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Campina Grande, REALIZE Editora, 2012
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NOVAS LINGUGENS NO ENSINO DE HISTRIA: A MSICA COMO
RECURSO DIDTICO
Jos Edson da Costa Barbosa UEPB
Graduando em Histria.
Pesquisador e extensionista do PROBEX
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo mostrar a utilizao da msica no ensino de Histria no
contexto da renovao das prticas de ensino em sala de aula, demonstrando a importncia do
uso das inovaes metodolgicas, que se possa compreender a Histria como sendo algo
formador de cidados capazes de ver o mundo como um conjunto de mltiplas memrias e
experincias humanas. Neste trabalho foi abordado o processo de mudana no ensino de
Histria no Brasil nas dcadas de 70, 80 e 90, as novas propostas metodolgicas nas abordagens
histricas e a msica como nova linguagem e como recurso didtico. Este trabalho teve suas
bases a partir de pesquisa em livros e artigos que falam sobre esta temtica, bem como,
professores que contriburam para seu desenvolvimento. A contribuio deste trabalho se d no
sentido de possibilitar ao professor novas formas de se trabalhar as temticas histricas em sala
de aula, podendo assim desconstruir a viso estereotipadas que se tem de vrios gneros, como
por exemplo: o negro e a mulher. Para isto a msica surge como exemplo de nova linguagem e
pensada como documento cultural que carrega marcas e caractersticas de seu tempo. Por tanto,
as novas linguagens na escola como a msica, dar oportunidades aos alunos no s de aprender
msica, mas tambm de contribuir para a formao de cidados histrico, requerendo tambm a
incluso dela na sociedade e sua liberdade de expresso.
Palavras-chave: Msica, ensino de histria, novas linguagens
Inovaes no ensino de Histria no Brasil
No ensino da Histria atribudo o papel de formar cidado que, dentre outras
caractersticas, seja capaz de compreender a histria do Pas e do mundo como um
conjunto de mltiplas memrias e de experincias humanas. Segundo Pacheco (2005.
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P.57) a poltica educativa corresponde ao conjunto de decises oriundas do sistema
poltico, englobando as intenes e estratgias definidas por critrios ideolgicos.
No Brasil a diversidade cultual a idia central para a formao das
identidades das novas geraes e das finalidades do ensino da Histria . Esta perspectiva
sintoniza-se com o que tem animado as atuais produes historiogrficas e as muitas das
inovaes no ensino de Histria no Brasil. Uma das questes que mais tem desafiado os
professores de Histria engajados em processos de mudanas curriculares e de suas
prticas de sala de aula a de criar as condies para que os alunos elaborem novos
sentidos e significados para estudo da Histria. (PACHECO, 2005.P.61) O currculo ,
antes de mais um projeto de escolarizao que reflete a concepo de conhecimento e a
funo cultural da escola
De acordo com a abordagem tradicional da Histria, percebemos o ensino de
histria como o estudo do passado ou como memorizao de fatos e datas dos principais
acontecimentos, em geral de ordem poltica, militar ou diplomtica dos pases. Essa
representao da histria funciona como um dos obstculos ao processo de ensino
aprendizagem da Histria, e alm dessa representao da histria e do seu ensino
podemos assinalar um outro desafio, o processo de esquecimento do passado que pode
comprometer o desenvolvimento da noo de temporalidade histrica, pois essa
depende da aquisio do sentido do tempo.
O modelo tradicional tem se caracterizado pela transmisso de
conhecimentos apresentados ao aluno como verdades inquestionveis e pela
hierarquizao expressa, tanto na valorizao/desvalorizao das diferentes
disciplinas, quanto na desvalorizao do saber do aluno e da sua realidade.
(SONIA NIKITIUK, 2001.P.69).
No Brasil na dcada de 70, os movimentos populares se posicionavam dando
fora ao andamento das reformas, essa expresso era ligada ao crescimento das
associaes de historiadores, como a ANPUH e de outros locais de discusso e
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produo histrica. Foi nesse mesmo ano que o ensino de histria centrou-se na
concepo de que o desenvolvimento histrico resultado natural de seu processo.
