Universidade de Brasília
ERLANE COELHO VIEIRA
O ESPORTE “NA” ESCOLA: UM RELATO SOBRE O
PROGRAMA SEGUNDO TEMPO NO COLÉGIO ESTADUAL
CAROLINA VAZ DA COSTA EM PIRES BELO – CATALÃO/GO
Catalão
2007
ii
ERLANE COELHO VIEIRA
O ESPORTE “NA” ESCOLA: UM RELATO SOBRE O
PROGRAMA SEGUNDO TEMPO NO COLÉGIO ESTADUAL
CAROLINA VAZ DA COSTA EM PIRES BELO – CATALÃO/GO
Trabalho apresentado ao Curso de
Especialização em Esporte Escolar do
Centro de Educação à Distância da
Universidade de Brasília em parceria com
o Programa de Capacitação Continuada
em Esporte Escolar do Ministério do
Esporte para obtenção do título de
Especialista em Esporte Escolar.
Orientadora: Profª. Ms. Patrícia do Prado
Catalão
2007
iii
VIEIRA, Erlane Coelho.
O esporte “na” escola: um relato sobre o Programa Segundo Tempo no Colégio Estadual Carolina Vaz da Costa
em Pires Belo – Catalão/GO. Catalão, 2007.
26 p.
Relato de experiência (Especialização em Esporte Escolar) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a
Distância, 2007.
1.esporte 2. cultura 3. gênero.
iv
ERLANE COELHO VIEIRA
O ESPORTE “NA” ESCOLA: UM RELATO SOBRE O
PROGRAMA SEGUNDO TEMPO NO COLÉGIO ESTADUAL CAROLINA
VAZ DA COSTA EM PIRES BELO – CATALÃO/GO
Trabalho apresentado ao Curso de
Especialização em Esporte Escolar do
Centro de Educação à Distância da
Universidade de Brasília em parceria com
o Programa de Capacitação Continuada
em Esporte Escolar do Ministério do
Esporte para obtenção do título de
Especialista em Esporte Escolar pela
Comissão formada pelos professores:
Presidente: Profª. Ms. Patrícia do Prado
Universidade Federal de Goiás – Campus de Catalão
Membro: Profª Dr. Mara Barbosa de Medeiros
Universidade Federal de Goiás
Catalão, 11 de agosto de 2007.
v
Á minha perseverança, esforço e luta diária enfrentando as dificuldades do dia-a-dia e as dificuldades atípicas. À Deus, que me proporcionou forças para realizar esta luta.
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao Ministério do Esporte que juntamente com o CEAD – Centro de Ensino à Distância da UNB – Universidade de Brasília, proporcionou mais uma etapa da minha formação continuada.
Por último, à minha orientadora, a Profª. Ms. Patrícia do Prado que me acompanha desde a graduação em meu primeiro trabalho monográfico me incentivando e auxiliando sempre nos momentos mais difíceis.
vii
“Quem cultiva seu jardim com sabedoria e amor consegue atrair as borboletas.”
Autor desconhecido
viii
RESUMO
Seguindo o foco principal do trabalho que é o esporte “na” escola, o presente relato trata da experiência por mim vivenciada no período em que fui Coordenadora do Núcleo do Programa Segundo Tempo no Colégio Estadual Carolina Vaz da Costa, em Pires Belo, Distrito de Catalão (GO).
O objetivo deste relato é analisar sucintamente a realização do projeto e de que forma ocorreu o seu desenvolvimento na escola, o envolvimento dos alunos, o impacto na comunidade escolar, os aspectos positivos e negativos, além de questionar as falhas existentes, ou seja, uma leitura da realidade.
E na análise desta realidade, encontrei algumas questões que dificultaram o sucesso pleno do projeto, como a questão da separação das aulas por gênero que reforça a tendência do treinamento esportivo, entre outros.
Este presente relato conta com depoimentos de pais, alunos, professores e funcionários da escola, que fazem parte do Relatório mensal de atividades dos núcleos do Segundo Tempo, solicitado pela coordenação de núcleo do Programa Segundo Tempo em Goiás, através do GEDE (Gerência de Desporto Educacional), órgão da Secretaria de Educação do Estado de Goiás.
PALAVRAS CHAVES: esporte, cultura, gênero.
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................10
2 LEITURA DA REALIDADE GERAL: UMA REFLEXÃO SOBRE QUESTÕES DE GÊNERO NO COTIDIANO ESCOLAR.................................10
2.1 O NÚCLEO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO (PST) NO COLÉGIO ESTADUAL CAROLINA VAZ: DIFICULDADES E SUPERAÇÕES ....................................................................................................14
3 LEITURA DA REALIDADE ESPECÍFICA........................................................15
3.1 UM CAMINHO PARA A FORMAÇÃO CRÍTICO SUPERADORA ..............16
4 ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS OBSERVADOS NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO (PST) NA LOCALIDADE.........................18
5 ANÁLISES, CRÍTICAS E SUGESTÕES .............................................................20
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ .....24
7 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 25
8 ANEXOS ............................................................................................................... 28
10
1 INTRODUÇÃO
Neste trabalho apresento um relato de experiência no Programa Segundo Tempo, de
iniciativa do Governo Federal, cujo objetivo é “Democratizar o acesso ao esporte
educacional de qualidade, como forma de inclusão social, ocupando o tempo ocioso de
crianças e adolescentes em situação de risco social”1. O objetivo do relato é apresentar o
desenvolvimento da prática pedagógica do professor de Educação Física, com vistas a
contribuir para a problematização do esporte como elemento educativo na escola, após o
horário de aula.
