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O ÚLTIMO VÔO DO O ÚLTIMO VÔO DO FLAMINGOFLAMINGO

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MoçambiqueBeira

Maputo

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COUTO, Mia, RAIZ DE ORVALHO E OUTROS POEMAS, 3° edição, Editorial Caminho, AS, Lisboa – 1999.COUTO, Mia, RAIZ DE ORVALHO E OUTROS POEMAS, 3° edição, Editorial Caminho, AS, Lisboa – 1999.

Sotaque da terraSotaque da terra Junho 1986Junho 1986

Estas pedrasEstas pedrassonham ser casasonham ser casa

sei sei porque faloporque faloa língua do chãoa língua do chão

nascidanascidana véspera de mimna véspera de mimminha vozminha vozficou cativa do mundo,ficou cativa do mundo,pegada nas areias do Índicopegada nas areias do Índico

agora, agora, ouço em mimouço em mimo sotaque da terra o sotaque da terra

e choroe chorocom as pedrascom as pedrasa demora de subirem ao sola demora de subirem ao sol

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1.CONTEXTUALIZAÇÃO1.CONTEXTUALIZAÇÃO

1.1.MOÇAMBIQUE1.1.MOÇAMBIQUE

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Moçambique foi colônia de Portugal. Consegue sua Moçambique foi colônia de Portugal. Consegue sua Independência em 1975, após vários anos de luta, liderada pela Independência em 1975, após vários anos de luta, liderada pela Frente de Libertação de Moçambique ( FRELIMO) , de inspiração Frente de Libertação de Moçambique ( FRELIMO) , de inspiração marxista. Seu líder, Samora Machel, assumiu o governo após marxista. Seu líder, Samora Machel, assumiu o governo após conseguida a Independência e permaneceu nele até sua morte em conseguida a Independência e permaneceu nele até sua morte em 1986. 1986.

Mas, de 1976 a 1992, Moçambique vive a guerra civil: .disputas Mas, de 1976 a 1992, Moçambique vive a guerra civil: .disputas entre a Frelimo, no governo, e a Renamo (Resistência Nacional entre a Frelimo, no governo, e a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), partido de direita..Moçambicana), partido de direita..

Na década de 1980, as dificuldades econômicas levaram a Na década de 1980, as dificuldades econômicas levaram a Frelimo a negociar um acordo para empréstimo financeiro. O Fundo Frelimo a negociar um acordo para empréstimo financeiro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) exigiu mudanças e o país adere às Monetário Internacional (FMI) exigiu mudanças e o país adere às políticas neoliberais. Mesmo assim, a Frelimo ganha as eleições em políticas neoliberais. Mesmo assim, a Frelimo ganha as eleições em 1994, 1999,2004.1994, 1999,2004.

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1.2. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DE MIA COUTO1.2. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DE MIA COUTO

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De 1972 a 1975, Mia Couto, então adolescente, De 1972 a 1975, Mia Couto, então adolescente, participou das lutas pela Independência, como militante participou das lutas pela Independência, como militante da Frelimo.... Participa da guerra com a Rodésia e da da Frelimo.... Participa da guerra com a Rodésia e da guerra civil. A militância na Frelimo o fez abandonar o guerra civil. A militância na Frelimo o fez abandonar o curso de Medicina e ingressar no jornalismo. curso de Medicina e ingressar no jornalismo.

Mas termina por desencantar-se com a Frelimo. Os Mas termina por desencantar-se com a Frelimo. Os governantes, comprometidos com o Banco Mundial e o governantes, comprometidos com o Banco Mundial e o FMI, passam a assumir posturas capitalistas. Além disso, a FMI, passam a assumir posturas capitalistas. Além disso, a corrupção se tornara presente no governo. Diz Mia Couto: corrupção se tornara presente no governo. Diz Mia Couto:

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(http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/1393,1.shl). (http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/1393,1.shl). (Mia Couto no Contexto da Literatura Pós-colonial de (Mia Couto no Contexto da Literatura Pós-colonial de Moçambique)Moçambique)

“ “Acho que a Frelimo passou a ter um discurso falseado, Acho que a Frelimo passou a ter um discurso falseado, mascarado, com objetivos ainda socialistas quando eles todos mascarado, com objetivos ainda socialistas quando eles todos já se tinham convertido em empresários de sucesso.”... “ Os já se tinham convertido em empresários de sucesso.”... “ Os modelos de governação que foram instalados, quer fossem modelos de governação que foram instalados, quer fossem primeiro socialistas quer fossem depois capitalistas eram primeiro socialistas quer fossem depois capitalistas eram deslocados de nós, não despertavam aquilo que era a cultura deslocados de nós, não despertavam aquilo que era a cultura mais profunda, que era a alma mais funda deste país.mais profunda, que era a alma mais funda deste país.

