-
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
-
CARLOS WALTER
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS H. WALTER
2014
-
vedada a reproduo eletrnica ou xerogrfica desse livro
sem a autorizao expressa do autor.
Registrado na Biblioteca Nacional | ISBN n 978-85-911-3880-7 CARLOS H. WALTER
Capa, reviso, projeto grfico e formatao CARLOS WALTER
FICHA DE CATALOGAO WALTER, Carlos.
O violo e as linguagens violonsticas do Choro. Uberaba | Belo Horizonte, MG: Carlos H. Walter, 2014: edio do livro publicado em 2010, revista, ampliada e atualizada em 23/02/2014.
159p. A imagem da capa uma pintura em ltex de Giselda Walter. O
fundo da imagem da orelha corresponde pintura em ltex do Stio So Miguel (Oratrios, Minas Gerais) feita por Giselda e fotografada por Cloves Walter. A marca dgua retrata os irmos Carlos e Cloves Walter. A imagem de lvaro em Mariana (Minas Gerais) foi tirada por Paulo (in memoriam) e editada por Cloves Walter. O retrato de Anbal, lvaro e Mrcio Walter com uniforme da Sociedade Musical Unio XV de Novembro foi tirado na dcada de 50 por autor desconhecido. Os titulares das logomarcas e das referncias citadas (livros, artigos, teses, dissertaes, ensaios, textos eletrnicos, msicas, vdeos, letras e poemas) foram devidamente identificados.
Dados para a citao conforme a NBR 6023:2002 da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT): WALTER, Carlos. O violo e as linguagens violonsticas do choro. Uberaba |
Belo Horizonte, MG: Carlos H. Walter, 2014: edio do livro publicado em 2010, revista, ampliada e atualizada em 23/02/2014. 159p.
-
Dedico essas linhas aos meus talentosos pais (o maestro
lvaro e a artes Giselda) com homenagens extensivas ao meu filho
Pedro, minha esposa Rosana, aos demais familiares, obra
literomusical de meus ascendentes (Augusto e Anbal), ao clube
do choro de Belo Horizonte, ao violo e seus asseclas (aqui
representados pelo professor Srgio Ramos).
A msica e o artesanato da Famlia Walter
[Fotos | Acervo familiar]
Meu primeiro violo.
A logomarca violonstica e niemeyeriana
do clube do choro de Belo Horizonte [Design | Ericson Silva]
-
O violo um instrumento fcil de se tocar mal e difcil de se tocar bem.
PAGANINI
-
SUMRIO
FICHA DE CATALOGAO ................................................................................... 04
DEDICATRIA .................................................................................................... 05
EPGRAFE ........................................................................................................... 07
APRESENTAO .................................................................................................. 17
1 PARTE
VIOLO: BREVE HISTRICO ................................................................................ 19
HISTRIA DO CHORO: ALGUMAS REFERNCIAS .................................................. 26
LICENA POTICA I ............................................................................................ 28
PROFISSO DE F ................................................................................... 28
VIOLO .................................................................................................. 29
LUTERARIA, ESTRUTURA E CUIDADOS ESPECIAIS ............................................... 30
MODELOS ........................................................................................................... 35
EXTENSO .......................................................................................................... 35
ENCORDOAMENTOS ............................................................................................ 36
AFINAO PADRO E AFINAES ALTERNATIVAS.............................................. 37
OUVIDO, MEMRIA, POSTURA E RELAXAMENTO ................................................. 37
EXERCCIOS ISOMTRICOS ............................................................................... 39
ACESSRIOS ERGONMICOS .............................................................................. 41
UNHAS ............................................................................................................... 41
LIXAMENTO ............................................................................................ 42
ACABAMENTO E POLIMENTO ................................................................... 42
ALIMENTAO ........................................................................................ 42
MATERIAL SINTTICO ............................................................................ 42
METRNOMO | AFINADOR .................................................................................. 43
MECANISMOS TCNICOS DE TOCABILIDADE ...................................................... 44
-
FRMULAS DE ARPEJOS PARA A MO DIREITA ........................................ 44
ESTUDOS SUGESTIVOS ................................................................. 45
OUTRAS PEAS ............................................................................. 46
FRMULAS DE DIGITAO PARA A MO ESQUERDA ................................ 47
A MSICA ENQUANTO LINGUAGEM .................................................................... 48
SISTEMAS DE NOTAO ..................................................................................... 48
PARTITURA ............................................................................................. 49
TABLATURA ............................................................................................ 49
CIFRA ..................................................................................................... 49
BRAILLE .................................................................................................. 50
ACIDENTES | CRCULO DE QUINTAS .................................................................. 50
CHART READING ................................................................................................. 51
2 PARTE
O VIOLO DE 6 CORDAS NO CHORO .................................................................... 53
ESTRUTURA DO CHORO ....................................................................................... 53
FORMA .................................................................................................... 54
FORMA TPICA .............................................................................. 54
FORMAS ATPICAS ........................................................................ 55
ALTERNATIVAS TONAIS FREQENTES .......................................... 55
TONS COMUNS PARA O TEMA CENTRAL ......................................... 56
RITMO .................................................................................................... 56
CLULAS CARACTERSTICAS ......................................................... 56
VARIAES RTMICAS E DESDOBRAMENTOS ESTTICOS .............. 57
ANACRUSES ............................................................................................ 58
1 NOTA .......................................................................................... 58
2 NOTAS ....................................................................................... 58
-
3 NOTAS ....................................................................................... 58
FINALIZAES ....................................................................................... 59
2 NOTAS ....................................................................................... 60
3 NOTAS ....................................................................................... 60
4 NOTAS ....................................................................................... 60
5 NOTAS ....................................................................................... 60
FADE OUT ..................................................................................... 60
HARMONIA: NOES CONCEITUAIS ................................................................... 61
TOM E TONALIDADE ............................................................................... 61
INTERVALOS ENTRE A TNICA OU A FUNDAMENTAL E OS OUTROS
GRAUS DE UM ACORDE OU UMA ESCALA ................................................... 62
ACORDES ................................................................................................ 63
TRADES ....................................................................................... 63
TTRADES ..................................................................................... 63
ACORDES COM SEXTA ................................................................... 63
ACORDES SUSPENSOS ................................................................... 64
ACORDES COM NOTAS DE TENSO ................................................ 64
INVERSES ................................................................................... 64
ACORDES HBRIDOS...................................................................... 64
ACORDES QUARTAIS ..................................................................... 65
POLIACORDES ............................................................................... 65
HARMONIA FUNCIONAL .......................................................................... 65
LEIS TONAIS ................................................................................ 66
1 LEI TONAL ...................................................................... 66
2 LEI TONAL ...................................................................... 66
3 LEI TONAL ...................................................................... 66
4 LEI TONAL ...................................................................... 66
-
5 LEI TONAL ...................................................................... 66
TIPOS DE CADNCIA ..................................................................... 67
CADNCIA AUTNTICA PERFEITA ........................................ 67
CADNCIA AUTNTICA IMPERFEITA .................................... 68
CADNCIA PLAGAL ............................................................... 68
MEIA-CADNCIA ................................................................. 68
CADNCIA DECEPTIVA DIATNICA ...................................... 68
CADNCIA DECEPTIVA MODULANTE ..................................... 69
MARCHA HARMNICA MODULANTE ............................................... 69
ACORDES DIMINUTOS
(DE APROXIMAO, DE PASSAGEM, AUXILIARES, NO
PREPARATRIOS, PREPARAO DIMINUTA) ......................... 69
TEORIA DAS RVORES HARMNICAS ........................................... 70
HARMONIA MODAL ................................................................................. 71
MODOS GREGOS: FRMULAS INTERVALARES ................................ 71
IMPROVISAO .................................................................................................. 72
SISTEMA DIATNICO DE ESCALAS ......................................................... 73
ESCALA MAIOR NATURAL .............................................................. 73
CAMPO HARMNICO MAIOR NATURAL ........................................... 73
ESCALA MENOR NATURAL .............................................................. 73
CAMPO HARMNICO MENOR NATURAL .......................................... 74
ESCALA MENOR HARMNICA ......................................................... 74
CAMPO HARMNICO MENOR HARMNICO ..................................... 74
ESCALA MENOR MELDICA ............................................................ 74
CAMPO HARMNICO MENOR MELDICO ........................................ 74
ESCALA MENOR BACHIANA OU HBRIDA ....................................... 74
CAMPO HARMNICO MENOR BACHIANO OU HBRIDO .................... 75
-
SISTEMA SIMTRICO DE ESCALAS ......................................................... 75
ESCALA DE TONS INTEIROS ......................................................... 75
ESCALA DIMINUTA ....................................................................... 75
ESCALA DIMINUTA DOMINANTE ................................................... 75
OUTRAS ESCALAS ......................................................................... 75
ESCALA CROMTICA ............................................................ 75
ESCALAS ALTERADAS (MAIOR E MENOR) ............................. 76
ESCALAS PENTATNICAS (MAIOR E MENOR) ...................... 76
ESCALAS DE BLUES (MAIOR E MENOR) ................................ 76
ARRANJO: BREVE COMENTRIO .......................................................................... 77
NOES E RECURSOS TCNICOS ADICIONAIS .................................................... 77
BAIXARIA (VARIAO DE BORDES) ...................................................... 78
ESCALAR, ARPEJADA, MISTA, FLORIDA, ALTERNADA, COM OU
SEM APOIO, UNHA E/OU POLPA, FRONTAL, LATERAL, PULSANTE ... 78
OBRIGATRIA ............................................................................... 78
PREPARATRIA .............................................................................. 79
BAIXO PEDAL .......................................................................................... 79
PIZZICATO ............................................................................................. 80
ARRASTE (GLISSANDO) .......................................................................... 80