Na anliseda histria a partir da dcada de 80, subverteu esse modelo, abrindo
campo da explicao social para uma viso da totalidade histrica. Sob influncia do
Marxismo, da Nova Histria e da Historiografia Inglesa. Alguns livros didticos foram
renovados, e outros apereciam como modelos avanos que contriburam para a
retomada da disciplina de histria como espao para um ensino crtico, objetivando a
recuperao do aluno como sujeito da histria e no como mero expectador de uma
histria j determinada.
Os anos 80 so marcados por discusses e propostas de mudanas no ensino
de histria. Resgatar o papel da Histria no currculo passa a ser tarefa primordial de
vrios anos em que o livro didtico assumiu a forma curricular, tornando-se quase fonte
indispensvel para o processo de ensino aprendizagem no Brasil
Nessa mesma dcada a pesquisa incide sobre o livro didtico e comeam os
primeiros trabalhos sobre o currculo. Houve a introduo de novos sujeitos sociais, que
antes eram considerados insignificantes, a exemplo do negro e da mulher.
Este processo de mudana foi muito importante porque pode se constatar a
ampliao das temticas a serem observadas e analisadas como objeto de estudo,
descartando tambm a abertura para possibilidades de novos documentos no se
restringindo somente a escritos, visto que a historiografia brasileira anterior a dcada de
80 era positivista, voltada para os grandes heris, para os considerados registros oficiais.
Nos anos 80 e, especialmente, nos anos 90, so fortalecidos os estudos sobre
o multiculturalismo em decorrncia da ampliao da influencia ps-moderna
no discurso curricular, que valorizava a mistura e o hibridismo de cultura, a
pluralidade e as diferenas culturais. (ALBUQUERQUE. E LIMA
BRANDIN, 2008. P. 58)
Nos anos 90 com os debates sobre a renovao curricular, os Parmetros
cumprem o duplo papel de difundir os princpios da reforma curricular e orientar o
professor na busca de novas abordagens e metodologias. Os anos 90 foram marcados
pela busca de novos enfoques e paradigmas para a compreenso da prtica docente e
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dos saberes dos professores embora tais temticas ainda sejam pouco valorizadas nas
investigaes e nos programas de formao de professores. Desta forma ensinar histria
significa dar sentido a prtica cotidiana dos individuos na perspectiva de uma anlise
mais crtica e reflexiva da histria.
As novas propostas metodolgicas nas abordagens histricas e a msica como nova
linguagem
Foi a partir da Escola dos Annales por volta da segunda dcada do sculo XX
que a utilizao de novas linguagens na pesquisa historiogrfica emerge, deixando de
lada uma concepo cientfica do conhecimento tida como algo neutro e objetivo. Por
tanto, foi com a Escola dos Annales que surgiram novas propostas terico-
metodolgicas nas abordagens histricas, abrindo grandes possibilidades de anlise dos
documentos que antes era bastante restrita.
Mesmo com a utilizao de novas linguagens devemos lembrar que nenhum
documento neutro, existe a necessidade de interrog-los e no v-los como verdade
absoluta. O documento no qualquer coisa que fica por conta do passado, um
produto da sociedade que o fabricou segundo as relaes de fora que detinham o poder.
O documento antes de mais nada uma montagem consciente ou inconsciente
da histria da poca da sociedade que o produziram, tambm uma coisa que fica e que
dura por varios seculos. E pensada como documento, a msica por tanto um exemplo
de nova linguagem no ensino de Hiistria que carrega marcas e caractersticas de seu
tempo.
Partindo para a discusso dessa fonte enquanto alternativa didtica, a msica
transforma-se em recurso didtico na medida em que so chamadas para responder
perguntas adequadas aos objetivos da Histria. Um desses objetivos o de promover o
desenvolvimento da conscincia histrica a partir do processo de transformao de
conceitos espontneos em conceitos cientficos.
