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ONTOLOGIA E LINGUAGEM
[As condições de coautoria e as
possibilidades de sentidos]
Wellington Amâncio
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Universidade do Estado da Bahia – UNEB/Campus VIII
Pr ogr ama de Pós-Gr aduação em Ecologi a Humana e Gestão
Soci oambi ental – PPGEcoH
Rua Silveira Mar tins, 2555, Cabula. Salvador -BA. CEP: 41 .1 50-000. Tel .:
71 3117 -2200
Conselho editorial:
Dr . Bartol omeu Lei te da Silva - UFPB
Dr . Feliciano José Borr alho de Mira - UN EB, U EM, CES
Dr . Juracy Mar ques – FSCAPE, SABER, UN EB, U FMG
Dr a. Elilia Camargo Rodri gues - UN EB
Dr a. Eli ane Maria de Souza N ogueir a - UN EB
Coleção Territorialidade da Linguagem
Revisão: Wil ma Amânci o da Silva
W ellington Amânci o da Silva
Capa: Alice & N aay Oniri smos,
Diagr amação: Márci o B. de Castr o
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ONTOLOGIA E LINGUAGEM
[As condições de coautoria e as
possibilidades de sentidos]
Wellington Amâncio
2ª Edição
São Paulo
2015
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Copyright © 2012, Wellington Amanci
Copyright desta edição © 2015:
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FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
Da Silva, Wellington Amâncio Ontologia e Linguagem - as condições de coautoria e as possibilidades de sentidos/ Wellington Amâncio da Silva. – Delmiro Gouveia: Edições Parresía, 2015. 127.; il . Bibliografia e índice. ISBN 978-85-8196-612-0 DOI: 10.13140/RG.2.1.2731.1526 1. Ontologia. 2. Linguagem. 3. Epistemologia. 4. Coautoria. I. Título
CDD 370.71
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Para José Amancio
[Mentor intelectual de hoje e de sempre]
Tudo que existe existe talvez porque outra coisa existe.
Nada é, tudo coexiste: talvez assim seja certo.
Fernando Pessoa
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SUMÁRIO
Prefácio (Pré-Fácil) 9
Adv ertência 11
Introdução 13
Linguagem com o espelho de humanidade 17
A linguagem humana para além da fala 23
A onticidade da pessoa do enunciado 33
Dar -se na/da linguagem 37
Noção positiv a de problema 41
O sujeito e seu mundo objetiv o 45
Linguagem e lim ite em Wittgenstein – uma episteme
condicional e de possibilidades com o abertura 53
A linguagem com o projeto 67
A doxai na v erdade 71
Do argumento ao consenso - Heidegger e alguns tópicos de Sein
und zeit 81
O consenso e a linguagem do animal político 85
Um a coautoria para a existência neste m undo 97
Referências 111
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Prefácio (Pré-Fácil)
Podem os dizer o que um objeto realmente é?
Podem os saber acerca da “coisa em si” kantiana? Há
uma linguagem pura e referencial que nos possibilite à
exatidão do mundo e consequentemente possa chancelar
um discurso v erdadeiro?
Crem os que a autorização para dizer o mundo em
sua com plexidade e contingencialidade seja possível
apenas em coautoria – visto que, de um ponto de vista
ontológica, o autor inexiste; este é o problema central do
dizer.
Se concordarmos que o sujeito é, em sua
natureza, um animal político (ὁ ἄνθρωπος υύσει
πολιτικὸν ζῷον), então, o primado deste animal
capacitado de palavra (ζῷον λόγον ἔτον) se realiza
apenas na coautoria de significados e na práxis
intersubjetiva da linguagem com o possibilidade
discursiva. Diante do λόγον, em sua essência dialógica, a
autoria é uma contradição.
Em vista disso, o objetiv o desse trabalho é
discutir as possibilidades da linguagem por m eio de uma
abordagem fenom enológica, de perspectiva existencial
situada, determinante à presença/sentido do mundo,
entre os sujeitos. Observar-se-á o conceito de limite e
abertura, bem com o as possibilidades do logos enquanto
uma “faculdade” ontológica, com partilhadas nos
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contextos do mundo da vida em coautoria. Destaca -se a
valorização dos aspectos intersubjetiv os da apreensão do
Ser Implicado na linguagem (Dasein) e suas
representações constitutivas e constituídas, através dos
m odos de inteligibilidade (herm enêutica, representação,
discurso), com o abertura e acessibilidade para mundo,
lugar de copertença do ζῷον λόγον ἔτον. Essa produção é
o resultado parcial de pesquisas bibliográficas entre os
anos de 2009 a 2013. O artigo originário a partir do qual
esse livro foi ampliado fora publicado sob o título de
Contributions to the ontology of language – opening,
logos, limit, being and the conditions for co-authoring
and possibilities of meaning.