Inicialmente, apresento o campo de investigação no qual trabalhei durante 2 anos e
8 meses, e inicio o relato do desenvolvimento do Programa Segundo Tempo no núcleo
Carolina Vaz em Pires Belo distrito de Catalão (GO), onde detectei algumas questões que
dificultaram o pleno sucesso do projeto.
Em seguida realizo um breve esboço da realidade do distrito de Pires Belo com
descrição dos seus aspectos geográficos, econômicos, culturais, sociais e políticos.
Retorno à discussão do desenvolvimento do Programa Segundo Tempo no núcleo
Carolina Vaz onde apresento uma leitura da realidade geral e específica, ou seja, o contexto
do Programa Segundo Tempo, metodologia, organização e a partir daí, apresento os seus
aspectos positivos e negativos apoiados em alguns depoimentos de pessoas envolvidas
direta e indiretamente no projeto.
Por fim, concluo este relato ressaltando os aspectos positivos sobre os negativos,
apesar de todas as dificuldades vividas e transpostas no projeto e deixo algumas falas para
reflexão.
1 http://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo/objetivos.jsp, acesso em 02/06/07.
11
2 LEITURA DA REALIDADE GERAL: UMA REFLEXÃO SOBRE QUESTÕES
DE GÊNERO NO COTIDIANO ESCOLAR
Na Subsecretaria Regional de Educação, com sede em Catalão (GO), são ofertadas
nas escolas duas aulas de Educação Física semanalmente, por turma, porém, no Colégio
Estadual Carolina Vaz da Costa onde iniciei minhas atividades pedagógicas em abril de
2004, estas aulas eram ministradas fora do horário e no mesmo dia, ou seja, no horário
extra-classe uma vez por semana.
Antes de assumir as aulas de Educação Física, esta disciplina era ministrada por
duas professoras com formação apenas em Pedagogia, onde não era possível utilizar a sala
de aula como espaço pedagógico no turno vespertino, pois havia aula regular de cada turma
em sua respectiva sala. As turmas eram divididas entre meninos e meninas - cada
professora ministrava aula com um dos gêneros -, e as aulas eram realizadas na quadra da
escola (descoberta) e/ou na quadra municipal (coberta).
A convivência entre meninos e meninas superando as diferenças e os conflitos, faz-
se necessária, evitando-se um possível problema social. Entendo que é preciso buscar
equilíbrio nas questões relativas a gênero, uma vez que a história tratou de distanciá-los ao
longo do desenvolvimento da sociedade.
A cultura constitui um elemento de ligação social formando uma teia de
significados, permitido assim, o entendimento coletivo. É por meio da cultura que cada
pessoa pode se comunicar, se identificar e compreender elementos simbólicos presentes em
seu cotidiano. Isto significa que a cultura é pública, pois seus significados o são (GEERTZ,
1989), ou seja, os gestos, as palavras, o modo de se vestir, de andar, a tradição, a língua,
dentre vários outros elementos identificam a cultura de um povo.
Para o autor, a cultura é um sistema de trocas simbólicas, no qual as pessoas, a
partir da interação e da relação social, formam e definem seus valores, gerando linguagens
e meios de comunicação carregados de signos interpretáveis.
Sendo assim, minha metodologia de ensino pautada na defesa do trabalho coletivo
envolvendo os dois gêneros – pois, o entendimento do que é papel do homem e o que é
papel da mulher é construído no seio da cultura -, foi questionada tanto pelos pais como
12
pela direção da escola. Segundo eles, havia problema somente nas aulas em quadra, ou seja,
as aulas em sala não foram questionadas, isto por que é na quadra onde aconteciam as
práticas corporais com maior intensidade e contato físico, o que para os pais significava um
constante perigo de “acidente”, uma vez que os meninos, biologicamente falando, possuem
mais habilidades e força motora que as meninas, apesar dessas diferenças também serem
evidenciadas a partir da cultura vivida. Por mais que o mundo avançado da tecnologia e do
rendimento esportivo possa estreitar a distância de potencial relativo a cada gênero, tenho
como referência, o aluno da escola que não pratica esporte de rendimento e, portanto, a
diferença biológica em determinadas faixas etária acabam ficando evidentes entre os dois
gêneros.
Em função deste problema, durante as aulas realizadas na quadra, eu argumentava
com os alunos o fato de que não podiam se desenvolver separadamente, pois na vida social
homens e mulheres convivem juntos, seja no trabalho, na família, na faculdade ou outros
espaços.
Segundo Medeiros (Brasil, Ministério dos Esportes, 2004, p.97),
“mesmo considerando as diferenças anátomo-fisiológicas que diferenciam os resultados masculinos e femininos, é importante compreender que as diferenças e habilidades registradas nas aulas de Educação Física são determinadas social e culturalmente (...)”.
Assim, não consegui convencer, a princípio, a direção da escola e os pais dos
alunos, porém, em aproximadamente um mês, minha metodologia de ensino foi aceita e
então, passei a ministrar as aulas de acordo com a minha formação: meninos e meninas
juntos seja qual for a atividade proposta, em quadra ou em sala de aula.
