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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA NA ARTETERAPIA

ROSILENE PEREIRA BARRENTO DA SILVA

ORIENTADORA

Mª. DINA LÚCIA CHAVES ROCHA

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA NA ARTETERAPIA

Rio de Janeiro

2010

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Arteterapia em Educação e Saúde Por: Rosilene Pereira Barrento da Silva

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AGRADECIMENTOS

.... A Deus, por ter dado-me condições de ter chegado até o final. Ao meu marido Ívano e a minha filha Isabella, pelo carinho e pela compreensão nos momentos de minha ausência. À minha mãe e amiga Josefa por ajudar-me nos momentos mais difíceis. À minha professora e orientadora, Dina Lúcia, pela paciência e carinho na execução deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a Deus e a minha família, pois sem ajuda, carinho e compreensão não poderia ter se realizado.

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RESUMO

A presente pesquisa aborda a utilização da música na arteterapia como um

instrumento no processo arteterapêutico, verificando os seus benefícios para o

ser humano, assim como a sua influência no cérebro e na psique. Diante disso,

o estudo apresenta a história da música e sua evolução, as formas que ela

deve ser utilizada e os seus efeitos sobre o comportamento humano. Sendo

assim, a música conduz o indivíduo a elaboração de emoções inconscientes

transportando-as para o domínio racional e poderá ser aplicada a pacientes de

qualquer idade auxiliando-s no processo terapêutico daqueles que possuem

dificuldade de verbalização.

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METODOLOGIA

Esta pesquisa foi realizada através de uma revisão em livros, artigos

e sites relacionados à Música e Arteterapia. Todo o material pesquisado e

utilizado como referência, foi devidamente publicado.

Os autores consultados, tais como: Victório, Antunes e Jung tem

contribuído para os estudos da música e sua utilização no processo

arteterapêutico.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1

OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA 10

CAPÍTULO 2

MÚSICA E ARTERAPIA 25

CAPÍTULO 3

OS EFEITOS DA MÚSICA NO CÉREBRO E NA PSIQUE 31

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 40

WEBGRAFIA 41

ÍNDICE 42

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INTRODUÇÃO

A pesquisa apresentada aborda o tema sobre a importância da

Música na Arteterapia para que se possa entender o que é e qual a sua melhor

aplicação em trabalhos Arteterapêuticos.

A Arteterapia vem ganhando espaço na prevenção e no tratamento

dos problemas psíquicos, na psicologia comportamental e nos problemas

cognitivos, como as dificuldades de aprendizagem. Dessa forma, a música vem

se apresentando como uma possibilidade expressiva de amplo significado.

Segundo alguns estudos, a Música apresenta vários benefícios à

saúde proporcionando, efeitos tranqüilizantes, analgésico, equilibrador do

sistema cardiocirculatório e do metabolismo. Além disso, ajuda a combater o

estresse, entre outros.

A Música tem uma influência direta nas emoções e por isso, está

sendo utilizada em tratamentos que envolvem o corpo e a mente. No cérebro, a

sede das emoções chama-se sistema límbico, que está diretamente ligado ao

sistema nervoso autônomo controlando o sistema neurovegetativo responsável

por todos os órgãos que garantem a nossa sobrevivência, ao sistema motor e

ao sistema imunológico.

Assim sendo, a utilização da Música na Arteterapia permite o acesso

ao inconsciente, trazendo à consciência sensações de desconforto que

posteriormente, sendo expressos em material plástico, seja desenho, pintura

ou qualquer outro recurso podem ser compreendidos, proporcionando

qualidade de vida ao indivíduo.

Um dos principais objetivos desta pesquisa monográfica é analisar a

utilização da Música como instrumento, no processo Arteterapêutico, bem

como, verificar os benefícios da Música para o ser humano, apresentar a

influencia da Música no cérebro e na psique.

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Desta forma, no primeiro capítulo, foi abordado a História da Música

e sua evolução histórica, bem como, conceitos e funções da Música.

Já no segundo capítulo o foco desta pesquisa ficou sobre a

Arteterapia e a utilização da Música no processo Arteterapêutico.

O terceiro capítulo finaliza e completa esta pesquisa, abordando os

efeitos da Música no cérebro e na psique.

A Música na Arteterapia conduz o indivíduo a elaborar emoções

contidas no inconsciente e a raciocinar sobre elas sem a necessidade de

verbalização. Esse trabalho Arteterapêutico pode ser desenvolvido em

atividades individuais ou em grupo.

Diante do exposto, espera-se que esta pesquisa possa contribuir

corroborando com a ideia de que a música é uma excelente ferramenta

Arteterapêutica e pode ser aplicada a qualquer faixa etária, principalmente, em

pacientes que tem dificuldade de verbalização.

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CAPÍTULO 1

OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA

1.1 O Que é Música?

Definir a música não é uma tarefa possível porque apesar de ser

intuitivamente conhecida por qualquer pessoa, não há possibilidade de

encontrar um conceito que seja abrangente a todos os significados dessa

prática. A música contém o som e o manipula e o organiza no tempo. Ela está

atrelada a conceitos culturais e é ao mesmo tempo é um conjunto de fatores

que envolvem o físico e o emocional. Por isso, é tão utilizada em trabalhos

terapêuticos. E essa subjetividade impede a formação de uma definição

objetiva, pois, ao buscar a sua evolução no tempo percebe-se as suas

modificações de acordo com o contexto histórico da época.

A definição segundo o dicionário Aurélio (2000) diz que música é

uma palavra originária do grego musiké téchne, que significa a arte das musas.

É uma forma de arte que constitui-se basicamente em combinar sons e silêncio

seguindo ou não uma pré-organização ao longo do tempo.

A música é feita de som e por essa definição pode-se dizer que tudo

é música. Até o séc.XX procurava-se distinguir música de barulho, mas com o

passar do tempo percebeu-se que a música pode ser formada por qualquer

objeto que faça som. O que podemos diferenciar são os diferentes estilos

musicais e essa sensibilidade é importante para aplicação em uma sessão

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arteterapêutica individual, pois se for utilizado um estilo musical que seja

desagradável ao paciente certamente, não será alcançado o objetivo

pretendido.

O ser humano sempre esteve rodeado de música. Segundo Victorio

(2008), o Universo é constituído por vibrações, tudo o que existe está em

vibração, e vibração é som. A Música nasceu com a natureza, ao se considerar

que seus elementos formais, o som e o ritmo, fazem parte do universo e,

particularmente da estrutura humana.

Esse argumento utilizado por Márcia Victorio em seu livro

“Impressões Sonoras” corrobora com textos bíblicos que citam o início da

criação do mundo. No livro de Gênesis diz que o universo foi criado pela

palavra e palavra é som. Em todo o primeiro capítulo lemos a narração que diz

que Deus utilizou a palavra para criar e organizar um verdadeiro caos. Pode-se

imaginar o som do bater das águas desordenadamente. De acordo com essa

narrativa fomos criados e criamos através de sons.

