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R E S U M O AsintervençõesdeemergêncianaáreadaQuintaeHortadoParaíso(Elvas)permitiram

identificarumgrandepovoadodosfinaisdoIVeIIImiléniosa.C.Pretende‑secomestetra‑

balhoapresentarumaprimeiraleituraglobaldaocupação,inserindo‑anasdinâmicaslocais

eregionaisdepovoamentodoIV/IIImilénioa.C.

A B S T R A C T Theemergencyexcavationcarriedout in theareaofQuintaandHortado

Paraíso(Elvas), inordertoevaluatethedamagecausedbyconstructionwork,revealedan

assemblageofstructures(primarilythenegativesofstructures)andarchaeologicalmaterial

thatlooselybelongtotheperiodbetweentheendofthe4thandmiddleofthe3rdmillennium

BC.Thisarticlewilldiscussthesitewithinthelargernetworkofsettlementsduringthefirst

ruralsocietiesinthemiddlebasinoftheGuadianariver.

1. Identificação do sítio e primeiras intervenções

OsítiodoParaísofoiidentificadonasequênciadetrabalhosdeurbanizaçãonaáreadahortahomónima,queimplicaramasubstituiçãodoantigomurodepropriedadeporumaestruturadebetãoparaasustentaçãodeterras,tornandovisívelaolongodocorteefectuado,masdemodointermitente,estratoscommateriaispré‑históricoseestruturasnegativas.Estefacto,constatadoporAnaísaMexiaecomunicadoàExtensãodoCratodoIGESPAR,associadoàiminênciademaisacçõesdestrutivas,conduziuaodesenvolvimentodetrabalhosarqueológicoscomoobjectivodecaracterizaraocupaçãopré‑históricadosítio.

2. Enquadramento geográfico

OsítioarqueológicodoParaísolocaliza‑senoconcelhodeElvas,naactualáreadeexpansãourbanadacidadeparanascente,comasseguintescoordenadasUTM:29660582Ee4305163N,naCartaMilitar1:25000–414(Fig.1).

OpovoadoabrangeaáreadaantigaquintaehortadoParaíso,oqueacabaporsomarvárioshectares(Fig.9).Aadaptaçãodoterrenoparaestasfunçõespreconizouumprimeiromomentode

O povoado calcolítico do Paraíso (Elvas, Alto Alentejo) RUIMATAlOTO*

CATARINACOSTEIRA**

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 5–27

Rui Mataloto | Catarina Costeira O povoado calcolítico do Paraíso (Elvas, Alto Alentejo)

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assinaláveltransformaçãodatopografialocal,econsequentementenaestratigrafiapré‑histórica.Naáreadahorta,ondeostrabalhosforammaisextensosatéaomomento,atestou‑seumasignifi‑cativaalteraçãodamorfologiadoterreno,devidoàconstruçãodesocalcoseníveisdeaterro,demodoafavorecerairrigaçãodasáreasdecultivo,oqueacabouporcondicionarbastanteapercep‑çãodatopografiapré‑históricaeaconservaçãodosseuscontextos.

NaáreadaQuintadoParaíso,dooutroladodarua,asalteraçõesàtopografiaoriginalforamaindamaisprofundas,levadasaefeitoduranteasobrasdeconstrução,nosúltimosanos,deumaextensaurbanização,oqueacabouporconduziràtotaldestruição,semqualquerregisto,deamplasáreasdopovoado.

Todavia, é ainda hoje possível compreender que o povoado do Paraíso se instalava numpequenoanfiteatro,axializadoporumapequenalinhadeágua,naactualidadeapenasperceptívelpelo leito fóssil, num extenso patamar destacado (altitude 260 m) sobre as férteis planícies dabaciadorioCaia.Osrecursosnaturaisdisponíveis(abundânciadeáguaeelevadacapacidadeagrí‑coladossolosenvolventes)permitiramumaocupaçãoestáveldecomunidadeshumanas.

Estemodelodeinstalaçãoaproxima‑sebastantedoregistadoemgrandesinstalaçõesdoIIImilénioa.C.nabaciadoGuadiana,comolaPijotillaouPerdigões,ajudandoareconhecê‑locomoumdosmaistípicosparainstalaçõesdegrandedimensão.

Os estratos pré‑históricos apresentam uma altimetria bastante incerta, acompanhando, eescavando,umsubstratogeológicoigualmenteirregular.Efectivamente,terásidoofactodeestesubstratoseelevardemodosignificativofaceàaltimetriadaruaactualqueteráfacilitadoaiden‑tificaçãodopovoado,pois,escassosmetrosaoesteeestedaáreaondeprocedemosàlimpezadocortedoSectorI,osestratospré‑históricosencontravam‑seabaixodacotadaruaactual,sobváriosmetrosdeacumulaçõesrecentes.

Fig. 1 localizaçãodopovoadodoParaísonaCMP‑1:25000‑414.

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3. Trabalhos de campo e leitura estratigráfica

Asintervençõesarqueológicasrealizadasatéaomomentoforamessencialmentedeacompa‑nhamento, limpeza e desenho de cortes, sempre num contexto de emergência, não tendo sidopossívelaexecuçãoefectivadeumaescavaçãoemextensãoeprofundidadequepermitaavaliardevidamenteasequênciadeocupaçõesdetectadaseadiacroniadasmesmas.Nestesentido,todasasleiturassobreolocalnossurgem,ainda,particularmentetruncadas,sendoabsolutamentepre‑liminares.

Emtodoocaso,estas,aindaquemuitopontuaiseparcelares,permitemterjáalgumasegurançasobreagrandeáreaabarcadapelopovoadoelongasequênciaestratigráficaaindaconservada.

Ostrêssectoresondeseinterveio,naHortaeQuintadoParaíso,encontram‑sedistanciadosentre50a100m,oquenosdáumaideiamaisclaradaamplaáreaabarcadapelosvestígios(Fig.2).

3.1. Sector I

Ostrabalhosiniciaram‑senoSectorIcomo“cortedaestrada”,justamenteaquelequecondu‑ziuàidentificaçãodosítio,porserondeasocupaçõesantigasdolocalseencontravammaisclara‑mentepatentes,tendoficadoexpostasapósorecuodeumtaludeporacçãomecânica.Seleccionada

Fig. 2 Plantageraldelocalizaçãodossectoresintervencionados.

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aáreaprioritária,procedeu‑seàlimpezaeligeirorecuodeumsegmentodocortecom9mdecom‑primentopor2,30mdealtura(comumaorientaçãogenéricaE–O),seguidadaescavaçãoparcialdasunidadesdeenchimentodetrêsestruturasnegativas(fossas)demaioresdimensões(Fig.3).

Asunidadesestratigráficasidentificadasapresentam,emgeral,umamatrizcascalhentadecalcárioeumatexturaargilosa;asdecoloraçãocastanhaavermelhada,comelementosorgânicos,relacionam‑secomaocupaçãorecentedosítio,enquantoasdetonalidadecinzentaescuracaracte‑rizam,emgeral,osníveisdeocupaçãopré‑históricos,distinguindo‑sedascinzentasmaisclaras,queconstituem,principalmente,oenchimentodasestruturasnegativas(Fig.4).

Asunidadesestratigráficas [1], [17], [18]e [19], relacionadascommomentosdeocupaçãomaisrecentes,foramsumariamenteanalisadassendo,noentanto,pertinentereferirqueassuascaracterísticasasdistinguemcompletamentedasunidadespré‑históricas.

A unidade estratigráfica [2] apresenta uma grande extensão, prolongando‑se por grandepartedocorte,oquepoderáderivarmaisdadificuldadedasuasubdivisãonaverticaldoquedasuarealextensão.

