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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
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MATEMÁTICA X REALIDADE: ECONOMIA FAMILIAR
CAUNETO, Leila Zagueto1
SOUZA, José Ricardo2
RESUMO
O presente material socializa o trabalho desenvolvido com os alunos do 7º ano B e C do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Jardim Porto Alegre – Ensino Fundamental, Médio e Profissional –, utilizando a Modelagem Matemática como tendência e possibilidade de estratégia de ensino-aprendizagem. A proposta de trabalho oportuniza ao educando contextualizar a sua realidade, explorando os conteúdos da disciplina e aproximando a família do ambiente escolar. A Modelagem Matemática tem como pressuposto a problematização de situações do cotidiano, e é por meio desta tendência que trabalhamos a economia familiar e o papel sociocultural da matemática. Concluímos que a modelagem matemática é um recurso metodológico que pode dar mais motivação aos alunos, facilitando a aprendizagem, e que é possível trazer a família para mais perto do contexto escolar.
Palavras-chave: Modelagem Matemática; Porcentagem; Representação Gráfica.
INTRODUÇÃO
É crescente na educação escolar brasileira a necessidade de adoção de
novas ações no que diz respeito à prática docente, pois, no modo como está
sendo conduzida, muito pouco é possível conquistar do imenso leque de
objetivos que a ela são atribuídos. Após mais de 20 anos em sala de aula,
trabalhando com o ensino da matemática, percebo que precisamos
implementar novas práticas pedagógicas com o intuito de que o professor
reveja o conceito segundo o qual exclusivamente por meio de sua ação verbal
conseguirá promover um aprendizado significativo.
1 Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE) –
2014. 2 Professor Doutor do Departamento de Matemática da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste), Câmpus Foz do Iguaçu.
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O ensino da matemática pode passar a ter novo significado, de modo
que o professor precisa elevar o potencial dessa disciplina na formação
intelectual, pessoal e social do aluno, capacitando-o a desenvolver as
condições necessárias para tornar-se um cidadão atuante na esfera social em
que está inserido.
Um ensino baseado apenas na exposição dos conteúdos, sem que haja
atividades diferenciadas que permitam ao aluno interagir de maneira ativa com
a disciplina, pode distanciar a matemática do sentido social, havendo por parte
do educando um posicionamento passivo em relação ao seu aprendizado por
não ter uma noção exata da sua importância como instrumento a ser utilizado
dentro de sua realidade social.
A modelagem matemática é um método de ensino que tem a vantagem
de partir de uma situação-problema que envolve diretamente o educando a fim
de fazê-lo chegar a uma resposta, a um modelo matemático. Rompe com o
antigo sistema que se utiliza de constructos matemáticos prontos e acabados
para almejar-se a uma posterior contextualização.
Desta forma, neste projeto entendemos que houve uma mescla de
Modelagem Matemática com Resolução de Problemas, enriquecendo ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem.
De modo geral, a Educação no Brasil sempre esteve carregada por
valores culturais, religiosos e socioeconômicos que nos trouxeram uma
herança metodológica no campo da matemática difícil de ser transposta. O
modelo de ensino “tradicional”, que, segundo Mizukami (1986), dá ênfase às
situações de sala de aula, onde os alunos são “instruídos” e “ensinados” pelo
professor, os conteúdos e as informações têm de ser adquiridos e os modelos
imitados, há muito não atende às necessidades de uma sociedade tecnológica
e globalizada que busca o acúmulo excessivo de informações que, na maioria
das vezes, não possui relação nem direta nem imediata com o cotidiano dos
estudantes.
Estamos vivendo na era das novas tecnologias, em uma sociedade
bastante dinâmica, e temos que dar sentido ao processo de aprendizagem. O
aluno deve sentir a importância e a necessidade da matemática em sua vida
para, então, tornar-se parte integrante desse processo e ser capaz de fazer
intervenções em seu cotidiano.