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Partindo disso, percebemos que as produes que analisam as novas
linguagens especificamente a msica, priorizam o ponto de vista do ensino, e so de
grande importncia para a formao do professor na prtica do mesmo em sala de aula.
Mas nos resta saber: como o aluno pode processar essas informaes dadas pela msica
e as utilizar no desenvolvimento de sua conscincia e na construo de seu
conhecimento histrico?
O aluno de modo em que a msica utilizada, pode se identificar com o
assunto, e conscequentemente transformar seus conceitos espontneos em conceitos
cientficos. A anlise da msica pode e deve ter uma relao do meio social com a sua
capacidade de representao, ou seja, quando o indivduo se depara com uma
determinada msica far uma representao daquilo que estar ligada ao seu contexto
social. No entanto um tipo de msica na aula de Histria que possui significado para o
aluno facilitar sua aprendizagem. Fica claro ento que necessrio conhecer o aluno, e
suas formas de representao da realidade para efetivamente possibilitar que ele
construa seu conhecimento histrico.
A msica um importante instrumento para contribuio no desenvolvimento
do conhecimento histrico do aluno. O multiculturalismo crtico, a linguagem e as
representaes (raa, classe, gnero) assumem um papel central na construo da
identidade (ALBUQUERQUE. E LIMA BRANDIN, 2008. P.63) Podemos ento afirmar
que construes realizadas sob a influncia da sociedade em que se vive se constituem
em smbolos que expressam a cultura e a conscincia dessa mesma sociedade. Por tanto
a msica como documento histrico possui significaes e testemunhos conscientes ou
inconscientes que podem e devem ser usados no ensino de Histria. E vale ressalar que
no devemos utiliza-la apenas como ilustrao, mas tambm no contexto da renovao
das prticas de ensino em sala de aula.
A msica como objeto da cultura e como recurso didtico
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Pesquisadores, sobretudo no campo da histria do Brasil, ainda no conseguem
enfrentar o problema de alguns seguimentos da nossa sociedade. Existem situaes em
que nossos olhares se fecham para alguns segmentos da sociedade, como por exemplo,
ver o negro como personagem significativo e construtor da histria do Brasil. A imagem
do negro associada a idia de escravido e de trabalho braal e se deixa de lado a idia
de seres humanos portadores de uma grande diversidade cultural portador de novos
pensamentos, e organizador de um modelo de poltica alternativa transformador.
Hobsbawm (1995) fala que inevitvel que nos situemos no continuum de nossa
prpria existncia da famlia e do grupo a que pertencemos, existindo grandes relaes
entre passado presente e futuro.
O livro didtico um dos instrumentos utilizado pela escola que responsvel
pela transmisso de contedos esteretipados sobre a imgem do negro e far a
mediao entre o aluno com a imagem mantendo uma relao complexa Bitencourt
(2002) explica que o livro didtico um importante portador de um sistema de valores,
de uma ideologia, de uma cultura. Por tanto, percebe-se que textos e obras nos livros
didticas transmitem esteretipos generalizando temas de acordo com a viso
eurocntrica.
A msica como objeto da cultura repleta de historicidade. Dessa forma, sua
utilizao como recurso didtico pode desconstruir os esteretipos ultilizados em varios
seguimentos como por exemplo raa e gnero. Na medida em que a msica possibilita o
desenvolvimento da interpretao de contextos se abri um campo frtil para realizaes
do meio em que vivem, articulando ainda os conhecimentos entre a msica e a Histria.
A musica pode estar relacionado tanto a acontecimentos breves como um
evento social, quanto s diversas conjunturas de ordem poltica ou econmica ao longo
do tempo. Exemplo disso so as canes produzidas durante a ditadura militar no Brasi
entre 1964 a 1985. Elas alm de ressaltar de luta em torno da questo da anistia poltica
se inserem em determinada estrutura poltico-econmica de forma mais ampla,
abrangem tambm questes relacionadas as manifestaes simblicas dos seres
humanos no tempo
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A utilizao da msica em sala de aula aponta tambm para a necessidade de
preservao do Patrimnio Cultural da humanidade. O debate sobre a memria
compreende questes muito pertinentes como as formas estabelecidas ao longo do
tempo pelas sociedades humanas para a preservao do acervo cultural.
