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Nósem rede

PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DA COORDENAÇÃO DE PASTORAL DA REDE MARISTA RS | DF | AMAzôNIA - ANO 5 - NÚMERO 8 - 2014

modode ser!

SAIBA COMO A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ é CULTIvADA NOS DIFERENTES ESPAÇOS DE MISSÃO MARISTAPáginas 3, 4 e 5

A BELEzA DA FONTE: TRAÇOS MARCANTES DA vIDA DO FUNDADOR qUE CONFIgURARAM A ESPIRITUALIDADE MARISTAPáginas 10, 11 e 12

O DESAFIO DE RECONhECERNAS jUvENTUDES AS SEMENTES DE DEUSPáginas 13 e 14

O que nos inspira é, também, o que nos move e fortalece. Nosso modo de ser marista

nos une em um só coração e missão.Páginas 6, 7, 8 e 9

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Inspirar o novo e gerar sentidoGerente da Coordenação de Pastoral, Ir. Valdícer Fachi

sumárioCoorDENAÇÃo DE PAsTorAL

Uma das característica essenciais do ser humano, hoje, é a busca e desejo de espiritualidade que dê sentido à vida e a plenifique.

No documento Água da Rocha (p. 14), essa relação é explicada: “Ao longo da existência, nossa realidade espiritual interage dinamicamente com a experiência vital. De um lado, à medida que nos integramos à ex-periência cotidiana, vai-se formando o que entendemos ser a nossa espi-ritualidade. De outro, a Espiritualidade constrói o modo como compreen-demos o mundo, as pessoas, Deus e como nos relacionamos com eles”.

O ser humano é fundamentalmente espiritual e, por isso, animado por uma espiritualidade que o põe em movimento e que coloca a vida no centro, defendendo-a e promovendo-a contra mecanismos de destruição e de morte.

Nesse sentido, a 8ª edição do Nós em Rede trabalhará a Espiritualida-de como um modo de ser e elemento integrador da vida. No editorial Pastoral nas Unidades, você conhecerá como a espiritualidade é encar-nada nos nossos espaços de evangelização, e verá que, impregnada de alegria, ela se alimenta da missão e nos leva a ela. Na seção Diretrizes, abordamos o cultivo da espiritualidade do seguimento de Jesus de Nazaré. Já no editorial Missão, você poderá saber mais sobre o perfil do fundador do Instituto Marista, Marcelino Champagnat, e como seu modo de ser inspira e ilumina a vida de muitas pessoas.

As características das juventudes é tema das páginas da PJM, que traz o modo como os Animadores(as) são chamados a viver o segui-mento de Jesus de Nazaré.

Que a leitura nos leve ao conhecimento e reflexão das característi-cas mais profundas e significativas da espiritualidade cristã e nos inspire a caminharmos juntos em busca de sentido, conectados às novas sen-sibilidades e abertos ao diálogo.

Boa leitura!

EXPEDiENTE

Informativo da Coordenação de Pastoral da Rede Marista (RS, DF, Amazônia) Ano 5 - Nº 8 - 2014

Gerente Ir. Valdícer Fachi

Equipe responsávelKaren Theline Silva, Jaqueline Debastiani, José Jair Ribeiro, Laura Aparicio, Marcos José Broc

Comentários e sugestões [email protected]

Produção: Comunicação Corporativa

Textos: Luísa Medeiros

Fotos: Arquivo Coordenação de Pastoral, Unidades Maristas e Assessoria de Comunicação Corporativa.

Diagramação: Design de Maria

revisão: Ir. Salvador Durante

Jornalista responsável Lidiane Amorim (DRT/RS 12725)

P. 4PASTORAL NAS UNIDADES Diferentes experiências movidas pela mesma espiritualidade

P. 12DIRETRIzES Inspirando a profecia

P. 10MISSÃO A beleza da fonte: traços marcantes da vida do fundador Marcelino Champagnat que configuraram a espiritualidade marista

P. 6 ESPECIAL O que nos move, inspira, conecta e fortalece?

P. 13PjM O divino que habita nos adolescentes e jovens

P. 15EM REDE Momentos para recordar

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PAsTorAL NAs uNiDADEs

Apoio integral e participação da família

Em meio a um cenário de vulnerabili-

dades que desafiam qualquer pessoa que

confessa a fé cristã, a equipe do Centro So-

cial Marista Boa Esperança, de Santa Cruz

do Sul, encontrou no apoio às famílias uma

maneira de cultivar a espiritualidade do se-

guimento de Jesus de Nazaré inspirando-

-se em São Marcelino Champagnat. Inse-

rida no bairro Vitória, uma região marcada

pela violência e pela vulnerabilidade social,

o Centro atende 120 crianças e adolescen-

tes de 6 a 15 anos, no período inverso ao

da escola, com atividades que vão desde

a prática esportiva até aulas de informáti-

ca, culinária e artesanato, permeadas pela

finalidade evangelizadora da Unidade.

“De um tempo para cá percebemos,

no entanto, que tudo aquilo que traba-

lhávamos no Centro Social, ao longo da

Atividade da Pastoral aproxima as famílias e o Centro Social Marista Boa Esperança

Diferentes experiências movidas pela mesma espiritualidadeDe modo geral, a espiritualidade é uma expressão difícil de definir em um único conceito. Sua percepção, no entanto, se torna mais fácil quando conseguimos vivenciar suas características. Conheça alguns modos de viver e cultivar a espiritualidade cristã em espaços de missão marista.

semana, ia por água abaixo nos finais

de semana. Isso porque não havia um

cultivo desses valores dentro de casa”,

explica a Coordenadora de Pastoral da

Unidade, Vanessa Nopes.

A solução encontrada foi trabalhar

a formação dos pais dessas crianças e

adolescentes – ou, ainda mais que isso,

de pessoas da comunidade que fossem

engajadas e passassem a ser multiplica-

doras dessa formação. Começou uma

verdadeira peregrinação pelas ladeiras

do bairro Vitória, com o intuito de apro-

ximar a população do Centro. A iniciativa

funcionou e, aos poucos, os adultos tam-

bém passaram a receber formação, par-

ticipar de retiros e ser mais atuantes na

formação de seus filhos.

