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EleiçõesEleiçõesEleiçõesEleiçõesEleiçõesno Conselhono Conselhono Conselhono Conselhono Conselho

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Em entrevista ao JE, o professor Wilson Cano,do Instituto de Economia da Unicamp, afirmaque não há outra alternativa para o Brasil quenão seja a de buscar um crescimento alto epersistente. O que deve ser feito através deamplos programas de habitação, educa-ção, reforma agrária e políticas mais ar-rojadas que recriem um sistema finan-ceiro nacional e reescalonem as dívidasdo país. Autor de livros importantes so-bre economia e colaborador dos pro-gramas de governo do PT, o professorCano teme que o Governo Lula percaa oportunidade conquistada nas urnase que o país tenha que esperar outros25 anos para implementar as mudan-ças que se fazem necessárias.

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Crescer é aalternativa

Nº 170 – SETEMBRO DE 2003

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EDITORIAL

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ISSN 1519-7387

Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Ceci Juruá, Paulo Passarinho,Paulo Mibielli, Sidney Pascotto, Nelson Le Cocq, Gil-berto Caputo Santos, Gilberto Alcântara e JulioMiragaya

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Jornal dos

2 jornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembro de 2003o de 2003o de 2003o de 2003o de 2003

A vez do Brasil

O Jornal dos Economistas tem bus-cado, em suas últimas edições,ouvir economistas engajados na

luta pela transformação do país, paraconhecer suas opiniões, sugestões e crí-ticas ao Governo Lula.

Neste número, ouvimos o professorWilson Cano, da Unicamp, conhecidoestudioso e pesquisador da economiae colaborador dos programas de gover-no do PT na área econômica. Sua ava-liação acentua a preocupação com osrumos econômicos do Governo Lula,embora reconheça as suas valiosas con-tribuições à política externa do país.

É no campo macroeconômico quese ampliam suas apreensões, queabrangem desde questões como a au-tonomia do BC à forma como foramencaminhadas as reformas da Previ-dência e Tributária.

A manter essa política de alinha-mento com organismos internacionaiscomo FMI e Bird, o professor WilsonCano acredita que o país poderá per-der uma grande oportunidade de rea-

SumárioPágina 03 Orçamento 2004 – Jorge Bittar, deputado federal

Página 05 Reforma tributária – Alexandre Teixeira

Página 07 Eleições Corecon

Página 08 Entrevista: Wilson Cano, professor da Unicamp

Página 11 Passivo externo – Rodrigo Vieira de Ávila

Página 14 Balanço financeiro

Página 15 Ações contra a Prefeitura

Página 16 Economistas na Internet

Curso sobre Karl Marx

lizar as transformações tão necessári-as ao seu povo.

Mas o JE traz também artigo do de-putado federal Jorge Bittar (PT-RJ),relator do projeto de Orçamento para2004, o primeiro do Governo Lula. Oparlamentar mostra os números que es-tão sendo previstos para o ano que veme conclui que o governo atual está ope-rando em um espaço estreito que, po-rém, poderá render grandes frutos afrente para que o país retome o cami-nho do crescimento, e, desta vez, deforma sustentável e sem recuos.

Para os economistas do Rio, contu-do, o mês de outubro é de eleição. Nodia 30, as urnas do Conselho se abrempara receber os votos dos economistaspara a eleição do terço de conselheirosdo Corecon-RJ. É uma nova oportuni-dade de cravar a opção no rumo doprogresso e do desenvolvimento da en-tidade, destino que todos almejamostambém para o país.

Uma boa leitura e bom voto a todosos leitores e eleitores.

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ORÇAMENTO 2004

3jornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembro de 2003o de 2003o de 2003o de 2003o de 2003

Jorge Bittar*

Um passo para o crescimento

orçamento de 2004 reflete o resulta-do das iniciativas adotadas pelo Go-verno Lula para reorganizar a eco-

nomia brasileira e preparar o caminhode retomada do crescimento econômico.

Com medidas duras e severas, o Go-verno Lula conseguiu reverter o pro-cesso de degeneração macroeconômicado Brasil. O risco Brasil, que em janei-ro estava em 2.400 pontos – uma pon-tuação estratosférica – hoje situa-se abai-xo dos 700. A inflação brasileira que seencontrava na faixa de 40%, está agoraentre 7% e 8%. O dólar, que alcançavaos R$ 4, neste momento apresenta-sena faixa de R$ 3.

Além disso, graças ao enorme esfor-ço exportador, revertemos o crônico dé-ficit na balança comercial e nas contascorrentes do balanço de pagamentos,geramos um saldo de US$ 10 bilhões nabalança comercial do primeiro semestree apontamos um superávit nesse mes-mo item superior a US 20 bilhões. Essequadro oferece-nos uma posição maisconfortável para discutir um novo acor-do com o FMI, buscando eliminar as res-trições que limitam os investimentos dasempresas públicas e o endividamentodo setor público brasileiro.

A própria economia brasileira já re-vela sinais claros de reanimação e te-nho confiança de que no último tri-

Índices previstos

O orçamento para 2004 é reflexo doesforço bem-sucedido do Governo Lula,uma vez que apresenta indicadoresmacroeconômicos melhores do que osque valeram para o início deste ano.Ou seja, trabalharemos com uma infla-ção anual de 5,5% (IPCA), taxa de câm-bio prevista de R$ 3,51 por dólar e umcrescimento econômico de pelo menos3,5% do PIB. E é esse cenário que nospermite ter a confiança de que os R$ 40bilhões a mais de arrecadação que es-tão previstos no orçamento da Uniãopara 2004 serão efetivamente realizados.

O orçamento reflete também a con-tinuidade do esforço fiscal para man-ter a dívida pública brasileira controla-da. Isso implica gerar um enormeesforço de superávit primário do orça-mento fiscal e da seguridade de R$ 42bilhões, o que, lamentavelmente, aca-ba por limitar os gastos sociais e osinvestimento em infra-estrutura eco-nômica e de desenvolvimento urbano.Como aspecto de grande relevânciapositiva do orçamento do próximo ano,posso destacar o crescimento dos gas-tos sociais discricionários (de livre apli-cação do Governo) em R$ 7 bilhões,com foco no programa Unificação dasTransferências de Renda, que vai dispor

mestre deste ano sentiremos os pri-meiros efeitos da retomada do cresci-mento econômico. Enfatizo, aqui, queacredito que o Natal deste ano de-monstrará melhorias em relação aoNatal passado.

Relator do Orçamento para 2004, o deputado federal do PT-RJ escreve para o JEos principais números e as sinalizações presentes nas previsões de arrecadação,despesas e investimentos do Governo Lula para o próximo ano

O

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de R$ 5,4 bilhões, reunindo em um sócadastro e em uma única secretaria degestão os cinco programas hoje dis-persos em diversos ministérios e semqualquer controle. Também os gastosna área de Saúde terão um incrementode R$ 6 bilhões e a área de Educaçãoaumentará em R$ 1 bilhão.

Com relação à Reforma Agrária, a ver-ba terá um acréscimo de mais de 40%,

permitindo dessa forma avanços impor-tantes no programa de assentamento defamílias, a ser combinado com o pro-grama de financiamento da agriculturafamiliar, que, além de sua simplificaçãopara facilitar o acesso aos pequenos pro-dutores, disporá da expressiva quantiade R$ 5,3 bilhões.

Aumentando recursos

No que diz respeito à infra-estruturaeconômica destaco o crescimento dosgastos com a área de Transportes. Aquiteremos R$ 2,4 bilhões para a recupera-ção e readequação de nossas rodoviasque se encontram em estado lastimávele para a construção de novas estradas,além dos investimentos em portos, trans-portes hidroviários e ferrovias.

No setor de Desenvolvimento Urba-no ressalto os gastos com saneamento,que serão superiores a R$ 5 bilhões, reu-nindo o orçamento da Funasa e o do Mi-

nistério das Cida-des e os recursosdo FGTS geridospela Caixa Eco-nômica Federal.Na área de Habi-tação, o programade subsídio à ha-bitação dirigido afamílias com rendaaté três salários-mínimos disporáde R$ 350 milhões.

Vale ressaltarque iremos garan-tir recursos no or-çamento a seremaplicados no siste-ma de transportesurbanos sobre tri-lhos, dos quaisboa parte será des-tinada ao Rio de

Janeiro. Pode-se prever um ano melhorpara a área de Ciência e Tecnologia –com um orçamento superior a R$ 2 bi-lhões – que envolve os Fundos Setoriaisde Ciência e Tecnologia – direcionadopara o incremento da pesquisa científi-ca e o desenvolvimento e a inovaçãotecnológicos.