Segundo Pereira Netto (2005, p.08),
“A sociedade apresenta justificativas diversas na tentativa de uma explicação coerente sobre a separação preconceituosa que se encontra impregnada nas relações humanas, mas não age para amenizar ou desconstruir as ditas separações. As pessoas apresentam justificativas, que perpassam questões de natureza humana, iludidas em teorias biológicas de superioridade. Essas questões quando observadas em um contexto histórico foram aquelas que, de forma atroz, reprimiram e excluíram”.
Diria também, que essa postura da escola é um dos fatores que dificulta, de maneira
13
geral aos professores de Educação Física, ampliar e pedagogizar o universo de práticas
corporais na escola, pois devido a influência, principalmente da mídia, os alunos
necessitam de um ensino que proporcione uma formação crítica e a Educação Física é um
dos caminhos para essa formação.
No entanto, esta problemática social relativa ao gênero não está restrita apenas nas
aulas de Educação Física, permeia também a ideologia do Programa Segundo Tempo,
conforme apresentado no folder de divulgação do projeto cujo tema/slogan é “A Hora do
Esporte”. Neste material, está escrito:
“O Segundo Tempo possibilita a ampliação da jornada educacional a partir da vivência esportiva em mais um turno de atividades, seja na escola ou em outro espaço comunitário. Esse esforço pode colaborar significante para a inclusão social, à medida que mobiliza vários setores da sociedade e estabelece parcerias com estados, prefeituras e organizações não-governamentais”(Ministério do Esporte, http://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo).
Ao defender a inclusão social o programa se contradiz na prática quando estabelece
na escola por meio da imposição da coordenação geral além da direção e dos pais dos
alunos, a separação de gêneros por modalidade ou por idade, oportunizando aos alunos
momentos de convivência entre seus pares do mesmo sexo, ao mesmo tempo, em que deixa
de ampliar as diversas formas de interações entre meninos e meninas que, em outros
contextos, podem vir a reforçar preconceitos.
Segundo a definição do projeto citado,
“O Segundo Tempo é um programa do Ministério do Esporte, em parceria com o Ministério da Educação promovido pela Secretaria de Esporte Educacional, destinado a possibilitar o acesso à prática esportiva aos alunos matriculados no ensino fundamental e médio dos estabelecimentos públicos de educação do Brasil, principalmente em áreas de vulnerabilidade social” (http://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo, acesso em 11/03/07).
A divisão entre os gêneros na proposta do programa acaba por contribuir para esta
vulnerabilidade social, pois sua metodologia prevê a separação de meninos e meninas para o
treinamento esportivo, segundo a orientação do coordenador geral da Secretaria Estadual de
Educação do Estado de Goiás. E não somente em Pires Belo ocorre esta divisão, pode-se
encontrar no folder do Programa Segundo Tempo e no site do Ministério dos Esportes2, fotos
2 www.esporte.gov.br/segundotempo.
14
de meninos e meninas praticando esportes separadamente no projeto em diversas localidades
do Brasil.
No Colégio Estadual Carolina Vaz do Distrito de Pires Belo (Catalão-GO), o
Programa Segundo Tempo é praticado como treinamento o qual considero como exclusão
dos menos aptos à prática das atividades físicas trabalhadas, no caso o esporte. Sendo assim,
haverá exclusão inevitavelmente, pois nem todos possuem aptidões físicas que são
valorizadas no treinamento, desconsiderando também as diferenças determinadas
biologicamente entre homem e mulher.
Segundo Lima e Dinis (2005, p.07),
“(...) a Educação Física se constitui como um campo em constante debate, sua presença na escola enfrenta diversos obstáculos e suas práticas ainda permanecem arraigadas em uma tradição biológica/tecnicista. Essa tradição pode ser percebida nas práticas escolares onde prevalecem a prática desportiva e a divisão das atividades entre meninos e meninas. A aula de Educação Física, desta forma acaba fortalecendo padrões e estereótipos de gênero, produzindo sujeitos masculinos e femininos através de suas práticas. Essa necessidade de se encaixar em um padrão faz com que os alunos internalizem certas formas de vigilância e auto-regulação, a fim de garantir sua inserção no grupo. (...) Sendo assim as práticas da Educação Física devem ser vistas como constitutivas de formas de ser homem e mulher, podendo ser consideradas como um ‘dispositivo pedagógico’, um lugar no qual se ‘constitui ou se transforma a experiência de si’ (idem), ou seja, o espaço pedagógico no qual os sujeitos são ensinados a se perceberem enquanto sujeitos de si, desenvolvendo o que se chama de autoconhecimento, auto-reflexão e finalmente, o autocontrole.”
Desta forma fecha-se a porta para as diversas manifestações de masculinidade
existentes, limitando as experiências a práticas generificadas e estabelecidas como
“adequadas” aos meninos ou às meninas. Além de limitar o conteúdo da Educação Física
aos esportes, este tipo de conduta fortalece a formação de sujeitos adequados a uma
sociedade competitiva e preconceituosa. Mesmo com a consciência de que a formação dos
sujeitos ocorre em diversas instâncias sociais entre elas, a escola, não podemos ignorar o
papel do esporte, uma vez que este campo de saber trata diretamente das questões afetas ao
corpo. Cabe então repensar o papel desse conteúdo escolar, buscando novas formas de
ensino e novas relações sociais.
