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O Empreendedorismo Compreendido sob a Perspectiva dos Estudos Culturais: A Contribuição Teórica do Circuito da Cultura

Autoria: Simone de Lira Almeida, José Roberto Ferreira Guerra, Fernando Gomes de Paiva Júnior

Resumo A aproximação com o cenário caótico que circunda a produção cultural coloca em relevo a necessidade de se desenvolver uma análise mais complexa acerca do Empreendedorismo. As distinções que separam e enquadram as disciplinas acadêmicas que tratam do tema demarcam a persistência de “blocos” teóricos que não procuram dialogar entre si. Nesse processo de departamentalização do saber, indivíduo, sociedade e organização são vistos como entidades independentes, resultando numa interpretação reificada da realidade social. A urgência de se apontar caminhos alternativos na produção de conhecimento visando à emancipação humana demanda o esforço de ultrapassar limites disciplinares na tentativa de reduzir lacunas epistemológicas entre a teoria, a prática e o contexto social. Nesse sentido, os pesquisadores precisam buscar novas perspectivas teórico-metodológicas que possam refletir a complexidade do mundo contemporâneo. Frente a esse desafio, os Estudos Culturais podem representar uma colaboração alternativa às abordagens clássicas que tratam o Empreendedorismo sob uma ótica econômica ou comportamentalista. Nesse esforço, buscamos responder ao seguinte questionamento: Como os Estudos Culturais podem contribuir com a pesquisa no campo do Empreendedorismo? O referencial teórico questiona a perspectiva atomística do Empreendedorismo, a qual atribui exclusivamente ao indivíduo a responsabilidade do êxito empresarial. Em seguida, apresentamos a dimensão teórica dos Estudos Culturais que podem servir de guia a pesquisas na área do Empreendedorismo. Sugerimos o “circuito de cultura” como uma proposta teórico-metodológica dos Estudos Culturais por enfatizar a necessidade de uma análise integrada entre produção, consumo, representação, identidade e regulação, a fim de se investigar práticas empreendedoras emergentes na contemporaneidade. Ao se reconhecer que todas as práticas sociais são dotadas de significado e, portanto, fundamentalmente culturais, a Cultura deixa de ser tratada como parte subalterna de outros campos temáticos e passa a ser constitutiva do mundo social tanto quanto a Economia e a Política. Por isso, nos últimos tempos, a descrição e a análise cultural adquirem um papel relevante no entendimento das práticas sociais. As considerações gerais sinalizam a perspectiva dos Estudos Culturais como âncora para a construção de um olhar crítico e contra-hegemônico acerca do discurso empreendedor. Quando dirigido por uma abordagem transdisciplinar e contextualizada dos fenômenos investigados, o pressuposto do prisma cultural pode acolher a complexidade do mundo contemporâneo e responder às transformações que atravessam a temática empreendedora.

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1 Introdução

Perguntas como “quem é o empreendedor?” ou “o que é empreendedorismo?” ainda demandam esforços acadêmicos para serem respondidas. No entanto, a investigação sobre o tema [re]produz conceitos hegemônicos e reforça a concepção norte-americana do empreendedorismo heróico (do empreendedor super-herói). Com o intuito de ampliar as possibilidades teórico-metodológicas em relação ao Empreendedorismo, buscamos a perspectiva dos Estudos Culturais para a construção de uma concepção crítica e contra-hegemônica acerca do tópico. Tal argumentação baseia-se no pressuposto de que o prisma cultural, quando dirigido por uma abordagem transdisciplinar e contextualizada de um fenômeno, pode acolher a complexidade do mundo contemporâneo e responder de modo mais efetivo às transformações que atravessam a sociedade atual. Atualmente, o Empreendedorismo é a palavra de ordem quando são colocados lado a lado temas como globalização, desenvolvimento, mercado e inovação, por exemplo. Mas qual o por quê de tal aproximação?

As mudanças vivenciadas no âmbito tecnológico, econômico, social, político e cultural, a partir da segunda metade do século XX vêm modificando o cenário da vida humana e instituindo a sensação de uma mudança de época. A incorporação das tecnologias de comunicação e informação no cotidiano social tem alterado a escopo e a dinâmica da sociedade contemporânea, ao globalizar mercados, modificar a noção de espaço-tempo e permitir a troca quase que instantânea de informações entre pessoas situadas em diferentes partes do globo. Mais do que isso, a incorporação de tais tecnologias no cenário social vem esfumaçando as fronteiras territoriais e acelerando o ritmo de nossas vidas além de sedimentar o capitalismo globalizado. Diante da revolução da tecnologia da informação, os indivíduos encontram-se interligados mesmo quando não se deslocam. Por esse motivo, Castells (2007 argumenta que a revolução da tecnologia da informação vem construindo uma nova morfologia social: a sociedade em rede.

A crescente aproximação entre os povos tem resultado na mundialização da cultura, mas não na sua padronização. A mundialização da cultura ou a sociedade em rede significa correspondem ao conjunto de valores, estilos e formas de pensamento de determinados grupos sociais permeado por um fenômeno social que se enraíza nas práticas cotidianas dos sujeitos para instituir um universo simbólico específico à civilização atual. Trata-se, portanto, de uma redefinição das idéias de pertencimento social, a qual [re]estrutura a visão antropológica de cultura. Deste modo, as divisões binárias estabelecidas entre cultural local e global passam a ser questionadas, posto que o sistema cultural torna-se um mosaico de culturas desterritorizadas (ORTIZ, 2007).

Cabe-nos refletir sobre as questões culturais que não podem mais ser ‘pensadas’ por meio de binarismos, uma vez que o processo de hibridação dissolve a ingênua noção de pureza e insolubilidade dos grupos que se reúnem sob as diferentes identidades nacionais, raciais ou étnicas. Além disso, na vida cotidiana, ocupamos uma gama de posições sociais distintas de maneira que parece difícil separar as identidades construídas em cada um desses espaços e definir os limites entre elas (SILVA, 2000; HALL, 2006). Um exemplo dessa discussão sobre o descentramento das identidades no campo do Empreendedorismo pode ser visto no estudo de Paiva, Almeida e Guerra (2008), onde se protagoniza a figura do “empreendedor humanizado”, como aquele que consegue conectar as diversas esferas da vida social, inclusive o seu ato de empreender como uma de suas muitas expressões.