A funcionária pública Joelma Denise

Buboltz é uma dessas pessoas. Ela atendeu

ao convite e passou a participar ativamen-

te das atividades. Mãe de dois filhos que

frequentam o Centro Social (um deles é

Animador da PJM), ela conta que sua famí-

lia está mais fortalecida.

“Principalmente no sentido Marial da

espiritualidade marista, trazendo um novo

significado daquilo que meus filhos repre-

sentam para a família. Hoje conversamos

mais, convivemos mais, e percebemos o

quanto a espiritualidade pode transformar

nossas vidas”, afirma.

A balconista Iracema Fulber, mãe

de Joelma, chancela as impressões da

filha e vai além:

“A gente consegue perceber a mudan-

ça no bairro e nas pessoas. Quando não se

trabalha a espiritualidade, tudo na nossa

vida anda para trás”, diz, citando o exemplo

do próprio neto, que “é um pastor dentro

da comunidade”.

O sentido de família, de fortalecimento

dos laços e acolhida também está presen-

te na família de Cleusa Nascimento. Traba-

lhadora da indústria fumageira, ela conta,

emocionada, que o Centro Social mudou

a vida da sua família. Mãe de quatro filhos,

“todos Maristas de coração”, como gosta

de enfatizar, ela foi tocada pelas vivências.

Se antes ela não tinha tempo para os filhos,

hoje ela acompanha de perto tudo o que

acontece na vida de cada um deles, em

um exemplo de como o espírito marial to-

mou conta da família.

“Antes era tudo na base do grito,

aqui em casa. Hoje nós conseguimos

conversar, saber um do outro, fortale-

cer os laços”, conta.

Tudo isso, afirma Cleusa, sob as bên-

çãos de São Marcelino Champagnat, que

figura em um quadro, em destaque na sala.

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PAsTorAL NAs uNiDADEs

Estudantes unem-se em oração antes dos períodos de aula

De educanda a colaboradoraBetina Bastos, 20 anos, foi contratada recen-

temente como auxiliar administrativa no Centro

Social. O prédio em que trabalha hoje, no entan-

to, tem um significado muito maior na sua his-

tória. Moradora do bairro, Betina começou a fre-

quentar o Centro Social com apenas seis anos e

nunca se desligou do jeito Marista de ser e viver.

Aos 12 anos ingressou na PJM e, ainda hoje, exerce papel de Animadora no

grupo do bairro. “Aqui, aprendi a ver o mundo com os olhos de uma criança

pobre. Hoje me sinto uma jovem com muito a oferecer aos outros”, afirma.

Inspiração para atitudes e mudanças

Trabalhar a espiritualidade com in-

terlocutores de faixa etária mais eleva-

da e de uma realidade social bastante

diversificada é o desafio da Pastoral do

Colégio Marista São Marcelino Cham-

pagnat, voltado à educação de jovens e

adultos (EJA), em Novo Hamburgo. São

em torno de 600 estudantes no turno da

noite. Pessoas que trazem, enraizada no

seu modo de vida, espiritualidade e reli-

giosidade muito diversas.

A maneira encontrada foi trabalhar

de forma indireta os aspectos da espiri-

tualidade marista, despertando o senti-

mento da acolhida e a ajuda mútua.

“Tudo o que aplicamos é simples,

mas contribui para que o estudante se

sinta acolhido”, explica o Coordenador

de Pastoral Jocimar Lima de Souza.

O respeito à diversidade, o olhar

sensível às necessidades do outro e o

espírito de solidariedade, são trabalha-

dos nas mais diversas atividades e des-

de a chegada dos estudantes na escola.

Os professores passam, diariamente,

por momentos de sensibilização antes

de interagir com as turmas e assumem

ativamente o papel de multiplicadores

de sentido de vida. Também são realiza-

das formações semestrais com todos os

estudantes. Outras ações, como retiros

e atos solidários, são opcionais, mas a

adesão é, geralmente, muito grande.

A mais recente ação, por exemplo,

que contou com a arrecadação de rou-

pas e doações para a realização de uma

grande festa no bairro Kephas, mobili-

zou a comunidade escolar. Eles aten-

deram prontamente o chamado dos

Irmãos a colaborar com o Ato Solidário,

ação já tradicional no colégio, que sem-

pre beneficia alguma região carente da

cidade e, durante a entrega dos donati-

vos, compareceram em grande núme-

ro, contagiando a população do bairro.

O estudante Luis Carlos Weiler, de

54 anos, voltou à escola depois de 39

anos sem estudar. E conta que os en-

sinamentos maristas extrapolam o

aprendizado em sala de aula.

“Minha fé está fortalecida e isso me

ajuda não apenas aqui no colégio, mas

em casa, no trabalho, com meus ami-

gos e família”, diz.

A afirmação é compartilhada pela

colega Magda Pereira, de 47 anos. Ela

teve que abandonar os estudos aos 11

anos e, há três anos, está de volta ao

ambiente escolar:

“Aqui aprendi a respeitar as diferen-

ças, ceder um pouco e agradecer, sem-

pre. São aprendizados para a vida”.

Essa mudança de paradigmas é o

que inspira o Pastoralista Jocimar em

seu trabalho diário. Para ele, o maior in-

dicativo de que o cultivo da espirituali-

dade está acontecendo é um ambiente

escolar tranquilo e acolhedor, como o

da escola.

“A espiritualidade transforma as

pessoas. Mesmo que essa transforma-

ção venha sem uma consciência dos

aspectos maristas, nós percebemos

que esses estudantes são tocados – e

transformados”, afirma.

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Encontros de formação envolvem estudantes desde os anos iniciais, em Erechim

Fonte de carinho e alegria ao coração

Criar espaços para que cada jo-vem se encontre com questões fundamentais no caminho de amadurecimento na fé. Partindo da realidade para nela fazer mu-danças, o estudante é convidado a cultivar a espiritualidade cristã como uma das propostas radicais para que todos tenham vida. (cf. Jo 10,10)

Assim são os encontros de formação

realizados pela Pastoral no Colégio Ma-

rista Nossa Senhora Medianeira, em Ere-

chim. Todos os 540 estudantes da escola

participam, ao longo do ano, das forma-

ções semestrais e em datas comemora-

tivas. Neles, o estudante é pensado em

todas as suas dimensões de vida, com

ênfase ao crescimento humano.