Dessa forma, pode-se dizer que a natureza, assim como o corpo

humano produz som em todo o tempo. “Nosso organismo é pleno de vibração e

tudo o que nele existe está vibrando: os átomos, as moléculas, as células e os

órgãos.” (VICTÓRIO, 2008, p. 16)

Ele é o somatório de todas essas freqüências e, portanto, constituído basicamente de matéria sonora, porque toda vibração é som. Vibramos, pois, em nossa essência do ser e em nosso corpo. Vibramos para ser. (op. cit. p. 17)

Esse trecho citado serve como base para um trabalho

arteterapêutico envolvendo a música. Pois esse pressuposto parte do princípio

de que o ser humano se relaciona com o Universo e com o outro através de

ressonâncias sonoras. Segundo a autora, “Viver em sociedade é, portanto, um

efeito da condição vibratória do ser humano.” (ibidem, p.16)

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Sendo assim, em conformidade com o conceito de ressonância e

natureza vibratória do som a música é dividida de acordo com elementos

organizacionais, Tais como: Som, Ritmo, Melodia e Harmonia.

O som e o tempo são elementos fundamentais para que haja

música. O ritmo, a melodia e a harmonia integram o som e são eles que

caracterizam o estilo musical.

O ritmo está intimamente relacionado com o sistema límbico,

presente no cérebro, que é a sede das emoções. Há ritmos melancólicos,

alegres, violentos e espirituais. Cada um deles nos traz certas reações que

vão desde a segurança e tranqüilidade até histeria. Os ritmos revelam as

capacidades motoras e físicas do ser humano, tais como: liberdade,

resistência, flexibilidade ou rigidez. As pessoas que mantem movimentos

repetidos e mecânicos demonstram uma expressão clara de comportamento,

indicando que precisa refletir sobre seus condicionamentos, atitudes e ações.

A melodia é o ponto mais importante para o terapêuta que faz um

trabalho de educação emocional. A melodia atua no nível do córtex, que é a

área do cérebro responsável pelo consciente e elaboração de pensamentos. A

melodia tem uma relação estreita com os afetos, a fobia, a depressão.

A harmonia surgiu da evolução e aperfeiçoamento da música. Os

sons harmônicos indicam que o homem educou melhor o ouvido e ampliou

suas percepções auditivas. A harmonia é identificada quando duas vozes ou

dois instrumentos ou várias vozes com vários instrumentos atuam ao mesmo

tempo de forma agradável. De acordo com os aspectos sensoriais; o ritmo

predomina sobre o corpo e a melodia sobre os sentimentos. Por sua vez, a

harmonia reúne todas estas características, conferindo-lhe atuação no campo

cognitivo e na mente. A harmonia é mais ampla por ser composta por sons,

ritmo e melodia, e por isso, permite possibilidade quádrupla, tais como:

sensoriais, sentimentais emocionais e cognitivas.

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Cada um desses elementos é capaz de mexer com a emoção e a

afetividade do ser humano. Eles representam a subjetividades e as

idiossincrasias de cada povo de acordo com seus costumes e o contexto

cultural em que cada um está inserido. E este é mais um elemento

argumentativo que comprova a impossibilidade de definir o que é música e sua

qualidade.

Diante disso, a música é um fenômeno social e cultural. As práticas

musicais não podem ser dissociadas do contexto cultural, pois cada povo

possui seus próprios estilos musicais em diferentes abordagens e concepções

do que é a música e do papel que ela deve exercer na sociedade. A música

está presente em rituais sagrados, comemorações festivas, nos atos de guerra,

em cerimônias fúnebres ou simplesmente em momentos de lazer.

Assim sendo, a música está presente nos arquétipos do imaginário

humano. Ela faz parte do inconsciente e por isso, a música produz diferentes

reações emocionais no ser humano de acordo com a experiência vivenciado

por cada um. A mesma música pode trazer paz ou inquietação de acordo como

for interpretada pelo ouvinte. Esse julgamento está relacionado com o

significado atribuído a experiências subjetivas dentro de um contexto histórico,

social, cultural, emocional e afetivo.

Diante do exposto, pode-se afirmar que a música não pode ser

definida e nem classificada. Portanto, na arteterapia a escolha da música deve

trazer significado ao objetivo do trabalho. Em um trabalho arteterapêutico não

há escolha de estilo certo e nem errado. Existe a escolha do apropriado ao

objetivo, aliado à necessidade e afinidade do grupo ou paciente em que está

sendo desenvolvida a terapia.

1.2 A Evolução da História da Música

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A evolução da história da música é um dos assuntos importantes

para quem gosta de incluir a música em seus trabalhos arteterapêuticos.

Através da história compreendemos as mudanças e o aparecimento de estilos

religiosos, românticos, eruditos e modernos. Ao estudar a história da música

percebe-se que cada época foi marcada por um movimento político e social

onde a arte sempre esteve presente. Considerando a teoria de Jung pode-se

dizer que a evolução da música também está presente no inconsciente coletivo

herdado da humanidade.

Segundo Jung (in Victório, 2008) o Inconsciente Coletivo é

constituído não por aquisições individuais, mas por um patrimônio coletivo da

espécie humana. Esse inconsciente coletivo é o mesmo em qualquer lugar e

em qualquer época respeitando a sua essência. Dessa forma, não há variação

de indivíduo para indivíduo. Os conteúdos do Inconsciente Coletivo são

chamados de Arquétipos, que são condições ou modelos prévios da formação

psíquica herdados por nossos antepassados.

A História da Música começou quando o homem percebeu que a

combinação de sons podia trazer uma sensação agradável e assim pôs-se a

produzir esses sons intencionalmente.

A música é presença marcante em nossas vidas. Nas mais diversas ocasiões está presente: seja nas cantigas de ninar, nas brincadeiras de rodas, nos bailes, nos cultos, nos trabalhos, no lazer, nas cerimônias religiosas, enfim, na vida e na morte. O efeito musical abrange o homem integral: corpo, emoção, vontade, intelecto, relacionamentos. A relação entre a música e o bem estar do ser humano é relatada através da história. O coração da mãe grávida é ouvido pelo feto como primeira noção de que a vida tem ritmo. (ANGELIM, 2003, p. 16)

Na pré-história os primeiros sons foram produzidos pelos

movimentos corporais acompanhados de sons vocais que pretendiam dominar

os animais e delimitar seu território. Os primeiros sons articulados e

estruturados foram fundamentados na aquisição da linguagem e a partir disso a

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criação de uma linguagem peculiar que passou a ser a expressão de

comunicação pessoal através dos sons da natureza.

De acordo com o site do Portal EduKbr

(http://www.edukbr.com.br/artemanhas/historiadamusica.asp), que é um

ambiente educacional desenvolvido pela equipe multidisciplinar do Grupo de

Pesquisas KBr/PUC-Rio, com a colaboração e parceria da Eduweb – empresa

de tecnologia voltada para a Educação, foi transcrito parte da pesquisa sobre a

História da Música.