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((http://html.editorial-caminho.pt/show_recorte__q1area_--_3Dcatalogo__--_3D_obj_--65953__q236__qhttp://html.editorial-caminho.pt/show_recorte__q1area_--_3Dcatalogo__--_3D_obj_--65953__q236__q30__q41__q5.htm30__q41__q5.htm))

E a crítica política de Mia Couto passa a enfatizar e denunciar E a crítica política de Mia Couto passa a enfatizar e denunciar tanto “os de fora”, como “os de dentro”. Diz ele: tanto “os de fora”, como “os de dentro”. Diz ele:

“ “Acho que precisamos questionar a relação entre o Acho que precisamos questionar a relação entre o Primeiro Mundo e o Terceiro Mundo. Não se trata de pedir Primeiro Mundo e o Terceiro Mundo. Não se trata de pedir mais, mas de que tirem menos de nós. Não só da riqueza mais, mas de que tirem menos de nós. Não só da riqueza material, mas da possibilidade de nos repensarmos.”material, mas da possibilidade de nos repensarmos.”

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(Entrevista publicada no O Globo, caderno Prosa & Verso, pág. 6, em (Entrevista publicada no O Globo, caderno Prosa & Verso, pág. 6, em 30.06.200)30.06.200)

” ” A escravatura e o colonialismo foram praticados não apenas A escravatura e o colonialismo foram praticados não apenas por mão de fora: houve conivência ativa de elites da África. Essa por mão de fora: houve conivência ativa de elites da África. Essa mesma conivência está prosseguindo hoje na dilapidação dos mesma conivência está prosseguindo hoje na dilapidação dos recursos em benefício das grandes companhias multinacionais. recursos em benefício das grandes companhias multinacionais. A visão vitimista só serve às atuais elites corruptas.” ... “ A visão vitimista só serve às atuais elites corruptas.” ... “ houve houve uma partilha, cumplicidade numa base de negócios. “uma partilha, cumplicidade numa base de negócios. “

((http://www.macua.org/miacouto/Mia Couto_Amecom2003.htmhttp://www.macua.org/miacouto/Mia Couto_Amecom2003.htm))

““Mais do que pobres tornamo-nos inférteis. O Mais do que pobres tornamo-nos inférteis. O colonialismo não morreu com as independências.”colonialismo não morreu com as independências.”

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““Assumir a condição de sujeito histórico: esse era o maior e o Assumir a condição de sujeito histórico: esse era o maior e o mais instigante desafio da Independência Nacional. ...mais instigante desafio da Independência Nacional. ...

Mas a primeira grande questão seria como é que Moçambique Mas a primeira grande questão seria como é que Moçambique está cooperando consigo mesmo? Como é que se promove o está cooperando consigo mesmo? Como é que se promove o desenvolvimento a partir de dentro? Este debate tem que ser desenvolvimento a partir de dentro? Este debate tem que ser conduzido dentro de África. Ele já está nascendo com a emergência conduzido dentro de África. Ele já está nascendo com a emergência de jovens que não se satisfazem com o discurso saturado da de jovens que não se satisfazem com o discurso saturado da culpabilização dos outros sempre que se analisa a situação interna culpabilização dos outros sempre que se analisa a situação interna do continente. O maior desastre de África não é ser pobre mas ter do continente. O maior desastre de África não é ser pobre mas ter sido empobrecida pela aliança entre a mão exploradora de fora e a sido empobrecida pela aliança entre a mão exploradora de fora e a mão conivente de dentro.mão conivente de dentro.

((http://www.http://www.swissinfoswissinfo..org/por/swissinfoorg/por/swissinfo..html/siteSect=43&sid=5895454html/siteSect=43&sid=5895454))

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( Em ( Em O último vôo do flamingoO último vôo do flamingo, a crítica à Frelimo, , a crítica à Frelimo, que, praticamente, abandona a ideologia marxista, que, praticamente, abandona a ideologia marxista, a crítica às elites moçambicanas e à corrupção, o a crítica às elites moçambicanas e à corrupção, o seu desencanto atravessam toda a narrativa. ). seu desencanto atravessam toda a narrativa. ).

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2. LITERATURA MOÇAMBICANA 2. LITERATURA MOÇAMBICANA MODERNAMODERNA

2.1. LITERATURA ENGAJADA2.1. LITERATURA ENGAJADA

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((http://p.http://p.phpphp..uol.comuol.com..brbr/tropico//tropico/htmlhtml/textos/1393,1.shl/textos/1393,1.shl). ). (Mia Couto no Contexto da Literatura Pós-colonial de Moçambique)(Mia Couto no Contexto da Literatura Pós-colonial de Moçambique)

a) A Literatura Moçambicana tem uma profunda participação política antes e a) A Literatura Moçambicana tem uma profunda participação política antes e depois da Independência. Ë, de fato, uma literatura engajada.depois da Independência. Ë, de fato, uma literatura engajada.