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Advertência
Apesar da dificuldade de conceituar em cada
term o, aquilo que se apresenta com o fenôm eno - quanto
às diversas atribuições históricas de sentidos que lhe são
possív eis -, visa-se observar alguns conceitos ontológicos
e m etafísicos. Tendo isso em conta, empregar -se-á o
term o coisa para evocar os conceitos cartesianos
atribuídos às relações com o mundo fundamentado pela
noção de res extensae: do objeto aprendido na sua
condição de distanciam ento espacial, no m ovimento
metafísico de “afastamento” por meio dos exercícios da
análise.
Usar-se-á o term o prae esse para fazer lem brar o
sentido da palavra presença com o aquilo que está diante
de nós, à mão, no suscitamento das interações, no lidar,
antes de qualquer interpretação mais elaborada.
Aplicar-se-á o term o objeto no sentido daquilo,
que objetiva diante da nossa curiosidade existencial –
que tanto prov oca nossa curiosidade, bem com o o existir
do ser clarifica-o, em objeto e objetivação.
Algumas vezes o term o ente foi utilizado de forma
mais geral para aludir ao existente, com o tudo aquilo que
com põe o mundo por meio da linguagem e não ao ser
fático do mundo da vida.
Ser-aí, heideggeriano, com o sujeito
constituído/constituinte, indivíduo, aspectos concretos
do ser, faticidade, concretude do existente,
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materialidade e realização do ser, isto é, com o ser em sua
tangência; pessoa com o pessoa humana dada no mundo;
o ser-aí socializando-se, engajamento histórico.
O conceito de ser mais geral com o configuração;
aquilo que não é empírico, mas de essência, de
substância incorpórea, sobretudo de síntese:
consciência, eu, ego.
Husserl e Heidegger fizeram grandiosa opção ao
voltar aos prim órdios dos conceitos e trazê-los “puros”,
em seu sentido grego e latino.
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Ontologia e Linguagem 13
Introdução
Ao aferir sobre a linguagem, em Sein und Zeit, ela
já traz, in nuce, as condições de transcendência na
projeção (Projektion), e ainda, a condição de imanência
na imersão (Zerstreuung), no entanto, tradicionalm ente
o lim ite da linguagem é o lim ite do cam po do saber com o
linguagem que apresenta e conceitua.
A possibilidade de expressão, descrição e
representação na linguagem 1 fora condicionada ao
fundamento da coisa, pois, quanto mais imaterial mais
exprimível, porém mais distante; por outro lado, quando
mais concreto for o ente, o afastamento analítico tenta
resolver esta disparidade, na substancialidade da
linguagem que quer configurar a substância do objeto.
Por causa disso, o pensado – ser imaterial - deve ser
potencialmente passível de expressão na linguagem,
assim com o esta já ocorre no pensamento. Nessa
perspectiva de liame material, a linguagem sem pre foi
reconhecida com o um interm ediário entre o hom em e o
mundo.
Questiona-se desde então se antes de serem
admitidas as condições de linguagem, são postas as
estruturas com o condições? Para que haja linguagem, na
1 A partir da via daquele que toma conhecimento do mundo, representação é tradicionalmente, por sua natureza, um processo de simulação, por meio de interpretação a partir do uso de referenciais constituídos e da objetivação do representado. Diz-se que, de sua origem, se processa no sujeito e da parte deste como linguagem ou é apreendida por ele no tertium da linguagem; representação como componente doa uma determinação ao objeto, numa perspectiva de passividade do objeto, por assim dizer, estático nessas condições. Assim, desde a Crítica da Razão Pura, representação ideal é aquela que melhor se aproxima do representado, mas não apreendendo sua totalidade, estes são complementados pelos aspectos que advém da disposição. “No fenômeno os objetos e suas propriedades são algo dado pelo modo de intuição do sujeito na relação que o objeto mantém com ele [...] e a própria capacidade de representação do sujeito é afetada por tal objeto (KANT, 1980, p.53 -53)”
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Wellington Amâncio da Silva 14
configuração da linguagem aristotélica, e esta possa
funcionar, se fez necessário (no âm bito da linguagem)
postular estruturas (Política I, 2, 1.253a7ss).
Ela apresenta já a própria estrutura de onde se
erige. Deste jogo nascem às correspondências entre a
linguagem e faticidade2 e a questão da referência de
elementos utilizados na linguagem.