MOVIMENTOS MELDICOS ..................................................................... 81
MOVIMENTO PARALELO ................................................................ 81
MOVIMENTO DIRETO .................................................................... 81
MOVIMENTO OBLQUO ................................................................. 82
MOVIMENTO CONTRRIO ............................................................. 82
CROMATISMO ......................................................................................... 82
PEDAL TONES .......................................................................................... 83
EMPRSTIMO MODAL .............................................................................. 84
-
CAMPANELA ............................................................................................ 85
HARMNICOS NATURAIS E ARTIFICIAIS ............................................... 86
TRINADO ................................................................................................ 87
EFEITO REDEMOINHO ............................................................................. 88
ATIPICIDADES RTMICAS ....................................................................... 88
HARMONIZAO EM BLOCO .................................................................... 89
TRMULO ................................................................................................ 90
RASGUEO ................................................................................................ 91
ALZAPA ................................................................................................. 91
ESCALA DE TONS INTEIROS ................................................................... 92
ABERTURA .............................................................................................. 92
SALTO .................................................................................................... 93
BEND ...................................................................................................... 93
TAPPING ................................................................................................. 94
LIGADOS ................................................................................................. 94
POLEGAR ESQUERDO ............................................................................... 95
OUTRAS DIGITAES ALTERNATIVAS (PESTANA, DEDO EM ALA E
DOUBLE STOPS) ...................................................................................... 95
SOBREPOSIO DE OITAVAS .................................................................. 96
DIGITAO TRANSPONVEL (SEM CORDAS SOLTAS) ............................... 96
CONTRAPONTO ....................................................................................... 97
MSICA INCIDENTAL ............................................................................. 98
DOMINANTES ESTENDIDOS ................................................................... 99
FORMAS ATPICAS ................................................................................ 100
DILOGOS DO CHORO COM OUTRAS LINGUAGENS ............................................ 101
-
3 PARTE
RELEASE | FLYER .............................................................................................. 104
ESCOLHA DO REPERTRIO ................................................................................ 104
PERFORMANCE .................................................................................................. 104
SET UP .............................................................................................................. 105
AMPLIFICAO ................................................................................................. 106
MICROFONAO | CAPTAO ........................................................................... 107
SOFTWARES ..................................................................................................... 108
REDES SOCIAIS ................................................................................................ 108
DISCOGRAFIA ................................................................................................... 109
ACERVO DIGITAL |SITES | OUTRAS REFERNCIAS ........................................... 110
FESTIVAIS | PRMIOS ...................................................................................... 110
CLUBES DE CHORO ............................................................................................. 111
ASSOCIAES VIOLONSTICAS ....................................................................... 112
INSTITUTOS .................................................................................................... 113
PROGRAMAS DE INTERCMBIO E DIFUSO ....................................................... 113
EDITORAS E GRAVADORAS ESPECIALIZADAS .................................................... 113
PROJETOS ........................................................................................................ 114
CENTROS DE FORMAO ................................................................................... 114
PROPRIEDADE INTELECTUAL ............................................................................. 115
TABELAS DE CACHS ......................................................................................... 116
EXERCCIO PROFISSIONAL ............................................................................... 116
RODAS DE CHORO ............................................................................................ 117
OFICINAS DE CHORO: O PROJETO BEM SUCEDIDO DO CLUBE DO CHORO DE
BELO HORIZONTE E A PROPOSTA PEDAGGICA DO AUTOR ............................... 118
LICENA POTICA II ........................................................................................ 119
A LA GUITARRA ESPAOLA ................................................................... 119
-
CORDAS DE AO .................................................................................... 120
VIOLES QUE CHORAM ......................................................................... 120
SETE CORDAS ....................................................................................... 121
CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 122
REFERNCIAS ................................................................................................... 124
TEXTOS CIENTFICOS: TESES E DISSERTAES .................................. 125
ARTIGOS | ENSAIOS ............................................................................ 128
PROGRAMAS RADIOFNICOS ................................................................ 129
LIVROS ................................................................................................. 130
REVISTAS ESPECIALIZADAS ................................................................. 134
DOCUMENTRIOS ................................................................................. 134
POEMAS | LETRAS ................................................................................. 135
UDIOS | POD CASTS | OUTROS ........................................................... 135
SITES ESPECIALIZADOS ....................................................................... 137
OUTROS SITES (INSTITUTOS, ENCICLOPDIAS, BIBLIOTECAS,
DIGITAIS, PROGRAMAS DE INTERCMBIO, CLUBES DE CHORO,
CENTROS DE FORMAO, ENTRE OUTROS) ........................................... 138
ANEXOS ........................................................................................................... 142
EMENTA ................................................................................................ 143
CONTEDO PROGRAMTICO .................................................................. 148
FLYERS DEMONSTRATIVOS ................................................................... 149
BELOS AIRES, BUENOS HORIZONTES: CHORO BREVE E ATPICO (COM 1
PARTE E CAMPANELAS) .......................................................................... 153
NDICE REMISSIVO ......................................................................................... 154
-
17
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
APRESENTAO
O Violo onipresente! Est em (quase) todos os lugares... Nos
botecos, picadeiros, quermesses, escolas, rodas de choro, folias de
reis, salas de concerto e estar...
Suas estrias contam a histria da humanidade. No Brasil
por exemplo seu advento est relacionado catequizao jesuta de
indgenas e/ou imigrao fugidia de ciganos perseguidos pela
inquisio portuguesa.
Dessa polmica, subsiste um indiscutvel diagnstico: seu papel
na formao dos primeiros agrupamentos de Choro da 2 metade do
sculo XIX foi essencial.
Com isso, no seria temerrio afirmar que o Violo contribuiu (e
vem contribuindo) decisivamente nos processos de estruturao e
desenvolvimento da msica brasileira.
o que esse livro buscou enfatizar ao expor os contedos da
oficina de capacitao violonstica do autor para o projeto de
educao musical do Clube do Choro de Belo Horizonte.
Repleto de temas que reclamam didatismo e maior publicidade
como estrutura do choro, ergonomia, luteraria, notao, harmonia
funcional, performance, propriedade intelectual, sonorizao e
tocabilidade, lana mo de uma base slida de referncias reunidas
para despertar o(a) leitor(a) s linguagens violonsticas do Choro e
favorec-lo(a) em seus estudos musicais.
O autor.
-
18
1 PARTE
-
19
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
VIOLO: BREVE HISTRICO1
H precedentes cordofnicos (de cordas dedilhadas) na
mitologia greco-romana (Hermes trocou a carapaa de tartaruga
com tripa de boi pelo gado roubado de Apolo), entre os hititas,
egpcios e assrios... De certa forma, a histria do violo se
confunde com a histria da humanidade.
Destacam-se, entre os scs. XII e XIV, a guiterna (guittern)
e, entre os scs. XV e XVI, 3 linhagens de instrumentos com
origem mozrabe: o alade (al ud = a madeira = forma de pra =
instrumento nobre), a guitarra (char tar = quatro cordas duplas =
instrumento popular) e a vihuela (fidcula = latim).
No final do sc. XVI Vicente Espinel acrescentou uma 5
corda (espinela = guitarra espinela = guitarra espanhola) e, no fim
do sc. XVIII, ao substituir as cordas duplas pelas simples, Miguel
Garcia (ou Pe. Baslio) adicionou uma 6 corda ao instrumento.
No sc. XIX o austraco Johann Stauffer e o espanhol
Antonio de Torres Jurado realizaram modificaes estruturais e
revolucionrias no violo.
1 Vide CAMPOS, Andr et al. Histria do violo. DEMAC/UFU. Disponvel em http://www.demac.ufu.br/numut/historiadoviolao/; ZANON, Fbio. A Arte do Violo. So Paulo: Rdio Cultura FM, 2003 e segs. Disponvel em http://aadv.radio.googlepages.com; Idem. Violo Brasileiro. So Paulo: Rdio Cultura FM, 2006 e segs. Disponvel em http://vcfz.blogspot.com/2006/12/ndice-o-violo-brasileiro.html; TAUBKIN, Myriam (Org.) et al. Violes do Brasil. So Paulo: M. Taybkin, 2004, passim; FERNNDEZ, Jernimo Pena. El arte de un guitarrero espaol. Jan, Espaa: Soproarga, 1993, passim; SOUZA, Rogrio. Choro 100: violo play along choro. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2008, p. 11-14.
-
20
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
Os jesutas portugueses que se embrenharam nas matas e
sertes brasileiros para catequizar os nativos trouxeram a verso
lusa da vihuela espanhola do sc. XVI. Sua regionalizao
transformou-a na viola caipira.
J os ciganos, expulsos pela inquisio vindos de Portugal, so
considerados os responsveis pela introduo da guitarra espanhola
no Brasil, conforme relato literrio de ALENCAR, Jos de. O
Guarani. Cotia, SP: Ateli, 2000, notabilizado por Francisco Arajo.
Segundo Henrique Cazes,
muito antes do surgimento do Choro e da forma chorada de tocar, o violo j era um instrumento popular que acumulava uma grande participao em todo tipo de msica feita fora das elites. Estava sempre presente no acompanhamento das serenatas, dos lundus, das canonetas, na msica dos barbeiros, enfim, tudo que se referia s atividades de msica popular anteriores ao Choro. Com o surgimento da chamada msica dos chores, o violo, juntamente com o cavaquinho, formou uma base rtmico-harmnica que recebia os solistas: flauta, clarinete e outros; e os contrapontistas, inicialmente bombardino, trombone e um outro instrumento hoje em desuso, o oficleide.2
O abrasileiramento da polca europia na 2 metade do sc.
XIX resultou no maxixe e em variaes rtmicas tocadas pelos
xlos/chlos (bailes realizados em senzalas ou festas populares),
choromeleiros (tocadores de charamelas) e/ou grupos, sem 2 Cfr. CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao municipal. So Paulo: Editora 34, 1998, p. 47.
-
21
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
percusso3, formados por 1 flauta, 2 violes e 1 cavaquinho (forma
derivativa do quarteto de cordas: 1 violoncelo, 2 violinos e 1 viola
clssica).
Henrique Cazes salienta que essa formao
surgiu naturalmente da busca de um melhor equilbrio acstico entre o volume da flauta e um cavaquinho, instrumentos que atuam do mdio para o agudo, com as freqncias mdias e graves do violo
[...] foi batizada por Batista Siqueira de quarteto ideal e esteve presente na base de todo grupo de choro, sempre com dois ou trs violes4 sendo um deles o violo de 7 cordas, introduzido por Tute, propagado por China, aperfeioado e consagrado por Dino 7 Cordas.