15
2.1 O NÚCLEO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO (PST) NO COLÉGIO
ESTADUAL CAROLINA VAZ: DIFICULDADES E SUPERAÇÕES
O núcleo do Colégio Estadual Carolina Vaz da Costa, o qual coordenava, foi
desativado em abril/2005 e não houve renovação. O motivo principal foi a falta de
estagiário, pois este núcleo se encontra em um distrito localizado a 30 km de distância de
Catalão-GO, sendo assim, a dificuldade de se transportar até o núcleo (tempo, passagens)
foi o motivo pelo qual levou o estagiário a abandonar o Programa Segundo Tempo, dentre
outros como atraso de pagamento, etc. Sendo assim, não encontramos outro estagiário, pois
ninguém se interessou a trabalhar nestas condições.
No entanto, quando ainda estava em funcionamento, o Programa era desenvolvido
na quadra da escola (não coberta), com as atividades voleibol para as meninas e futsal para
os meninos, excluindo aqueles que gostariam de escolher a modalidade, ou seja, meninas
que se interessaram pelo futsal e meninos pelo voleibol.
Apesar das dificuldades como ausência de estagiário, falta de merenda e materiais
(porque voleibol não se joga sem rede, a qual não veio no material enviado pela Secretaria
de Educação), houve grande participação dos alunos que se desenvolveram nas atividades
citadas. Foi tão grande o envolvimento dos alunos que nos jogos estudantis fomos
campeões no voleibol masculino infanto.
Houve também neste núcleo, interação entre os dirigentes da escola e da
comunidade, em uma gincana realizada em um final de semana onde os pais compareceram
para ver e torcer por seus filhos. Os pais também cobravam muito do programa, cobravam
pelas promessas não cumpridas (como merenda e uniforme), quando o estagiário faltava,
dentre outros. Porém, eu como coordenadora nunca pude solucionar estes problemas que
dependiam dos governos federal e estadual.
Isto foi ruim porque diminuiu a confiança dos pais no governo e atingiu a
credibilidade da escola junto à comunidade, pois esta relacionava a responsabilidade do
Programa Segundo Tempo também à equipe escolar. Em um depoimento de um aluno do
projeto podemos identificar sua visão em relação ao projeto “Eu acho muito bom o projeto
16
2º tempo porque ele me ensinou a não só ganhar mas perder também. A Flávia não vem
todos os dias marcados porque a escola não paga ela (grifo meu). Essas são as coisas que
eu acho do projeto.”
Sendo assim, houve por parte dos pais várias reclamações e cobranças à direção da
escola que nada de concreto podia fazer.
Como este núcleo funcionou em um distrito a 30 km de Catalão, a distância
dificultou em tudo, sendo assim, não houve interação com outros núcleos, não realizamos
nenhuma atividade em conjunto e não participamos das atividades realizadas pelos outros
núcleos de Catalão como, por exemplo, um intercolegial.
Com todas estas dificuldades e o fato do Programa não ter continuado em certos
locais não quer dizer que ele não funcionou, pelo contrário, a proposta foi muito boa, os
alunos precisam sempre de incentivos como este para se desenvolverem e ampliar cada vez
mais sua cultura corporal, cabe ao poder público viabilizar condições de acesso ao lazer, ao
esporte e às práticas corporais de modo geral, permitindo o desenvolvimento do cidadão
crítico, participativo e consciente de seu papel social, porém, “nada é perfeito”!
3 LEITURA DA REALIDADE ESPECÍFICA
O núcleo do Colégio Estadual Carolina Vaz da Costa realizou-se em Pires Belo, um
Distrito da cidade de Catalão – GO.
Este pequeno distrito localizado às margens da Rodovia BR-040, a 30 km da cidade
de Catalão, possui pouco mais de 1.000 habitantes, sendo que quase metade dos 300 alunos
matriculados no único colégio do distrito residem na zona rural.
O Programa Segundo Tempo, foi um projeto muito importante para os alunos que
estavam, na maioria ociosos, uma vez que a cidade não oferecia muitas oportunidades de
trabalho ou lazer.
Em relação ao trabalho, os moradores dispõem de um pequeno comércio composto
por bares, mercearia, açougue, padaria, lojas de presentes e utensílios, postos de gasolina e
fábrica de cerâmica. Os empregos públicos se dividem em um posto de saúde, uma filial
17
dos correios e o colégio que, com certeza, é uma das maiores fontes de renda de Pires Belo
juntamente com as fazendas, esta última emprega mais na época da colheita onde alguns
alunos se ausentavam dos estudos para trabalhar.
O distrito Pires Belo disponibiliza aos moradores apenas uma quadra coberta e um
campo de futebol municipal para as práticas do lazer, além de alguns bares e uma praça na
zona urbana. A zona rural também possui atrativos para o lazer como pesca nos rios,
cachoeiras, festas religiosas realizadas em certas épocas do ano, onde tem-se danças (forró
e quadrilhas), leilões e novenas em homenagem à santos. A fé religiosa está muito presente
neste distrito, onde a maioria é católica, mas uma significativa parte dos moradores é
evangélica. Todos os anos há uma romaria principalmente dos católicos para uma festa em
Vazante (MG), município que se localiza na divisa entre os Estados de Goiás e Minas
Gerais.