Asestruturasescavadasnarocha[8],[16]e[26],dediversaentidadevisível,apresentamgene‑ricamenteumperfilemU,contendonosseusenchimentos(UE’s[6],[7],[15]e[25])abundantesmateriaiscerâmicosfragmentadoserestosdefauna.

Aanálisedestecorteestratigráficopermiteobservarasobreposiçãodeestruturasnegativas[14]e[16],eaexistênciadeníveisdeocupaçãosobreasunidadesdecolmataçãodealgumasdestas,oqueéevidentenocasodaU.E.[4],ondeumaunidadecaracterizadapelafrequênciadobarroderevestimentosobrepõe,claramente,afossa[8].Estefactopareceindicarqueestamosperanteumaáreacomalgumadiacroniadeocupação.

NasequênciadestaintervençãoconsiderouoIGESPARpertinentearealizaçãodealgumassondagens mecânicas com acompanhamento arqueológico nas áreas directas de afectação dasfuturasconstruçõesdaurbanizaçãodaHortadoParaíso,demodoadeterminaraaltimetriacon‑

aáreaprioritária,procedeu‑seàlimpezaeligeirorecuodeumsegmentodocortecom9mdecom‑primentopor2,30mdealtura(comumaorientaçãogenéricaE–O),seguidadaescavaçãoparcialdasunidadesdeenchimentodetrêsestruturasnegativas(fossas)demaioresdimensões(Fig.3).

Asunidadesestratigráficasidentificadasapresentam,emgeral,umamatrizcascalhentadecalcárioeumatexturaargilosa;asdecoloraçãocastanhaavermelhada,comelementosorgânicos,relacionam‑secomaocupaçãorecentedosítio,enquantoasdetonalidadecinzentaescuracaracte‑rizam,emgeral,osníveisdeocupaçãopré‑históricos,distinguindo‑sedascinzentasmaisclaras,queconstituem,principalmente,oenchimentodasestruturasnegativas(Fig.4).

Asunidadesestratigráficas [1], [17], [18]e [19], relacionadascommomentosdeocupaçãomaisrecentes,foramsumariamenteanalisadassendo,noentanto,pertinentereferirqueassuascaracterísticasasdistinguemcompletamentedasunidadespré‑históricas.

A unidade estratigráfica [2] apresenta uma grande extensão, prolongando‑se por grandepartedocorte,oquepoderáderivarmaisdadificuldadedasuasubdivisãonaverticaldoquedasuarealextensão.

Asestruturasescavadasnarocha[8],[16]e[26],dediversaentidadevisível,apresentamgene‑ricamenteumperfilemU,contendonosseusenchimentos(UE’s[6],[7],[15]e[25])abundantesmateriaiscerâmicosfragmentadoserestosdefauna.

Aanálisedestecorteestratigráficopermiteobservarasobreposiçãodeestruturasnegativas[14]e[16],eaexistênciadeníveisdeocupaçãosobreasunidadesdecolmataçãodealgumasdestas,oqueéevidentenocasodaU.E.[4],ondeumaunidadecaracterizadapelafrequênciadobarroderevestimentosobrepõe,claramente,afossa[8].Estefactopareceindicarqueestamosperanteumaáreacomalgumadiacroniadeocupação.

NasequênciadestaintervençãoconsiderouoIGESPARpertinentearealizaçãodealgumassondagens mecânicas com acompanhamento arqueológico nas áreas directas de afectação dasfuturasconstruçõesdaurbanizaçãodaHortadoParaíso,demodoadeterminaraaltimetriacon‑

Fig. 3 Vistageraldocortedaestrada,noSectorI.

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servadadosestratospré‑históricos.Todavia,pormotivosvários,foramrealizadasquatrosonda‑gensmecânicassemodevidoacompanhamento.

Destemodo,asegundafasedostrabalhoslimitou‑seàlimpezaeregistodosperfisdasquatrosondagensmecânicasdeperfilem“V”relativamenteaberto,comcercade10mdecomprimento,e2,5a3mdelargura(Figs.2e5).

Asunidadesestratigráficasidentificadasnoscortesdestassondagensapresentamcaracterís‑ticassemelhantesàsdescritasno“cortedaestrada”.

Asondagem1eraaqueseencontravamaisanascente,situadanaextremidademaisbaixadosegundosocalcodaHortadoParaíso,apresentandoumaestratigrafiarelativamentesimples,mar‑cadapeloarrasamentoatéàrochadebase,queseencontravaaparentementeregularizada,detodaapossívelestratigrafiapré‑histórica.Osubstratogeológicoencontrava‑seamenosde1mdasuper‑fície,sendoconstituídoessencialmenteporgabros.Identificaram‑seduasestruturasnegativas:aU.E.[30],nocortesul,apresentaumperfilemU,muitoaberto,tendonoseuenchimentomate‑riaisrecentes,oquesedeverelacionarcomaocupaçãocontemporâneadahorta(valadeimplanta‑çãodaslaranjeiras?);eaU.E.[34],nocortenorte,deperfilemUefundoaplanado,comenchimen‑toscaracterizadosporterrascinzentasclaras,algocompactas,semelhantesàsregistadasnointeriordasfossasdocortedaestrada.

Asondagem2,distantecercade20mdaanterior,distingue‑sedasrestantesporqueosubs‑tratogeológicosurgiaacercade0,20mdasuperfície,nãotendosidodetectadosquaisquerdadosdecarizarqueológiconosperfis,nemnasterrasremovidas.

Asondagem3,acercade20mdaanterior,éaqueapresentamaiorpotênciaarqueológica,nãosetendoatingidoosubstratogeológico.

Fig. 4 Corteestratigráficodaestradaerespectivamatriz.

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Aestratigrafiapré‑históricaeraantecedidaporumpotenteestratodeaterro,[35]e[41],tam‑bémcommateriaisdestacronologia,quedeverácorresponderàsobrasderegularizaçãodoterrenoparaaexecuçãodossocalcosdahorta.

Arealidade identificadaemambososcortesé substancialmentedistinta,umavezquenoladosulosestratossãoacastanhados,argilosos,compactos,comfrequentecascalhoeabundantepedra,enquantonoladonorteapresentamtonalidadesacinzentadas,maissoltas,comapresençadealgumbarrocozido;noentanto,emamboscasososestratossurgemtendencialmentehorizon‑taisealgoespessos,apresentandomaisde1mdepotênciaestratigráficaconservada.

Estaespessaestratigrafiapoderáimplicarapresençadeamplasestruturas,queimponhamacriaçãodeumabaciadedeposiçãoestratigráficaquepermitatamanhaacumulaçãodeestratos.

Fig. 5 Cortesdasondagem3doSectorI.

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Asuaorganizaçãodemodorelativamentehorizontaltornadificilmentedefensávelahipótesedeestaremapreencherumagrandeestruturanegativa,todavia,osubstratolocalépropiciadoràpre‑sençadegrandesestruturasescavadasnosolo,comofossosouamplasfossas,quepodemautorizaraformaçãodeestratosrelativamentehorizontaisnoseuinterior.

Asondagem4localiza‑senaextremidadenoroestedosocalco,a50mdedistânciadaanterior.Osestratospré‑históricospraticamentenãoforamatingidos,surgindoapenasalgunsindíciosnabasedaestratigrafiadeambososcortes,amaisde2mdeprofundidade.Estarealidadedeveresul‑tarprincipalmentedaacção,contemporânea,deaterraçamentocomvistaàcriaçãodosocalcodahortaedosistemadedrenagemdeáguaparaarega.