A fundamentação da atividade de-

corre de pensar e oferecer oportunida-

des de formação em uma época em

que os avanços tecnológicos aceleram

o avanço das mudanças de vida. Nesse

sentido, é primordial identificar princí-

pios e valores que perduram ao longo do

tempo e verificar de que forma é possível

testemunhá-los às novas gerações.

De acordo com a Coordenadora

de Pastoral, Maria Inete Rocha Maia, é

feita uma sondagem da caminhada da

turma, em que são identificadas quais

as maiores dificuldades encontradas

no decorrer do processo de cresci-

mento grupal.

“Nesse mapeamento, nos depara-

mos com diversas situações: proble-

mas de relacionamento, dificuldades

de escuta e partilha, vivência de valores

humanos e cristãos. Para enfrentá-las,

utilizamos dinâmicas de grupo, leitura

e reflexão de textos bíblicos, propor-

cionando momentos individuais de

reflexão pessoal sobre a caminhada

estudantil e sobre a vida”, explica.

O encontro é dividido em momen-

tos bem distintos – de integração, para

quebrar a timidez, de reflexão sobre

as características do grupo, e, por fim,

uma reflexão pessoal de cada indivíduo.

Dessa maneira, é possível ter uma visão

ampla da situação daquela turma, ma-

peando o que pode ser potencializado.

“Todo o trabalho perpassa pelo

exemplo de Champagnat e Jesus.

Mesmo em estudantes que são de di-

ferentes credos e religiões, cultivamos

um carinho pelo carisma e pela histó-

ria Marista”, afirma.

Segundo documento de 2010 da

União Marista do Brasil (Umbrasil), a

pedagogia marista deve ser um espa-

ço que permita o diálogo e fundamen-

tando-se em uma formação integral,

unindo aspectos afetivos, éticos, so-

ciais, políticos, cognitivos e religiosos.

Os estudantes percebem os be-

nefícios desse trabalho. Eduarda Mar-

ques, de 15 anos, cursa o 1º ano do En-

sino Médio e está há um ano em uma

escola marista. Ela diz que percebe

muita diferença de clima e interação

entre os colegas, em relação às escolas

em que estudou anteriormente.

“Aqui a turma é mais unida, quase

não temos conflitos. A própria religio-

sidade é trabalhada de maneira bem

suave, mas reforçando os ensinamen-

tos de Champagnat e revendo os va-

lores maristas”, conta a estudante, que

participa da PJM da escola.

Já o estudante Murilo Chechi, 14

anos, também do 1º ano do Ensino

Médio, citou que, com o incentivo da

Pastoral, não é apenas a relação entre

os estudantes que se fortalece.

“As atividades unem o colégio

também com a família. Alguns encon-

tros, como o acampamento filosófico,

por exemplo, têm a participação dos

nossos pais e a interação é sempre

muito boa”, diz.

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EsPECiAL

“Espiritualidade é a inspiração de uma vida, de um ser hu-

mano ou de um povo”. A frase, dita com tranquilidade pelo

doutor em Espiritualidade pela Universidade Gregoriana

(Roma), Padre Ivanir Rampon, parece simplificar um conceito

amplo, complexo, e, tantas vezes, desconhecido ou confun-

De que forma compreendemos o mundo, as pessoas e Deus? Como nos relacionamos com essas dimensões? Que utopia projetamos para o mundo? Essas perguntas costumam nortear o conceito de espiritualidade. De modo geral, ela perpassa as grandes e pequenas ações, é força que move e alimenta. Do fundador, São Marcelino Champagnat, herdamos uma espiritualidade específica, cultivada e atualizada em cada geração que nos precedeu. Ao ser parte do Carisma, essa espiritualidade é a base para atuação de quem é Marista, como água viva que anima e nos torna fonte para as realidades em que estamos inseridos.

O que nos move, inspira, conecta e fortalece?

dido. Para o entendermos na sua totalidade, no entanto, é

preciso ir um pouco além.

Como princípio, o próprio conceito de espiritualidade é

recente. Apesar de ser, hoje, um termo muito estudado, ele

surgiu apenas no século XVII. Não foi, portanto, uma expressão

utilizada sequer pelos homens que figuraram na Bíblia e, hoje,

reconhecemos como santos.

“A palavra espiritualidade surgiu na escola francesa, que

reunia algumas personalidades importantes – entre elas o

próprio Marcelino Champagnat. Foi um grupo de pessoas

que começaram a perceber a importância do tema e o di-

fundiram”, diz.

Mas, se a palavra espiritualidade é nova, sua raiz, espírito, é

muito antiga. Vem do latim, tradução da palavra pneuma do

grego – que, por sua vez, foi uma tradução de defechnuá, do

hebraico e aramaico. Sua raiz é rhua, que significa ar, vento, inspiração.

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Um conceito e múltiplas interpretaçõesE, se espiritualidade é aquilo que nos inspira a viver, ilu-

mina nossa visão de mundo, é natural percebermos que não

existe apenas uma espiritualidade a ser seguida e vivida. As

mais diferentes influências e projetos de vida inspiram diver-

sas formas de ser e viver a espiritualidade.

O Padre Ivanir Rampon narra, por exemplo, a espirituali-

dade do mercado, de pessoas que vivem em torno do con-

sumo e guiam suas vidas pelo ter em detrimento do ser. Já os

cristãos vivem a espiritualidade do seguimento de Jesus de

Nazaré, que busca o Reino de Deus e sua justiça.

“Em nome do deus mercado, se pode destruir o pla-

neta. Na espiritualidade de Jesus Cristo, acredita-se que

agredir a natureza ou outras pessoas, é agredir o próprio

Criador”, explica.

E, ao mesmo tempo em que existem muitos tipos de

espiritualidade, elas têm em comum o poder agregador, ou

seja, a espiritualidade agrega em torno de uma causa. “Pode-

mos até discordar de pontos isolados, mas a causa nos une”,

afirma o estudioso.

Quando o grupo que segue uma determinada espirituali-

dade cresce, chega o momento de se criar uma organização.

