Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O Ensino da Língua Inglesa na EJA em uma perspectiva crítica dos
novos letramentos
Autora: Paula Regina Perini Piffer1
Orientadora: Regina Celia Halu2
Resumo
O desenvolvimento do projeto Ensino da Língua Inglesa na EJA em uma perspectiva crítica dos novos letramentos ocorreu no Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos Ulysses Guimarães, no município de Colombo – PR, com alunos da EJA fase II individual (Ensino Fundamental de 6º ao 9º ano), durante o primeiro semestre do ano letivo de 2014. O objetivo foi utilizar, assimilar e empregar a tecnologia como instrumento para a construção do conhecimento e auxílio no aprendizado da Língua Inglesa, tendo o embasamento nos multiletramentos. Fundamentou-se o trabalho subsidiado pelos trabalhos de Moran e Rojo. O material elaborado para a aplicação foi dividido em quatro etapas para facilitar a assimilação: “Let's watch!”, “Let's read now!”, “Let's check it!” e “Let's practise!”. A aprendizagem da língua foi apoiada com sucesso pela ação motivadora de empregar na aula os recursos tecnológicos com embasamento pedagógico adequado.
Palavras-chave: multiletramentos; ensino de língua inglesa; tecnologia.
Abstract
The implementation of the project Teaching English for YAE (Youth and Adults Edcuation), under a critical perspective of the new literacies, took place at Ulysses Guimarães State Center for the Basic Education of Youth and Adults, in Colombo – PR, involving YAE students attending phase II individual (Fundamental School, 6th to 9th years), during the first semester of 2014. Its aim was to use and assimilate technology as a tool for knowledge building and a support for English learning, having as a basis the studies on multi and new literacies. Moran and Rojo offered the theoretical support for the research. The material developed was presented in four stages in order to facilitate assimilation: “Let's watch!”, “Let's read now!”, “Let's check it!” and “Let's practise!” English learning was successfully supported by the motivating and pedagogically based use of technological resources in the classroom.
Key words: multiliteracies; English teaching; technology
1 Licenciada em Letras pela Universidade Paranaense - UNIPAR, Especialista em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e em Educação Especial, atua como professora da disciplina de língua inglesa no CEEBJA Ulysses Guimarães, em Colombo, [email protected].
2 Doutora em Letras pela UFPR, professora adjunta na UFPR, atuando na área de língua inglesa, [email protected].
Introdução
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN n. 9394/96), em
seu artigo 37, prescreve que ‘’a Educação de Jovens e Adultos será destinada
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental
e Médio na idade própria’’ (BRASIL, 1996). É característica dessa Modalidade de
Ensino a diversidade do perfil dos educandos, com relação à idade, ao nível de
escolarização em que se encontram à situação socioeconômica e cultural, às
ocupações e à motivação pela qual procuram a escola. O universo da EJA
contempla diferentes culturas que devem ser priorizadas na construção das
diretrizes educacionais.
Assegurado o direito ao estudo, independentemente da idade em que seja
concluído, o compromisso social em que os alunos desta modalidade de ensino
apresentam é concretamente amplo. Podem exercer com afinco sua cidadania,
auxiliando com sua diversidade cultural sua própria comunidade, estimulando os
demais a vivenciar seus letramentos e aguçá-los, tendo em vista o conhecimento
escolar, onde podem transformar seus saberes em conhecimentos.
O aluno, ao ingressar na escola, já traz consigo um conhecimento
sociocultural abrangente da leitura do mundo; porém, nesta instituição aperfeiçoa os
saberes com as diversas formas de leitura e interpretação no decorrer do Ensino
Fundamental e Médio. Ao desenvolver as atividades na escola, há um
aprofundamento teórico e metodológico para que o aluno possa assimilar os
multiletramentos que estão presentes no cotidiano e desenvolver uma criticidade
que possibilite desmembrar conceitos implícitos em diferentes textos, como o
conhecimento multissemiótico que envolve a era digital.
Deve-se ressaltar que é de grande importância na EJA o trabalho com a
tecnologia, principalmente, o uso do computador, pois muitos alunos ainda
apresentam dificuldades em desenvolver o uso da máquina e seu vocabulário em
inglês que está tão presente nesta tecnologia de informação. De outro ângulo, temos
a facilidade de manuseio que outros jovens possuem por estar em contato diário
com o celular e/ou vídeo game, onde se estabelece certa aproximação com a Língua
Inglesa, uma vez que nestes ambientes já se deparam com esta língua.