Este conjunto de sondagens reafirmou o elevado grau de imprevisibilidade do comporta‑mento estratigráfico e arqueológico das realidades pré‑históricas, devido à enorme modelaçãotopográfica que a construção da horta implicou, o que dificulta uma leitura mais precisa dolocal.

3.2. Sector II

Numsegundomomentohouvequeintervirnolote4daUrbanizaçãodoParaíso,noladoopostodaruadahortahomónima,áreaquedesignámosporSectorII.Umavezmais,jáhaviamsidorealizadosamplosmovimentosdeterra,comvistaàregularizaçãodeumnovoloteparaurba‑nizar.Nestafase,paraalémdalimpezaeregistodoscortesresultantesdasacçõesdedestruição,realizaram‑se,porsugestãodoIGESPARduassondagensmecânicas,numaáreacentral,paralelasàsfachadasdosedifícios,comumaorientaçãoE–W,ecercade8mdeextensãopor1mdelargura,comvistaàconfirmaçãodapresençadeestratigrafiaconservada.

Designou‑sedecorte1aáreasituadanocantomaisaestedolote,justamenteamaisafectadapelamovimentaçãodeterras.Nosladosnorteeestedestecorteregistou‑seapresençadeunidadesestratigráficasdetonalidadesacinzentadasclaraseamareladas,arenosas,comalgunsvestígiosdebarrocozido,U.E.[1002],sobunidadesmaisescuraseargilosas,eduasestruturasnegativasdeperfilem“U”muitoaberto,[1003]e[1014],quepodemestarrelacionadas.

Asvalasdesondagemmecânicaforamabertasaleatoriamente,paralelasaoladonortedolote,abarcandotodaaextensãodaáreaconservada.Asuaaberturafoideterminadapelaelevadaincer‑tezaquantoàexistênciadeestratigrafiaconservada,najustamedidaemquegrandepartedaáreaseencontravacobertaporumaterrabastanteargilosa,muitoavermelhada‑escura,queemoutrasáreasjásehaviareveladoestéril.

Asuaorganizaçãodemodorelativamentehorizontaltornadificilmentedefensávelahipótesedeestaremapreencherumagrandeestruturanegativa,todavia,osubstratolocalépropiciadoràpre‑sençadegrandesestruturasescavadasnosolo,comofossosouamplasfossas,quepodemautorizaraformaçãodeestratosrelativamentehorizontaisnoseuinterior.

Asondagem4localiza‑senaextremidadenoroestedosocalco,a50mdedistânciadaanterior.Osestratospré‑históricospraticamentenãoforamatingidos,surgindoapenasalgunsindíciosnabasedaestratigrafiadeambososcortes,amaisde2mdeprofundidade.Estarealidadedeveresul‑tarprincipalmentedaacção,contemporânea,deaterraçamentocomvistaàcriaçãodosocalcodahortaedosistemadedrenagemdeáguaparaarega.

Este conjunto de sondagens reafirmou o elevado grau de imprevisibilidade do comporta‑mento estratigráfico e arqueológico das realidades pré‑históricas, devido à enorme modelaçãotopográfica que a construção da horta implicou, o que dificulta uma leitura mais precisa dolocal.

3.2. Sector II

Numsegundomomentohouvequeintervirnolote4daUrbanizaçãodoParaíso,noladoopostodaruadahortahomónima,áreaquedesignámosporSectorII.Umavezmais,jáhaviamsidorealizadosamplosmovimentosdeterra,comvistaàregularizaçãodeumnovoloteparaurba‑nizar.Nestafase,paraalémdalimpezaeregistodoscortesresultantesdasacçõesdedestruição,realizaram‑se,porsugestãodoIGESPARduassondagensmecânicas,numaáreacentral,paralelasàsfachadasdosedifícios,comumaorientaçãoE–W,ecercade8mdeextensãopor1mdelargura,comvistaàconfirmaçãodapresençadeestratigrafiaconservada.

Designou‑sedecorte1aáreasituadanocantomaisaestedolote,justamenteamaisafectadapelamovimentaçãodeterras.Nosladosnorteeestedestecorteregistou‑seapresençadeunidadesestratigráficasdetonalidadesacinzentadasclaraseamareladas,arenosas,comalgunsvestígiosdebarrocozido,U.E.[1002],sobunidadesmaisescuraseargilosas,eduasestruturasnegativasdeperfilem“U”muitoaberto,[1003]e[1014],quepodemestarrelacionadas.

Asvalasdesondagemmecânicaforamabertasaleatoriamente,paralelasaoladonortedolote,abarcandotodaaextensãodaáreaconservada.Asuaaberturafoideterminadapelaelevadaincer‑tezaquantoàexistênciadeestratigrafiaconservada,najustamedidaemquegrandepartedaáreaseencontravacobertaporumaterrabastanteargilosa,muitoavermelhada‑escura,queemoutrasáreasjásehaviareveladoestéril.

Fig. 6 CortenortedaVala1,noSectorII.

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Nasondagem1,asituadamaisanortenolote,optou‑seapenaspelaanálisedocortenorte,tendo‑sedocumentadoestratigrafiaarqueológicaemtodaasuaextensão.Estaapresentavaunida‑desacinzentadas,algoarenosas,quepreenchiamduasestruturasnegativas,[1023],[1027],escava‑dasnumsedimentoarenoso,algosoltoeamarelado,compoucascaracterísticasarqueológicas,que no entanto sobreponha outras unidades com vestígios de barro cozido e artefactos, o quecomplexifica a compreensão das realidades documentadas (Fig 6). Na extremidade oeste destecorte,identificou‑seumconjuntodepedrasdecalcáriodepequenaemédiadimensãoaparente‑menteestruturadas,[1013],queseparecemrelacionarcomoutroconjuntopétreo,[1015],identi‑ficadonaVala2.

Ostrabalhosnasondagem2doSectorII,paralelaàanterioracercade4mdedistância,con‑sistiramnalimpezadocortesuledoplanodebasedasondagem,umavezqueseidentificouumaestruturadepedrasdecalcário,irregulares,depequenoemédiocalibre,[1015](Fig.7),quepareciadesenvolver‑se de modo oblíquo ao corte da sondagem. Esta apresentava‑se bastante espessa,podendo,eventualmente,estarrelacionada,comojáseafirmou,comoconjuntodepedrasdetec‑tadasnasondagem1,[1013].Nocortesul,identificaram‑seunidadesarqueológicasemqueapre‑sençadecerâmicaestavaclaramentedocumentada,registando‑senoseuladonascenteumcon‑juntodepedrasdepequenaemédiadimensão,queparecemconstituirumreforçodaestrutura[1015].

Ocorte2situava‑sejustamentenaextremidadesuldaáreaafectada,pretendendo‑secomasualimpezaavaliaraconservaçãodaestratigrafiaarqueológicanolimitesuldolote,tendo‑sedefi‑nidoparaanáliseapenasumsegmentocom3mdelargura,ondeesteseapresentavamaisalto.Nestamesmaáreasurgiamàsuperfície,eparcialmentenocorte,umconjuntodepedrasdecalcá‑rio de pequeno e médio calibre que, apesar de se encontrarem a uma cota mais alta, pareciamrelacionar‑secomaestrutura[1015],identificadanaVala2.

Apresençadestapossívelestruturaconduziuàdecisãoderealizaçãodeumasondagemarque‑ológicadeavaliaçãodamesma,naáreaexteriortraseiradolote,demodoaconstatar‑seasuapossívelcontinuidade,todavia,amesmanãofoiaindalevadaaefeito.Noentanto,osresultadosdestainter‑vençãoconduziramàalteraçãodosplanosdaobradolote4,quepreviamaconstruçãorebaixadadeumacave,decidindo‑seasubidadacotadamesmaparaoníveldaestratigrafiaconservada.