Os impactantes recitais do paraguaio Agustn Barrios e da
espanhola Josefina Robledo5 em 19166 e 1917 (respectivamente)
levaram o estigmatizado violo para a sala de concerto. Trocando
em midos, o violo saiu da cozinha e foi para a sala. Essa mudana
de paradigma permitiu que o violonista brasileiro Amrico
Jacomino (Canhoto) se apresentasse em 1916 no salo nobre do
Conservatrio Dramtico e Musical de So Paulo. 3 Ibidem, p. 79, [...] o advento da percusso no gnero foi algo que levou em torno de cinqenta anos para acontecer. Para se ter uma idia, o livro do Animal (Alexandre Gonalves Pinto) cita apenas um pandeirista, enquanto aparecem dezesseis oficleides, dois obos e duas ctaras. E o pandeirista citado no poderia ser outro seno o grande Joo da Bahiana. 4 Cfr. CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao municipal. So Paulo: Editora 34, 1998, p. 47. 5 PORTO, Patrcia Pereira. A contribuio de Josefina Robledo para a histria do violo de concerto no Brasil. In: Seminrio de Histria da Arte. Pelotas: UFPEL, 2007, p. 01-04. 6 Agustn Barrios retornou ao Brasil em 1919 e 1928.
-
22
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
Para uma investigao aprofundada sobre o percurso histrico e a
difuso espacial do instrumento, verifique TAUBKIN, Myriam (Org.) et al.
Violes do Brasil. So Paulo: M. Taybkin, 2004; TABORDA, Mrcia. Violo e
identidade nacional. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2011 e GALILEA,
Carlos. Violo ibrico. Rio de Janeiro: Trem Mineiro Produes Artsticas,
2012.
Eis uma lista aleatria e interminvel de pesquisadores, didatas,
compositores, instrumentistas (diletantes e profissionais) ligados ou no ao
Choro que reverenciam (e enalteceram) o Violo7:
Ferdinando Carulli, Fernando Sor, Matteo Carcassi, Mauro Giuliani, Angelo Zaniol... (Itlia).
Dionsio Aguado, Antonio Cano, Francisco Trrega, Josefina Robledo, Andrs Segvia, Emilio Pujol, Miguel Llobet, Sabicas, Paco de Lucia, Manolo
Sanlcar, Tomatito, Vicente Amigo, Gerardo Nuez... (Espanha).
7 O livro TAUBKIN, Myriam (Org.) et al. Violes do Brasil. So Paulo: M. Taybkin, 2004, p. 169-205, contm uma lista de violonistas brasileiros com os respectivos contatos. Confira ainda SANCHEZ, Nilo Srgio; CARRILHO, Fbio. Histria viva do violo: h 66 anos iniciava a construo do seu acervo violonstico de discos e partituras, o maior do mundo na atualidade. In: Violo Pro. So Paulo: M & M, 2007, vol. 08, p. 32-34, os sites Msicos do Brasil: uma enciclopdia instrumental e Dicionrio Cravo Albin da Msica Popular Brasileira disponveis em http://www.musicosdobrasil.com.br e http://www.diocionariompb.com.br e a obra rara PINTO, Alexandre Gonalves. O Choro: reminiscncias dos chores antigos. Rio de Janeiro, 1936, passim. No mais, em setembro de 2007, o autor recebeu a seguinte mensagem eletrnica: "Mrcia Taborda, com apoio da Fundao Biblioteca Nacional, est realizando o Dicionrio do Violo Brasileiro. A realizao do Dicionrio prev a reunio, organizao e sistematizao de dados fundamentais relacionados prtica do violo no Brasil, atravs da elaborao de verbetes em torno das principais personalidades - violonistas, compositores, artesos e pesquisadores. Para um nome ser citado, preciso preencher e enviar um formulrio, disponvel no endereo [...].
-
23
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
Napolen Coste, Roland Dyens, Mathieu Guillemant, Jo Vurcchio, Vronique Lherm (Verioca), Elodie Bouny (franco-venezuelana), Laurent Pouquet... (Frana).
Olivier Lob, Carlos Juan... (Alemanha). Agustn Barrios... (Paraguai). Sagreras, Cacho Tirao, Juan Fal, Luis Salinas... (Argentina). Abel Carlevaro... (Uruguai). Lo Brouwer... (Cuba). Ralph Towner, David Tanenbaum... (EUA). Julian Bream... (Inglaterra). John Willians, Doug de Vries... (Austrlia). Radams Gnattalli (comps pioneiramente 6 concertos para o instrumento), Heitor Villa Lobos [autor dos Choros n 01, Sute Popular
Brasileira com 5 movimentos (mazurka-choro, schottish-choro, valsa-choro,
gavotta-choro e chorinho), 12 Estudos e 5 Preldios para violo], Quincas
Laranjeira, Antnio Rebello, Satyro Bilhar, Amrico Jacomino, Joo
Teixeira Guimares (Joo Pernambuco), Levino da Conceio, Dilermando
Reis, Rogrio Guimares, Mozart Bicalho, Anbal Augusto Sardinha (Garoto),
Z Menezes, Laurindo de Almeida, Bola Sete, Waltel Branco, Ronoel Simes,
Tute, China, Donga, Horondino da Silva (Dino), Jayme Florence (Meira),
Carlinhos Leite, Csar Faria, Slvio Carlos Silva Costa, Paulinho da Viola,
Isaas Svio (Uruguai/Brasil), Jodacil Damasceno, Paulinho Nogueira, Baden
Powell, Sebastio Tapajs, Luiz e Jorge Bonf, Rosinha de Valena, Heraldo
-
24
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
Monte, Guinga, Hlio Delmiro, Egberto Gismonti, Romero Lubambo, Lula
Galvo, Swami Jr., Marco Bertaglia, Celso e Fil Machado, Luizinho, Z
Barbeiro, Slvio Santisteban, Macumbinha, Carlos Lafelice, Atlio Bernardini,
Othon Salleiro, Henrique Pinto, Fbio Zanon, Everton e Edelton Gloeden,
Turbio Santos, Paulo Porto Alegre, Paulo Pedrassoli, Geraldo Ribeiro,
Ubiratan Sousa, Francisco Arajo, Ulisses Rocha, Paulo Bellinati, Marco
Pereira, Raphael e Joo Rabello, Badi, Srgio e Odair Assad, Toquinho,
Geraldo Vespar, Nicanor Teixeira, Cludio Jorge, Luiz Cludio Ramos, Zezo
Ribeiro, Paulo Martelli, Rogrio Caetano, Daniel S, Nelson Veras, Douglas
Lora, Joo Luiz, Maria Haro, Paulo Arago, Marcos Alves, Carlos Chaves,
Chrystian Dozza, Paola Picherzky, Sidney Molina, Fbio Ramazzina, Fanuel
Maciel, Andr Campos, Alencar, Hamilton Costa, Carlinhos Bombril, Gereba,
Canhoto da Paraba, Nonato Luiz, Nenu Liberalquino, Lalo, Maurcio
Carrilho, Alessandro Penezzi, Yamandu Costa, Diego Figueiredo, Srgio e
Toninho Ramos, Cloves Walter, Boz, Nuca, Vincius, Henrique Annes, Jonas
e Joel Cruz, Lcio Flvio, Jair Campos, Andr Rocha, Antnio Loureiro, Lus
Carlos Santos, Victor Biglione, Conrado Paulino (Argentina/Brasil), Lula
Gama, Andr Geraissati, Nelson Faria, Rogrio Souza, Luiz Otvio Braga,
Marcus Tardelli, Z Paulo Becker, Marcello Gonalves, Mrcia Taborda,
Jos de Assis Martins, Warner Souto, Jos Lucena, Rosemiro e Leovegildo
Leal, Jos Nunes (Patesko), Pascoal Guimares, Jos da Cruz Reis, Luiz
Otvio Savassi, Zaz de Mariana, Antnio Fofoca, Crispim, Laerte,
Bosquinho, Teodomiro Goulart, Ceclia Barreto, Sebastio Idelfonso, Nelson
e Alexandre Pil, Eustquio Grilo, Agostinho Bob, Pedro de Caux, Chico
Mrio, Rivadvia, Celso e Juarez Moreira, Chiquito Braga, Toninho Horta,
-
25
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
Nelson ngelo, Ricardo Silveira, Ricardo Simes, Geraldo Vianna, Gilvan de
Oliveira, Rogrio Leonel, Amauri Anglo, Fernando Arajo, Aliksey Vianna,
Flvio Barbeitas, Guilherme Paoliello, Verglio Lima, Fbio Adour, Alvimar
Liberato, Beto, Wilson e Weber Lopes, Caxi Rajo, Tavinho Moura, Mozart
Secundino, Hlio Pereira, Geraldo Alvarenga, Paulinho Pedra Azul, Geraldo
Magela, Oscar e Lus Nassif, Emanuel Casara (Madeira), Flvio Fontenelle, J.
Torres, Du, Nego, Balsamo, Wagner, Trisquei, Humberto Junqueira,
Tabajara Belo, Thiago Perez (Delegado), Rodrigo Torino, Lucas Telles,
Gustavo Monteiro, Adir Reis, Agostinho Paolucci, Mateus Fernandes, Daniel
Rosa, Jlio Csar, Einstein, Hugo Azeredo, Toninho do Carmo, Rubens
Miranda, Joozinho Jamaica, Vaninho Vieira, Marcelo Jiran, Fbio Palhares,
Pedro Gervason, Marcos Frederico, Adolfo Martins, Fernando de La Rua,
Flvio Rodrigues, Olegrio Bandeira, Tales Bastos, Wilson Borges, Marcus
Vincius, Marcelo Taynara, Carlos Valeriano, Helton Silva, Marcelo Issa,
Balbino, Z Pretinho, Pedro Saramenha, Joo Relojoeiro, Mrcio e Carlos
Fontoura, Bernardo Bernardes, Reinaldo e lvaro Ferreira, Cadinho,
Faustino, Walmo Vianna, Reginaldo Oliveira, Cid e Paulo Ramos, Ezequiel Piaz,
Arismar Esprito Santo, Moiss Caciel, Chico Pinheiro, Maurcio Marques,
Marcelo Loureiro, Gabriel Sater, Fabiano e Fernando Borges, Edy e Waldir
Mendes, Cabral, Baltazar, Renato Sampaio, Joo Randolfo, Joo Cunha,
Branco, Quinto, Arialdo, Marlcio, Washington e Wellington Silva, Romildo,
Cristina Paranhos, Antnio, Bruno e Reinaldo De Vito, Reginaldo Martins,
Andr Fernandes, Manasss, Ausier Vincius, Raimundo Reis (Bolo),
Henrique Cazes, Srgio Belluco, Waldir Silva, Zito, Jos Carlos Choairy,
Paulo Andr, Daniel Santiago, Dado Prates, Dudu e Ramom Braga, Marcos
-
26
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
Flvio, Carlos Felipe Horta, Rubim do Bandolim, Warley Henrique, Lamartine
do Vale, Jaime Ernest Dias, lvaro Henrique, Chico Saraiva, Rudy Arnaut,
Rafael dos Anjos, Cludio Menandro, Caio Mrcio, Fernando Presta, Nilo
Srgio Sanchez, Gilson Antunes, Daniel Wolff, Fbio Carrilho, Cristiano
Pentagna, Renato Candro, Arthur Nestrovski, Gabriel Neder, Karai Guedes,
Ronaldo Sontag, Edson Jos Alves, Lus Leite, Leo Eymard, Fabinho
Gonalves, Osvaldo Colagrande, Ventura Ramirez, Joo Camarero, Gian
Corra, Rafael Schimidt... (Brasil).
