenas representavam uma oportunidade singular aos bandeirantes ocupados na captura de mão-de-obra,

tanto para abastecer a região do planalto – pontuada de trigais e outras lavouras – quanto para serem comercializados para regiões distantes, como no nordeste açucareiro. No entanto, mesmo quando as expedições tinham sucesso, havia uma baixa lucratividade do negócio, visto que a grande maioria dos capturados morria antes sequer de chegar à vila para serem comercializados.

Mas, por meio de suas andanças pelos sertões, estes exploradores se depararam com descobertas de metais preciosos, o que levou à criação de centros mineradores em Minas Gerais, Cuiabá e na Vila Boa do Goiás. As claras divisões entre as bandeiras de apresamento e de busca de metais e pedras preciosas escondiam uma “economia das oportunidades”, que mesclava as múltiplas possibilidades de lucro.

Em relação ao setor econômico, o interesse do colonizador moldou as normas, determinou a política a ser seguida e conseguiu, por meio disso, os benefícios possíveis. Neste contexto, a intervenção do governo português na América foi bastante variada, oscilando entre o rigor de interferência e o desinteresse quase que total de acordo com a região em pauta, criando, assim, modelos administrativos distintos para as Capitanias desenvolvidas.

As duas primeiras vilas da Capitania foram São Vicente (de 1532 ou 1534) e Santos (de 1545), estruturadas inicialmente no litoral. Mas a colonização da Capitania de São Vicente logo se mostrou ineficiente. Além de estreito, dificultando o povoamento da região, o litoral vicentino apresentava terrenos baixos, pantanosos e repletos de mangues. Com o surgimento da produção açucareira nordestina na metade do século XVI, de melhor qualidade e mais próxima do mercado consumidor europeu, a economia de São Vicente se tornou bastante frágil.

Ao contrário do litoral santista, o planalto logo surgiu, aos olhos do colonizador como um local favorável para ser povoado: havia terras altas e salubres, ambientadas por um clima temperado muito mais agradável para o europeu e descampados propícios para a instalação humana. As vias naturais de ocupação, como o rio Tietê, propiciavam a expansão para outras regiões planaltinas. E a existência de numerosas tribos indígenas, localizadas há milhares de anos naquele espaço, significava aos colonizadores portugueses novas fontes de mão- de-obra.

Apesar do rio Paraíba do Sul ter importância fundamental no processo de ocupação de todo o vale Paraíba, foi a partir do rio Tietê que as primeiras incursões dos sertanistas paulistas começaram. De mobilidade fácil e sem maiores imposições, a navegação no Rio Tietê provocou (antes mesmo do fim do século XVI) núcleos populacionais significativos, como os aldeamentos de Guarulhos, Itaquaquecetuba

Colonização

65Paisagens Culturais Paulistas64 Paisagens Culturais Paulistas

e São Miguel, a povoação de Mogi das Cruzes e São José do Parahyba (cujo nome foi alterado, em 1871, para São José dos Campos).

Ao mesmo tempo, o Oeste Paulista se tornou palco das primeiras investidas colonizadoras no planalto vicentino em direção ao sertão após a fundação da vila de São Paulo de Piratininga. Mas, com os seus terrenos planos e cobertos de florestas densas, o Oeste Paulista não assistiu a uma ocupação sistemática até pelo menos por volta de 1700. Aliás, mesmo no final do século XVIII, das 17 vilas existentes na Capitania de São Paulo, somente 9 estavam situadas no planalto, sendo as mais habitadas localizadas no vale do Paraíba. Já os vales dos rios Tietê, como Atibaia, Piracicaba e Pardo, demoraram para receber um afluxo populacional significativo. E a descoberta de metais preciosos nas Minas Gerais, no final do século XVII, não alterou muito seu perfil de ocupação.

Ao longo do século XVIII e nas primeiras décadas do XIX surgiram as chamadas Monções, expedições fluviais com objetivos comerciais, colonizadores e com tarefas oficiais, como delimitação de fronteiras ou patrulhas preventivas. Assim, foi por meio das Monções que teve início o primeiro movimento de ocupação das bacias do Baixo e Médio Tietê.

Organizada por Rodrigo César de Menezes, capitão-general de São Paulo, uma das maiores Monções partiu em 1726, de Araritaguaba (hoje, o município de Porto Feliz), estruturada por 308 canoas e cerca de 3 mil viajantes, entre soldados, lavradores, tripulação e aventureiros em direção à Cuiabá. Neste período, as coroas de Portugal e Espanha estavam em constante disputa nas Américas pela definição e posse de territórios, o que promoveu processos de conflitos e negociações diplomáticas durante todo o século.

No extremo sul colonos portugueses haviam estabelecido a colônia de Sacramento, na margem esquerda do Rio da Prata, em frente a Buenos Aires dos espanhóis. Embora a colônia tenha sido atacada de pronto pelos colonos espanhóis ela se reestabeleceu e, ainda que tenha finalmente passado às mãos castelhanas em 1705, foi recuperada por Portugal em 1715 pelo Tratado de Utrecht - a rota que ligava esta região a São Paulo manteve sua importância como principal via de acesso, ainda que a navegação de cabotagem complementasse a comunicação entre as duas regiões.

A região do Centro-Sul do Brasil ganhou uma importância fundamental nas estratégias geopolíticas da coroa portuguesa. Para a Capitania de São Paulo, por exemplo, foram atribuídas algumas funções essenciais para a dinamização do Centro-Sul e da manutenção do território português frente às ameaças espanholas.

Com a ascensão do estadista português Marquês de Pombal ao posto de “homem forte do governo de D. José I”, a política territorial recebeu uma atenção que jamais houvera possuído. A própria extinção da capitania de São Paulo, em 1748, ao mesmo tempo à criação das capitanias de Mato Grosso e Goyaz, tivera como foco melhorar a defesa das fronteiras da América Portuguesa.

No rio Piracicaba, por exemplo, implantou-se um arraial fixo, que ficou sob a responsabilidade do capitão português Antônio Correia Barbosa. A ideia era transformar o Tietê num eixo de penetração para os sertões do planalto paulista, regiões ainda não totalmente asseguradas pela administração portuguesa.

O povoamento das imediações dos saltos de Avanhandava e Itapura iniciou-se em 1778. Assim, a ocupação efetiva das margens do Tietê ocorreu a partir do século XX, quando, inclusive, alternativas para esta estratégia foram buscadas. Um dos problemas enfrentados foi a ausência de famílias capazes de se deslocar para as fronteiras sem promover o esvaziamento das áreas de origem. Questões demográficas continuavam marcando os entraves para a ocupação produtiva do território.

Assim, na colônia como um todo, especialmente a partir de 1750, começou a haver uma busca mais intensa por terras, já que elas se tornaram mais valiosas devido ao incentivo metropolitano à produção colonial. Porém, essa disputa pela terra não ficou restrita apenas às “elites”. Incentivos fiscais como a isenção do pagamento de impostos por aqueles que plantassem café, chá e especiarias proporcionaram aos pequenos e médios proprietários meios para se consolidarem economicamente na sociedade colonial.

Por volta de 1765, a cultura canavieira assumiu a condição de atividade agrícola de exportação, inserindo São Paulo na lógica comercial do eixo Atlântico-Sul do império português. A interferência de Lisboa na Capitania de São Paulo provocou, já na segunda metade do século XVIII, o enriquecimento de diversos setores da sociedade paulista.

A consolidação das lavouras de cana-de-açúcar incrementou o conhecimento e a ocupação da Bacia do Tietê, ainda que não causasse grandes alterações no perfil de povoamento da região. Isso porque a atividade se situou no chamado “quadrilátero do açúcar”, abrangendo Campinas, Itu, Jundiaí e Piracicaba. Em 1769, os habitantes do bairro do Jundiaí pleitearam a condição de Freguesia de Campinas, o que de fato ocorreu em 1774. Por volta de 1785, instituiu-se o núcleo de Capivari. Piracicaba, fundada na década de 1760, floresceu nos decênios seguintes com o desenvolvimento das lavouras de cana. Já no fim do século, mais precisamente em 1797, criaram-se as vilas de Campinas, Porto Feliz e o povoado de Indaiatuba.