Na área econômica, deve-se destacaros recursos para o financiamento da sa-fra que são os maiores já registrados his-toricamente, somando mais de R$ 32 bi-lhões, que alavancarão a produção degrãos, setor de extrema importância parao mercado interno e, sobretudo, paraimpulsionar as exportações.

Tenho que ressaltar que a peça or-çamentária foi elaborada com muito ri-gor pelo Ministério do Planejamento. Aotramitar no Congresso Nacional, essapeça merecerá emendas parlamentaresque refletirão prioridades regionais e pri-oridades de setores da sociedade. Comorelator, farei ainda as adequações ne-cessárias para ajustar a receita ao resul-tado da reforma tributária em curso noCongresso.

Por fim, estou confiante de que pro-duziremos uma proposta orçamentáriamelhor do que a de 2003 ainda quetrabalhando num regime de restriçõesfiscais. Tenho a convicção de que osgastos do Governo Lula em 2004 ajuda-rão a impulsionar o crescimento econô-mico e, como pude ressaltar, sedirecionarão para construir um novopadrão de crescimento que seja maisjusto e equilibrado, do ponto de vistasocial e regional. Quero lembrar que oprimeiro orçamento do Governo Lulapoderá não ser o dos nossos sonhos,mas será o orçamento que, dentro dopossível, vislumbrará caminhos maispromissores para o Brasil.

* Deputado Federal (PT-RJ) e relator doOrçamento/2004

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REFORMAS Alexandre Teixeira*

elite não é mais a mesma e a escravi-dão, com as devidas ressalvas, é coi-sa do passado. Muito mudou o país,

mas a cobrança de tributos mantém-se fiel àlógica colonial. As 530 maiores empresas não-financeiras do país faturaram R$ 226 bilhõesem 1998. A metade delas não pagou um cen-tavo de imposto ao Fisco. Hoje, os bancospagam 50% do que pagariam, se a legislaçãoem vigor fosse a anterior a 1995. Ao mesmotempo, os impostos que recaem sobre os ren-dimentos do trabalho aumentaram 27% da-quele ano até hoje.

Para nossa tristeza, falar hoje sobre Re-forma Tributária é falar mais do mesmo. Asmudanças propostas pelo Governo Lula paraa área tributária não afetam a lógica que pre-valece desde o Brasil Colônia. Ainda que hajauma relativa dança dos números, o baile é,como sempre foi, das elites.

A situação é ainda pior se levamos em

Reforma tributária mantémdesigualdades

Durante a Colônia, Reino e Império a carga tributária recaía sobre comerciantes,mineradores e pequenos proprietários, havendo a casta privilegiada dos próximosao poder que estavam livres de pagar tributos. Estar isento era símbolo de status,como sonegar era um ato de resistência. Hoje, as elites mantêm seus privilégios,recusando-se a participar com sua quota tributária, como reafirmação de um privi-légio secular e de um descompromisso com a gestão da sociedade**

consideração que Lula nada muda em umsistema que foi sorrateiramente transforma-do nos dois governos de FHC. Em 1994, acarga tributária no país era de 29,8% e atin-giu, em 2002, 36%, uma elevação vertigino-sa. Os EUA, por exemplo, levaram 30 anospara fazer uma elevação de 2%. Mas, piorque isso, a reforma de FHC agravou umacaracterística da matriz de arrecadação doEstado brasileiro – a de ser altamenteconcentradora de renda e riqueza. Nestequesito, perdemos apenas para Serra Leoa,República Centro-Africana e Suazilândia,únicos a ostentar concentração de renda mai-or que a nossa.

Sem mexer na Constituição, FHC alterouproporcionalmente as matrizes de cobrançados tributos. Hoje, o consumo responde por67% da arrecadação, a renda 29% e opatrimônio por apenas 4%. A concentraçãoda renda no consumo penaliza, sobretudo,

os consumidores de baixa renda (gráfico1),visto que os impostos sobre consumo – taiscomo CPMF e COFINS – incidem igualmen-te sobre rendimentos desiguais.

Em relação à renda, FHC produziu alte-rações no Imposto de Renda (IR) que inver-teram o peso da cobrança entre trabalho ecapital (gráfico 2). As medidas aliviaram ocapital e sobrecarregaram a tributação dosrendimentos do trabalho, isso, ao mesmotempo em que a massa salarial despencavaem participação no PIB, de 44%, em 1996,para 37%, em 2001.

A partir de 1995, o governo FHC fez mo-dificações profundas na legislação infracons-titucional para desonerar o capital financeiro.Veja algumas:• Dedução de juros sobre o capital próprio dos

lucros tributáveis – só existe no Brasil. Casoo empresário tivesse que pegar emprésti-mos para fazer capital de giro, pagaria ju-ros. Quando ele tem capital próprio, a leipermite que ele calcule quanto pagaria dejuros “se” pegasse empréstimos e lancecomo despesa, diminuindo a parcela de lu-cro sobre a qual recai a cobrança de impos-tos. O artifício chega a abater 19% do im-posto devido;

• Isenção da distribuição de lucros e dividen-

dos – os rendimentos das pessoas físicas,provenientes de lucros ou dividendos, nãopagam imposto de renda – mas, a partici-pação dos resultados nos resultados conti-nua pagando imposto de renda;

• Isenção da remessa de lucros ao exterior – alegislação não distingue residentes no Bra-sil ou no exterior. Assim, o dinheiro levadopara fora do país goza da mesma isenção;

• Rendimentos de capital são tributados ex-clusivamente na fonte, com alíquotas, emmédia, de 15%, bem abaixo da alíquota deIRPF para quem ganha acima de R$ 2.215,00(27,5%);

GRÀFICO 1Nº DE SALÁRIOS/TRIBUTAÇÃO

MÍNIMOS DO CONSUMO

Até 2 13,13%2-3 12,80%10-15 10,69%20-30 9,13%Mais de 30 6,94%

GRÁFICO 2IMPOSTO DE RENDA NA FONTE

1996 2001Trabalho (IRPF) 41% 49%Capital (IRPJ /CSSL) 59% 51%

Tapete vermelho para o capital

Fonte: Revista Brasil Fórum Cidadão jan/2003

Novos amigos do Rei

Já em 1995, o rumo estava traçado. O go-verno extinguiu a alíquota de 35% do IR dePessoas Físicas – que atingia quem ganhavaacima de R$ 14.000,00 mensais, hoje equiva-lente a R$ 25.000,00 – e baixou a alíquota deIR de Pessoa Jurídica de 25% para 15%. Aisso, seguiu-se o congelamento da tabela do

A

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A Reforma Tributária do Governo Lula não ataca nenhuma dasdistorções do sistema atual. Um retorno às bases do sistema tributárioanterior a 1995 já seria suficiente para desfazer alguns dos efeitos maisnocivos à economia brasileira provocados por FHC, da mesma forma,sem necessidade de alterar a Constituição.

Cálculos do Unafisco mostram que seria possível arrecadar cerca de R$13bilhões anuais – seis ou sete vezes mais do que a esperada economia com aReforma da Previdência, que esquarteja direitos dos trabalhadores – somen-te revendo as distorções nas renúncias fiscais e fortalecendo a fiscalização.

No entanto, a sanha da arrecadação fácil introduziu impostos emcascata e de péssima qualidade, engessando a economia brasileira. Acom-panhado de medidas de fragilização da administração tributária – inco-modado, o capital foge – o “novo” sistema submete toda a sociedade,setor produtivo inclusive, à penúria completa para agradar os novos se-nhores da Terra.

Sem reverter uma legislação que favorece o ilícito fiscal (vide extinçãoda punibilidade mediante pagamento das dívidas), sem inverter a matrizde arrecadação e sem equacionar o lado das despesas, sangrado pelopagamento dos juros da dívida, o governo terá passado por todas asagruras no Congresso Nacional para nada.

A reforma trata fundamentalmente de repartir melhor (?) a arreca-dação tributária entre União, estados e municípios. É o caso do Fundo deDesenvolvimento Regional, que destina parte do IPI e do IR às regiõesNorte, Nordeste e Centro-Oeste. Também é o caso da Contribuição so-bre Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que vai ser repartida porestados e municípios. Sua manutenção continua a onerar o custo dostransportes.

