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Crise O que o Brasil deve esperar do cenário internacional em 2012

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O futuro do Magazine Luiza

NOVA FASE Com um pé no governo, Luiza Trajano arruma a casadepois do IPOe das aquisições

CERVEJASA estratégia da Petrópolis

para desbancar os estrangeiros e fi car

com a vice-liderança

VERGONHACansados de

falcatruas, brasileiros pressionam por

mais punição no país

da corrupção

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Janeiro, 2012 AméricaEconomia 3

Foto de Capa:Marcela Beltrão

SEçõES4 Portal6 Carta ao Leitor8 Índice de Empresas10 Pistas12 Negócio Fechado

14 Movimentos35 Opinião – Caio Megale39 Opinião – Mac Margolis 78 Ibiz – Bancos Móveis82 Opinião – Luiz Fernando Furlan

FinAnçAS

50 Monopólio ameaçadoOs concorrentes da BM&FBovespa

54 Entrevista – Edemir PintoO impacto da crise na bolsa

56 PremiaçãoAméricaEconomia homenageia os maiores bancos da América Latina

DEbAtES

58 Riscos GlobaisO que a economia reserva para 2012

64 CorrupçãoBrasileiros pedem punição mais rigorosa

71 IndicadoresPobreza diminui na América Latina

72 Saúde de ChávezRevolução bolivariana em xeque

74 Indústria petroleira na ColômbiaSetor ganha força envolto em polêmicas

76 Disputas trabalhistas Consultoria ajuda a reduzir problemas

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18 Mercado cervejeiroGrupo Petrópolis acelera crescimento

26 CAPA – Magazine LuizaO ano de arrumar a casa

32 Rumo à América Latina Os planos da Hering fora do Brasil

36 Papel e celulose Otimistas, brasileiras investem em aumento de capacidade

40 Aviação low-cost Peru planeja nova companhia estatal

42 Especial Empreendedorismo As histórias que deram certo

48 Especial EmpreendedorismoCuba ganha curso voltado aos negócios

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PORTAL

4 AméricaEconomia Janeiro, 2012

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Custo socialA expansão das despesas primárias da União, nos úl-timos dez anos, tem sido provocada pelo aumento dos gastos com transferência de renda e com repasses para estados e municípios. Resultados de um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), publicado no site de AméricaEconomia, mostram que a redistribui-ção de renda por meio de gastos sociais foi a principal causa do crescimento dos custos federais no período. A

PIB encolhidoO Brasil teve o pior resultado entre os Brics para a evolução do PIB (Produto Interno Bruto) no ter-ceiro trimestre de 2011, ante o mesmo período de 2010, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Ge-ografi a e Estatística). Enquanto a economia brasi-leira registrou 2,1%, a China teve alta de 9,1%, a Índia, de 6,9%, a Rússia cresceu 4,8% e a África do Sul, 3,1%. Na comparação com o trimestre ante-rior, o PIB do Brasil teve expansão nula no período (0,0%), fi cando atrás de Japão (1,5%), Noruega (1,4%), México (1,3%), Coreia do Sul (0,7%), Chile (0,6%), Alemanha (0,5%), Estados Unidos (0,5%), Reino Unido (0,5%), França (0,4%) e União Euro-peia (0,2%).

Contra a miséria infantilO governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lançou, em dezembro, o programa Missão Filhos da Venezuela, que prevê a transferência de 430 bolívares – cerca de R$ 180 – por mês para crianças e adoles-centes menores de 18 anos que vivem em situação de extrema pobreza no país. Dependentes com defi ciên-cia poderão receber 600 bolívares – aproximadamen-te R$ 250. Segundo dados do governo, a pobreza na Venezuela caiu de 49% para 27,4% entre 1998 e o primeiro semestre de 2011. Já a pobreza extrema pas-sou de 21% para 7,3% no mesmo período. No entan-to, o país ainda tem cerca de 2,5 milhões de pessoas em condição de extrema pobreza, entre elas 800 mil crianças com até 9 anos.

Leia no PortalSiga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil

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Nem a crise internacional deve conter o aumento da demanda mun-dial por energia. A edição 2011 do anuário “World Energy Outlook”, divulgado em dezembro pela AIE (Agência Internacional de Energia), aponta que haverá um acréscimo de um terço entre 2010 e 2035. A China continuará sendo o maior consumidor mundial, usando 70% a mais de energia do que os Estados Unidos, o segundo colocado. Para a diretora executiva da AIE, Maria van der Hoeven, o Brasil tem avançado signifi cativamente no conhecimento e no desenvolvimento de tecnologias. “Apesar de não ser um país membro, o Brasil tem parcerias bastante positivas com nossa agência”, lembrou a diretora, citando, entre as tecnologias, a de veículos bicombustíveis. No entan-to, a demanda primária por energia crescerá 78% entre 2009 e 2035 no país. “É o segundo maior aumento, atrás apenas da Índia.”

Mais energia

transferência de renda às famílias respondeu por 71,1% das despesas federais de 2001 a 2011. Esse aumento, no entanto, não é resultado de transferência pelo Programa Bolsa Família, mas por aposentadorias, auxílios e pen-sões pagos pela Previdência Social. Os benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) responderam por 33,1% do crescimento das transferências às famílias em relação ao PIB, entre 2004 e 2010.

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6 AméricaEconomia Janeiro, 2012

CARTA AO LEITOR

PUBLISHERJosé Roberto Maluf

CONTEÚDODiretora de Redação: Tatiana EngelbrechtEditora Executiva: Paula PachecoDiretor de Arte/Projeto Gráfico: Luiz Fernando MachadoRepórteres: Graziele Dal-Bó e Sérgio SiscaroEditora do Site: Adriana ChavesRevisão: José Genulino Moura RibeiroColaborador: Vértice Translate (tradução)

COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Maurício Castro – [email protected] de Contas: Dora Magalhães – [email protected] Hidalgo – [email protected]

MARKETINGMarcia Leonardi e Elisangela Goto

ADMINISTRATIVO/FINANCEIROGerente Financeiro: Edison Arduino

CIRCULAÇÃOGerente: Fatima Oliveira

Pré-impressão: First PressPeriodicidade: Mensal (Janeiro de 2012)CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica

Circulação auditada por:

SPRING EDITORA-PRODUTORARua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666Site: www.springcom.com.brE-mail: [email protected]

AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONALDiretor: Elias Selman CarranzaVice-presidente Executiva: Gloria Landabur C.Diretor Editorial: Felipe Aldunate M.Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Carlos Tromben (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil)Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel CandiaChefe de Operações: Matías Agurto

AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE(Estudos e Projetos Especiais)Diretor: Jaime Contreras SoriaPesquisador Sênior: Andrés AlmeidaAnalista: Catherine Lacourt e Rodrigo Dorn Pesquisador Especial de Cidades: Marco Ceballos

AMÉRICAECONOMIA.COMDiretor de Estratégia Digital: Rodrigo GuaiquilEditor: Lino Solis de Ovando

ESCRITóRIOSBuenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052

Chairman: Robert R. Paradise

BRASILwww.americaeconomiabrasil.com.br

Como se inspirar em 2012?No encontro de fim de ano com a imprensa, Dilma Rousseff fez um balanço

sobre os primeiros 12 meses de governo, marcados pela demissão de sete mi-nistros – seis deles envolvidos em escândalos de corrupção. Muito cobrada pela opi-nião pública e pela mídia, sob a ameaça de dar adeus a mais um ministro (Fernando Pimentel, do Desenvolvimento), a presidente trombeteou que não serão admitidas irregularidades em sua gestão. “Não tem nenhum compromisso com qualquer prá-tica inadequada de corrupção dentro do governo. É nenhum, zero. Tolerância zero”, disse. Uma presidente que não compactua com irregularidades no governo pode ser o apoio necessário para que as regras do jogo mudem e as punições tornem-se mais rigorosas no Brasil, tanto para corruptores quanto para os que se deixam corromper. O assunto ganha cada vez mais apoio dos brasileiros, como mostra nossa reportagem especial sobre corrupção.

No mesmo café da manhã com jornalistas, Dilma falou sobre o que espera para a economia em 2012. Ela acredita em um crescimento de 5% do Produto Interno Bru-to. Já economistas como Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, não estão tão otimistas. AméricaEconomia mergulhou nos temas mais relevantes que podem influenciar os próximos passos que o governo e as empresas pretendem dar neste ano, como os conflitos no Oriente Médio e o preço do petróleo, a demanda chinesa por commodities brasileiras, taxa de juro, câmbio, inflação, estabilidade política na Amé-rica Latina e, é claro, a grande incógnita: o futuro da Europa e do euro.

Foi nesse ambiente de instabilidade, agravado em 2011, que o Magazine Luiza abriu capital e absorveu 121 lojas do Baú da Felicidade. Um ano antes, havia comprado a rede nordestina Maia, com cerca de 150 lojas. Com tantas movimentações, chegou a hora de colocar a casa em ordem, como conta Luiza Helena Trajano, presidente da empresa, em nossa reportagem de capa. Há 20 anos no comando da companhia, fun-dada pela tia na cidade paulista de Franca, Luiza conseguiu sair de um faturamento de R$ 100 milhões (1991) para R$ 5,3 bilhões (2010). E vem mais desafio pela frente: a meta é chegar a R$ 15 bilhões em vendas em 2015.

São trajetórias como a de Luiza Helena que inspiram o crescimento no número de empreendedores no Brasil – cada vez mais por vocação do que por necessidade. Nesta edição, conheça cinco histórias de empresários que tiveram boas ideias, perseverança e chegaram longe, como Alexandre Tadeu da Costa, dono da rede Cacau Show, que em pouco mais de duas décadas, conseguiu abrir 1.100 lojas.

Outra história de sucesso é a do Grupo Petrópolis, que, em 17 anos de existência, saiu da região Serrana do Rio de Janeiro para ganhar o país com cervejas como a Itaipava. Em um curto tempo de vida, a empresa já é dona da vice-liderança nesse disputado mercado, onde predominam as companhias estrangeiras.

Boa leitura!

José Roberto Maluf

ASSINATURAS Central de AtendimentoTel.: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90

Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro.Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.

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Fato Relevante

A Grau Gestão de Ativos parabeniza a Alothon Group LLC e a MTel

Tecnologia S.A., empresa do setor de outsourcing de redes e serviços

de telecomunicações e tecnologia da informação, pela realização

da operação na qual a Alothon passa a ser controladora da Mtel.