67Paisagens Culturais Paulistas66 Paisagens Culturais Paulistas

UHE LimoeiroAcervo: AES Tietê

Um pouco mais tarde, cidades importantes nasceram em decorrência da consolidação da cultura canavieira em São Paulo. Araraquara, por exemplo, surgiu como freguesia de São Bento, em 1817, passando à categoria de município em 1833. Limeira, por sua vez, nasceu em 1830, fruto da construção de uma estrada feita para escoar a produção açucareira dos engenhos da região. O território de Rio Claro foi fundado em 1827, tornando-se município em 1845.

A lavoura canavieira comercial proporcionou as bases econômicas que acolheriam o café como principal atividade produtiva e grande elemento de ocupação do planalto paulista ao longo do século XIX, o que veremos mais adiante, nos próximos capítulos deste livro.

Na região do atual estado de Santa Catarina três núcleos coloniais haviam se estabelecido desde finais do século XVII: São Francisco, Desterro – ou Ilha de Santa Catarina - e Laguna. Também entre Laguna e Sacramento se manteve sistemática comunicação neste período, o que incluía ainda os assentamentos na área do atual Paraná: Nossa Senhora da Luz dos Pinhais (Curitiba), fundada por volta de 1690, Paranaguá, no litoral e Guaratuba, criada por volta de 1714, depois tornada Antonina. Fora desses núcleos pouco mais havia além dos famosos Sete Povos das Missões – São Borja, São Nicolau, São Lourenço, São João Batista, São Miguel, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo – localizados na fronteira entre as possessões portuguesa e espanhola.

A história da região Nordeste do planalto paulista – que atualmente é ocupada por municípios como Caconde, Mococa, Tapiratiba, São José do Rio Pardo, Divinolândia e São Sebastião da Grama – constitui mais um exemplo de lacuna nos registros históricos brasileiros. Segundo informações recentes, a histórica da região está vinculada às expedições bandeiristas para a cidade de Batatais em busca de mão-de-obra indígena, a fim de comporem as lavouras de cereais no planalto.

Na primeira metade do século XVIII, com a expansão das áreas mineradoras, as relações de mercado entre essas regiões e a população mais antiga intensificaram-se. Com isso, as velhas trilhas indígenas e sertanistas ganharam importância e se sedimentaram. Tanto negociantes, tropeiros, sertanistas como simples viajantes passaram a circular em tais caminhos com uma frequência cada vez maior, contribuindo para que as estradas fossem ocupadas geralmente por roceiros, rancheiros e donos de estabelecimentos como estalagens e pousos. Apesar do caráter humilde, esses moradores desempenharam uma função essencial no povoamento e na articulação das áreas intermediárias dos caminhos, uma vez que suas atividades se relacionavam com o abastecimento das regiões mineradoras.

A proximidade com as minas de ouro e a rentabilidade modesta das atividades ali desenvolvidas estimulou os roceiros e donos de estalagens a também se interessarem pela possibilidade de encontrarem novas jazidas. Assim, as andanças à procura de ouro foram comuns entre esses homens, que privilegiaram em suas buscas os afluentes do rio Grande e as encostas da Serra da Canastra, áreas que atualmente compõem os limites territoriais entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. Após anos de pequenas explorações foi encontrada, em 1765, uma jazida de ouro nas cabeceiras do rio Pardo. Desta descoberta foi criada Nossa Senhora da Conceição das Cabeceiras do Rio Pardo, atual município de Caconde, a primeira freguesia paulista localizada ao norte do rio Pardo, desmembrada de Mogi Guaçu em 1775.

Assim, as estradas e caminhos para as minas tornaram-se os principais eixos de ocupação das áreas dos chamados “sertões” por meio do estabelecimento de pousos e arraiais. A ocupação inicial do Nordeste Paulista esteve intimamente ligada à implementação desses caminhos para as regiões mineradoras, notadamente para um deles, o Caminho de Goiás (chamado originalmente de o Caminho do Anhanguera) que ligava a cidade de São Paulo às minas de Goiás.

Em 1682, o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva trouxe dos sertões para São Paulo a notícia de que havia minas de ouro na região do chamado “Sertão de Goyaz”. E a exploração do precioso mineral dividiu-se entre as duas regiões que compunham a Capitania, a Norte e a Sul. Na porção meridional, situavam-se nas altas cabeceiras do Tocantins e Araguaia, e nas dos afluentes da margem direita do Parnaíba. De menor proporção, a exploração de ouro ocorreu nos distritos de São José, Santa Rita, Cachoeira e Conceição.

A proliferação da notícia sobre a descoberta de ouro em Goiás promoveu um aceleramento na ocupação das áreas situadas no Caminho de Goiás. Em decorrência do aumento da circulação de tropas e contingentes populacionais diversos nessa rota, as administrações local e metropolitana determinaram algumas medidas voltadas para uma ocupação da região que atendesse, na medida do possível, tanto aos interesses dos colonos como os da Coroa Portuguesa.

Sendo assim, o primeiro movimento de povoamento das regiões circunvizinhas ao Caminho de Goiás foi composto tanto por famílias que, de forma esparsa, já moravam nessas áreas – e que se ocupavam, sobretudo, às roças de subsistência – como também por grupos humanos mobilizados a partir do descobrimento do ouro de Goiás.

Durante o mesmo período, uma nova componente de importância decisiva

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para a ocupação do Sertão do Rio Pardo veio à tona: a migração de pessoas vindas, em sua maioria, do Sul de Minas. Essas áreas passaram a receber, especialmente a partir do fim século XVIII, grande número de famílias desgarradas de suas terras após a crise da mineração nas Minas Gerais.

Os grupos mineiros impuseram ao Sertão do Rio Pardo novas formas de organização espacial, que até então não tinham se consolidado entre os antigos habitantes daquelas terras. Enquanto a maioria dos pousos não passava de aglomerações populacionais precárias e com pouco poder de expansão, as freguesias se constituíam como germes de núcleos urbanos, onde as igrejas e as vendas tinham papel fundamental na arregimentação da população local.

É justamente nesse período que surgiu uma toponímia estritamente vinculada às formas de representação mineira: Capela de Santa Rita do Paraíso (Igarapava), Capela do Carmo de Franca (Ituverava), Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Franca, Freguesia do Bom Jesus da Cana Verde dos Batatais, Espírito Santo da Cana Verde (Nuporanga), Mato Grosso dos Batatais (Altinópolis), entre outros.

Em critérios macroeconômicos, a migração mineira para o Sertão do Rio Pardo não proporcionou grandes lucros se comparados aos núcleos canavieiros, mas ainda assim alterou significativamente o alcance e a forma de ocupação da região:

“À medida que avançava a ocupação das terras do Nordeste Paulista, os antigos posseiros iam perdendo suas roças e uma situação adquirida através do trabalho realizado no decorrer do século XVIII. Enquanto o Sertão do Rio Pardo era apenas um espaço que se interpunha entre a cidade de São Paulo e Vila Boa de Goiás, seus moradores paulistas puderam plantar para o seu sustento em terras próprias e alheias. Com o crescimento populacional e a chegada de famílias mineiras possuidoras de escravos e grandes rebanhos de gado, a pressão sobre a ocupação das terras foi sentida tanto por antigos proprietários que reafirmavam o seu direito sobre as áreas já ocupadas, assim como por posseiros e agregados que eram destituídos de suas roças”. (BACELLAR; BRIOSCHI, 1999: 70).