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Há a necessidade de propor ações que desafiem e possibilitem o
desenvolvimento das operações mentais para exercitar e mobilizar a
(re)construção dos saberes, proporcionando, desta forma, maiores vivências
durante todo o processo. Deste modo, o educador precisa explorar meios
alternativos para melhorar o processo de ensino-aprendizagem, modificar as
dinâmicas de sala de aula e atuar numa nova perspectiva.
Assim, é imprescindível assumir um papel mais significativo na formação
dos estudantes, oferecendo-lhes muito mais que conceitos, teoremas e
definições, pois a sociedade atual requer pessoas que participem das decisões
da comunidade, com equidade social, consciência política e ambiental. A
matemática, nesse contexto, é instrumento importante de análise e inferência
das/nas questões que perpassam pela complexidade dessa sociedade.
Partindo destas considerações, a proposta deste artigo é demonstrar
como a Modelagem Matemática contribui para a apreensão dos conteúdos
referentes à porcentagem e à representação gráfica, sendo possível, ainda,
solicitar a participação da família, aproximando-a do processo de ensino-
aprendizagem. Segundo as Diretrizes Curriculares de Matemática para a
Educação Básica do Paraná (2008), esse método visa proporcionar aos alunos
maior interesse e, assim, obter melhores resultados na aprendizagem.
O trabalho foi desenvolvido com os alunos do 7º ano B e C do Ensino
Fundamental do Colégio Estadual Jardim Porto Alegre – Ensino Fundamental,
Médio e Profissional –, localizado na cidade de Toledo, Paraná. Por meio de
pesquisa, coletaram-se dados sobre as despesas de cada família dos
estudantes, e trabalhamos porcentagem e representação gráfica relacionando
a matemática aprendida na escola com o seu cotidiano de forma prática,
favorecendo, assim, uma aprendizagem significativa e possibilitando discutir os
aspectos socioeconômicos envolvidos, os quais são importantes para a sua
formação cidadã.
A metodologia empregada proporcionou aulas mais interessantes,
dinâmicas e agradáveis, comprovando-se que a aplicabilidade dos conteúdos
matemáticos em situações do cotidiano possibilita uma maior participação do
aluno na construção do conhecimento.
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1 REVISÃO DE LITERATURA
1.1 A modelagem na história da matemática
A modelagem não é algo novo, ela “é tão antiga quanto à própria
matemática” (MACHADO, 2008, p. 2), pois, desde muito tempo, o homem
procura resolver os problemas de seu cotidiano tendo como ferramenta os
recursos do meio em que vive, tendo de explorá-lo e entendê-lo.
A Modelagem Matemática na Educação Matemática, embora
consolidada em nível internacional desde meados do século XX, se fortaleceu
no Brasil a partir dos anos de 1980 e, de acordo com Biembengut (2009), foi
fundamental no impulso e na consolidação da modelagem a contribuição de
professores como: Aristides C. Barreto, Ubiratan D’ Ambrósio, Rodney C.
Bassanezi, João Frederico Mayer, MarineuzaGazzetta e Eduardo Sebastiani,
os quais iniciaram um movimento pela modelagem no final dos anos 1970 e
início dos anos 1980. Esse fortalecimento nos estudos acerca da Modelagem
Matemática deu origem à criação de eventos específicos com o intuito de
fomentar e aprofundar os debates sobre o tema.
Assim, em novembro de 1999 foi realizada a I Conferência Nacional
sobre Modelagem Matemática (I CNMEM), promovida pelo Programa de Pós-
Graduação em Educação Matemática da Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (UNESP), Câmpus de Rio Claro, com o tema “Modelagem no
Ensino de Matemática”.
1.2 Modelagem matemática
De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001),
modelagem significa “molde”; logo, modelagem matemática significa moldar
alguma situação que está inserida em um contexto a fim de explicar
matematicamente situações que ocorrem no nosso cotidiano.
Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná/Matemática
consta que
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A modelagem matemática tem como pressuposto a problematização de situações do cotidiano. Ao mesmo tempo em que propõe a valorização do aluno no contexto social, procura levantar problemas que sugerem questionamentos sobre situações da vida. (PARANÁ, 2008, p. 64).