A linguagem no seu jogo com o que representa não
pressupõe som ente a correspondência, mas também sua
negação. Se a linguagem tem sido definida pelo seu uso
e não por sua correspondência com o existente, se a
linguagem pode ser entendida em sua função de
desem penho e não só descritiva do existente prov oca o
dilema entre objetividade e subjetividade na análise da
própria linguagem com o condição de inteligibilidade do
mundo e do próprio sim bólico.
Com o se quer entender, o sím bolo acontece, grosso
modo, por força de convencionalização de significados
sem a qual não se referiria. Mas a interação não
convencional ou arbitrária entre o signo e seu objeto é o
espaço contingencial de transsignificação.
Palavras, ícones, símbolos, signos 3 são
acontecimentos da linguagem situados e im plicados aos
contextos onde ocorrem e que o transcendem
constantem ente. De que m odo um “acontecim ento da
2Aplicou-se a palavra faticidade, com acepção Heideggeriana, e de certa forma Sartriana, g eralmente quando da necessidade de substituição à palavra realidade. Considerou-se, por sua vez, a palavra realidade enquanto coisa existente (res) no contraste com o termo verdade quando se faz referência às teorias da verdade a partir de Kant. Tomamos o conceito de existente como realidade dinâmica a partir do conceito de Dasein heideggeriano. 3 Os códigos fundamentais de uma cultura – aqueles que regem sua linguagem, seus esquemas perceptivos, suas trocas, suas técnicas, seus valores, a hierarquia de suas práticas – fixam, logo de entrada, para cada homem, as ordens empíricas com as quais terá de lidar e nas quais se há de encontrar. (Foucault, 1995: 9-10)
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Ontologia e Linguagem 15
linguagem” pode representar in nuce uma relação com o
mundo? Com o a relação com o mundo pode ser
representada? Com o a abstração da linguagem evoca e
apreende as qualidades do mundo, bem com o afirma
essas qualidades, com o fato (ἀλήθεια), ao significar, e
enunciada essa “verdade”? Com o podem os determinar a
verdade (ἀλήθεια) ou a falsidade daquilo que é dito?
Com o o significado de uma frase pode depender de
contextos que não são acontecimentos da linguagem?
Com o se dá a interação entre língua e m ente
(pensam ento)?
Um objeto da linguagem está mais distante do
mundo do que um acontecimento da linguagem. Do
ponto de vista da consciência que apreende, o objeto só o
é no distanciam ento da sua análise; sua retomada junto
ao objeto, agora com o sentido, faz desse retorno o
acontecimento. A pseudo-separação das partes de um
todo prom ov e grande distanciamento, justam ente pela
dependência ontológica da linguagem e aporia empírica
ao conceito m etafísico de todo.
A linguagem, por estar de forma intrínseca na
natureza do ser humano, é a utopia mais essencial de
que possuím os para atentar à nossa prem ente
necessidade de dizerm os do/no/o mundo, e este em seu
aspecto relacional de mundo com partilhado, próprio,
circundante, imanente, projetado, imagético. Sem
defender a ideia tradicional de linguagem com o
faculdade, antes de tudo, ela está, hic et nunc em nossa
vida cotidiana, com o um meio (essa é sua condição
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Wellington Amâncio da Silva 16
im ediata) para ela m esma, no entanto, ao m esm o tem po,
se nos apresenta com o possibilidades e projeto para
além da existência, com o existência m esma. As verdades
seriam verdades, da linguagem para nós, se quando
com partilhada transcendesse das obrigações do
significar, dando espaços ao não-significar, nos
entendim entos entre os m embros.
Assim, os limites do conhecim ento (com o crença
verdadeira justificada) são delineados pela ausência do
conhecer na condição do “por enquanto não é possív el”
do aqui e agora, mas é nessa instância mesma, onde ele
conhece seus limites que avança.
Refletir a linguagem nos faz pensá -la com o o
primado ontológico da abertura do ser, em face da sua
condição de “estar lançada”, condição esta que a
linguagem capacita - até onde for possível aceitar esta
palavra – para a apreensão.
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Ontologia e Linguagem 17
ONTOLOGIA E LINGUAGEM
[As condições de coautoria e as
possibilidades de sentidos]
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Wellington Amâncio da Silva 18
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Ontologia e Linguagem 19
Linguagem como espelho de humanidade
Argumentar sobre a linguagem é sempre, por vias
de projeção a partir dela mesma (metalinguagem ), uma
consciência, antes de tudo, enunciando e objetivando
para si4 . Sua materialidade é reconhecida na pessoa
enunciante, que se constitui cotidianamente e se
confirma primeiro num “m onólogo”, antes de qualquer
interlocução - na perspectiva da tem poralidade e da
coautoria; enunciar (λεγόμενον) é ao m esm o tempo a
com preensão de uma “posse” de um particular, subjetiva
e, uma doação para o outro a partir da autoria, e com o
outro partilha – objetivando-se neste entrelaço de
coautoria constante, aberta e desencobrimento; da sua
abertura na linguagem, em face da natureza do humano
aí presente, reconhecendo com o outro, nas intenções
predicativas cotidianas.