Colégio Jesuíta de São Paulo, 1860Foto retirada do Livro: Botucatu: cidade dos bons ares e das boas escolas, 2007

A utilização do Rio Tietê como caminho para o Mato Grosso era dificultada pelas corredeiras e cachoeiras existentesFoto retirada do Livro: Botucatu: cidade dos bons ares e das boas escolas, 2007

72 Paisagens Culturais Paulistas

Exemplo de Colonos recém chegados no interior de São PauloFonte:http://static.panoramio.com/photos/large/18476018.jpg

A obra retrata a relação entre ciganos e escravos no Brasil colonialFonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c7/Debret_casa_ciganos.jpg

O quadro de Debret, Interior de casa cigana

(c. 1820)

Foto retirada do Livro: Botucatu: cidade dos bons ares e das boas escolas, 2007

Carta da Capitania de São Paulo, em 1766.

UHE CacondeAcervo: AES Tietê

Atraídos pelos centros urbanos que se desenvolviam no Brasil, milhares de imigrantes europeus escolheram o país como rota para novas perspectivas de vida. Entre a segunda década no século XIX e meados do século XX, após a Segunda Guerra Mundial, italianos, portugueses, espanhóis, alemães, austríacos, franceses e russos viajaram pelas águas do Atlântico e aqui desembarcaram, tornando-se parte do processo de ocupação de diversas regiões, entre elas, a bacia do rio Tietê.

Se no período do Primeiro Reinado no país, a vinda de imigrantes esteve principalmente atrelada aos centros urbanos, especialmente ao Rio de Janeiro, que carecia de profissionais como engenheiros, médicos, ferreiros, boticários etc., ao longo do Segundo Reinado e, sobretudo, com a Proclamação da República, a imigração ganhou no Brasil contornos específicos. A ideia foi receber mão-de-obra estrangeira para, num primeiro momento, atender às necessidades da expansão da agricultura e especialmente da lavoura cafeeira. Posteriormente, a estratégia objetivava preencher as vagas de trabalho oferecidas pelas fábricas inauguradas nos centros em processo de industrialização.

As influências da imigração italiana no vale do Rio Pardo, por exemplo, que começou em 1890, são marcantes no ambiente sociocultural na região. Os imigrantes chegavam de trem até Rio Pardo e seguiam viagem de carroça até chegarem às fazendas de café. Gradativamente, com o crescimento das cidades, os italianos expandiram suas atividades nas áreas urbanas e rurais, influenciando, portanto, a cultura e arquitetura regionais.

Em São Paulo, com a expansão econômica da região, acentuada em 1880, os grandes movimentos migratórios estiveram interligados ao processo de consolidação da cafeicultura no país. Já no final do período imperial, setores da sociedade foram articulados para estabelecer uma política de recrutamento de imigrantes. Foi quando houve a criação do sistema de colonato que, em relação à antiga estratégia de parcerias, oferecia algumas vantagens. O novo sistema era baseado num programa de remuneração misto, calculado com base em comissões nas vendas do produto agrícola, além de um salário anual, e oferecia ao colono incentivos fiscais para o transporte e necessidades básicas.

O município de Promissão, localizado na porção Oeste do estado, ficou conhecido como o berço da colonização japonesa no Brasil. Em 1908, o navio Kasato Maru chegou ao porto de Santos, trazendo, entre os viajantes, um grupo de japoneses dirigido pelo Dr. Shuhei Uetsuka, hoje um ícone da cidade.

A primeira igreja católica construída no Brasil por imigrantes japoneses está

localizada no Bairro do Gonzaga, em Promissão, e foi inaugurada pelos colonizadores em 1938.

Os 60 anos de Uetsuka foram dedicados a trabalhos ininterruptos pela causa de sua comunidade. Em 1918, adquiriu as matas virgens da estação Hector Legru, localizada na região Noroeste do município, instalando o primeiro núcleo de colonização japonesa. Ali, encabeçou a construção de escolas, a abertura de estradas, a contratação de médicos e fundou associações, as quais tinham o dever de zelar pela segurança dos moradores e prestar auxílio aos menos favorecidos.

Conforme as informações registradas pelas comunidades de Promissão, Uetsuka foi o responsável por iniciar a colonização pela região, pois no local havia poucas doenças, em virtude de ter sido habitada anteriormente somente por índios.

Uetsuka faleceu em 1935, e seu corpo foi sepultado no Cemitério Municipal de Promissão. Em tributo aos seus feitos à cidade, já foram prestadas várias homenagens ao colonizador, dentre elas, a instituição da Praça Shuhei Uetsuka e a Vicinal Shuhei Uetsuka que levam o seu nome.

No momento do 60º Aniversário da Imigração da Japonesa no Brasil e 50º Aniversário da colonização japonesa em Promissão, em 1968, foi erguido na Praça Shuhei Uetsuka um monumento. No local, há também um templo, o Templo Komyo Kwannondo, cuja luz, que não se apaga nunca, é mantida ou por energia elétrica ou por vela.

Imigrantes

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Imigrantes no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo - Fonte:http://tinyurl.com/osfqgf2

Construção da primeira Igreja de Promissão pela Colônia Japonesa

Construção da primeira Igreja de Promissão pela Colônia Japonesa

Imigrantes italianos recem chegados em São PauloFonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fc/Italians_Sao_Paulo.jpg

Representação por desenho do Navio Kasato Maru, que em 1908 trouxe os primeiros Imigrantes Japoneses - Fonte: http://tinyurl.com/ns2lttqFotos Históricas de Imigrantes retiradas do Livro: Botucatu: cidade dos bons ares e das boas escolas, 2007

O Imigrante - 1908 - Estradas

de Ferro do Interior de SP

Exemplo de Patrimônio Edificado em Caconde, destaque para o estilo construtivo Europeu trazido pelos imigrantes

Comunidade Japonesa em apresentação de Taikô no Museu de Lins Exemplo de Patrimônio Edificado em São José do Rio Pardo, destaque para o estilo construtivo Europeu trazido pelos imigrantes

Ponte bastante utilizada por imigrantes para travessia do Rio Pardo

Fonte: http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/fotos/saopaulo-historia-hospedariadosimigrantes.jpg

Foto Histórica de Imigrantes

em sua chegada à SãoPaulo na década

de 1970.

PCH Mogi-Guaçu Acervo: AES Tietê

Foram nas fazendas do Rio de Janeiro, em meados do século XVIII, que ocorreram as primeiras tentativas de se cultivar o café em terras brasileiras. Posteriormente, a cultura cafeeira se expandiu, atingindo os estados de Minas Gerais e, sobretudo, São Paulo, onde concentrou suas lavouras no norte do vale do Paraíba, especialmente nas cidades de Areias, Guaratinguetá e Lorena.

No século XIX, o cultivo se espalhou pelo Oeste Paulista, tornando-se nessa época a principal atividade econômica da região, e primordial para o Império no ramo da exportação. O elemento chave para o processo de ocupação do Tietê, por exemplo, foram as lavouras de café. Elas abrangiam, de modo geral, desde a região do Oeste Paulista (indo de Campinas, Rio Claro e São Carlos até Araraquara e Catanduva) até o Nordeste da Província.

Para se ter ideia, só entre 1888 e 1900, 42 novos municípios foram instaurados na Província de São Paulo, sendo alguns deles situados no Baixo e Médio Tietê, como Jaú, Dois Córregos, São Manuel do Paraíso, Mineiros do Tietê, Ibitinga, Bariri, Pederneiras, Bocaina e Anhembi. Alguns distritos também foram instituídos, tais como os de Conchas, Barra Bonita e Itapuí.