A modelagem matemática é um método alternativo que pode ser
representado por meio de imagem, gráfico, projeto, lei matemática. Com esse
método, parte-se de conceitos gerais, focando a importância da matemática no
meio em que vivemos. Segundo Bassanesi (2010),
Modelagem Matemática é um processo dinâmico utilizado para obtenção e validação de modelos matemáticos. É uma forma de abstração e generalização com a finalidade de previsão de tendências. A modelagem consiste, essencialmente, na arte de transformar situações da realidade em problemas matemáticos cujas soluções devem ser interpretadas na linguagem usual. (BASSANESI, 2010, p. 24).
Nas pesquisas científicas, a matemática passou a funcionar como
agente unificador de um mundo racionalizado, sendo uma ferramenta
indispensável para a formulação das teorias fundamentais devido,
principalmente, ao seu poder de síntese e de generalização:
As vantagens do emprego da modelagem em termos de pesquisa podem ser constatadas nos avanços obtidos nos vários campos como a Física, a Química, a Biologia, a Astrofísica entre outros. A modelagem matemática pressupõe multidisciplinariedade. E, nesse sentido, vai ao encontro das novas tendências que apontam para a remoção de fronteiras entre as diversas áreas de pesquisa. (BASSANEZI, 2010, p. 16).
A Modelagem pode ser tomada tanto como um método científico de
pesquisa, como uma estratégia de ensino e de aprendizagem. Em diversas
ciências, os modelos matemáticos são partes essenciais das teorias e/ou dos
modelos científicos. Para Barbosa (2003)
A Modelagem Matemática pode potencializar a intervenção das pessoas nos debates e nas tomadas de decisões sociais que envolvem aplicações da matemática, o que me parece ser uma contribuição para alargar as possibilidades de construção e
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consolidação de sociedades mais democráticas. (BARBOSA, 2003, s/p).
1.3 A Modelagem matemática no processo de ensino-aprendizagem
Atualmente, a Modelagem se configura como um método científico
bastante usado pelas ciências naturais, como a Física, a Astrofísica, a Química
e a Biologia, cujos avanços em termos de pesquisa podem ser comprovados
nas últimas décadas. Barbosa (2009) afirma que,
Ao mover os modelos para a prática pedagógica, há um processo de seleção sobre o que mover e como. Não se trata apenas de um ‘tratamento pedagógico’ para que os alunos possam acessar os conceitos científicos, mas de refocalização em termos dos discursos já constituídos na prática Pedagógica. (BARBOSA, 2009, p. 73).
Os argumentos apontados por Barbosa (2009) vão ao encontro do que
Bernstein (2000) chama de recontextualização pedagógica. Segundo o autor, a
recontextualização é operada para atender a lógica das práticas pedagógicas.
Já Bassanezi (2010) afirma que
Quando se procura refletir sobre uma porção da realidade, na tentativa de explicar, de entender ou de agir sobre ela, o processo usual é selecionar no sistema argumentos ou parâmetros considerados essenciais e formalizá-los através de um sistema artificial: o modelo. (BASSANEZI, 2010, p.19).
Segundo Burak (1992, p.62) a modelagem matemática “[...] constitui-se
um conjunto de procedimentos cujo objetivo é construir um paralelo para tentar
explicar, matematicamente, os fenômenos presentes no cotidiano do ser
humano, ajudando-o a fazer predições e tomar decisões”.