Diante de uma sociedade culturalmente hibridizada, parece difícil acreditar que o enquadramento disciplinar possa dar conta da diversidade de fenômenos culturais e sociais que caracteriza a contemporaneidade. Além disso, tentamos apontar nessa introdução que a produção de mercadorias está intimamente relacionada com as questões de consumo,

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identidade e representação. As conexões existentes entre essas quatro instâncias ajudam a compor o cenário complexo que circunda os fenômenos sociais na atualidade, o qual se constitui em desafio aos pesquisadores dos Estudos Organizacionais condicionados a investigar a dinâmica da gestão no interior das fronteiras de seu campo disciplinar. Além disso, cabe destacar a crescente aproximação do empreendedor com seus interagentes (clientes, fornecedores, sociedade civil, Governo, stackeholders), o que implica no imperativo de desenvolvermos, como pesquisadores, abordagens multidimensionais que contemplem o empreendedor e o empreendedorismo numa dinâmica mais ampla do que aquela relacionada estritamente com a criação e o desenvolvimento de novos negócios.

A aproximação com o cenário caótico que circunda a dimensão cultural coloca em relevo a necessidade de se desenvolver uma análise mais teoricamente articulada acerca do empreendedorismo. As distinções que separam e enquadram as disciplinas acadêmicas demarcam a persistência de “blocos” teóricos que não procuram dialogar entre si. Nesse processo de departamentalização do saber, indivíduo, sociedade e organização são vistos como entidades independentes, desvinculadas umas das outras. Como resultado tem-se uma interpretação reificada da realidade social.

A urgência de apontar caminhos alternativos que levem a produção do conhecimento que melhore as condições de vida da nossa sociedade reforça a necessidade de ultrapassarmos os limites disciplinares na tentativa de diminuir as lacunas existentes entre a teoria, a prática e o contexto social mais amplo no qual amas estão inseridas. Por isso, os pesquisadores precisam se preocupar, não apenas em se debruçar em temáticas da atualidade, mas também em buscar novas perspectivas, novas formas de construir conhecimento, que possam acolher a complexidade do mundo contemporâneo.

Assim, pretende-se reavivar as discussões sobre a pesquisa no campo do empreendedorismo a partir de um ponto de vista alternativo, que emprega campos teóricos diversos para ressaltar a complexidade da dinâmica organizacional e estabelecer conexões entre temas compartimentados. Ao mesmo tempo, espera-se que a prática da pesquisa se torne instrumento de transformação social e política ao introduzir um novo fôlego para aqueles que se interessam em compreender questões relativas ao mundo dos negócios, por meio de uma tradição de pesquisa que estuda a temática da cultura de forma relacional com outras práticas sociais, econômicas e históricas.

Frente ao desafio apresentado, buscamos inspiração nos Estudos Culturais para revisitar abordagens clássicas que tratam o empreendedorismo sob uma ótica estritamente econômica ou comportamentalista, com objetivo de responder o seguinte questionamento: Como os Estudos Culturais podem contribuir com a pesquisa no campo do empreendedorismo?

Para tanto, desenvolvemos inicialmente um referencial teórico que questiona a perspectiva individualista do empreendedorismo, a qual atribui exclusivamente ao indivíduo a responsabilidade do sucesso empresarial. Em seguida, apresentamos os “sinalizadores” dos Estudos Culturais que podem servir de guia a pesquisa na área do empreendedorismo. Por fim, apresentamos o circuito de cultura, dentre as diversas propostas teórico-metodológica dos Estudos Culturais, para enfatizar a necessidade de uma análise integrada entre produção, consumo, representação, identidade e regulação para se investigar as práticas empreendedoras na contemporaneidade. 2 Em Defesa de uma Visão Crítica do Empreendedorismo

A reestruturação produtiva provocada pela crise capitalista, além de instituir a

especialização flexível com apoio das tecnologias de informação, contribui para o surgimento do fenômeno denominado “fim do emprego”, conseqüência do aprofundamento dos processos associados à globalização, downsizing e reengenharia, no final do século XX (RIFKIN, 2004).

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Deste modo, novas formas de tecnologia gerencial emergem como alternativas de empregabilidade. O empreendedorismo surgei, nesse cenário, como mais um caminho a ser ofertado para a geração de empregos, contribuindo para a diminuição do índice de mortalidade das pequenas empresas e para o desenvolvimento local (PAIVA JR.; CORDEIRO, 2002; PAIVA JR.; CORRÊA; SOUZA, 2006).

Ao mesmo tempo em que o declínio do número de empregos contribui para o crescente interesse da iniciativa privada e dos órgãos públicos pela prática empreendedora como caminho alternativo para a geração de trabalho, emprego e renda, verifica-se o aumento de pesquisas e estudos acadêmicos sobre o empreendedorismo. No entanto, a busca por uma definição do termo se revela como um desafio acadêmico ainda não suplantado, cujas formas de expressão são múltiplas e as concepções, genéricas e ambíguas resultam na polissemia do termo (PAIVA JR., 2004). Estes aspectos aclaram a dificuldade de encerrar numa definição genérica do conceito de empreendedorismo, além de deixarem à mostra a fragilidade de um discurso dominante (cf. PAIVA JR; ALMEIDA; GUERRA, 2008; OGBOR, 2000).

Em termos conceituais, há pouca concordância sobre o que seria empreendedorismo. Julien (2010) ressalta que, mesmo nas concepções que se limitam ao empreendedorismo individual, podemos encontrar pelo menos quatro definições distintas para o termo: 1) as que se referirem à criação de uma empresa nova inovadora; 2) as que se direcionam à criação de empresa a partir da reprodução ou imitação de outras organizações; 3) as que mencionam à retomada de uma empresa existente com a introdução de mudanças e, 4) as que visam ampliar o mercado de organizações estabelecidas por meio do intra-empreendorismo.

A polissemia associada à palavra empreendedorismo também pode ser compreendida quando reconhecemos o fato das definições serem propostas por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, os quais se fundamentam nos paradigmas de seu campo disciplinar para construção de um conceito. Assim, não é surpresa que economistas, a exemplo de Cantillon, Say e Schumpeter, associem o empreendedorismo à inovação e ao crescimento econômico, enquanto estudiosos ligados a áreas como psicologia, psicanálise e sociologia se direcionem a aspectos criativos e intuitivos do empreendedor (FILION, 1999).