A expansão da lavoura cafeeira pelo Planalto Paulista protagonizou alterações significativas na ocupação e acesso às terras do Nordeste Paulista. Seus habitantes, acostumados a privilegiar as áreas de pasto, começaram a visualizar novas formas de exploração dos solos formados por terra roxa, mais propícia ao cultivo do café. Mesmo assim, as plantações de lavouras cafeicultoras não ocorreram de maneira homogênea nesta região, já que as condições topográficas e climáticas de determinadas terras contribuíram para um desenvolvimento desigual da economia regional.

Assim, enquanto boa parte das localidades da chamada Alta Mogiana (como as cidades de Ribeirão Preto, São Simão, Batatais e Franca) apresentavam características topográficas e climáticas adequadas para o plantio do café, áreas da Baixa Mogiana que faziam fronteira com Minas Gerais (como aquela ocupada por Caconde) tiveram mais dificuldades na implementação dessa cultura devido ao relevo acidentado e solo menos fértil.

Pode-se dizer que os principais canalizadores para a expansão da cultura cafeeira pelo Planalto Paulista foram as estradas de ferro que, a partir de 1860, substituíram os antigos caminhos de terra. Neste sentido, a crescente malha ferroviária aumentou a qualidade da interligação entre a cidade de São Paulo, o porto de Santos e as localidades próximas à Capital da Província, além de ampliar as áreas de povoamento de territórios planaltinos longínquos.

Um alastramento das lavouras cafeeiras tomou conta, entre 1850 e 1880, das regiões localizadas nas cabeceiras do rio Pardo. Além da expansão do café, a alteração da estrutura fundiária no Brasil obteve uma nova organização sistemática das políticas públicas ao acesso da terra no país. Com a instituição da Lei de Terras, promulgada por D. Pedro II em 1850 (uma das soluções mais incisivas para a transição da mão-de-obra escrava para o trabalho livre), teve início a proibição de qualquer tipo de aquisição de terras devolutas que não fosse o da própria compra, acabando por barrar o acesso a terra por parte de posseiros e arrendatários.

Nesse modelo, caso um posseiro cultivasse suas culturas em terras de Sesmaria (instituto jurídico português), a área era de sua posse, já que o “regime sesmarial” legitimava o trabalho como elemento gerador do direito de propriedade. Deste modo, a partir de 1850 houve uma ampla modificação legal da estrutura fundiária do país, ocasionando agravamento das já desfavoráveis condições dos pequenos roceiros sitiantes.

A estabilização da lavoura cafeeira e a implementação da Estrada de Ferro Mogiana, em 1872, consolidaram a ocupação do Nordeste Paulista, região que deixou de ser vista como um “sertão” a ser desbravado. Sua política administrativa ganhou rapidez e rendimentos consideráveis, fato constatado, por exemplo, pela criação da Vila de Caconde, em 1864, que, no ano seguinte, transformou-se em município incorporando as atuais cidades de Sapecado, Mococa, São José do Rio Pardo, São Sebastião da Grama, Tapiratiba e Barrânia.

Dez anos depois, em 1874, criou-se a Comarca de Caconde por meio de lei sancionada pelo Presidente da Província de São Paulo, João Teodoro Xavier. Em 1883 Caconde foi elevada à cidade mediante lei aprovada pelo então Presidente da Província, Francisco de Carvalho Soares Brandão.

O café permaneceu como base da economia paulista até por volta de 1930, período em que o segmento começou a sofrer oscilações no mercado.

A Grande Depressão, ou crise de 1929, abalou a importância da cafeicultura e promoveu uma aceleração no processo de diversificação não apenas no setor agrícola, mas na economia paulista como um todo. O café foi perdendo a sua importância a partir dos anos 30 e culturas de algodão, pecuária, arroz e cana-de-açúcar foram avançando pelo País.

A reestruturação econômica sofrida pelo Nordeste Paulista ao longo das décadas compôs, aos poucos, o panorama atual da região. Nas áreas cafeicultoras principais (Franca e Ribeirão Preto) a existência do capital necessário para o redirecionamento econômico foi fundamental às novas empreitadas no decorrer da

Cafeicultura

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segunda metade do século XX. Os municípios de Sertãozinho e Igarapava, por exemplo, tornaram-se importantes polos canavieiros; a região de Orlândia, por sua vez, estabeleceu atividades ligadas à agroindústria do algodão e do arroz; Franca consolidou-se como um dos principais fabricantes de calçados do país; as cidades de Morro Agudo, Guairá e Batatais formaram um centro regional de pecuária; Ribeirão Preto, por fim, tornou-se um grande polo industrial principalmente nos ramos de alimentos, bebidas, produtos químicos.

Por outro lado, as áreas atualmente ocupadas pelos municípios de Caconde, Mococa, Tapiratiba, São José do Rio Pardo e Divinolândia tiveram que retornar às suas atividades mais tradicionais, especialmente àquelas vinculadas à pecuária leiteira e aos alimentos de subsistência, como feijão e arroz.

Hoje, Caconde também configura como parte significativa do setor de turismo ecológico e esportivo, buscando compor, juntamente com a cidade mineira de Poços de Caldas, um polo turístico regional.

Foto Histórica das Plantações de Café no Interior de São PauloFonte: http://fazendasjm.com.br/albuns/da225fddf96cb0977b71e6a1cd88f362/foto%201.jpg

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Praça Matriz de Ibitinga - Fonte: http://static.panoramio.com/photos/large/18017049.jpg

Manifestação popular em comemoração à Revolução Constitucionalista de 1932 na cidade de Jaú-SP no ano de 1935. Jaú enviou voluntários para a causa paulista - Fonte:http://cafehistoria.ning.com/photo/comemora-o-revolu-o-1932-em-1935-na-cidade-de-ja-sp

Praça Jorge Tibiriça Ibitinga SP - Fonte: http://tinyurl.com/nh5nljz

A expansão da cultura cafeeira pelo planalto paulista teve, entre os seus aceleradores, a construção das estradas de ferro pelo país. A partir de 1860, os antigos caminhos de terra atravessados pelas tropas de mulas começaram a ser, gradativamente, substituídos pelas ferrovias. Se por um lado a crescente malha ferroviária aumentou a qualidade da interligação entre a cidade de São Paulo, o porto de Santos e as localidades próximas à Capital da Província, também ampliou as vias de comunicação e as áreas de povoamento de territórios planaltinos longínquos.

Com a implantação da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (1867), a malha ferroviária de São Paulo atingiu o Nordeste Paulista com a Estrada de Ferro Mogiana, fundada em março de 1872. A estabilização do café e a construção da Mogiana consolidaram, definitivamente, a ocupação do Nordeste Paulista, que deixou de ser encarado como um “sertão” a ser desbravado. Em 1875, a estrada se alastrou para os municípios de Mogi Mirim e Amparo, seguindo para Campinas e, três anos depois, para Casa Branca. Após disputas envolvendo as companhias de trem em relação às alternativas para a ampliação da malha ferroviária do Noroeste Paulista, a Mogiana assegurou a concessão para estender seus trilhos até Ribeirão Preto. Anos depois, partiu ainda mais para o norte, passando por Franca (1887) até atingir o Porto Jaguará (1888), no rio Grande.

Até o início de 1900, boa parte do Baixo e Médio Tietê (atualmente, pertencente aos municípios de Glicério, Coroados, Buritama, Zacarias, Penápolis, Barbosa etc) era ocupada por populações indígenas dispersas. O principal grupo que habitava a região durante a chegada do colonizador eram os kaingangs, que também viviam em áreas dos atuais estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) constitui um objeto de reflexão histórica não apenas sobre as áreas diretamente relacionadas com a ferrovia (os antigos Estados do Mato Grosso e de São Paulo), mas também pelo próprio processo de ocupação do território brasileiro ao longo dos séculos XIX e XX.