EstabreveintervençãonosectorIIpermitiudocumentarapresençadeocupaçãopré‑históricanestaárea,confirmandoosindíciosdocumentadosàsuperfícieenoscortesanteriormenteanali‑sados.

Fig. 7 Plantadaestrutura[1015],daVala2doSectorII.

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3.3. Sector III

Estesectorcorrespondeaolote1daUrbanizaçãodoParaísoelocaliza‑seescassasdezenasdemetrosanascentedolote4(SectorII).Trata‑sedeumlotequadrangular,comcercade320m2,ondeestavaprevistaaregularizaçãodoterrenoparaconstruçãoeaberturadasvalasperimetraisdeembasamentoedassapatasdospilares.Umavezmais,efectuaram‑seapenastrabalhosdeacompa‑nhamento.

Orebaixo,apenasparcial,doterrenoemcercade0,5mnãorevelouapresençadeestratigrafiaconservada, resultandoapenasdaacumulaçãodedetritosdasobrasadjacentes, envolvidosnosquaissurgiamclaramentemateriaispré‑históricos.Naaberturadavalaperimetraleseissapatas,comapenas0,3mdeprofundidade,continuouaregistar‑seapresençadeestratosdeterraaparen‑temente remobilizada anteriormente, com abundantes materiais pré‑históricos, acompanhadosporpresençasrecentes,maisescassas.Cremosquesepoderáterdetectadoaredeposiçãodeterrasremobilizadasaquandodaaberturadascavesdosterrenosadjacentes,oumesmonosespaçosver‑desenvolventes,deondeprovinhamtubagensaparentementeaindaactivas(Fig8).Noentanto,recolheu‑seumimportanteconjuntoartefactualclaramentedoIIImilénioa.C.,tendo‑seatingidopontualmenteestratigrafiapreservadanumaáreamuitorestritadopoçodoelevador.Julgoaindarelevanteassinalarqueboapartedesteloteparecerestaradjacente,oumesmodentrodoleitofóssildalinhadeáguaquecentralizavaosítio,factoquedeveexplicitaroimediatobrotardeáguanopoçodoelevador,commenosde1mdeprofundidade.

Fig. 8 VistadasvalasdoacompanhamentodoSectorIII;emprimeiroplano,elementosintrusivosquedenunciamorevolvimentodaestratigrafiapré‑histórica.

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3.4. O Paraíso: leituras de conjunto

Na realidade, pode‑se hoje afirmar que, apesar das alterações profundas da topografia daantigaHortaeQuintadoParaíso,aindaseencontraabundanteestratigrafiapré‑históricapreser‑vadaemambasasáreas,sendoabsolutamenteurgentepromoveraprotecçãoesalvaguardadaárearestantedestegrandepovoado1.

Atendendoaoestadodeafectaçãoaparentedopovoado,julgamospossívelsubdividi‑loemtrêsgrandesáreas(Fig9).

Aárea1éconstituídaporumasuavependenteanortedahorta,ondesedetectaramàsuper‑fíciefrequentesmateriaispré‑históricos,quecomeçavamararearjuntoaotopo;aquiopovoadodeveráapresentar‑sebastantemaisbemconservado,najustamedidaemquenãoestãopresentesacçõesrecentesdeafectação,correspondendo,aindahoje,aumcampodecultivoextensivo.

Aárea2,correspondenteàhorta,situadanumpontobaixodaencosta,apresentaumgraudeconservaçãobastantediverso,estandoemalgumasáreastotalmentedestruído,enquantonoutrasse conserva sob espessas camadas de aterro, resultante do aterraçamento para a construção dahorta.Impendesobreestazonahojeumaurbanizaçãodemuitobaixadensidadedeconstrução.

Aárea3éamaiscomplexadeavaliar,eaquelaondeastruncagensactuaissãomaisagressivasepatentes.EstacorrespondeàUrbanizaçãodaQuintadoParaíso,ondeaconstruçãodassuasinfra‑‑estruturaselotesimplicouumafortíssimamodelaçãonoterreno.Estaáreadeveriacorresponderaumapendenteligeiramentemaisacentuada,separadadoespaçodahortaporumalinhadeágua,subindooterrenoparaoesteesul,configurandoumanfiteatronatural.

Aedificaçãodaurbanizaçãoimplicouodesmantelamentodatopografiaexistenteemgrandepartedaárea, conservando‑seaestratigrafiapré‑históricanaszonasmaisbaixas,ounoscortes

Fig. 9 ÁreadedistribuiçãodeachadosdopovoadodoParaíso.1‑áreaNortedaHorta2‑HortadoParaíso3‑UrbanizaçãodoParaíso.

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resultantesdaregularizaçãodoterrenoparaconstrução,comosepodeverificarnasextremidadesoeste e sul da zona de dispersão de materiais, onde apenas pequenas bolsas ou estratos poucoespessoscontinuamaindaaembalarmateriaisdessacronologia.Nalgumasáreasaestratigrafiapré‑históricafoitotalmenteobliterada,rebaixando‑seváriosmetrosnarocha,enquantonoutrassedevemterefectuadofortesaterros.

Apesardaescassezedaqualidadedosdadosdisponíveis,cremospossívelasseverarqueosítioaindaapresenta,mesmodentrodosespaçosurbanizados,extensasáreasondeaestratigrafiapré‑‑históricaseconserva,talcomoestruturas,quernegativasqueredificadas,quenospoderãoforne‑cerrelevantesinformaçõessobreolocal.

Osdadosrecolhidosnosdiversossectorespermitiramconstataraexistênciadeumpovoadobastanteextenso,nocontextoaltoalentejano,quepareceinstalar‑se,logodeorigem,deambososladosdeumapequenalinhadeágua.Comoveremos,aspresençasmateriaisnosváriossectoresnãoparecemdenunciarmovimentosassinaláveisdeexpansão/contracçãodaocupação,aomenoscomosdadosdisponíveis.

4. Breves considerações sobre o conjunto artefactual

Osmateriaisanalisadosresultamderecolhasdesuperfícieedalimpezadosperfisdasváriasintervenções, sendo enquadrados estratigraficamente em escassas situações, nomeadamente osconjuntosprovenientesdasunidadesdeenchimentodasestruturasnegativaslimpasnocortedoSectorI.

Alargamaioriadosrecipientescerâmicosidentificadosapresentaformascombasenaesfera,taçasevasos,bastantecaracterísticasdosfinaisdoIVeIIImilénioa.C.dosudoestepeninsular,talcomosetemvindoatipificardesdehámuito(Silva&Soares,1976–1977;Gonçalves,1989;Calado,2001).Asformasespessadassurgemnumaenormediversidadedesubtipos,tantotaçasepratosdebordo “almendrado”, como taças de bordo espessado e aplanado; as taças carenadas, ainda quepresentes,sãorelativamenteescassas.Oconjuntocerâmicorecolhidoem[6],contidapelaestruturanegativa[8],apesardeescasso,nãodeixadeserinteressante,aoestarcompostoporváriasformassimples,hemisféricas,mastambémportaçascarenadas,estandoausentesasformasespessadas;derealçaraindaapresençadeumcomponentedetear“crescente”.Estepequenoconjuntocerâmico

Fig. 10 VistageraldopovoadodoParaíso.Emprimeiroplano,áreaaindanãourbanizadaadjacenteàHorta.Aofundo,UrbanizaçãodoParaíso,queafectouprofundamenteopovoado.