A unificação da legislação no ICMS apresenta-se com duas justifica-tivas básicas: acabar com a guerra fiscal e simplificar a cobrança. A guer-ra só acaba daqui a 11 anos, se não for prorrogada indefinidamente nofuturo, como acontece com os incentivos para a Zona Franca de Manaus,agora estendidos até 2023.

A simplificação do sistema facilita a cobrança dos impostos devidos,mas não altera a proporção de sua incidência. A transição da cobrançana origem para o destino, que poderia melhorar a situação dos estadosmais pobres, assim como a desoneração dos bens de capital, vem acom-panhada de medidas compensatórias para os estados que perdem arre-cadação. Esse dinheiro tem que sair de algum lugar.

Adivinhem quem vai pagar esta conta?A CPMF, que deveria ter alíquota simbólica para fins de fiscalização,

está prorrogada até 2007, assim como a Desvinculação das Receitas daUnião (DRU), que permite ao governo usar livremente 20% das receitas.

O deslocamento da contribuição patronal para o INSS da folha depagamentos para o faturamento tem um lado positivo, que é o estímuloà formalização dos empregos, mas, por outro, será repassada para opreço final dos produtos, entrando na mesma lógica da tributação sobreo consumo.

Outra mudança é a transferência do Imposto Territorial Rural para oâmbito municipal. Atualmente, o ITR é responsável pelo desprezívelpercentual de 0,0002% da arrecadação no país. Com a concentração deterras atravancando o desenvolvimento do interior do país, a União trans-fere o imposto aos municípios, que não têm estrutura para fazer a co-brança. Isso significa pelo menos mais alguns anos de imunidade aoslatifundiários, em geral, “donos” da prefeitura nas cidades menores.

Os pontos positivos ficam por conta da diminuição das alíquotas deICMS para alimentos da cesta básica e remédios de uso continuado; acriação do Supersimples, que unifica os procedimentos para o pagamen-to de impostos federais, estaduais e municipais pelas micro e pequenasempresas, saudada como uma medida inclusiva; a equiparação da Cofinsdo setor financeiro ao setor produtivo, que representa agora um aumen-to de 1 ponto percentual (de 3% para 4%); e a revisão das alíquotas daCSLL que, segundo o governo, corrige distorções no pagamento de im-postos das prestadoras de serviço, estas duas últimas modificadas atra-vés Medida Provisória 107/03. E é só.

Resumindo, sem descartar benefícios residuais, o esforço hercúleopara a aprovação das reformas constitucionais na área tributária não pro-duz inversões na matriz de arrecadação, não redimensiona os gastoscom os juros da dívida pública, não transfere renda, nem eleva a qualida-de da administração tributária. Portanto, não vai ao cerne da questão:quem financia o Estado brasileiro?

O discurso oficial do governo, de que a Reforma Tributária vai permitiro crescimento do país para melhorar a qualidade de vida da população, éuma mal disfarçada reapropriação da velha tese de que o bolo tem quecrescer primeiro para depois distribuir. E assim passam-se os anos, com ostrabalhadores atônitos vendo os capitalistas comerem o bolo todo.

A neutralidade advogada pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu, quedeclara buscar com a Reforma Tributária um jogo em que “ninguémganha, ninguém perde”, serve apenas para manter como está algo que,como demonstramos, mantém a lógica de exclusão instaurada aqui des-de a chegada de Pedro Álvares Cabral.

Hércules: 11 trabalhos para nada

IRPF, que incluiu indevidamente na boca doLeão um contingente de assalariados que nãotem efetiva capacidade contributiva.

Outras providências foram, aos poucos,redesenhando a arrecadação, de modo que,entre 1996 e 2001, a tributação sobre o tra-balho aumentou 27%, sobre o consumo au-mentou 45% e sobre o capital, os novosamigos do Rei, baixou 14%, em termos re-ais, já descontada a inflação.

O resultado não poderia ser outro: menorpoder aquisitivo, menor consumo, aumentode desemprego, aumento da informalidadee, claro, queda da arrecadação para a Previ-dência Social, agora alçada ao posto de vilãdas contas públicas, com destaque para oRegime Próprio dos Servidores Públicos.

O pano de fundo de toda esta movimen-tação surdina é o financiamento da dívidapública brasileira. O modelo FHC aprofun-dou a dependência da entrada de capitalestrangeiro no país, a história é bem co-nhecida. Um estudo do Unafisco Sindicalmostra que a curva de aumento da cargatributária coincide exatamente com a doaumento do superávit primário (gráfico 3).Ou seja, FHC poupou seu parceiro prefe-rencial, o sistema financeiro, e cobrou dospobres a conta do ajuste fiscal. É por issoque o sistema tributário brasileiro é umRobin Hood, às avessas.

* Presidente do Unafisco/RJ** Revista Conexão nº 1, Unafisco Sindical, 2003 Em 1994, o superávit primário foi de R$ 30 bilhões.

Em 2003, a previsão é de R$ 54 bilhões, ou 4,25% do PIB

GRÁFICO 3

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7jornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembro de 2003o de 2003o de 2003o de 2003o de 2003

INSTITUCIONAL

s economistas do Rio deJaneiro têm um encon-tro marcado com as ur-

nas no próximo dia 30 de ou-tubro, para a eleição do terçode conselheiros do Corecon-RJ.A cada ano, um terço do Ple-nário de Conselheiros consti-tuído por nove membros titu-lares é renovado, através deeleições disputadas pelas cha-pas inscritas a concorrer.

Para estas eleições está ins-crita apenas a chapa do Movi-mento de Renovação dosEconomistas, formada peloscandidatos a conselheiros titu-

Pleito vai renovar o terceiro terço do Conselho Regional de Economia doRio de Janeiro – Corecon-RJ

Eleições dia 30 para o Conselho

O próximo presidente doCorecon-RJ será eleito na pri-meira reunião plenária do Con-selho, que se realizará imedia-

tamente após a posse dos no-vos membros a serem eleitos.

É a seguinte a chapa com-pleta do MRE.

O Clube de Economia conta com 47 convênios na categoria Educação.Aproveite os descontos para aperfeiçoar seus conhecimentos ou para matri-cular seus filhos em um dos estabelecimentos conveniados.

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CRECHE À ALFABETIZAÇÃO

BARRA DA TIJUCACreche Escola Piuii – 50% na matrícula e 20% na renovação dematrícula. E mais 5% na educação infantil (maternal, jardim I, jardim IIe jardim III) para alunos novos. Tel.: 2493-8017 e 2491-4661www.piuii.com.br – e-mail: [email protected]

ZONA SULCuriosa Idade Creche e Pré-Escola – Situada em Laranjeiras, oferece10% na educação infantil. Isenção da primeira taxa de reserva de vaga.Tel.: 2205-7222 e 2556-8594 – www.curiosaidade.com.br – e-mail:[email protected]

Palmo e Meio Creche – Situada em Botafogo, oferece 10% na educaçãoinfantil (creche ao pré-escolar). Isenção da primeira taxa de reserva devaga. Tel.: 2286-0952, 2286-6519 e 2535-3009e-mail: [email protected]

Creche Escola Ciranda Cirandinha - Situada na Gávea, oferece 20% doberçário à classe de alfabetização e 50% na taxa de matrícula. Tel.: 22743846 - 2529-2756 - 2521-5624 – e-mail: [email protected]

Mary Poppins – Situada na Urca, oferece 50% na matrícula e 10% nasmensalidades. Tel.: 2275-9776 - 2244-5626 – www.marypoppins.com.bre-mail: [email protected]

ZONA NORTECreche Escola Studio da Criança – Situada no Grajaú, oferece 10% doJardim II ao C.A e 5% do berçário ao Jardim I. E ainda, isenção da primeirataxa de reserva de vaga para todas as séries. Tel.: 2576-3792www.studiodacrianca.com.br – e-mail: [email protected]

Creche Escola Sonho Encantado – Situada no Méier, oferece 10% noberçário, mini-maternal, maternal, jardim I, II, III e CA.Isenção da primeira taxa de reserva de vaga. Tel.: 2581-6437 e 2281-9963www.crechesonhoencantado.com.bre-mail: [email protected]

CLUBE DA ECONOMIA – CORECON-RJ

lares Carlos Henrique TibiriçáMiranda, José Antonio Lutter-bach Soares e Renata Leite Pin-to do Nascimento.