Segundo Relvas (2010), na Antiguidade, até 400 d.C. Acredita-se

que a música tenha surgido há 50.000 anos e que as primeiras manifestações

tenham ocorrido no continente africano. Os lugares onde encontramos

vestígios de sua evolução foram:

- Egito: Por volta de 4.000 a.C. As pessoas batiam discos e paus uns

contra os outros, utilizavam bastões de metal e cantavam. Posteriormente, nos

grandes templos dos deuses, os sacerdotes treinavam coros para cantos de

música ritual. Os músicos da corte cantavam e tocavam vários tipos de harpa e

instrumentos de sopro e percussão. As bandas militares usavam trompetes e

tambores.

- Palestina: O povo palestino provavelmente não criou tanta música

quanto os egípcios. A Bíblia contém a letra de muitas canções e cânticos

hebraicos, como os Salmos, onde são mencionados harpas, pratos e outros

instrumentos. A música no templo de Salomão, em Jerusalém, no século X

a.C., provavelmente incluía trompetes e canto coral no acompanhamento de

instrumentos de corda.

- China: Os antigos chineses acreditavam que a música possuía

poderes mágicos, achavam que ela refletia a ordem do universo. A música

chinesa usava uma escala pentatônica (de cinco sons), e soava mais ou menos

como as cinco teclas pretas do piano. Os músicos chineses tocavam cítara,

várias espécies de flauta e instrumentos de percussão.

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- Índia: As tradições musicais da Índia remontam ao século XIII a.C..

O povo acreditava que a música estava diretamente ligada ao processo

fundamental da vida humana. Na Antigüidade, criaram música religiosa e por

volta do século IV a.C. elaboraram teorias musicais. Os músicos tocavam

instrumentos de sopro, cordas e percussão. A música indiana era baseada num

sistema de tons e semitons; que em vez de empregar notas, os compositores

seguiam uma complicada série de fórmulas chamadas ragas. As ragas

permitiam a escolha entre certas notas, mas exigiam a omissão de outras.

- Grécia: Os gregos usavam as letras do alfabeto para representar

notas musicais. Eles agrupavam essas notas em tetracordes (sucessão de

quatro sons). Combinando esses tetracordes de várias maneiras, os gregos

criaram grupos de notas chamados modos. Os modos foram os predecessores

das escalas diatônicas maiores e menores. Os pensadores gregos construíram

teorias musicais mais elaboradas do que qualquer outro povo da Antigüidade.

Pitágoras, um grego que viveu no século VI a.C., achava que a Música e a

Matemática poderiam fornecer a chave para os segredos do mundo. Acreditava

que os planetas produziam diferentes tonalidades harmônicas e que o próprio

universo cantava. Essa crença demonstra a importância da música no culto

grego, assim como na dança e nas tragédias.

- Roma: Os romanos copiaram teorias musicais e técnicas de

execução dos gregos, mas também inventaram instrumentos novos como o

trompete reto, a que chamavam de tuba. Usavam freqüentemente o hydraulis,

o primeiro órgão de tubos; o fluxo constante de ar nos tubos era mantido por

meio de pressão.

Na Idade Média, de 400 a 1450. Houve decadência do Império

Romano e a implantação do Cristianismo. Então, a Igreja passa a ter um papel

decisivo na evolução da música, ditando regras culturais, sociais e políticas em

toda a Europa, com isto interferindo na produção musical daquele momento.

São os Monges que, nos mosteiros, continuam o trabalho iniciado pelos

gregos, desenvolvendo a teoria e a escrita musical. Começa a haver uma

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grande separação entre a música religiosa e a música popular. Uma das

grandes diferenças entre estes dois tipos de música está nos instrumentos

usados. Na igreja apenas o órgão era permitido, enquanto que na música

profana (não religiosa) havia a rabeca, o saltério, o alaúde, a charamela, a

sanfona, o realejo. A língua usada nos cantos da igreja era o Latim, enquanto

que na música popular eram usados os dialetos próprios de cada região. A

escrita musical, tal como hoje a conhecemos, muito deve aos mil anos da Idade

Média. Foi durante esse período que ela evoluiu até chegar ao código atual. A

música “monofônica” (que possui uma única linha melódica), sacra ou profana,

é a mais antiga que conhecemos e é denominada de “Cantochão”. A música

utilizada nas cerimônias católicas era o “canto gregoriano”, que foi criado antes

do nascimento de Jesus Cristo, pois ele era cantado nas sinagogas dos países

do Oriente Médio. Por volta do século VI a Igreja Cristã fez do canto gregoriano

elemento essencial para o culto. O nome é uma homenagem ao Papa Gregório

I (540-604).

O Renascimento, de 1450 a 1600. Foi uma época de grandes

mudanças na Europa. O homem do Renascimento já não vive apenas

dominado pelos valores da Igreja, mas encontra valores nele próprio e na

natureza. A Igreja tornou-se menos rígida, permitindo uma troca maior entre a

música religiosa e a música profana. Os governantes e os homens ricos

(mecenas) desempenham a partir de agora um papel muito importante na

evolução da música, concedendo aos compositores audições e oportunidades

de trabalho, promovendo festas e acontecimentos culturais. Neste período, os

artistas pretendiam compor uma música mais universal, buscando se

distanciarem das práticas da igreja. Havia um encantamento pela sonoridade

polifônica, pela possibilidade de variação melódica. A polifonia valorizava a

técnica que era desenvolvida e aperfeiçoada, característica do Renascimento.

O Barroco, de 1600 a 1750. É o período em que a música

instrumental atinge, pela primeira vez, a mesma importância que a música

vocal. Ela é exuberante, de ritmo enérgico e frases melódicas extensas,

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fluentes e muito ornamentadas. São usados contrastes de timbres e

densidades. O violino afirma-se e a orquestra vai tomando uma forma mais

estruturada. Surge a Ópera e o Ballet. Os instrumentos de tecla têm uma

grande evolução e o cravo aparece como instrumento solista, e não apenas

acompanhante. Na França os principais compositores de ópera eram Lully, que

trabalhava para Luis XIV, e Rameau. Na Itália, o compositor “Antonio Vivaldi”

chega ao auge com suas obras barrocas, e na Inglaterra, “Haëndel” compõe

vários gêneros de música, se dedicando ainda aos “oratórios” com

brilhantismo. Na Alemanha, “Johann Sebastian Bach” torna-se o maior

representante da música barroca. Os três últimos compositores tornaram-se

referência e hoje as suas músicas são as mais indicadas para trabalhos

terapêuticos e cognitivos. Suas composições são as mais indicadas para

escolas que trabalham com música clássica em sala de aula.

O Classicismo, de 1750 a 1810. A música torna-se mais leve e

menos complicada que no Barroco. Predomina a melodia com

acompanhamento de acordes; as frases são bem delineadas e mais curtas que

anteriormente. A dinâmica das obras torna-se mais variada; aparece o

sforzato, o crescendo e diminuendo. A música é tonal. O cravo cai em desuso e

é substituído pelo piano. A orquestra cresce em tamanho e acolhe um

diversificado número de instrumentos. A Ópera alcança popularidade e começa

a tratar temas do dia-a-dia. É uma época extremamente fértil em grandes

compositores e talvez a mais produtiva de todos os períodos da história da

música. Viena de Áustria é considerada a capital da música clássica, pois foi lá

que se concentrou a maioria dos compositores. Este período é marcado pelas

composições de Haydn, Mozart e Beethoven (em suas composições iniciais).