Barbosa (2003, s/p) descreve que a “Modelagem Matemática é
entendida, em termos genéricos, como a aplicação de matemáticas em outras
áreas do conhecimento”. Ainda segundo o autor,
Muito se tem discutido sobre as razões para a inclusão de
Modelagem no currículo (BLUM, 1995). Em geral, são
apresentados cinco argumentos:
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- Motivação: os alunos sentir-se-iam mais estimulados para o
estudo de matemática, já que vislumbrariam a aplicabilidade do
que estudam na escola;
- Facilitação da aprendizagem: os alunos teriam mais facilidade
em compreender as ideias matemáticas, já que poderiam
conectá-las a outros assuntos;
- Preparação para utilizar a matemática em diferentes áreas: os
alunos teriam a oportunidade de desenvolver a capacidade de
aplicar matemática em diversas situações, o que é desejável
para moverem-se no dia-a-dia e no mundo do trabalho;
- Desenvolvimento de habilidades gerais de exploração: os
alunos desenvolveriam habilidades gerais de investigação;
- Compreensão do papel sociocultural da matemática: os
alunos analisariam como a matemática é usada nas práticas
sociais. (BARBOSA, 2003, s/p).
Barbosa (2003) afirma também que o ambiente da Modelagem está
associado à problematização e à investigação. A primeira refere-se ao ato de
criar perguntas e/ou problemas, enquanto a segunda refere-se à busca,
seleção, organização e manipulação de informações e reflexão sobre elas.
Ambas as atividades não são separadas, mas articuladas no processo de
envolvimento dos alunos para abordar a atividade proposta. Nela, podem-se
levantar questões e realizar investigações que atingem o âmbito do
conhecimento reflexivo. Segundo Barbosa (2001, p. 6), “Modelagem é um
ambiente no qual os alunos são convidados a problematizar e investigar, por
meio da matemática, situações com referência na realidade”.
A ideia da modelagem é mostrar ao aluno a parte prática da
matemática, o significado que ela realmente tem em nossas vidas,
assegurando ao aluno uma formação sólida acerca daquele assunto
matemático, capacitando-o a enfrentar e solucionar outros problemas.
Bassanezi (2010, p. 16), de forma muito prática e concisa, afirma que a
modelagem matemática “[...] consiste na arte de transformar problemas da
realidade em problemas matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções
na linguagem do mundo real”.
A ‘realidade’ é o ponto de partida do processo de modelagem, o qual
pode motivar o estudo da própria matemática e auxiliar a aquisição de
conhecimentos acerca de seus conceitos e métodos, além de ser uma
atividade que pressupõe interdisciplinaridade. Para Bassanezi (2010),
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A Modelagem no ensino é apenas uma estratégia de aprendizagem, onde o mais importante não é chegar imediatamente a um modelo bem sucedido mas, caminha seguindo etapas onde o conteúdo matemático vai sendo sistematizado e aplicado. Com a modelagem o processo de ensino e de aprendizagem não mais se dá no sentido único do professor para o aluno, mas como resultado da interação do aluno com seu ambiente natural. (BASSANEZI, 2010, p. 38).
O importante na Modelagem Matemática é o processo utilizado, a
análise crítica e sua inserção no contexto sociocultural. O fenômeno modelado
deve servir de pano de fundo ou de motivação para o aprendizado das técnicas
e conteúdos da própria matemática.
Ao trabalhar a modelagem matemática no contexto escolar vemos que
esta “[...] possibilita a intervenção do estudante nos problemas reais do meio
social e cultural em que vive, por isso, contribui para sua formação crítica [...]”
(PARANÁ, 2008, p. 65). Portanto, conforme Bassanezi (2010),
No ensino da Matemática é necessário buscar estratégias alternativas de ensino e de aprendizagem que facilitem sua compreensão e utilização. A Modelagem Matemática, em seus vários aspectos, é um processo que alia teoria e prática, motiva seus usuários na procura de entendimento da realidade que o cerca e na busca de meios para agir sobre ela e transformá-la. Nesse sentido, é também um método científico que ajuda a preparar o indivíduo para assumir seu papel de cidadão. (BASSANEZI, 2010, p. 17).
Enfim, com base nos apontamentos feitos pelos autores citados,
acreditamos que a Modelagem Matemática possibilita o desenvolvimento das
atividades as quais pretendemos realizar, pois leva o aluno a compreender o
papel sociocultural da matemática e possibilita aos educandos maior
significação do processo de ensino-aprendizagem na escola, tornando as aulas
prazerosas e interessantes.