A entrada da Alothon no controle da Mtel dá a esta ainda mais

condições de continuar crescendo e prestando serviços de reconhecida

qualidade em setores fundamentais para o desenvolvimento brasileiro.

A equipe de profissionais da Grau Gestão de Ativos registra

publicamente o seu orgulho de ter atuado como assessora exclusiva

da MTel na estruturação desta importante operação.

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8 AméricaEconomia Janeiro, 2012

ÍNDICE DE EMPRESASOs números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.

Fale com a redação: Envie sugestões e comentários para a revista – AméricaEconomia Brasil: [email protected]

ERRATANa nota “Munição Contra a Pirataria” (AméricaEconomia nº 406, novem-bro 2011), os percentuais de parti-cipação no site Buscapé e no Grupo Abril referem-se ao Grupo Nasper, e não à sua controlada, a Irdeto.

A.T. Kearney 15Aerocondor 41Aerolíneas Argentinas 40Aerolíneas del Perú 41AeroPerú 40Air France 40Airbus 41Ambev 19American Airlines 40Arauco 37Avianca 40B2W 28Backus y Johnston 20Banamex 56Banco do Brasil 56, 66Banco Votorantim 56Bancomer México 56Bats Global Markets 50Baú da Felicidade 28Blue Coat 14BM&FBovespa 50, 54Bolsa de Valores do Rio 52Bombardier 41Bradesco Vida e Previdência 14Bradesco 56Brasilprev 14Brazil Pharma 12British Airways 40BTG Pactual 12Buscapé 8Cacau Show 44Caixa Econômica Federal 56, 80Camargo Corrêa 13Carlsberg 23Carrefour 16Casas Bahia 16, 29Citadel Derivatives Group 53Claritas 52CNA 46Companhia das Letras 12Companhia das Marcas 12Concept 20Confab Industrial 13Continental 40Conviasa 40Corporación Cimex 48Correios 67CSN 13Delta Airlines 13, 40Deutsche Börse 53Diageo 23Direct Edge 50EasyJet 41Economatica 34Ecopetrol 75

Eldorado Celulose 36Embraer 16Emerald Energy 74Estrela Galdino 12Extra 16Femsa 19Fischer & Friends 24Florestal Brasil 38Fran Systems 43Fras-le 12Freios Controil 12Gerdau 13Gol 13, 40Goldman Sachs 53Grupo Abril 8Grupo Fitta 45Grupo Friedman 34Grupo Nasper 8Grupo Petrópolis 19Grupo Safra 13Heineken 19Hering 32Hinterlaces 72HSBC Brasil 56Hypermarcas 28IHS Cambridge 39Inbrands 12Insinuante 30International Securities Exchange 53Irdeto 8Itaú Previdência e Seguros 14Itaú Unibanco 15, 31, 56, 80J.P. Morgan 53Jubilut Junior 76Julius Baer 13Kirin 19Klabin 36KLM 40Knight Capital 53KPMG 20Lafis 21LAN 17, 40Lehman Brothers 35Lockheed 14Luxottica 12Magazine Luiza 26Maia 28Marsam 46Mineração Ouro Negro 13MoneyFit 51Multirede 51Nielsen 20Nippon Steel 13Northwest 40Nyse Euronext 50

Organizações Globo 16PacificRubiales 75Penguin 12Pernambucanas 31Petrobras 55, 75Petrominerales 75Planner 34Pluspetrol 75Prospectiva 63Rabobank 13Rádio Ibiza 44Randon 12Raymond James 28Rede Record 22Reserva Metais 46Rio Bravo Investimentos 59Risi 37Rotovic 47Ryanair 41SABMiller 20Santander 56, 80Sarasin 13Schincariol 19Schwartsman & Associados 61Siderar 13Sinochem 75Southwest 41Stefanini IT Solutions 8SunGard 56, 59Suzano 36Synergy 40Tá Surdo Produções 44Taca 40TAM 17, 40Trans Perú 40Techint 13Tecnol 12Telebrás 66Telefônica 11Telemar 66Tenaris 13Ternium 13TIM 11Um Investimentos 50Unilever 10United 40Usiminas 13Vale do Corisco 37Vale 66Varig 40Vip Lavanderia 46Votorantim 13Walmart 16WebJet 40Zoom 16

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CARTAS

AgRAdEcimEnToFoi com muito orgulho que recebi a última edição da revista America- Economia, na qual tivemos o privilé-gio de ver a história da Stefanini re-tratadacomtantoprofissionalismoe dedicação pelo jornalista Sérgio

Siscaro. Gostaria de parabenizar a revista pela qualidade da apuração e reportagem. Um abraço e boas festas!

Marco StefaniniCEO da Stefanini IT Solutions

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Eleições O Brasil tem candidato para assumir o lugar de Lula e Dilma?

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Stefanini ITSolutions: orolo-compressor da tecnologia brasileira ganha o mundo

LINGERIESCorpão de

Gisele Bündchen esquenta os

negócios da Hope

NEYMAR, O POP STARCom staff de

astro, jogador dá uma bica

no futebol europeu e fatura

alto no Brasil

Marco Stefanini, presidente

da empresa

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10 AméricaEconomia Janeiro, 2012

Cuba avança

PUBLICAMOS Em 2008, Raúl Castro assumiu as funções do irmão, Fidel, que se re-tirou ofi cialmente da vida política. Logo iniciou um projeto de reformas econômicas para “eliminar proibi-ções, já que muitas delas tiveram como objetivo evitar o surgimento de novas desigualdades em um mo-mento de escassez generalizada”. Hoje os cubanos podem se hospe-dar em hotéis, alugar automóveis, comprar celulares e eletrodomésti-cos. (“Cuba Libre?”, AméricaEcono-mia, nº 406, dezembro 2011)

O NOVO Até o início de dezembro do ano pas-sado, o governo de Cuba já havia re-gistrado a negociação de mais de 3 mil carros, desde que permitiu, no co-meço de outubro, a compra e venda de veículos na Ilha, modalidade que esteve proibida por 50 anos no país. A medida ainda possibilita aos cubanos, além de comprar ou vender, serem proprietários de mais de um veículo ou doar seus carros. Dessa forma, mais de 990 doações foram registra-das, entre as quais 341 foram realiza-das na capital Havana.

Mais dinheiro para ocofrinho de Neymar PUBLICAMOS

Só os grandes talentos internacionais têm o staff nas proporções de Neymar da Silva Santos Júnior, o atacante do Santos, dono do maior salário do futebol brasileiro e um dos 20 maiores do mundo, estima-se. O jogador é um fenômeno também no mercado publici-tário. Cada contrato com patrocinador tem um valor médio de R$ 2 milhões por ano. Desse total, 10% fi cam com o Santos. O restante engorda a conta do jovem de 19 anos. (“Uma Nova História na Vila”, AméricaEconomia, nº 406, dezembro 2011)

O NOVO No fi m de novembro, a Unilever juntou-se ao time das empresas que patrocinam o atacante Neymar, do Santos. O acordo com o novo patro-cinador tem validade até julho de 2014, e vai render a Neymar cerca de R$ 180 mil por mês.

Mudanças no Cade PUBLICAMOS

No início de outubro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que mudará os processos para a conclusão de fusões e aquisições. A nova legislação cria o chamado Supercade, uma estrutura que dá mais poder ao Cade. (“Negócios entre ‘Hermanos’”, AméricaEcono-mia, nº 405, novembro 2011)

O NOVO Com a sanção da nova Lei Antitruste pela presidente Dilma Rousseff, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) passará por um processo de transição que será tocado por dois presidentes. O presidente atual, Fernando Furlan, deixa o cargo neste mês, quando termina seu mandato. Em seguida, assume o conselheiro Olavo Chinaglia, o decano do órgão antitruste.

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Neymar desponta como aposta do

mercado publicitário

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Janeiro, 2012 AméricaEconomia 11

Expansão dos celulares PUBLICAMOS

A chegada de uma torre de trans-missão da Telefônica à cidade de Belterra, no Pará, aumentou o nível de empreendedorismo no local, graças ao acesso à tele-fonia celular e à internet. (“Mais do que Supérfluo”, AméricaEco-nomia, nº 406, dezembro 2011)

O NOVO De acordo com a Folha Online, a TIM lançou uma estratégia de ex-pansão na recém-pacificada Favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, por meio da qual seus pro-dutos são comercializados pelos antigos “agentes” do sistema ilegal de TV por assinatura. A Rocinha também recebeu, recentemente, uma nova antena, para melhorar a cobertura da operadora.

Drogas PUBLICAMOS

Ainda que tenha uma produção muito pequena, o Brasil é uma importante rota por onde passa a droga produzida em alguns países vizinhos. E pouco se ouve falar so-bre programas conjuntos para o combate ao tráfico na região. (“Re-pensando a Guerra”, AméricaEco-nomia, nº 404, outubro 2011)

O NOVO A presidente Dilma Rousseff e os ministros da Saúde, Alexandre Padi-lha, e da Justiça, José Eduardo Car-dozo, lançaram, em dezembro, um conjunto de ações para enfrentar as drogas. A União prometeu investir R$ 4 bilhões com o objetivo de au-mentar a oferta de tratamento de saúde aos usuários, enfrentar o trá-fico e as organizações criminosas e melhorar as ações de prevenção.

Dilma segue em alta PUBLICAMOS

Dilma tem tido papel importante na onda de atra-ção de investimentos de empresas transnacionais no Brasil, como analisa o economista Antonio Corrêa de Lacerda, especialista em globalização e professor da PUC. (“Um Novo Milagre Econômi-co”, AméricaEconomia, nº 405, novembro 2011)

O NOVO A revista americana The New Yorker publicou um ar-tigo sobre a presidente Dilma Rousseff intitulado “A Ungida”. O texto destaca que a economia brasileira está crescendo mais do que a americana e lembra que, na última década, 28 milhões de brasileiros dei-xaram o nível da pobreza. O artigo ressalta ainda que ninguém acredita que a presidente está envolvida nas denúncias de corrupção, mas aponta que ela traba-lhou por anos, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com algumas das pessoas demitidas até agora.