Dentro dessa literatura moçambicana engajada, Mia dá o seu depoimento: Dentro dessa literatura moçambicana engajada, Mia dá o seu depoimento:

““Acho que não separei as duas coisas (política e literatura). Não Acho que não separei as duas coisas (política e literatura). Não havia sequer essa preocupação em nós. O nascimento de uma havia sequer essa preocupação em nós. O nascimento de uma literatura nacional é contemporâneo do nascimento da própria literatura nacional é contemporâneo do nascimento da própria nacionalidade.” ... Nós acreditávamos nisso porque eu sou mais nacionalidade.” ... Nós acreditávamos nisso porque eu sou mais velho que o meu país. É uma circunstância histórica realmente velho que o meu país. É uma circunstância histórica realmente singular. Eu assisti o parto da própria nação a que pertenço e singular. Eu assisti o parto da própria nação a que pertenço e também fiz poesia panfletária. Confesso que fiz poesia panfletária, também fiz poesia panfletária. Confesso que fiz poesia panfletária, e fiz poesia a serviço do país, fiz a letra do hino deste país.”e fiz poesia a serviço do país, fiz a letra do hino deste país.”

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( Entrevista de Mia Couto por Fábio Salem e outros)( Entrevista de Mia Couto por Fábio Salem e outros)

b) b) Um tema predomina: a busca da identidade, da Um tema predomina: a busca da identidade, da moçambicanidade. Diz Mia: moçambicanidade. Diz Mia: “agora nós termos que “agora nós termos que imprimir neste corpo a marca da nossimprimir neste corpo a marca da nossaa alma”. alma”.

““ O que nós queremos estar a dizer ao mundo é: “olha, O que nós queremos estar a dizer ao mundo é: “olha, nós não temos medo de não ter identidade. Nossa nós não temos medo de não ter identidade. Nossa identidade não sabemos qual é. É uma identidade em identidade não sabemos qual é. É uma identidade em viagem. É uma identidade de descoberta cíclica.” “ viagem. É uma identidade de descoberta cíclica.” “ Moçambique é feito de diversidades profundas”Moçambique é feito de diversidades profundas”

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““O que as literaturas africanas intentam propor nestes tempos O que as literaturas africanas intentam propor nestes tempos pós-coloniais é que as identidades (nacionais, regionais, pós-coloniais é que as identidades (nacionais, regionais, culturais, ideológicas, sócio-econômicas, estéticas) gerar-se-culturais, ideológicas, sócio-econômicas, estéticas) gerar-se-ão da capacidade de aceitar as diferenças.”ão da capacidade de aceitar as diferenças.”

( Inocência Mata, da Universidade de Lisboa- O pós-colonoal nas literaturas africanas de língua ( Inocência Mata, da Universidade de Lisboa- O pós-colonoal nas literaturas africanas de língua portuguesa )portuguesa )

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( Entrevista de Mia Couto, por Fábio Salem, Nivaldo Sousa, Rodrigo Antônio Turrer e Thais ( Entrevista de Mia Couto, por Fábio Salem, Nivaldo Sousa, Rodrigo Antônio Turrer e Thais Arbex Pinhata )Arbex Pinhata )

“ “São os africanos que têm que trabalhar sua própria idéia de si São os africanos que têm que trabalhar sua própria idéia de si próprios, não transferir deles para os outros ... próprios, não transferir deles para os outros ...

... Moçambique resolveu de maneira cirúrgica o problema da memória ... Moçambique resolveu de maneira cirúrgica o problema da memória da guerra. Nós tivemos uma guerra traumática de 16 anos, um milhão de da guerra. Nós tivemos uma guerra traumática de 16 anos, um milhão de mortos, e se tu fores a Moçambique hoje, ninguém fala mais nisso, não mortos, e se tu fores a Moçambique hoje, ninguém fala mais nisso, não existiu, como se houvesse um apagamento, quer dizer, uma esponja que existiu, como se houvesse um apagamento, quer dizer, uma esponja que passou.passou.

Acho que a literatura moçambicana está fazendo isso, está mostrando Acho que a literatura moçambicana está fazendo isso, está mostrando a História através das pequenas histórias, criando um sentimento de que a História através das pequenas histórias, criando um sentimento de que essa história é bonita, que vale a pena ter essa história, mesmo que não essa história é bonita, que vale a pena ter essa história, mesmo que não seja muito verdadeira – nenhum país tem uma história completamente seja muito verdadeira – nenhum país tem uma história completamente verdadeira. Nós verdadeira. Nós

[ escritores moçambicanos] estamos criando aquilo que são os mitos [ escritores moçambicanos] estamos criando aquilo que são os mitos fundadores na nação.” “O escritor é um construtor de mundos fundadores na nação.” “O escritor é um construtor de mundos inventados.”inventados.”