Os votos serão recebidos nasede do Corecon, na avenidaRio Branco, 109/16º, a partirdas 9h até às 18h, tendo direi-to a participar da eleição todosos economistas em dia com aanuidade ao Conselho. O vototambém poderá ser dado atra-vés de correspondência, emenvelope padronizado e soli-citado previamente ao Core-con, devendo ser recebido atéa hora final da votação.

Movimento de Renovação dos Economistas - MRE

Conselheiros Efetivos – Carlos Henrique Tibiriçá Miranda,José Antonio Lutterbach Soares e Renata Leite Pinto do Nasci-mento.Conselheiros Suplentes – Gilberto Alcântara da Cruz, Jorgede Oliveira Camargo e Rogério da Silva RochaDelegado-Eleitor Efetivo – Reinaldo Gonçalves.Delegado-Eleitor Suplente – Ronaldo Raemy RangelConselheiro Efetivo do Cofecon – Sidney Pascotto da RochaConselheiro Suplente do Cofecon – Eriksom Teixeira Lima

O

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Arq

uivo Wilson Cano, professor da UnicampENTREVISTA

8 jornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembro de 2003o de 2003o de 2003o de 2003o de 2003

Jornal dos Economistas – Que avalia-ção o senhor faz dos nove primeiros me-ses do Governo Lula?Wilson Cano – O início de um mandatoé sempre problemático, em qualquer mu-dança de governo. Neste, o quadro é muitopior, haja vista a “herança maldita” querecebeu e cujas seqüelas certamente semanifestarão ainda por muito tempo, comoos efeitos desastrosos das privatizações,do aumento monumental da dívida públi-ca e de nosso passivo externo, do conge-lamento do sistema financeiro nacional ede seus escorchantes juros. Evidentemen-te, o governo já se deu conta de váriosproblemas na órbita ministerial e na ad-ministrativa. Por exemplo, sua intençãoagora declarada de unificar vários progra-mas sociais, para dar-lhes melhor eficáciae amplitude.De mais positivo nessa gestão são as açõesque podem conduzir a uma acentuadamudança em nossa política externa, sejacom a continuidade e aprofundamento denegociações especiais com China, Índia eRússia, seja no revigoramento do Mercosule na integração de outros países da Améri-ca do Sul, seja ainda pelas recentes falas naONU contra a política unilateral dos EUA.

Professor do Instituto de Economia da Unicamp e colabo-rador de vários programas de governo do PT, o professorWilson Cano, em entrevista ao JE, defende a mudança derumo na política macroeconômica. “Corremos o risco deperder essa chance”, alerta, referindo-se a enormepotencialidade do Governo Lula para executar as mudan-ças no país que a maioria da população tanto almeja. “Pre-cisamos rever, sim, os contratos antinacionais de váriasprivatizações, abrir espaço no orçamento público paraaumentar a taxa de investimento”, defende o professor,autor de vários livros, entre eles, Desequilíbrios Regionaise Concentração Industrial no Brasil e Reflexões sobre oBrasil e a Nova (Des) Ordem Internacional.

Com a Alca, penso que nossas contrapro-postas e os impasses verificados recente-mente na OMC retardarão ainda mais suaefetividade. É claro que nossa entrada naAlca é muito importante para os EUA, poissomaríamos, com eles, o Canadá e o Méxi-co, 92% do PIB e 89% das exportações con-tinentais. Como fica claro, os demais 31países somariam, economicamente falando,muito pouco. A incorporação de váriosdestes países não seria politicamente difícilaos EUA, dado que vários – notadamenteos centro americanos e alguns do Caribe –já exportam para o Nafta cerca da metadede suas exportações. Contudo, além do pro-blema da competitividade de nossa indús-tria, a Alca nos traria problemas graves: odos subsídios e de barreiras não tarifáriasdos EUA às importações agrícolas; comprasgovernamentais, direitos sobre a proprie-dade intelectual e comércio de serviços,questões essas de grandes implicações paranosso futuro econômico.

JE – E de negativo?De negativo, a continuidade da políticamacroeconômica, a reiteração, após a pos-se, da autonomia do BC e a ambigüidademanifesta pela manutenção das agências

reguladoras. Estas duas últimas questõesconstituem, de fato, uma anomalia políti-ca e pouco democrática, pois significam,de fato, uma divisão com um “quarto po-der”, também executivo, mas que não foieleito pelo povo. A forma como encami-nhou as reformas da Previdência e a Tri-butária, que, ao contrário do que pensavao governo, vão gerar um efeito líquidonegativo sobre as receitas da União. Aprevidenciária, aliás, explicitou o velho erancoroso preconceito das classes médiasbaixas contra o funcionalismo público.Seus efeitos práticos, no futuro, serão ru-ins, seja pelo desmantelamento de carrei-

Precisamos voltara crescer

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ras de pessoal mais qualificado (como naUniversidade, por exemplo); seja na im-possibilidade concreta de que os fundosde pensão que venham a ser criados nosmoldes ora apresentados possam pagar,efetivamente, as aposentadorias e pensõesantes recebidas ou que possam ser “agen-tes do financiamento do desenvolvimen-to”, como pensam alguns ingênuos.

JE – O Governo Lula não considera asmedidas econômicas que vem adotandocomo “continuísmo” e sim como de “tran-sição” para um novo modelo. O senhoracredita que esteja em curso um processode transição na economia?Cano – Num sentido, sim, como no âmbi-to da política externa. Mas no sentidomacroeconômico e institucional, não, hajavista que as políticas macroeconômicas efe-tivamente representam continuidade. Ogoverno já gastou muito tempo para inici-ar uma efetiva transição. Espero, como amaioria dos brasileiros, que ainda tenha-mos brevemente uma transição para umaalternativa que efetivamente objetive osinteresses da nação e de seu povo, e nãoapenas os do capital financeiro. É dissoque precisamos.

JE – Em sua opinião, o Governo Lula po-deria ter começado diferente, com outrasopções?WC – Sim, fazendo uma verdadeira transi-ção rumo à outra alternativa de políticaeconômica, como, aliás, desenhamos emnosso Programa de Governo. Penso queprosseguir no atual modelo é um equívo-co, pois, se estou certo, ele conduz fatal-mente a repetitivos desastres de nossascontas externas: quanto mais crescermos,se crescermos a taxas elevadas maiores se-rão os desequilíbrios externos e das con-tas públicas. Examinei a trajetória neoli-beral dos sete principais países da AméricaLatina, e constatei isso: miniciclos de cres-cimento, outros de contração e debilita-mento, que resultam em taxas médias delongo prazo tão ruins ou piores do que asda “década perdida”; desemprego crescen-te; aumento do passivo externo; piora dadistribuição da renda, crise social e maiorviolência. É ingênuo pensar que esse mo-delo permite ajustes “salvadores” (essaanálise, aliás, está em meu livro Soberaniae Política Econômica na América Latina,Unesp, S.Paulo, 2000). Também constitui

equívoco imaginar que, com taxas de ju-ros reais elevadas e baixo crescimento doPIB a relação Dívida/PIB baixaria consi-deravelmente. A propósito, o problema dadívida não é sua proporção para com oPIB, e sim seus prazos e o nível de seusjuros, que, no nosso caso, são asfixiantes.

JE – Qual deveria ter sido o caminho?WC – Não temos outra alternativa senão ade perseguir estratégia de crescimento altoe persistente, que maximize o emprego eminimize o gasto e o financiamento exter-nos, usando nossa importante base de re-cursos naturais e aprofundando nosso mer-cado de massas. Mas isto não se fazaumentando o financiamento ao consu-mo ou reduzindo impostos sobre automó-veis. Faz-se via amplo programa habita-cional e de saneamento básico; programasextensos de saúde e educação públicas;reforma agrária e distribuição de outrosativos; sistema nacional de armazenageme abastecimento; etc. Para tanto, precisa-mos fazer novas reformas. Não as chama-das de “segunda geração” do Bird, massim aquelas necessárias à implementaçãodo acima exposto. Republicizar nossos ban-cos públicos; recriar um sistema financeironacional; reescalonar a dívida pública ebaixar muito seus juros reais; renegociar adívida externa; reformas agrária e urbana,etc.