Esse processo nem sempre é pacífico, mas é aí que a espiritu-

alidade mostra sua força e seu valor. “Ela chega para resolver

as tensões, pois as pessoas vivem esses momentos com maior

maturidade. É um bom exemplo para mostrar que em um nú-

cleo familiar, por exemplo, quando o pai e a mãe são providos

de boa espiritualidade, certamente saberão lidar melhor com

os conflitos familiares”, afirma.

A importância do cultivoA espiritualidade, como dimensão antropológica, existe

em todos os seres humanos. Precisa, como tudo na vida, ser

cuidada, cultivada, e as diferentes formas de espiritualidade

criam seus meios de cultivo e aprofundamento. Como cris-

tãos, os meios mais conhecidos de cultivar a espiritualidade

são encontros de formação, celebrações, retiros, a convivên-

cia com pessoas queridas, além das dinâmicas pessoais de

cultivo, como a oração, o silêncio, a meditação.

“Dessa forma conseguimos aprofundar, crescer e clarear

nossa percepção das diversas espiritualidades. Aquele que

não faz essa análise crítica pode viver confuso. Quem apro-

funda, vê algo que precisa ser purificado”.

Em alguns casos, a espiritualidade assume tal importân-

cia, que pode se transformar no principal sentido da vida. As

opções são muitas, e o ser humano é livre para escolher que

caminho seguir, de que fonte beber. Na ação evangelizadora,

a escolha, a vivência, o cuidado e a clareza sobre a espiritu-

alidade, são fundamentais. É o que deve dar sentido para a

atuação do sujeito evangelizador. Além disso, o importante,

ressalta o doutor no assunto, é nunca deixar que as inspira-

ções adormeçam, cultivando cotidianamente seus aspectos

em sua amplitude.

“A espiritualidade em um trabalho pastoral é fundamental. Se o Pastoralista não cultiva, não vive, não opta por uma espiritualidade, corre o risco de ser apenas um ativista. Realiza uma obra desprovida de uma mística, de uma utopia. Vivendo a espiritualidade, o trabalho deixa de ser apenas um ganha-pão, pois se acredita que, através dele, é possível um mundo melhor.” Padre Ivanir Rampon

Saiba diferenciarMesmo sendo conceitos difíceis de resumir, buscamos diferenciar estas quatro dimensões para lembrar que tratam de abordagens e temas distintos, embora se confundam na linguagem cotidiana.• Espiritualidade: a forma de olhar o mundo, o que nos move, nosso jeito de ser. Aquilo que nos inspira as

escolhas que fazemos, o que dá sentido para o que somos e realizamos.• Religiosidade: um sistema de crenças, sustentado e alimentado por uma espiritualidade. É algo que existe

e pode ou não estar ligada a uma instituição religiosa. É um sistema que necessita de crenças (que podem ser boas ou ruins).

• Fé: na sua raiz, que vem do hebraico e aramaico, significa adesão. É aderir a algo que lhe é proposto, ofere-cido. A fé pressupõe uma adesão, uma opção.

• Crença: é ter convicção e concordar com algum ideal. Da mesma forma que a fé, refere-se a uma ideia que é oferecida ao indivíduo – no entanto, a sua adesão é feita de forma mais subjetiva e inconsciente.

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EsPECiAL

“Marcelino foi agraciado com um relacionamento profundo com Jesus e Maria. Nossa espiritualidade teve início com esse dom. Começando com a intuição original, inspirada pelo Espírito, e influenciado por sua própria personalidade e pelos acontecimentos de sua vida, ele e a primeira Comunidade de Irmãos viveram um carisma. Em razão da sua fidelidade criativa, esse carisma começou a se expressar como espiritualidade.” (Água da Rocha, 2007, p.15)

Já percebemos que a espiritualida-de influencia tudo o que somos: nossa vida, nossas relações, sonhos, alegrias, estados de ânimo, lutas e fracassos. O Ir-mão Charles Howard, Superior-Geral do Instituto Marista nos anos 80, em uma de suas circulares, define: “Como Cristãos, vemos o rosto, a mão, a palavra, o alento de Deus em cada um dos aspectos da vida humana, da natureza e do que está além do que vemos e tocamos”.

Quem é Marista – Irmãos, Leigos e Leigas ou profissionais que se iden-tificam com o carisma – possui uma maneira especial e única de viver a espiritualidade herdada de Cham-pagnat. Para o Irmão Howard, a maior herança que recebemos é o dom do amor – um amor incondicional. E, nes-sa experiência pessoal de sabermos que somos amados por Deus, encon-tramos a vida.

No texto Uma Revolução do Cora-ção, outro Superior-Geral, o Irmão Seán Sammon, lembra três características principais da espiritualidade do funda-dor, que encontramos em seu Testa-mento Espiritual: a presença de Deus, a confiança em Maria e as virtudes da humildade e da simplicidade.

“A espiritualidade tem mais a ver com o agradecimento a Deus pelo

Herança do fundador, fonte de ânimo e inspiração para quem é Marista

dom de seu amor incondicional do que com a prática piedosa. Afinal de contas, a gratidão é a raiz de todas as virtudes, é o fundamento do amor e da caridade. Marcelino compreendeu isso e nos convida a fazer o mesmo”, afirma.

Inspirados no modo de vida de São Marcelino Champagnat, entendemos como elemento central da nossa espiritualidade o seguimento de Jesus de Nazaré do jeito de Maria. “Nos inspiramos na Boa Mãe para seguir Jesus e para guiar nosso jeito de ser. Seguimos o caminho de Maria que nos leva a Jesus”, conta o Vice-Provincial e Vice-Presidente da Rede Marista, Irmão Deivis Fischer.

Nosso modo de vida diz sobre o nosso modo de relacionamento com Deus Pai-Mãe. De alguma forma, Deus nos toca sutilmente, lançando-nos à entrega de nós mesmos aos outros. A espiritualidade marista é mariana e apostólica. Mariana porque inspiramo-nos em Maria para vivermos do seu espirito (Constituições nº 4). É apostólica porque está fundada sobre os Apóstolos. “Descobrimos e experi-mentamos Deus nas realidades temporais, próprias do ministério que exercemos, e percebemos o mundo como o lugar onde escutamos, servimos e amamos a Deus”. (XIX Capítulo Geral)

VoCê lEmbRA?• Água da rocha, fonte de vida – Em 2008, o Instituto Marista celebrou o

Ano da Espiritualidade. Diversas atividades dinamizaram o tema, nas dife-rentes realidades em que a missão se faz presente.