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2.2. ORALIDADE2.2. ORALIDADE

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Mia Couto – Sou um poeta que conta estóriasMia Couto – Sou um poeta que conta estórias

Em Moçambique, a oralidade é marcante. De geração a Em Moçambique, a oralidade é marcante. De geração a geração transmitem-se, oralmente, as estórias, a História, geração transmitem-se, oralmente, as estórias, a História, as crenças e os saberes. Diz-se mesmo que “Cada velho as crenças e os saberes. Diz-se mesmo que “Cada velho que morre é uma biblioteca que arde”. “No plano da que morre é uma biblioteca que arde”. “No plano da oralidade ordena-se um mundo de forças e espíritos que oralidade ordena-se um mundo de forças e espíritos que fluem entre o passado e o presente. E o por vir”fluem entre o passado e o presente. E o por vir”

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“ “Mas qualquer que seja a idéia que temos de lusofonia deve Mas qualquer que seja a idéia que temos de lusofonia deve ser inventada, tem que ser construída a partir de laços que já ser inventada, tem que ser construída a partir de laços que já existem.existem.

Meu país não é um país lusófono, a maior parte dos Meu país não é um país lusófono, a maior parte dos moçambicanos não fala português.moçambicanos não fala português.

A questão é essa, para se ter um país com nome, bandeira, A questão é essa, para se ter um país com nome, bandeira, símbolos, etc., de maneira moderna, não vejo muito a hipótese símbolos, etc., de maneira moderna, não vejo muito a hipótese desses governos respeitarem um processo de aceitação da desses governos respeitarem um processo de aceitação da diversidade. Teria que haver um Estado com a capacidade de diversidade. Teria que haver um Estado com a capacidade de criar, de acarinhar as línguas dos nativos de Moçambique, criar, de acarinhar as línguas dos nativos de Moçambique, sabendo que são mais de 20. Isto é muito complexo.sabendo que são mais de 20. Isto é muito complexo.

(Entrevista de Mia Couto, autor de “O Último Vôo do Flamingo”, por Fábio Aslem, (Entrevista de Mia Couto, autor de “O Último Vôo do Flamingo”, por Fábio Aslem, Nivaldo Souza, Rodrigo Antônio, Rodrigo Turrer e Thais Arbex Pinhata).Nivaldo Souza, Rodrigo Antônio, Rodrigo Turrer e Thais Arbex Pinhata).

Leia um depoimento de Mia CoutoLeia um depoimento de Mia Couto::

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(http://www.iilp-cplp.cv)(http://www.iilp-cplp.cv)

Venho brincar aqui, no português, a língua. Não Venho brincar aqui, no português, a língua. Não aquela que os outros embandeiram. Mas a língua nossa, aquela que os outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. A língua que moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. A língua que eu quero é essa que perde a função e se torna carícia. O eu quero é essa que perde a função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente quando voa. Meu desejo é desalisar a que a asa sente quando voa. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a vida tem, é idimensões?Vida. E quantas são? Se a vida tem, é idimensões?

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((http://geocities.yahoo.com.br/poesiaeterna/poetas/mocambique/miacouto.htmlhttp://geocities.yahoo.com.br/poesiaeterna/poetas/mocambique/miacouto.html))

inventiva poética da sua escrita...”’inventiva poética da sua escrita...”’

... um processo de mestiçagem entre o português ... um processo de mestiçagem entre o português “culto” e as várias formas e variantes dialectais “culto” e as várias formas e variantes dialectais introduzidas pelas populações moçambicanas. Mia é introduzidas pelas populações moçambicanas. Mia é assim uma espécie de mágico da língua, criando, assim uma espécie de mágico da língua, criando, apropriando, recriando, renovando a língua portuguesa apropriando, recriando, renovando a língua portuguesa em novas e inesperadas direções.em novas e inesperadas direções.

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3.O 3.O AUTORAUTOR 3.1.Dados biográficos3.1.Dados biográficos

Mia Couto (Antônio Emílio Leite Couto)Mia Couto (Antônio Emílio Leite Couto) ( Beira,1955) é descendente de portugueses. ( Beira,1955) é descendente de portugueses.

Seus primeiros poemas são publicados no Seus primeiros poemas são publicados no jornal de Beira, quando ele tinha catorze anos. jornal de Beira, quando ele tinha catorze anos. Já vimos que foi militante da FRELIMO nas lutas Já vimos que foi militante da FRELIMO nas lutas pela Independência. Produz uma literatura pela Independência. Produz uma literatura engajada, política.engajada, política.

É formado em Biologia.É formado em Biologia.

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(<O Último Vôo do Flamingo> - “Sou um poeta que conta estórias” – Mia Couto)(<O Último Vôo do Flamingo> - “Sou um poeta que conta estórias” – Mia Couto)

Sobre suas origens e sua formação profissional, diz o autor:Sobre suas origens e sua formação profissional, diz o autor:

““Sou um tradutor de mundos não por mérito mas por um acaso Sou um tradutor de mundos não por mérito mas por um acaso da história da minha família. Descendo de europeus e nasci, cresci da história da minha família. Descendo de europeus e nasci, cresci e sempre vivi em África. Em casa e na escola tive aprendizagens e sempre vivi em África. Em casa e na escola tive aprendizagens em função da cultura dos meus pais. Na rua e na vida, porém, em função da cultura dos meus pais. Na rua e na vida, porém, assimilei lógicas bem diversas. Essa diversidade me enriqueceu.assimilei lógicas bem diversas. Essa diversidade me enriqueceu.