1 É óbvio que temos que ampliar nos-

sas exportações e substituir algumas impor-tações. Mas isto requer políticas econômi-cas fortes, que colidem com o ideárioneoliberal. A ampliação e diversificação denossas exportações são problemáticas, tantopelas dificuldades de toda a ordem paraampliar exportações de elevada base deciência e tecnologia, quanto pelo fato deque 75% do valor de nossas exportaçõesagrícolas ou agroindustriais e minerais têmbaixas dinâmicas de crescimentos no mer-cado mundial, ou são perdedoras líquidas.Embora nossa integração com todos ospaíses da América do Sul seja muito im-portante política e economicamente, ébom lembrar: a forte predominância deprodutos básicos e semimanufaturadosem todas as nossas pautas exportadoras;as dificuldades de financiamento de umcomércio regional; e o fato de que, quantomais subdesenvolvida uma área, a parti-cipação intrabloco no total exportadopelo bloco é muito baixa, como na Amé-rica Latina, onde essas porcentagens va-

riam de 5% a 20%, ou na África, ondevariam entre 1% e 11%, em contraposiçãoà Europa (65%), Nafta (55%) ou a Ásia-Pacifico (72%).

JE – O acordo do Brasil com o FMI se en-cerra neste final de ano. O senhor achaque o país deve renovar este acordo ounão? Caso sua resposta seja afirmativa,sob quais condições deve ser negociadoum novo acordo - nas mesmas vigentesou outras?WC – Reconheço que teria sido muito di-fícil aos candidatos à eleição em 2002 evi-tar a armadilha em que o governo anteri-or e o FMI os puseram, fazendo-os secomprometer, publicamente, com os ter-mos do atual acordo. O presidenteChávez, da Venezuela, cometeu o mes-mo erro em 1998 e pagou caro por isso.Aqui também, na medida em que o com-promisso devia ser cumprido e o acordoevitaria uma crise cambial de graves pro-porções. As falas atuais de membros dogoverno levam-me a pensar e temer pelapossibilidade de que poderá haver umnovo acordo. Se houver, e se seus termosforem os “de costume”, teremos, inevita-velmente, não só mais um ano perdidopara a transição rumo a outra alternativa,como também a continuidade das amar-ras hoje existentes na política econômicae o aumento de suas seqüelas. Dado queas pressões cambiais em 2003 estão di-minuídas pelo superávit comercial, pen-so que não deveríamos renová-lo, salvose conseguíssemos o milagre de imporao FMI nossas condições para a alteraçãodos rumos da economia.

JE – Como avalia a proposta do professorCelso Furtado, de restabelecimento de al-guns mecanismos de controle cambial nopaís, visando a criação de condições pararenegociação da dívida externa, inclusi-ve, através de uma moratória soberana?WC – A proposta diminuiu um pouco meupessimismo, dada a autoridade de quema fez. Ou seja, é preciso conscientizar ogoverno e a sociedade de que a rota denossas contas externas, determinada pelomodelo neoliberal, nos conduz, inexora-velmente, ao desastre. Acumulamos, en-tre 1995 e 2002, déficits em transaçõescorrentes que somam cerca de US$ 200bilhões, ampliando nossa dívida externapara US$ 230 bilhões e nosso passivo

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externo para US$ 400 bilhões. Isto é ummal incurável, a menos que se tome des-de já as necessárias medidas de sanea-mento, com a alteração da política eco-nômica. Não nos iludamos com oexcepcional saldo comercial parcial des-te ano (jan-ago), dado que boa parte deledecorre de queda das importações (-2,9%), consideráveis aumentos de preços(entre 10% e 40%), e fortes aumentos dequantidades exportadas, alguns decorren-tes de quebra de safra em outros países eda recessão do mercado interno.

JE – Como analisa a recente renegociaçãorealizada pela Argentina com o FMI?WC – A Argentina é uma das economiasque foi mais sacrificada pelos regimes or-todoxos ali implantados desde 1974, ten-do, entre essa data e 2002, apresentadoum crescimento médio anual de seu PIBde medíocre 1,1%. Se computarmos ape-nas o período 1998/2002, sofreu depres-são, com o PIB caindo quase 20%. Entre1991 e 2002, acumulou déficits em tran-sações correntes de US$ 91,5 bilhões(equivalentes ao aumento de sua dívidaexterna no período), e alcançando taxade desemprego próxima a 21%. Sua de-claração falimentar deu-se em 2002, coma desvalorização e com a pesificação damoeda. Paradoxalmente, essa situaçãopermitiu-lhe adotar medidas drásticas e amoratória foi um fato natural, dada suaincapacidade de pagamentos. Numa si-tuação dessas, os credores pouco podemfazer e o que se viu foi a pressão dosEUA sobre o FMI para “abrandar” e ace-lerar o novo acordo. Agora mesmo (22/9), na reunião anual do FMI/Bird, emDubai, a Argentina anunciou a seus cre-dores que só pagará 25% de sua dívidaexterna privada, apresentando três pro-postas para o saldo, com alargamento deprazos e melhores condições de paga-mentos e de refinanciamentos, e parte daproposta anuncia descontos do valornominal de suas dívidas que chegam até75%! A recusa de Kirchner em aceitar to-dos os termos do novo acordo com o FMIdecorreu da posição financeira e da crisesocial argentina e de sua convicção polí-tica de que devia resistir. Conseguiu re-duzir a determinação do superávit fiscalde 2003 para 2,5%, para 3% em 2004, adi-ando a cifra para 2005 e adiou também a“compensação” exigida pelos bancos ar-

gentinos, de cerca de 7 bilhões de pesose o aumento das tarifas públicas. Contu-do, as demais cláusulas foram mantidas.Parece que novos ventos estão surgindona América Latina, e, assim, penso quenossos países deveriam se unir para alte-rar os termos e condições draconianas deseus “acordos” com o FMI.

JE – O senhor sempre defendeu o planeja-mento econômico e uma política industri-al forte. O Governo Lula acaba de adotarmedidas incentivando o consumo. O se-nhor acredita que há espaço para umapolítica industrial? Quais seriam as linhasmestras desta política?WC – Os incentivos já concedidos à am-pliação do consumo são muito poucos ede efeito reduzido. A questão não é in-centivar o consumo! É como retomar nos-sa capacidade de investir, visando nossas

priorizações efetivas e inadiáveis: habita-ção, saneamento, saúde e educação. Éampliar o consumo, também, não via in-centivos, mas, sim, via aumento de capa-cidade produtiva, do emprego e da distri-buição de renda. Claro é que algo tambémterá de ser alocado para infraestrutura desuporte à produção e às exportações, masem outro plano de prioridades. Há muitoa fazer em termos de construção de políti-cas setoriais e regionais para equacionaressas prioridades e os recursos necessári-os. Não só política industrial, mas tambémagrícola, alimentar, de abastecimento, etc.Mas para isso – é preciso insistir – não hácomo continuarmos manietados pelo fi-nanceiro, pelo FMI e por acordos interna-cionais que impedem o exercício de nos-sa soberania econômica. Precisamosrestaurar o crédito dirigido; rever nossosistema tarifário do comércio exterior; re-ver, sim, os contratos antinacionais de vá-rias privatizações; abrir espaço no orça-mento público para aumentar a taxa deinvestimento; etc.

JE – Que outras considerações o senhorgostaria de fazer?WC – Preocupa-me muito a possibilidadede continuarmos por mais tempo pratican-do a atual política econômica e de dar-mos vazão às reformas preconizadas peloBird e pelo FMI. Se isto sucedesse, nãoapenas perderíamos mais tempo, mas cer-tamente sofreríamos um elevado custopolítico com isto. Esse custo político podeser muito pesado para nós, que somos daesquerda, e críticos. Para nós, isso podesignificar uma outra espera de 25 anos.Temo também pela possibilidade de so-frermos uma orfandade da esquerda. Lem-bro que o Brasil é o único país da Améri-ca Latina, tirando Cuba, que tem umpartido de esquerda organizado e com, nomínimo, um quarto do eleitorado. Nosdemais países, seus partidos de esquerdasão fracos e minoritários, muitas vezes frag-mentados em várias agremiações. Então,um dos raros países que teria condiçõesde executar um amplo programa de res-gate social e de retomada do crescimentoalto e persistente seria o Brasil. Mas corre-mos o risco de perder essa chance.

1 Um esboço de tal proposta pode ser visto em meuartigo Agenda para um novo Projeto Nacional de De-senvolvimento (8/2002), apresentado ao XV CongressoBrasileiro de Economistas, Brasília, 9/2003.

Precisamos restaurar ocrédito dirigido; rever osistema tarifário do co-mércio exterior; os con-tratos antinacionais devárias privatizações; eabrir espaço no orçamen-to público para aumentara taxa de investimento.