A escola deve se esforçar para acompanhar as mudanças, os professores
tendem a fazer uso de novidades para atrair seu público e a sociedade contribui
para que o ensino torne-se cada vez mais interessante ao educando. Neste aspecto,
Perrenoud (2000, p.139) ressalta:
As novas tecnologias podem reforçar a contribuição dos trabalhos pedagógicos e didáticos contemporâneos, pois permitem que sejam criadas situações de aprendizagem ricas, complexas e diversificadas que ajudarão na formação dos alunos.
Nota-se a necessidade de que os estudantes percebam a aprendizagem de
forma prazerosa, sem ter aquela preocupação exacerbada com a utilização da
gramática formal. A parte gramatical vai sendo construída ao aprender a escrever e
falar as frases. O professor, estando receptivo às necessidades e expectativas de
seus alunos, não deixará de continuamente investigar possibilidades de inovar as
atividades trabalhadas em sala, tomar atitudes e escolher procedimentos para levar
à sala de aula uma prática docente que proporcione aos alunos maior exposição e
experiências mais significativas no idioma estrangeiro. Ele vai ser um mediador, que
estará ali para ajudar a tirar dúvidas, mostrando a estrutura formal, ajudando o aluno
a aperfeiçoar-se com seus próprios erros e acertos. Este conceito é reforçado por
Figueiredo (1997, p.11): “[o]s erros fazem parte da evolução da aprendizagem do
aluno. Os erros devem ser vistos como algo positivo e significativo, pois refletem
estratégias utilizadas pelos alunos para chegar à proficiência na língua-alvo”. Tendo
o aluno a capacidade de analisar criticamente o seu nível de aprendizagem com o
desenvolvimento das atividades, podemos afirmar que está atingindo o seu objetivo,
que é aprender com qualidade.
O fator determinante quanto aos alunos da EJA é que sentem dificuldades em
aprender esta língua por terem idade avançada. Reclamam que não tem mais
paciência para aprender “isso” e que não conseguem pronunciar corretamente as
palavras. É preciso motivar esses estudantes e levantar a autoestima deles,
mostrando que são capazes, pois a idade não é fator tão relevante quando a pessoa
sente-se motivada a aprender determinado assunto. Como observam Mollica e Leal
(2009, p.7): “[...] os jovens e os adultos possuem saberes prévios, inatos e intuitivos,
nos contextos em que estão inseridos e na cultura marcadamente letrada [...]”.
Também de acordo com Pacheco (2013) “[...] a melhor idade é a idade de cada qual,
o processo do letramento é um processo de inclusão, aprender é desejo e esforço
[...]”. Entretanto, as oportunidades para a aprendizagem, a motivação para aprender,
e as diferenças individuais são também fatores determinantes para o sucesso na
aprendizagem (FIGUEIREDO, 1997).
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná propõem que o ensino da
Língua Inglesa na Educação Básica parte do papel do ensino de línguas na
sociedade como mais do que meros meios de acesso à informação, este ensino é
considerado como possibilidade de conhecer, expressar e transformar modos de
compreender o mundo e de construir novos significados.
Também se destacam as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná quanto
ao ensino da Educação de Jovens e Adultos, que permitem aos estudantes uma
construção de conhecimento de forma não padronizada, respeitando o ritmo de cada
um no processo de apropriação dos saberes além de organizar o tempo ao estudo
de acordo com as demandas de trabalho, uma vez que a maioria dos alunos desta
modalidade é adulta e trabalhadora.
Definindo Educação de Jovens e Adultos
A busca pela ampliação do atendimento à escolarização da população jovem
e adulta pelos sistemas estaduais se vincula às conquistas legais referendadas pela
Constituição Federal de 1988, na qual a Educação de Jovens e Adultos passou a ser
reconhecida como modalidade específica da educação básica, no conjunto das
políticas educacionais brasileiras, estabelecendo-se o direito à educação gratuita
para todos os indivíduos, inclusive aos que a ela não tiveram acesso na denominada
idade própria.