A escrita acontece, acontece-me e eu vou acontecendo nela. Na A escrita acontece, acontece-me e eu vou acontecendo nela. Na dispersão das coisas que sou e faço – dou aulas em duas dispersão das coisas que sou e faço – dou aulas em duas Faculdades, uma de Medicina, outra de Arquitetura, sou biólogo e Faculdades, uma de Medicina, outra de Arquitetura, sou biólogo e trabalho em consultorias e faço pesquisa nas zonas rurais, trabalho em consultorias e faço pesquisa nas zonas rurais, pertenço a um grupo profissional de teatro de Maputo, mantenho pertenço a um grupo profissional de teatro de Maputo, mantenho colaboração com diversas revistas e jornais – na dispersão de tudo colaboração com diversas revistas e jornais – na dispersão de tudo isso creio necessitar de manter uma espécie de âncora.isso creio necessitar de manter uma espécie de âncora.

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((http://www.editorial-caminho.pt/produto.asphttp://www.editorial-caminho.pt/produto.asp?Produto=1288?Produto=1288))

“ “ Eu tenho tantas profissões porque não quero ter Eu tenho tantas profissões porque não quero ter nenhuma. É uma estratégia de não ser coisa nenhuma. Porque nenhuma. É uma estratégia de não ser coisa nenhuma. Porque a partir do momento que eu me entendo a mim mesmo como a partir do momento que eu me entendo a mim mesmo como sendo biólogo ou sendo escritor ou sendo jornalista ou sendo sendo biólogo ou sendo escritor ou sendo jornalista ou sendo outra coisa qualquer, eu acho que fecho algumas janelas para outra coisa qualquer, eu acho que fecho algumas janelas para o mundo... Acho que é um empobrecimento.”o mundo... Acho que é um empobrecimento.”

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3.2 CURIOSIDADE3.2 CURIOSIDADE

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((http://www.editorial-caminho.pt/produto.asphttp://www.editorial-caminho.pt/produto.asp?Produto=1288?Produto=1288))

Certa vez, numa delegação do Samora Machel, que foi Certa vez, numa delegação do Samora Machel, que foi daqui visitar Fidel Castro, eu fui o único homem na vida a daqui visitar Fidel Castro, eu fui o único homem na vida a quem Fidel Castro deu saias e colares e brincos, pensando quem Fidel Castro deu saias e colares e brincos, pensando que eu era mulher. Essas questões de identidade me que eu era mulher. Essas questões de identidade me divertem muito, quer seja do sexo, quer seja da raça. Eu divertem muito, quer seja do sexo, quer seja da raça. Eu não tenho raça. Minha raça sou eu mesmo.não tenho raça. Minha raça sou eu mesmo.

... O autor é branco, de olhos azuis.... O autor é branco, de olhos azuis.

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3.3 INFLUÊNCIAS3.3 INFLUÊNCIAS

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Mia Couto afirma que a literatura moçambicana moderna Mia Couto afirma que a literatura moçambicana moderna está “muito mais fortemente ligada ao Brasil do que a está “muito mais fortemente ligada ao Brasil do que a Portugal.” Mas confessa que a primeira influência que Portugal.” Mas confessa que a primeira influência que sofreu foi a do escritor angolano Luandino Vieira... depois a sofreu foi a do escritor angolano Luandino Vieira... depois a do brasileiro Guimarães Rosa. Sofre, ainda, influências dos do brasileiro Guimarães Rosa. Sofre, ainda, influências dos brasileiros Manuel de Barros, Jorge Amado, Graciliano brasileiros Manuel de Barros, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ramos, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

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4. ALGUMAS DECLARAÇÕES DE MIA COUTO4. ALGUMAS DECLARAÇÕES DE MIA COUTO

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O que mais me dói na miséria é a ignorância que ela tem de si O que mais me dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma. Confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se mesma. Confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sono, desarmando-se do desejo de serrem outros. Existe no nada do sono, desarmando-se do desejo de serrem outros. Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes.¹essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes.¹

¹Vozes Anoitecidas. p. 19 ¹Vozes Anoitecidas. p. 19

“ “ A maneira como eu lido com a Biologia é exatamente igual à A maneira como eu lido com a Biologia é exatamente igual à maneira como lido com a Literatura. Porque me interessa o lado maneira como lido com a Literatura. Porque me interessa o lado criativo da Biologia; suscitar dúvidas, interrogações, repensar o criativo da Biologia; suscitar dúvidas, interrogações, repensar o mundo......, temos uma relação com a ciência em que não há mundo......, temos uma relação com a ciência em que não há nenhum medo de que nos digam “o nome científico já não é esse, nenhum medo de que nos digam “o nome científico já não é esse, está errado”; o que queremos é trazer para a luz algumas questões está errado”; o que queremos é trazer para a luz algumas questões em que é importante refletir, por exemplo, o uso dos recursos em que é importante refletir, por exemplo, o uso dos recursos naturais pelas pessoas e a maneira como eles são relevantes até de naturais pelas pessoas e a maneira como eles são relevantes até de um modo invisível, a um nível simbólico e religioso.um modo invisível, a um nível simbólico e religioso.