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ara realizar o Plano Real,o governo passado abriuo país às importações de

produtos baratos do exterior,em sua forma de combater ainflação através do câmbio so-brevalorizado. Isto fez nossabalança comercial sair de umsaldo de US$ 10 bi por ano paraum déficit de US$ 5 bi anuais,em média. Para importarmosesses produtos, tivemos de nosendividar externamente, tantoem empréstimos convencionais(nos anos FHC, nossa dívidaexterna subiu de US$ 148 bi em1994 para US$ 229 bi em 2002),como no chamado “investi-mento estrangeiro”.

Em linhas gerais, esse “in-vestimento” significou, naverdade, a vinda de capital es-peculativo (em aplicações fi-nanceiras), ou a mera comprade empresas nacionais por em-presas estrangeiras, principal-mente por ocasião do proces-so de privatizações. Destaforma, esse capital não geroumaior capacidade produtiva,ou mais empregos para o país.

Em suma: vendemos o Bra-

VULNERABILIDADE Rodrigo Vieira de Ávila*

Passivo mais do quedobrou com FHC

sil para sustentar, artificialmen-te, por apenas alguns anos,uma política que se propunhaa “estabilizar” nossa economia.No período FHC, o aumento deUS$ 81 bilhões em nossa dívi-da externa, mais a entrada lí-quida de US$ 155 bilhões decapital estrangeiro, fizeram comque nosso Passivo Externo Lí-quido se multiplicasse e au-mentasse de R$ 153 bilhões, em1994, para cerca de US$ 390bilhões, em 2002.

O resultado disto é queempresas compradas por es-trangeiros passaram a remeterlucros para o exterior, o quefez estas remessas triplicarem– de US$ 1,5 bi por ano, naprimeira metade da década de90, para US$ 5 bilhões atual-mente. Os juros da dívida ex-terna quase dobraram, de US$8 bi para US$ 15 bi, como re-sultado do aumento do endi-vidamento. É impressionante asangria causada pelo pagamen-to desses juros. No períodoFHC, pagamos de juros e amor-tizações ao exterior quase US$60 bilhões a mais do que rece-

O passivo externo líquido do Brasil aumentoude R$ 153 bilhões, em 1994, para cerca de

US$ 390 bilhões, em 2002

bemos de empréstimos, e, mes-mo assim, nossa dívida exter-na aumentou em mais de 50%.

Cobrindo rombo

É bem verdade que esseaumento foi proveniente datomada de empréstimos exter-nos por empresas privadas,porém, na hora dessas paga-rem suas dívidas, é o governoque deve lhes fornecer dóla-res suficientes para tanto, senecessário, contraindo maisempréstimos. O que ocorreuano passado mostra bem isso:como a oferta de crédito secouno mercado internacional, ogoverno foi obrigado a recor-rer ao FMI para conseguir asdivisas necessárias ao paga-mento da nossa dívida externa“privada”. O resultado é que,nessa operação, foram estatiza-dos cerca de US$ 15 bilhões dedívida externa.

Apesar desta política deabertura comercial ter sido ex-tremamente criticada durante oprimeiro mandato de FHC, porgerar desemprego e endivida-mento, o ex-presidente conti-nuou no mesmo rumo, repetin-do todos os dias que “não haviaalternativa” e que os que prega-vam a mudança da política cam-bial eram “irresponsáveis”. Paranão se desmoralizar às véspe-ras da sua reeleição, FHC so-

mente admitiu que estava erra-do no início do seu segundomandato, quando fez o queconsiderava “irresponsável”:desvalorizou o câmbio, barran-do finalmente as importações.

Nestes oito anos, o capitalque entrou no Brasil na formade empréstimos e investimen-tos (a chamada conta de capi-tal e financeira), no montantede US$ 192 bilhões, foi quasetotalmente devolvido para oexterior na compra de produ-tos e serviços importados, e nasnossas remessas de juros e lu-cros das multinacionais aquiinstaladas (a conta de “Transa-ções Correntes”, que somouum déficit de US$ 187 bi noperíodo). Portanto, o capitalque entrou no país não geroudesenvolvimento, pois serviuapenas para cobrir o rombo emnossas contas externas.

Para tentar atrair esse capi-tal, o governo também utilizououtro artifício: aumentar as ta-xas de juros pagas aos credoresda “Dívida Interna”, que, ape-sar do nome, serviu para o mes-mo propósito da externa, ouseja, atrair investidores estran-geiros ao país, em condiçõesprivilegiadas. Com estas altastaxas de juros, a União, estadose municípios tiveram de pagarde juros da dívida interna R$ 722bilhões de 1995 a 2002, o querepresentou quase 10% do PIB

No período FHC, pagamos de juros e amortiza-ções ao exterior quase US$ 60 bilhões a mais doque recebemos de empréstimos, e, mesmo assim,nossa dívida externa aumentou em mais de 50%

P

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do período (tudo que o paísproduziu), ou 30% de todos osimpostos que pagamos nestesoito anos, ou mesmo, a metadedo nosso PIB de 2002.

Aumentando impostos

Para tentarmos pagar umapequena parte destes jurosestratosféricos, o governo au-mentou brutalmente a carga tri-butária, de 28,5% para 35,6%do PIB. Se esse aumento deimpostos não tivesse sido desti-nado ao pagamento dos juros,teria sido possível resolvermosgrande parte dos históricosproblemas brasileiros. Porém,isto não foi feito, e a dívida fi-nanceira se multiplicou. Se con-siderarmos somente a DívidaMobiliária Federal Interna, elasubiu de R$ 118 bi, em 1995,para R$ 687 bi, em 2002.

Em suma: após oito anos deFHC, estamos completamenteendividados, o desempregotriplicou, nossa estrutura pro-dutiva está desnacionalizada eestamos dependentes do capi-tal externo. Necessitamos, anu-almente, de cerca de US$ 50 bi-lhões por ano para fecharmosnossas contas externas. Nemmesmo um leonino superávitprimário é capaz de pagar se-quer parte dos juros da dívidainterna, o que mostra a invia-bilidade da continuidade dapolítica de FHC.

Infelizmente, o governo Lulainsiste no erro, e mantém a bus-ca cega por superávits comerci-ais que, apesar de recordes (US$12,5 bilhões até julho), não es-tão sendo capazes de pagarnem mesmo nossas despesascorrentes com o exterior (juros,lucros e serviços estrangeiros,que somaram US$ 12,8 bilhõesno mesmo período). Continua-mos dependentes da entrada decapital especulativo para saldar-mos as amortizações da dívidaexterna, que esse ano serão deUS$ 27,2 bilhões.

Esta situação também nosdeixa dependentes das impo-

sições do FMI, que assim podeexigir qualquer coisa do atualgoverno, desde o já conheci-do superávit primário até mes-mo à reforma da Previdência,que visa, na verdade, privatizá-la. A prova disso é que bastouo governo propagandear o fal-so “rombo” da Previdência Pú-blica para os Fundos de Previ-dência Privada dobrarem assuas vendas esse ano, e aumen-tarem suas receitas em mais de70% em comparação ao anopassado.

Essa reforma irá aumentarainda mais nosso Passivo Ex-terno, uma vez que muitos des-ses fundos privados de previ-dência são controlados porgrupos estrangeiros. O maiorexemplo disso é o próprio fun-do de previdência ligado aoBanco do Brasil, o BrasilPrev,que tem nada menos que 46%de suas ações pertencentes aomaior grupo americano de pre-vidência privada, o PrincipalFinancial Group.

Impedindo crescimento

Porém, isso é apenas a“ponta do iceberg”. A livre mo-bilidade de capitais existentehoje, principalmente atravésdas contas CC-5, eleva o Pas-sivo Externo com o exterior aníveis quase infinitos, vistoque qualquer especulador, aqualquer momento, pode con-verter quantos reais quiser emdólares e mandá-los instanta-neamente para o exterior.Qualquer crise financeirainternacional nos obrigará amultiplicarmos nossas taxas dejuros, na tentativa de segurar-mos esses capitais aqui den-tro, acabando assim com aesperança de termos um cres-cimento econômico significa-tivo na Era Lula.

O atual governo tambémprossegue na busca cega dosuperávit primário, que mesmotendo sido de 5,05% do PIB atéjulho – superior até ao impos-to pelo FMI, de 4,25% do PIB– não foi suficiente nem mes-mo para pagar metade dos ju-ros devidos no mesmo perío-do (de 10,18% do PIB). Essesuperávit primário também nãoimpediu que a Dívida Líquidado Setor Público ainda aumen-tasse esse ano, de 56,5 % doPIB em dezembro de 2002 para57% em julho.