O Romantismo, de 1810 a 1910. É o período da liberdade de

expressão de sentimentos e paixões. Paris junta-se a Viena e tornam-se os

principais centros de música da Europa. Os compositores libertam-se da tutela

dos nobres que os empregavam e passam a compor livremente. Os concertos

públicos tornam-se mais frequentes e começam a aparecer as grandes salas

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de espetáculos. A fantasia, a imaginação e o espírito de aventura

desempenham um papel importante na música deste período.

Surge a música descritiva com os poemas sinfônicos. A literatura exerce uma

enorme influência na música romântica, que está demonstrada na grande

quantidade de Lied - canções deste período. Os músicos interessam-se pela

música folclórica, indo aí buscar material para compor. É dado ênfase às

melodias líricas. As harmonias são ricas e contrastantes, explorando uma

gama maior de sonoridades, dinâmicas e timbres. As obras tomam proporções

grandiosas e a orquestra atinge uma dimensão gigantesca. O Romantismo

inicia-se pela figura de Beethoven e passa por compositores como Chopin,

Schumann, Wagner, Verdi, Tchaikovsky, R. Strauss, entre outros.

O romantismo rendeu frutos na música, como o “Nacionalismo” musical, estilo

pelo qual os compositores buscavam expressar de diversas maneiras os

sentimentos de seu povo, estudando a cultura popular de seu país e

aproveitando música folclórica em suas composições. A valsa do estilo

vienense de Johann Strauss é um típico exemplo da música nacionalista. No

Brasil, Villa Lobos é nosso maior representante.

Música Contemporânea - Século XX, de 1900 em diante. Surge

como o século das experiências, da procura de novos caminhos na música e

nas artes em geral. Marcado por uma série de novas tendências e técnicas

musicais. No entanto torna-se imprudente rotular criações que ainda encontra-

se em curso. Porém, algumas tendências e técnicas importantes já se

estabeleceram no decorrer deste século. São elas: Impressionismo,

Nacionalismo do século XX, Influências jazzísticas, Politonalidade, Atonalidade,

Expressionismo, Pontilhismo, Serialismo, Neoclassicismo, Microtonalidade,

Música concreta, Música eletrônica, Serialismo total, e Música Aleatória. Isto

sem contar na especificidade de cada cultura. Há também os músicos que

criaram um estilo característico e pessoal, não se inserindo em classificações

ou rótulos, estando-lhes apenas o adicional “tradicionalista”. Acentua-se a

tendência para valorizar culturas até então esquecidas. Os novos meios de

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transporte e comunicação facilitam as trocas culturais e fazem com que se

reconheçam na música Moderna influências muito variadas. O aparecimento da

gravação sonora abre um mundo novo à produção musical. A procura de novas

sonoridades faz com que os compositores explorem sons produzidos por

objetos, transformando-os em instrumentos musicais. Os instrumentos

convencionais são transformados e preparados de forma a alargar as suas

possibilidades tímbricas. O timbre é talvez o parâmetro mais valorizado na

música. Surgem os primeiros instrumentos eletrônicos, que ficarão para

sempre ligados à música Pop e Rock, embora também estejam presentes em

outros gêneros musicais.

1.3 A Função da Música

Segundo alguns estudos, é cientificamente comprovado que a

música traz benefícios à saúde orgânica. Esses estudos, através de

experiências comprovam que o organismo humano é alterado diante da música

causando os seguintes efeitos sobre o metabolismo:

- Aumenta o metabolismo;

- Aumenta ou diminui a energia muscular;

- Altera a pulsação, a pressão sanguínea e a respiração;

- Afeta a percepção de outros estímulos.

Os efeitos provocados no comportamento dependerão dos estímulos

recebidos, pois cada indivíduo adquiriu uma experiência pessoal e uma

formação cultural singular. Sendo assim, os estímulos musicais serão

interpretados de forma subjetiva. Os efeitos de pulsação e de respiração

acontecerão de acordo com as experiências vividas por cada ser humano.

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Dessa forma, a presente pesquisa também aborda os efeitos da

música nas moléculas da água e dos vegetais. Os relatos da pesquisa a seguir

corroboram com a autora Márcia Victorio que em seu livro “Impressões

Sonoras”, afirma que os sons vibratórios da música influenciam todo o Universo

interagindo com o ser humano.

Sendo assim, podemos dizer que o ser humano constantemente está em vibração e interagindo por ressonância com todo o Universo. (VICTÓRIO, 2008, p.17)

O pesquisador Emoto (2004) em seu livro: “Mensagens da Água”

realiza pesquisas sobre as transformações das moléculas da água quando

expostas a sons e músicas. Ele coloca a água que foi exposta a um

determinado som e depois congela para que possa ser fotografada e analisada

naquele estado. Nessa pesquisa ele congela moléculas de água expostas a

sons de músicas que trazem tranqüilidade ao ser humano com moléculas

congeladas de água de lugares que não foram contaminados e compara a

moléculas de água que foram expostas aos som de música heavy metal com

moléculas de água poluída. Nota-se que as moléculas de água pura são

semelhantes as moléculas de água que foram expostas a músicas

tranqüilizantes e as moléculas de água expostas ao som de heavy metal são

semelhantes as moléculas de água poluída.

Sendo o corpo humano formado em 70% de água, a constatação

dessa pesquisa contribui para que haja uma conscientização a respeito da

utilização da música em um setting arteterapêutico. Pois, se a música é capaz

de causar esses efeitos a molécula da água retirada de fontes naturais,

provavelmente, causará a mesma reação nas moléculas de água existentes no

organismo humano.

Sendo assim, torna-se pertinente a indicação de músicas que

poderão ser utilizadas a determinado momento ou finalidade de acordo com as

sugestões do trabalho de pesquisa já citado (ANGELIM, 2003, pp. 85-91)

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Sons relaxantes:

- Hino ao sol ( Rimsky Korsakov)

- Sonho de amor (Litz)

- O Lago do Cisne (Tchaikovsky)

- Fantasia e Fuga em Sol Menor ( Bach)

- Serenata (Schubert)

- Largo de Xerxes (Haendel)

Sons tranqüilizantes:

- Ave Maria (Schubert)

- Suíte em Ré Maior (Bach)

- Canção da Índia (Rimsky Korsakov)

- Reviere (Schumann)

Sons tonificantes:

- Abertura de Aída (Verdi)

- Judeus (da ópera Fausto - Gounod)

- A Grande Marcha do Tannhauser (Wagner)

- Sinfonia nº 5 (Dvorák)

Sons estimulantes:

- Adágio (Albinoni)

- Serenata (Toselli)

- Daphnis et Chloé (Ravel)

- As Criaturas de Prometeu ( Beethoven)

Sons para combater ansiedade:

- Barcarola (Offenbach)

- Sonhos de Uma Noite de Verão (Mendelssohn)

Sons para combater a depressão e o medo:

- Sonho de Amor (Litz)

- Serenata (Schubert)

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Sons para combater a insônia e o nervosismo:

