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O ALUNO EM CURSOS ONLINE

Marcos Mendes, MS

A Educação à Distância, como modalidade de ensino, trouxe a

necessidade de uma nova postura por parte do professor, para que pudesse

atingir os objetivos educacionais inerentes a um programa de ensino. Esta

inovação inclui a re-estruturação de conteúdos didáticos, e a mudança nos

métodos de ensino, uma vez que o aluno tem maior gestão no seu aprendizado

(PETARNELLA, 2008).

Quando este aluno estuda em cursos à distância, os métodos precisam

não somente ser inovadores, mas também motivadores, para que o aluno

participe continuamente dos processos de aprendizagem, e permaneça

envolvido com as disciplinas. Estes alunos de cursos à distância

conhecem muito sobre a vida, sobre o mundo, a respeito deles mesmos e das relações interpessoais, incluindo como lidar com outras pessoas em uma aula e talvez de um professor. Para o aluno adulto, os professores adquirem autoridade com base naquilo que conhecem e no modo como lidam com seus alunos. (MOORE E KEARSLEY, 2008)

Palloff (2004) e Moore & Kearsley (2008), complementam este perfil, e

descrevem que o aluno virtual é adulto, possui emprego, e ao participarem de

cursos on-line, apreciam sentir que têm algum controle sobre o que está

acontecendo; preferem eles mesmos definirem o que deve ser aprendido;

gostam de tomar decisões sozinho e utilizam sua experiência pessoal como

parte integrante do aprendizado, porque entendem que suas informações são

relevantes,

e possam ser relacionadas com os conceitos já ou pré-existentes em sua estrutura cognitiva e que acabam por influenciar na aprendizagem e no significado atribuído aos novos conceitos construídos. O conhecimento é concebido como resultado da ação do sujeito sobre a realidade, estando o aluno na posição de protagonista. (BEHAR, 2009)

Esta posição de protagonista dá ao aluno um status que lhe permite

interferir no processo de sua aprendizagem, sendo este o motivo da idéia que o

aluno é o foco na Educação à Distância.

Outro fator a ser considerado, é que parte dos alunos que estudam à

distância, optam por esta modalidade de ensino por não ter opção para se formar

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em sua cidade. De acordo com o CensoEAD.br (2010), 42% dos alunos que

estudam na modalidade à distância residem fora do estado que sedia a

instituição na qual estuda. Esta é

Uma característica especial da Educação à Distância e talvez daquilo que a maioria da pessoas considera quando pensa em Educação à Distância é a capacidade de uma instituição ou organização proporcionar acesso à educação a alguns alunos que, de outra forma, não poderiam obtê-la (MOORE E KEARSLEY, 2008)

É necessário entender este aluno, que ao atuar em um novo contexto

educacional, faz uso de novos recursos, novos cenários e novas formas de

aprender. No olhar de Peters (2009), estas novidades implicam em uma

mudança fundamental,

a de uma cultura de ensino para a de aprendizagem. No ambiente informatizado de aprendizagem, o objetivo será que os estudantes planejem, organizem, controlem e avaliem sua própria aprendizagem. Ao fazê-lo, estarão envolvidos com navegar, browsing, buscar, conectar e coletar informações em um ambiente que poucos de nós poderíamos ter levado em conta menos de uma geração atrás. (PETERS, 2009, p. 22)

Esta mudança ocorreu de forma assintomática, em que crianças

nasceram em uma época que o computador representa mais um eletrodoméstico

em casa, ao contrário dos que hoje são adultos, para os quais o computador foi

uma descoberta acessível a poucos. Essa facilidade dos alunos, em utilizar os

recursos da tecnologia da informação, representa um agregador no processo da

aprendizagem baseada na exploração, mediada pelo professor, pois de forma

autônoma, buscam respostas a dúvidas que ainda nem sequer foram

formuladas. Estes alunos, homo zappiens1 em sua essência, exploram antes

para depois tecerem suas dúvidas, que serão respondidas quase que

imediatamente, uma vez que o conhecimento foi adquirido antes que tivessem

as perguntas.

Na obtenção destes conhecimentos, Behar (2009) observa que o aluno

de cursos à distância faz uso de recursos digitais por encontrar aplicações em

diversas áreas do conhecimento, e

Especificamente na área da educação, eles possibilitam que conteúdos sejam abordados na forma de imagens digitais, vídeos,

1 Homo Zappiens: termo cunhado por Veen & Vrakking (2009), para descrever o aluno que utiliza os meios de comunicação simultaneamente. Acessa várias páginas da internet ao mesmo tempo, tem várias contas de email, uma para cada finalidade, etc. O uso do ZAP no nome é uma analogia com o costume que se tem frente à TV, de ficar mudando de canal o tempo todo, em busca de algo que o satisfaça. Este costume tem o nome de ZAP.

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hipertextos, animações, simulações, objetos de aprendizagem, páginas web, jogos educacionais.