Torre de transmissão em Belterra, no interiordo Pará

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NEGÓCIO FECHADO

12 AméricaEconomia Janeiro, 2012

LUXOTTICA

Ray-Ban made in BrazilOs famosos óculos Ray-Ban começarão a ser produzidos no Brasil. A Luxottica, companhia italiana que controla a marca, anunciou, no início de dezembro, a compra de 100% da fabricante brasileira de armações Tecnol, por cerca de € 110 milhões. A aquisição deve ser concluída no começo de deste ano, com a Luxottica inicialmente adquirindo 80% do grupo e os outros 20% ao longo dos próximos quatro anos.

VALOR: € 110 milhões

PENGUIN

Mudança no mercado editorialA editora britânica Penguin comprou 45% da brasilei-ra Companhia das Letras. O valor da transação não foi divulgado. Será criada uma holding em que as famílias Moreira Salles e Schwarcz, atuais donas da Compa-nhia das Letras, terão 55% de participação. Segundo o representante da Penguin, essa transação é a maior já feita pela editora britânica para livros de línguas que não a inglesa. O Brasil é o terceiro mercado emergen-te em que a empresa aposta, depois de China e Índia.

VALOR: Não divulgado

INBRANDs

Nova dona da RichardsA Inbrands adquiriu 100% da Companhia das Marcas, do-na da Richards e acionista controladora das marcas Salinas e Bintang. A operação chegou a R$ 135 milhões e foi reali-zada por meio de entrega de ações da Inbrands. O fundador da Richards, Ricardo Dias da Cruz Affonso Ferreira, con-tinuará envolvido na operação como acionista e membro do Conselho de Administração da Inbrands.VALOR: R$ 135 milhões

FRAs-LE

Aquisição gaúchaA Fras-le, fabricante de pastilhas e lonas de freios contro-lada pelo grupo Randon, de Caxias do Sul (RS), comprou em dezembro a Freios Controil, de São Leopoldo, na Re-gião Metropolitana de Porto Alegre. O negócio foi fecha-do por R$ 10 milhões.VALOR: R$ 10 milhões

BRAZIL PHARMA

Expansão nordestinaA Brazil Pharma comprou a rede Estrela Galdino. Foram adquiridos um centro de distribuição na Bahia e dez dro-garias. Também faz parte do acordo o estoque total da Es-trela Galdino, cujo valor será apurado após realização de inventário pela Brazil Pharma. O negócio marca a entrada da holding de farmácias do banco BTG Pactual na Bahia. Segundo documento assinado entre os dois grupos, o va-lor da operação é de até R$ 18 milhões, dos quais R$ 11 mi-lhões são referentes à transferência das lojas e outros R$ 3 milhões se destinam à compra obrigatória de ações ordi-nárias da Brazil Pharma – que pagará, ainda, até R$ 4 mi-lhões com base no faturamento médio mensal das lojas nos últimos três meses do período de um ano, a partir da trans-ferência da última loja ou da cessão completa das cotas da sociedade detentora à Brazil Pharma.VALOR: R$ 18 milhões

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Participação no suíço SarasinO Grupo Safra pagou 1,04 bilhão de francos suíços (US$ 1,12 bilhão) pela participação majoritária que o grupo finan-ceiro holandês Rabobank detinha no suíço Sarasin. O acordo anula a chance de uma aliança pretendida pelo banco suíço Julius Baer. Pelas leis do mercado de capitais da Suíça, a instituição brasileira terá de lançar uma oferta pública pelas ações remanescentes do banco, mesmo que o Safra tenha indicado que não pretende ampliar mais sua participação no Sarasin. VALOR: US$ 1,12 bilhão

GOL

Delta se torna sócia da GolA Gol anunciou, em dezembro, a formação de uma aliança com a Delta Airlines. A companhia americana vai investir US$ 100 milhões em troca de participação minoritária na aérea brasileira de 3%. Com o investi-mento, a Delta poderá ter um representante no Con-selho de Administração da Gol, desde que, “mantenha uma posição de pelo menos 50% das ADSs [recibo de ações] adquiridas no investimento da Gol”, segundo o comunicado da empresa brasileira.VALOR: US$ 100 milhões

UsIMINAs

Mais terra para produzirA Usiminas comprou a Mineração Ouro Negro por US$ 367 milhões. A Ouro Negro tem reservas de 200 milhões de toneladas de minério de ferro na região de Serra Azul, em Minas Gerais. A área onde elas estão loca-lizadas fazem divisa com outra pertencente a Usimi-nas, o que, segundo a companhia, amplia seu acesso a essas reservas. VALOR: US$ 367 milhões

TERNIUM

Novo controlador na UsiminasA Ternium, o braço de siderurgia da Techint, venceu os concorrentes CSN e a Gerdau e passou a participar do ca-pital da Usiminas. O grupo e suas coligadas fecharam a aquisição das participações acionárias dos grupos Camar-go Corrêa e Votorantim e da Caixa de Empregados (fun-do de pensão) por cerca de R$ 5 bilhões. O contrato pre-vê a compra de 139,7 milhões de ações ou 27,7% do capital votante da Usiminas. Com isso, a companhia passa a di-vidir o controle da siderúrgica mineira com a japonesa Nippon Steel. A compra será feita pela Ternium e suas subsidiárias Siderar e Tenaris (por meio de sua controlada Confab Industrial). O grupo Techint é controlado pelo em-presário ítalo-argentino Paolo Rocca. A Ternium e a Side-rar vão pagar o equivalente a R$ 4,1 bilhões; a Confab vai desembolsar R$ 900 milhões para cumprir sua parte da operação, que consiste em comprar 5% das ações ordiná-rias e 2,5% do capital social da Usiminas.VALOR: R$ 5 bilhões

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MOVIMENTOS

O cenário de falta de mão de obra – principalmente a qualificada – vivido hoje pelo Brasil não tem se refletido apenas no aumento da remuneração. A disputa por profis-sionais capacitados envolve também a quantidade e a qualidade dos be-nefícios que as empresas oferecem aos funcionários. Planos de saúde, auxílio-transporte e auxílio-alimen-tação já não são diferenciais para reter talentos. Não por acaso, no se-tor de previdência privada, os pla-nos corporativos – no qual a empre-sa contribui com 50% do valor a ser depositado pelo funcionário – têm apresentado crescimento expressi-

vo nos últimos anos. Na Brasilprev, por exemplo, embora ainda tenha uma participação pequena no total de ativos sob gestão, esse segmento vem se expandindo a taxas de 22% ao ano em termos de volume, en-quanto o individual cresce em um ritmo um pouco menor, entre 19% e 20%. “As empresas ainda estão ex-perimentando essa alternativa, por-tanto, há um potencial enorme pe-

Nem os ambientes classificados co-mo seguros escapam dos ataques vir-tuais. Um estudo da Blue Coat, em-presa especializada em otimização e segurança de redes corporativas, mos-tra que mesmo os sites que têm aque-le famoso cadeado na página principal – geralmente os de instituições bancá-rias – podem ser “hackeáveis”. Segun-do o “Panorama de Segurança 2012”, divulgado recentemente pela compa-nhia, os hackers encontraram formas de decifrar o SSL (Secure Sockets Layer, um protocolo para criptografar infor-mações que trafegam na internet). “Esse é um dos principais problemas

em segurança digital que enfrentare-mos neste ano”, aponta Norberto Mi-lan, vice-presidente da Blue Coat pa-ra América Latina. E nem as empresas aparentemente à prova de violações digitais estão imunes. Que o diga a Lockheed, maior fornecedora do Pen-tágono. A empresa anunciou, em me-ados de dezembro, ter detectado uma tentativa de ataque em suas ativida-des de monitoramento. Os cibercrimi-nosos utilizaram-se de uma vulnerabi-lidade ainda desconhecida no Adobe Reader para praticar a ação, mais uma entre as várias tentativas de ataque a fabricantes de armas.

Nem tão seguro assimFo

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la frente. E as pequenas e médias companhias, que disputam profis-sionais com as grandes, também estão se dando conta de que ofere-cer um plano de previdência é uma vantagem na hora da contratação”, afirma Sérgio Rosa, presidente da Brasilprev. A seguradora é a tercei-ra maior do país em ativos sob ges-tão, atrás de Bradesco Vida e Previ-dência e Itaú Previdência e Seguros.

Previdência privada para reter talentos

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O PIB (Produto Interno Bruto) bra-sileiro deverá crescer 1,5 ponto per-centual a mais entre os anos de 2012 e 2014, em razão da realização da Co-pa do Mundo de Futebol. A avalia-ção foi feita recentemente por Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, durante o Seminário Itaú Copa do Mundo da Fifa: 2014 é mais que futebol, realizado em São Paulo. Segundo o economista, a Copa deve-rá gerar R$ 36,46 bilhões em investi-mentos, criar 250 mil empregos e per-mitir que a base de consumidores no mercado interno atinja 145 milhões

O gol da economia

Lucas, em amistoso da seleção brasileira

de pessoas. Além dis-so, a indústria do tu-rismo também deverá ser beneficiada. “Te-mos também o ‘efeito marca’, que permitirá elevar as exportações devido à boa imagem do Brasil como país aberto ao comér-cio, que será transmitida ao exterior.” As pequenas e médias empresas do país deverão ser beneficiadas, uma vez que serão as fornecedoras das grandes companhias envolvidas nos projetos de infraestrutura da Copa. O diretor

de Produtos do Itaú Empresas, Carlos Eduardo Maccariello, destacou que as companhias que pretendem se benefi-ciar do evento devem se planejar des-de já, buscando oportunidades ligadas aos setores de infraestrutura, turismo e transportes.

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O Brasil é o terceiro destino mais atrativo para o investimento es-trangeiro direto, segundo estudo mundial divulgado recentemen-te pela consultoria internacional A.T. Kearney. O país avançou uma posição no levantamento elabora-

Dinheiro de fora para os emergentes

Nos radares muNdiaisDez dos 25 destinos mais atrativos para investimento estrangeiro direto

do em 2011, na comparação com o ano anterior. Ficou atrás apenas de China e Índia. Tanto o Brasil quan-to a Índia ultrapassaram os Estados Unidos no ranking de 2011. Os EUA ocupam atualmente a quarta colo-cação. O levantamento é realiza-

do entre altos executivos das maio-res empresas do mundo e aponta os 25 principais destinos para o in-vestimento estrangeiro direto. As economias em desenvolvimento representam mais da metade des-se número.