Conforme a Declaração Mundial de Educação para Todos (UNICEF, 1991),
no início da década de 90, mais de um terço dos adultos no mundo não tinham
acesso ao conhecimento impresso e às habilidades tecnológicas que poderiam
melhorar sua qualidade de vida e permitir que se adaptassem às mudanças sociais
e culturais; e mais de 100 milhões de crianças e incontáveis adultos, ainda segundo
a Declaração, não conseguiam concluir o ciclo básico, e outros milhões, apesar de
concluí-lo, não conseguiam adquirir conhecimentos e habilidades essenciais.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA), enquanto modalidade educacional
que atende a educandos-trabalhadores, tem como finalidades e objetivos o
compromisso com a formação humana e com o acesso à cultura geral, de modo que
os educandos aprimorem sua consciência crítica, e adotem atitudes éticas e
compromisso político, para o desenvolvimento da sua autonomia intelectual. O papel
fundamental da construção curricular para a formação dos educandos desta
modalidade de ensino é fornecer subsídios para que se afirmem como sujeitos
ativos, críticos, criativos e democráticos. Tendo em vista esta função, a educação
deve voltar-se a uma formação na qual os educandos possam: aprender
permanentemente; refletir de modo crítico; agir com responsabilidade individual e
coletiva; participar do trabalho e da vida coletiva; comportar-se de forma solidária;
acompanhar a dinamicidade das mudanças sociais; enfrentar problemas novos
construindo soluções originais com agilidade e rapidez, a partir do uso
metodologicamente adequado de conhecimentos científicos, tecnológicos e sócios
históricos (PARANÁ, 2008).
Os letramentos e os multiletramentos
A educação constitui-se num processo ininterrupto do ser humano desde seu
nascimento e, a cada momento que se vive, se ampliam as vivências e novas
experiências se desenvolvem para este processo. Assim se inserem os novos
conceitos de letramentos.
De acordo com Rojo, o letramento apresenta-se como um processo em que o
ensino da leitura e da escrita acontece dentro de um contexto social e que essa
aprendizagem faça parte da vida dos alunos efetivamente. A autora conceitua como
“um conjunto muito diversificado de práticas sociais situadas que envolvem sistemas
de signos, como a escrita ou outras modalidades de linguagem, para gerar sentidos”
(ROJO, 2009, p.10).
O letramento social é aquele construído com a vivência na sociedade em sua
forma geral (igreja, família, instituições de ensino e convívio social). Rojo relembra
que as práticas sociais de leitura e de escrita estão presentes na vida cotidiana de
praticamente toda a sociedade:
Ler um livro para a escola; pegar o ônibus correto para casa ou para ir a um determinado lugar; orientar-se pelas placas quando está dirigindo; ler a bula de um remédio; fazer de conta que lê uma história, mesmo que ainda não seja alfabetizado; compor uma música com os amigos; ler o resumo das novelas na revista; fazer uma lista de compras, etc. Todas essas atividades constituem formas de utilização social da leitura e da escrita, sendo assim práticas de letramento. (ROJO, 2009, p.98)
Já, o letramento cultural ou escolar é um conjunto de práticas sociais de
leitura e de escrita. São situações em que a leitura e a escrita constituem parte
essencial para fazer sentido à situação de ensinar, de aprender, de saber conviver
tanto em relação à interação entre os participantes como em relação aos processos
e estratégias interpretativas do ensino e da aprendizagem da comunidade escolar.
Nesta perspectiva Rojo (2004, p.8) informa que:
[...] a escola e a educação básica são lugares sociais de ensino-aprendizagem de conhecimento acumulado pela humanidade – informações, indicações, regras, modelos– mas também, e fundamentalmente, de formação do sujeito social, de construção da ética e da moral, de circulação das ideologias. “Falar na formação do leitor cidadão é justamente não olhar só uma das faces desta moeda; é permitir a nossos alunos a confiança na possibilidade e as capacidades necessárias ao exercício pleno da compreensão.”
Com relação aos multiletramentos, esses consistem na prática do
desenvolvimento de outras habilidades de leitura e escrita, pela inserção das novas
tecnologias, pois combinam imagens, áudio, cores e links, explicitando esses novos
significados, embasado, principalmente, nos trabalhos de Rojo (2009), que ressalta
os letramentos múltiplos, mediante a diversidade de práticas culturais e sociais de
leitura e escrita que se fazem presentes na sociedade atual. Ainda neste contexto,
Rojo (2012, p. 95) enfatiza:
“(...) esses textos invadem o cotidiano dos alunos, leitores e escritores, e exigem a aquisição e o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita, conforme as modalidades e semioses utilizadas, ampliando, como estamos vendo, a noção de letramentos para multiletramentos.”