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((http://www.instituto-camoes.pt/arquivos/literatura/voomiacouto.htmlhttp://www.instituto-camoes.pt/arquivos/literatura/voomiacouto.html))

Biologia e Literatura são duas faces duma mesma folha. Biologia e Literatura são duas faces duma mesma folha. Nos contos, o gênero literário no qual se sente mais à Nos contos, o gênero literário no qual se sente mais à vontade, e nos romances, é óbvia essa vontade de dar vontade, e nos romances, é óbvia essa vontade de dar visibilidade a um mundo escondido, invisivel, como é clara a visibilidade a um mundo escondido, invisivel, como é clara a aprendizagem do escritor nos trabalhos de campo, através de aprendizagem do escritor nos trabalhos de campo, através de Moçambique, como biólogo. O último vôo do flamingo, nesse Moçambique, como biólogo. O último vôo do flamingo, nesse aspecto, não é exceção.aspecto, não é exceção.

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5. SENTIDO DA OBRA DE MIA 5. SENTIDO DA OBRA DE MIA COUTOCOUTO

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Mia Couto é considerado, hoje, um dos principais autores Mia Couto é considerado, hoje, um dos principais autores das literaturas em Língua Portuguesa. Além de sua incrível das literaturas em Língua Portuguesa. Além de sua incrível criatividade ficcional e poética, tem um trabalho criatividade ficcional e poética, tem um trabalho originalíssimo com a língua, criando palavras, modos de dizer, originalíssimo com a língua, criando palavras, modos de dizer, formas novas de construção, com o que sua linguagem formas novas de construção, com o que sua linguagem literária ganha inédita expressividade. Em tudo, porém, está literária ganha inédita expressividade. Em tudo, porém, está presente Moçambique, com suas crenças, seus problemas, presente Moçambique, com suas crenças, seus problemas, sua poesia, sua magia.sua poesia, sua magia.

Segundo ele (Mia Couto), toda a sua obra busca a Segundo ele (Mia Couto), toda a sua obra busca a identidade étnica, lingüística, cultural do povo Moçambicano. identidade étnica, lingüística, cultural do povo Moçambicano.

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((http://html.editorial-caminho.pt/show_recorte__q1area_--_3Dcatalogo__--_3D_obj_--_3D6595http://html.editorial-caminho.pt/show_recorte__q1area_--_3Dcatalogo__--_3D_obj_--_3D65953__q236__q30__q41__q5.htm3__q236__q30__q41__q5.htm))

Quanto à identidade nacional moçambicana, ele afirma:Quanto à identidade nacional moçambicana, ele afirma:

Mais importante que uma definição é, porém, questionar as Mais importante que uma definição é, porém, questionar as definições já feitas, as mistificações para uso interno e para definições já feitas, as mistificações para uso interno e para exportação. ... Todos conhecemos, no caso brasileiro, os lugares-comuns, exportação. ... Todos conhecemos, no caso brasileiro, os lugares-comuns, do samba, futebol e mulatas. No caso africano, as fórmulas giram em do samba, futebol e mulatas. No caso africano, as fórmulas giram em redor da feitiçaria, dos cheiros, da violência tribal e do erotismo próximo redor da feitiçaria, dos cheiros, da violência tribal e do erotismo próximo da natureza. Em lugar de me ocupar em construir novas definições (que da natureza. Em lugar de me ocupar em construir novas definições (que são sempre redutoras e simplistas) me dá prazer interrogar as velhas são sempre redutoras e simplistas) me dá prazer interrogar as velhas molduras, os velhos retratos... E é preciso reinjetar estórias na História molduras, os velhos retratos... E é preciso reinjetar estórias na História para a desoficializar e a tornar mais próxima e mais humana”para a desoficializar e a tornar mais próxima e mais humana”

Page 37: O ÚLTIMO VÔO DO FLAMINGO. Moçambique Beira Maputo

((http://html.editorial-caminho.pt/show_recorte__q1area_--_3Dcatalogo__--_3D_obj_--_3D6595http://html.editorial-caminho.pt/show_recorte__q1area_--_3Dcatalogo__--_3D_obj_--_3D65953__q236__q30__q41__q5.htm3__q236__q30__q41__q5.htm))

... continente africano que escapa da perspectiva do exotismo ... continente africano que escapa da perspectiva do exotismo e do folclórico.e do folclórico.