A criação do Instituto Histórico e Geográfico (1837) exemplifica muito bem essa intenção, suplantada por aparatos ideológicos que tinham como função formular políticas e discursos legitimadores da construção da nação, com base na integridade territorial do Brasil. Apesar de ter possuído diversas fases, esse modelo nunca abandonou a ideia de “civilizar o país”, tendo como alvos o sertão, os índios, os posseiros, enfim, todos aqueles indivíduos ou espaços não inseridos na lógica da civilização.

Sendo a primeira e - por muito tempo - a única ferrovia a ligar o território do

antigo Mato Grosso ao Sudeste Brasileiro, a extensa NOB foi alvo de inúmeros discursos enaltecedores, grande parte vinculados às ideologias dominantes da época.

Longe de ser uma solução pontual circunscrita ao início do século XX, a ideia de criar uma estrada de ferro que ligasse o Mato Grosso ao litoral Atlântico brasileiro remete a meados do século XIX. Seja por meio de textos de viajantes da época ou através das informações de relatórios administrativos, a discussão sobre o melhor aproveitamento de uma área “tão rica”, porém pouco explorada, se deparava com a necessidade de se ampliar as vias de comunicação com a região. Além disso, a utilização dos rios Paraná e Paraguai pelo Brasil, embora fornecesse uma via de acesso mais rápida e prática, esbarrava nos interesses dos países vizinhos, em especial Argentina e a República do Paraguai.

Assim, já em 1851, houve a discussão de um projeto de lei autorizando o governo imperial a conceder exclusividade a uma companhia para a construção de uma ferrovia que ligasse o Rio de Janeiro à cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), passando pelas localidades de São João d’El Rei, Goiás e Cuiabá. No entanto, não eram apenas aspectos de ordem econômica que influenciaram a criação da ferrovia. No plano político, a ideia da construção de uma linha férrea concordava com três dos principais pilares de uma “nação moderna”: as ações integradoras sobre o próprio território, ação social que garantisse redes de apoio e flexibilidade, e o desenvolvimento das forças militares e terrestre.

Em outras palavras, a construção da ferrovia garantiria, segundo a ótica dos grupos dirigentes, a integridade territorial do Brasil diante dos interesses dos vizinhos platinos e das potências imperialistas, uma vez que o Mato Grosso representava historicamente uma região de difícil controle por parte do Estado.

Em junho de 1904, a Companhia de Estradas de Ferro Noroeste do Brasil foi fundada, com o objetivo inicial de construir uma ferrovia entre Uberaba e Coxim. Mas logo após a aquisição da concessão da obra, a empresa alterou o projeto para a construção de uma via férrea que ligasse as cidades de Bauru e Cuiabá, passando por Itapura, na divisa entre os estados do Mato Grosso e de São Paulo.

A despeito das inúmeras dificuldades relacionadas à construção da via férrea, tais como a presença do grupo indígena kaingangs, os problemas oferecidos pela região pantaneira do sul-mato-grossense, além das precárias condições de trabalho, a ferrovia foi sendo implantada até 1907, quando o governo federal não só determinou a mudança no destino final da ferrovia (que passou a ser Corumbá), como também iniciou alterações nas condições contratuais da obra.

Ferrovias

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Vinculado originalmente a um acordo contratual único, a estrada de ferro dividiu-se em duas ferrovias distintas: a E.F. Bauru-Itapura, atrelada ao regime vigente de concessões, e a E. F. Itapura-Corumbá, declarada como propriedade da União, mas que seria construída pela Companhia Noroeste.

Contudo, devido às ordens político-administrativas envolvendo a Companhia Noroeste e o governo federal, ambas as estradas de ferro (que em 1914 concretizaram a ligação Porto Esperança-Bauru) passaram a ser propriedade da União que, em 1918, inaugurou a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Operando por décadas entre os eixos Bauru-Porto Esperança, a NOB foi incorporada à Rede Ferroviária Federal (RFFSA) em 1957, tornando-se uma empresa privada em 1996, por meio de um consórcio envolvendo empresas europeias e norte- americanas.

Em 1998 a ferrovia novamente mudou de mãos, ficando sob controle do grupo empresarial brasileiro FERROPASA (Ferronorte Participações S.A.), e em 2002 substituída por outra holding, a Brasil Ferrovias.

Vítima de sucessivas reordenações administrativas, a NOB e o seu grandioso patrimônio histórico-cultural, tem contado, nos últimos anos, com um pequeno esforço das autoridades governamentais em relação à recuperação e preservação da ferrovia.

O trecho paulista da NOB conviveu com condições infraestruturais muito desfavoráveis ao longo de sua instalação. Dentre os locais mais afetados, está o trecho entre os municípios de Araçatuba e Itapura. O aspecto brejoso do solo da região demandava altos investimentos em obras de drenagem e conservação, além de ser um ambiente altamente propício para o desenvolvimento da malária, doença responsável pela morte de muitos operários que trabalharam na construção da NOB.

Os altos custos necessários para a conservação desse trecho levaram a direção da NOB a construir uma nova linha que o substituísse e proporcionasse a ligação com a porção mato-grossense da ferrovia. O novo trecho ficou conhecido como Araçatuba-Jupiá, e, diferentemente da linha anterior, prosseguiu em direção às terras mato-grossenses pelo espigão separador dos rios Tietê e Aguapeí. No entanto, apesar do projeto ter sido aprovado em 1922, a linha começou a ser construída somente quatro anos depois, e concluída apenas em agosto de 1937.

A implementação da NOB afetou sensivelmente o cenário de ocupação do Baixo e Médio Tietê, em cidades como Presidente Alves, Balbinos, Guarantã, Cafelândia, Lins, Guaiçara, Promissão, Penápolis, Glicério e Coroados.

Se por um lado a paulatina instalação da ferrovia chamava a atenção dos

grandes empreendedores para seu potencial econômico eminentemente mercadológico, as famílias de pequenos agricultores desempenharam importante papel no povoamento da região, a partir de sua busca por solos férteis no entorno das estações ferroviárias. Nesse âmbito, vale ressaltar as atuais localidades de Cafelândia, Guaiçara e Promissão, surgidas entre as primeiras décadas do século XX.

Em relação às cidades atingidas direta ou indiretamente pela NOB, é pertinente notar que a ferrovia foi a principal responsável pela alteração do escopo original dos povoados. Grande parte das estações foi transformada em centros urbanos e polos de escoamento de café.

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Vagão de Primeira Classe do Trem de Aço da Companhia Paulista de Estradas de Ferro - Fonte: http://tinyurl.com/pw7wmmz

Estação Histórica de Trem no Interior de São Paulo - Fonte:http://tinyurl.com/o6zd6de

Foto Histórica de Inauguração de Ferrovia no Interior de São Paulo - Fonte: http://tinyurl.com/p2wvhlu

Estação Ferroviária desativada em São João da Boa Vista.

Locomotiva Restaurada e Exposta no Município de Promissão.

QuilombolasNo idioma banto, grupo etnolinguístico africano que originou diversas outras

línguas do continente, a palavra “quilombo” significa “povoação”. No Brasil, surgiu como símbolo de resistência à escravidão como núcleos habitacionais e comerciais que abrigavam escravos fugidos e alforriados das grandes propriedades. As comunidades rurais negras do período da abolição também são conhecidas pelo nome de “mocambos”, terras de pretos, comunidades negras isoladas ou remanescentes de quilombos. De acordo com um levatamento feito em 2012, no Brasil, existem cerca de 1.800 comunidades, sendo 375 apenas na Mata Atlântica. Nestes grupos, cada família possui um sítio demarcado, onde normalmente existem as terras de uso, como áreas de capuavas (descanso do solo para lavoura) e também onde a vegetação é mantida e são realizadas atividades de extrativismo.

As comunidades quilombolas foram constituídas a partir de uma grande diversidade de processos, incluindo a ocupação de terras livres e geralmente isoladas, mas também por meio de heranças e recebimentos de terras aos escravos como pagamento de serviços prestados ao Estado, e da compra de terras, tanto durante a vigência do sistema escravocrata quanto após sua abolição.