2 METODOLOGIA
A partir das inquietações em relação às formas de tornar o ensino da
matemática mais prazeroso e significativo, buscamos implementar a
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modelagem matemática como tendência metodológica, e avaliamos de que
forma a postura do professor pode influenciar e favorecer a aquisição de
conhecimentos matemáticos, valendo-se de situações reais como instrumento
de intervenção, integrando a família neste processo por meio de sua
participação.
Inicialmente foi feita a apresentação desse projeto à comunidade
escolar, aos agentes educacionais I e II, à direção, à equipe pedagógica, bem
como aos professores e alunos do 7º ano B e C do ensino fundamental. O
tema foi sugerido pelo professor que incentivou os alunos a participar.
Destacou-se, neste momento, a importância e a necessidade de dar sentido à
construção do saber, e de que forma esse trabalho poderia contribuir para o
efetivo aprendizado de vários conteúdos, para a compreensão da economia
familiar no processo de ensino e aprendizagem e, consequentemente, para a
adoção de uma nova postura em sua prática social.
Os alunos do 7º ano B e C assistiram ao vídeo Como gerir um orçamento
familiar, o qual foi passado aos educandos com o objetivo de incentivá-los à
participação e ao desenvolvimento do projeto, e também para fundamentar a
discussão a respeito do tema. Após uma série de apontamento sobre cada
etapa deste trabalho, os alunos receberam uma carta informativa para entregar
aos pais e/ou responsáveis para que estes tomassem ciência da realização do
projeto.
A etapa seguinte foi a construção em sala de aula de uma tabela sobre as
despesas familiares, fato que desencadeou uma série de discussões acerca
das inúmeras despesas existentes, bem como das diferenças entre os vários
núcleos familiares. A tabela foi levada para casa e preenchida juntamente com
a família.
Os alunos relataram que seus pais e/ou responsáveis aprovaram a ideia
e a iniciativa do projeto, e consideraram o assunto muito importante e
necessário, e que os filhos já possuem maturidade para compreender e
colaborar no controle de várias despesas da família.
De posse da tabela devidamente preenchida, o próximo passo foi
discutir as diferentes formas de se representar os dados coletados e, de
comum acordo, passamos para os cálculos de porcentagem, e depois para a
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representação em graus, seguida da construção do gráfico de setores para
ilustrar a situação apresentada.
Nesta etapa, foram abordados diversos conteúdos (média, razão,
porcentagem, arredondamento, operações com números decimais, tipos de
gráficos, circunferência, raio, diâmetro, ângulos, graus e medidas) necessários
para o desenvolvimento do projeto. Os alunos desenvolveram suas atividades
sempre em duplas e, mesmo cada um tendo seus próprios dados, observamos
que houve muita participação e colaboração na realização dos cálculos. Após
concluírem suas tarefas os alunos auxiliavam seus colegas de equipe e
também outras duplas a terminarem as atividades propostas.
A próxima atividade foi igualmente interessante e prazerosa: consistiu na
reconstrução do gráfico já elaborado em sala de aula, mas agora com o auxílio
dos recursos tecnológicos, no laboratório de informática. É possível afirmar que
os alunos adoraram o trabalho com a informática, e também a rapidez com que
concluíram as atividades. Observamos que a grande maioria dos alunos já
dominam os conceitos básicos utilizados no laboratório de informática, e estes
ajudaram os colegas que apresentaram dificuldades.
Concluindo o projeto, e de posse das atividades desenvolvidas (planilha
e gráficos), fizemos em sala de aula a análise e discussão dos resultados
alcançados na execução do projeto. Assistimos, também, a um vídeo sobre
"Economia Doméstica", o qual acrescentou mais argumentos à nossa
discussão.