O que parece consensual entre os estudiosos do tema é o fato de o empreendedorismo não poder ser encerrado em uma definição universal, uma vez que isso não traduz a complexidade do fenômeno. A utilização do conceito multidimensional – que envolve o empreendedor, a empresa e o ambiente – justifica-se por representar uma concepção mais ampliada do assunto e por renunciar ao formato reducionista de compreensão do fenômeno apenas como prática de abertura de empresa ou de intervenção em seu exercício funcional somente durante a primeira etapa de seu ciclo de vida (DANJOU, 2002).

Com presença constante nos meios de comunicação, o discurso dominante do empreendedorismo configura-se por um perfil reificado e atomizado, cujas ações são pautadas pela racionalidade instrumental, a exemplo do entendimento de ferramentas como o plano de negócios sendo o elemento primordial do empreendedorismo (MEYER; ALLEN, 2000; ZACHARAKIS, 2004). As concepções atomísticas sobre o empreendedorismo tendem a associar o fenômeno a projetos individuais “aventureiros” além de postular um profissional capaz de tomar decisões de forma racional com base em um conhecimento sistematizado e especializado.

A Management Systems International (1999), por exemplo, lista treze características marcantes dos empreendedores bem sucedidos classificadas em três dimensões: a de realização, composta por busca de oportunidades, iniciativa, persistência, aceitação de riscos e comprometimento; a de planejamento, composta por estabelecimento de metas, busca de informações, planejamento e monitoramento, e, por fim, a dimensão do poder, composta por persuasão, estabelecimento de redes de contato, liderança, independência e autoconfiança. Neste tipo de abordagem a capacidade de empreender tende a ser vinculada aos atributos

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individuais de forma que recaem sobre o indivíduo maior responsabilidade e tensão. A ênfase nos padrões comportamentais do empreendedor implicitamente sugere que a

saída do desemprego passa a ser de responsabilidade individual, cabendo às pessoas se adequarem ao mercado, aprimorando seus “talentos” e adquirindo competências para tornar-se empregado ou criar oportunidades de “empresariar a si mesmo”. Como conseqüência, a figura do homem de sucesso, pertencente às classes dominantes é vista como o arquétipo do empreendedor no discurso hegemônico, de tal forma que grupos minoritários, como as mulheres, os negros, os homossexuais e as comunidades carentes, enfrentam um número maior de barreiras para desenvolver práticas produtivas e inovadoras de empreendimentos (OGBOR, 2000). Por isso, estudos críticos visam denunciar e renunciar às grandes narrativas que são tomadas como naturais e servem de legitimação para a cultura ocidental contemporânea marcada pela exclusão e desigualdade socioeconômica.

Além disso, a complexidade da ação empreendedora não permite que o assunto seja abordado com profundidade quando se tem uma concepção fragmentada, determinista e a-histórica da ação humana, principalmente porque nenhum ser humano age unicamente pela racionalidade instrumental nem vive dissociado do seu contexto cultural. Para Dodd (2007), conceber o empreendedor atomizado e isolado como um agente de mudança significa ignorar o meio que gera suporte, dirige, produz e acolhe o processo empreendedor. Esse ator encontra a esfera social, molda-se por ela e a utiliza para mudar a estrutura de sua agência.

O olhar multidimensional do fenômeno empreendedor tem recebido certa atenção, não apenas devido às limitações e dificuldades metodológicas inerentes ao tratamento isolado das abordagens dos traços e da orientação de comportamentos e de processos (VERSTRAETE, 2001; DANJOU, 2002), como também devido à tentativa de destacar as especificidades da prática empreendedora local e sua relação com contexto sócio-cultural (JULIAN, 2010).

Ao compreender que a fragmentação das disciplinas não consegue revelar a complexidade do empreendedorismo, alguns autores passaram a desenvolver abordagens diferentes da corrente hegemônica. Julien (2010) fundamenta-se na idéia de território para subverter o modelo dominante de empreendedorismo concebido para ser, em sua essência, indiferente ao meio (melie) no qual está inserido. A discussão acerca do território valoriza a diversidade dos indivíduos, dos ambientes socioeconômicos, das formas organizacionais e do tempo, contribuindo assim para desconstrução de abordagens teóricas universalizantes acerca do tema. Por sua vez, Danjou (2002) sugere três focos a serem analisados na tentativa de explicar a dinâmica empreendedora: a) o contexto, correspondente à condições ou efeitos da ação empreendedora, originando-se dos campos da economia, sociologia e antropologia; b) a do ator, sendo este o empreendedor, originando-se a partir da psicologia; e c) a da ação, como sendo o processo empreendedor, originando-se de estudos organizacionais.

Uma visão sistêmica é proposta por Verstraete (2001), quando argumenta que a análise do empreendedorismo exige a integração de três níveis: o empreendedorismo como fenômeno, o empreendedor como ator, e a organização impulsionada pelo ator empreendedor. Na inter-relação destes níveis, três dimensões indissociáveis e irredutíveis surgem como pilares conceituais para dar solidez ao modelo: a dimensão cognitiva, a dimensão praxiológica e a dimensão estrutural. As três dimensões estabelecem as condições para a materialização da visão empreendedora e para o posicionamento de sua estrutura no meio ambiente. Nessa perspectiva, o empreendedor é visto como um criador de organizações e o empreendedorismo como fruto da relação dialética empreendedor-organização, agente-estrutura.

Essas abordagens reconhecem o empreendedorismo como um fenômeno sociocultural e o empreendedor como um ser que não pode agir isoladamente na medida em que está ligado à coletividade. Neste sentido, a dimensão cultural auxilia na desmistificação da idéia dominante de que a ação empreendedora é movida, unicamente, por uma lógica utilitarista. Por outro lado, a noção de cultura presente nesses estudos considera o social e o cultural como

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elementos constitutivos de um sistema sociocultural único. Ou seja, a cultura é vista como uma variável superestrutural que atua diretamente sobre o comportamento empreendedor e as práticas organizacionais. Isso significa que, para fins de pesquisa, a organização e o empreendedor tendem a refletir os traços de sua comunidade. Dentro dessa linha de pesquisa encontram-se discussões a respeito da cultura nacional como um elemento marcante na atitude empreendedora (SOUZA; DEPIERI, 2007) e na formação da cultura empresarial (MOTTA; CALDAS, 1997).