HISTRIA DO CHORO: ALGUMAS REFERNCIAS
A Histria do Choro (e do Violo) vem sendo investigada por autores
de contributivas publicaes. Apreciemos algumas:
BAROUH, Pierre. Saravah. 1969 (Documentrio).
CAZES, Henrique. Os chores e a roda: ambincia, prticas musicais e repertrio nas
rodas de choro. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011 (Dissertao de mestrado).
_______. Choro: do quintal ao municipal. So Paulo: Editora 34, 1998.
CLUBE DO CHORO DE BELO HORIZONTE. Choro na Pauta. Belo Horizonte: 2007-
2008 (Informativo).
CLUBE DO CHORO DE BELO HORIZONTE; CARVALHO, Fernanda et al. Choro:
original do Brasil. Belo Horizonte: TV Uni-BH, 2010 (Documentrio).
CGO, William. Alma carioca: um choro de menino. 2002. Disponvel em
http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=2495 (Documentrio).
COSTA, Marvile Palis. O Grupo Chorocultura e a I Semana Nacional do Choro em
Uberaba. Uberlndia, MG: UFU, 2007.
-
27
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
GALILEA, Carlos. Violo ibrico. Rio de Janeiro: Trem Mineiro Produes Artsticas,
2012.
MEIRA, Daniela; GOMES, Amanda; BIAMONTI, Celso. Simplicidade: Mozart
Secundino (DVD em construo).
FONTOURA, Antonio Carlos da et al. Chorinhos e chores. 1974. Disponvel em
www.portacurtas.com.br/filme_abre_pop.asp?cod=4749&exib=4479#
(Documentrio).
FREITAS, Marcos Flvio de Aguiar. O Choro em Belo Horizonte: aspectos histricos,
compositores e obras. Belo Horizonte: UFMG, 2005 (Dissertao de mestrado).
GRUPO CORTA JACA. Na levada do choro: um almanaque musical. Belo Horizonte:
Natura Musical/Lei Estadual de Incentivo a Cultura, 2008 (DVD).
KAURISMAKI, MIKA et al. Brasileirinho, 2005 (DVD).
PAES, Anna. O choro e sua rvore genealgica. Rio de Janeiro: Msicos do
Brasil/Petrobrs, s.d.
Disponvel em http://ensaios.musicodobrasil.com.br/annapaes-
ochoroarvoregenealogica.htm
PINTO, Alexandre Gonalves. O Choro: reminiscncias dos chores antigos. Rio de
Janeiro, 1936.
SAMPAIO, Renato. O violo brasileiro de Mozart Bicalho. Belo Horizonte:
Hematita, 2002.
TABORDA, Mrcia. Violo e identidade nacional. Rio de Janeiro: Civilizao
Brasileira, 2011.
TAUBKIN, Myriam (Org.) et al. Violes do Brasil. So Paulo: M. Taybkin, 2004 (DVD).
VIANNA, Geraldo et al. Violes de Minas. Belo Horizonte: Uirapuru, 2007 (DVD).
-
28
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
LICENA POTICA I
Inspirados poetas tambm contaram a histria do violo em
versos. Conheamos alguns:
PROFISSO DE F8
(Agustn Barrios)
Tup, o Esprito Supremo e protetor de minha raa, encontrou-me um dia no meio de um bosque florescido.
E me disse: Toma esta caixa misteriosa e descobre seus segredos. E, aprisionando nela todos os pssaros canoros da floresta
e a alma resignada dos vegetais, abandonou-a em minhas mos. Tomei-a, obedecendo a ordem de Tup, colocando-a bem junto ao corao,
abraado a ela passei muitas luas borda de uma fonte. E, uma noite, Jaci, retratada no lquido cristal,
Sentindo a tristeza de minha alma ndia, deu-me seis raios de prata para com eles descobrir
seus arcanos segredos. E o milagre se operou: do fundo da caixa misteriosa,
brotou a sinfonia maravilhosa de todas as vozes virgens da natureza da Amrica.
8 Cfr. BARRIOS, Agustn. Profisso de f. Apud ZANON, Fbio. A Arte do Violo. So Paulo: Rdio Cultura FM, 2003 e segs. Disponvel em http://aadv.radio.googlepages.com
-
29
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
VIOLO9
(Sueli Costa/Paulo Csar Pinheiro)
Um dia eu vi numa estrada um arvoredo cado,
no era um tronco qualquer. Era madeira de pinho e um arteso esculpia
o corpo de uma mulher. Depois eu vi pela noite o arteso nos caminhos colhendo raios de lua. Fazia cordas de prata
que, se esticadas, vibravam o corpo da mulher nua. E o arteso, finalmente,
nesta mulher de madeira botou o seu corao e lhe apertou contra o peito e deu-lhe um nome bonito e assim nasceu o violo.
9 Cfr. COSTA, Sueli; PINHEIRO, Paulo Csar. Violo. In: GUEDES, Ftima. Pra bom entendedor. Rio de Janeiro: Velas, 1993 (CD).
-
30
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
LUTERARIA, ESTRUTURA E CUIDADOS ESPECIAIS10
LUTHIERS
O nobre trabalho de construo, regulagem e restaurao de
violes desempenhado pelos luthiers. Eis alguns de uma
quilomtrica lista de notveis:
Verglio Lima, Francisco e Miguel Munhoz, Sugiyama, Antnio
Tessarin, Saraiva, DSouza, Mrio Machado, Paulo Marcos,
Gianfranco Fiorini, Altino Onrio e Jos Teodoro dos Prazeres,
Arivaldo Souza, Joo Batista, Antnio de Pdua, Jorge Raphael,
Fernando Cardoso, Lineu Bravo, Roberto Gomes, Srgio Abreu,
Cludio Arone, Samuel Carvalho, Trcio Ribeiro, Ramirez, Thomas
Humphrey, Hermanos Conde, Walter Vogt, Ignacio Fleta, Paul
Fischer, Do Souto, Del Vecchio, Di Giorgio, Oscar Testa, entre
outros...
O livro TAUBKIN, Myriam (Org.) et al. Violes do Brasil. So
Paulo: M. Taybkin, 2004, p. 169-205, contm uma lista de luthiers
brasileiros com os respectivos contatos.
10 Vide GOMES, Rubens et al. Manual de Lutheria: curso bsico. Manaus: Unicef, 2004, passim; LIMA, Verglio. Inovar e sempre. In: Violo Pro. So Paulo: Msica & Mercado, 2007, vol. 08, p. 42-45; TESSARIN, Antonio. A arte do fazer. In: Violo Pro. So Paulo: Msica & Mercado, 2006, vol. 04, p. 42-44; FERNNDEZ, Jernimo Pena. El arte de un guitarrero espaol. Jan, Espaa: Soproarga, 1993, passim.
-
31
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
PARTES ESTRUTURAIS E MATRIAS PRIMAS
Veja abaixo as partes estruturais e algumas das matrias
primas (nomes comerciais de madeiras, artefatos de plstico, osso,
metal...) que compem o instrumento.
BRAO, CABEA E TRCULO
Composto de cedro, mogno...
PESTANA (CAPO TRASTE) E RASTILHO
Feito de osso, plstico...
TAMPO E LEQUE HARMNICO
Feitos de pinho (abeto, spruce...), cedro canadense, macacaba,
cipreste espanhol...
LATERAIS
Confeccionadas em jacarand da Bahia, jacarand indiano, pau
ferro, pau rosa...
FUNDO
Composto de jacarand da Bahia, jacarand indiano...
-
32
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
CAVALETE
Feito de jacarand da Bahia...
BOJO
a caixa de ressonncia constituda pelo tampo, fundo, laterais e
peas acessrias.
ESCALA OU ESPELHO
Construda em bano, jacarand (da Bahia ou indiano)...
TRASTES
Constitudo por nquel, alpaca, lato...
TARRAXAS
As tarraxas de afinao (compostas de plsticos, acrlicos e
metais) substituram as cravelhas de madeira. Eis algumas marcas
fabris: Gotoh, Schaller, Condor (com parafusos de ajuste)...
BOCA
Abertura (campana) de projeo sonora.
-
33
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
MOSAICO
Ornamento com desenho caleidoscpico ao redor da boca.
TENSOR
Barra de metal ou madeira inserida no brao para ajuste de tenso.
CRESCENTE X
O luthier Verglio Lima aprimorou um inteligente mecanismo de regulagem
crescente e instantnea da altura das cordas no tampo estruturado em X. Tal
sistema de ajuste imediato da ao foi inventado pelo austraco Johann Stauffer
no Sc. XIX que, antes do espanhol Antonio de Torres Jurado, j construa o bojo
em forma de oito (infinito) e foi responsvel por outras inovaes como a escala
suspensa tratada a seguir, segundo criterioso levantamento do prprio Verglio.
ESCALA SUSPENSA
Com base em escritos sobre luteraria violinstica (para violino) e em pesquisas
realizadas pelo fsico norte-americano Michael Kasha e pelo francs Robert
Bouchet, Francisco e Miguel Munhoz adotaram a escala suspensa com o brao
preso ao corpo e minuciosas modificaes internas para vivificao da zona morta
(regio da caixa de ressonncia prxima ao brao), maior equalizao das
freqncias (agudas, mdias e graves) e vibrao do instrumento como um todo.11
Vale ressaltar que o norte-americano Thomas Humphrey utilizou outros critrios
na elaborao da escala elevada. E tambm registrar que a sua adoo est em
franca expanso, a exemplo dos modelos desenvolvidos pelos brasileiros Lineu
Bravo e Antonio de Pdua.