Essa diversidade de recursos, aliada ao pensamento crítico, deve ser

trabalhada pelo professor, delegando ao aluno a responsabilidade pelo processo

de aprendizagem, através de pesquisas on-line orientadas, indicação de sítios

pelos próprios alunos e o compartilhamento do que foi aprendido. Este

compartilhamento pode ultrapassar os limites do curso, onde o professor pode

organizar os conhecimentos produzidos pelos alunos, e publicar on-line, para

servir de consultas a outros alunos.

9.1 FATORES QUE AFETAM O SUCESSO DOS ALUNOS

Os alunos que participam de cursos à distância têm motivos específicos

que os levaram a optar por esta modalidade de ensino. Moore e Kearsley (2008)

citam os motivos que despertam o interesse de uma pessoa em matricular-se

em cursos na modalidade à distância, entre os quais se destacam: compensar

uma educação anterior deficiente, obtenção de créditos em disciplinas,

investimento pessoal (empregabilidade ou aumento de renda), e principalmente,

o motivo mais comum “consiste em desenvolver ou aperfeiçoar o conhecimento

necessário para o emprego”. Estes motivos, que de início representam a vontade

em estudar, podem desvanecer durante o curso, e levar o aluno a desistir do

curso.

Palloff (2004) descreve que

22,7% dos alunos de nível superior à distância ficaram mais satisfeitos com tal opção do que com os cursos presenciais. 47% disseram gostar da mesma forma de ambos os cursos, e 30% ficaram menos satisfeitos com o ensino à distância.

Dados informados por Moore e Kearsley (2008) dão conta de que os

índices de desistência ficavam na ordem de 50%, mas “atualmente, o índice deve

estar próximo de 30%”. No contexto brasileiro, uma pesquisa publicada nos

meados de 2010 (CENSO EAD.BR, 2010), apresentou dados que informam que

a desistência está em 18,5%. Comparando o índice de desistência no nível

superior, este fica em torno de 36%. Segundo o censo, os motivos que levaram

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os alunos a desistir foram: Financeiro, Falta de tempo e não se adaptaram ao

método da Educação à Distância. Sob a análise de Moore e Kearsley (2008), “a

desistência geralmente não é resultado de uma única causa, mas de um acúmulo

e uma variedade de causas”.

O aluno on-line, de uma forma geral não desiste repentinamente. No

decorrer do curso, algumas atitudes podem alertar que uma desistência está

para acontecer. Moore e Kearsley (2008) relatam estes prognósticos:

INTENÇÃO DE CONCLUIR: Os alunos expressam determinação para concluir um curso geralmente conseguem fazê-lo. Por outro lado, os alunos inseguros a respeito de sua capacidade para concluir apresentam grande probabilidade de desistência. ENTREGA ANTECIPADA: os alunos que entregam a primeira tarefa escolar antecipadamente ou pontualmente têm maior probabilidade de concluir o curso de modo satisfatório. CONCLUSÃO DE OUTROS CURSOS: Os alunos que terminam com sucesso um curso de educação à distância têm probabilidade de concluir os cursos subseqüentes.

9.1.1 Habilidades do aluno

O aluno que estuda em cursos à distância precisa ter algumas habilidades

peculiares, em função das especificidades que o estudo online requer.

Isto significa que os estudantes devem estar prontos para serem capazes de reconhecer metas e possibilidades concretas de aprendizagem com base nas modificações que podem causar em suas vidas e no trabalho, estar dispostos a planejar e organizar sua aprendizagem de forma independente e a absorvê-la e organizá-la em grande parte independentemente dos professores. Em vista da indeterminável abundância e variedade de informações que agora está disponível e todos os bancos de dados acessíveis, a capacidade de procurar, encontrar e avaliar informação importante para a aprendizagem do próprio estudante será difícil e rara. (PETERS, 2008)

Estas observações de Otto Peters (2009) abrem o olhar para um

horizonte, infinito por natureza, que só será alcançado por um aluno motivado,

que queira (ou precise) se formar através de um curso à distância. O grande

desafio do aluno que estuda à distancia não é o aprendizado em si, mas planejar

quando e como será o tempo destinado aos estudos, e ainda, cumprir o que foi

planejado, sendo este o maior desafio a ser enfrentado pelo aluno de cursos

não-presenciais.

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Gottwald & Sprinkart (1998), descrevem 05 habilidades inerentes ao aluno

que participa de cursos à distância: Autodeterminação, auto-orientação, seleção

e capacidade de tomar decisões, e habilidade de aprender e organizar.

Autodeterminação:

Auto-orientação: estabelecer

Seleção:

Capacidade de tomar decisões:

Habilidade de aprender e organizar:

9.2 COMO O ALUNO QUE ESTUDA A DISTÂNCIA APRENDE?

“aprender é uma descoberta. Porém, a melhor forma de aprender não é computar informações. Aprender é explorar, descobrir o que existe dento de nós.” (LEE, 2007)

Segundo Veen e Vraking (2009), a aprendizagem é um processo mental,

em que o indivíduo estipula significados às informações que recebe. É o sentido

que cada um atribui à informação que recebe é definido pelos padrões culturais

e sociais que o indivíduo está inserido, e as ações executadas com o que se

aprende é o conhecimento que se adquire.