Como é um distrito, os moradores se organizam em uma associação para garantir
seus direitos e reivindicar melhorias e benefícios junto á administração que é do PMDB e
está em seu segundo mandato atualmente. A prefeitura auxiliou no desenvolvimento do
Programa Segundo Tempo com transporte (escolar) para o estagiário e acesso à quadra
municipal para a prática da atividades do projeto, porém a má conservação da mesma não
possibilitou seu uso.
3.1 UM CAMINHO PARA A FORMAÇÃO CRÍTICO-SUPERADORA
O núcleo teve início no dia 15 de setembro de 2004 com reuniões no Núcleo de
Tecnologia Educacional - NTE em Catalão – GO com os representantes das escolas
envolvidas, em seguida com planejamento das aulas com o monitor que aconteciam uma
vez por semana na escola com duração de 2 horas, organização e formação das turmas e
dos horários das aulas. O núcleo do colégio Carolina Vaz atendia 100 alunos divididos em
quatro turmas de 25 alunos, divididos por modalidades, idade e gênero, sendo para cada
turma uma aula com duração de uma hora três vezes por semana somente no turno
vespertino (pois não conseguimos estagiário para o turno matutino).
18
A proposta de metodologia seria baseada na pedagogia crítico-superadora, pois
tanto o estagiário como eu, passamos pela mesma formação acadêmica, porém as próprias
orientações do Programa Segundo Tempo passadas através do coordenador da
Subsecretaria Regional de Educação de Catalão, sugerem um treinamento esportivo, pois
como citado acima, as turmas seriam divididas por modalidade, idade e por gênero.
Sendo assim, as aulas aconteciam da seguinte forma: conversa sobre as atividades a
serem realizadas; alongamento e aquecimento quase sempre com uma brincadeira ou jogo;
parte principal com exercícios em estafeta para fixar os fundamentos com ênfase na posição
correta e realização adequada do movimento ou atividades com brincadeiras e jogos
recreativos como parte principal em algumas aulas.
No decorrer do ano o projeto seguiu com dificuldades como: falta de material, falta
de verba para merenda, uniforme e algumas ausências do monitor (pela falta de condições
financeiras para o transporte já que o pagamento estava sempre atrasado). Porém,
realizamos mesmo com estas dificuldades, uma gincana no mês de novembro (evento de
final de semana) com a participação dos alunos do Programa Segundo Tempo e com os
pais, contando assim, com a participação da comunidade mesmo que pequena.
A gincana transcorreu bem, onde os alunos participaram de provas criativas e bem
humoradas e puderam contar com a torcida dos familiares havendo assim, interação entre
comunidade e escola.
Reiniciamos em janeiro/2005 (coordenadora e estagiário) com novos planejamentos
e reuniões onde a situação continuava a mesma, ou seja, as mesmas dificuldades anteriores.
O núcleo funcionava na quadra descoberta do Colégio Estadual Carolina Vaz da
Costa que se encontra na Rua Carolina Vaz, n° 298, Pires Belo distrito de Catalão-GO.
Quando havia imprevistos como chuva, os alunos precisavam se deslocar para a quadra
municipal, localizada a uns 300 metros da escola. Na verdade o projeto teve seu início na
quadra da prefeitura, porém, por ser fora do espaço escolar, e assim passar por alguns
problemas como indisciplina dos alunos, falta de infra-estrutura (água e banheiros sem
estado de uso), interrupção por parte dos moradores do distrito (já que a quadra é pública),
entre outros, o monitor preferiu ministrar o projeto na escola mesmo.
No Programa Segundo Tempo, a minha função/atribuição enquanto coordenador
foi coordenar o projeto o núcleo de uma forma geral, orientar o monitor, cadastrar núcleo,
19
alunos, monitor e manter este cadastro atualizado, cumprir carga horária semanal de 5 horas
entre outros. A função/atribuição do monitor foi elaborar planejamento das aulas em
conjunto com o coordenador, ministrar as aulas do projeto, cumprir 20 horas semanais,
entre outros.
Segundo o projeto, além das modalidades futsal e voleibol desenvolvidas neste
núcleo, a escola deveria oferecer ainda, atividades complementares. Realizamos apenas
uma gincana com a presença da comunidade local, pois este tipo de evento deveria se
realizar nos finais de semana e o estagiário por problemas de falta de pagamento não
comparecia. Tivemos o apoio da prefeitura através do transporte escolar no qual o monitor
voltava para casa, pois o núcleo se localiza a mais de 30 km de distância da residência do
monitor, porém este transporte funcionava somente em dias letivos.
4 ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS OBSERVADOS NO PST NA LOCALIDADE.
Aspectos positivos
Contratação de monitores: apesar do núcleo se localizar em um distrito a 30 km
de Catalão, conseguimos de imediato um monitor que se mostrou nos primeiros meses
muito competente, soube planejar uma aula e executar este planejamento, teve domínio
sobre o conteúdo (voleibol e futsal), porém não dominou bem a disciplina pois ainda
encontra-se em processo de formação.