No Brasil, na época colonial, o mais famoso quilombo foi o de Palmares, liderado por Zumbi dos Palmares, grande representante na luta pela resistência do povo negro. Criado no final de 1590 a partir de um pequeno refúgio de escravos localizado na Serra da Barriga, em Alagoas, Palmares chegou a reunir quase 30 mil pessoas, transformando-se em um estado autônomo. O quilombo suportou firmemente os ataques dos colonizadores holandeses, portugueses e bandeirantes paulistas, mas foi destruído em 1716. Contudo, até hoje, o local ainda resiste como um memorial simbólico dessa luta, preservado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Chamado de Parque Memorial Quilombo dos Palmares, o sítio arqueológico é considerado pelo Iphan, desde 1985, como Patrimônio Histórico, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.

Um levantamento da Fundação Cultural Palmares (FCP) mapeou mais de 1,8 mil comunidades quilombolas existentes no Brasil. Estima-se que 114 mil de 34,5 mil famílias quilombolas vivam nestas comunidades.

Há diversos quilombos existentes na Bacia do Rio Pardo, posicionados estrategicamente na parte alta da serra. No meio da densa floresta, o Quilombo de Campo Grande abrigava refugiados de diferentes regiões do país.

No município de Caconde, por exemplo, a tradição quilombola é forte na região e destacada por seus habitantes. Nas comunidades da cidade, o resgate da capoeira é visto como um mecanismo integrador, além de símbolo de luta ao sistema

escravagista.Conforme André Luiz Gonçalves, professor de capoeira do município, dizem

que Caconde foi um quilombo grande, quase do tamanho do de Palmares. Ele também destaca o bairro do Redentor, local onde os negros se refugiavam na época da escravidão. “As casas da cidade têm estes vestígios, como a escola Dr. Candido Lobo, construída pelas mãos dos escravos. Trabalho com capoeira tradicional que é a regional do mestre Bimba, uma capoeira bem primitiva, estilo angola, desenvolvida pelo Mestre Pastinha. Com esse trabalho procuro tirar os jovens das ruas e ensinar para eles um pouco da cultura do Brasil”, enfatizou Gonçalves.

A organização política dos quilombolas passou a ser um instrumento fundamental para a defesa de seus direitos. Com o passar do tempo, atividades econômicas promovidas por empresas, fazendeiros e garimpeiros que cobiçam as riquezas em recursos naturais, fertilidade do solo e qualidade da madeira das áreas desses povos, começaram a avançar os limites das terras dessas comunidades. Por isso, foi principalmente com a Constituição Federal de 1988 que a questão quilombola entrou na agenda das políticas públicas do país. Fruto da mobilização do movimento negro, o Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) legitima que: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos”.

Outra maneira de lidar com esse problema das invasões de terras foi a criação de associações de quilombos, que atuam no processo de seu reconhecimento coletivo como descendentes de escravos e perpetuam sua ocupação do espaço segundo as especificidades dos ambientes em que habitam.

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Pintura Representativa de Autor desconhecido - Fonte: http://tinyurl.com/obvptcq

Palmares contra o exército

Sociedade e Cultura ArtísticaAs manifestações artísticas e vestígios materiais de uma determinada

sociedade são compreendidos, antropologicamente, como Patrimônios Culturais. Ainda que o tempo exerça o seu papel, onde o esquecimento é um dos seus atributos, certos valores de identidade e tradição permanecem enraizados na cultura das civilizações, mesmo com o passar dos séculos. Em relação ao Tietê, por exemplo, a primeira análise a fazer é que o próprio rio deve ser considerado patrimônio. Durante séculos, o “rio de verdade”, conforme sua etimologia tupi (Ti = rio e etê = de verdade) foi via de comunicação na região que hoje compreende o estado de São Paulo. A singularidade de seu curso favoreceu a penetração colonizadora portuguesa durante os séculos XVII, XVIII e XIX, sem contar, obviamente, a sua utilização pela ocupação indígena há, pelo menos, 9 mil anos.

Com o desdobramento desses processos, poucas cidades surgiram na bacia do Tietê. Ainda assim, o rio, como um espaço histórico significativo, não se modifica. Sem ser um universo cultural predominantemente caipira, como são as regiões entre os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, formadas a partir do influxo da mineração no final do século XVIII, nem um espaço originalmente minerador, as cidades da margem do Tietê têm em sua cultura e história, a expansão do café e as imigrações italiana e japonesa. A distância de grandes polos e o menor volume de recursos fez com que as cidades se tornassem nichos arquitetônicos tradicionais. Assim, nestas localidades, podem ser identificados resquícios no modo de construir, com casas de beiral direto para a rua, água prolongada para os fundos das estruturas e fachadas sem recuo. Elementos com influência do eclético (arquitetura do café), além de nuances de um art déco tardio, também foram reconhecidos.

Resultado do sucateamento e da falta de investimento, uma a uma das antigas paradas ferroviárias foi desativada, até o seu derradeiro funcionamento na década de 80. Hoje restaram em pequenas cidades ao entorno, as antigas vilas ferroviárias e estações, verdadeiros monumentos de estrutura “palacial”, muitas vezes em ruínas.

Em Barra Bonita, destaca-se o Oratório a Nossa Senhora Aparecida, edificação construída em alvenaria de tijolos cerâmicos, em duas águas, com revestimento de reboco, piso com cerâmico vidrado, cobertura em telhas cerâmicas em duas águas e frechal de madeira.

No seu interior, existem quatro imagens de Nossa Senhora Aparecida em gesso, dois mochos que servem como pequenos altares, arranjo floral artificial e vestígios de velas votivas. O oratório é cercado por flores primaveras e ladeado por

três pinheiros, todos no cercado em madeira. Em entrevistas com a comunidade local, constatou-se que o uso de imagens associado à navegação é costumeiro.

Há também a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, projeto arquitetônico em estilo moderno, com linhas plásticas em concreto. A capela está localizada no bairro do Rio Bonito, no município de Botucatu, e abriga a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, capitã das procissões terrestre e fluvial, realizadas pelas comunidades no mês de outubro. Da capela, após a missa, o cortejo segue por terra até o Córrego da Mina. Neste ponto, a imagem segue escoltada por embarcações enfeitadas, com comemorações e fogos de artifício, até o ponto onde se inicia a festa popular.

Nas localidades do Tietê, os ranchos de pesca atualmente ocupam instalações precárias, confeccionadas com sobras de materiais e reaproveitamento de chapas de zinco, lonas e aglomerados. A pesca tradicional persiste como profissão, exercida autonomamente ou sob o controle de associações, como a existente no Bairro Matão, em Botucatu. Os equipamentos desses ranchos são compostos por fogões a lenha e a gás, redes, colchonetes e vasilhames. Embora representem um modo cultural regional, a forma de ocupação das margens do rio é irregular.

Realizada há mais de 150 anos, a Festa do Divino Espírito Santo, que ocorre na cidade de Anhembi, nasceu com uma promessa de ribeirinhos para acabar com um surto de febre amarela na região. Com a graça obtida, famílias saíam em peregrinação, todos os anos, em louvor ao Divino Espírito Santo. Nesta jornada, recebiam pouso e alimentação de anfitriões. Com o tempo, a festa ganhou mais adeptos: o município, que possui cerca de 6 mil habitantes, chega a receber 35 mil visitantes no período da festa. Uma irmandade foi criada e, hoje, consiste no principal evento religioso de Anhembi.