A aprendizagem nossa deveria ser que a identidade é A aprendizagem nossa deveria ser que a identidade é sempre plural e sempre mutável. Ninguém é senão aquilo que sempre plural e sempre mutável. Ninguém é senão aquilo que vai fazendo, nós somos produtos da nossa própria história, vai fazendo, nós somos produtos da nossa própria história, muito mais que o resultado de um pacote de genes.muito mais que o resultado de um pacote de genes.

A mulatização cultural é também um destino a que não A mulatização cultural é também um destino a que não poderemos fugir. O que hoje chamamos de globalização como poderemos fugir. O que hoje chamamos de globalização como tendência uniformizadora não é mais forte do que a necessidade tendência uniformizadora não é mais forte do que a necessidade de trocar, comerciar identidades e mestiçar influências.de trocar, comerciar identidades e mestiçar influências.

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(Comentário sobre o livro Terra Sonâmbula de Mia Couto, por Viegas Fernandes (Comentário sobre o livro Terra Sonâmbula de Mia Couto, por Viegas Fernandes da Costa)da Costa)

Seu engajamento é com a cultura do sudeste africano Seu engajamento é com a cultura do sudeste africano e com a divulgação da luta do povo moçambicano pela e com a divulgação da luta do povo moçambicano pela sobrevivência e na construção de uma nação. É também sobrevivência e na construção de uma nação. É também uma denúncia, como quando fala o personagem Tuahir: uma denúncia, como quando fala o personagem Tuahir: “Foi o que fez esta guerra: agora todos estamos “Foi o que fez esta guerra: agora todos estamos sozinhos, mortos e vivos. Agora já não há país.”sozinhos, mortos e vivos. Agora já não há país.”

“ – “ – O que andas a fazer com um caderno, escreves o O que andas a fazer com um caderno, escreves o quê?/ - Nem sei, pai. Escrevo conforme vou sonhando./ - quê?/ - Nem sei, pai. Escrevo conforme vou sonhando./ - E alguém vai ler isso?/ - Talvez./ - É bom assim: ensinar E alguém vai ler isso?/ - Talvez./ - É bom assim: ensinar alguém a sonhar.”alguém a sonhar.”

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Não abandono o sentido ético da escrita e a minha vida Não abandono o sentido ético da escrita e a minha vida inteira como cidadão é uma aposta para mudar algo na inteira como cidadão é uma aposta para mudar algo na ordem do mundo. Para que ele se torne mais nosso e mais ordem do mundo. Para que ele se torne mais nosso e mais mundo.mundo.

Essa é uma das intenções da minha escrita: ser janela para Essa é uma das intenções da minha escrita: ser janela para uma outra lógica.uma outra lógica.

O Último Vôo do Flamingo> - “Sou um poeta que conta estórias” – Mia Couto)O Último Vôo do Flamingo> - “Sou um poeta que conta estórias” – Mia Couto)

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( Entrevista de Mia Couto a Fábio Salém e outros )( Entrevista de Mia Couto a Fábio Salém e outros )

Tentar fazer com que esse meu lado de infância, de Tentar fazer com que esse meu lado de infância, de perceber que o mundo não está feito, esse flagrante da língua perceber que o mundo não está feito, esse flagrante da língua que está em construção, como se ela não estivesse feita, que está em construção, como se ela não estivesse feita, como se eu estivesse chegando como um ser completamente como se eu estivesse chegando como um ser completamente ingênuo, visitando a vida pela primeira vez. Mostrar ao ingênuo, visitando a vida pela primeira vez. Mostrar ao mundo, às pessoas, isso que me faz ser feliz. Depois se isso mundo, às pessoas, isso que me faz ser feliz. Depois se isso resulta em escrita ou não, já é uma coisa a se perguntar.resulta em escrita ou não, já é uma coisa a se perguntar.

... é uma palavra mais do que inventada, é uma palavra ... é uma palavra mais do que inventada, é uma palavra descoberta, como se houvesse um véu que está sendo descoberta, como se houvesse um véu que está sendo retirado.retirado.

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(http://html.editorial-caminho.pt/show_recorte__q1area_--_3Dcatalogo__--_3D_obj_--(http://html.editorial-caminho.pt/show_recorte__q1area_--_3Dcatalogo__--_3D_obj_--_3D65953__q236__q30__q41__q5.htm)_3D65953__q236__q30__q41__q5.htm)

O fato verídico pode atuar como contraponto,...O fato verídico pode atuar como contraponto,... Mas eu trato o fato verídico como se ele pudesse Mas eu trato o fato verídico como se ele pudesse

também ser da ordem do ficcional.... Uma das mais belas também ser da ordem do ficcional.... Uma das mais belas funções da escrita é o convite a transgredir fronteiras.funções da escrita é o convite a transgredir fronteiras.

Só me interessa escrever enquanto eu posso colocar-Só me interessa escrever enquanto eu posso colocar-me em causa, surpreender-me.me em causa, surpreender-me.