Fonte: a.T. Kearney

País China Índia Brasil Estados Unidos Alemanha Austrália Cingapura Reino Unido Indonésia Malásia

2011 2010

1

34

2

57

24

2021

10

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3

45

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89

10

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MOVIMENTOS

Varejo eletrônico ganha novo playerO mercado de pesquisa de preços na in-

ternet, hoje dominado pelo Buscapé, es-tá ganhando mais um concorrente. Lan-çado em novembro, o Zoom (www.zoom.

com.br) foi criado pela Mosaico Internet (que tem como principal acionista as Orga-nizações Globo) e atualmente cobre 90% do

mercado – atuando junto de varejistas co-mo Extra, Carrefour, Walmart e Casas

Bahia, entre outros. Sua perspectiva em novembro era de fechar 2011

com 7 milhões de visitas por mês. “O varejo brasileiro é grande, e

o consumidor precisa de uma

alternativa para comparar preços. Atualmente, já estamos empatados com os vice-líderes e pre-tendemos obter o segundo lugar nesse merca-do até o final de 2012. Para isso, ofereceremos um conteúdo relevante ao consumidor”, afir-ma o CEO do Zoom, Francisco Donato (foto). De acordo com o executivo, o site investiu R$ 10 milhões em marketing ao longo de 2011. Ou-tros R$ 30 milhões deverão ser injetados neste ano. Uma das cartadas do comparador de pre-ços para ganhar mercado é sua entrada no por-tal Globo.com. “Em dezembro, passamos a ope-rar o site GloboShopping. Isso nos dará bastante visibilidade”, avalia.

Às vésperas da realização da conferência in-ternacional Rio+20, que acontecerá em junho no Rio de Janeiro e tratará do desenvolvimento sustentável, ganha força o mercado de créditos de carbono. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) lançou, em dezembro, em conjunto com a BM&FBovespa, a norma NBR 15948:2011, que estabelece as regras pa-ra a criação de um sistema voluntário de nego-ciações – ou seja, desvinculado das metas de redução de emissões estabelecidas pelo Proto-colo de Kyoto. “O mercado é um instrumen-to hábil para se lidar com a gestão ambiental. Mas, para funcionar, ele deve ter regras cla-ras”, afirma o coordenador do trabalho, Mar-co Fujihara. Ele salienta que passou o tempo em que as empresas usavam a sustentabilida-de apenas como marketing. “Hoje os consu-midores estão muito mais atentos ao assun-to. Por essa razão, várias companhias estão hoje mais ligadas às práticas responsáveis.” A NBR 15948:2011 será levada à ISO (Inter-national Organization for Standardization), pa-ra ser transformada em uma norma de aplica-ção internacional.

mercado sustentável

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O ex-ministro da Aeronáutica e um dos fundadores da Embraer, Ozires Silva, e o professor de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Paulo Saldiva, foram dois dos homenageados na oitava edi-ção do Prêmio Paul Donovan Kigar, entregue em dezembro pela Câ-mara Municipal de São Paulo. A iniciativa, destinada a reconhecer cidadãos que tenham colaborado para a sociedade em seus campos de atuação, também laureou Gaetano Brancati Luigi pelo Marco da Paz (cuja versão paulistana está instalada no Pátio do Colégio, na região central), o beato papa João Paulo 2º (cujo prêmio foi recebi-do pelo monsenhor Darío Bevilacqua) e Lygia Marques dos Santos, esposa de Paul Donovan Kigar. Na ocasião, foram anunciadas ain-da as festividades para a comemoração dos 80 anos do Movimento Constitucionalista de 1932.

Homenagem na Câmara

Gaetano Brancati Luigi, à direita,

foi um dos homenageados

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Varejo eletrônico ganha novo playerO desinteresse da equipe do Ministério da Fazenda pela

América Latina ficou mais uma vez evidente com a ausên-cia do ministro brasileiro Guido Mantega (foto) no encontro que criou a Celac, a Comunidade dos Estados Latino-Ame-ricanos e Caribenhos, no início de dezembro, em Caracas, e reuniu representantes de 33 países. A presidente Dilma Rousseff participou das discussões. O objetivo do grupo é buscar soluções para os problemas latino-americanos e for-mular políticas próprias de integração regional.

A linha mestra foi apontada por alguns especialistas em relações internacionais como uma forma de fomentar o dis-tanciamento político dos Estados Unidos e do Canadá. Uma declaração do anfitrião, Hugo Chávez, deixou evidente quais são os planos de alguns dos países que integram a Celac. A comunidade coloca-se como uma alternativa à OEA (Orga-nização dos Estados Americanos). Segundo o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a Celac será um “grande polo de poder” e vem para substituir a “velha e desgastada OEA”.

Encontro sem a Fazenda

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A maior companhia aérea da América Latina está mais próxima de ganhar os céus do continente. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou, em 13 de dezembro, a fusão entre a brasileira TAM e a chilena LAN. O tribunal seguiu a recomendação feita em agosto pela Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico, do Mi-nistério da Fazenda) e a SDE (Secretaria de Direito Econô-mico, do Ministério da Justiça), que defenderam a aprova-ção do negócio. As duas companhias anunciaram em agosto de 2010 sua intenção de criar a Latam – cuja receita anual seria superior a US$ 10 bilhões. No entanto, o assunto ain-

da dependia do sinal verde das autoridades regulatórias dos dois países. Em setembro, o TDLC (Tribunal de Defesa da Livre Concorrência, instância antritruste do Chile) aprovou a fusão, mas determinou que fossem seguidas algumas con-dições – como a reorganização dos slots (direitos de pouso e decolagem) e o compartilhamento de rotas com outras com-panhias. O Cade também impôs algumas limitações. De acordo com o conselheiro Olavo Chinaglia, relator do caso, as duas empresas devem abrir mão de dois slots do trecho São Paulo-Santiago-São Paulo, que devem ser transferidos à companhia concorrente.

decola fusão entre TAM e LAN

Carajás é conhecida por sua identidade extrativista

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As estratégias do Grupo Petrópolis, o único dos grandes fabricantes de cerveja ainda 100% brasileiro, para driblar os concorrentes sem se render aos gringos

Graziele Dal-Bó, de São Paulo

Preferência nacional Os últimos dois anos foram

agitados para o setor cer-vejeiro nacional. A mis-tura de uma economia estável com a maior ex-

posição do Brasil lá fora e a melhora da renda da população despertou a corri-da de grupos internacionais por um lu-gar nesse mercado. Junte a esse cenário o crescimento mais contido das vendas em regiões tradicionais, como a ameri-cana, a europeia e a japonesa. O resul-tado são movimentos importantes mo-tivados por estrangeiros nos últimos anos, como a compra da fabricante da Kaiser, a Femsa, pela holandesa Hei-neken, e a aquisição da Schincariol pe-la japonesa Kirin.

Na contramão dessa tendência, o Gru-po Petrópolis, dono de marcas como Itai-pava e Crystal e o único dos grandes com capital ainda 100% nacional, quer continuar seu ritmo de crescimento sem se render aos gringos. Dona, ainda que temporariamente, do segundo lugar no mercado brasileiro, é difícil para a em-presa sonhar em alcançar a Ambev, que detém cerca de 70% das vendas. Mas o objetivo é continuar a crescer sem abrir

mão do verde-amarelo. “Não estamos à venda”, vai logo avisando Douglas Cos-ta, diretor de Marketing e Relações com o Mercado. Embora a empresa esteja fe-chada – pelo menos por enquanto – pa-ra esse tipo de negociação, Costa admite

que alguns players internacionais já pro-curaram a Petrópolis para conversar. “O contato existe, mas deixamos claro que nossa estratégia não engloba a venda da companhia”, garante.

Os analistas, no entanto, afi rmam

set/10 jul/11 ago/11 set/11

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Participação de mercado das principais cervejarias do Brasil (%)

Fonte: Nielsen

Ambev Schincariol Grupo Petrópolis Heineken Outros

71,65

10,96 10,27 10,159,34 9,92 10,05 10,32

7,33 8,31 8,49 8,39

1,41 1,4 1,44 1,44

69,41 69,75 69,7

10,27

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que a cervejaria fl uminense seria um al-vo fácil para a SABMiller, que ainda não teve sucesso em suas empreitadas pelo país. O mais perto que a britânica che-gou do Brasil foi trazer a marca Miller Genuine para pontos de venda de São Paulo e Rio de Janeiro no fi m de 2011. “Faria sentido, já que o Grupo Petrópo-lis foi o único dos grandes que sobrou. Com a aquisição, a SABMiller garanti-ria logo de início 10% do mercado”, ob-serva Guilherme Nunes, sócio-respon-

sável pelo setor de alimentos e bebidas da KPMG. De fato, Graham Mackay, executivo-chefe do grupo britânico, de-monstrou seu otimismo em relação à América Latina durante divulgação de resultados da companhia, em novembro de 2011, ao observar que a região ainda não sentiu os refl exos do recuo das eco-nomias maduras. Na ocasião, o executi-vo também destacou que os países emer-gentes respondem por cerca de 80% dos lucros globais da SABMiller. Não por

acaso, no fi nal do ano passado, por meio da Backus y Johnston, subsidiária da cervejaria britânica no Peru, a empre-sa anunciou investimento de cerca de US$ 300 milhões para atender o aumen-to no consumo doméstico.

Se o negócio no Brasil vai ou não se concretizar um dia, o fato é que o interes-se pela Petrópolis é justifi cável. Funda-da em 1994 na cidade de mesmo nome, na Região Serrana do Rio de Janeiro, a cervejaria Petrópolis vem apresentando

um crescimento forte nos últimos anos. O faturamento da companhia aumen-tou 80% entre 2009 e 2011, passando de R$ 2,4 bilhões para R$ 4,4 bilhões. A produção foi de 1,68 bilhão de litros de cerveja no ano passado, contra 1,33 bi-lhão dois anos antes. Os resultados têm garantido à empresa um espaço de des-taque entre os grandes grupos que atuam no mercado brasileiro. Em setembro pas-sado, a Petrópolis tirou o segundo lugar da Schincariol em participação de mer-

cado, fato inédito para a companhia. Se-gundo dados do instituto de pesquisas Nielsen, o market share da cervejaria fl u-minense aumentou de 10,1% para 10,3%, enquanto o da concorrente recuou 0,3 ponto percentual, fechando o mês em 10%. Dez anos atrás, a Petrópolis repre-sentava apenas 0,6% do mercado nacio-nal. Hoje, a empresa chega a ultrapas-sar os rótulos da líder nacional Ambev em algumas regiões. É o caso da Grande São Paulo, onde a Itaipava aparece na li-derança, com uma fatia de 31,7% do mer-cado, à frente de Brahma, com 20,2%, e Skol, com 19,2%.