• Eixo da Assembleia Internacional – A espiritualidade também foi um dos eixos de reflexão propostos pelo Instituto para a etapa preparatória da II Assembleia Internacional da Missão Marista.

oUtRAS CARACtERíStICAS DA ESPIRItUAlIDADE mARIStA• Enraizada no Deus de Jesus: as características do Deus mostrado por Jesus

resumem-se basicamente em um Deus que não pode fazer mais do que amar, um Deus Pai-Mãe, que quer dar a todos os seus filhos a vida e a felicidade. (Evan-gelizadores entre os jovens, n. 60)

• Encarnada: os apelos do mundo, especialmente dos pobres, tocam o cora-ção de Deus e também o nosso. Superando fronteiras religiosas e culturais, desejamos a mesma dignidade para todos: direitos humanos, justiça, paz e a participação igualitária e responsável das riquezas do planeta (Água da Ro-cha, n. 127 e 128)

• Que se alimenta da missão: nossa resposta apaixonada às necessidades do mundo emerge de nossa espiritualidade. A espiritualidade nos faz viver a missão, que se alimenta nessa espiritualidade e nela se revigora. (Água da Rocha, n. 129)

• Vivida do jeito de maria: Maria inspirou o modo de Marcelino viver a missão. O jeito de Maria, na paciente escuta do outro, na permanente atenção e pronta resposta à vontade de Deus, inspira as nossas ações (Água da Rocha, n. 131)

• Com o coração impregnado de alegria: conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor, ao nos chamar e nos eleger, nos confiou. (Documento de Aparecida, 18)

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o cultivo da espiritualidade como caminho para a qualidade de vidaqualidade de vida. Quando uma luz é muito forte, como a do Sol, as pequenas luzes

não são perceptíveis, mas quando vem a noite, as estrelas somente brilham, porque o

Sol se põe. As noites, os desertos, os momentos de silêncio são necessários e vitais, sau-

dáveis quando nos levam até o nosso profundo. Por isso, é importante silenciar e deixar

os sentimentos virem à tona. Em um mundo que supervaloriza as aparências, viver o

profundo, o belo, dar atenção à nossa espiritualidade e cultivá-la é a possibilidade de

encontro com a essência vital. Perdemos possibilidades de bem-estar, de felicidade, de

realização, de sentido, por não darmos atenção à vida e significado aos fatos que acon-

tecem conosco. Sentir-se amado e amante não custa muito, é gratuito, simples como

as coisas da alma. Pense o quanto você é importante e foi desejado, tanto por Deus,

pelo Universo, pelas pessoas, por este tempo, neste lugar que é sagrado.

Você pode cultivar a espiritualidade de diversas formas, não dispensando alguns

exercícios que geram qualidade de vida: momentos de oração, de silêncio, boas leitu-

ras, boas músicas, cantando, estando na presença de boas companhias, de caminha-

das ao amanhecer ou entardecer, em contemplações à natureza, e até dando atenção

às pessoas nas quais ninguém deposita seu olhar. Você já parou para conversar com

pessoas que moram na rua, como alguém que é igual a elas, mesmo que a situação

delas não lhe seja, por vezes, aceitável? Verá quantas verdades vão ‘acordar’ em você.

Muitos são os profissionais nas áreas espirituais e da saúde que indicam breves

momentos de meditação, de respiração consciente para que tenhamos maior qua-

lidade de vida e de bem-estar. É um tempo tão pequeno, mas tão preciso, e talvez

por isso seja tão difícil assumir cinco minutos diários de cultivo de si. Outros sugerem

comer com mais calma, com atenção, degustar, sentir os sabores, ou simplesmente

sentar-se em um banco da praça e curtir uma boa sombra ou um raio de sol. Cultivo

que nos torna pessoas melhores, mais serenas, amorosas, solidárias à vida. Tente hoje

fazer algo que o torne uma pessoa melhor do que você já é. Talvez encontre cami-

nhos ou se questione mais ainda sobre o que faz você acordar todos os dias.

Gustavo balbinotCoordenação de Vida Consagrada e Laicato da Rede MaristaMembro da Rede Interamericana de Espiritualidade Marista

“Para quem você acorda todos os

dias?”. Confesso que essa questão me

faz pensar. Não quero ter pressa em res-

ponder. Sempre que me vêm à mente,

em momentos de reflexão, encontros

em que é tratado o tema da espirituali-

dade, levanto esta mesma questão: para

quem acordas todos os dias?

Certa vez um senhor, ao despedir-

-se, disse-me: Salipo Thiwa! Perguntei-

-lhe o que significava. Na língua dele,

Umbundu, explicou: “Adeus, meu rosto

provavelmente nunca vai mais ver o

teu. Adeus”. E continuou: “essa sauda-

ção guarda algo sagrado. Por não mais

te ver, vou te guardar no meu coração”.

Quantas vozes e sentimentos guarda-

mos no coração? Quantas experiências

e modos de ser que deram sentido às

nossas vidas? É só dar um minuto de

atenção e pensar o quanto somos ama-

dos e cuidados pela vida e pelas pessoas

que nos amam. Talvez hoje você possa,

com um gesto de carinho, demonstrar

o afeto que tem por alguém que o ama

de maneira especial. Por que esperar

amanhã? Hoje é o tempo de dizer a ele

ou ela, que mora em seu coração, que a

ama e se sente amado por ela.

Pessoalmente, os momentos de si-

lêncio e solidão também fazem parte da

10

missÃo

Uma trajetória de vida marcada

pela fé inabalável, pela compaixão,

pelo amor ao Pai e voltada ao “misté-

rio da salvação das almas”, conforme

palavras do Irmão Francisco, primeiro

sucessor de Champagnat. A presença

envolvente e marcante de Deus em

cada instante de sua vida transparece

nas biografias escritas sobre ele, nas

cartas por ele redigidas, em relatos dos

primeiros Irmãos, e é evidenciada na

escolha de seu Salmo predileto: “Se o

Senhor não edificar a casa, em vão tra-

balham os que a edificam”.