- Sonata ao Luar (Beethoven)

- Sonho de Amor (Litz)

Sons para combater o estresse:

- Traumerg (Schumann)

- Clair de Lune (Debussy)

- Melodia Matinal (Grieg)

Sons para estimular a memória:

- Concerto em Dó Maior para Bandolim, Corda e Clavicórdio (Vivaldi)

- Largo do Concerto em Dó Maior para Clavicórdio (Bach)

- Spectrum Suíte, Confort Zone e Starborn Suíte (Stephen Halpern)

Alguns efeitos das principais sinfonias de Beethoven:

- Primeira Sinfonia: estimula a motivação e autoconfiança;

- Segunda sinfonia: gera força de vontade e poder de decisão;

- Terceira Sinfonia: equilibra o sistema nervoso e combate a tensão;

- Quarta sinfonia: elimina o ódio, o ciúme, inveja, vingança e luxúria;

- Quinta Sinfonia: estimula a reflexão;

- Sexta Sinfonia: estimula a criatividade;

- Sétima Sinfonia: estimula a espiritualidade.

Sugestões de músicas para vivência de desinibição e entrosamento:

- Reconvexo - Maria Betânia

- Ilumina - Maria Betânia

- Sonho meu - Gal Costa

- Alabari – César Camargo Mariano

Sugestões de músicas para relaxamento em vivências corporais:

- Memory of Antarctica - Vangelis

- Farol da Liberdade - Marcus Viana

- Dança das fadas - Marcus Viana

- Hayimari – Kitaro Kojiki

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- Reimei – Kitaro

Sugestões de músicas para disciplina e sensualidade:

- Bola de meia e bola de gude - Milton Nascimento

- Tango to Evora - Lorenna Mckennitt

- Between the Shadows - Lorennna Mckennitt

- The Lady of Shalott – Lorena Mckennitt

Sugestões para dançar o toque de energia:

- Quebra cabeça sem luz - Oswaldo Montenegro

- Incompatibilidade - Oswaldo Montenegro

- Intuição - Oswaldo Montenegro

- Por brilho - Oswaldo Montenegro

Diante do exposto, pode-se afirmar que a música tem uma grande

influencia no estado de saúde física e emocional do ser humano. De acordo

com os estudos aqui relatados cabe ao arteterapêuta utilizar a música em seu

trabalho de forma consciente. A música não deve ser utilizada em sessões

terapêuticas apenas por ser agradável. Ela é uma ferramenta a mais para

ajudar na cura emocional dos que ficam expostos a ela. O arteterapêuta que

domina tais conhecimentos poderá conduzir um trabalho muito mais eficaz.

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CAPÍTULO 2

MÚSICA NA ARTEREPIA

2.1 O Que é Arteterapia?

De acordo com o texto recentemente atualizado da American

Association of Art Therapy (Associação Americana de Arteterapia):

A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística e terapêutica é enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Arteterapia é o uso terapêutico da atividade artística no contexto de uma relação profissional por pessoas que experienciam doenças, traumas ou dificuldades na vida, assim como por pessoas que buscam desenvolvimento pessoal. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e trabalhos artísticos resultantes, pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar sua auto-estima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos e emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico. Arteterapêutas são profissionais com treinamento tanto em arte como em terapia. Tem conhecimento sobre desenvolvimento humano, teorias psicológicas, práticas clínicas, tradições espirituais, multiculturais e artísticas e sobre o potencial curativo da arte. Utilizam a arte em tratamentos, avaliações e pesquisas, oferecendo consultoria a profissionais de áreas afins. Arteterapêutas trabalham com pessoas de todas as idades, indivíduos, casais, famílias, grupos e comunidades. Oferecem seus serviços individualmente e como parte de equipes profissionais em contextos que incluem saúde mental, reabilitação, instituições médicas, legais, centros de recuperação, programas comunitários, escolas, instituições sociais, empresas, ateliês e prática privada (AATA -

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Associação Americana de Arteterapia apud CIORNAI, 2004, p. 8)

A Arteterapia utiliza arte como terapia. Embora, a arte seja uma

atividade milenar, conforme citado no capítulo anterior, a sua utilização na

arteterapia foi desenvolvendo-se até chegar a arteterapia da forma que se

conhece. A Arteterapia consiste na criação de material sem preocupação

estética e concentra-se apenas em expressar o estado emocional. Esta catarse

é saudável e possibilita o indivíduo a organizar-se internamente.

Segundo a psicanálise junguiana, diante do processo criativo, o

inconsciente se une a um arquétipo e o expressa numa linguagem simbólica. A

arte é um instrumento utilizado sem o objetivo de verbalização.

Aspectos da condição humana como fome-saciedade, dor-prazer, ressentimento-consolo, desejo-orgasmo, podem ser vistos como uma relação de tensão e resolução, e que a música pode expressar esta resolução de uma maneira que a comunicação verbal não pode. (WATSON E DRURY, 1990, p. 21)

De acordo com Chevalier e Gheerbrant (2006), os símbolos separam

e unem e comportam as duas idéias de separação e de reunião, evocando uma

comunidade que foi dividida e que pode se reagrupar. Todo símbolo comporta

uma parcela de signo partido. O sentido do símbolo revela-se naquilo que é

simultaneamente rompimento e união de suas partes separadas.

A Arteterapia é uma das formas de terapia que através da

estimulação do desenvolvimento da criatividade pode favorecer a liberação das

emoções dos conflitos internos; imagens perturbadoras do inconsciente; o

contato com ansiedades por causa de conteúdos reprimidos e medos;

desenvolvimento da coordenação motora; soluções para a resolução de

problemas cotidianos; a formação da identidade e o equilíbrio físico, mental e

espiritual.

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A arteterapia utiliza muitas ferramentas de expressão artística e uma

delas é a música aliada a qualquer ramo arteterapêutico. A música pode ser

associada à contação de história; a produções de artes plásticas, tais como:

desenho, pintura, colagem e escultura e a expressão corporal através da dança

e do teatro.

O desenvolvimento do processo criativo tratado na arteterapia

consiste em utilizar o cérebro para recombinar novas conexões neurais

possibilitando a descoberta de novos conceitos.

Diante do exposto, a Arteterapia tem o seu foco no sujeito e não em

sua produção artística. Assim sendo, dentro do setting Arteterapêutico, não é

preciso ser um excelente desenhista, não precisa estudar artes cênicas ou ser

músico. No processo arteterapêutico o sujeito tem que se sentir seguro e livre

de julgamentos para que possa se expressar criativamente. A partir da sua

produção criativa, ele pode entrar em contato com o inconsciente e trazer ao

consciente as questões que precisam ser trabalhadas, tais como: seus

conflitos, suas sombras e seus recalques. O sujeito cria possibilidades de se

reorganizar mental e afetivamente e de encontrar o caminho para a

individuação.

2.2 A Utilização da Música na Arteterapia

Acredita-se que a principal função da música na arteterapia está

relacionada com a necessidade de expressar os conteúdos emocionais

internos. Por outro lado, o uso da música apresenta possibilidades infinitas.