NOrdeSTe em ViSTa“A grande vantagem da Petrópolis é ter uma capacidade de distribuição muito boa. Ou seja, é fácil encontrar suas mar-cas nas regiões onde ela é forte, como Su-deste e Centro-Oeste. Ter produtos sem rejeição do consumidor é outro pronto positivo”, afi rma Adalberto Viviani, pre-sidente da Concept, consultoria especia-lizada no setor de alimentos e bebidas. Para ele, a cervejaria fl uminense deve se estabelecer na segunda posição do mer-cado. O caminho, porém, não será nada fácil, como sabem os executivos da com-panhia. “O setor cervejeiro é muito dinâ-mico, costumo brincar que é pior do que

eNTre os GraNdes

Ranking mundial de produção de cerveja por país (em milhões de hectolitros*)

PAÍS China Estados Unidos Brasil Rússia Alemanha México Japão Reino Unido Polônia Espanha

Produção 2000 Produção 2009 Produção 2010

220232,5 230,9

423,6448,3

227,8

114 102,9 95,679,8

59,644,9 33,9 33,3

82,654,9

107 108,598

82,359,8

45,1 32,2 33,857,8

70,955,2

24 26,4

110,4

Fonte: Barth-Haas Group *1 hectolitro = 100 litros

Com 27% do consumo de cerveja do país, o Nordeste é uma das regiões mais promissoras para as cervejarias

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a bolsa de valores, muito volátil. O preço é inconstante, e qualquer mudança cli-mática altera as vendas”, admite Costa.

Um dos desafi os da Petrópolis é ex-pandir suas marcas nacionalmente. Por enquanto, as vendas estão concentradas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, on-de a companhia tem fábricas instaladas. Nesse quesito, sua concorrente mais pró-xima, a Schincariol, leva vantagem. A empresa, vendida no ano passado para a japonesa Kirin, após uma difícil dispu-ta judicial entre os acionistas, tem forte atuação em regiões promissoras, caso do Nordeste, que representa 27% do consu-mo no Brasil. “O Nordeste é o maior mer-cado da Schincariol e, certamente, ela não vai querer perder posições”, avalia Ana Carolina Boyadjian, analista do se-tor de bebidas da consultoria Lafi s.

Quem também está reforçando sua atuação no Nordeste é a gigante Ambev. A cervejaria investiu R$ 793 milhões na região, como parte do pacote de R$ 2,5 bilhões injetados no país em 2011, para aumentar em 10% sua capacidade total de produção e atender a demanda de cur-to e médio prazos. O aporte incluiu am-pliações de fábricas e centros de distri-buição nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe e Pernambuco. Para não fi car de fora desse mercado consu-

midor, onde está presente apenas com um distribuidor na Bahia, e sustentar a posição alcançada recentemente, a Pe-trópolis pretende inaugurar pelo menos duas fábricas no Nordeste em três anos. O objetivo é construí-las com recursos próprios, sem ter de recorrer a entidades fi nanciadoras como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social).

As unidades se juntarão às plantas lo-calizadas nas cidades de Petrópolis (RJ), Teresópolis (RJ), Rondonópolis (MT) e Boituva (SP). “O potencial da região é muito grande e, pelas consultas que re-cebemos por meio de nosso atendimento ao consumidor de pessoas perguntando

quando vamos para lá, acredito que te-remos bastante público para nossos pro-dutos”, afi rma Costa. O plano faz parte de uma estratégia bem mais ambiciosa, de se tornar uma empresa nacional até 2018. Até lá, afi rma o executivo, a venda da companhia está descartada.

aPOSTa em marKeTiNGA aceleração desse processo de “nacio-nalização” tem como elemento funda-mental o investimento em marketing. Em 2011, foram injetados R$ 112 mi-lhões no reposicionamento de Itaipava e Crystal. “Não foram mudanças radicais, mas fi zemos um estudo bem aprofun-dado, que levou cerca de seis meses. Foi um trabalho para conhecer quem são os consumidores desses produtos e enten-der as diferenças entre os públicos”, con-ta o diretor de Marketing e Relações com o Mercado. No caso da Itaipava, o con-ceito “Feito especialmente para você” e o fi lme que, ao som de “Only You”, mos-tra o cuidado com que é fabricada a bebi-da, remetem a um consumidor que apre-cia a cerveja, explica o executivo. Já para a Crystal, cujas vendas estão mais con-centradas em cidades do interior, a es-tratégia foi a de aproximar o produto do consumidor. “Nós apostamos na carac-terística do interior de se sentir em casa, de chamar os amigos para tomar cerveja em casa, em um churrasco.”

Costa diz que é difícil precisar quan-to essa nova comunicação refl etiu nas vendas da cervejaria, mas garante que

No Topo da reGiÃo

Maiores produtores de cerveja da América Latina em 2010

(em milhões de hectolitros*)

Brasil México Colômbia Venezuela Argentina Peru Equador Chile

114

79,8

20,5 20 17,511

5,7 5,6

Fonte: Barth-Haas Group *1 hectolitro = 100 litros

“Não estamos à venda. Deixamos claro que nossa estratégia não

engloba abrir mão da companhia”

Douglas Costa, diretor do Grupo Petrópolis

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22 AméricaEconomia Janeiro, 2012

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Crystal

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Outros

No copo do brasileiros

Participação de mercado das principais marcas do país (%)

MARCAS

10,4 11,5 12,3 13,12,5 2,6 2,7 2,64,5 4,6 4,4 4,49,9 9,5 9,7 8,9

7,6 6,9 6,8 7,13,1 2,9 3,1

12 11,9 11,5

11,717,7 18,5

10,9

2,5

jan/11 mar/11 maio/11 jul/11 set/11

4,8

9,9

7,52,9 2,9

11,4

17,6 18,2

18,8

32,5 32,5 31,7 31,2 30,3

Fonte: Nielsen

a mudança de posicionamento é funda-mental para os planos da companhia. Ainda na área de marketing, a Petrópo-lis é patrocinadora de eventos esportivos como Stock Car, da Fórmula Truck, além de outros acontecimentos regionais, por meio de parcerias com cerca de 130 dis-tribuidores, projetos que devem ser re-forçados em 2012. Neste ano, a empresa vai patrocinar as transmissões da Olim-píada de Londres pela Rede Record e sua

marca de energéticos TNT estará presen-te nos uniformes de atletas que participa-rão das competições. “O sucesso nesse setor está muito atrelado à publicidade. Junto de uma boa rede de distribuição, essa é uma área que deve ser priorizada pelos players”, afirma Nunes, da KPMG.

A trajetória da Petrópolis foi costu-rada não só pelo desempenho cobiçado por parte da concorrência, mas também por polêmicas. O presidente da cerveja-

ria, Walter Faria, por exemplo, teve seu nome citado na Operação Cevada, uma grande investigação montada pela Po-lícia Federal e pela Receita Federal em 2005 que resultou na prisão dos contro-ladores da Schincariol, acusados de so-negação. O empresário foi distribuidor da Schincariol nos anos 1990. Hoje, Fa-ria evita falar com a imprensa, mas, um ano depois das acusações, o dono da Pe-trópolis alegou inocência e justificou-se

dizendo que só foi citado no processo pela ligação com a Schincariol. A Petró-polis também despertou desconfiança quando, em 2009, conseguiu uma limi-nar – que caiu algum tempo depois – pa-ra ficar livre do Sicobe (Sistema de Con-trole de Produção de Bebidas). Instalado nas linhas de produção, o sistema permi-te à Receita Federal controlar, em tempo real, informações como o volume de pro-dução e a data de fabricação de cervejas

e refrigerantes que chegam ao mercado. Segundo Costa, o fato de não concordar com o sistema tinha como justificativa apenas o custo da operação. “Somos fa-voráveis ao acompanhamento”, defende--se. Os concorrentes também não preten-dem facilitar a vida da Petrópolis. Todos estão de olho no vigor do mercado brasi-leiro. Com a economia estagnada na Eu-ropa e nos Estados Unidos, a atenção, é claro, volta-se para os países emergentes, que, entre outras vantagens, contam com populações relativamente jovens se com-paradas a essas outras regiões. No caso do Brasil, o aumento de renda é mais um incentivo para acelerar o consumo de cerveja. Isso explica o avanço nas ven-das da bebida no país nos últimos anos, particularmente nas regiões com maior crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), como o Norte e o Nordeste.

ladeira acima E, se as vendas vão bem, é hora de au-mentar a produção. Em 2010, o Brasil ultrapassou a Alemanha na fabricação de cerveja, alcançando o terceiro lugar em nível mundial, atrás apenas de Chi-na e Estados Unidos. “O ano de 2010 foi muito bom para o crescimento em volu-

Em 2011, os resultados do setor não foram tão animadores em volume, mas se mantiveram em alta no quesito preço

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me. Tivemos a Copa do Mundo e o verão também foi quente, o que ajudou muito”, afirma Ana Carolina, da Lafis. Os resul-tados de 2011, embora não tenham sido tão significativos em termos de volume, mantiveram-se em alta no quesito preço. Segundo levantamento da Lafis, o va-lor do produto fora de domicílio (nos ba-res, por exemplo) teve um reajuste de 9% de janeiro a outubro de 2011, enquanto o preço para o consumo em casa (quan-do a bebida é comprada em locais como supermercados ou lojas de conveniên-cia) aumentou 12% no mesmo período. O preço mais alto ajudou a compor a re-

ceita das companhias. Até o fechamento desta edição, a Lafis estimava um cresci-mento de 13% no faturamento total do se-tor em 2011. Apostar não só em aumento de preço, mas também em produtos com mais valor agregado – caso das cervejas premium, que custam até 20% a mais que as comuns – é uma tendência do setor.

Atualmente, a venda desse tipo de be-bida ainda é pouco representativa, cerca de 5% de todo o volume comercializado pelo segmento, mas o potencial de cres-cimento é enorme, garantem os analis-tas. “Até 2016, 14% das vendas de cer-veja devem ser de produtos premium”,

afirma Viviani, da Concept. Ou seja, o crescimento deve vir de diversas fren-tes. O panorama é acompanhado pelos grupos internacionais. A japonesa Ki-rin e a holandesa Heineken já garanti-ram um lugar nesse mercado, concen-trado nas mãos de poucos jogadores. A primeira comprou a Schincariol, em no-vembro de 2011, por um valor total de R$ 6,25 bilhões, deixando para trás con-correntes como SABMiller, Diageo, e Carlsberg, também interessados na com-pra. A negociação envolveu uma série de disputas familiares entre os irmãos Adriano e Alexandre Schincariol,

Em 2010, o Brasil ultrapassou a Alemanha e ficou com o terceiro lugar mundial em fabricação de cerveja, atrás de China e EUA

Se de um lado os grandes grupos cervejeiros estão otimistas com o cenário de multiplicação de vendas que começa a se desenhar no Brasil para os próximos anos, de outro, as microcervejarias reclamam da alta carga tributária incidente sobre o segmento.