Essa era sua convicção, assim como

a confiança em Maria, a Boa Mãe, seu

recurso habitual. A ela recorria sempre

que se deparava com uma situação di-

fícil, a ela recomendava todos os seus

dias e suas ações. Tal era sua devoção,

que a ela consagrou toda sua obra.

“Maria é a primeira superiora deste Ins-

tituto, tudo lhe pertence, bens e pes-

soas. É Ela quem deve governar”, costu-

mava dizer. Em outra de suas frases, tal

convicção também se revela “Não po-

demos deixar de reconhecer que os su-

cessos tão extraordinários do Instituto,

tão em desacordo com a fraqueza das

pessoas e a pobreza dos meios de que

dispomos, tudo isso é obra de Deus e

da Virgem Maria”.

Conhecer essas e outras caracterís-

ticas do fundador, assim como compre-

ender seu perfil espiritual é fundamen-

tal para entender os fundamentos da

espiritualidade marista. Para o Conse-

lheiro Provincial e Gerente Corporativo,

Irmão Claudiano Tiecher, isso só é pos-

sível entendendo quais as influências e

vivências formataram seu perfil.

O fundador nasceu em plena Revo-

lução Francesa, período marcado por

uma perseguição religiosa muito forte.

Sua primeira inspiração cristã veio por

influência da família. Desistiu da esco-

la ainda menino, depois de presenciar

uma agressão a um colega de turma

que o defendia. Quando jovem, ingres-

sou no Seminário, onde aprofundou

seus estudos.

Nessa época, adotou a catequese

de crianças e jovens como uma mis-

são, mesmo durante suas férias com a

família. Em 1816, quando foi ordenado

presbítero, cultivou sua espiritualidade

em meio ao período pós-guerra, mar-

cado por dificuldades e sofrimentos.

Escolheu e fez seu juramento em Maria

como espelho para agir em prol daque-

les que mais necessitavam.

“Nessa mesma época o Episódio

Montagne foi fundamental para que ele

fizesse o recorte da juventude em sua

inspiração. Assumiu, à época, a missão

de tirar crianças e jovens da ignorância

em Deus e formar Irmãos para auxiliá-

-lo”, recorda Irmão Claudiano.

Ao fundar o Instituto dos Irmãos

Maristas e chamando os seus integran-

Espiritualidade que nas ce da vida de Champagnat

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tes de “Irmãos”, Champagnat já anun-

ciava o sentido de pertencimento a

uma família unida no amor de Jesus,

espelhando-se no lar de Nazaré. Es-

pírito feito de amor e perdão, ajuda e

apoio, esquecimento de si, abertura

aos outros e alegria.

Como água de uma fonte inesgo-

tável, o perfil espiritual de Marcelino

Champagnat guia a ação de milhares

de pessoas ao longo desses quase 200

anos de fundação do Instituto Marista.

Um dos principais aspectos da espiri-

tualidade que inspira essas pessoas é

que ela está ancorada na realidade, no

sentido da missão, concretizada por

uma vida comprometida e dedicada

a uma causa.

Os lugares centrais para sua configu-

ração também nos ajudam a entender

como a espiritualidade marista se mani-

festa: o Presépio, que significa humilda-

de e pobreza; a Cruz, que remete à Mis-

são, ao entregar a vida a um propósito;

e o Altar, que representa a celebração, a

oração como elemento vital. Outros sím-

bolos também são utilizados para exal-

tar as características do fundador, que

nos inspiram até hoje. Entre eles, está a

violeta como simbologia da humildade,

simplicidade e modéstia que devem ser

inerentes a qualquer marista.

montAGnE: o ClAmoR DAS JUVEntUDES QUE ChAmPAGnAt SoUbE oUVIRUma experiência marcou profundamente a vida e a missão de Champagnat, e, consequentemente, o impactou no sentido de sua espiritualidade. No final do ano de 1816, ele foi chamado a confessar um jovem em seu leito de morte, joão Batista Montagne, de apenas 17 anos. Ao se deparar com o jovem que nem sequer tinha ouvido falar de Deus, Marcelino percebeu a urgência em anunciar às crianças e jovens a presença de Deus e de jesus. Champagnat olha a realidade à sua volta e se dispõe a transformá-la, assume seu compromisso e convida outros a participar dessa missão. Poucos meses depois, em 2 de janeiro de 1817, fundou a o Instituto dos Irmãos Maristas.

Irmãos maristas representantes de três gerações contam como as características da espiritualidade marista se manifestam em seu dia a dia.

Espiritualidade que nas ce da vida de Champagnat

Ser Irmão Marista é ser presença no meio das crianças e dos jovens, principalmente daqueles que mais necessitam. Creio que essa seja uma das características importantes de Marcelino que me inspira a ser Irmão Marista. Mesmo com os Irmãos longe, ele visitava-os e se fazia presente por meio das orações e cuidava-os com carinho. Ser presença nesse contexto é se fazer presente lá onde as crianças e os jovens estão, é também desafiar-se, sair do comodismo e ir até eles.Irmão matheus da Silva martins, Comunidade Marista de Novo Hamburgo

Vivemos o espírito de família na convivência cotidiana, em comunidade, na acolhida ao outro, nas atitudes de abertura, flexibili-dade, cuidado de si, de ajuda mútua e do perdão. Procuramos nos conhecer sempre mais em nossas aspirações, dúvidas, fragilidades e nossas diferenças. Damos valor na participação e na construção coletiva da comunidade, procurando ser alegres e viver a fraterni-dade e conciliar nossas diferenças. Em sintonia com a população, procuramos ser constantes no trabalho cotidiano, desde os serviços mais simples, que vão do cuidado da casa aos mais complexos, como o trabalho de evangelização, educação e solidariedade.Ir. Romidio Siveris, Comunidade Marista Novo Hamburgo (Canudos)

Impressiona-me, na vida do Padre Champagnat, o seu amor à pobreza. Com as economias de jovem pastor conseguiu apenas custear sua pensão no seminário. Ao receber as ordens sacras, nada possuía. Quando decidiu iniciar a sua obra, teve de pedir empres-tada uma quantia para comprar a pobre casinha destinada a ser o berço de seus primeiros discípulos. Tudo quanto recebia como coadjutor de La Vala, destinava-o aos pobres ou à sua comunidade. De boa vontade, os Irmãos se privavam de tudo o que não fosse indispensável. A simplicidade transparecia em tudo: no vestuário, na alimentação, na moradia. Champagnat inspirava o amor à pobreza, habituando os Irmãos à economia e à ordem.Irmão Salvador Durante, Residência Provincial (Porto Alegre)