Nas relações dialógicas, penso a linguagem
comunicando mais que aquilo que, num prim eiro
m omento, é entendido – a m em ória vai tentar resgatar o
aparentemente não-dito, com todas as suas
possibilidades de acréscim o ao que se “pretendia”
enunciar no princípio, visto que ela é composta de
lem branças, esquecimentos e ressignificações discursos
imagéticos.
4 Argumentar através da linguagem e apresentar os aspectos da fragilidade da linguagem é uma contradição in nuce, porém, necessária.
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Wellington Amâncio da Silva 20
Quanto à primazia da linguagem, para além da
colocação dos símbolos, com o apenas uma das suas
instâncias, diz respeito a sua multiplicidade de
dim ensionar a comunicação.
Na há limites para o dizível, porque por meio das
possibilidades da linguagem se diz mais acerca daquilo
que pode ser e estar na linguagem m esma, com o
possibilidades; embora, evocando o prim eiro
Wittgenstein, ainda se discuta o que pode ser dito
significativamente, isto é, estritamente dentro de um
painel (Bild), do cam po de conhecim ento.
O próprio limite não é mais, talvez, que um recorte
arbitrário em um conjunto indefinidamente m óvel 5 de
acontecimentos na linguagem e esta, com o “dispositivo”,
poderia ser entendida com o o elem ento mais próxim o e
aproximador do existente naquilo que este tem de
“indefinido” e constante; com efeito, propiciadora de
interações entre mem bros, por m eio da qual a realidade
da vida cotidiana vai aos poucos sendo com preendida na
construção intersubjetiva de verdades entre
locutores/interlocutores a linguagem m elhor acontece
além dos limites daquele “painel”. Antes, é preciso
afirmar um tópico basilar: tomam os com verdade para
aquilo que a linguagem humana, com o sua natureza
mesma, consegue mediar entre faticidade e percepção
intersubjetiva, isto é, a presença (prae-essere) da vida se
manifestando nas interações.
5 FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. 2007, p. 69
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Ontologia e Linguagem 21
Mas, é necessária uma grande atenção às estruturas
predicativas da linguagem, com o unidade formal de
sentido e forma, quanto aos seus aspectos e
possibilidades, de ser um veículo aberto, portanto,
“com ponente” im pregnado e impregnador de sentidos e
dessentidos, com o uma das “incom pletudes” inerentes à
humanidade dos hom ens, em face das realizações
contínuas, processuais e contingenciais as quais se
lançam; com efeito, sua abertura não se faz apenas a
partir das palavras em sua polissemia, na vida real
cotidiana, mas do seu primado e imanência à
com plexidade humana.
Com o discurso predicativo e propositivo, λόγος diz,
ao contrário, δηλοῦν, revelar aquilo de que trata o
discurso. [...] O λόγος deixa e faz v er (θαίνεζθαι). O
discurso “deixar e faz ver” ἀπό... a partir daquilo sobre o
que se discorre [...] assim, torna acessível aos outros,
aquilo sobre o que se discorre. (Heidegger, p.63).
Entretanto o fenôm eno (ϕαινομενον) é o que se m ostra,
isto é, não representado ainda, ou reconstruído ainda no
discurso, contudo, se m ostra em seu m odo próprio de
ser, e é por causa disso, que dele nos apropriam os
mesm o sim plificando os sentidos dos objetos do mundo.
Sabe-se que linguagem é um sistema de símbolos,
ou m esm o ausência de um “sistema”. Ora, os símbolos
são processos especializados e posteriores na linguagem,
sem eles, esta ainda acontece, num nível, mais imediato,
afetiv o e em pático entre os m embros.
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Wellington Amâncio da Silva 22
Os objetos instituídos com o signos para objetivar-
se na concretude do mundo da vida, aí representado,
estarão sem pre no devir, é linguagem, mas sua
com preensão é sempre intersubjetiva; e a ausência
destes tam bém comunica. De qualquer forma, no
humano, comunicar é anterior aos sím bolos.
O signo não evoca simplesmente um objeto, mas
aciona uma interação entre significado e significante
com o aproximação e abertura para o mundo. Interage
com outras linguagens, outros signos da linguagem;
coerência e correspondência são apenas dois dos seus
fatores significantes.