Os empresários afirmam que o excesso de impostos tem feito muitos negócios desaparecem. “a tributação consome 65% do nosso faturamento bruto. Somente de iPi [Imposto sobre Produtos Industrializados], pagamos r$ 0,48 por litro de chope vendido, não importando por quanto nós vendamos o produto. Fora a concorrência predatória

dos grandes grupos cervejeiros”, afirma Artur Winter, presidente da AGM (associação Gaúcha das microcervejarias).

a entidade encabeça uma mobilização nacional para que o setor seja incluído no Simples Nacional, o regime especial unificado de arrecadação de tributos destinado às micros e pequenas empresas brasileiras. a ideia era que o pleito dos microcervejeiros fosse atendido já no novo Simples (novo teto de tributação de micros e pequenas empresas), em vigor a partir deste mês, o que não aconteceu. “agora, estamos tentando viabilizar junto dos parlamentares adequações à lei por meio de emendas. isso é extremamente

importante para que o setor continue existindo no Brasil”, defende Winter.

Outras reivindicações dos micros e pequenos empresários é a inclusão das cervejas artesanais em eventos oficiais promovidos pelas entidades públicas e também na copa do mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016.

Embora não existam dados oficiais sobre o número de cervejarias artesanais existentes no país – o setor ainda é desorganizado e a única associação nacional foi extinta há alguns anos –, estima-se que cerca de 150 pequenas e médias empresas trabalhem com a fabricação do produto no Brasil.

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favoráveis à venda, e seus primos e só-cios minoritários, Gilberto, Daniela e Jo-sé Augusto. Para os especialistas, a Kirin pagou um preço alto pela compra do gru-po brasileiro. Os japoneses, por sua vez, afirmam que o valor foi razoável, perto do potencial de crescimento no Brasil. “Acreditamos que o mais recente acor-do vai nos permitir gerir o negócio com muita flexibilidade”, afirmou Hirotake Kobayashi, diretor da cervejaria japone-sa, na coletiva de imprensa que divulgou a compra da Schincariol, em novembro.

Mas não são só os asiáticos que estão otimistas em relação ao Brasil. A Hei-neken, dona da Femsa, fabricante da Kai-ser desde 2010, trabalha para multiplicar as vendas da marca no país. No final do ano passado, o grupo holandês investiu em uma intensa campanha de marketing para turbinar o produto. A ação, desen-volvida pela agência Fischer&Friends, foi pensada com o objetivo de aproximar o rótulo da marca Heineken, uma estra-

tégia que, segundo analistas, visa romper a rejeição que a Kaiser ainda tem em al-gumas regiões. De fato, a marca, que já foi uma das mais consumidas no país – quem não lembra das famosas propagan-das com o “baixinho da Kaiser”? –, vem perdendo espaço no mercado ano a ano. E a Heineken pretende recuperar o tem-po perdido. Sem citar números, os execu-tivos afirmam que esse foi o maior inves-timento global da companhia em 2011 e envolveu não só mudanças na comunica-ção, como também na forma de produzir a bebida, que, agora, precisa ter aprova-ção da matriz, em Amsterdã, para chegar às gôndolas brasileiras.

“Desde que chegamos ao Brasil, cen-tramos nossos esforços em melhorar pro-cessos e tornar a empresa mais ágil e ren-tável. Isso tem dado certo. Nossas três principais marcas, Heineken, Kaiser e Bavária, cresceram 80%, 4% e 5%, res-pectivamente, em 2010. A empresa cres-ceu 10% somente no último trimestre de

2011”, comemora Nuno Teles, vice-pre-sidente de Marketing da companhia ho-landesa. Para turbinar as vendas da mar-ca Heineken, a holandesa tem investido na plataforma musical em eventos co-mo o Rock in Rio, SWU e Lollapalooza.

No segmento premium, a Heineken disputa mercado principalmente com a Budweiser, trazida ao Brasil recente-mente pela Ambev. A cervejaria, aliás, adotou uma tática de guerrilha de preço para fazer com que a marca decole no pa-ís. Ou seja, depois de posicionar a bebida como premium, voltou atrás. Em algu-mas redes varejistas, na época do lança-mento, era possível encontrar o produto a preços iguais aos de Skol e Brahma. Isso mostra que, tanto no segmento mais eliti-zado quanto nos de produtos voltados pa-ra as massas, a disputa dos grupos cerve-jeiros será acirrada no país nos próximos anos. Resta ao consumidor aproveitar as oportunidades e encontrar o produto que mais agrade ao seu paladar.

Aumento de renda e população jovem são fatores que devem contribuir para o crescimento do mercado nos próximos anos

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Depois de abrir capital e fazer algumas aquisições, este será o ano para Luiza Trajano colocar a rede de varejo em uma nova direção

Paula Pacheco, de São Paulo

O futuro do Magazine Luiza

Segunda-feira, 2 de maio de 2011. Ao lado de Ede-mir Pinto, presidente da BM&FBovespa, Luiza He-lena Trajano participava da

cerimônia de abertura de capital do Ma-gazine Luiza. Acompanhada dos tios e fundadores da empresa, Luiza Trajano Donato e Pelegrino José Donato. Quem estava mais próximo à empresária per-cebeu os olhos discretamente marejados. Ela estava feliz, satisfeita, depois de cer-ca de uma década de planejamento até o IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações). No fim do dia, a surpresa: a cap-tação chegou a R$ 925,785 milhões, uma das maiores entre os IPOs de 2011.

Luiza ainda se esforça para manobrar a espontaneidade tão peculiar e não de-sobedecer às normas da CVM, a Co-missão de Valores Mobiliários. Desde o IPO, a empresária coleciona algumas ad-vertências por ter falado mais que o per-mitido. Além de se habituar às regras de uma companhia de capital aberto, a em-presária tem outros desafios para 2012.

Este será um ano para arrumar a casa, encontrar mais sinergias entre o Maga-zine Luiza e as redes adquiridas nos úl-

timos anos, pensar no crescimento or-gânico e na possibilidade de comprar concorrentes para facilitar o desembar-que em outras praças. Ela define 2012 como “o ano da consolidação, depois de um crescimento grande”.

Ao mesmo tempo, a empresária, que começou a trabalhar na loja montada pe-la tia, em Franca (SP), aos 12 anos, du-rante as férias escolares, pode ter pe-la frente outro desafio. Ela está entre os candidatos a assumir a Secretaria da Mi-cro e Pequena Empresa (vinculada à Pre-sidência da República), cujo projeto de criação ainda está à espera de aprovação no Congresso. Com a típica cautela inte-riorana, Luiza desconversa.

Instalada no escritório central de São Paulo, de frente para a Marginal do Rio Tietê, Luiza mostra no espaço que ocu-pa as características apontadas por quem a conhece. É simples, direta. Ocupa uma sala modesta, com paredes de vidro e portas sempre abertas. O espaço está longe de dar sinais de ostentação. Há um pequeno armário, uma mesa para o com-putador e outra um pouco maior para rá-pidas reuniões. Seu estilo está nos deta-lhes. Uma coleção de elefantes, todos

No ano em que pretende colocara casa em ordem,Luiza não descartamais aquisições

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O futuro do Magazine Luiza

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com a cauda voltada para a porta – ga-rante a boa sorte. Imagens religiosas, en-tre elas a de São José, têm um lugar es-pecial na decoração sem afetações. Nos porta-retratos, fotos da família e uma, com certo destaque, dela ao lado do ex--presidente Lula.

Formada em Administração e Direi-to, a empresária deixa claro no tipo de leitura o gosto por temas ligados à ges-tão de empresas, de pessoas e histórias de empreendedores, como a de Rober-to Marinho, escrita por Pedro Bial, so-bre a mesa de trabalho. Dos tempos em que administrava a companhia em Fran-ca, trouxe algumas lembranças, como os nomes das principais ruas estampa-dos em placas nos corredores do escritó-rio, além de um painel com uma foto da fachada da primeira loja, aberta há 54 anos pelos tios.

ARESTASHá duas décadas no comando da compa-nhia, Luiza enfrenta agora mais um mo-mento importante na carreira. Terá de aparar arestas financeiras e de gestão pa-ra que o valor das ações se recupere – ao menos a médio prazo – e elas se tornem mais atraentes, principalmente aos olhos dos investidores estrangeiros.

Contaminada pelo mau humor inter-nacional, que afetou o desempenho da bolsa brasileira de forma generalizada, a empresa não vem apresentando boa per-formance na bolsa desde o IPO. O resul-tado do terceiro trimestre de 2011 confir-mou a fase delicada. O lucro líquido do Magazine Luiza caiu 49,4% no período – R$ 11,7 milhões, ante os R$ 23,1 milhões verificados em 2010.

O desempenho respingou na cotação das ações. Em meados de dezembro, os papéis da rede varejista apresentavam queda de 37,5% em relação ao preço da data do IPO. O índice Ibovespa estava com uma baixa de 18%. Mas na ocasião havia ações em situação pior, como as

da Hypermarcas (que recuou 60%) e da B2W (com desvalorização de 70%). Por conta disso, a companhia perdeu valor de mercado. No dia do IPO, a empresa va-lia R$ 2,983 bilhões. No fim do ano, es-tava na casa de R$ 1,865 bilhão. Com o fraco desempenho, existe a possibilida-de de a empresa ter o pior resultado entre aquelas que fizeram IPO em 2011, como apontavam analistas de mercado na se-mana do dia 16 de dezembro.