Os limites dessas concepções residem no entendimento da cultura por um ponto de vista exclusivamente antropológico. Ainda que, na perspectiva antropológica, a dimensão simbólica seja considerada adequada para integrar todos os aspectos da prática social, não existe nessa visão uma preocupação em se estabelecer relações entre as representações e o poder (EAGLETON, 2005). Além disso, os acontecimentos que caracterizam a pós-modernidade vêm subvertendo a idéia tradicional de cultura como propriedade natural e autêntica de populações circunscritas em limites territoriais específicos. Ressaltamos que cultura deixa de se localizar dentro de contornos precisos para se situar no entre-lugar onde as diferentes esferas da experiência social, frequentemente postas em oposição, se encontram. Desta forma, o passado e o presente, o privado e o público, o psíquico e o social, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas. Ou seja, as culturas continuem tendo seus ‘locais’, embora já não se possa dizer de onde elas se originam (BHABHA, 1998), afinal o local e o global estão ligados um ao outro, não porque este seja oposto daquele, mas porque cada um tornou-se a condição de existência do outro (ORTIZ, 2007; HALL, 2006).

A dimensão cultural mostra-se fortemente imbricada com questões sociopolíticas e econômicas. Desta forma, concordamos com Boava e Macedo (2006) quando estes mencionam que a compreensão do empreendedorismo exige uma abordagem multidimensional em função do caráter inter, multi e transdisciplinar do fenômeno. Entretanto, não podemos ignorar que a cultura também envolve questões poder. Ela “não é um campo autônomo nem externamente determinado, mas um local de diferenças e de lutas sociais” (JOHNSON, 2006, p. 13). Por isso, adotamos a perspectiva crítica dos Estudos Culturais para minar categorias analíticas preestabelecidas, reduzir fronteiras dos campos disciplinares e expor os movimentos acadêmicos que contribuem para hegemonia de certos discursos acerca do empreendedorismo.

Para evitar separações rígidas entre domínios inter-relacionados e fugir de interpretações reducionistas sobre a prática empreendedora, recorremos à perspectiva dos Estudos Culturais para valorizar o contexto sócio-histórico da ação humana e, ao mesmo tempo, propor uma mudança na nossa maneira de pensar e investigar a cultura e suas relações com o poder e as práticas organizacionais. Dessa forma, acreditamos estar mais propensos à construção de uma teoria auto-reflexiva, inspiradora a compreensão de diferentes formatos de empreendedorismo. 3 Um Olhar Sobre os Estudos Culturais

Não existe um consenso sobre o que seriam os Estudos Culturais, nem mesmo sobre seu ponto de origem teórica ou geográfica. É a narrativa dominante sobre os Estudos Culturais que atribui o surgimento dessa tradição teórica a convergência de campos disciplinares como os Estudos Literários, a Sociologia, a Comunicação e a Lingüística durante os anos 1950 na Inglaterra por meio dos esforços de pesquisadores como Richard Hoggart, Raymond Williams, E. P. Thompson, Stuart Hall e Richard Jonhson, os quais colaboraram com a fundação e a manutenção do Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS) na Universidade de Birmingham (ESCOSTEGUY, 2006).

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O termo “Estudos Culturais” não se refere apenas a um estudo sobre cultura, já que essa tradição de pesquisa tem se preocupado mais em expor o como e o porquê desse trabalho do que apontar seus interesses temáticos. O diferencial dos Estudos Culturais pode ser reconhecido pela maneira como seus praticantes desenvolvem seus esforços intelectuais. Esses atores não identificam suas investigações tão somente como crônicas da mudança social, mas como uma intervenção nessa mudança. Eles vêem a si próprios como participantes politicamente engajados em lugar de estudiosos fornecendo determinado relato. Eles também compartilham do compromisso de pesquisar práticas culturais do ponto de vista de seu envolvimento com e no interior de relações de poder (NELSON; TREICHLER; GROSSBERG, 2002).

Isso não significa que a cultura torna-se uma instância secundária. Ela apenas recebe um tratamento interdisciplinar que contesta a divisão entre diferentes áreas do conhecimento para compreensão dos fenômenos sociais, diferentemente da noção de cultura empregada nos Estudos Organizacionais (ALMEIDA, GUERRA, PAIVA Jr. 2009). As pesquisas pautadas nos Estudos Culturais buscam a interdisciplinaridade como forma de superar a divisão do pensamento provocado pelo paradigma moderno e de produzir um entendimento denso acerca dos aspectos culturais da sociedade contemporânea.

A noção de cultura nos Estudos Culturais difere da perspectiva antropológica comumente encontrada na pesquisa do empreendedorismo. O estudo de Souza e Depieri (2007), por exemplo, aponta a influência da cultura nacional sobre os traços de personalidade do empreendedor. Já Malach-Pines et al. (2005) investigam as diferenças culturais entre países e sua relação sobre a manifestação do empreendedorismo. Em ambos os estudos a cultura é tratada como variável superestrutural pertencente a territórios específicos e desvinculada da outras dimensões sociais igualmente responsáveis pela geração de sentido.

A interdisciplinaridade presente nos Estudos Culturais se recusa a definir a cultura de forma isolada das demais dimensões da vida social. Isso faz com que os Estudos Culturais alcancem tanto uma concepção antropológica de cultura, quanto uma concepção humanística, na medida em que interagem continuamente com o político, o econômico, o social e o ideológico (NELSON; TREICHLER; GROSSBERG, 2002). Desta forma, os aspectos específicos de uma sociedade continuam sendo válidos, mas estes já não são vistos fora da história global.

Os Estudos Culturais podem ser concebidos como uma construção discursiva caracterizada, sobretudo, pela abertura conceitual, que nos permite pensar o objeto sob o espectro de um leque de opções teóricas, nem se reduz a um pluralismo simplista ou à falta de teoria (HALL, 2006). A interdisciplinaridade dos Estudos Culturais, que se aproxima de uma antidisciplina, faz com que as investigações inspiradas nessa corrente se alinhem à complexidade da realidade contemporânea, principalmente quando nos aproximamos da cultura. Conforme destaca Johnson (2004), os processos culturais ultrapassam os contornos das disciplinas acadêmicas, por isso os Estudos Culturais recusam o fechamento disciplinar, já que nenhuma disciplina, na forma que existe, é capaz de apreender a plena complexidade de tais processos.

A abertura conceitual promovida pelos Estudos Culturais alinha-se a crítica de um conceito universal de empreendedorismo e rompe com a idéia de um modelo gerencial que gira em torno da restrição de gênero e etnia para as práticas empreendedoras. Ao mesmo tempo, tal concepção aborda a ação do empreendedor de forma relacional articulando indivíduo, organização e ambiente em uma interação dialógica para a criação de significado, ao invés de compreendê-la de forma individualizada e compartimentada.