Acompanhamento do Ministério: o acompanhamento esteve presente no início do
processo e foi muito importante principalmente com o envio de boletins eletrônicos sobre o
andamento do núcleo.
Eventos esportivos: os alunos necessitam de eventos como este (gincana e jogos de
final de semana), principalmente aos finais de semana que são para eles ociosos.
Capacitação do Programa em geral: a capacitação através do CEAD/UNB foi
uma das maiores recompensas para nós professores coordenadores, pois foi uma
oportunidade única para muitos de estar dando continuidade à formação que deve ser
20
linear; o material que recebi para estudar é de muito boa leitura e acrescentará muito à
minha prática pedagógica. Por falta de informação o estagiário perdeu o prazo para a
inscrição e não pode participar da capacitação.
Aspectos negativos
Do material esportivo: para se trabalhar com treinamento é necessário material
(várias bolas, por exemplo), o material foi enviado incompleto, pois não se joga voleibol
sem rede; o material também era de má qualidade, muito duras e pesadas principalmente
para os alunos de 7 a 9 anos.
Contratação de monitores: a falta de pagamento foi a principal dificuldade de todo
o projeto, pois o monitor para trabalhar tem despesas (de transporte, de material didático,
manutenção da conta do Banco, alimentação, entre outros), isto tira o estímulo que a pessoa
tem para com o trabalho, pois o atrativo do projeto não era somente a experiência, mas o
salário também, e para alguns principalmente, e sem monitor não tinha projeto.
Reforço alimentar: não recebemos verba para reforço alimentar, portanto, não
houve cumprimento da meta estabelecida no projeto que dizia respeito à alimentação dos
escolares.
Acompanhamento do Ministério: como citado acima o acompanhamento esteve
presente apenas no início, poderia estar presente durante todo processo, pois lhes enviei
relatórios através de e-mails sobre a situação precária do núcleo e não houve resposta. Não
bastaria apenas começar o projeto, o Ministério deveria dar suporte.
Eventos esportivos: o programa não cumpriu a demanda de verba para a realização
do um bom evento, ou seja, o único evento realizado foi a gincana e poderia ser melhor no
sentido do que a escola poderia oferecer à comunidade. Além disso, a monitora também
não esteve presente por motivos já mencionados.
Capacitação do Programa em geral: o único aspecto negativo é que na
capacitação tanto dos coordenadores quanto dos estagiários não houve momento presencial
previsto no manual do aluno, onde se aprende muito mais com a relação aluno/professor,
21
aluno/aluno, ou seja, se tem oportunidade de vivenciar outras experiências. Digo por
experiência própria, pois já fiz uma especialização do tipo convencional.
5 ANÁLISES, CRÍTICAS E SUGESTÕES
Os seguintes depoimentos fazem parte do Relatório mensal de atividades dos
núcleos do Segundo Tempo, solicitado pela coordenação de núcleo do Programa Segundo
Tempo em Goiás, através do GEDE (Gerência de Desporto Educacional), órgão da
Secretaria de Educação do Estado de Goiás.
Este relatório solicitava em seu item 14, um mínimo de três depoimentos de pais ou
responsáveis, alunos, profissionais envolvidos, professores da respectiva escola e
comunidade.
A pesquisa foi realizada por meio de entrevista semi-estruturada através de
questionário aberto onde os entrevistados teriam que ressaltar os aspectos positivos e
negativos do Programa Segundo Tempo. O questionário foi aplicado a 7 alunos da turma
masculina, 7 alunas da turma feminina, 3 pais e 3 professores, 1 profissional envolvido e 1
funcionários da escola.
Alunos: 1) “Eu acho muito bom o projeto 2º tempo porque ele me ensinou a não só ganhar mas perder também. A Flávia não vem todos os dias marcados porque a escola não paga ela. Essas são as coisas que eu acho do projeto.” 2) “Eu acho o projeto muito legal, por eu não sabia perder quando meu time perdesse eu comessava (sic) a xingar a brigar, agora eu sei perde, ganhar e também aprendi a jogar vôlei sem brigar.” 3) “Eu acho positivo no projeto é que eu fiquei melhor no futebol do que era antes, aprendi a ganhar e perder, aprendi a competir. E negativo que ela (a monitora, grifo meu) não vem toda vez que ela marca o dia, eu acho ela muito séria.”
22
Nota-se que as dificuldades encontradas no decorrer do projeto e já citadas
anteriormente, prevalecem em todas as falas dos alunos. Contudo, é muito gratificante ler
um depoimento como esses, onde o aluno demonstra que aprendeu algo que será utilizado
no decorrer de sua vida dentro e fora da escola.
Segundo Ogi, "O esporte é a melhor escola da vida. Com o esporte aprende-se a
ganhar sem achar que é o melhor, a respeitar o oponente, a ser solidário e a ter disciplina",
observou ao explicar que experiências brasileiras, como os programas Segundo Tempo e
Pintando a Liberdade (programa onde presos confeccionam material esportivo), chamam a
atenção internacional e ganham o respaldo da ONU3.
A ONU desde 2003 vem trabalhando para colocar o esporte como uma das
ferramentas principais para se atingir as metas do milênio, o desenvolvimento e a paz.