Desenvolver o uso das diversas tecnologias juntamente com o prazer de
aprender uma nova linguagem – inclui as línguas, mas também outras formas de
linguagem, como as não verbais (musical, visual, midiática, etc.) - por meio de
atividades lúdicas onde estas motivam o interesse faz com que o aluno amplie o seu
aprendizado, visto que o aluno de EJA muitas vezes apresenta certa defasagem de
aprendizado pelo afastamento em seus estudos.
É necessário demonstrar, por exemplo, sua importância como um requisito
cada vez mais indispensável à obtenção de uma vaga para o trabalho. Hoje em dia,
um profissional precisa adquirir conhecimentos definidos para destacar-se dos
demais e ser considerado qualificado para ingressar numa carreira. Sendo assim,
não faz sentido deixar os alunos da EJA limitados. É imprescindível demonstrar a
eles o quanto a aquisição da Língua Inglesa faz a diferença para o currículo, pois,
com a globalização essa língua ganhou status mundial.
Na perspectiva de Moran (1999, p. 05),
(...) educar em ambientes virtuais exige mais dedicação do professor, mais tempo de preparação ao menos nesta primeira fase - e principalmente de acompanhamento, mas para os alunos há um ganho grande de personalização da aprendizagem, de adaptação ao seu ritmo de vida, principalmente na fase adulta.
Ainda com o pensamento de Moran (2000, p.02):
A construção do conhecimento, a partir do processamento multimídia é mais livre, menos rígida, com maior abertura, passa pelo sensorial, emocional e pelo racional; uma organização provisória que se modifica com facilidade. Convivemos com essas diferentes formas de processamento da informação e dependendo da bagagem cultural, da idade e dos objetivos, predominará o processamento sequencial, o hipertextual ou o multimídico.
Mesmo com a disponibilidade de diferenciados recursos para desenvolver as
ações metodológicas em sala de aula, ainda cabe ao professor administrar sua
prática de maneira eficaz com o auxílio das TICs e demais recursos. Pois Moran
(2000, p.02) ressalta:
Tornamo-nos cada vez mais dependentes do sensorial. É bom, mas muitos não partem do sensorial para voos mais ricos, mais abertos, inovadores. Muitos dados e informações não significam necessariamente mais e melhor conhecimento. O conhecimento torna-se produtivo se o integrarmos em uma visão ética pessoal, transformando-o em sabedoria, em saber pensar para agir melhor.
É preciso lembrar sempre que, ao ministrar uma aula o professor deve se
preocupar com o conteúdo, mas que este seja aproveitado pelo educando em sua
prática, extrapolando a concepção de escolar e voltando-se para a visão do social,
desta forma concretiza-se a ação do ensinar e do aprender.
A implementação e as práticas na Escola
Quando nos defrontamos com a necessidade de melhorar e inovar nossa
prática cotidiana na escola, devemos, como primeiro passo, partir da análise e da
compreensão daquilo que efetivamente "fazemos" em sala de aula. Somente a partir
do reconhecimento das nossas ações, reais e concretas, é que podemos iniciar um
processo de transformação e renovação educativa.
Implementar o Ensino da Língua Inglesa na EJA em uma perspectiva crítica
dos novos letramentos no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e
Adultos (CEEBJA) se mostrou uma tarefa inovadora e motivadora. Existiam grandes
dificuldades quanto à participação e o envolvimento dos alunos nas atividades
durante a aula, pois havia alunos de diferentes faixas etárias o que não estabelecia
um interesse comum. Com a implantação de atividades diferenciadas no projeto e,
principalmente, com o uso dos recursos tecnológicos como instrumentos de
aprendizagem o estímulo foi gerando um interesse comunitário independente da
idade do aluno.
Como na turma havia alunos do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e
Ensino Médio (1º ao 3º ano) houve, após a explanação do projeto à turma, um
interesse geral na participação, pois ao comunicar que os meios que seriam
empregados para a realização das atividades eram as ferramentas tecnológicas, os
alunos adolescentes ficaram alvoroçados e os adultos ficaram aborrecidos, pois
muitos desses últimos não faziam uso de computadores e, desta forma, pensaram
que não conseguiriam aprender.