Contudo, o caráter interdisciplinar e transdisciplinarii dos Estudos Culturais não deve ser confundido com a capacidade de se alcançar o fenômeno em sua totalidade. Embora, haja a ambição de articular campos desmembrados pelas disciplinas, os pesquisadores da cultura

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precisam reconhecer que sempre irão investigar uma área de deslocamento. Isso sugere a emergência de um movimento voltado para a construção, desconstrução e reconstrução do intercâmbio indivíduo-organização em determinada realidade sócio-histórica.

Essas preocupações ontológicas e epistemológicas na arena da cultura não se restringem à análise de formas culturais consagradas, senão dirigem-se, principalmente, às diversas modalidades de como os artefatos culturais são produzidos e consumidos no cotidiano. Além disso, manifestam a necessidade de se compreender a autonomia relativa entre as instâncias de produção e consumo do bem cultural por meio de uma abordagem relacional.

Outra rubrica dos Estudos Culturais residem no olhar político que destaca as práticas culturais em relação com e no interior das estruturas de poder (NELSON; TREICHLER; GROSSBERG, 2002). São essas articulações que demarcam a proximidade das formas culturais com forças históricas, colocando-nos diante do esforço de entender a cultura e suas representações não apenas como formas de expressão artística. Esse entendimento nos remonta ao conceito antropológico de cultura, o qual entende as formas de viver, pensar e sentir de um grupo social como representações da cultura (MATTERLAT; NEVEU, 2006), sem negar seu processo de mundialização.

Essas observações sugerem a impossibilidade de se estabelecer uma definição essencial ou narrativa única dos Estudos Culturais mesmo que existam pressões para isso acontecer. De fato, a necessidade de se identificar os “sinalizadores” que nos ajudarão a estabelecer as relações mútuas entre diferentes abordagens parece ser mais importante do que uma definição para estabelecer os limites desse campo de pesquisa (JOHNSON, 2006; HALL, 2006).

Uma marca importante dos Estudos Culturais reside no espírito crítico sobre outras tradições teóricas e metodológicas. O pensamento crítico, que permite abordar outras tradições “tanto pelas suas contribuições quanto pelo que elas podem inibir” (JOHNSON, 2006, p. 10), esteve sempre presente na história dos Estudos Culturais, tal como aconteceu com os estudiosos que se debruçaram sobre o velho marxismo.

A gênese dos Estudos Culturais manteve uma aproximação com o marxismo que foi assumido “como problema, dificuldade e não como solução”, uma vez que os estudiosos que se envolveram com o desenvolvimento desse campo têm como ponto de partida sua participação na Nova Esquerda britânica. Não foram questões teóricas que fizeram os fundadores dos Estudos Culturais encararem o marxismo como problema, mas o momento de desintegração do próprio projeto histórico-político marxista que coincide com a emergência da primeira Nova Esquerda em 1958. Hall (2006) relembra que por influência do marxismo foram inseridas na agenda política dos Estudos Culturais questões como

o poder, a extensão global e as capacidades de realização histórica do capital; a questão da classe social; os relacionamentos complexos entre poder [...] e exploração; a questão de uma teoria geral que poderia ligar, sob uma reflexão crítica, os domínios distintos da vida, a política e a teoria,a a teoria e a prática, questões econômica, políticas, ideológicas, e assim por diante; a própria noção de conhecimento crítico e a sua produção como prática (HALL, 2006, p. 191).

Ao exporem tais proposições advindas da influência do marxismo sobre o pensamento europeu, os estudiosos dos estudos culturais assumiram a tarefa de trabalhar sobre, sob e ao lado do marxismo e em alguns momentos colocando-se contra ele na tentativa de desenvolvê-lo. Essa postura deu-se em virtude de eles verem na teoria marxista insuficiências e ausências de alguns temas que viriam a ser primordiais para a construção teórica do novo campo que se iniciava: cultura, ideologia, linguagem e o simbólico (Ibid).

Sobre essa questão, Hall (2006) afirma que os estudos culturais devem ser compreendidos como um “envolvimento com um problema” e não com a problemática ou a teoria marxista. Os pontos de crítica e superação da teoria marxista são debatidos pelo autor

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no que concerne ao economicismo e ao reducionismo presentes no marxismo; à contestação dos conceitos de base e superestrutura que tentavam pensar as relações estabelecidas entre a economia, a sociedade e a cultura; à questão da falsa consciência; e, por fim, ao eurocentrismo. Nesse sentido, os deslocamentos teóricos realizados nos estudos culturais se repercutem na construção de um olhar pautado no entendimento de uma “autonomia relativa” das dimensões da economia, da cultura e do político, que constituem estruturas complexas intercambiáveis e não apenas totalidades autônomas (ESCOSTEGUY, 2006).

Outras críticas importantes surgiram do movimento feminista e das lutas contra o racismo. O feminismo contribuiu para reorganizar o campo de maneira concreta. Primeiro, ao expandir a noção de poder. Segundo, ao diminuir as fronteira entre as chamadas humanidades e as ciências social ao fazer com que questões literárias, estéticas e psicanalíticas sejam relacionadas com questões sociais. Terceiro, ao valorizar as experiências vividas. Quarto, ao dar visibilidade a novos sujeitos. Quinto, ao tornar visível o interesse masculino que tem sustentado a maior parte das pesquisas sociais (TERRAGNI, 2005). Por sua vez, os movimentos anti-racismo fizeram com que os estudos culturais incluíssem na sua agenda as “questões críticas de raça, a política racial, a resistência ao racismo, questões críticas da política cultural” (HALL, 2006, p. 197).

No âmbito do empreendedorismo, pesquisas com vieses feministas contribuem para desmistificação do discurso dominante ao darem atenção à perpetuação, produção e reprodução do padrão masculinizado de empreender. A necessidade de se afastar de concepções masculinas se faz presente até nos estudos sobre o empreendedorismo feminino, pois, segundo Ogbor (2000), muitas pesquisas usam o gênero masculino como parâmetro de comparação para estudar as mulheres empreendedoras. Sob esta perspectiva, as mulheres implicitamente são estimuladas a adotar características de pessoas agressivas, independentes e individualistas, igualando sua postura a do gênero masculino para legitimar sua posição na estrutura organizacional. Por isso, Terragni (2005) defende a mudança filosófica da pesquisa de gênero, e não apenas a substituição do objeto de pesquisa “macho” pelo objeto de pesquisa “fêmea”.