Porém, de minha parte entendo que ainda não é o bastante, e corroboro com
Oliveira (2003, p.07) e Escobar (2003, p.03),
“(...) os projetos ou programas que anunciaram ou anunciam a democratização do acesso à prática esportiva através da escola, têm apresentado poucas novidades e se mostrado pouco eficientes em relação aos seus objetivos, mesmo que sejam os discutíveis objetivos do rendimento (2003, p. 07). O esporte subordina-se aos códigos, valores e significados que lhe imprime o modelo político-econômico capitalista pelo qual não pode ser afastado das condições a ele inerentes (...) precisamos abordar a ‘Cultura Corporal’ como objeto e motivo de um Projeto de Cultura Popular com possibilidades crítico-transformadoras (...)” (2003, p. 03).
Pais ou responsáveis:
1) “Depois que minha filha começou a participar do projeto, tenho percebido mudanças em seu comportamento, pois a mesma tem se interessado muito pela prática de esportes, o que sabemos é muito importante para o desenvolvimento da pessoa, tanto físico como psíquico”.
Mesmo não atendendo às preferências dos alunos, e sendo grande parte dos alunos
moradores da zona rural, a participação no projeto superou expectativas. A escolha das
práticas corporais desenvolvidas no Programa Segundo Tempo dependia do espaço físico
3 Brasil. Ministério dos Esportes. Segundo Tempo. Notícias. Segundo Tempo ganha respaldo da ONU. Disponível http:/portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo/noticia_ detalhe.jsp?idnoticia=3000, acesso em 20/02/2007.
23
disposto. Como não tínhamos na quadra da escola e nem na quadra municipal a tabela do
basquetebol, as modalidades escolhidas foram voleibol e futsal.
“Normalmente, são os outros (pais ou professores) que têm feito opções pelos alunos. E a ‘opção’ pelo aprofundamento tem antecedido o acesso amplo, invertendo a ‘ordem natural das coisas’. Coerentemente com os princípios e as tendências do esporte, os programas e projetos esportivos escolares têm convivido e até incentivado a seleção e a especialização, tarefas que nem mesmo o modelo capitalista de escola tem assumido abertamente” (Oliveira, 2003, p.07).
Sendo assim, o projeto deveria permitir ao aluno acesso a fazer opções de escolha e
aprofundamento e não escolher por eles e até por nós professores (em relação ao tema da
capacitação). No núcleo de Pires Belo não havia escolhas, sendo voleibol para meninas e
futsal para meninos.
2) “É um projeto muito bom, pois desperta nos jovens, nas crianças uma boa aprendizagem, um bom relacionamento com os colegas, com os próprios professores, ou seja, é uma forma de estar levando a clientela do projeto a aprender as regras e os limites de um jogo, de uma brincadeira. Porém, às vezes fica a desejar, porque a professora deixa correr solto e as crianças fazem o que quer (sic)”.
3) “O projeto Segundo Tempo estimula a criança a desenvolver-se socialmente. A relação entre a minha filha e os demais colegas é bastante amigável”.
Nestas falas podemos perceber o quanto o projeto foi importante para os moradores
de Pires Belo no pouco tempo e precárias condições em que se manteve. Houve mudanças
positivas nos alunos reconhecidas pelos pais como formação de valores e desenvolvimento
social e corporal do aluno.
Professores:
1) “Todo projeto que venha para a escola seja de qualquer espécie é válido e irá beneficiar principalmente os alunos, porém a forma como este projeto se desenvolve, com dificuldades de toda espécie (pois as promessas foram feitas e não foram cumpridas), faz com que o governo perca a credibilidade com a comunidade e até mesmo a própria escola, ou seja, esta anuncia que os alunos receberam uniforme e lanche o que nunca aconteceu, apenas o material
24
esportivo chegou à escola mesmo assim incompleto, então concluo que este projeto ficou a desejar”.
Profissionais envolvidos:
1) (...) em Catalão ele não está sendo bem administrado, não me refiro aos profissionais da subsecretaria regional, pois estes recebem ordens da Secretaria de Educação, com sede em Goiânia. Já tive uma experiência com este projeto nesta mesma cidade nas escolas municipais, onde ele transcorreu sem maiores dificuldades, por que então nas escolas estaduais está havendo estes transtornos? Aponto a falta ou o absurdo atraso de pagamento aos monitores como a maior dificuldade encontrada, mais do que não ter lanche ou uniforme. Sem pagamento o monitor (que tem competência para o cargo) ‘desanima’ e começa a faltar ou então não ministra as aulas como deveria”.
Segundo Bracht (2003), programas como “esporte na escola” do governo FHC e
“Segundo Tempo” do governo petista, possuem visões hegemônicas de sociedade e deste
modo, “(...) a principal questão a analisar é se tais programas têm respeitado o papel, as
atribuições e a singularidade da instituição escolar. Ainda que não haja um projeto
educativo ou escolar único, o fato é que as práticas esportivas não têm assumido ou
incorporado o ritual básico da escola” (Oliveira, 2003, p.07). Pela fala do professor e
demais entrevistados, o programa não respeitou a instituição escolar.