11 SILVA, Lus Felipe. O engenheiro musical. In: Jornal Revelao. Uberaba: Universidade de Uberaba, 2005. Disponvel em http://www.revelacaoonline.uniube.br/2005/312/musica.html
-
34
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
CUIDADOS ESPECIAIS: UMIDADE E TEMPERATURA
A umidade deve oscilar entre 35 e 70%. Para medi-la, utilize
um higrmetro. Na falta deste, recorra ao informativo de
meteorologia dos jornais impressos, televisivos ou eletrnicos.
Quando estiver baixa, utilize um umidificador caseiro
[algodo umedecido dentro de um bobe capilar ou recipiente de
filme fotogrfico com a tampa peneirada (cheia de furos)].
As travessas sob o tampo so rebaixadas para o instrumento
absorver a dilatao ocasionada pela umidade.
A temperatura de acondicionamento deve oscilar entre 15 e
30C. Logo, no submeta seu instrumento ao calor intenso.
OBS.:
Ao viajar, abaixe a afinao 2 ou mais tons. Depois de toc-lo, limpe-o com uma flanela seca.
-
35
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
MODELOS
H espcimes fabris e artesanais para todos os gostos:
Violo de 6 cordas [clssico, cutway, dobro (ressonador ou
dinmico), violo requinto (afinado uma quarta justa acima), violo
folk (dreadnought), jumbo, flat e vazado], violo tenor (ou triolim
com 4 cordas afinadas em l, r, sol, d, de baixo para cima), violo
de 7 (com a ltima corda afinada em d e excepcionalmente em si e
l), 8, 9 (violo Brahms), 10, 12 (craviola) ou mais cordas,
baixolo...
EXTENSO
O violo um instrumento transpositor. Suas notas musicais
so escritas no pentagrama uma oitava acima.
O violo de 6 cordas afinado em mi (1), si (2), sol (3),
r (4), l (5), mi (6) tem 3 oitavas e 1 quinta justa
distribudas ao longo da escala (espelho).
O sistema adotado pela escala violonstica cromtico
temperado12. Possui, portanto, casas separadas por trastes em
12 H aproximadamente 40 anos, o mineiro Jos da Cruz Reis realizou reclculos na escala cromtica temperada com reduo de nudcimos de milionsimos.
-
36
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
intervalos de semitom divididos em comas e calculados com
preciso.
A coma um micro intervalo correspondente a 1/9 de 1 tom.
Em tal sistema, encontramos uma eqidistncia entre os semitons
de 4 comas e .
No sistema natural (no temperado) existem entre o D e o
D# (D sustenido) 5 comas, o D# e o R 4 comas, o R e o Rb
(R bemol) 5 comas, o Rb e o D 4 comas. Ou seja, uma diferena
de 1 coma entre o D# e o Rb. Pode-se ento afirmar que a
enarmonia se d especialmente no sistema temperado.
ENCORDOAMENTOS13
H encordoamentos de nylon, titanium, fibra de carbono, lona,
ao, nquel, entre outros, com diversas tenses (baixa, mdia, alta
e extra-pesada).
Troque uma corda de cada vez, tranando-a um pouco no
cavalete e bastante na tarraxa.
Pressione o rastilho cuidadosamente (entre as cordas) para a
captao piezo se reajustar.
13 Vide ROCHA, Ulisses. Cordas leves ou pesadas? In: Acstico. So Paulo: HMP, 2006, vol. 05, p. 44; Idem. Dicas: troca do encordoamento. Disponvel em http://www.ulissesrocha.com
-
37
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
AFINAO PADRO E AFINAES ALTERNATIVAS
As 6 cordas do violo so afinadas em mi (1), si (2), sol
(3), r (4), l (5), mi (6).
Para ampliao da textura, facilitao interpretativa e/ou
produo de efeitos no alcanados pela afinao tradicional,
outras afinaes so adotadas. Identifiquemos algumas:
Mi | si | sol | r | l | r
Sons de carrilhes e Interrogando (Joo Pernambuco)
Mi | si | sol | r | sol | r
Choro da saudade (Agustn Barrios)
R | si | sol | r | sol | r14
OUVIDO, MEMRIA, POSTURA E RELAXAMENTO15
Segundo Henrique Pinto, a observncia dos seguintes fatores
indispensvel:
14 Conhea outras a partir de GERAISSATI, Andr. Estilo de violo. So Paulo: MPO, s.d. (VHS). 15 Vide PINTO, Henrique. Antologia violonstica: histria, fundamentos de um mtodo, notas biogrficas, repertrio. So Paulo: Ricordi, 2007, p. 11-19.
-
38
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
OUVIDO
Ao discorrer sobre durao, fora e qualidade sonoras, o
autor acima d destaque auto-audio, ao controle auditivo
da extenso da nota [mediante vibratos16 (longos e curtos)
produzidos pela mo esquerda17], expressividade da mo direita18,
dinmica em pontos frasais culminantes, personalidade musical,
ao estado das unhas e situao do instrumento durante o treino
do ouvido.
MEMRIA
A concentrao e o estudo por reflexo (assimilao dos
contedos da partitura de um choro sem o instrumento ou a partir
da visualizao imaginria do brao, dos dedilhados e digitaes)
beneficiam o desenvolvimento equilibrado dos 3 tipos de memria
categorizados pelo notvel professor: visual, muscular (digital) e
auditiva que abrangem respectivamente a leitura primeira vista e
a visualizao imaginria do todo violonstico, o conjunto de
movimentos realizados pelas mos e o estoque de vivncias
musicais do instrumentista.
16 WOLFF, Daniel. O uso do vibrato no violo. In: Revista da Associao Gacha do Violo. Porto Alegre: Assovio, 1999, v. 1, n.1, passim. Disponvel em http://www.danielwolff.com.br/arquivos/File/Vibrato_Port.htm 17 Leia mo direita se for canhoto no ambidestro. 18 Leia mo esquerda se for canhoto no ambidestro.
-
39
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
POSTURA E RELAXAMENTO
Ter reflexo condicionado (capacidade de tocar um choro ou
trecho sem interrupes), equilbrio mental (paz de esprito, bem
estar familiar e vital), respirao, postura corporal (coluna reta,
ombros, mos, braos e antebraos relaxados...), contrao e
relaxamento muscular conscientes, maximizao do rendimento com
mnimo esforo muscular (liberdade muscular), repertrio afim e
sob controle tcnico, estudo reflexivo, concentrado e regular em
curtos perodos de tempo, garantiro resultados frutferos.
EXERCCIOS ISOMTRICOS19
A isometria est relacionada ao equilbrio das foras de
contrao e relaxamento dos msculos agonista e antagonista e
dos tendes flexor e extensor.
Milton Raskin e Howard Roberts autores da publicao
indicada na nota de rodap abaixo desenvolveram os seguintes
exerccios isomtricos para violonistas e guitarristas bem
demonstrados em K, Demma. Exerccios isomtricos para
guitarristas. No Cabo TV, 2009. Pesquise-os!
19 Vide RASKIN, Milton; ROBERTS, Howard. Isometric for Guitarists. North Hollywood: Playback pub, 1971, passim.
-
40
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
MO ESQUERDA20
Fortalecimento dos movimentos da mo esquerda. Fortalecimento e aquecimento dos dedos da mo esquerda. Fortalecimento das juntas da mo esquerda.
MO DIREITA21
Desenvolvimento dos movimentos de subida e descida da mo direita.
Resistncia, tenso e relaxamento do pulso e antebrao da mo direita.
Fortalecimento do polegar.
OUTROS
Desenvolvimento dos msculos rotatrios do antebrao. Estimulao dos dedos. Fortalecimento das juntas: dedilhado e digitao. Fortalecimento dos pulsos e mos.
20 Leia mo direita se for canhoto no ambidestro. 21 Leia mo esquerda se for canhoto no ambidestro.
-
41
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
OBS.:
O 1 e o 4 exerccios necessitam de 1 pequena bola de borracha. O 7 exerccio requer um pequeno basto cilndrico.
ACESSRIOS ERGONMICOS
Para prevenir LER, DORT ou LTC22, luthiers e violonistas
desenvolvem acessrios ergonmicos constantemente.
Experimente-os!
Apoios anatmicos (Begut...), plenosom pads e arm rest (Antonio
Tessarin e Paulo Bellinati), luva (Matepis...), banquinho, powerball
(dynaflex)...
UNHAS
Quando utilizadas, as unhas requerem cuidados especiais.
22 Tais siglas possuem os seguintes significados: leses por esforos repetitivos, distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho e leses por traumas cumulativos.
-
42
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
LIXAMENTO
O tamanho e a forma variam. Ora maior, menor, quadrada,
arredondada ou com o comprimento da largura da corda seguindo
(ou no) o formato do dedo. Nessa etapa usa-se a lixa comum.
ACABAMENTO E POLIMENTO
Nos processos de acabamento e polimento, utiliza-se a lixa
dgua para pintura automotiva de n 2500 ou uma lixa de manicure
tripla face.
ALIMENTAO
Recomenda-se uma alimentao saudvel, rica em clcio e
protenas. Consulte um mdico nutrlogo ou um nutricionista a
respeito.
MATERIAL SINTTICO
Existem materiais postios de substituio e bases para
fortalecimento e restaurao das unhas naturais. Consulte um
mdico dermatologista a respeito.
-
43
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
OBS.:
Sonoridade dinmica: timbre + intensidade (maior ou menor presso dos dedos e unhas sobre as cordas). Essa combinao
favorecer o alcance de uma sonoridade limpa, robusta, equilibrada
e dinmica (capaz de emitir sons fortes e pianos [f (forte), mf
(mezzo forte), p (piano), pp (pianssimo)...].
O toque pode ser lateral [A (ponto de contato = polpa) -> B (ponto de deslizamento = lado esquerdo da unha) -> C (ponto de
desligamento = prximo ao meio da unha)], frontal [A (ponto de
contato = polpa) > B1 B2 (pontos de deslizamento = extremidades
da unha) > C (ponto de desligamento = meio da unha)], com apoio (o
dedo apia na corda posterior via movimento do tendo flexor) ou
sem apoio23 (o dedo no apia na corda posterior = movimento e
repouso via tendes flexor e extensor). Para tanto, a mo e o pulso
direito ficaro retos ou quase retos em relao ao antebrao.