Uma surpresa em relação aos jovens que já faziam uso de celulares com
acesso à internet foi verificar que não possuíam conhecimentos básicos quanto ao
uso desta ferramenta em computadores. Ou seja, usavam o Facebook para saber
das novidades com os colegas, mas não sabiam utilizar um computador e suas
ferramentas em prol da comunicação. E-mail como meio de transmitir
conhecimentos e comunicação foi uma surpresa geral entre os adolescentes.
Com os adultos que não utilizavam esta ferramenta em seu cotidiano,
também houve uma surpresa. A princípio ficaram com receio de empregar a
tecnologia a favor da aprendizagem da língua inglesa, pois não faziam uso deste
recurso nem para uso pessoal, mas dominaram completamente a assimilação dos
conteúdos da língua e também o uso das ferramentas tecnológicas como meio de
comunicação.
Implementação do projeto
As atividades ocorreram por meio de uma proposta curricular da disciplina de
Língua Inglesa, e também por intermédio da adesão voluntária dos alunos, pois foi
explanado o projeto à turma e, somente aqueles que se interessaram, optaram por
realizar as atividades propostas. Para tanto, além dos conteúdos trabalhados
relacionados à disciplina e aos novos letramentos, essenciais para o
desenvolvimento de uma percepção integrada no meio social, os alunos foram
orientados na estrutura do projeto quanto ao uso das ferramentas tecnológicas como
subsídios de apoio à construção dos novos conhecimentos necessários para o
entendimento dos conceitos que seriam abordados no decorrer do processo, através
de encontros presenciais e via e-mail, exposições de trabalhos realizados, atividades
lúdicas, observações de vídeos, entre outros.
O sucesso das atividades extraescolares ocorreu, em grande parte, da
convicção, do entusiasmo e da organização que os alunos conseguiram conferir a
este trabalho.
Com intuito de ilustrar algumas práticas do Ensino da Língua Inglesa na EJA
em uma perspectiva crítica dos novos letramentos, serão apresentados a seguir
alguns exemplos de experiências realizadas no CEEBJA Ulysses Guimarães, no 2º
semestre do ano letivo de 2013 e no 1º semestre do ano letivo de 2014:
A. Perfil socioambiental – “Análise do interesse pelas ferramentas
tecnológicas”
Através de diagnóstico participativo, foram analisados a importância e o uso
dos instrumentos tecnológicos na vida cotidiana dos alunos da comunidade escolar
do CEEBJA Ulysses Guimarães - Ensino Fundamental e Médio, localizado no
município de Colombo – PR.
Desenvolveu-se uma pesquisa com os alunos em forma de questionário onde
se especificou o nível de envolvimento e de interesse pelos recursos tecnológicos. A
pesquisa foi respondida pelos alunos do Ensino Fundamental II, que proporcionou o
levantamento de dados e a visualização do nível de conhecimento e de utilização
dos recursos tecnológicos pela comunidade escolar. Público-alvo atingido: alunos do
Ensino Fundamental II. A coleta de informações foi realizada através de
questionário com questões objetivas.
Os dados foram utilizados para auxiliar na elaboração do material didático,
considerando sua relevância e aplicabilidade.
B. Questionário na sala de aula para os alunos
Através deste instrumento de pesquisa foi possível conhecer o nível de
conhecimento dos alunos sobre a tecnologia, seus recursos e sua utilidade. Os
alunos não vivenciam de forma sistemática os conteúdos da língua inglesa
interligada às novas tecnologias, mas observa-se que o conhecimento deles está
baseado no que vivenciam no dia a dia, em seus telefones celulares, ipod e tablet.
Eles sabiam como utilizar tais instrumentos para ouvir músicas, realizar e receber
ligações e mensagens; porém, utilizar tais ferramentas como auxílio na
aprendizagem escolar, na busca de informações na rede, como instrumento de
pesquisa, não sabiam como poderiam realizar tais ações.
Interligar esses conhecimentos com o uso da língua inglesa era algo
incompreensível para os alunos até o momento.
O Material Didático Pedagógico
A produção didática pedagógica foi elaborada para atender alunos da EJA
fase II (individual) do CEEBJA Ulysses Guimarães em Colombo – PR. Foi
implementada tendo como foco a língua inglesa e o aprendizado através dos novos
letramentos. O material didático elaborado foi apresentado à Secretaria de Estado
da Educação do Paraná (SEED) e inserido no Sistema de Acompanhamento e
Integração em Rede (SACIR).