“A empresa apresentava uma expecta-tiva de lucro que foi mudada com a com-pra do Baú [da Felicidade], em junho. Houve ajustes, já que o plano de expan-são, com essa aquisição, foi antecipado em dois anos. Isso representou uma des-pesa extraordinária, que impactou na rentabilidade do terceiro trimestre. Seu valor foi cerca de metade do que se es-

perava”, explica a analista Daniela Bret-thauer, da empresa do setor financeiro Raymond James. Na sua opinião, no en-tanto, ainda é uma ação que vale a pena ter em carteira. “Algumas atitudes de-verão ser tomadas e a direção da rede já deu indícios de que as colocará em práti-ca, como aumentar a aproximação com os investidores”, explica Daniela.

muSculATuRAA aquisição da rede Maia, com cerca de 150 lojas espalhadas por nove estados, foi fechada em julho de 2010 por R$ 290 milhões. Ao comprar o Baú da Felicida-de, a companhia desembolsou R$ 83 mi-lhões por 121 lojas (divididas entre São Paulo, Paraná e Minas Gerais) e uma carteira de 3 milhões de clientes. Neste mês a marca Baú da Felicidade, que não

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Ruas de Franca, onde a empresa nasceu, são homenageadas

no escritório de São Paulo

Detalhes da sala da empresária: a fotoao lado de Lula e a presença da religiosidade

com a imagem de São José

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fez parte da negociação (apenas os pon-tos comerciais), volta para as mãos do empresário Silvio Santos e todos os pon-tos comerciais passam a estampar a mar-ca Magazine Luiza.

Em 2011, além do negócio com Silvio Santos, a direção da companhia acele-rou a integração com a rede Maia, com sede na Paraíba. Havia o receio de que a concorrente Casas Bahia avançasse em direção ao Nordeste e deixasse o Maga-zine comendo poeira. A solução foi rea-lizar a integração antes do previsto. Nos últimos meses de 2011, foram muitas as idas e vindas de Luiza às principais cida-des da região. Foram inúmeras entrevis-tas coletivas e reuniões com os funcio-nários para anunciar que, a partir dali, sairia de cena a marca Maia, com mais de 50 anos de mercado, para a chegada

definitiva do Magazine Luiza. Rotina com a qual a empresária, que passou por 13 aquisições, está acostumada.

Luiza, no entanto, prefere atribuir o período delicado na bolsa ao cenário in-ternacional e espera por dias melhores. “Entramos na bolsa e nos deparamos com a crise global. Acredito que os in-vestidores entendam que o momento é delicado para todo o mercado de capi-tais”, diz. Ela explica que a empresa vi-nha de dois períodos muito bons em ter-mos de receita – o quarto trimestre de 2010 e o primeiro trimestre de 2011. “Com a crise, passamos a sentir uma queda nas vendas a partir de abril em comparação a esses dois períodos. Ain-da assim houve crescimento nas vendas. Em agosto, o Banco Central percebeu que a queda nas vendas do varejo pode-

ria ter algum impacto e começou a bai-xar a taxa básica de juro”, conta. Em ou-tubro, explica a presidente do Magazine Luiza, houve uma nova retração nos nú-meros do varejo. “Foi o suficiente para alertar o governo novamente de que era preciso fazer algo. Recentemente foi re-duzido o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] para a linha branca e a Fazenda mexeu no prazo dos financia-mentos para reativar a economia. O efei-to começou a aparecer rapidamente e já sentimos uma recuperação.”

VIRADAOtimista, a empresária diz que as pers-pectivas são favoráveis para a compa-nhia, particularmente, mas também pa-ra o varejo, já que o país tem mantido um bom nível de geração de empregos e o endividamento do consumidor brasileiro tem espaço para crescer. “Além disso, há dois fatores importantes. O bônus demo-gráfico em que se encontra o Brasil e o aumento de brasileiros na classe C”, ex-plica. Bônus demográfico ocorre quan-do a população economicamente ativa supera com espaço a de dependentes, composta por idosos e crianças. Ou se-ja, há mais consumidores em potencial.

Quando fala dos futuros consumi-dores, Luiza gosta de citar alguns da-dos. Por exemplo, cerca de 45% da po-pulação não tem máquina automática de lavar roupa e as TVs de LCD só che-garam a 7% dos lares brasileiros. “Quan-tas pessoas não estão se mudando para a primeira casa própria graças ao Minha Casa, Minha Vida [programa de habita-ção popular do governo federal] e que-rem mobiliá-la com muitos produtos que nunca tiveram na vida. Além, é claro, do objetivo do governo de tirar 16 milhões de pessoas da linha da miséria. É indis-cutível que o número de consumidores continuará a crescer”, cita.

Para aproveitar o crescimento cons-tante do consumo da nova classe C, a

O mesmo se pode dizer

em relação ao (teoricamente)

pacato

Sem ostentação, a sala de Luizatem paredes de vidro e sempreestá com a porta aberta

A coleção de elefantes garante a proteção e o alto-astral. Livros ligados a empreendedorismo e gestão inspiram novos negócios

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A primeira loja, aberta há 54 anos, em Franca (SP) A estreia em São Paulo, com a abertura simultânea de 50 lojas

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oempresária sabe que terá de continuar a expandir os negócios ou perderá oportu-nidades para concorrentes de peso, como Casas Bahia e Insinuante. Hoje, segun-do ela, há condições de abrir mais 200 lojas na região já ocupada pela empresa. Mas há lugares onde o negócio ainda não chegou, caso de Rio de Janeiro, Espírito Santo e Região Norte.

Aquisições, admite, podem ser uma forma de se instalar nesses novos mer-cados, assim como fez quando desem-barcou no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e no Nordeste, mais recentemente. “Comprar uma rede em um Estado agiliza a chegada naque-la localidade. Mas o crescimento orgâ-nico também é uma forma de expandir. Se dependesse só de aquisições, não te-ria entrado em São Paulo”, afirma Luiza, lembrando a estratégia agressiva de três anos atrás, quando foram abertas 50 lo-jas ao mesmo tempo na capital paulista.

ESTRATÉGIAUma das formas de crescer organica-mente, explica a presidente da compa-nhia, seria por meio de lojas de vizinhan-ça. É um conceito de ponto comercial menor chamado de loja virtual. Não há estoque. O cliente escolhe o produto com a ajuda do vendedor, consulta no compu-tador os detalhes das mercadorias e espe-ra o pedido ser entregue em casa. Atual- mente a empresa tem 120 unidades do modelo virtual, que atendem, por exem-plo, cidades com até 50 mil habitantes.

Ao todo, a rede é composta por 719 lojas, espalhadas por 16 Estados. São oito cen-tros de distribuição e 23 mil empregos diretos. No ano passado, a companhia recebeu 26 milhões de clientes.

A meta de Luiza de aumentar a rede com um modelo de loja de vizinhança po-de ter alguns percalços, como uma pos-sível reação das redes menores de atua- ção regional, avalia Jacques Gelman, co-ordenador do Centro de Excelência em Varejo, o GVcev, da FGV-Eaesp (Esco-la de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas). “As redes regionais sempre vão existir e re-presentarão uma concorrência impor-

tante para empresas de alcance nacional, como o Magazine Luiza. A disputa com lojinhas locais às vezes pode criar dificul-dades, porque existe a tradição, o relacio-namento pessoal entre o dono do negócio e o cliente”, explica.

O PAPEl DE luIZAPara Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comér-cio Exterior e colunista da AméricaEco-nomia, Luiza Trajano não tem com que se preocupar, até pelo retrospecto que tem como mulher de negócios. “Ela fez a empresa crescer sob a cultura do com-panheirismo, da liderança motivacional.

* considera quanto o investidor teria no fechamento de cada dia ao aplicar R$ 100 no Ibovespa e na ação do magazine luiza em 29/04/2011

Fonte: Economatica

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Desempenho das ações do Magazine Luiza na BM&FBovespa está abaixo do esperado (base 100)* – Em R$

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Com a Maia, a empresa desembarcou no Nordeste Luiza é conhecida pelo carinho com que trata os funcionários

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trão É um caso ímpar no varejo brasileiro de

uma rede que saiu do interior paulista [Franca], para se transformar em uma companhia nacional. Além disso, ela é uma excelente gestora. Luiza lidera um grupo que daria a vida por ela”, diz Fur-lan, uma espécie de conselheiro da pre-sidente do Magazine Luiza.

Furlan tem razão na análise. Luiza con-seguiu nas duas décadas na direção da companhia resultados inquestionáveis. Passou de um faturamento de R$ 100 milhões, em 1991, quando chegou ao cargo, para R$ 5,3 bilhões em 2010. E a projeção feita em 2010, durante o anún-cio da compra da rede Maia, é de atingir

em 2015 vendas da ordem de R$ 15 bi-lhões, praticamente o triplo.

Se há pessimistas que veem algum ti-po de incerteza quanto ao rumo que se-rá tomado pelo Magazine Luiza neste ano, outros estão bem otimistas. Clau-dio Felisoni, presidente do conselho do Provar (Programa de Administração de Varejo) da FIA (Fundação Instituto de Administração), lembra que a empresa atua em segmentos com altas taxas de crescimento. É o caso do setor de eletro-domésticos e móveis, que no ano passa-do teve um aumento das vendas 55% aci-ma da média do varejo – que inclui, por exemplo, veículos, alimentos, material

de construção, vestuário e combustíveis. Outro detalhe importante. Neste tipo de atividade, a maior rentabilidade não está na venda de TVs ou geladeiras, mas no ganho obtido com o financiamento das compras. O negócio é tão bom que o Itaú Unibanco, responsável por administrar a área de crediário dentro da rede, tem um contrato que vai até 2029.

O crédito, por sinal, sofreu mudanças recentemente. “Tivemos de aumentar as restrições ao crédito. O efeito disso é que deixamos de vender de 10% a 15%”, ex-plica a empresária.

Para Felisoni, a companhia tem uma vantagem significativa em relação aos concorrentes, sejam eles maiores, sejam de menor porte. “O público se identifica com a imagem da Luiza”, avalia. “Nos-sa maior luta é não perder a identidade da empresa. Quanto a mim, não separo minha essência pessoal da essência pro-fissional”, afirma a presidente do grupo.

Uma história contada por ela recen-temente em um evento em Barueri, na Grande São Paulo, ilustra o que diz o consultor. “Minha tia tratava o chinelo de dedo e a madame do mesmo jeito. Se ela soubesse quanto gastamos hoje para treinar nossos vendedores, ficaria hor-rorizada”, brinca. Impressões como a de Felisoni mostram que, mesmo se tratan-do de uma empresa 100% profissionali-zada há tempos, inclusive com a figura de um CEO (Marcelo Silva, ex-presiden-te da Pernambucanas), a bola permanece nos pés de Luiza.