METRNOMO | AFINADOR
Tenha-os sempre por perto (analgicos ou digitais).
O choro para metrnomo de Baden Powell pertinente.
Estude-o!
23 Vide ROCHA, Ulisses. Tocar com ou sem apoio? In: Acstico. So Paulo: HMP, 2006, vol. 02, p. 46.
-
44
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
MECANISMOS TCNICOS DE TOCABILIDADE
Realize esses exerccios com regularidade (diariamente, se
possvel) e moderao (sem sobrecarga), imprimindo em suas
frmulas cartesianas (mecanicistas) um sentido musical. Para
tanto, use-as em composies compatveis com as rtmicas
indicadas ao lado.
FRMULAS DE ARPEJOS PARA A MO DIREITA24
Leia mo esquerda se for canhoto no ambidestro. Sendo
canhoto e adepto do violo pelo avesso (afinado para destros),
espelhe-se nos geniais Amrico Jacomino e Canhoto da Paraba.
P I M
P M I
P I M I
P M I M
P I M A
P A M I
P I M A M I
P A M I M A
3/4
3/4
4/4
4/4
4/4
4/4
6/8
6/8
24 P, I, M e A significam respectivamente polegar, indicador, mdio e anular. As fraes 3/4, 4/4, 6/8... correspondem aos compassos ternrio, quaternrio e seis por oito. O numerador da frao indica a quantidade de notas e o denominador a qualidade, isto , o tipo de valor.
-
45
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
P I M I A I M I
P M I M A M I M
P I M A M A M A
P A M I M I M I
P P P P
2/4 ou 4/4
2/4 ou 4/4
2/4 ou 4/4
2/4 ou 4/4
Alternado
ESTUDOS SUGESTIVOS
Estudos n 01 a 06 para Violo (Ulisses Rocha)25
P I A M A I
P I M A M I M I
P I M A
A M I P I M
P I M P I M P I M
P I M I ou P I M A
6/8
2/4
4/4
12/8
9/8
4/4 (para velocidade)
Conforme Ulisses Rocha, o aumento gradativo da velocidade
no decorre to somente de um fator muscular. Provm
especialmente de um reflexo cerebral ocasionado por ataques
rpidos (movimentos) seguidos de breves pausas (repousos)
tocados em frases curtas.26
25 Vide ROCHA, Ulisses. Estudos para violo n 01. So Paulo: rvore da Terra, 1998, p. 16-43. 26 Vide Idem. O segredo da velocidade. In: Acstico. So Paulo: HMP, 2006, vol. 01, p. 46; Idem. Estudo 6: estudo trabalha elementos para desenvolver a velocidade. In: Violo pro. So Paulo: M & M, 2008, vol. 18, p. 49-50; Verifique tambm PENEZZI, Alessandro. Desenvolvendo a velocidade: uma ferramenta importante a servio da msica. In: Violo Pro. So Paulo: M & M, 2007, vol. 08, p. 46-49.
-
46
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
Estudo n 01 (Heitor Villa Lobos)27
P I P I P M I A M I M I P I P I 4/4
Preldio para Alade (Johann Sebastian Bach)28
P I M A M I M I P I P I 3/4
OUTRAS PEAS
Para manuteno e fruio desse aporte tcnico favorvel
interpretao violonstica de choros, recomendam-se tambm
outras peas:
La catedral (Agustn Barrios): preldio,
andante religioso, allegro solemne29
Las abejas (Agustn Barrios)30
Estudo n 02 (Heitor Villa Lobos)31
Estudos n 07 a 08 (Ulisses Rocha)32
tude en mi majeur (Toninho Ramos)33
Astrias: leyenda (Isaac Albniz)34
2/4
4/4 e 6/8
4/4
4/4
4/4 e 2/4
3/4
3/4
27 Vide VILLA-LOBOS, Heitor. Villa-Lobos collected works for solo guitar: with an introduction by Frederick Noad. New York/London/Sydney: Amsco, 1990, passim. 28 Pea de domnio pblico disponvel em http://www.free-scores.com/PDF_FR/bach-johann-sebastian-prelude-minor.pdf 29 Vide PINTO, Henrique. Antologia violonstica: histria, fundamentos de um mtodo, notas biogrficas, repertrio. So Paulo: Ricordi, 2007, p. 104-116. 30 Ibidem, p. 101-103. 31 Vide VILLA-LOBOS, Heitor, Op. cit., passim. 32 Vide ROCHA, Ulisses. Estudos para violo n 01. So Paulo: rvore da Terra, 1998, p. 44-54. 33 Vide RAMOS, Toninho. O Brasil de Norte a Sul: pour guitare. Paris: Henry Lemoine, 1996, p. 23-24. 34 Pea de domnio pblico disponvel em http://www.free-scores.com/PDF_FR/albeniz-isaac-asturias-lehenda-1708.pdf
-
47
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
Resta ento informar que a mo direita recorre a 3 tcnicas
[finger style (acima), de palheta e hbrida35] que dispensam na
ps-modernidade os arcaicos estigmas de estratificao da
classe violonstica em instrumentistas que tocam certo ou errado
por servirem-se ou no dos dedos.
FRMULAS DE DIGITAO PARA A MO ESQUERDA36
Pratique os exerccios abaixo, percorrendo todo o brao do
violo.
1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 | 1 6 corda | Alternando 1 e 2 casas
2 3 2 3 2 3 2 3 2 3 2 3 | 6 1 corda | Alternando 2 e 3 casas
3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 | 1 6 corda | Alternando 3 e 4 casas
4 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 3 | 6 1 corda | Alternando 3 e 4 casas
3 2 3 2 3 2 3 2 3 2 3 2 | 1 6 corda | Alternando 3 e 2 casas
2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 | 6 1 corda | Alternando 2 e 1 casas
1 2 3 4 3 2 1 | 1 6 corda e vice-versa
1 3 2 4 | 1 6 corda e vice-versa
4 2 3 1 | 1 6 corda e vice-versa
1 4 2 3 | 1 6 corda e vice-versa
4 1 3 2 | 1 6 corda e vice-versa
35Vide MAIA, Marcos da Silva. Tcnica hbrida aplicada ao violo. Campinas: UNICAMP, 2007 (Dissertao de mestrado), passim. 36 Os nmeros 1, 2, 3 e 4 correspondem aos dedos indicador, mdio, anular e mindinho da mo esquerda (mo direita caso seja canhoto no ambidestro) e devem estar em sincronia com as frmulas aleatrias dos dedos p, i, m e a da mo direita (mo esquerda caso seja canhoto no ambidestro).
-
48
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
OBS.:
Procure manter o polegar na regio central do brao e os demais dedos da mo esquerda no centro das casas.
Realize os exerccios com e sem ligados.
A MSICA ENQUANTO LINGUAGEM
Quando encaramos a msica como linguagem, damos um salto
paradigmtico! Convertemos o monlogo recluso de sons num
dilogo comunicativo e musical. Promovemos a socializao
discursiva37 de nossas perspectivas e histrias com criatividade e
cognio.
A roda de choro rotativa (inclusiva e socivel). Seus
dilogos musicais so reconstrutivos e transitam entre a tradio e
a contemporaneidade.
SISTEMAS DE NOTAO
Enumeramos a seguir os sistemas usuais de notao:
37 WALTER, Carlos. Discurso jurdico na democracia: processualidade constitucionalizada. Belo Horizonte: Frum, 2008, p. 20.
-
49
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
PARTITURA
Sistema pentagramtico de 5 linhas, 4 espaos, linhas e
espaos suplementares (superiores e inferiores) onde se anotam
claves, notas, acidentes (# = sustenido e b = bemol), valores,
pausas, barras de repetio, ligaduras (de prolongamento, frase,
expresso...), portamentos, bordaduras, pizzicatos, staccatos,
vibratos, rubatos, indicadores de dinmica e andamento, pontos de
aumento e diminuio...
TABLATURA
Sistema com 6 linhas e nmeros arbicos alusivos s cordas e
casas do violo.
CIFRA
Sistema alfanumrico de representao dos acordes, a saber:
A (l), B (si), C (d), D (r), E (mi), F (f), G (sol), m (menor), M
(maior), 1 (tnica), b2 (segunda menor), 2 (segunda maior), #2
(segunda aumentada), b3 (tera menor), 3 (tera maior), 4J
(quarta justa), #4 (quarta aumentada), b5 (quinta diminuta), 5J
(quinta justa), #5 (quinta aumentada), b6 (sexta menor), 6 (sexta
maior), bb7 (stima diminuta), 7b (stima menor), 7 (stima
maior)...
-
50
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
BRAILLE
Musibraille um processo de educao musical via mtodo
Braille desenvolvido para portadores de deficincia visual e
difundido por Dolores Tom (flautista e filha do compositor de
choros Joo Tom), entre outros.
ACIDENTES | CRCULO DE QUINTAS
Conforme Bohumil Med38, # (sustenido), X (dobrado
sustenido), b (bemol), bb (dobrado bemol) e (bequadro) so
acidentes. As notas da armadura com sustenido so f, d, sol, r,
l, mi, si e as com bemol si, mi, l, r, sol, d, f.
Para descobrir o tom na armadura da clave com sustenidos,
considere a nota ascendente ou descendente (acima ou abaixo) em
relao ao ltimo sustenido (modo maior ou menor
respectivamente) e, na armadura com bemis, considere o
penltimo bemol para o modo maior e conte 3 notas a partir do
ltimo bemol para o modo menor.
O crculo das quintas um sistema cclico de descrio das
relaes entre as 12 notas de uma escala cromtica.
38 Cfr. MED, Bohumil. Teoria da msica. 4. ed. rev. e ampl. Braslia: Musimed, 1996, p. 269.
-
51
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
CHART READING39
Aprenda a mapear a partitura atravs dos sinais indicativos
[sesso, intro, chorus, bridge (turn around), voicing, drop, vamp,
smile, %, ghost notes (notas fantasmas simbolizadas com X), palm
muting (staccato), D. C. (Dal Capo = do caput = da cabea) D. S.
(Dal Segno = do sinal), Coda (Calda), barras (duplas, de repetio
ou ritornellos...), casas (endings), convenes rtmicas...] bem
explicados por BERSANI, Wanderson. Chart reading: mapeando a
partitura atravs dos sinais de indicao de roteiro. In: TAFFO,
Wander et al. IG & T Book. So Paulo: EM&T Editora, 2007, vol.