Vários assuntos foram abordados, o que tornou o momento muito
enriquecedor: objetivos do projeto; participação da família; participação dos
estudantes na economia de sua casa; controle de gastos; formas de
economizar; maior despesa das famílias; armadilhas do consumo e da mídia;
vantagens do uso das tecnologias; importância do planejamento para efetuar
gastos e a necessidade da reserva financeira.
Finalmente, os alunos foram orientados a compartilhar com suas famílias
as atividades desenvolvidas, os conhecimentos adquiridos e os temas
debatidos, apresentando, no final da discussão, um questionário avaliativo para
ser preenchido pelo responsável, de forma que pudéssemos acompanhar a
realização deste trabalho.
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Os depoimentos dos responsáveis foram gratificantes, e, por esta razão,
queremos compartilhar alguns deles:
O projeto de usar a matemática dentro de cada realidade foi ótimo. Fez com que o aluno buscasse dados, desenvolvendo o interesse pelos gastos de casa e, ainda, trabalhasse a porcentagem de maneira diferente para o aprendizado. Parabéns. (Depoimento 1). O projeto fez a família pensar nas despesas e refletir. Aos alunos, fez com que aprendessem a ter planejamento, organização e a não exagerar nos gastos. Espero ver um bom resultado daqui a alguns anos. (Depoimento 2). Muito bom e importante esse projeto; é disso que os alunos precisam, uma matemática do dia a dia. Aproveito para te parabenizar e continue! (Depoimento 3). Eu achei muito importante pra ele e pra nós saber onde estamos gastando mais; a gente nunca tinha calculado e está servindo de exemplo, porque colocamos tudo no papel e, assim, sabemos onde precisamos mudar e economizar. (Depoimento 4). Achei muito bom o projeto, pois colaborou com o interesse dele nas despesas familiares e a entender que um bom planejamento evita que se gaste mais do que se ganha, e ensinar as crianças desde cedo a fazer isso é bom. (Depoimento 5)3.
Quanto aos alunos, estes relataram em seu questionário avaliativo ser
interessante ver o quanto a família gasta mensalmente e poder colaborar para
o planejamento mensal. Todos perceberam a importância dos conteúdos
curriculares para o desenvolvimento das atividades e relataram ter gostado das
atividades de construção do gráfico em sala e no laboratório de informática.
Concluindo, os estudantes citaram que o projeto foi válido e importante para
que compreendessem que não é fácil comprar tudo o que eles desejam, que é
necessário trabalhar para conquistar os bens e que é fundamental economizar
e reduzir os gastos, pensando no futuro. Por fim, relataram ser legal a família
saber o que estão estudando na escola.
Observamos o envolvimento e a cooperação de todos os estudantes,
pois tinham consciência de que cada etapa era pré-requisito para podermos
3 Todos os depoimentos foram coletados por meio da aplicação de um questionário avaliativo,
o qual foi entregue pelos educandos a seus responsáveis.
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avançar para a seguinte. Isso nos surpreendeu, pois os estudantes tinham
grande interesse em realizar suas atividades, de acordo com uma realidade só
sua.
Entre as dificuldades encontradas, constatamos que o tempo planejado,
nem sempre foi suficiente para a realização das atividades, pois, como cada
aluno dispunha de dados próprios, muitas vezes a orientação e o
acompanhamento do professor tinham que ser individualizados, o que exigia
mais tempo.
Percebemos, também, que o fato da família ter contribuído e participado
serviu de motivação para o desenvolvimento das atividades. A adesão da
família ao projeto nos surpreendeu, pois não esperávamos a participação da
forma como aconteceu. Houve união e parceria dos responsáveis, alunos e a
escola, e todos saíram ganhando no final, de modo que ficamos comovidos e
realizados com o retorno dos responsáveis, bem como com o envolvimento dos
estudantes com sua vida em família, sendo possível perceber neles
amadurecimento e conscientização a respeito dos problemas sociais. Enfim,
constatamos que a receptividade por parte dos estudantes e suas famílias foi
muito boa, sendo possível notar que a metodologia proposta transformou o
ambiente de sala de aula, tornando-o mais dinâmico e participativo.