A crítica ao modelo dominante de pesquisa instituída a partir do movimento feminista emergente em meados dos anos 1970 mostra que a abordagem de gênero vincula-se a interesses políticos que extrapola o debate da academia (ÁVILA , 2007). A conexão entre pesquisa e política fica explícita quando entendemos que os Estudos Culturais podem ser considerados como um projeto de alcance político (“correção política”) e como um campo interdisciplinar de convergência de preocupações e métodos de pesquisa que buscam contribuir para o entendimento e fortalecimento das mudanças sociais (ESCOSTEGUY, 2006) e de grupos considerados periféricos. Um dos princípios que norteiam o esforço acadêmico de seus pesquisadores é “a função intelectual” em nossa sociedade, buscando estabelecer um esforço que “tenha um envolvimento visceral, e não simplesmente profissional ou acadêmico, com os problemas” (SCHULMAN, 2006, p. 202).

Além das intervenções dos movimentos sociais nos trabalho do CCCS, a leitura das obras de Gramsci serviu para embasar a reflexão dos intelectuais que se debruçavam sobre as questões políticas referentes aos estudos culturais. Essa demarcação coloca em relevo o imperativo de se pensar o conhecimento como algo que deve prioritariamente ser difundido, atribuindo-o uma força política e uma responsabilidade que o aproxima de uma prática política. Hall (2006, p. 195) aponta que “qualquer avanço teórico” realizado por intelectuais orgânicos “será acompanhado por um envolvimento no nível do projeto político”. O desenvolvimento da prática política que vem a caracterizar os estudos culturais coloca tal construção teórica num plano em que o convívio com tensões será uma constante.

Outro ponto de reflexão que resultou numa reconfiguração da teoria até então construída no CCCS foi a “virada lingüística”, ou como coloca Hall, “a descoberta da discursividade, da

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textualidade” (Ibid, p. 198). A partir desse momento, a cultura passou a ser analisada por meio das metáforas da linguagem e da textualidade, que para o autor estavam sempre implícitas no conceito de cultura. Como a linguagem e o texto são difíceis de serem capturados e significados de forma estanque, a cultura passaria a ser trabalhada sempre numa zona de deslocamentos de sentidos. Sobre eles, Hall declara que

há sempre algo descentrado no meio cultural [...], na linguagem, na textualidade, na significação; há algo que constantemente escapa e foge à tentativa de ligação, direta e imediata, com outras estruturas. [...] dos textos como fontes de poder, da textualidade como local de representação e de resistência, nenhuma destas questões poderá jamais ser apagada dos estudos culturais (HALL, 2006, p. 199).

Esse contexto marcado por incertezas não constitui um imenso vazio teórico. É nele que Hall vê a chance de produzirmos uma “política da teoria” baseada num enfrentamento dialógico, no qual o conhecimento é debatido. Desta forma, o autor reconhece o avanço teórico assentado na luta com e contra as teorias, no sentido de não aceitar sua autoridade como se fosse divina, e afirma que “a única teoria que vale a pena reter é aquela que você tem de contestar, não a que você fala com profunda fluência” (Ibid, p. 204).

Com anseio de negar a concepção determinista e reducionista de cultura e compreender as premissas apontadas anteriormente, apresentaremos o circuito de cultura de Du Gay et al (1997), por acreditar que esse protocolo analítico é capaz de responder as mudanças econômicas, políticas e sociais que se sustentam no plano das significações, além de se aproximar da prática dinâmica e multifacetada do empreendedorismo. 4 O Circuito da Cultura no Entendimento da Ação Empreendedora

No âmbito organizacional, o tema cultura tornou-se foco de interesse tanto dos

acadêmicos, quanto dos gestores apenas na década de 1980, embora o conceito já estivesse presente no campo organizacional desde os anos 1940 e 1950, através dos estudos de Elliot Jacques (SILVA, 2002). Dois motivos são apontados com freqüência para explicar o súbito interesse pelo conceito de cultura na área organizacional. O primeiro foi a tentativa de explicar o mau desempenho e estagnação das empresas americanas entre as décadas de 60 e 70 visando desenvolver instrumentos de intervenção capazes de restaurar a excelente condição passada de tais organizações. Outro argumento refere-se ao ganho de competitividade das empresas japonesas. As análises organizacionais propuseram explicar o bom desempenho japonês por meio de variáveis culturais. Partindo deste entendimento haveria culturas favoráveis e outras desfavoráveis à boa atuação empresarial (BERTERO, 1989; FREITAS, 1991).

O conceito de cultura surgiu no campo da administração como uma alternativa para incrementar a atividade empresarial e a concorrência, de tal forma que essa dimensão, até então intangível, tornou-se instrumentalizada e adotada por grande parte dos pesquisadores que trabalharam sobre o tema. Freitas (1991) confirma este argumento ao examinar a bibliografia norte-americana sobre cultura organizacional entre os anos de 1979 e 1989. A autora aponta que a perspectiva funcionalista da cultura organizacional adquiriu significação não apenas como categoria de análise organizacional, mas, principalmente, como um instrumento a ser otimizado na condução dos negócios. Ela explica que embora alguns autores não acreditem que a cultura exerça influência no desempenho da organização “em termos de expressão quantitativa, é maior a produção dos que defendem a posição contrária” (FREITAS, 1991, p. 80).

Uma segunda corrente de pesquisa, considerada mais crítica e sofisticada quando comparada a abordagem instrumental apresentada anteriormente, questiona-se a respeito do

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significado do universo simbólico das organizações e não aceita o pressuposto de que a cultura organizacional possa ser gerenciada. Trata-se de uma abordagem antropológica, que utiliza os escritos de Geertz e recebe influências de Parsons sobre a existência de um domínio cultural simbólico distinto, e de Weber, sob o ponto de vista interpretativo (CARRIERI; RODRIGUES, 2001; MASCARENHAS, 2002; JAIME JR. 2002).