Infelizmente, o PPA 2004-2007, apresentado recentemen-te pelo governo ao Congres-so, prevê a manutenção dessesuperávit em 4,25% do PIB atéo fim do governo Lula, acaban-do com a esperança de que oatual governo possa realizar in-vestimentos de vulto, em umaconjuntura de desemprego re-corde e queda nos salários.

É preciso coragem para re-ver o rumo. Temos de rompercom essa política de superávitsfiscais impostos pelo FMI, re-ver o processo de privatizaçõesocorrido no período FHC,auditar a dívida externa do paíse controlar o fluxo de capitais.Muitos poderiam dizer que es-sas medidas seriam absoluta-mente inviáveis, e não fariamparte dos planos do atual go-verno. Porém, todas elas es-tão no Programa de Governo“Lula 2002”, que em sua pági-na 46, afirma:

“Será necessário denunciardo ponto de vista político ejurídico o acordo atual com oFMI, para liberar a política eco-nômica das restrições impostasao crescimento e à defesa co-mercial do país (...) O Brasildeve assumir uma posição in-

ternacional ativa sobre as ques-tões da dívida externa, articu-lando aliados no processo deauditoria e renegociação dadívida externa pública, particu-larmente, de países como oBrasil, o México e a Argentina,que respondem por grandeparte da dívida externa mun-dial e, não por acaso, têm gran-de parte de sua população napobreza. (...)”

“Deve-se fortalecer o movi-mento pelo fim dos paraísos fis-cais, pela criação de novos me-canismos de controle do fluxointernacional de capitais e peloestabelecimento de mecanis-mos de autodefesa contra o ca-pital especulativo. A campanhainternacional pelo cancelamen-to das dívidas externas dos pa-íses pobres deverá ter forte par-ticipação do Brasil e deve seracompanhada pela perspectivade auditoria e renegociação dasdívidas públicas externas dosdemais países do terceiro mun-do. (...) O programa de privati-zações será suspenso e reava-liado, sendo auditadas asoperações já realizadas, sobre-tudo onde existem notícias demá utilização de recursos pú-blicos ou negligência no quetoca aos interesses estratégicosnacionais. (...)”

Se o atual governo nãocumprir sua palavra, estaremosdiante do maior estelionatoeleitoral do qual se tem notícianesse país, que esperou 500anos para ter um trabalhadorna presidência, e que agora vêa possibilidade concreta desuas esperanças se transforma-rem em decepção.

* Economista, responsável técnico peloBoletim da Auditoria Cidadã da Dívi-da, iniciativa da Campanha Jubileu Sul/Brasil.

O capital que entrou no país não gerou de-senvolvimento, pois serviu apenas para co-brir o rombo em nossas contas externas

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14 jornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembro de 2003o de 2003o de 2003o de 2003o de 2003

Com o objetivo de dar transparência às atividades do Corecon-RJ,apresentamos o Balanço Financeiro da instituição no primeiro semestre deste ano.

BALANÇO FINANCEIRO(JANEIRO A JUNHO)

EXERCÍCIO DE 2003

RECEITAS VALORES DESPESAS VALORES

TÍTULOS R$ R$ R$ TÍTULOS R$ R$ R$

RECEITA ORÇAMENTÁRIA DESPESA ORÇAMENTÁRIA

RECEITAS CORRENTES DESPESAS CORRENTES

RECEITAS DE CONTRIBUIÇÕES 1.571.241,28 DESPESAS DE CUSTEIO 726.435,98

RECEITAS PATRIMONIAIS 31.780,58 TRANSFERÊNCIAS CORRENTES 319.751,38 1.046.187,36

RECEITAS DE SERVIÇOS 12.440,50

TRANSFERENCIAS CORRENTES - DESPESAS DE CAPITAL

OUTRAS RECEITAS CORRENTES 11.621,09 1.627.083,45 INVESTIMENTOS 34.406,60

INVERSÕES FINANCEIRAS - 34.406,60 1.080.593,96

RECEITAS DE CAPITAL

ALIENAÇÃO DE BENS

ALIENAÇÃO DE BENS MÓVEIS -

ALIENAÇÃO DE BENS IMÓVEIS - - 1.627.083,45

RECEITAS EXTRA-ORÇAMENTARIAS DESPESAS EXTRA-ORÇAMENTÁRIAS

DEVEDORES DA ENTIDADE 693,54 DEVEDORES DA ENTIDADE 891,71

ENTIDADES PÚBLICAS DEVEDORAS 1.300,36 ENTIDADES PÚBLICAS DEVEDORAS 1.349,99

DESPESAS JUDICIAIS - DESPESAS JUDICIAIS -

DEPÓSITOS DE DIVERSAS ORIGENS - DEPÓSITOS DE DIVERSAS ORIGENS 6.678,95

CONSIGNAÇÕES 224.598,44 CONSIGNAÇÕES 220.560,60

CREDORES DA ENTIDADE - CREDORES DA ENTIDADE -

ENTIDADES PÚBLICAS CREDORAS 402.103,60 ENTIDADES PÚBLICAS CREDORAS 384.986,92

DESP. DE SUPRIM. A COMPROVAR - 628.695,94 DESP. DE SUPRIM. A COMPROVAR 400,00 614.868,17

SALDO DO EXERCÍCIO ANTERIOR SALDO PARA O EXERCÍCIO SEGUINTE

BANCOS C/ MOVIMENTO 10.258,13 BANCOS C/ MOVIMENTO (11.994,01)

BANCOS C/ ARRECADAÇÃO 39.078,98 BANCOS C/ ARRECADAÇÃO 33.380,12

DISPONIBILIDADE EM TRÂNSITO 12.364,93 DISPONIBILIDADE EM TRÂNSITO -

RESPONS. P/ SUPRIMENTOS 400,00 RESPONS. P/ SUPRIMENTOS 500,00

BANCOS C/ VINC. APLIC. FINANC. 136.417,68 198.519,72 BANCOS C/ VINC. APLIC. FINANC 736.950,87 758.836,98

TOTAL GERAL 2.454.299,11 TOTAL GERAL 2.454.299,11

Rio de Janeiro, 30 de junho de 2003

ARNALDO GONÇALVES DIAS SINDNEY PASCOUTTO DA ROCHACONTADOR CRC-RJ 77.189/O PRESIDENTE

CPF: 086.245.265-15 CPF: 546.930.717-49

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As matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de responsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Corecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Popular de opular de opular de opular de opular de OrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamento do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeiro.o.o.o.o.Equipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: Luiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, coordenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Filgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricardo Monteirdo Monteirdo Monteirdo Monteirdo MonteiroooooCORECONCORECONCORECONCORECONCORECON: Av. Rio Branco, 109 - 19° andar - Rio de Janeiro/RJ – CEP 20054-900 – Tel.: (21) 2232-8178 - Fax.: (21) 2509-8121

Correio eletrônico: [email protected] - Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.br – Reuniões do Fórum: quintas-feiras, às 18h, na sede do CORECON-RJ

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO

15jornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembro de 2003o de 2003o de 2003o de 2003o de 2003

primeira ação é de partedo promotor MarcosFagundes, da 3ª Promo-

toria de Justiça da Infância e daJuventude – 1ª Vara. A ação con-tra a Prefeitura do Rio de Janei-ro, cuja íntegra está publicada noDiário da Câmara Municipal dodia 07/09/03, está fundamenta-da, essencialmente, no Princí-pio Constitucional da Priorida-de Absoluta.

Este princípio determina adestinação privilegiada de ver-bas a serem utilizadas na im-plantação de políticas públicasdirigidas a criança e adolescen-tes. Com base nos dados dispo-nibilizados pela equipe do

ínfima quantia de R$ 4.979,00,ou seja, 0,02% do total destina-do, o que mostra descaso com acrítica situação de crianças e ado-lescentes no Rio de Janeiro.

Sendo assim, constata-se nãosomente a insuficiência de re-cursos destinados à SME, comotambém a não utilização do quefoi autorizado para a mesma.Cabe ressaltar que a ação estásendo feita por meio de pedidoliminar, dado o caráter emergen-cial da situação, uma vez que ademora na solução do litígio po-derá causar prejuízos irremedi-áveis a essas crianças, além dedesrespeitar o direito constituci-onal de acesso à educação.