A música permite uma reflexão interior sondando áreas do

inconsciente despercebido pelo consciente humano. Nenhuma outra

ferramenta é capaz de investigar o ser humano tão profundamente e de forma

tão agradável. Cabe ao arteterapêuta saber onde, quando e como aplicá-la ao

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seu cliente, para que ele possa, conscientemente, produzir ferramentas

internas capaz de prover e transformar as emoções em sentimentos

racionalizados e benéficos para a dicotomia existente ente corpo e a mente.

Diante disso, a música na Arteterapia não envolve a mesma proposta da

Musicoterapia.

Para que não haja erros conceituais deve-se esclarecer que a

Musicoterapia é a utilização da música e os seus elementos, tais como: ritmo,

melodia e harmonia, por um musicoterapeuta qualificado. A musicoterapia

pode ser desenvolvida com apenas um cliente ou com um grupo com o objetivo

de promover a comunicação, o relacionamento, o aprendizado, a mobilização,

a expressão, a organização e outros objetivos terapêuticos. Sua finalidade é

atender as necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. A

musicoterapia busca desenvolver potenciais e restaurar funções do indivíduo

para que ele alcance uma melhor qualidade de vida, através de prevenção,

reabilitação ou tratamento. No entanto, não é intenção dessa pesquisa abordar

com profundidade o trabalho específico realizado pela Musicoterapia, mas a

ampla utilização da música em diversas atividades arteterapêuticos.

Por sua vez, a Música na arteterapia propõe associá-la a qualquer

trabalho no setting arteterapêutico. Portanto, o arteterapêuta que utiliza música

como um instrumento não precisa ser músico. Por outro lado, se o

arteterapêuta conhecer o desenvolvimento da história da música e a influencia

dela sobre o estado emocional trabalhará de forma consciente e poderá

aproveitar melhor essa ferramenta para alcançar seu objetivo terapeutico de

forma eficaz.

Dessa forma, o uso da música no processo terapêutico deve ser

utilizado com suavidade e liberdade. A partir do memento em que o

arteterapêuta conhece o poder de cura da música e sua influência sobre os

estados psíquicos e emocionais, poderá utilizá-la como uma poderosa aliada

aos trabalhos com a Arteterapia. A audição de uma música pode trazer à tona

conteúdos emocionais contidos no inconsciente que serão importantes para a

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terapia. As atividades utilizando letras de músicas para a produção de leitura,

colagens, pinturas e muitos outros, pode ser muito revelador; a produção de

ritmos e sons pode propiciar momentos catárticos. O trabalho corporal a partir

de determinada música pode liberar o sujeito de alguns traumas inconscientes;

observar os ritmos corporais pessoais pode trazer uma grande percepção do

sujeito.

A maior parte dos profissionais desconhece o efeito poderoso que

alguns tipos de música exercem sobre o ser humano. Dependendo do tipo de

música associado as experiências pessoais e subjetivas a música pode agitar,

energizar, entristecer, acalmar motivar e conscientizar, interiormente, o

indivíduo, embora este não tenha a consciência de que a música, dependendo

do seu gênero, seja capaz de alterar significativamente sua estrutura molecular

e cerebral.

Todavia, o presente estudo aborda o processo terapêutico que utiliza

a música para acionar os conteúdos psíquicos do inconsciente com a finalidade

de serem interpretados pelo consciente. Pois, quando o sujeito produz qualquer

som através de um objeto sonoro cria música dentro de si mesmo e a partir

disso encontra novas possibilidades de encontro da sua essência presente em

seu inconsciente com o seu eu consciente.

Supõe-se facilmente que em música, talvez mais que outros campos de criação artística, a pessoa esteja apta a projetar os seus desejos mais profundos de maneira simbólica e torna-los, então, aceitáveis ao ego. (RUUD, 1990, p. 3)

Parte-se do princípio que todo ser tem equilíbrio rítmico presente na

pulsação. O desenvolvimento às vezes é inibido por questões externas. O

trabalho do arteterapêuta é promover o equilíbrio interno através de propostas

plásticas, utilizando música, fazendo uso de canções de pulso regular, com

andamento lento ou regular. Essa é uma possibilidade terapêutica que pode

estimular a harmonização dos componentes psíquicos.

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Por meio de ritmo pulsante e organizador, a música pode oferecer uma possibilidade de equilíbrio interno que se verificará nas atitudes de uma pessoa. Por exemplo, um cliente que esteja vivendo um momento conturbado, com múltiplas preocupações, ansioso, terá, provavelmente, o seu pulso interno tão descompassado quanto o seu momento de vida. este poderá ser evidenciado na sua produção plástica por meio de utilização de cores fortes e traços descontínuos, agitados, por um lado, ou por traços muito fracos e cores extremamente suaves, se em estado depressivo. Ambas situações apontam para um desequilíbrio que, por sua vez, poderá ser constatada nas palpitações irregulares do seu coração, na sua respiração descontínua e, mesmo, no seu caminhar oscilante (VICTÓRIO, 2003, p. 79)

Para tal é preciso considerar o fato de que esse andamento interno

não é constante e varia de acordo com os ciclos vitais. Todas as fases vividas

pela infância, adolescência, idade adulta e velhice devem ser consideradas

com suas características individuais e peculiares.

Diante do exposto, a música aplicada de forma consciente aos

trabalhos arteterapêuticos pode ser utilizada de inúmeras maneiras no setting

de Arteterapia. Sendo assim, a música quando utilizada como facilitador dos

processos emocionais poderá atingir seu objetivo vindo a ser uma grande

colaboradora para o a individuação do sujeito.

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CAPÍTULO 3

OS EFEITOS DA MÚSICA NO CÉREBRO E NA PSIQUE

3.1 Como a Música é Percebida pelo Cérebro Humano

De acordo com Kolb e Bryan (2002) a Neurociência Comportamental

explica que a música tem uma forte influência sobre o corpo humano e em

especial sobre o funcionamento do cérebro. Os sons são captados no ouvido

externo, amplificados no ouvido médio e levados ao cérebro, que os interpreta,

no ouvido interno. Os estímulos nervosos enviados pelo ouvido, provocados

pelo som, chegam até o tálamo que envia estímulos nervosos para as

amígdalas, para o córtex pré-frontal e para o hipotálamo.

Os sons são percebidos pelas vibrações que entram pela orelha. Ao

chegarem ao ouvido interno, as células receptoras da cóclea transformam

esses impulsos em sinais elétricos, que passam pelo nervo coclear e vão até o

bulbo, no tronco encefálico e depois aos colículos inferiores. As fibras do nervo

coclear dividem-se de forma que a maior parte dos estímulos provenientes de

cada orelha vá para os dois hemisférios. O processamento nesse estágio

permite que o cérebro determine a localização do som. Os sinais alcançam o o

córtex auditivo via tálamo, onde características como freqüência, intensidade,

qualidade e significado são percebidas. O córtex auditivo esquerdo está mais

relacionado com o significado e com a identificação do som e o direito com a

qualidade.