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Ontologia e Linguagem 23
A linguagem humana para além da fala
Hoje vê-se uma contradição no conceito linguagem
ao ev ocar, da raiz filológica do term o “língua”, um
elemento não apenas sinal (ζημειον) e fonação (θωνή)
com o “componente” prim eiro das relações com o outro.
Porém, anterior à linguagem, no lugar onde suas
condições possibilitantes se efetivam, é o lógos onde a
partir dele os processos dialógicos ultrapassam os
condicionamentos de comunicação dependentes da
língua (a presença na linguagem) com o “com ponente”
discursivo principal, “dispositiv o” da enunciação,
dev olvendo aos mem bros comunicantes de uma
comunidade, sua razão ontológica de relacionar-se por
meio da linguagem. Isto é, o λόγον ἔτον, independente
de que se tenham ou não necessidades especiais
auditivas/fonativas para ser e estar na linguagem, visto
que, o ser, cujo m odo de ser e estar é, essencialm ente
determinado pelo m odo de poder da fala em suas
possibilidades, condições, limitações, projeções,
representações. (Heidegger, 2006, p.25) 6.
Antes de continuarm os, desde Platão e Aristóteles,
entende-se por logos, a tem poralização da lógica, pela
ratio, o cálculo, é dominado pelo princípio de não-
contradição, fundam ento de toda m etafísica da presença
(Derrida, 2011, p.318) – as questões fundamentais de
Filosofia, com o esteio ontológico do ser é m etafísica e é
6 Das Lebende, dessen Sein wesenhaft durch das Redenkönnen bestimmt ist.
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Wellington Amâncio da Silva 24
tudo o que possuím os em matéria de poesia -. Por isso, é
interessante ter por logos não apenas a ordenação do
mundo pela unilateralidade apofântica da fala, mas a
linguagem, em todas as suas possibilidades de
manifestação (λόγος αποθανηικός) restitua aos
“mem bros-sem -v ozes” (da surdez e/ou socialm ente
silenciados) sua capacidade de comunicação que é, por
assim dizer, sua condição ontológica de presença (prae-
essere) e existência no mundo cotidianizado.
A linguagem é uma reflexão enunciada, não com o
algo acabado, mas inconstante e multifacetada: ela se
lança dem onstrando sua pluralidade ao mesm o tempo
em que problematiza e doa problemas. Tenta se
apropriar da natureza dos objetos em suas
representações, na linguagem ; se aproxima apenas
daquilo que só pelos sentidos nos apropriam os por m eio
da correlação signifcado-linguagem, tentando resolver -
se ontologicam ente diante das diferenças contingenciais
(parállaksis).
Conquanto, na tentativa de consenso (onde nascem
determinadas inteligibilidades) interdependem ao
mesm o tem po conflito, relação, processo e negação; no
entrecruzam ento entre cada um dos seus m embros com o
prim eira aproximação intersubjetiva (em face das
alteridades advindas do repertório m ental de cada um)
ou da mem ória que suscita o sentido do outro no
horizonte da sua própria presença (prae-essere), no
tempo e no espaço reestruturado na linguagem.
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Ontologia e Linguagem 25
O que a linguagem e o mundo da vida
com partilham ontologicamente só podem se efetivar a
partir de uma forma lógica se assim o sujeito do discurso
intentar de si e da cultura uma lógica para o mundo
(οίκος) e ao final estar dizendo mais, sem pre de si – sem
muitas vezes identificar-se nesse ardil. Este “encontro
cartesiano” é um m odo periférico (res extensae) de
“funcionar” junto ao mundo, representando-o a partir da
ordem distanciada da cosm o-visão analítica, é simulacro
facilitador de inteligibilidades, por com paração, na
polissem ia intersimbólica do existente em face de um
tentativa de equiparação.
Na perspectiva das leis em sua hermenêutica
racionalista, não haveria ordem na vida-em-si, portanto
não haveria tam bém caos aquém da ordem com o
representação humana para a totalidade das coisas;
quando se reconhece que as ordenações humanas são
precárias interpretações circundantes e nunca um m odo
de estar rente ao mundo, porque nestas ordenações, seu
aspecto analítico já é um afastam ento e uma alienação.
Nessa perspectiva, culturalmente o sujeito está
também frente a outros sujeitos num sentido de
copertença, que reivindicam as mesmas condições e
m odos de referenciar e existência diante do, e para o,
entre-mundo, ser-no-mundo, só haveria um alcance,
uma clarificação (θαίνω) do mundo por meio da
linguagem na perspectiva da liberdade.