01, p. 18-33.
39 Mapeando a partitura (traduo livre). Confira tambm WOLFF, Daniel. Como digitar uma obra para violo. In: Violo intercmbio. So Paulo, 2001, n 46, passim. Disponvel em http://www.danielwolff.com.br/arquivos/File/Como_Digitar_Port.htm
-
52
2 PARTE
-
53
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
O VIOLO DE 6 CORDAS NO CHORO40
O papel do violo de 6 cordas no Choro essencial nas
condues meldica (como instrumento solista), rtmica (junto ao
cavaquinho, percusso etc) e harmnica [ao realizar centro,
fraseados, inverses e dialogar com os demais instrumentos (tocar
o baixo contnuo em teras contrastantes com os contrapontos
especialmente emitidos pelo violo de 7 cordas)], prestando
destacada contribuio na ampliao de seu acervo composicional
atravs dos violonistas-compositores41.
ESTRUTURA DO CHORO42
O estudo sistmico de fatores musicais caractersticos
(forma, rtmica, tons, inflexes, anacruses, finalizaes tpicas e
40 Vide SOUZA, Rogrio. Choro 100: violo play along choro. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2008, passim; PAULINO, Conrado. Choro bsico. In: Acstico. So Paulo: HMP, 2006, vol. 08, p. 42; MARQUES, Euclides. Os violes no choro. In: Violo Pro. So Paulo: Msica & Mercado, 2006, vol. 06, p. 42-47; GAMA, Lula. O papel do seis-cordas. In: Violo Pro. So Paulo: Msica & Mercado, 2006, vol. 05, p. 58-59; PETAGNA, Cristiano. Remexendo o violo brasileiro. In: Violo Pro. So Paulo: Msica & Mercado, 2006, vol. 04, p. 38-44. 41 Vide HARO, Maria Jesus Fbregas. Nicanor Teixeira: a msica de um violonista compositor brasileiro. Rio de Janeiro: UFRJ, 1993 (Dissertao de mestrado), passim; CARDOSO, Thomas Fontes Saboga. Um violonista-compositor brasileiro: Guinga a presena do idiomatismo em sua obra. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2006 (Dissertao de mestrado), passim. 42 Vide ALMADA, Carlos. A estrutura do choro. Rio de Janeiro: Da Fonseca, 2006, passim; SVE, Mrio. Vocabulrio do choro: estudos e composies. Rio de Janeiro: Lumiar, 1999, passim.
-
54
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
atpicas) lana as bases de uma teoria geral do choro
encaminhadora de parmetros (convenes), variantes e diretrizes
a serem observados por intrpretes e compositores em suas
criativas incurses.
Durante a leitura das subscritas noes, procure identificar
os elementos da estrutura do choro em registros escritos e
gravados. Depois, d vazo sua verve composicional. Invente um
choro!
FORMA
A forma mais utilizada no Choro corresponde rond,
originria do perodo medieval Ars Nova e composta de uma parte
principal (refro ou tema central) que se repete aps a interveno
distintiva de outras partes.
FORMA TPICA
A forma tpica do Choro constituda por 3 partes de 16
compassos (cada), assim distribudas:
A1 A2 (ou A com ritornello) -> B1 B2 (ou B com ritornello) ->
-> A3 -> C1 C2 (ou C com ritornello) -> A4...
A1 = 1 motivo (tema = 4 compassos | resposta suspensiva = 4
-
55
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
compassos); A2 = 2 motivo (tema = 4 compassos | resposta
conclusiva = 4 compassos) e assim sucessivamente em relao s
demais quadraturas e sesses, conforme Maurcio Carrilho citado
por Lcia Campos.43
FORMAS ATPICAS44
Determinados choros possuem menos ou mais de 3 partes
(sesses) com menos ou mais de 16 compassos. Verifique os
exemplos das pginas 100 e 153.
ALTERNATIVAS TONAIS FREQENTES
Pode-se depreender do extenso acervo de choros compostos
desde a 2 metade do sc. XIX, parmetros lgicos de graus tonais
freqentes nas sesses (partes) da forma tpica, conforme
ALMADA, Carlos. A estrutura do choro. Rio de Janeiro: Da
Fonseca, 2006, p. 09-10:
Choros iniciados em modo maior
I (1 parte) | V (2 parte) | IV (3 parte) = C | G | F
I (1 parte) | VIm (2 parte) | IV (3 parte) = C | Am | F
43 Vide CARRILHO, Maurcio apud CAMPOS, Lcia Pompeu de Freitas. Tudo isso de uma vez s: o choro, o forr e as bandas de pfanos na msica de Hermeto Pascoal. Belo Horizonte: UFMG, 2006, p. 56-57. 44 Por exemplo, MOREIRA, Juarez. Choro diferente. In: BH no Choro. Belo Horizonte: Belotur/Clube do Choro de Belo Horizonte/Auditrio JK, 2008. Cfr. ALMADA, Carlos. A estrutura do choro. Rio de Janeiro: Da Fonseca, 2006, p. 09, Obviamente, existem excees (que, como sempre, confirmam a regra): ver, por exemplo, o caso de Lamentos, de Pixinguinha, choro estruturado em duas, em vez das trs partes convencionais. Alm disso, a primeira parte possui 24 compassos (no lugar de 16), que so subdivididos irregularmente em frases de 8, 4, 6 e 6 compassos.
-
56
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
Choros iniciados em modo menor
Im (1 parte) | III (2 parte) | I (3 parte) = Am | C | A
Im (1 parte) | III (2 parte) | VI (3 parte) = Am | C | F
TONS COMUNS PARA O TEMA CENTRAL
A escolha dos tons temticos segue raciocnio idntico. Contempla
certos tons com assiduidade, a saber:
Afinal, segundo ALMADA, Carlos. A estrutura do choro. Rio de
Janeiro: Da Fonseca, 2006, p. 10,
normalmente adota-se uma tonalidade que seja boa para os principais instrumentos acompanhantes, violo, cavaquinho e bandolim. Em outras palavras, tonalidades cujas escalas forneam o maior nmero de notas que coincidam com as cordas soltas soam mais vibrantes, resultando numa sonoridade geral mais cheia, sendo, alm disso, no que se refere execuo, mais naturais, o que torna a interpretao do conjunto mais solta.
RITMO
A rtmica do Choro est assentada em clulas caractersticas,
passveis de desdobramentos e variaes.
CLULAS CARACTERSTICAS
8 semicolcheias = | |...
4 semicolcheias e 2 colcheias = | |... 1 semicolcheia, 1 colcheia, 1 semicolcheia, 1 semicolcheia, 1 colcheia, 1 semicolcheia =
| |...
Modos maiores = f, d, sol e r
Modos menores = r, l, mi e sol
-
57
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
VARIAES RTMICAS45 E DESDOBRAMENTOS ESTTICOS
O diacronismo e a atemporalidade do choro engendraram
variaes rtmicas e desdobramentos estticos, a saber:
Polca brasileira, lundu, corta-jaca, maxixe, tango brasileiro,
schottisch (xtis), mazurka, choro, choro-cano, chorinho (choro
sapeca), choro sambado (choro-samba), samba-choro, valsa-choro
(valsa brasileira), choro barroco, choro cantado, entre outros46...
O trecho a seguir extrado da entrevista de Jacob do
Bandolim ao Museu de Imagem e Som do Rio de Janeiro em 1967
esclarecedor:
O choro, choro mesmo, teve uma grande definio foi com Pixinguinha. Pixinguinha deu rtmica ao choro. O choro at ento era considerado uma coleo de msicas para chorar, fazer chorar [...] Eu tenho inclusive cadernos de antes de 1900, colees de choro, msicas de choro e no choros. Ali dentro tinha Valsas, tinha polcas, tinha quadrilhas, tinha schottisch, tudo era considerado msicas de choro.47
45 Vide BECKER, Z Paulo. Levadas brasileiras para violo. Rio de Janeiro: Edio do Autor, 2013, p. 19-22; PEREIRA, Marco. Ritmos brasileiros. Rio de Janeiro: Garbolights, 2007, p. 19-20, 37-42; FARIA, Nelson. The Brazilian guitar book. Petaluma: Sher Music Co, 1995, p. 86-99; BRAGA, Luiz Otvio. O violo de 7 cordas. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumiar, 2004, p. 14-18; GUIMARES, Maria Ins. Danses et oiseaux du Brsil. Paris: Grard Billaudot, 2003, vols. 01-02; CAMPOS, Lcia Pompeu de Freitas. Tudo isso de uma vez s: o choro, o forr e as bandas de pfanos na msica de Hermeto Pascoal. Belo Horizonte: UFMG, 2006, p. 58-66. 46 Cfr. FERRAZ, Daniela Silva de Rezende. A voz e o choro: aspectos tcnicos vocais e o repertrio de choro cantado como ferramenta de estudo no canto popular. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2010 (Dissertao de mestrado); JIRAN, Marcelo. Samba chorado. In: ZOCKRATTO, Mauro et al. Pelo espao de um compasso. Belo Horizonte, 2008; a vida e a obra de Ademilde Fonseca; JACQUES, Lgia; LEONEL, Rogrio. Choro barroco. Belo Horizonte, 2001; Idem. Choro cantado. Belo Horizonte, 2010 e o choro francobrasileiro Reconciliao de AURLIE E VERIOCA. Alm des nuages. Paris, 2011. 47 BANDOLIM, Jacob do. Depoimento prestado ao Museu da Imagem e do Som. Rio de Janeiro: MIS, 24 fev. 1967. (Informaes verbais). Disponvel em
-
58
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
ANACRUSES48
As anacruses mais comuns compem-se de:
1 NOTA (1 COLCHEIA OU 1 SEMICOLCHEIA)
Essa frmula perfaz 15% dos choros pesquisados por Carlos
Almada sendo seguida por salto [Brejeiro (Ernesto Nazareth),
Pedacinhos do cu (Waldir Azevedo)...] ou movimento em grau
conjunto [Querida por todos (Joaquim Callado), Ele e Eu e Naquele
tempo (Pixinguinha/Benedito Lacerda)...].
2 NOTAS (1 COLCHEIA E 1 SEMICOLCHEIA)
Essa frmula perfaz 5% dos choros pesquisados por Carlos Almada
[Proezas de Solon (Pixinguinha), Na Glria (Ary dos Santos e Raul
de Barros)...].