Um exemplo de msica ideal para se trabalhar na aulas de Histria dentre
muitos outras a msica Inclassificveis de Arnaldo Antunes que trata de um tema
muito conhecido de todos ns: a formao do povo brasileiro.
O compositor faz referncias as novas raas que surgem a partir dos trs
povos:
O mulato, mistura de branco com negro
O cafuzo, mestio de negro com ndio
E o mameluco, mistura de ndio com branco
Ele faz um jogo potico no qual diferentes etnias se mesclam, formando
neologismos que criam palavras e povos surgem ento crilouros, guaranisseis e
judrabes.
Seu objetivo no problematizar as tenses geradas no contato entre ndios,
portugueses e negros, mas sim ressaltar a diversidade humana para mostrar que alguns
preconceitos direcionados para algumas etnias no se justificam, pois somos
Inclassificveis.
Como podemos ver as possibilidades da msica como recurso didtico no
ensino de histria so ricas e variadas, abordando questes que vo dos conceitos
elementares pertinentes disciplina at os aspectos mais gerais da educao escolar
como a formao para a cidadania.
A prpria necessidade de liberdade funcionalizada e reproduzida pelo
comrcio[...].as pessoas no percebem o quanto no so livres l onde mais
livres se sentem, porque a regra de tal ausncia de liberdade foi abstrada
delas.(ADORNO, 1995,P.108)
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A msica na escola dar oportunidades aos alunos no s de aprender msica, mas
tambm de contribuir para a formao de cidados histrico, requer tambm a incluso
dela na sociedade e sua liberdade de expresso.
Concluso
Atravs deste trabalha percebemos que a histria bem como a msica faz parte do
cotidiano da maioria das pessoas, desde aquelas com alto nvel de instruo at as que
no tiveram a oportunidade de estudar.
Segundo Schafer (2001, P.23) a msica um indicador da poca, revelando, para
os que sabem como ler suas mensagens sintomticas, um modo de reordenar
acontecimentos sociais e mesmo polticos. Muitas vezes ela a nica forma de
expresso artstica com a qual os alunos tm ou tiveram contato ao longo da vida. Ainda
que no dominem formalmente os conceitos e componentes da linguagem musical, eles
so capazes certamente de identificar, por exemplo, que uma determinada cano foi
feita para um determinado contexto observando o seu ritmo.
Desta forma, o professor de histria, obviamente, tem o papel de situar os alunos
a respeito dos elementos pertinentes anlise histrica, ou ressaltar questes ligadas ao
contexto histrico. Os agentes histricos envolvidos no processo, bem como as
motivaes implcitas e explcitas presentes na inovao do ensino nos ensinam muitas
coisas relevantes de forma didtica, e muitas delas formam boa parte de nosso carter,
mesmo que no percebamos, pois atingem nosso inconsciente.
Bibliografia
BITENCOURT, Circe. A importncia do livro didtico. Curitiba: Moderna, 2002.
HOBSBAWM, ERIC J. Era dos Extremos: o breve sculo XX, 1914-1991. So Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
PACHECO, J. A. Escritos curriculares . So Paulo. Cortez. v.3, n.1 2005
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SCHAFER, R. Murray. A afinao do mundo. Traduo de Marisa Trench de O.
Fonterrada. So Paulo: Editora UNESP, 2001. P.23
SILVA E ALBUQUERQUE. E LIMA BRANDIN, Multiculturalismo e educao da
diversidade cultural : Diversa 2008. P. 58
NIKITIUK, Sonia M. Leite (org). Repensando o ensino da histria. So Paulo:
Cortez, 2001. P.69