Na cidade de Dois Córregos, em uma das pequenas grutas situadas no sopé da Pedra Branca, há uma lenda local que afirma ser a morada de Unhudo. Apesar do medo que desperta, todos acreditam que este ser mitológico presta grande ajuda na preservação das matas, pois não aceita que as pessoas colham jabuticabas silvestres nem orquídeas da região. A criatura, segundo a crença, possui dois metros de altura, cabelos longos e garras, além de usar um chapéu de abas largas desfiadas. Quando alguma boiada passa perto de Pedra Branca, Unhudo se esconde atrás de um tronco de árvore e repete a sonoridade do aboio que os boiadeiros costumam fazer com a sua cantoria tradicional. Se alguém o desafia, a lenda conta que esta pessoa leva um tapa da criatura, e a sua força consegue arremessar o indivíduo para o outro lado do rio Tietê.

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Em Ibitinga, região que desde 1992 possui o status de “estância turística” graças à prosperidade do turismo comercial, a indústria do bordado é economicamente bem consolidada. A atividade foi levada para a cidade pela portuguesa Dioguina Martins Sampaio Pires que, para reforçar o orçamento doméstico, adquiriu uma máquina de bordar, onde confeccionava enxovais para noivas e recém-nascidos. Como a demanda pelos bordados aumentou, ela teve de contratar moças para ajudá-la, disseminando, assim, o ofício do bordado para aprendizes.

Com isso, o “Salão de dona Dioguina”, na Rua 13 de maio, se tornou famoso. Desde então, em meados de 1940, Ibitinga passou a ser conhecida como um bom lugar para as noivas prepararem seus enxovais. O trabalho era manual e a matéria-prima utilizada, o linho, revelava verdadeiras obras de arte, com bordados em crivo e rechilieu.

Com a primeira Feira de Bordado, em 1974, a indústria do bordado em Ibitinga começou a se consolidar, aumentando significativamente a oferta de mão-de-obra local. Devido a crescente demanda, a atividade deixou de ser exclusivamente artesanal para se tornar, posteriormente, confeccionada por um sistema de maquinário industrial.

A arte do bordado também obteve relações culturais com outros eventos da cidade. Na festa de Corpus Christi, por exemplo, as bordadeiras ocupam vários dias confeccionando bordados para enfeitar as ruas. Dezenas de quarteirões são entapetados com bordados diversos para a procissão. Depois, essas obras são doadas para a Associação Senhor do Bom Jesus, cujos lucros são destinados às atividades assistenciais da paróquia local.

Capela de Nossa Senhora em Anhembi

Oratório de Nossa Senhora em Barra Bonita

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Atividade Turística da Região

Praça Central em Dois Córregos Transporte Fluvial utilizado em Barra Bonita e também para Festa do Divino

Compras na Cidade de Ibitinga

UHE Nova Avanhandava

Acervo: AES Tietê

São José do Rio Pardoa terra de Euclides da Cunha

O escritor Euclides da Cunha, autor de “Os sertões”, é um patrimônio de forte relevância na alma do povo rio- pardense. Foi em São José do Rio Pardo que ele viveu e trabalhou durantes muitos anos, escrevendo uma de suas obras mais importantes. “É através dele que exprimimos ao Brasil e ao mundo nossa verdadeira identidade, a de que não nos conformamos com as mazelas sociais e culturais em que nosso país vive, já denunciadas pelo autor”, disse Lúcia Helena Vitto, diretora do Museu e Casa de Cultura Euclides da Cunha, espaço dedicado a expor documentos e imagens sobre a vida e obra do escritor.

A Casa também abriga uma exposição temática sobre Canudos, diversas versões de “Os sertões”, além de informações sobre a Tragédia da Piedade, episódio relacionado à morte do autor.

Dentre as atividades culturais do município, a que mais se destaca é a “Semana Euclidiana”, promovida todos os anos. O evento tem início em 9 de agosto, com um desfile que leva centenas de rio-pardenses às ruas anunciando o início das comemorações. Tudo aquilo que rememora Euclides da Cunha acontece durante a Semana, como ciclos de palestras, conferências e estudos, onde se discute história, filosofia, geografia, literatura, língua portuguesa e psicologia. Apresentações musicais, espetáculos de dança, teatro, oficinas e “jogos Euclidianos” complementam a programação das atividades.

Colégio Euclides da Cunha em São José do Rio Pardo

Bordados Artesanais em Ibitinga

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A cultura caipiraLento, preguiçoso e com um capim assentado no canto da boca, Jeca Tatu,

consagrado personagem criado por Monteiro Lobato, se tornou uma das figuras mais fortes do imaginário do caipira brasileiro. De pé descalço, fala confusa e mal arrumada no português, com um chapéu de palha na cabeça, a imagem composta por Lobato conseguiu não só se perpetuar como se desdobrou, partindo dos filmes de Amâncio Mazzaropi, até o personagem dos quadrinhos de Maurício de Souza, Chico Bento. Porém, entre o ser e o representar há um largo espaço que ainda guarda vários equívocos sobre o que foi essa cultura caipira, em verdade bastante específica, ainda que estendida a quase toda área que não seja metrópole na região sudeste.

Nas beiras dos rios amazônicos a cultura interiorana passou a ser chamada de “cabocla”, embora esse termo também tenha sido largamente empregado para interioranos de todo o território. Nas áreas de pastoreio do interior de Pernambuco, Alagoas, Ceará, Bahia, Paraíba, Piauí, o termo criado foi o de “sertanejo”, cultura ligada às atividades de criação nas áreas de extensão da caatinga. Já no extremo sul, nas áreas de pampas e coxilhas, hoje ocupadas pelo Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina e trechos do Paraguai, a denominação foi a de “gaúcho”, cultura também associada à criação de gado.

As imagens criadas do caipira, embora sejam fantasiosas, não são completas “inverdades”. O caipira, tal como o imaginado e difundido por Lobato e, posteriormente, seus sucessores é, na realidade, uma contraposição aguda entre alguém que, na mentalidade de um escritor em plena efervescência das primeiras décadas do século XX, representa o passado agrário da nação, rural, interiorano, retrógrado, e os desejos de se industrializar, urbanizar. A figura do caipira, assim como as do sertanejo, do gaúcho e do caboclo, somente é possível num país no qual sua história se desenvolveu entre dois polos: o litoral, quase que monopolizando o poder e o contato com o restante do mundo, e os interiores, durante muito tempo, isolados nas terras desprovidas da ocupação colonial do europeu.

As regiões compreendidas pelas capitanias de São Paulo (que integrava o Paraná), Mato Grosso (que incluía o atual Mato Grosso do Sul), Goiás (com parcelas do atual Tocantins), as Minas Gerais e os interiores do Rio de Janeiro e Espírito Santo, compõem o que se pode chamar de área cultural caipira.

A formação desse universo cultural e, especificamente, do tipo humano definido como caipira é indissociável do processo de expansão da colonização portuguesa a partir de São Paulo e das atividades econômicas desenvolvidas pelos colonos ao longo dos séculos de atividades nos sertões. O isolamento relativo dos paulistas em sua vila, implantada no meio de uma área densamente ocupada por indígenas, favoreceu a formação

de uma cultura híbrida, que gerava sentimentos bastante paradoxais entre o restante dos colonizadores portugueses. O processo de formação dessa cultura caipira começa já nas características fundamentais da própria cultura estabelecida no planalto paulista, no contato íntimo entre os portugueses e indígenas, principalmente os da etnia Tupiguarani.

Portanto, o que se viu formar no decorrer do tempo foi uma cultura distinta, nem europeia, nem indígena, uma cultura que a partir de certo momento se tornou tão diversa de suas matrizes que não poderia mais ser tratada nem como uma apropriação colonial (como insistiu uma parte da historiografia) nem como uma cafrealização. São nestas questões que reside a singularidade da cultura criada no planalto paulista.