Para realizar a introdução do tema desta unidade didática, todos os alunos
devem possuir uma conta de e-mail (caso seja necessário, deve-se realizar a
abertura de conta de e-mail em sala, assim como realizar testes básicos de enviar e
receber e-mails). A unidade enfoca o tema de rotinas diárias; elas são exploradas a
partir de vídeos onde há pessoas praticando ações do cotidiano a partir de diferentes
perspectivas (ações cotidianas normais, o cotidiano sob o viés humorístico e o
cotidiano sob um viés crítico/indagador). As atividades didáticas trabalham com
leitura, compreensão oral, prática de pronúncia e outras voltadas para facilitar a
aprendizagem da língua.
A avaliação é constante, com a realização das atividades propostas e o
desempenho do educando no processo de aprendizagem, enfatizando a
contribuição dos novos letramentos no desenvolvimento das mesmas.
Esta unidade didática tem como objetivo geral potencializar as condições de
desenvolvimento de habilidades cognitivas, sistematizando a aprendizagem nos
novos letramentos 3 dos alunos de EJA fase II, empregando a tecnologia como
instrumento de apoio pedagógico.
A Unidade Didática se encontra distribuída em quatro tipos de atividades:
• “Let's watch!” – que objetiva realizar o levantamento dos conhecimentos
prévios sobre a língua inglesa; oportunizar o desenvolvimento da socialização
dos alunos, além de estimular a criatividade dos mesmos diante das ações
cotidianas.
• “Let's read now!”- que visa compreender o tema abordado através da
leitura; identificar a estrutura da escrita pelos relatos das ações cotidianas e
estabelecer a compreensão da sequência dos fatos.
• “Let's check it!”- que objetiva realizar a compreensão dos vocábulos
estudados e da parte estrutural da língua além de empregar corretamente os
itens estudados nesta unidade nas produções orais e escritos.
• “Let's practise!” - que anseia realizar uma socialização inter e intrapessoal
do processo de ensino/aprendizagem vivenciando uma sociedade de
parceria, contextualizando o conhecimento adquirido com a prática
sociocultural diária do educando.
Passo a passo:
Na atividade do LET'S WATCH! são mostrados alguns pequenos vídeos
sobre rotinas que podem, ou não, fazer parte do cotidiano dos educandos. O
professor fará as inferências necessárias para a extrapolação dos sentidos.
3 O letramento apresenta-se como um processo em que o ensino da leitura e da escrita acontece dentro de um contexto social e que essa aprendizagem faça parte da vida dos alunos efetivamente.
Na atividade LET’S READ NOW!, os textos e as atividades foram preparados
de forma a poderem ser usados todos com uma só turma ou serem selecionados
para turmas diferentes, dependendo do nível de conhecimento da língua inglesa e
do interesse/faixa etária dos alunos. Os textos formam um conjunto com a rotina de
uma mãe, seu filho e sua neta. O primeiro texto trata de um dia na vida de uma
criança, o segundo texto é sobre um adolescente e o terceiro trata de um dia na vida
de uma dona de casa. O último texto é um pouco mais longo e mais complexo do
que os dois primeiros.
Na atividade LET’S CHECK IT!, há uma reflexão sobre o uso do Simple
Present com as regras gerais do uso. Caberá ao professor aprofundar a explanação
com as peculiaridades (quando é empregado o ES, casos em que Y torna IES, entre
outras) de acordo com seu plano de trabalho docente e o nível de aprendizagem dos
alunos. Durante todas as atividades há fixação da conjugação neste tempo verbal,
mas, caso seja necessário, aponto a atividade abaixo como opção de exercício de
fixação.
Look for three sentences (affirmative, negative and interrogative forms) in
texts on the internet. Write down the name of the text you used, copy the link of the
internet page, and copy the sentences in the boxes, Send it by email to your teacher.
You can use one or more texts.
Name of the
text:
Link: Affirmative form Negative form Interrogative form
Na atividade LET’S PRACTISE!, são realizadas atividades de compreensão
do estudo dirigido por meio dos textos, do vocabulário adquirido, da estrutura gramatical aplicada e da capacidade criativa de assimilação dos alunos, podendo-se empregar recursos online para a realização das mesmas.
Obs.: As atividades com figuras do “How often do you...” são trabalhadas no slide com o uso do Datashow.