Alguns estudos procuram demonstrar como a adoção da perspectiva antropológica aborda de forma diferenciada a discussão sobre cultura no contexto organizacional, seja apresentando as contribuições dessa perspectiva como uma possibilidade de superação dos limites deixados pela corrente funcionalista (BARBOSA, 1996; JAIME JR. 2002) ou mostrando como métodos tradicionalmente utilizados pela antropologia, tais como etnografia (MASCARENHAS, 2002; HORTA, 2007) e hermenêutica (JAIME JR. 2002; ROSA; TURETA; BRITO, 2006) podem ser úteis para uma interpretação minuciosa da dinâmica sociocultural em uma organização. O que acontece, porém, é que classificações bipolares produzem a ilusão de que os debates sobre cultura não podem existir fora destes paradigmas. Desta forma, a visão institucionalizada sobre a temática da cultura no contexto organizacional pode representar um obstáculo ao avanço do conhecimento.

No entanto, a “virada cultural” promovida nas ciências sociais e humanas especialmente pelos Estudos Culturais tende a enfatizar importância do significado na definição da cultura. A cultura deixa de ser entendida como um conjunto de artefatos, valores ou práticas específicas para se concebida a partir do ato de produção e transformação de significados entre os membros de uma sociedade ou grupo. Conforme argumenta Hall (1997, p. 3), “a cultura está envolvida em todas as práticas que são dotadas de significado e valores por nós, que precisam ser significativamente interpretada por outros, ou que dependem do significado para sua efetiva atuação”.

Por esse ponto de vista, as práticas sociais precisam ser dotadas de significado para existir, ou seja, a produção de significado social torna-se precondição necessária a produção de todas as práticas sociais. Ao reconhecer que todas as práticas sociais são significativas e, portanto fundamentalmente culturais, a cultura deixa de ser tratada como reflexo de outros processos e passa a ser considerada tão constitutiva do mundo social quanto à economia e a política, por exemplo (Du Gay et al, 1997). Por isso, nos últimos tempos, a descrição e a análise cultural adquirem um papel relevante no entendimento das práticas sociais.

A proposta dos Estudos Culturais sugere que o significado não se origina da prática em si, mas é produzido e transformado em cada interação pessoal e social. O significado de um produto cultural, por exemplo, não se encontra no objeto, nem sua atribuição ocorre no momento da produção. O significado é produzido em locais diferentes e circula por meio de diferentes processos e práticas.

O circuito de cultura, apresentado por Du Gay et al (1997), desenvolve esse argumento ao mostrar que os significados atribuídos aos produtos culturais são resultados provisóriosiii de uma combinação de processos. O modelo teórico adotado pelo autor, para analisar o caso do Walkman da Sony, articulaiv cinco processos culturais distintos - representação, identidade, produção, consumo e regulação - cuja interação pode levar a resultados variáveis e contingentes (Figura 1). Em conjunto, os cinco processos formam um tipo de circuito – chamado circuito de cultura – por meio do qual a análise de qualquer artefato cultural deve percorrer se deseja ser adequadamente estudado.

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Figura 1: O circuito da cultura (DU GAY et al., 1997, p. 03). Por isso, o significado não deriva diretamente do objeto, mas da articulação dos cinco

momentos do processo que juntos estabelecem um espaço cultural no qual esse significado é criado, modificado e recriado. Assim, ao invés de privilegiar um fenômeno singular – tal como o processo de produção - para explicar o significado de determinado artefato cultural, o circuito privilegia a combinação de processos distintos.

Em termos de operacionalização investigativa, não importa em que ponto do circuito a análise seja iniciada, já que será preciso percorrer todo o ciclo para concluir o estudo do artefato cultural. Embora as diferentes partes do circuito possam ser trabalhadas em seções distintas, no mundo real eles se entrelaçam de modo complexo e contingente. Assim, cada elemento do circulo precisa ser retomado e reaparecer na seção seguinte.

Modelo semelhante do circuito de cultura pode ser encontrado em Johnson (2006). Na composição do autor, a compreensão dos significados de um produto cultural passa pelo entendimento das condições específicas do momento de produção e de consumo. Cada um desses momentos relaciona-se entre si, além de estarem vinculados às relações sociais e às culturas vividas, ou seja, aos elementos culturais existentes no meio social que pautam o espaço da produção e do consumo.

Tanto o modelo de Du Gay et al (1997) quanto o de Johnson (2006) prevêem a existência de condições materiais e culturais, em cada momento do ciclo, por isso o circuito de cultura é, ao mesmo tempo, um circuito de capital e um circuito de produção e circulação de formas subjetivas. O circuito, além de envolver o movimento entre formas concretas e abstratas, oscila entre o público e o privado, ou seja, também abarca o movimento entre o coletivo e particular. Assim, cada ponto do circuito - embora dependa dos outros e seja indispensável para o todo - é responsável por mudanças nas formas produzidas/consumidas em função de suas características distintas.

Johnson (2006) clarifica as implicações do circuito de cultura para uma abordagem interdisciplinar dos produtos culturais, a partir do exemplo do carro inglês chamado Mini-Metro. O autor comenta que ao longo da história do automóvel, o produto cultural se desloca de formas mais concreto a outras mais abstratas; passando de algo privado para se torna público em determinada ocasião. Para esse seguidor dos Estudos Culturais são as diferentes formas assumidas pelo artefato cultural ao longo do circuito que destacam as lutas geradas em torno do seu significado.

O circuito de cultura ajuda-nos a compreender que não existe um significado fixo no produto cultural que possa ser transportado de forma estável para diferentes situações. A dinâmica do processo cultural revela que a interpretação de um artefato cultural é aberta, possui leituras diversas, depende do ponto de vista, dos valores, das crenças, dos interesses e

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das expectativas de quem o decodifica. Por isso, os significados atribuídos ao produto podem ser múltiplos a ponto de se tornarem até conflitantes.

A concepção integradora do circuito também considera as contingências das circunstâncias de produção, circulação e consumo. Por isso, os significados atribuídos ao produto cultural são situados em momentos sócio-históricos particulares.

O circuito de cultura pode servir de protocolo teórico-medológico à pesquisa do empreendedorismo rediscutindo, por exemplo, o caráter complexo e situacional da inovação. As idéias de novidade e de mudanças, que fazem parte da maioria das definições de inovação nos últimos 30 ou 40 anos (MOREIRA; QUEIROZ, 2007), podem ser investigadas a partir de uma perspectiva relacional, dinâmica e contextualizada, na medida em que o significado da inovação deixa de se localizar no objeto/serviço em si e passa a ser constituído pela articulação dos cinco processos do circuito de cultura. 5 Considerações Gerais

O destaque de algumas conclusões emergentes deste ensaio teórico nos faz retornar à indagação inicial: Como os Estudos Culturais podem contribuir com a pesquisa no campo do empreendedorismo?