Enquanto coordenava o projeto, mantive contato com os demais coordenadores dos
núcleos de Catalão. Em Catalão, os núcleos receberam no segundo semestre de 2005 (após
meu núcleo ser desativado), a verba destinada para a merenda e posso afirmar que também
não receberam uniformes. Esta questão me incomoda, por que ao acessar a página do
Programa Segundo Tempo no site do Ministério dos Esportes, havia sempre notícias sobre
o projeto nas diversas localidades do Brasil com fotos dos alunos participando do projeto
uniformizados (camiseta, short e boné com o logotipo do Programa Segundo Tempo) e
felizes se alimentado.
25
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse momento de conclusão do projeto apresento além de uma abordagem sobre
gênero, cultura e esporte, uma pesquisa com os alunos do Programa Segundo Tempo
realizado no Colégio Estadual Carolina Vaz da Costa no distrito de Pires Belo em Catalão-
GO e algumas reflexões ou sugestões para os projetos sociais desenvolvidos na escola.
Nas respostas obtidas através dos questionários, verifica-se que o aspecto positivo
do projeto prevaleceu em relação ao negativo (faltas do monitor, a falta de verba para
merenda e uniformes, entre outros), ou seja, a maioria dos alunos respondeu que através do
projeto houve aprendizado em relação aos esportes praticados, o que proporcionou uma
satisfação para eles, assim como se relacionar com os colegas aprendendo a ganhar e
perder.
Atualmente o esporte visa resultados materiais, diferentemente de períodos de
surgimento do esporte, cuja predominância era de caráter normativo, moralista e de fair
play. O esporte tem-se desenvolvido com finalidades diversas visando a saúde, a distração e
a sociabilidade e, também o rendimento, porém com pouca contribuição nas práticas pela
população em geral, pois visa a competição e provoca a exclusão social.
Sendo assim, os programas sociais desenvolvidos seja pela iniciativa privada ou
pelo governo poderiam substituir o treinamento esportivo à população pela prática dos
elementos da cultura corporal de movimento. O esporte enquanto treinamento esportivo
praticado dentro desses projetos, seja da própria escola ou por meio de políticas públicas,
contribui para a privação da convivência entre meninos e meninas, e esta a separação entre
gêneros precisa ser superada no cotidiano escolar.
O esporte enquanto elemento da cultura corporal de movimento inserido no
contexto escolar e desenvolvido contemplando a convivência entre os gêneros, deve
contribuir para a formação integral do indivíduo, seu lugar no mundo, seu papel na
sociedade, ou seja, desenvolvendo-se social e culturalmente, garantindo sua formação
humana e não somente como movimentos repetitivos, desprovidos de aspectos simbólicos
significativos para o desenvolvimento do sujeito enquanto ser crítico.
26
7 REFERÊNCIAS
BRACHT, Valter. Iniciação esportiva, Educação Física e base para o rendimento. Seminário Nacional: Esporte Escolar e Inclusão Social. 2003, Brasília – DF.
BRASIL. MINISTÉRIO DO ESPORTE. Esporte e sociedade. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
_________.Dimensões pedagógicas do Esporte. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
_________. Jogo, corpo e escola. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
_________. Manifestações dos jogos. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
_________.Manifestações dos esportes. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
CAPARROZ, F. E. Entre a Educação Física da Escola e a Educação Física na Escola: A Educação Física como componente curricular.Vitória. Editora UFES, Centro de Educação Física e Desportos, 1997.
CASTELLANI FILHO, Lino. Projeto de reorganização da trajetória escolar no ensino fundamental: uma proposta pedagógica para a Educação Física. Revista da Educação Física. UEM 8, p. 11 a 19, 1997.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo. Editora Cortez, 1992.
ESCOBAR, Micheli Ortega. Cultura corporal e desenvolvimento do esporte escolar. Seminário Nacional: Esporte Escolar e Inclusão Social. 2003, Brasília – DF.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos, 1989.
LIMA, Francis Madlener de; DINIS, Nilson Fernandes. Corpo e gênero nas práticas escolares de educação física. In: SEMANA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, 19., 2005, Curitiba. Anais... Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2005.
MEDEIROS, Mara. Didática e prática de ensino da educação física: para além de uma abordagem formal. Goiânia: Ed. UFG, 1998.
OLIVEIRA, Sávio Assis. Esporte escolar no mesmo time? Seminário Nacional: Esporte Escolar e Inclusão Social. 2003, Brasília – DF.
27
PEREIRA NETTO, Nilo Silva. A superação das construções de gênero no contexto da educação física escolar: algumas reflexões. In: EDUCERE E CONGRESSO NACIONAL DA ÁREA DE EDUCAÇÃO, 5., 3., 2005, Curitiba. Anais... Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2005. p. 1512-1523.
PRADO, Patrícia do. Congada, corpo e cultura na 125ª Festa em Louvor à Nossa Senhora do Rosário. Campinas, SP: [s. n.], 2003.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22.ed.rev. e ampl.de acordo com a ABNT – São Paulo: Cortez, 2002.
SITES:
Brasil. Ministério dos Esportes. Segundo Tempo. Notícias. Segundo Tempo ganha respaldo da ONU. Disponível em http:/portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo/noticia_ detalhe.jsp?idnoticia=3000, acesso em 20/02/2007.
Universidade de Brasília. http://www.cead.unb.br/esporte_escolar/.
Brasil. Ministério dos Esportes. Segundo Tempo. http://portal.esporte.gov.br/snee/ segundotempo/, acesso em 25/08/2007.
28
ANEXO
29