Reflexões sobre a implementação
No princípio da implementação se fazia necessária a utilização de uma conta
de e-mail, assim fomos ao laboratório de informática para verificar quem possuía e
quem necessitaria abrir uma conta. A maioria dos alunos não possuía e-mail e,
aqueles que possuíam, não sabiam como acessá-lo, pois só utilizava o login para
acessar o Facebook.
Houve muito trabalho na criação das contas de e-mails, mas foi um sucesso a
criação de todas as contas e a realização das trocas de mensagens entre todos,
professora e alunos, para verificação de acesso.
Foi uma descoberta, para os alunos, saber que um e-mail pode se tornar uma
ferramenta de aprendizagem, uma vez que fui enviando atividades para seus e-mails
a fim de realizarem as mesmas e me retornarem via internet, com uso de vídeos
com áudio e atividades de produção escrita.
Ao desenvolver a implementação foi significativo ouvir a variedade de
comentários que os alunos faziam durante a realização das atividades:
- “...coitada da professora, mal sabe ela que a gente não vai aprender nem a ligar essa coisa,
quanto mais saber enviar as tarefas”. (aluna – 46 anos, do 8º ano)
- “...esse negócio de buscar no google é muito esquisito, parece que a gente tá se metendo
onde não deve”. (aluna – 52 anos, do 6º ano)
-“ ...ah, professora, sumiu tudo! E agora não vou saber mais!” (aluno – 48 anos do 7º ano)
-“...eu não sei achar esse negócio ai, não sei se vai dá certo, não tem nada que eu sei” (aluno
- 16 anos, do 8º ano)
-“...agora tá fácil aprender inglês”. (aluna – 16 anos do 6º ano)
-“...ah, agora entendi!” (aluna – 46 anos do 8º ano)
-“...nossa, como foi fácil fazer essa lição assim!” (aluno - 16 anos, do 8º ano)
-“...ah, com o vídeo é bem melhor!” (aluno – 48 anos do 7º ano)
-“...agora vou ensinar meus filhos também, to chique!” (aluna – 46 anos do 8º ano)
-“...minha mãe, o que eu fiz na escola até hoje que eu não entendia inglês, como tá simples,
to até com medo.” (aluna – 19 anos do 9º ano)
-“...agora to entendendo, profe!” (aluno – 15 anos do 6º ano)
No decorrer da implementação foram surgindo algumas questões
significativas ao processo de aprendizagem dos alunos, pois ficaram muito
encantados com o fato de descobrir meios de comunicação via internet, de aprender
a utilizar os recursos como o buscador Google para pesquisas, salientando a
necessidade de checar a veracidade das informações na rede, usar o google
tradutor de maneira adequada à aquisição vocabular na língua inglesa, adequar a
digitação com as palavras de outro idioma, empregar tarefas tais como anexar
arquivos e enviar os mesmos, inserir figuras e salvá-las adequadamente, formatar
um texto para melhorar a apresentação do mesmo, entre outras ações.
Ao concluir a implementação foi muito prazeroso poder ouvir os comentários
que os alunos fizeram em uma auto avaliação pós-conclusão:
-“...com esse projeto aprendi muito sobre inglês e também sei usar o computador para
aprender coisas sobre todos os assuntos, foi muito bom, queria que continuasse.” (aluno – 17
anos do 7º ano)
-“...nessas aulas foi bem diferente, nem via o tempo passar, gostei de ver os vídeos e
trabalhar com computador.” (aluno – 16 anos do 6º ano)
-“...minha vida ficou bem mais fácil, sou coordenadora de catequistas e ensinei a elas o que
aprendi aqui na escola sobre usar o e-mail para se comunicar, agora tenho um grupo de
catequistas que falo sempre com elas por e-mail, ficou bem mais fácil.” (aluna – 46 anos, do
8º ano)
Contribuições do GTR
Inicialmente gostaria de agradecer a participação de todos os cursistas do
Grupo de Trabalho em Rede (GTR/2014), que contribuíram nas atividades
propostas. Dos professores inscritos neste curso, apenas poucos não finalizaram o
GTR.
A interação entre os cursistas e a professora tutora acorreu de maneira
cordial e de forma significativa a partir do fórum de apresentação até o encerramento
dos trabalhos. Procurou-se levantar uma discussão sobre as questões relacionadas
ao Ensino da Língua Inglesa na EJA em uma perspectiva crítica dos novos
letramentos, tomando como base a leitura do Projeto de Intervenção Pedagógica e a
leitura da Produção Didático-Pedagógica.