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parececonferiralgumaantiguidadeaestemomento de ocupação, associando‑se,eventualmente, ao início da ocupação dolocal,naviragemdomilénio.Assuperfíciesexternasdosrecipientessão,emgeral,ali‑sadaseadecoraçãoescassa,tendo‑seaindarecolhido ao menos dois exemplares degrandesformasabertas,umataçacarenadae um prato de bordo espessado, comengobevermelho,bastanteespessoepoucoaderente(Figs.11,7e14,4).Oengobardaspeças parece caracterizar um momentorelativamenteantigodentrodoIIImilénioa.C.,integrávelgenericamentenumCalco‑líticoInicial,oquesecoadunabemcomasuapresençanumataçacarenadarecolhidana [6], uma das mais antigas U.E.’s doCortedaestrada,noSectorI.

Como já se afirmou, a decoraçãocerâmica é escassa, tendo‑se detectadoapenasumrecipientecomdecoraçãoincisacomposta por triângulos abertos preen‑chidoscomponteadoimpressorevestidosapastabranca(Fig.14,3).Estagramáticadecorativa, por vezes também designadade“simbólica”,éumadasmaisfrequentesnoscontextosdoCalcolíticodoSudoeste,estando extensamente documentada empovoados como o São Pedro (Redondo)(Mataloto, Estrela & Alves, 2007), onde é o motivo mais representado, tal como nos Perdigões(lago&alii,1998,p.86),ondesereconheceraminúmerasvariantes.Paraalémdesta,surgeapenasdecoraçãonumpequenofragmentodeumcomponentedetear,dotipoplacadeduasperfuraçõescentradas,queapresentacomomotivoumatriplalinhaquebrada(Fig.14,2),integrando‑senasgramáticasdecorativasdetipogeométrico,aquais,aindaqueescassasnoterritórioaltoalente‑jano,têmvindoaserregistadas,emquantidadesdiminutas,emdiversoslocais,casodoMontedeHenriqueSoeiro(Mora)(Rocha,1999,p.189),Pombal(Monforte)(Boaventura,2001,p.183),SãoPedro(Redondo)ouPerdigões(ReguengosdeMonsaraz)(lago&alii,1998,p.102).

Oscomponentesdetearassumemumapresençarelevantenesteconjunto,surgindonasduasformashabituais—placasecrescentes—dediversostipos:placasrectangularesdeduasperfura‑ções centradas, placas rectangulares de quatro perfurações de arestas vincadas e arredondadas;crescentesdesecçãoovalada,sub‑rectangularecircular.Éassimclaroqueestamosperanteumconjuntomorfologicamentediversificado,semelhanteaoqueocorrenoutrossítiosdesteâmbitoregional.

Osmateriaislíticos,principalmenteapedrapolida,encontram‑semaisbemdocumentadosnoSectorII,tendosidorecolhidosmachadoseenxós,emanfibolito,desecçãopoligonalepoli‑mentototaleparcial,consoanteoscasos.

Fig. 11 ConjuntocerâmicodoSectorIdoParaíso.1,5a8–UE[6];Superfície2a4–superfície.

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NoSectorI,nocortedaestradae na sondagem 3, identificaram‑seconjuntosdebarrocozidocomevi‑dentes marcas em negativo doentramadovegetaldesuporte,oquedenuncia a presença de estruturasdecarizhabitacional.

À superfície, nas imediaçõesdasondagem1doSectorI,recolheu‑‑seumfragmentodeumídolocilín‑drico e um pequeno recipiente emcalcário (Fig12),artefactosvotivosrelacionadoscomomundomágico‑‑simbólicodapenínsuladelisboa(Gonçalves,2004),masqueseencontramigualmentedocumen‑tadosnocontextodospovoadosalto‑alentejanos,casodosPerdigões(Valera&alii,2000,p.95),MonteNovodosAlbardeiros(Gonçalves,1988–1989,p.57)ouPombal(Boaventura,2001),estandotambémregistadosemterritórioextremenho(EnríquezNavascués,1990).Emgeral,estesartefac‑

tosvotivossão tidoscomocaracterísti‑cos da primeira metade do III milé‑nio a.C., ainda que se prolonguem cla‑ramente pela segunda, enunciando achegadadenovoscontextossimbólicos(Gonçalves,2004,p.98).Poroutrolado,asuapresençapodesugeriraexistênciade uma estrutura funerária na área,aindaquenãosejamdesconhecidosemáreashabitacionais.

Peranteaausênciadeamploscon‑juntos artefactuais devidamente estratigrafados, é‑nos particularmente com‑plexo tecer considerandos mais alarga‑dos, em particular sobre os ritmos deocupaçãodopovoado.

Todavia,julgamosconvenientereal‑çarquenaslimpezasdasfossasdoSec‑torI,nocortedaestrada,asformascare‑nadas foram bem documentadas, porvezesmesmosemapresençadeformasespessadas,quesurgiamcomfrequêncianosestratossuperiores;poroutrolado,noSectorII,apesardasrecolhassignifi‑cativas, dada a destruição dos estratosarqueológicos, não foram documenta‑das formas carenadas, sendo raras noconjunto de cerâmicas do Sector III.Estesfactospoderãorevestir‑sedealgum

Fig. 12 ArtefactosvotivosdecalcáriorecolhidosàsuperfícienoSectorI.

Fig. 13 ConjuntoartefactualrecolhidonoSectorIIdoParaíso.

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contornocronológico,enunciandoprocessosdecrescimentoetransformaçãointernos,jáidentifi‑cadosemoutroslocaisdegrandedimensão,comoSanBlas(Hurtado,2004),algunsquilómetrosmaisasul.

SeaocupaçãoaindadentrodoIVmilénioa.C.é,apenas,comoseviu,defensável,certoparecequeopovoadoestariaemplenaactividadenosiníciosdoIIImilénioa.C.,momentoondesepode‑ria integrar a maior parte do conjunto artefactual, tanto as formas carenadas como os bordosespessadoslargos,masigualmentecurtos,apardascerâmicascomengobevermelhoeosdiversoscomponentesdetearplacarecolhidos.

Aausênciadecerâmicascampaniformesdeixa‑nossemdadosparaofinaldopovoado,quepoderánuncaterultrapassadoosmeadosdoIIImilénioa.C.

Assim,noessencial,pode‑seafirmarqueopovoadodoParaísosedeverá terdesenvolvidoprincipalmentedentrodaprimeirametadedoIIImilénioa.C.,sendopossívelquetenhaconhecidooarranquedaocupaçãonosfinaisdomilénioanterior.

Fig. 14 ConjuntocerâmicorecolhidonoSectorIIIdoParaíso.

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5. As dinâmicas de povoamento na envolvente do Paraíso, e mais além …

AregiãodeElvas,pelasuaparticularlocalizaçãonocentrodeumextensocorredornaturaldeligaçãoentrea fozdoTejoeas“Vegas”doGuadianaMédio,éessencialmenteumterritóriodepassagemefronteira,quelheestimulaariquezacultural.

Poroutrolado,odomíniodeférteissoloseabundanteágua,tornam‑nanumespaçoprivile‑giadodeassentamentoparaascomunidadeshumanasatravésdostempos.

OpovoadodoParaísoencontra‑senocentrodeumadasredesdepovoamentodoIV/IIImilé‑nioa.C.maisextensamenteescavadanosúltimos30anos(Fig.15),semque,todavia,issosetenhareflectidonumextensopanoramadepublicações.

Paranorte,nasimediaçõesdeCampoMaior,conhecem‑sedoispovoadosgenericamenteseuscontemporâneos,CabeçodoCubo(Oliveira&Dias,1982)eSantaVitória(Dias,1996),escavadosemváriascampanhas,masinfelizmentepoucoounadapublicados.