3 NOTAS (3 SEMICOLCHEIAS)
Essa frmula perfaz 80% dos choros pesquisados por Carlos
Almada em movimento escalar ascendente ou descendente
[Descendo a serra (Pixinguinha/Benedito Lacerda), Choro negro
(Paulinho da Viola/Fernando Costa), Apanhei-te cavaquinho
http://www.jacobdobandolim.com.br/jacob/oucajacob.php#trechos; BARRETO, Almir Crtes. O estilo interpretativo de Jacob do Bandolim. Campinas: UNICAMP, 2006, p. 09. 48 Vide ALMADA, Carlos. A estrutura do choro. Rio de Janeiro: Da Fonseca, 2006, p. 61-62.
-
59
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
(Ernesto Nazareth)...], cromtico [Flor amorosa (Joaquim Calado),
Andr de sapato novo (Andr Victor Corra), Benzinho (Jacob do
Bandolim)...], com bordadura ascendente ou descendente [Tico-
tico no fub (Zequinha de Abreu), Um a zero (Pixinguinha)...],
contorno em arpejo (mescla de salto com graus conjuntos; Bem-
te-vi atrevido (Lina Pesce)...] e como antecipao [Brasileirinho
(Waldir Azevedo), Sonoroso (K-Ximbinho), Dr. Sabe Tudo
(Dilermando Reis)...].
Carlos Almada considera as anacruses de 4 ou 5 semicolcheias
raras.
FINALIZAES
Segundo Carlos Almada,
[...] a finalizao que tambm poderamos chamar de uma brevssima coda, acontece logo aps a chegada da tnica, atravs da progresso harmnica V > I e do movimento meldico que resolve no I grau da escala [...] normalmente a tnica segue uma das notas pertencentes ao acorde do V grau os graus escalares II, V ou VII , embora seja tambm bastante tpica de choros a concluso meldica III > I [...]49
49 Cfr. ALMADA, Carlos. A estrutura do choro. Rio de Janeiro: Da Fonseca, 2006, p. 65.
-
60
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
As finalizaes costumeiras possuem:
2 NOTAS
Salto entre tnicas oitavadas em 2 colcheias, 2 semnimas ou 2
colcheias separadas por pausa.
3 NOTAS
Anlise combinatria do movimento tnica > dominante > tnica.
4 NOTAS
Arpejo da tnica em sentido ascendente = 1 semicolcheia, 1
colcheia, 1 semicolcheia, 1 colcheia.
5 NOTAS
Arpejo com 4 semicolcheias e 1 colcheia.
Verifique ainda os baixos para finalizao sugeridos por
BERTAGLIA, Marco. O violo de 7 cordas. 2. ed. Bertaglia: So
Paulo, 2002, p. 42-50.
FADE OUT
A msica tambm pode ser concluda com um fade out (atenuao
gradativa da intensidade sonora).
-
61
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
HARMONIA: NOES CONCEITUAIS50
A msica tem momentos instveis, estveis e menos instveis
ocasionados por repousos e movimentos harmnicos. Tenha, por
isso, algumas noes conceituais em mente (disposio intervalar,
leis tonais, frmulas harmnicas, modalidades de acorde e
cadncia...)!
TOM E TONALIDADE
Tonalidade um complexo de sons (arpejos, escalas, acordes,
melodias) adstritos ao centro tonal (tnica).
Tom a rbita (altura) onde essa tonalidade trafega (se
desenrola).
50 Vide GUEST, Ian. Harmonia: mtodo prtico. Rio de Janeiro: Lumiar, 2006, vols. 01-02, passim; CHEDIAK, Almir. Harmonia e improvisao. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumiar, 1986, p. 84; BUCHER, Hannelore. Harmonia funcional prtica. Vitria: Grfica Al, 2001, passim; WALTER, lvaro. Composio instantnea: apontamentos sobre improvisao. Uberaba, MG | So Paulo: lvaro A. Walter | Clube de Autores, 2011, passim; FARIA, Nelson. Harmonia aplicada ao violo e guitarra: tcnicas em chord melody. 2. ed. Rio de Janeiro: Nelson Faria Produes Musicais, 2009, passim; Idem. Acordes, arpejos e escalas para violo e guitarra. Rio de Janeiro: Lumiar, 1999, passim. BARASNEVICIUS, Ivan. Jazz: harmonia e improvisao. So Paulo: Irmos Vitale, 2007, passim.
-
62
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
INTERVALOS ENTRE A TNICA OU A FUNDAMENTAL E OS OUTROS
GRAUS DE UM ACORDE OU UMA ESCALA51
1 (tnica = escala ou fundamental = acorde)
b2 (segunda menor) ou b9 (nona menor)
2 (segunda maior) ou 9 (nona maior)
#2 (segunda aumentada)
b3 (tera menor) ou #9 (nona aumentada)
3 (tera maior)
4J (quarta justa) ou 11 (dcima primeira)
#4 (quarta aumentada)
b5 (quinta diminuta) ou #11 (dcima primeira aumentada)
5J (quinta justa)
#5 (quinta aumentada) ou b13 (dcima terceira menor)
b6 (sexta menor)
6 (sexta maior) ou 13 (dcima terceira maior)
bb7 (stima diminuta)
7b (stima menor)
7 (stima maior)
51 FARIA, Nelson. Acordes, arpejos e escalas para violo e guitarra. Rio de Janeiro: Lumiar, 1999, p. 09; Vide NOGUEIRA, Paulinho. Mtodo Paulinho Nogueira: para violo e outros instrumentos de harmonia. 21 ed. So Paulo: Casa Manon, s.d., p. 16-17, 22-23.
-
63
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
ACORDES52
TRADES
Maior: 1, 3, 5 = C
Menor: 1, b3, 5 = Cm
Aumentada: 1, 3, #5 = C+ ou C(#5)
Diminuta: 1, b3, b5 = C ou Cm(b5)
TTRADES
Stima maior: 1, 3, 5, 7 = C7M
Menor com stima: 1, b3, 5, b7 = Cm7
Maior com stima menor ou Dominante: 1, 3, 5, b7 = C7
Diminuta: 1, b3, b5, bb7 = C
Meia diminuta: 1, b3, b5, b7 = Cm7(b5)
Menor com stima maior: 1, b3, 5, 7 = Cm(7M)
Stima maior e quinta aumentada: 1, 3, #5, 7 = C7M(#5)
ACORDES COM SEXTA
Maior com sexta: 1, 3, 5, 6 = C6
Menor com sexta: 1, b3, 5, 6 = Cm6
52 Cfr. FARIA, Nelson. Acordes, arpejos e escalas para violo e guitarra. Rio de Janeiro: Lumiar, 1999, p. 13-16; Vide tambm o quadro geral dos acordes sobre os graus da tonalidade maior e menor de CHEDIAK, Almir. Harmonia e improvisao. 7 ed. rev. Rio de Janeiro: Lumiar, 1986, p. 351-353, e do mesmo autor o Dicionrio de acordes cifrados: harmonia aplicada msica popular. Rio de Janeiro: Lumiar, 1984, passim.
-
64
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
ACORDES SUSPENSOS
Acordes em que a tera substituda pela 4 justa:
1, 4, 5, b7 = C4 ou C74
ACORDES COM NOTAS DE TENSO
Trades ou ttrades acrescidas de b9 (nona menor), 9 (nona maior),
#9 (nona aumentada), add9 (nona adicionada ou trade acrescida de
nona maior), 11 (dcima primeira justa), #11 (dcima primeira
aumentada), b13 (dcima terceira menor) ou 13 (dcima terceira
maior).
INVERSES
Eis os tipos usuais de inverso:
1 inverso (3 no baixo ou como fundamental).
2 inverso (5 no baixo ou como fundamental).
3 inverso (7 menor no baixo ou como fundamental).
ACORDES HBRIDOS53
Os acordes hbridos no possuem tera. Por estarem desprovidos
do grau modal, no so maiores, nem menores.
53 FARIA, Nelson. Harmonia aplicada ao violo e guitarra: tcnicas em chord melody. 2. ed. Rio de Janeiro: Nelson Faria Produes Musicais, 2009, p. 55.
-
65
O VIOLO E AS LINGUAGENS VIOLONSTICAS DO CHORO
CARLOS WALTER www.carloswalter.com.br
ACORDES QUARTAIS54
Os acordes quartais so integrados por quartas superpostas.
POLIACORDES55
Os poliacordes so acordes superpostos (trades ou ttrades
sobrepostas). A forma da notao fracional: D
.
HARMONIA FUNCIONAL56
Conforme Ian Guest,
a msica tonal [...] vem dos ltimos sculos e adota uma linguagem meldica e harmnica inventada e, por vezes, rebuscada. Sua harmonia uma narrativa imprevisvel; uma sucesso de preparaes e resolues, ou preparaes no resolvidas ou, ainda, resolvidas inesperadamente, tal como um conto de aventuras. Trabalha com ttrades e enriquecida com dissonncias. Por sua sofisticao, prev um pblico passivo e pagante, nos moldes do consumismo ocidental. Quem porventura participar deve conhecer a msica ou recorrer leitura.57
54 FARIA, Nelson. Harmonia aplicada ao violo e guitarra: tcnicas em chord melody. 2. ed. Rio de Janeiro: Nelson Faria Produes Musicais, 2009, p. 57. 55 Ibidem, p. 55; Na introduo de GUEST, Ian. 16 estudos escritos e gravados para piano. Rio de
Janeiro: Lumiar, 2000, p. 05, o autor redige uma nota explica sobre o poliacordeF
56 Vide GUEST, Ian. Harmonia: mtodo prtico. Rio de Janeiro: Lumiar, 2006, vols. 01-02, passim; CHEDIAK, Almir. Harmonia e improvisao. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumiar, 1986, passim; KOELLREUTTER, H. J. Harmonia funcional: introduo teoria das funes harmnicas. So Paulo: Ricordi, 1986, passim; BUCHER, Hannelore. Harmonia funcional prtica. Vitria: Grfica Al, 2001, passim; WALTER, lvaro. Composio instantnea: apontamentos sobre improvisao. Uberaba, MG | So Paulo: lvaro A. Walter | Clube de Autores, 2011, passim; FARIA, Nelson. Harmonia aplicada ao violo e guitarra: tcnicas em chord melody. 2. ed. Rio de Janeiro: Nelson