As reflexões sobre as questões do Ensino da Língua Inglesa na EJA em uma
perspectiva crítica dos novos letramentos foram amplamente discutidos por todos,
onde posso destacar os seguintes pontos:
1º Entendemos que a temática do ensino da língua inglesa no contexto da
EJA, concomitantemente ao uso das novas tecnologias visando a aprendizagem
desta disciplina, possui necessidade de interação entre o professor e seus
educandos, de forma a construir uma afinidade que permita a realização das
atividades propostas.
2º A língua inglesa na EJA deve ser vivenciada com atividades de integração
para que o aluno possa usufruir do conhecimento em seu contexto escolar e levar
para sua convivência social.
3º A diversidade cultural desse meio auxilia na assimilação das atividades,
pois todos se sentem seguros, após criar os laços de afinidade, para contribuir com
algum exemplo a fim de compreensão.
4º O uso de recursos tecnológicos para a assimilação de uma língua
estrangeira no ambiente escolar se realizou de maneira positiva, além de integrar
essas ferramentas no contexto sociocultural dos alunos propiciando amplitude na
aprendizagem.
Socializamos os avanços e desafios enfrentados durante a fase de
implementação pedagógica. Deste modo, foi solicitado aos participantes que
refletissem e opinassem sobre os resultados apresentados, trazendo contribuições
para o debate, onde os cursistas destacaram a importância do tema com o ensino
na EJA, uma vez que essa modalidade atua com ampla diversidade sociocultural
entre os estudantes.
A participação dos cursistas foi muito boa, com contribuições que certamente
somaram para o aperfeiçoamento da produção, destacando a necessidade de ações
que contemplem o ensino teórico e prático como forma de obter melhores
resultados.
Este estudo atingiu seu objetivo ao se configurar como um estímulo ao ensino da
língua inglesa na EJA, pois propôs materiais didáticos acessíveis a esta modalidade
de ensino, que conjugaram às diretrizes da EJA e da Língua Inglesa.
Considerações Finais
Para que o aluno possa compreender que os novos letramentos fazem parte de
sua ação cotidiana e que fazer uso deles na aprendizagem da língua inglesa é de
suma importância para a facilitação da compreensão, é fundamental lhe oferecer a
maior diversidade possível de experiências, uma visão contextualizada da realidade,
o que inclui o ambiente físico, social e cultural.
Nesta perspectiva o ensino da língua inglesa com alunos da EJA, deve ter por
finalidade desenvolver atividades, como um processo permanente. A aprendizagem
será mais efetiva se a atividade estiver adaptada às situações da vida real do meio
em que vivem aluno e professor.
Cabe esclarecer que estas práticas não podem ser estanques, determinando
um período específico para o seu desenvolvimento, mas devem estar inseridas nas
diferentes formas de trabalho na rotina escolar.
Esses conhecimentos podem ser socializados na escola e transposto para a
vida familiar dos educandos, por meio de estratégias de formação sistemática e
continuada, como mecanismo capaz de gerar mudanças culturais e educacionais.
Diante das contribuições de todos, acredito que somente promovendo a
participação dos alunos, de forma articulada e consciente, o ensino de língua inglesa
atingirá seus objetivos de modo a despertar uma consciência social.
Através desse trabalho foi possível entender a importância do ensino de
língua inglesa na EJA, quanto à busca da mudança de atitudes e comportamentos
em benefício ao meio que nos cerca, pois no CEEBJA Ulysses Guimarães houve
uma preocupação em adaptar o projeto para atender também os alunos do Ensino
Médio, uma vez que o sucesso da implementação foi perceptível para toda a
comunidade escolar.
O trabalho realizado com os alunos permitiu aos mesmos o amadurecimento
da compreensão que todos temos conhecimentos que podem ser repassados aos
outros e que para se compreender a língua inglesa deve-se fazer uso dos novos
letramentos que nos cercam a todo o momento, assim como os meios tecnológicos
que nos auxiliam nas ações da vida social. As atividades implementadas indicam a
tendência de agrupar o saber científico com os diversos saberes do cotidiano, mas
falta ainda um caminhar mais longo e conjunto para que mudanças qualitativas
sejam realizadas pelos alunos e demais segmentos da comunidade escolar.
Referências
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