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DirETrizEs

Inspirando a profecia

Certa vez, um jovem militante de

organizações populares da vila onde

mora, entre alegrias e frustrações em

relação às pessoas, afirmou: “Nossa

crença não pode ser em pessoas que

admiramos, mas naquilo que elas acre-

ditam”. Dessa afirmação, podemos re-

fletir sobre onde está baseada a nossa

fé: nas pessoas ou naquilo para onde

elas apontam? Nas “coisas” ou naquilo

que elas evocam? Na pessoa de Jesus

ou no Projeto pelo qual ele viveu?

O Projeto pelo qual Jesus viveu é o

Reino de Deus. O Reino não é abstra-

to. É real. Exige atitude, posicionamen-

to, pois convoca à defesa da vida de

pessoas, plantas, águas, ar, rochedos,

aves, enfim, em tudo o que compõe a

comunidade da vida. Nesse sentido, o

seguimento de Jesus de Nazaré impli-

ca construir uma sociedade solidária,

fraterna, com justiça social, onde a vida

seja plena.

Parece simples, mas se olharmos ao

nosso redor, perceberemos um mode-

lo societário que, movido pelo capital,

pelo lucro a qualquer custo, produz in-

justiças, guerras, mortes. Ter a fé de Je-

sus é não compactuar com estruturas

que matam, com o “jeitinho brasileiro”,

com a corrupção em qualquer esfera

da teia social, com a naturalização da

pobreza, com o extermínio das juven-

tudes... É denunciar tudo o que produz

morte. Porém, não basta constatar e

denunciar. É preciso agir, um fazer co-

tidiano, uma práxis. O que podemos

fazer então?

Vamos a algumas inspirações• Princípio coletividade: diante das multidões com fome, Jesus pede para que

sentem em grupos de cinquenta (cf. Lc 9, 12-17). Este episódio é conhecido como

o “milagre da multiplicação dos pães”. Onde está o milagre? O milagre está na orga-

nização, começa a acontecer quando as pessoas se reúnem em grupo. Quem fez

o milagre? Os sujeitos do milagre são as pessoas reunidas. O milagre se completa

quando cada qual coloca em comum o pouco que tem para partilhar. A organiza-

ção, o coletivo, a cooperação pode reunir forças capazes de realizar milagres. Esse

princípio me inspira a ser como e a fazer o quê?

• Princípio serviço: Maria visita Isabel quando ela precisa de ajuda (cf. Lc 1, 39-45).

“Aqueles que nos governam deixam-se guiar pelo espírito da Serva do Senhor.

A seu exemplo ouvem, refletem e agem” (Instituto dos Irmãos Maristas. Consti-

tuições e Estatutos. São Paulo: Simar, 1997, artigo 120). A serviçalidade diante de

necessidades básicas é atitude constituinte da liderança mariana. Esse princípio

me inspira a ser como e a fazer o quê?

• Princípio compaixão/solidariedade: a situação de fragilidade da vida de um

jovem nos duros tempos da pós-Revolução Francesa (FURET, Jean-Batiste. Vida de

São Marcelino José Bento Champagnat. São Paulo: Edição do Bicentenário, 1989,

p.55-56) tocou profundamente Champagnat, que percebeu a urgência em fazer

algo em defesa da vida das crianças e dos jovens. Daí dedicou suas forças a fundar

o Instituto dos Irmãos Maristas, com a finalidade de evangelizar pela educação. O

fato de proporcionar educação às pessoas oportuniza a aquisição de um tesouro

que pode ser manipulado, mas nunca roubado. Esse princípio me inspira a ser

como e a fazer o quê?

Karen Theline Silva, Marcos José Broc e José Jair Ribeiro, Coordenação de Pastoral

Quem vive em áreas onde milhões de criaturas humanas vivem de modo subumano, praticamente em condições de escravidão, se não tiver surdez de alma, ouvirá o clamor dos oprimidos. E o clamor dos oprimidos é a voz de Deus. (CÂMARA, Dom Hélder. O deserto é fértil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1975, p. 23 ).

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O divino que habita nos adolescentes e jovens

Um grande desafio, nos dias de hoje, é reconhecermos que nos segmentos da sociedade, chamados de adolescências e juventudes, se encontram as Sementes do Verbo, as sementes de Deus. Entrar em contato com o “Divino” que os habita é entender sua psicologia, sua biologia, sua sociologia e sua antropologia com o olhar da ciência de Deus. Em contato direto com eles, descobrimos suas esperan-ças e frustrações, seus desejos e aspirações. A vida e o rosto dos adolescentes e jovens são para nós lugar de revelação e de encontro com o Deus da vida. Considerar as juventudes como lugar teológico (da presença de Deus) é acolher a voz de Deus que fala por eles. A novidade que a cultura juvenil nos apresenta neste momento, portanto, é sua teologia – isto é, o discurso que Deus nos faz através das juventudes. De fato, Deus nos fala pelos jovens. As juventudes, nessa perspectiva, são uma realidade teológica que precisamos aprender a ler e des-velar. Não se trata de achar que nas juventudes não há erro; trata-se somente de ver o sagrado que se manifesta de muitas formas, também na realidade juvenil.Uma verdadeira espiritualidade possibilita às juventudes encontrar-se com a re-alidade sublime que há dentro delas, manter um diálogo constante com Aquele que as criou. Assim como as juventudes têm um “modo de ser”, também há um modo juvenil de viver a vida, de viver os valores, de seguir Jesus de Nazaré, de assumir o seu projeto. Dessa forma, podemos nos perguntar: existe uma espiri-tualidade juvenil com características próprias? Se entendermos espiritualidade como a inspiração e a expiração que nos faz viver; como o sentido e o estilo de vida que assumimos, enfim, como um modo de ser, poderemos afirmar que exis-te uma espiritualidade juvenil1. Eis algumas características.