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A região do córtex auditivo esquerdo seria responsável pelo reconhecimento e discriminação de sutilezas do som. Quanto ao córtex temporal do hemisfério esquerdo, ele é indispensável para a composição e a escrita da música. No hemisfério esquerdo, também estão os centros da linguagem que nos possibilitam compreender, inclusive, a linguagem musical. Há indícios de que algumas funções musicais e lingüísticas são mediadas por substratos neurais comuns, como é o caso da sintaxe presente na música e na fala humana. (VICTÓRIO, 2008, p. 24)

De acordo com Vitório (2008), todos os seres vivos e tudo que está a

sua volta são vibrações sonoras, mas para que os sons sejam ouvidos com

significado, eles precisam ser captados pelos ouvidos e transportados ao

cérebro.

O tálamo é formado por várias divisões e está localizado abaixo do

córtex, na região central do cérebro e funciona recebendo as informações dos

sentidos, tais como: visão, audição, gustação e tato. O tálamo também envia as

informações para outras regiões do cérebro, incluindo o córtex cerebral.

As amígdalas fazem parte do sistema límbico e estão localizadas no

centro do lobo temporal e também fazem comunicação com o córtex pré-frontal

e hipocampo. O hipocampo funciona como um “banco de dados” da memória.

Por isso, ao ouvir um determinado som, a amígdala dispara e prepara o

organismo para produzir hormônios. Ela entra em contato com o córtex pré-

frontal, responsável pelo raciocínio, através do giro cingulado. Esse processo

leva aproximadamente quatro segundos. Depois de interpretada a informação

as memórias do hipocampo são ativadas e as amígdalas estimulam, através do

hipotálamo, a produção de cortisol e adrenalina, que preparam o nosso corpo

para a fuga ou defesa; ou os hormônios do bem estar que são a serotonina e

noradrenalina.

Quando o organismo é exposto a uma música suave que produz

bem estar e tranqüilidade a produção de hormônios e os ritmos do corpo

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podem provocar diversos efeitos benignos à saúde diminuindo o estresse e

regulando os efeitos psicossomáticos.

Por outro lado, quando o cérebro é exposto a músicas de ritmos

alucinantes como heavy metal. Todo o organismo humano fica comprometido.

Assim, aumenta o desejo por drogas ou comportamentos que estimulem o

prazer e, portanto, o vício.

Segundo Costa (1994) o organismo estimula as glândulas supra-

renais a secretarem corticóides e adrenalina. As glândulas adrenais passam

então a produzir e liberar os hormônios do estresse: adrenalina e cortisol.

Esses hormônios aceleram os batimentos cardíacos, dilatam as pupilas,

aumentam a sudorese e os níveis de açúcar no sangue, reduzem a digestão e

ainda o crescimento e o interesse pelo sexo. Além disso, contraem o baço, que

expulsa mais hemácias para a circulação sangüínea, o que amplia a

oxigenação dos tecidos, e causa imunodepressão que é a redução das defesas

do organismo. A função dessa resposta fisiológica é preparar o organismo para

a ação, que pode ser de “luta” ou “fuga”.

Além dos Sintomas Auditivos, o ruído exerce ação geral sobre várias funções orgânicas, apresentando reações distintas, com características comuns, mas com diferentes significados, como: Reações de alarme, que consistem em resposta rápida de curta duração sob a ação de um ruído repentino. Essa atitude reflexa se manifesta através do ato de fechar os olhos, há aumento da freqüência cardíaca e respiratória, aumento da pressão arterial e secreção salivar, dilatação pupilar, contração brusca da musculatura e aumento da secreção dos hormônios e Reações neurovegetativas, em que a ação geral do ruído exerce uma resposta lenta com variações durante a estimulação auditiva, influenciando e promovendo transtornos considerados como verdadeiras doenças de adaptação de instabilidade do sistema neurovegetativo; como por exemplo, o aumento do tônus muscular, hiperreflexia, redução do peristaltismo intestinal, distúrbios digestivos, angústia, inquietação, variações na dinâmica circulatória e aumento da amplitude respiratória. (CARMO, 1999, p.32)

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O heavy metal causa um desarranjo no sincronismo dos dois lados

do cérebro. Quando o corpo é colocado e exposto a estímulos desarmônicos

variados e contínuos causam perturbação e desordem patológica

fundamentais. A característica da música rock é perturbadora porque funciona

como o oposto das batidas do coração.

O ruído estressante libera substâncias excitantes no cérebro, tornando os indivíduos sem motivação própria, incapazes de suportar o silêncio. Também libera substâncias anestesiantes, tipo ópio e heroína, provocando prazer, conduzindo ao uso de fortes drogas psicotrópicas. (CARMO, 1999 p.37)

3.2 A Música e a Psique Humana

O conjunto de vivencias e experiências formam a psique humana

que está diretamente relacionada com as emoções. No entanto, sabe-se que a

emoção e a razão não são áreas separadas mais estão intrinsecamente

relacionadas e uma acontece em função da outra. Em vista disso, o estudo

sobre o funcionamento do cérebro evoluiu muito nos últimos anos. Atualmente,

é possível identificar as partes específicas do cérebro usadas para diferentes

aspectos do pensamento e da emoção. Conforme dito antes, hoje sabemos

que a área do raciocínio é o córtex pré-frontal e a área das emoções é o

sistema límbico. Cada região cerebral contribui de forma única para o

funcionamento do sistema nervoso. Embora, estejam tão interligados que é

impossível separar razão e emoção.

Segundo Antonio Damásio (2000), neurocientista, o erro de

Descartes foi justamente esse, separar a emoção da razão. Esse conceito foi

engessado pela cultura humana e durante muito tempo formamos em todas as

esferas sociais e profissionais conceitos extremamente radicais quanto ao

comportamento emocional humano.

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Descartes acreditava que o corpo era separado da mente. A mente

só precisava do corpo para poder funcionar, fora isso, não havia nenhuma

conexão entre eles. No entanto, Damásio defende o conceito de que o corpo e

a mente estão interrelacionados.

A famosa frase do filósofo francês, penso, logo existo, sugere uma atividade (pensar) exclusiva da mente, separada do corpo. Damásio contesta o dualismo da frase e sustenta que certos aspectos do processo da emoção e do sentimento são indispensáveis para a racionalidade, e que os sentimentos e emoções são uma percepção direta de nossos estados corporais e constituem um elo entre corpo e consciência. (apud RELVAS, 2007, p. 51)

A estrutura cerebral do ser humano está basicamente dividida em

três partes. O cérebro primitivo, área do cerebelo, responsável pelo movimento

motor; o sistema límbico, conforme citado, responsável pelas emoções e o

córtex pré-frontal, conforme dito antes, responsável pelo raciocínio, julgamento,

escolhas e planejamento. Porém, todos estão intimamente relacionados. Os

movimentos motores são comandados pela emoção e conforme a situação ele

será racionalizado pelo indivíduo, o que fará com que ele corra ou fique parado.

A memória auditiva está interligada com a memória visual, olfativa,

tátil e a gustativa. Todos os estímulos externos e sensoriais passam pelo

hipotálamo e são armazenados no hipocampo que é responsável pela memória

de longa duração. Por isso, a música é muito mais que um simples conjunto de

sons que compõe uma melodia. Ela penetra na mente humana reativando as

memórias geradas por experiências vividas.