Historicamente, a pesquisa acerca do empreendedorismo vem sofrendo grande influência da economia e da psicologia. As primeiras fases de estudos sobre esse fenômeno compreendem uma orientação econômica e comportamentalista, ao imprimir a naturalização da postura utilitarista e individualista do empreendedor. Portanto, as abordagens iniciais de pesquisa favorecem o estereótipo do empreendedor-herói, reproduzindo as características pessoais que colaboram para uma prática inovativa, ao mesmo tempo em que negligencia a natureza relacional dos indivíduos e a possibilidade de adoção de conceitos mais amplos no campo do empreendedorismo. Em vista disso, o entendimento desse campo sob o marco de uma lente unidimensional e funcionalista poderia não contemplar a complexidade do fenômeno.

Embora áreas do conhecimento como a Sociologia, a Psicologia e a Economia tenham contribuído com estudos voltados para a descoberta de novos caminhos epistemo-metodológicos no âmbito da pesquisa em Empreendedorismo, a utilização de diferentes tradições teóricas na construção do pensamento no campo do Empreendedorismo se manifesta ainda de forma desagregada e compartimentada.

A necessidade de se reconstruir o pensamento em empreendedorismo e sobre a cultura se impõe devido às profundas transformações por que passa a sociedade contemporânea. Nesse escopo, os Estudos Culturais trazem deslocamentos teóricos em torno da temática cultural, de modo a contribuir para a pesquisa no campo do empreendedorismo ao incentivar uma reflexão teórica que partilhe do interesse de se investigar os aspectos relativos às ideologias, ao domínio simbólico e ao poder subjacentes à ação empreendedora. Desta forma, existe a possibilidade de se extrapolar concepções clássicas de cultura direcionadas por um olhar funcionalista ou reducionista das formas culturais e de suas relações com as organizações e a sociedade.

Sob o prisma dos Estudos Culturais, a pesquisa do empreendedorismo se contrapõe às perspectivas vigentes que entendem a cultura ora como um constructo manipulável que pode melhorar o desempenho empresarial, ora alheia às questões de poder ou, em último caso, como uma variável superestrutural que invisibiliza a ação política do indivíduo. O caráter complexo do empreendedorismo, bem como sua interação com a cultura e outros fatores sociais, evidencia a necessidade de uma concepção multidisciplinar do fenômeno que considere, sobretudo, seu contexto sócio-histórico. Além disso, as relações de poder entrelaçadas no processo de significação da prática empreendedora, geralmente deixadas em

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segundo plano nas pesquisas sobre empreendedorismo, podem ser trabalhadas no modelo teórico do circuito da cultura desenvolvido por Du Gay et al. (1997).

A abertura e flexibilidade teóricas dos Estudos Culturais se aproximam da dinamicidade do cotidiano empreendedor. Por isso, o formato de pesquisa desse campo de estudo se distancia dos modelos tradicionais que não conseguem ir além da unidimensionalidade da leitura do fenômeno empreendedor. O aporte dos Estudos Culturais como âncora epistemológica contribui para o entendimento do empreendedorismo na condição de uma experiência multifacetada. Nessa arena, conflitos e nuances sociais, econômicos, políticos e tecnológicos interagem continuamente de modo a configurarem um todo heterogêneo e repleto de vieses advindos de discursos controversos e paradoxais.

O circuito de cultura surge na condição de alternativa teórico-metodológica à interpretação reducionista e determinística do empreendedorismo, como abordagem relacional que investiga o fenômeno sob um prisma dinâmico e multifacetado. O princípio de articulação balizador do circuito da cultura ajuda a superar a divisão do pensamento inerente ao paradigma moderno. Por meio do circuito, a polissemia associada ao termo empreendedorismo não seria entendida como obstáculo conceitual ao desenvolvimento desse campo de investigação, uma vez que a ênfase cultural deve recair sobre o modo como os múltiplos sentidos são criados ao longo do processo empreendedor.

A abordagem contra-hegemônica do empreendedorismo exige um esforço de desnaturalização daquilo que é apresentado como prática social de desenvolvimento econômico. Assim, o empreendedor deixa de ser compreendido a partir de práticas atomizadas para ser visto como ator dotado de força política no complexo processo de produção e resignificação de práticas culturais. Referências ALMEIDA, S. de L.; GUERRA, R. F.; PAIVA JR, F. G. de. Que Cultura é essa nos Estudos Organizacionais? Uma Proposta de [Re]Discussão a partir dos Estudos Culturais. In: ENANPAD, 33, 2009, São Paulo. Anais... São Paulo: ANPAD, 2009. ÁVILA, M. B. Uma abordagem feminista sobre os problemas para o estudo de gênero. In: WEBER, S.; LEITHAUSER, T. Métodos qualitativos nas ciências sócias e na prática social. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2007. BARBOSA, L. N. de H. Cultura administrativa: uma nova perspectiva das relações entre antropologia e administração. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 36, n. 4, p. 6-19, 1996. BERTERO, C. O. Cultura organizacional e instrumentalização do poder. In: FLEURY, M. T. L.; FISCHER, R. M . (coords.) Cultura e poder nas organizações. São Paulo: Atlas, 1989. BHABHA, H. K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. 395p. BOAVA, D. L. T.; MACEDO. F. M. F. Estudo sobre a essência do empreendedorismo. In: XXX Encontro Anual da Associação de Pós-Graduação em Administração, Anais ... XXX EnANPAD, Salvador: ANPAD, 2006. CARRIERI, A. P.; RODRIGUES, S. B. As Transformações nas Significações Culturais em uma Empresa de Telecomunicações: De Empresa Pública a Filial Privada. In: XXV Encontro Nacional de Pós-Graduação. 2001, Campinas. Anais... Campinas: ANPAD, 2001. CASTELLS, M. A sociedade em rede. 10 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. DANJOU, I. L’ entrepreneuriat: un champ fertile à la recherche de son unité. Revue Française de Gestion, v. 28, n. 138, p.109-125, 2002. DODD, S. D. Mumpsimus and the mything of the individualistic entrepreneur. International Small Business Journal, v. 25, n. 4, p. 341-360, 2007. EAGLETON, T. A idéia de cultura. São Paulo: UNESP, 2005.

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