Mia Couto é um contador de história que exercita o olhar de Mia Couto é um contador de história que exercita o olhar de poeta sobre o mundo.poeta sobre o mundo. ... narrativa singular, com fortes traços de oralidade e ... narrativa singular, com fortes traços de oralidade e expressão poética... expressão poética...

Page 42: O ÚLTIMO VÔO DO FLAMINGO. Moçambique Beira Maputo

O próprio Mia Couto confessa:O próprio Mia Couto confessa:

Sou mais marcado pela poesia, ainda hoje, penso-me Sou mais marcado pela poesia, ainda hoje, penso-me poeta enquanto escrevo em prosa, contando história.poeta enquanto escrevo em prosa, contando história.

Page 43: O ÚLTIMO VÔO DO FLAMINGO. Moçambique Beira Maputo

6. CONJUNTO DA OBRA6. CONJUNTO DA OBRA

Page 44: O ÚLTIMO VÔO DO FLAMINGO. Moçambique Beira Maputo

• Raiz de Orvalho ( poemas) – (1983, 3 ed. Em 1999)Raiz de Orvalho ( poemas) – (1983, 3 ed. Em 1999)• Vozes Anoitecidas – (1986; 8ª ed. em 2006. Grande Prêmio da Vozes Anoitecidas – (1986; 8ª ed. em 2006. Grande Prêmio da

Ficção Narrativa em 1990) Ficção Narrativa em 1990) • Cada Homem é uma Raça - (1ª ed. da Caminho em 1990; 9ª Cada Homem é uma Raça - (1ª ed. da Caminho em 1990; 9ª

ed., 2005) ed., 2005) • Cronicando - (1988; 7ª ed. em 2003. Prêmio Nacional de Cronicando - (1988; 7ª ed. em 2003. Prêmio Nacional de

Jornalismo Aerosa Pena, em 1989) Jornalismo Aerosa Pena, em 1989) • Terra Sonâmbula (romance) - (1992; 8ª ed. em 2004. Prémio Terra Sonâmbula (romance) - (1992; 8ª ed. em 2004. Prémio

Nacional de Ficção da AEMO em 1995; considerado por um juri Nacional de Ficção da AEMO em 1995; considerado por um juri na Feira Internacional do Zimbabwe, na Feira Internacional do Zimbabwe, um dos doze melhores um dos doze melhores livros africanos do século XX)livros africanos do século XX)

• Estórias Abensonhadas - ( 1994; 7ª ed. em 2003) Estórias Abensonhadas - ( 1994; 7ª ed. em 2003) • A Varanda do Frangipani (romance - (1996; 7ª ed. em 2003)A Varanda do Frangipani (romance - (1996; 7ª ed. em 2003)• Contos do Nascer da Terra - ( 1997; 5ª ed. em 2002)Contos do Nascer da Terra - ( 1997; 5ª ed. em 2002)• Mar Me Quer - ( 1998, como contribuição para o pavilhão de Mar Me Quer - ( 1998, como contribuição para o pavilhão de

Moçambique na Exposição Mundial EXPO 98 em Lisboa; 8ª ed. Moçambique na Exposição Mundial EXPO 98 em Lisboa; 8ª ed. em 2004) em 2004)

Page 45: O ÚLTIMO VÔO DO FLAMINGO. Moçambique Beira Maputo

• Vinte e Zinco (romance) - (1999; 2ª ed. em 2004)Vinte e Zinco (romance) - (1999; 2ª ed. em 2004)• O Gato e o Escuro - com ilustrações de Danuta Woiciechowska O Gato e o Escuro - com ilustrações de Danuta Woiciechowska

(2001; 2ª ed. em 2003)(2001; 2ª ed. em 2003)• Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra - (2002; 3ª ed. Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra - (2002; 3ª ed.

em 2004; rodado em filme pelo português José Carlos Oliveira.em 2004; rodado em filme pelo português José Carlos Oliveira.• Na Berma de Nenhuma Estrada e outros contos - (1999; 3ª ed. em Na Berma de Nenhuma Estrada e outros contos - (1999; 3ª ed. em

2003) 2003) • O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO (romance) - (2000; 4ª ed. em 2004. O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO (romance) - (2000; 4ª ed. em 2004.

Prémio Mário António de Ficção – Fundação Calouste Gulbenkian, Prémio Mário António de Ficção – Fundação Calouste Gulbenkian, 2001) 2001)

• O Fio das Missangas - (2003; 4ª ed. em 2004) O Fio das Missangas - (2003; 4ª ed. em 2004) • O País do Queixa Andar - (2003) O País do Queixa Andar - (2003) • A Chuva Pasmada - com ilustrações de Danuta Wojciechowska A Chuva Pasmada - com ilustrações de Danuta Wojciechowska

(2004) (2004) • Pensatempos. Textos de Opinião - (1ª e 2ª ed. 2005) Pensatempos. Textos de Opinião - (1ª e 2ª ed. 2005) • O Outro Pé da Sereia - (2006)O Outro Pé da Sereia - (2006)


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