Fig. 15 PovoamentodoIV/IIImilénioa.C.naregiãodeElvas:1‑SantaVitória;2‑CabeçodoCubo;3‑Fontalva;4‑CabeçodoTorrão;5‑Quintadaslongas;6‑SantaEngracia;7‑Atalaião;8‑SanCristóbal;9‑Alcazaba;10‑Ellobo;11‑Terrugem;12‑GranjadeCéspedes;13‑Rêgo;14‑Aboboreira;15‑Famão;16‑CastelodaAfeiteira;17‑Juromenha1;18‑MalhadadasMimosas.

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Emambososcasosconhecem‑senotíciasdapresençadeestruturasnegativas,principalmentedotiposilooufossas,talcomoasdocumentadasnoParaíso.NocasodeSantaVitória,conhece‑seumpoucomelhorourbanismoeasestruturascomunitárias,comapresençadefossosdelimitado‑resdaáreaocupada,nointeriordaqualsedetectaramváriasfossas,algumas,porvezes,degrandedimensão. Este povoado é, certamente, o mais extensamente escavado e o que melhor permiteaproximar‑nosàestruturaçãodoespaçohabitado;todavia,aescassezdeinformaçãodisponível,paraalémdeinteressantesinfografiasdisponíveisnolocal,deixapoucamargemdeanáliseparaumsítiodeextremaimportância.

OpovoadodeSantaVitóriaeradotadoaomenosdeduaslinhasdefossosperimetraisserpen‑teantes,queabarcamumaáreasuperioraos0,5ha(Fig.16,6),mascujaocupaçãopareceexcederosmesmos, implantando‑senumcerrodestacado, comboadefensibilidadeespecialmenteparanascente.Aocupaçãodetectadaparececentrar‑sedentrodaprimeirametadedoIIImilénioa.C.,aindaquesetenhamdocumentadocomclarezaduasfasesdeocupação,umadotadadefossoseoutracomestesjácolmatados(Dias,1996).

DoCabeçodoCubo,paraalémdanotíciadasuaidentificação,poucoseconhece,ficandoasensaçãodepodermosestarperanteumsítiodeexcepcionalinteresseseatendermosàextraordi‑náriapeçapublicadacomoprovenientedolocal(Gonçalves,1989,p.455).Julgorelevanteassinalarqueestesítioseencontraimediatamenteanascentedoanterior,numaáreamaisbaixa.Osescassosdados disponíveis parecem apontar para uma ocupação principalmente situada nos finais doIVmilénioa.C.,aindaquepossateracompanhadoaviragemparaomilénioseguinte.

ligeiramentemaisaoestedossítiosanteriores localiza‑seoCabeçodoTorrão,escavadoepublicadohárelativamentepoucosanos(lago&Albergaria,2001).Estecorrespondeaumaocu‑paçãodotadadeumfossoperimetral,quepareceabarcarumaáreaemtornodo0,5ha,aindaqueoespaçoocupado,atendendoàpresençadefossasdeperfilem“U”efuncionalidadediversa,den‑tro e fora da área delimitada por aquele, possa ter sido efectivamente superior. Esta ocupação,atendendoaoconjuntoartefactual,desenrolou‑sealguresentreos finaisdoIVmilénioa.C.eaviragemparaoseguinte(lago&Albergaria,2001,p.57).

ligeiramente mais a norte, no concelho de Arronches, situa‑se o povoado dos Moreiros,recentementedadoaconhecer(Boaventura,2006)equeparececorresponder,umavezmais,aumdestespequenospovoadosdotadodefossos,instaladosobreligeiraelevação,alguresnatransiçãoentreoIVeIIImilénioa.C.

Maisasul,eemáreaimediataaopovoadodoCabeçodoTorrão,situa‑seoclássicopovoadodeFontalva,dadoaconhecerporA.doPaço,O.daVeigaFerreiraeA.Viana(1957)edoqualpoucosesabe,paraalémdesetratardeumaocupaçãogenericamenteenquadrávelnoIIImilé‑nioa.C.IgualmentedalabutadeAbelVianaecolaboradores,tomámosconhecimentodopo‑voadodoAtalaião(AtalaiadosSapateiros),situadosescassosquilómetrosaoestedeElvas,emdestacadaelevação(Viana&Deus,1955);umavezmais,pelasimagensdisponíveis,poderemosassinalar que se trata de um povoado do III milénio a.C., genericamente contemporâneo doParaíso.

Continuando pouco mais de uma dezena de quilómetros para sudoeste, por entre outrasocupaçõesdemenorentidade,pode‑sereferiroCastelodaAfeiteira,jánoconcelhodeVilaViçosa,tratando‑se de uma ocupação instalada sobre destacada elevação, onde se evidenciam potentestaludesperimetrais,quedeverãoreflectirapresençadeimportantesestruturasdefortificação,queparecemdelimitarumaáreapróximaa1ha.Apardeste,identificadorecentemente(Calado,Mata‑loto&Rocha,empreparação),sãoconhecidosdehámuitodoisoutrospovoados,FamãoeAbobo‑reira(Arnaud,1971),oúltimodosquaiscertamentefortificado.

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Fig. 16 PlantasealçadosdeváriospovoadosdaenvolventedoParaíso:1‑GranjaCéspedes(seg.Hurtado,2008);2‑Ellobo(seg.Hurtado,2008)3‑Juromenha1(seg.Calado&Rocha,2007);4‑MalhadasdasMimosas(aescuro,estruturaspré‑‑históricas;adaptadodeCalado,Mataloto&Rocha,2007);5‑ÁguasFrias(adaptadodeCalado,2004);6‑SantaVitória(adaptadodepainelinformativodoIPPAR).

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JuntodafozdaRibeiradeMures,emáreaplanaedeférteissolosaluviais,escavou‑sehácercadeumadécadaopovoadodeJuromenha1,quedeverácorresponderaextensaocupaçãodotadadeumfossoserpenteante(Calado&Rocha,2007)(Fig16,3).Oconjuntoartefactualaírecolhidoédominadoporformasesféricas,hemisféricasecarenadas,lisas,comescassaindústrialíticaeausên‑ciadecomponentesdetear.

DestepovoadodeJuromenha1dispomosdeduasdatasinéditas2,obtidassobrefaunareco‑lhidanointeriordofosso,emníveismédiosdeenchimento.Estas,provenientesdedistintasson‑dagensapresentamintervalosestatisticamenteindiferenciáveis:3370–3100calBCadoissigma.Destemodo,situamcomclarezaoprocessodeenchimento/abandonodofossonummomentoanterioraosfinaisdoIVmilénioa.C.,alguresnosiníciosdoúltimoquartel.Estemomentodeveráser imediatamente anterior ao início da ocupação do sítio do Paraíso, indiciando já, eventual‑mente, um processo de profunda remodelação do povoamento que se documenta na regiãodeElvas,mastambémnorestanteterritórioalentejano,alguresnatransiçãodoIVparaoIIImilé‑nioa.C.

Algo mais a sul, mas igualmente na foz de uma importante ribeira, neste caso a Asseca,escavou‑seumoutrodestespovoados,aMalhadadasMimosas(Calado,2002),dedimensõesapa‑rentementemaismodestas,que,apósumaprimeirafasedotadodeumpequenofossodeperfilemVeplantaaparentementeserpenteante,conheceumaoutraocupaçãoaberta,ondeaqueleestájácolmatado,quesedeveráassociaràsprimeirascentúriasdoIIImilénio,atendendoàpresençadeformasespessadasecomponentesdetear‑placa(Fig16,4).