Ações contra Prefeitura e EstadoDe acordo com o seu trabalho de acompanhamento, análise e, principalmente, de democratiza-ção do orçamento público do Rio de Janeiro, o Fórum vem trabalhando com o Ministério PúblicoEstadual e recentemente, colaborou em ações públicas movidas em defesa da cidadania, dasquais destacamos duas

A segunda ação é de autoria da promotora Gláucia Santana, da Defesada Cidadania da Capital, contra o Governo do Estado do Rio de Janeiro.Conforme a ação, são várias as irregularidades detectadas na execução dapolítica orçamentária da saúde do Estado do Rio de Janeiro. São apontadasna ação, desde remanejamentos e transferências de recursos não autoriza-dos pela legislação vigente até a execução de programas com recursos quenão correspondem às ações ou serviços de saúde.

Dentre as irregularidade apontadas estão a autorização para a libera-ção de R$ 68,2 milhões para o atendimento do Programa Compartilhar/Cesta Cidadão, em 6 de fevereiro; de R$ 10,8 milhões do Fundo para oprograma Restaurante Popular, em 11 de fevereiro; e a liberação de R$ 2,5milhões para aplicação no Programa Compartilhar/Cheque Cidadão da Ter-ceira Idade, em 13 de março.

A ação denuncia também a utilização de tais verbas sem a estrita ob-servância do princípio da universalidade, posto que atendem a clientelafechada. Entre estes programas estão a manutenção e o reaparelhamentodas Unidades de Saúde da Polícia Militar, o Hospital da Polícia Civil e oprograma Apoio à Saúde do Servidor Estadual, através do Iaserj.

Essas práticas permitem ao estado atingir de maneira virtual o percentual

Fórum, percebe-se que tal prin-cípio vem sendo negligenciadopelo Prefeito.

De acordo com o estudo, há10.829 crianças na fila de espe-ra por vagas em creches e esco-las no município do Rio de Ja-neiro. No entanto, foram criadasapenas 167 novas vagas. A Pre-feitura alegou que a escassez devagas em creches e escolas sedeve ao fato de não possuir re-cursos financeiros. Porém, tal jus-tificativa não confere, uma vezque o caixa do município vemacumulando superávits ao lon-go dos anos – de onde, inclusi-ve, foi retirado o dinheiro quefinanciou o uso de nomes e

marcas do Museu Guggenheim,no valor de R$ 30 milhões.

Segundo informação da pró-pria Secretaria Municipal de Edu-cação (SME), o custo para a cons-trução do novo programa CrecheEscola é de R$ 1.300.000,00, comcapacidade para atender até 180crianças. Sabendo que são 10.829crianças na fila de espera, o va-lor pretendido pela ação totalizaR$ 109.200.000,00.

De acordo com a Lei Orça-mentária Anual para 2003, foidestinado aos programas detrabalho da Prefeitura relacio-nados a creches o valor de R$24.802.001,00, porém, até omomento, só foi empenhada a

mínimo de recursos a serem destinados a ações e serviços públicos de saúdeprevistos pela Emenda Constitucional 29, para 2002, uma vez que tais pro-gramas não integram o conjunto definido pelo Plano de Saúde Estadual.

Ademais, favorecem projetos sociais de forte apelo popular, que por maisnobre que seja a finalidade dos mesmos, “se apossam” de verbas originalmen-te destinadas ao sistema de saúde que, segundo a ação, encontra-se comestoques de medicamento vazios, equipamentos sem manutenção, falta depessoal e de insumos, com acumulação de dívidas nos hospitais da rede.

A ação pede que, para este exercício, além de obrigatoriamente ter deaplicar o percentual mínimo de 10,04% da receita em ações e serviçospúblicos de saúde, o Estado do Rio de Janeiro acresça ao montante a quan-tia de R$ 558.499,14, referentes à omissão havida no cumprimento dopercentual mínimo no exercício de 2002. E, finalmente, propõe uma multade 10% do valor remanejado em caso de reincidência.

O Fórum sente-se honrado em poder colaborar com causas de interessepúblico e está mobilizado para o sucesso das ações que, sem dúvida, trarãobenefícios para a população do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que pode-rá servir de exemplo para outros estados e municípios. Desta forma, incenti-vando o interesse social pela elaboração e execução do orçamento público.

A favor da saúde pública

A

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16 jornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembro de 2003o de 2003o de 2003o de 2003o de 2003

xistem na internet algumas páginas(sites ou sítios) que vêm se especi-alizando em burlar a seriedade e a

gravidade da economia, satirizando defi-nições e, em alguns casos, realmente ti-rando do sério mesmo os mais sisudos.

É o caso, por exemplo, dos endere-ços http://netec.mcc.ac.uk/JokEc.html ouhttp://www.geocities.com/CollegePark/Grounds/3375/piadas.htm, disponíveis aqualquer navegador, sem maiores buro-cracias ou senhas. É entrar, e relaxar astensões com as glosas.

Algumas são muito óbvias: “A econo-mia é o único campo onde duas pessoaspodem ganhar um Prêmio Nobel dizendoexatamente coisas opostas”.

Outras, nem tanto: “Economia é a do-lorosa elaboração do óbvio”. Ou: “Pedi auma economista o número de seu telefo-ne... e ela me deu uma estimativa”.

Há casos hilários, como a seguinte fá-bula:

Um rico e bem sucedido economista dotrabalho queria porque queria ter um neto.

Páginas de fazer rirSítios na web fazem glo-sas da economia e de eco-nomistas

Tinha duas filhas e dois filhos, todos ca-sados. Durante o Natal, a família todaestava reunida, inclusive todos os genros eas noras e ele disse:– Eu quero muito dar continuidade a nos-sa família. Para ajudar nas futuras despe-sas depositei cem mil dólares no banco parao primeiro casal que tiver um neto meu.

Quando olhou para os lados só estavasua esposa na mesa de jantar.

Mas há também a crítica mordaz, figadal:– Quantos economistas da Escola de Chica-go são precisos para trocar uma lâmpada ?– Nenhum. Se a lâmpada precisa ser tro-

– Quantos economistas keynesianos sãoprecisos para trocar uma lâmpada?– Todos. Assim gerará mais empregos, au-mentando o consumo, deslocando a de-manda agregada para a direita...– Quantos economistas do Banco Centralsão precisos para girar uma lâmpada?– Apenas um. Ele segura a lâmpada e aterra gira em torno dele.

Porém, há definições que compensam:“Falar é fácil. A oferta é sempre maior quea demanda”. Ou, ainda melhor: “Econo-mistas só fazemsexo com mode-los”.

cada o mercado fará isto porsi próprio.– Quantos economistas neo-clássicos são precisos para tro-car uma lâmpada?– Depende do nível dos salários.

erão oito sessões, cada qual com duas horas, iniciando-se nodia 13 de outubro. Os professores serão os economistas RodrigoCastelo Branco e Pablo Bielchowsky, mestrandos em Economia

e Filosofia Política, respectivamente, na UFRJ.“O presente curso busca apresentar os principais conceitos do

pensamento de Karl Marx. O objetivo é contextualizar historicamen-te as suas idéias e vinculá-las tanto à vida e obra do autor quanto àhistória das ciências humanas e revoluções políticas do século XIX”,afirmam os professores na apresentação do curso, acrescentando:

“Apesar dos 150 anos que nos separam da sua obra, é precisoreconhecer o vigor das suas teorias que desvelaram a lógica do capi-

tal. Cabe a nós, através de uma reflexão críti-ca e profunda, num espaço de livre debate deidéias, resgatar o método de análise marxistapara interpretarmos a história e transformar-mos o mundo. E, indubitavelmente, um dospontos centrais desta revisão passa pela críticada economia política vulgar do século XXI”.

As sessões do curso são compostas dosseguintes temas: 1. Vida e obra de Marx; 2.Filosofia e materialismo histórico; 3. Política epráxis revolucionária; 4. Valor no modo de pro-dução mercantil; 5. A relação entre capital etrabalho assalariado e a teoria da exploração de Marx; 6. O desen-volvimento das forças produtivas na produção capitalista; 7. Circula-ção do capital e o processo global de produção capitalista; e 8. Impe-rialismo e economia política internacional.

As inscrições custam R$ 50 e as aulas serão na sede do Corecon-RJ, na avenida Rio Branco, 109/16º, no Centro, sempre às segundas,das 18h30 às 20h30. Outras informações na página do Conselho –www.corecon-rj.org.br ou pelo tel.: 2232-8178.

Curso sobre Marx no CoreconCorecon e Sindicato dos Economistas do Riode Janeiro promovem curso de “Introdução àcrítica da economia política – o pensamento deKarl Marx”

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