Destacamos, também, que, durante a implementação da produção
didático pedagógica fazendo-se uso da Modelagem Matemática, os estudantes
coletaram informações, manipularam dados reais, vivenciaram situações do
seu cotidiano, efetuaram uma série de cálculos e interpretaram problemas
inerentes à economia familiar, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do
pensamento crítico e reflexivo através da construção do saber.
3 ESPAÇO VIRTUAL – GTR: INTERAÇÃO DO PROJETO DE
INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA COM PROFESSORES DA REDE ESTADUAL
DE ENSINO
O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) constitui uma das atividades do
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e caracteriza-se pela
interação à distância entre o Professor PDE e demais professores da Rede
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Pública Estadual, cujo objetivo é a socialização e discussão das produções e
atividades desenvolvidas.
A estrutura do GTR foi composta por três módulos, a saber:
Módulo 1 – Aprofundamento teórico: objetivou realizar o
aprofundamento teórico sobre o tema de pesquisa adotado pelo
professor PDE;
Módulo 2 – Projeto de intervenção pedagógica na escola e produção
didático-pedagógica: objetivou socializar o conteúdo das produções já
elaboradas pelo professor PDE (o projeto de intervenção pedagógica na
escola e a produção didático-pedagógica) e refletir sobre ele;
Módulo 3 – Implementação do projeto de intervenção pedagógica na
escola: objetivou discutir as ações de implementação do projeto de
intervenção pedagógica na escola e a utilização da produção didático-
pedagógica na escola, evidenciando limites e possibilidades.
As atividades desenvolvidas no GTR foram altamente enriquecedoras,
pois os participantes interagiram e contribuíram com novas ideias e sugestões
de aplicabilidade do projeto.
Os professores participantes relataram que o projeto é viável não
somente na situação apresentada, pois pode ser adaptado a diversos outros
conteúdos, e também ao ensino médio.
As contribuições foram muitas; dentre elas destacamos:
Sugestões de links de artigos sobre Modelagem Matemática;
Crítica, análise e discussão sobre como podemos escolher o tema do
projeto sobre Modelagem;
Formas de se contextualizar e aplicar o projeto nas mais diferentes
realidades;
Apontamentos de materiais didáticos (áudios, vídeos, imagens etc.)
disponíveis na web;
Sugestões de novos encaminhamentos para atividades propostas;
Compartilhamento de planos de trabalho e novas possibilidades de
pesquisa.
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Enfim, foi muito intensa a troca de experiências, e extremamente positiva
a participação neste GTR, o qual acrescentou mais conhecimentos e
estratégias ao projeto, evidenciando versatilidade no seu desenvolvimento.
Foi muito boa a sensação de ter feito algo que, de alguma forma,
colaborou para a reflexão do trabalho do professor em sala de aula.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, procuramos abordar a Modelagem Matemática como
uma possibilidade metodológica para o processo de ensino-aprendizagem da
disciplina de matemática, visando à aquisição de conhecimentos matemáticos
em situações-problema reais. Vimos que as aulas se tornaram mais
interessantes e dinâmicas, motivando o estudante a participar e interagir com
seus colegas e suas famílias, assumindo um papel mais ativo na análise e
discussão da economia familiar. Percebemos, também, que, associada à
resolução de problemas, a Modelagem Matemática permite um amplo leque de
assuntos e temas transversais a serem abordados, o que leva a formação
integral do aluno e a preparação para a cidadania.
Porém, entendemos que essa tendência em educação matemática
necessita de planejamento para a sua prática, devendo se tornar frequente no
ambiente escolar; ou seja, deve, pois, fazer parte do cotidiano dos professores
e alunos para que se possa explorar todo o seu potencial.
Concluímos, também, que, quando solicitada e devidamente informada
sobre as atividades escolares, a família constitui-se forte aliada na construção
do processo de ensino-aprendizagem.
REFERÊNCIAS
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