Resta‑nosaindaassinalar,algomaisafastadodaregiãodeElvas,opovoadodefossosdasÁguasFrias(Alandroal),juntodaRibeiradolucefécit(Calado&Rocha,2007)(Fig16,5).Estepovoado,extensamente escavado, e que apresenta uma complexa arquitectura dominada por duas linhasconcêntricasdefossosserpenteantes,parecetersidoocupadoprincipalmentedentrodasegundametadedoIVmilénioa.C.,sendoabandonadoalguresnaviragemparaomilénioseguinte.

Jáforadoterritórionacional,masabsolutamentefronteiraaoParaíso,conhece‑seumarededeinstalaçõesdosfinaisdoIVeiníciosdoIIImilénioa.C.nasmargensdoGuadiana,naenvolventedacidadedeBadajoz.SãoconhecidosospovoadosdeSantaEngracia(Celestino,1989),juntodafozdoGévora,Ellobo(Molina,1980;Hurtado,2008)(Fig.16,2),namargemesquerdadoGua‑diana,eGranjadeCéspedes(Celestino,1989;Hurtado,2008)(Fig.16,1),nasimediaçõesdafozdoCaia,estandotodoselesimplantadosemáreasaplanadasjuntodeférteissolosagrícolas.Paraalémdestespovoadosemplanície,conhecem‑seinstalaçõesdealturacomoospovoadosdelaAlcazaba(Celestino,1989),naalcáçovadeBadajozeCerrodeSanCristóbal,fronteiroaoanterior(Celes‑tino,1989).OstrabalhosdesenvolvidosnospovoadosdeElloboeGranjadeCéspedespermitiramdocumentarapresençadefossoseváriasfossas(Molina,1980).Aindaqueostrabalhosdeescava‑ção tivessem sido relativamente circunscritos, é claramente perceptível que estes deveriam serpovoadosdepequenaemédiaextensão,entremeioe1ha(EnríquezNavascués,1990).

Emtermoscronológicos,parecemestruturar‑sediacronicamente,aindaquenemsempresejaclaraasequência.SantaEngraciacrê‑seser,aparentemente,omaisantigo,comumapresençacerâ‑micaclaramentedominadapelastaçascarenadas(Celestino,1989,p.294),noentanto,nopovoa‑dovizinhodeEllobo,estasassumemigualmenteumapresençasignificativa,aindaqueaexistên‑ciadeformasespessadassejaclaramentemaisnotada(Molina,1980,p.104).Assim,estespovoadospoderãoaindatersidoparcialmentecontemporâneosou,comoodeixaentreveraconvivênciadetaçascarenadasepratosdebordoespessadodesdeabasedaestratigrafiadeEllobo,podemter‑sesucedidodeimediatonotempo.Todavia,esteúltimo,atendendoaoseuconjuntodemateriais,parecenãoseprolongarmuitoalémdaviragemdomilénio,sendoaparentementesucedidopelo

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povoadodaGranjadeCéspedes,quedeverácentrarasuaocupaçãodentrodaprimeirametadedoIIImilénioa.C.(Hurtado,2008,p.186).OsrestantespovoadosdelaAlcazabaeSanCristóbalsãomaiscomplexosdesituarcronologicamente,aindaqueoprimeiropareçaterumasequênciaqueseprolongaentreosfinaisdoIVeiníciosdoIIImilénioa.C.,enquantoesteúltimoseparecesituarjánosfinaisdestemilénio(Celestino,1989,p.322).

Estaleituramuitogeralpermite‑nosobservaraenormedensidadedesítiosdealgumaenti‑dadesumariamenteestudadosnosarredoresdeElvas,ondeselocalizaopovoadodoParaíso.

Narealidade, cremosquesepodeclaramenteobservaraefectivacomplexidadediacrónicadestasocupaçõesqueparecemestruturarasmalhasdepovoamentoentreasegundametadedoIVmilénioa.C.eaprimeirametadedoIIIa.C.

Esteterásidoummomentodeintensatransformaçãoeadaptaçãodoterritórioedapaisa‑gemalentejanaeextremenha,correspondendoefectivamenteaoarranquedeumaintensaprodu‑çãoagrícola,quesetraduziunumenormeprocessodemodelaçãodapaisagem.

AsdinâmicasdepovoamentoidentificadasnaregiãodeElvasparecemacompanharasgran‑destendênciasregistadasparaoterritórioalto‑alentejano,asquaistentaremosagoracaracterizar.

AsegundametadedoIVmilénioa.C.éprincipalmentemarcadaporinstalaçõesdepequenasemédiasdimensões(1–3ha),geralmentedotadasdeumaoumaislinhasdefossos,usualmenteserpenteantes,instaladasjuntodelinhasdeágua,emáreasaplanadas,adjacentesaférteissolosagrícolas,constituindoJuromenha1,localizadoapoucomaisde10kmdoParaíso,efectivamente,umdosexemplosmaisemblemáticosdestemodelodepovoamento,apardeoutrosjácitadosdeMalhadadasMimosas(Alandroal)(Calado,2000),ÁguasFrias(Alandroal)(Calado&Rocha,2007,p.35)oudaPontedaAzambuja(Évora)(Rodrigues,2008).

Osfossosserpenteantesdetectadosnesteslocaisparecemanteciparo“design”dasestruturasdefortificaçãoqueiremosconhecermaistarde.CremosqueestefactoficabempatentenaplantadopovoadodasÁguasFrias(Calado,2004;Calado&Rocha,2007),ondeoalargamentodosfossosnas curvas nos transmite uma impressionante imagem das fortificações que conheceremos noIIImilénioa.C.Restaacrescentarquesemelhantemodeloarquitectónicoiremosencontrarnopovo‑adodeSantaVitória(Dias,1996),jáclaramenteintegrávelnomilénioseguinte.

Apressãogeradasobreoterritório,eventualmenteligadaaumaimportanteexpansãodemo‑gráficaapartirdemeadosdoIVmilénioa.C.,farásurgirosprimeirosindíciosdetensãoterritorial,traduzidosnapresençadeestruturasdedelimitação,oscitadosfossos,quedeveriamestaracom‑panhadospormuralhasdetaludedeterraemadeira,reorganizandoapaisagemalentejanaporcompleto,lançandoasbasesdacomplexificaçãosocialeterritorialpatentenaprimeirametadedoIIImilénioa.C.

EstespovoadosseguemmodelosedinâmicasgenericamentesemelhantesaoutrasregistadasumpoucoportodooSuldoPaís,emsítioscomoPortoTorrão(FerreiradoAlentejo)(Valera&Filipe,2004)ouSãoJorge(Serpa)(Soares,1996),claramenteocupadospelomenosnosfinaisdoIVmilénioa.C.

Todavia,aindaantesdofinaldestemilénioinicia‑seumaprofundatransformaçãodasmalhasdepovoamentoqueacabaráporacometerboapartedasinstalaçõesacimareferidas.Seatender‑mosàsjácitadasdataçõesdeJuromenha,referentesaoprocessodeabandonoeenchimentodofosso,estefenómenopareceter‑seiniciadoprovavelmentenoiníciodoúltimoquarteldoIVmilé‑nioa.C.,prolongando‑sepelomenosatéàviragemdomilénio.Porvezes,comonosafiançaocasodaMalhadadasMimosas,aindaqueospovoadosnãosejamtotalmenteabandonados,alteramsubstancialmenteasuanatureza,desaparecendoasestruturasperimetraisediminuindoaintensi‑dadedasuaocupação.