Pela própria geologia das áreas de mineração nas Minas Gerais, Goiás e São Paulo, e também pela ineficiência das técnicas de mineração, a atividade mineradora tendeu a ser de curta duração. As reservas minerais eram descobertas e rapidamente exauridas. Até mesmo nas regiões de Ouro Preto e Vila Rica, a atividade sobreviveu por menos de 100 anos. Aos milhares de mineiros que se deslocaram para essas áreas, lhes restavam somente algumas alternativas quando as jazidas acabavam: buscar novas áreas de mineração, retornar às terras natais, investir os cabedais amealhados durante os anos de atividade mineradora, ou, por fim, juntar o pouco de recurso que sobrara para virar um pequeno produtor rural. É neste ponto que o perfil da cultura caipira começou a surgir. Devido à ausência de capital suficiente para estabelecer unidades agrícolas produtivas de excedente, as que foram possíveis de serem construídas (constantemente chamadas de “sítios”) primaram por sua modéstia e pela produção de subsistência.

A distância do mundo rural para o universo urbano incentivou a união desses grupos (os “caipiras”) para a realização de diversas atividades. Assim, uma carga religiosa, mas também de diversão, de sociabilidade, de elaboração de acordos e estreitamento de laços, como convites para batizados ou apadrinhamentos, se tornaram momentos de grande importância neste universo.

A chamada culinária “caipira” ou “mineira”, com alterações muito sutis, tornou-se um artigo cultural de comercialização. As bases do gosto característico caipira primaram, inicialmente, pelo milho, a mandioca (também herdada das matrizes Tupi), algumas verduras, como a serralha, a couve, o feijão, e frutos como o marmelo e a goiaba, os quais se tornaram famosos por conta da doçaria caipira. A criação de gado leiteiro foi sendo introduzida com o tempo, com destaque para a região do sul de Minas Gerais, e os desdobramentos alimentícios do leite, como os queijos, os doces e a manteiga. Depois, chegaram a cana-de-açúcar, a garapa, o açúcar escuro, a rapadura e as aguardentes, produzidas artesanalmente ainda hoje. As galinhas e os porcos, além da caça, técnica também herdada dos indígenas do planalto paulista, passaram a também integrar a culinária tradicional caipira.

127Paisagens Culturais Paulistas126 Paisagens Culturais Paulistas

Caipira picando fumo quadro de

Almeida Jr de 1893

Poços de CaldasO município de Poços de Caldas é composto por um único distrito e tem como

limites outras oito cidades: Botelhos e Bandeira do Sul (ao Norte); Caldas (a Leste); Andradas (ao Sul); Águas da Prata, São Sebastião da Grama, Caconde e Divinolândia (a Oeste), sendo esses quatro últimos pertencentes ao estado de São Paulo. Desde o início da década de 60, Poços de Caldas apresenta crescimento demográfico significativo. Até 1990, período em que o aumento da população obteve maior intensidade, o número de habitantes cresceu cerca 177%, saltando de 38.843 para 110.123, conforme o Censo Demográfico do IBGE.

O setor industrial de Poços de Caldas passou a ter força no decorrer de 1960, e atividades mais tradicionais do município – como a indústria de refratários, de alimentos (doces, bebidas e carne), confecções de roupas, cristais e das mineradoras pioneiras – passaram a conviver com novos empreendimentos, tais como a mineração de fibras químicas para a indústria têxtil e a fabricação de cabos elétricos de cobre e alumínio. Ainda sim, as culturas do café e batata se mantiveram.

Após a proibição dos cassinos no Brasil, Poços de Caldas passou a ser conhecida como a “cidade dos namorados”, a “cidade das noivas” ou até mesmo a “cidade dos cristais”. Mas, entre as atividades econômicas presentes no município, o turismo talvez seja aquela que melhor traduza a relação estabelecida entre a cidade e o seu patrimônio.

Dentre eles, está a Capela de Santa Cruz, tombada pelo decreto nº 3389/85. Construída no final do século XIX, no morro que faz fronteira à Praça Senador Godoy, a igreja proporcionava, além de seus ritos litúrgicos, a festa de Santa Cruz, uma das mais tradicionais comemorações religiosas de Poços de Caldas realizadas no final de 1800 e nas primeiras décadas do século XX.

Também há no município a Estação Ferroviária Fepasa (Complexo Ferroviário da Antiga Mogiana, incluindo casas funcionais, galpões e demais edificações), que foi inaugurada em 22 de outubro de 1886, em cerimônia que contou com as presenças de D. Pedro II e da Imperatriz D. Tereza Cristina, além da Igreja Santo Antonio. Inicialmente uma capela, construída em 1881, a igreja só levou o nome de Santo Antonio após sucessivas solicitações feitas pela colônia italiana de Poços de Caldas junto ao bispado, já na segunda metade do século XX.

As exigências integravam a vinda de uma imagem do santo, vinda de Pádua, que havia sido trazida para o município, em 1907. A igreja foi remodelada a partir da década de 60, já que sua estrutura apresentava graves problemas. Celebrada em diversas partes do país, a Festa de São Benedito é um dos eventos mais importantes de Poços de Caldas. Após a construção da primeira capela de São

Benedito, em 1905, a festa ganhou força e permanece até hoje. De modo geral, de 1 a 13 de maio são armadas pequenas barracas em torno da igreja, com muitas comidas e bebidas. A programação da festa ainda inclui apresentações de grupos de congos e caiapós e procissões.

As técnicas de fabrico de cristais e de produções artesanais são dois dos patrimônios imateriais de Poços de Caldas. A primeira, cuja origem remonta à Veneza, por volta do século XIII, constituiu pauta atual do Museu Histórico e Geográfico da cidade, que visa tombá-la como patrimônio cultural do município, dado a sua especificidade ante as demais formas de fabrico de vidro artístico, inclusive os italianos. A segunda está centrada na produção de artigos regionais de modo tradicional, tais como farinha de milho, aguardente, doces, queijos, café torrado, biscoitos etc. Esses artigos recuperam antigas práticas culturais relativas à existência de unidades agrícolas de subsistência, típicas do universo cultural caipira.

131Paisagens Culturais Paulistas130 Paisagens Culturais Paulistas

Palace Cassino em Poços de Caldas MGRelógio Natural em Poços de Caldas MG

Produção de Cristais, Cristais São Marcos em Poços de Caldas MG

UHE Água Vermelha Acervo: AES Tietê

Texto e Curadoria de ImagensDra. Erika M. Robrahn-González - Coordenadora Geral do Programa. Historiadora, Antropóloga Social e Arqueóloga.Ms. Marian Rodrigues - ArqueólogaJuliana Welling - Jornalista

RevisãoCléber Mendonça - Bacharel em Letras

Editoração e Arte FinalEduardo Staudt - Gestor de MarketingVinicius Camargo - Designer e Fotógrafo A equipe de desenvolvimento do Programa está especificada nos relatórios encaminhados ao IPHAN, de acordo com a Portaria de Pesquisa publicada no D.O.U.

Equipe AES TietêJose Eduardo Michelin - Gerente de Gestão de ReservatóriosOdemberg Veronez - Coordenador de Condicionantes de LicenciamentosTatiane Cristina Rech - Analista de Meio Ambiente

Design, Editoração e ImpressãoDesign e Editoração - Kilograma Publicidade Ltda. Impressão - Graftec Gráfica LTDA.

Primeira edição / Tiragem: 500 unidades

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AgradecimentosExpressamos nossos agradecimentos às comunidades dos 88 municípios

tratados por este Programa. Sem elas, sua memória e seu apoio constante às equipes, este trabalho certamente não alcançaria seus resultados.

Nossos agradecimentos se estendem às empresas AES Tietê que, com seu constante apoio e estímulo, fizeram com que o Programa abrangesse a totalidade de ações científicas e sociais para pleno atendimento ao Patrimônio Cultural local e às atividades de Educação Patrimonial desenvolvidas.

Espera-se que a geração presente e futura aprecie o trabalho e seus resultados, e os incorpore à Memória Nacional e de seus povos.


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