Para Moran (2000), se aprende mais quando se aprende vivenciando,

experimentando, sentindo. Aprende-se também ao descobrir novos assuntos

sobre o que já se conhece, e também, se aprende em debates sobre o que se

discorda. O aprendizado não se constrói somente com experiências positivas,

mas também se insere neste acervo as experiências mal sucedidas, que

sinalizam para as gerações futuras os caminhos a não serem seguidos. Este

conhecimento é importante no sentido de que, através das tecnologias da

Educação à Distância, o professor pode levar seus alunos além da sala de aula,

propondo atividades que incentivem o aluno a descobrir respostas

complementares ao livro didático, de forma que,

para aprender conceitos e resolver problemas, os alunos devem ser colocados diante de situações discrepantes, de modo que a aprendizagem se dê pela descoberta. (FILATRO, 2009)

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Esta aprendizagem pela descoberta, encontra nas tecnologias de internet

uma aliada, que, se orientada pelo professor, é capaz de prover ao aluno vídeos,

imagens e textos concernentes ao tema estudado, e este, após formar seu

entendimento, traz à sala de aula uma concepção peculiar, fruto do seu

aprendizado.

Litz e Osif (1993, apud PALLOFF, 2004) definem os estilos de

aprendizagem como

os modos pelos quais as crianças e os adultos pensam e aprendem. Os estilos de aprendizagem são às vezes descritos como filtros construídos pelas pessoas e que são usados para orientar suas relações com o mundo.

Este contexto nos leva a entender que cada pessoa aprende de forma

diferente, mesmo que estejam diante do mesmo conteúdo didático, e são

influenciados pela experiência de vida de cada aluno.

Claxton e Murrel (1988, apud PALLOFF, 2004), descreveram quatro

categorias principais pelas quais as pessoas aprendem:

Modelos de Personalidade: consideram as características de nossa personalidade como sendo as que dão forma à nossa orientação no mundo. Modelos de processamento da Informação: tentam entender como a informação é recebida e processada. Modelos de Interação Social: consideram questões de gênero e o de contexto social. Modelos de preferência instrucional e ambiental: observam o som, a luz, a estrutura e as relações de aprendizagem afetam a percepção.

Pelo fato destas categorias terem sido delineadas, isto não significa que

o professor tenha que desenvolver cada atividade para atender a todos os tipos

de aprendizagem. Embora o professor deva utilizar atividades didáticas que

abordem estes modelos, ele deverá utilizar sua maestria para perceber quais

conteúdos podem ser melhor utilizados com algum dos modelos descritos.

Paulsen (2005, apud PALLOFF, 2004), sugere que o professor intercale

atividades individuais, em pares com alunos, em par com o professor e em

grupos, de forma que proporcione a todos os alunos a possibilidade aprender

com os mais diversos modelos de aprendizagem.

No quadro abaixo, estão dispostos os estilos de Aprendizagem, e as

respectivas técnicas que poderão ser utilizadas.

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ESTILO DE APRENDIZAGEM

Preferência TÉCNICAS INSTRUCIONAIS

Visual-verbal:

prefere ler a informação

Use apoio visual (PowerPoint) Apresente, de forma escrita, um

sumário do material apresentado Use materiais escritos, como livros

textos e recursos da internet

Visual-não-verbal ou visual-especial:

Prefere trabalhar com diagramas ou gráficos que representam a

informação

Use material visual (PowerPoint, mapas, vídeo, diagramas e gráficos

Use os recursos de internet, especial-mente aqueles com gráficos

Use a vídeo-conferência

Auditivo-verbal ou verbal-linguístico:

Prefere ouvir o material apresentado

Incentive a participação em atividades colaborativas e de grupo

Use arquivos de áudio Use a áudio-conferência

Tátil-Cinestésico ou Corporal-Cinestésico:

Prefere as atividades físicas e práticas

Use simulações Use laboratórios virtuais Exija pesquisa de campo Exija a apresentação e a discussão

de projetos

Lógico-Matemático:

Prefere a razão, a lógica e os números

Use estudos de caso Use a aprendizagem baseada em

problemas Trabalhe com conceitos abstratos Use laboratórios virtuais Incentive a aprendizagem que tem

como base o desenvolvimento de habilidades

Interpessoal-relacional: Prefere trabalhar com os outros

Incentive a participação em atividades colaborativas e de grupo

Use o fórum de discussões Use estudos de caso Use simulações

Intrapessoal-relacional:

Prefere a reflexão e o trabalho com os outros

Incentive a participação em atividades colaborativas e de grupo

Use o fórum de discussões Use estudos de caso Faça uso de atividades que

requeiram o acompanhamento individual e de grupo

Quadro 03: Técnicas instrucionais online. (PALLOF, 2004)


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