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EsteprocessogeneralizadodeabandonodospovoadosdefossosdoIVmilénioa.C.parecealargar‑seaoutrasparagensmaisasul,empovoadoscomoaPontedaAzambuja(Rodrigues,2008)ou Porto Torrão (Valera & Filipe, 2004); no mesmo sentido apontam os dados do povoado deSãoJorge(Soares,1996),emFicalho,igualmentedotadodefosso,emcujopreenchimentosereco‑lheram evidências que forneceram a dataOxA 5443: 4540±60, com um intervaloa dois sigma:3500–3020 cal BC, enquadrando o processo de abandono e enchimento da estrutura negativaalguresdentrodasegundametadedoIVmilénioa.C.

OcasodePortoTorrão(Valera&Filipe,2004),ondeofosso,eeventualmenteopovoado,dosfinaisdoIVmilénioa.C.foisubstituídoporoutrodecaracterísticassimilares,masabandonadomuitomaistarde,é,todavia,algomaiscomplexo,deixandoentreverosmúltiplospercursosqueestareestruturaçãodasmalhasdepovoamentopareceterconhecido

Esteprocessodeverá,então,tergeradonovasdinâmicas,queresultaramnacriaçãodasredesdepovoamentoqueirãocaracterizaraprimeirametadedoIIImilénioa.C.JulgamosquepoderátersidojustamentenestecontextoqueterásurgidoopovoadodoParaíso,acompanhandoumaten‑dência mais alargada de fundação de grandes aglomerados humanos na viragem do IV para oIII milénio a.C., de que o povoado dos Perdigões (Reguengos) (lago & alii, 1998) constitui omáximoexpoentenoterritórioalto‑alentejano.Amesmatendênciaparecereconhecer‑senograndepovoadodeSanBlas,encostadoaotramosuperiordoGuadianadescendente(Hurtado,2004).

Maisasul,naVidigueira,osítiodaSalan.º1(Gonçalves,1987)apresentaumconjuntodedatações3cujosintervalossolapam,emgrandemedida,osregistadosemJuromenha1eSãoJorge.Todavia,oslimitesmaisbaixosextravasamjáaviragemdomilénio,indiciandotratar‑sedeumarealidadeaparentementemaisrecente,oqueapresençadeumabaixelacerâmicajámarcadapelasformasabertasdebordoespessado,queirãocaracterizaroIIImilénioa.C.,pareceaferir.Aoinvésdosanteriores,aSalan.º1parecetercontinuadoaserocupado, talcomoodemonstraadataICEN448(3013–2459calBCadoissigma)comumintervalodecalibraçãoamplo,masqueatestaasuacontinuidadepelomilénioseguinte.

JulgamosigualmenterelevantetrazerdenovoàcolaçãoocasodoCabeçodoCuboedeSantaVitória,ondesenota,atendendoàescassainformaçãodisponível,oabandonodoprimeirodestespovoados,implantadoemcotasmaisbaixas,emfavordafundaçãoeemergênciadaqueleúltimo,emposiçãodominanteevisibilidadecircular.Cremosqueestecasoelucidabastantebemosnovostemposenovasestratégiasquechegamcomonovomilénio.

Assim,emtraçosgerais,nãoéimpossívelqueestelongoprocessodereorganizaçãodopovo‑amentonaviragemdoIVparaoIIImilénioa.C.sejaprincipalmentecaracterizadoporumafortetendênciaagregadoradapopulação,capazdegerarunidadesdepovoamentodedimensõesbas‑tanteconsideráveis,emergindoumanovarededepovoadosmédiosegrandes,quepoderãocon‑trolarterritóriosmaisamplosnasuaenvolvente.

NocasodoParaíso,asuadimensãoelocalizaçãoremetem‑noparaumaposiçãocertamentedestacadanocontextodasmalhasdepovoamentoenvolventes,assumindoumaposiçãoambiva‑lente, ao implantar‑se em posição destacada, mas dominando a planície fértil do Caia e Gua‑diana.

Apardestarededepovoadosmédiosegrandes,pareceestruturar‑senasmargens,mastam‑bémnointerior,dosterritóriosenvolventesaestesumarededeinstalaçõesdealtura,fortificadas,queemergepoucodepoisdaviragemdomilénio,porvezessobrepondoinstalaçõesanteriores,aber‑tas,masjáposicionadasemelevaçõesdominantes.EmescavaçãorecentenopovoadofortificadodeSãoPedro(Redondo),namargemdaSerrad’Ossa,escassasdezenasdequilómetrosaoestedoPara‑íso,foipossívelatestarumaprimeiraocupaçãoaberta,aindamuitodevedoradasrealidadesartefac‑

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tuaisdofinaldoIVmilénioa.C.,aquesesucede,poucodepoisesemaparentesoluçãodecontinui‑dade,umaocupaçãodotadadeumimpressionantedispositivofortificado,edificadoprovavelmentenoprimeiroquarteldoIIImilénioa.C. (Mataloto&Müller,noprelo).AtensãoterritorialdestaprimeirametadedoIIImilénioa.C.teráigualmentereflexonoterritórioenvolventedoParaíso,coma emergência de amplas estruturas de fortificação, instaladas em posição dominante, junto dasprincipaisribeiras,casodospovoadosdosCastelosdaAfeiteiraoudaAboboreira.

AprimeirametadedoIIImilénioa.C.nãoterásidoumaépocafácil,masantesconturbada,deconstantereajustenasorganizaçõesterritoriais,comoficoubempatentenaconstantesucessãodepovoadosdocumentadanaenvolventedaactualcidadedeBadajoz,imediataaosítioaquiemanálise. Assim, e ainda que os dados disponíveis sejam escassos, parece‑nos que dificilmente opovoadodoParaísoteráultrapassadoosmeadosdomilénio,sendo,aparentemente,acometidoemmaisumadasgrandesreestruturaçõesdopovoamentoquepareceacompanharadispersãodascerâmicascampaniformes.

Nasegundametadedomilénio,nummomentoondeopovoadodoParaísoparece jánãoestaractivo,todaestaformadeestruturaroespaçodesagregar‑se‑á,apardoqueacontececommuitosdospovoados;todavia,subsistemousurgemalgumasocupações,porvezesdepequenasdimensõeseinstaladasemcerrosdominantes,casodosítiodaTerrugem,ondesedocumentouumaocupaçãocampaniforme(Mataloto,2006),oudoCerrodeSanCristóbal(Celestino,1989,p.322),ambasnumaenvolventeimediataaoParaíso.

Redondo/lisboa,Maio2009

Fig. 17 PlantageraldeestruturasdaFaseIIdoSãoPedro,primeiraestruturadefortificaçãodolocal,edificadaprovavelmentenoprimeiroquarteldoIIImilénioa.C.

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NOTAS

* MunicípiodeRedondo. [email protected]** Arqueóloga [email protected] EmreuniãocomoIGESPAReosrepresentantesdaCâmara

MunicipaldeElvas,tidaa19/01/09,foidecididoumconjuntodemedidasquepromovessemasalvaguardadainformaçãoarqueológicaemfuturasedificaçõesnolocal.Nofuturo,nãoseriaaceitequalquerremoçãodeterrasemacompanhamentoarqueológico,quedeverádepoiscondicionaroprogressodostrabalhos.

2 Wk18487‑4538+32eWk18488‑4547+35calBP);estasdatações,aindainéditas,foramgentilmentecedidaspeloProf.Dr.ManuelCalado,directorcientíficodasintervençõesedoestudodestelocal,aoqualmuitoagradecemos.

3 ICEN444‑4490±100,intervalo2σ:3500–2900calBC;ICEN445‑4490±90,intervalo2σ:3490–2920calBC;ICEN446‑4490±100,intervalo2σ:3520–2900calBC;ICEN448‑4140±110,intervalo2σ:3520–2900calBC(calibraçãoOxCalv4.0.5BronkRamsey(2007);r:5IntCal04atmosphericcurve(Reimer&alii,2004).

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