1. EnContRAR DEUS nA VIDA. É a espiritualidade do cotidiano da vida dos adolescentes e jovens em suas diferentes especificidades e em suas diversas situações.

O jovem não precisa encontrar Deus, pois Ele já está em todos os seres. Nós temos que aceitar e dizer SIM para Ele! Basta uma simples atitude de percepção das coisas básicas no dia a dia, e permitir-se que nosso Pai esteja sempre conosco. matheus Cristofolli, Animador da PJM do Colégio Marista Maria Imaculada, Canela, RS

1 - As características foram retiradas do artigo do P. Hilário Dick. mínimo do mínimo para anunciar uma boa-nova à juventude e completadas com depoi-mentos de Animadores/as da PJM.

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4. tEStEmUnhAR A AlEGRIA E A ESPERAnçA. O ser simplesmente adolescente e jovem é uma espiritualidade quando feita com consciência. Os adolescentes e jovens são uma verdadeira liturgia, uma festa, uma celebração.

O jovem tem o dom de externar sua espiritualidade em diversos momentos. A expressão de bem-estar, paz e alegria, externada na maior parte das vezes através de sorrisos, se torna a mais pura impressão da espiritualidade que existe dentro de cada adolescente e jovem. Assumir a espiritualidade como projeto de vida, faz com que ela se faça presente em tudo, até mesmo nos gestos mais singelos do cotidiano de cada um, pois, a partir daí, faz parte do ser e acontece naturalmente. manoela Fagundes, Animadora da PJM do Colégio Marista Champagnat, Porto Alegre, RS

5. ASSUmIR o AnúnCIo E o ComPRomISSo DE SER mISSIonÁRIo. Onde quer que esteja e em tudo que estiver fazendo, como adolescente e jovem, pois é viver o êxodo de si mesmo, é viver a espiritualidade do êxodo.

6. tER Um lUGAR ESPECIAl PARA oS PEQUEnoS, oS PobRES E oS ExClUíDoS. É a espiritualidade da opção pelos pobres. Quando se consegue vislumbrar adolescentes e jovens vivendo isso, compreende-se a grandeza da pessoa humana.

Conviver com as diferenças é bom para termos noção do mundo em que a gente vive. Incluí-los em nossa vida é muito importante para decidirmos, não só o nosso o futuro, mas o deles também. Afinal, são pessoas como nós, e compreender isso nos torna pessoas mais criativas e ousadas com as diferenças e com o mundo a nossa volta. Rômulo Vizzotto, Animador da PJM do Cesmar, Porto Alegre, RS

Os adolescentes e jovens querem que falemos de Deus para eles, mas não na

perspectiva de um Deus distante e abstrato e, sim, de alguém que mora dentro de-

les, que é real a partir do seu modo juvenil de ser alegre, dinâmico, criativo, ousado.

Precisamos mostrar às juventudes a beleza e a sacralidade da sua vida, o dinamis-

mo que ela comporta, o compromisso que daí emana, assim como a ameaça que

ocorre todos os dias contra as suas vidas.

2. VIVER Como JESUS VIVEU. É a espiritualidade do seguimento de Jesus, contemplado nos Evangelhos, mas vivo e presente na história e no modo de ser dos adolescentes e jovens.

Jesus está em nós jovens, e a vontade de fazer a diferença e viver a Civilização do Amor é reflexo disso. Vivemos o sentimento de Jesus quando queremos que as coisas mudem, talvez de maneira mais impulsiva, “revoltada”, imediatista, mas queremos que o amor prevaleça, e junto com ele o respeito, a solidariedade, a valorização da vida, do ser coletivo, de simplesmente se importar com o próximo. Viver como Jesus viveu é amar viver, amar a vida e todos os elementos bons que a cercam.Amanda da Rosa Canabarro, Animadora da PJM do Colégio Marista São Luís, Santa Cruz do Sul, RS

3. CUltIVAR A ComUnhão E o SERVIço. Trata-se, no fundo, de viver o espírito comunitário, de pertença a uma comunidade, a um grupo, desejo profundo das juventudes.

Nós jovens buscamos a vivência grupal para nos sentirmos parte de algo, termos senso de comunidade. É um lugar de apoio e união que nos ajuda a construir a Civilização do Amor. Andressa Piccinini,Animadora da PJM do Colégio Marista Conceição, Passo Fundo, RS

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Em rEDE

Confira as ações evangelizadoras que marcaram o primeiro semestre nas unidades maristas.

Os Animadores/as da PJm do Colégio marista Champagnat (Porto Alegre, RS) fizeram uma reunião com o objetivo de organizar a PJM local, sistematizar o acompanhamento e planejar os novos rumos da PJM no Colégio.

Durante todo o mês de abril, o Centro Social marista mário Quintana (Gravataí, RS) celebrou a Páscoa no seu verdadeiro sentido, na lógica de que esta data não pode ser vista apenas pelo lado comercial, e sim pelo amor que Deus continua tendo com seus filhos. As atividades envolveram os educandos, colaboradores e funcionários.

A II AIMM oportunizou a realização de encontros que reuniram diversos grupos na PUCRS (Porto Alegre, RS). Foram momentos de reflexões sobre os desafios de con-ciliar produção e difusão do conhecimento com a missão marista de evangelizar, formação integral, espaços de formação, além do cultivo e vivência da espiritualidade marista como opção estratégica na universidade.

Com a temática Espiritualidade: um modo de ser! Qual? os Pastoralistas da Rede de Colégios e Unidades Sociais, PUCRS e HSL se reuniram para dois dias de estudo, partilhas e retiro. O encontro é uma das ações do Programa Formação de Pastoralistas, que tem como objetivo capacitar o grupo, qualificando os processos pedagógico-pastorais.

As equipes da Escola de Educação Infantil marista menino Jesus e Centro Social marista Ir. Antônio bortolini (Porto Alegre, RS) vivenciaram um retiro com momentos para a formação marista, reflexão e também para trabalhar a união do grupo.

O Colégio marista João Paulo II (brasília, DF) realizou os primeiros encontros de formação com estudantes. Os objetivos foram proporcionar tempos de integração, refle-xão, partilha e oração, além de vivenciar momentos forma-tivos e de cultivo, na perspectiva do Carisma Marista.

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