A saúde física e emocional está diretamente relacionada com a

memória. O hipocampo é responsável pela memória de longa duração e é

nessa estrutura cerebral que acontecimentos impressionantes alteram de tal

forma essa estrutura que forjam novas conexões entre neurônios. Essas

modificações possibilitam a reconstrução ou recordação de acontecimentos

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passados. A música desperta emoções inconscientes porque está presente em

várias situações e experiências vivenciadas pelo ser humano. Por isso, ao ouvir

determinados tipos de música o indivíduo pode entrar em vários estágios como

alegria, tristeza, euforia e depressão. Essas experiências, provavelmente,

aconteceram simultaneamente à audição de alguns sons e músicas que

ficaram imperceptíveis no exato momento. Porém, depois de consolidadas, as

memórias de longo prazo são armazenadas no cérebro como um grupo de

neurônios, criando um padrão, preparados para serem acionados ao mesmo

tempo quando alguma experiência atual assemelha-se a recordações já

armazenadas.

Ao vivenciarmos uma experiência o sujeito recebe informações de todo o tipo. Em determinadas situações, os sentidos visuais e auditivos podem estar sendo mais exigidos, neurônios são ativados de forma consistente e simultânea, a força sináptica dessas conexões são potencializadas. Sinais luminosos são captados pela retina e sons pelos aparelhos auditivos, são transformados em impulsos elétricos que migram para o córtex cerebral, eles circulam antes de serem descartados ou arquivados. O impulso morre, mas a passagem por determinado caminho estabelece conexões, criam-se ganchos, que permite ao cérebro recriar imagens. Quando essa informação é resgatada da memória, o conhecimento será acessado de forma simples e rápida. (RELVAS, 2007, p. 50)

O hipocampo faz parte do sistema límbico que está conectado ao

sistema nervoso autônomo. Este é responsável pelas atividades dos órgãos

viscerais, como: sistema cardiovascular, circulatório, respiratório, digestivo e

excretório. Além disso, está interligado ao sistema endócrino e imunológico.

Por isso, a ciência explica o fato de que as doenças ou a cura são adquiridas

ou manifestadas através das emoções que são evocadas pelas memórias

armazenadas no cérebro e analisadas pelo córtex pré-frontal responsável pela

razão.

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Temos duas memórias, uma que se emociona, sente, comove, outra que compreende, analisa, pondera, reflete. Trata-se de emoção e de razão. Essa dualidade se articula através de um mecanismo dinâmico, uma impulsionando a outra com grande rapidez nas tomadas de decisões. Na verdade, complementam-se. Cada pessoa apresenta diferentes reações conforme a utilização de suas mentes. Nessa interação o sistema límbico está presente, personagem importante para o cérebro. (RELVAS, 2007, p. 51)

Dessa forma, os efeitos benéficos da música à saúde já foram

comprovados há muitos anos e seu reconhecimento e ações comportamentais

e emocionais, levou o seu uso como prevenção e cura de enfermidades físicas

e mentais.

É difícil encontrar uma única fração do corpo humano que não acuse a influência dos sons musicais. A música afeta o corpo direta e indiretamente. Atua de forma direta sobre as células e os órgãos que o constituem, e indiretamente mobilizando as emoções e influenciando em numerosos processos corporais que, por sua vez, propiciam relaxamento e bem-estar (http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/cogitare/article/viewFile/13121/8881)

No entanto, é importante ressaltar que estilos musicais afetam

pessoas de diferentes formas. É a presença física do som que influencia

nossas reações. As leis naturais governam a química do corpo e da mente e a

música também provoca efeitos físicos e mentais no corpo humano: “a música

afeta as necessidades físicas, emocionais, cognitivas e sociais de indivíduos de

todas as idades” (TODRES, 2006 p. 166).

A maioria das pessoas por não conhecerem os efeitos da música

ignora o impacto que ela tem sobre sua saúde física, social e mental. A escolha

da música é amplamente determinada pelo gosto pessoal influenciado pela

cultura. Embora, muitas tendências reflitam a demanda consumista da nossa

sociedade.

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Estudos de imagem do cérebro mostraram atividades nos condutos auditivos, no córtex auditivo e no sistema límbico, em resposta à música. Mostrou-se que a música é capaz de baixar níveis elevados de estresse e que certos tipos de música, tais como a música meditativa ou clássica lenta, reduzem os marcadores neuro-hormonais de estresse (TODRES, 2006, p. 167).

Diante do exposto, percebe-se que a influencia da música no

comportamento humano vai além de um simples despertar de emoções. Ela

altera a estrutura cerebral através da consolidação da memória de longo prazo.

Por isso, ressalta-se que a sua utilização na arteterapia deve ser utilizada de

forma consciente objetivando ajuda terapêutica mesmo que não haja

verbalização por parte do cliente.

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CONCLUSÃO

A presente pesquisa conclui que a música está ligada ao ser

humano desde os tempos primitivos e que sem ela o mundo se tornaria

incompleto. A musica é mais que uma arte, e sim um instrumento que deve ser

utilizado com responsabilidade.

Por conseguinte, a pesquisa mostrou que utilizar música na

arteterapia é diferente do trabalho de musicoterapia que é realizada através de

um profissional com formação acadêmica em música.

A música tem comprovado a sua eficácia no processo de cura e de

melhora na qualidade de vida de indivíduos de qualquer idade. Dessa forma,

por ser um elemento e agente de cultura, pode ser utilizada como elemento

terapêutico, pois é uma linguagem estruturada.

Além disso, pode ser utilizada como estratégia para prevenir,

reabilitar, readaptar o indivíduo, promovendo sua saúde através do canal som-

música-emoção, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida do

indivíduo, independente de idade e situação econômica.

De acordo com os estudos feitos, a música age diretamente no

cérebro resgatando memórias inconscientes para serem tratadas

conscientemente promovendo cura física e emocional. Por isso, não deverá

nunca ser utilizada aleatóriamente como um simples fundo musical ou para

preencher algum espaço vazio no período de tempo de consulta do paciente.

Todas as vezes que o arteterapeuta utilizar música deve ter um objetivo claro a

ser alcançado.

Sendo assim, a música, por todos os seus benefícios, é um

excelente instrumento facilitador do processo arteterapêutico.

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BIBLIOGRAFIA

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WEBGRAFIA

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPITÚLO 1

A HISTÓRIA DA MÚSICA

1.1 O Que é Música? 10

1.2 A Evolução da História da Música 13

1.3 A Função da Música 20

CAPÍTULO 2

MÚSICA NA ARTEREPIA

2.1 O Que é Arteterapia? 25

2.1 A Utilização da Música na Arteterapia 27

CAPÍTULO 3

OS EFEITOS DA MÚSICA NO CÉREBRO E NA PSIQUE

3.1 Como a Música é Percebida pelo Cérebro Humano 31

3.2 A Música e a Psique Humana 34

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 40

WEBGRAFIA 41

ÍNDICE 42


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