Fonte: Empresa

em expAnsão

Evolução das vendas da companhia – (R$ bilhão)

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NEGÓCIOSEmprEsas

32 américaEconomia Janeiro, 2012

No papel de protagonista nacional há mais de cem anos, a companhia parte para outros países da AL e quer turbinar seu comércio eletrônico

Graziele Dal-Bó, de São Paulo

Famosa por fabricar um dos itens mais prosaicos do vestuário, a camiseta branca, a Hering tem provado que, básica, só mesmo

a sua queridinha de vendas. Dona de um faturamento bilionário e com uma posição consolidada no Brasil, a com-panhia volta seus radares para o mer-cado internacional. E é na América Latina que estão as melhores possibi-lidades, na avaliação do diretor comer-cial, Ronaldo Loos. O Chile foi o mais recente país a receber uma franquia da rede, inaugurada em novembro do ano

As reinvenções da Hering

passado, em Santiago. Com a abertura na capital chilena, a Hering já soma 16 lojas fora do país. As outras 15 unida-des estão localizadas no Paraguai, na Bolívia, na Venezuela e no Uruguai. “No segundo semestre deste ano, de-vemos ter a nossa primeira loja na Co-lômbia”, afirma Loos.

Os doi únicos países da região que ain-da não fazem parte desse planejamen-to internacional são Argentina e Mé-xico. No primeiro, a Hering chegou a atuar – até com certa força –, na década de 1990, mas a crise argentina e as su-

cessivas barreiras impostas pelo gover-no aos produtos têxteis brasileiros invia-bilizaram a operação. “O cenário está um pouco melhor, mas ainda assim é um mercado difícil”, diz o executivo. Já no México, o problema está ligado à tri-butação. Enquanto espera por condições melhores nesses países, a Hering estuda outros mercados dentro da América La-tina. Equador e Peru fazem parte do rol de países onde pretende abrir operações. Os planos da Hering englobam ainda ex-pandir sua atuação onde já está presente, caso de Uruguai, Venezuela e Bolívia.

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As ações da empresa

acumulavam alta de 35,3% até 2

de dezembro

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Embora o processo de internacionali-zação tenha se intensificado de 2010 para cá, Loos afirma que o mercado domés-tico continua a ser o foco. Segundo o úl-timo relatório financeiro divulgado pela Hering (até o fechamento desta edição), as vendas internas somaram R$ 1,12 bi-lhão de janeiro a setembro de 2011, en-quanto a comercialização de peças fora do país atingiu R$ 18 milhões no mes-mo período. “Essa proporção não deve

ser muito alterada com as inaugurações que estamos prevendo para outros paí-ses. Uma empresa é feita de várias ações, e, por isso, estamos investindo também nesse modelo de negócio”, diz Loos.

ComérCio eletrôniCoO canal de vendas pela internet tam-bém deve receber atenção especial em 2012. Sem revelar detalhes, o diretor co-mercial avisa apenas que “a expecta-

tiva é alta” e que as novidades na área de comércio eletrônico devem ser di-vulgadas ainda no primeiro trimestre deste ano. “O mundo está caminhan-do nessa direção e não podemos ficar fora disso”, diz Loos. As webstores re-presentam hoje 0,8% das vendas da Hering. As multimarcas ficam com a maior fatia desse total, 55,4%, e as lojas próprias ou franquias têm 47,3%. A lide-rança das multimarcas é mais do que

Janeiro

Hering (HGTX3) Ibovespa

Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro (2)

Simulação da evolução mensal de uma aplicação na Hering e no Ibovespa nos últimos 12 meses(1) – em R$

rentabilidade máxima

(1) Considera quanto o investidor teria no fechamento de cada mês ao aplicar r$ 100 no ibovespa e na ação da Hering no dia 30/12/2010 (2) até o dia 7 de dezembro

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Com sede na cidade de Blumenau (fotos), em Santa Catarina, a Hering já conta com 16 lojas fora do país

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justificada, já que os outros modelos de negócio, como o e-commerce e as fran-quias, são movimentos bem mais recen-tes. Este último, por exemplo, recebeu mais atenção somente nos anos 2000. “A Hering foi uma das precursoras de uma tendência que ganha força hoje: a ida da indústria para o varejo”, observa Fernan-do Lucena, presidente do Grupo Fried-man no Brasil.

Com 132 de história, a Hering não só foi pioneira nesse movimento como tam-bém na capacidade de se reinventar. Foi assim quando passou de uma simples fa-bricante de camisetas brancas – até hoje o produto mais vendido no amplo port- fólio que a empresa construiu ao longo dos anos – a uma vendedora de produtos de moda. Uma mudança que envolveu muito mais do que criar produtos dife-rentes. Passou pela adaptação de gestão, na qual gerentes e diretores ganharam mais responsabilidade, e até por trans-formações na própria produção. “Nosso processo de terceirização foi intensifi-cado nos últimos cinco, seis anos. Am-pliamos as nossas fábricas, mas, como o crescimento foi grande, houve necessi-dade de investir em outras frentes tam-bém”, explica Loos. É nesse processo de terceirização que a Hering acabou trans-formando um eterno inimigo do setor têxtil em aliado. Peças como bermudas

de tactel, jaquetas e a linha de tricô não são mais fabricadas no Brasil, mas, sim, na China. Segundo a equipe de pesquisa da corretora Planner, mesmo que a em-presa não tivesse aproveitado as oportu-nidades oferecidas pelo país asiático, não há razão para se preocupar em termos de concorrência. Conta a favor da Hering o fato de trabalhar com marcas diversi-ficadas, voltadas a públicos diferentes. O grupo atua sob as bandeiras Hering Kids, dzarm., PUC e a própria Hering.

mudança estratégiCa A transformação de uma loja focada no conceito básico para um player do mun-do da moda exigiu mudanças também na velocidade de lançamento de pro-dutos. Segundo Loos, são pelo menos seis coleções anuais, fora novidades que vão sendo apresentadas ao consumidor ao longo do ano. “A área da moda exi-ge uma gama de novidades muito maior que outros segmentos do setor têxtil. É uma compra muito mais por impulso

do que por necessidade”, avalia Luce-na, do Grupo Friedman. Por enquan-to, o mercado mostra que as estratégias adotadas pela Hering têm surtido efei-to positivo. Até 2 de dezembro de 2011, as ações da companhia acumulavam al-ta de 35,3%. Nesse mesmo período, o Ibovespa amargava perdas de 16,5%. Segundo levantamento feito pela Eco-nomatica, se um investidor tivesse apli-cado R$ 100 nos papéis da companhia em 30 de dezembro de 2010, teria, em 7

de dezembro de 2011, R$ 142,56, ou um rendimento de 42,56%. Para efeito de comparação, a poupança, o mais popu-lar dos investimentos, oferece um rendi-mento médio de 6% ao ano. Se a esco-lha fosse pela aplicação no Ibovespa, no mesmo período analisado para as ações da Hering, o investidor teria perdido R$ 15,36. Os números explicam por que as ações da companhia estão entre as queridinhas para os analistas de varejo.

Os resultados apresentados pela fabri-cante e varejista de vestuário ajudam nas análises positivas. O último relatório di-vulgado pela empresa até o fechamento desta edição, que consolida a evolução dos números entre janeiro e setembro de 2011, mostra o crescimento acelerado pelo qual passa a Hering. A receita bruta total chegou a R$ 1,14 bilhão no período, uma alta de 38,7% na comparação com o ano anterior. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amorti-zação), por sua vez, cresceu 50,1% entre janeiro e setembro de 2010 ante os nove meses de 2009. Todas as quatro marcas sob o guarda-chuva da empresa tam-bém apresentaram resultados positivos: a Hering avançou 35,5%; a Hering Kids, 46,3%; a PUC, 29,2%; e a dzarm., 47,1%.

Apesar das incertezas quanto ao am-biente macroeconômico, os números po-sitivos alcançados fizeram a companhia revisar para cima a meta de abertura de lojas em 2011. De 418, a expectativa até o encerramento desta edição estava em 433 lojas. E, para 2012, segundo Ronal-do Loos, o objetivo é seguir com o ritmo de inaugurações dos últimos anos, de 70 a 80 unidades/ano.

No mercado doméstico, as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste são as que têm despertado mais interesse. “Isso não quer dizer que Sul e Sudeste ficarão de fora”, afirma. A contar pela procura de possíveis franqueados pela marca, a Hering não terá dificuldades para atingir a meta. “Em alguns locais temos muito mais interessados do que podemos aten-der. É preciso ter um equilíbrio para que as franquias não rivalizem com as mul-timarcas”, afirma o executivo.

Embora o processo de internacionalização tenha se intensificado em 2010, o mercado doméstico ainda é o foco da companhia

O diretor comercial da Hering diz que o e-commerce é um dos alvos para 2012

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OPINIÃO Caio Megale

é mestre em Economia pela PUC-Rio e economista do Itaú BBA

([email protected])

Feliz 2012?D o ponto de vista econômico, o

fim de 2011 foi diametralmen-te oposto ao seu começo. Em

janeiro de 2011, falávamos em supe-raquecimento da economia, Banco Central subindo juros, medidas para conter o crédito e pressões inflacioná-rias. A média das projeções coletadas pelo BC apontava para um crescimen-to do PIB (Produto Interno Bruto) no ano superior a 4,5%.

No entanto, a desaceleração foi bem mais intensa do que se esperava. Oti-mistas, os produtores não acreditavam que as medidas anunciadas pelo gover-no, inclusive de contenção dos gastos públicos, pudessem frear a demanda. Mas, ao longo do ano, o crédito, espe-cialmente ao consumo, perdeu força. Os investimentos públicos diminuíram. E,

mais para o fim do ano, o agravamento da crise europeia trouxe volatilidade à taxa de câmbio e aumento do custo de captação das instituições financeiras.

A demanda não acompanhou a oferta, e a economia ficou estocada. Em meio ao ciclo de ajuste de estoques, com a demanda ainda reticente com o cenário global, a economia parou de crescer. Os números de 2011 ainda não foram di-vulgados, mas as estimativas da equipe econômica do Itaú Unibanco sugerem que o PIB brasileiro tenha estagnado. De acordo com o IBGE (Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística), no terceiro trimestre, a expansão da eco-nomia foi zero na comparação com os três meses anteriores. Assim, no ano passado como um todo, o crescimento não deve superar 3%.

O que esperar de 2012? O início pode ser fraco, na esteira de 2011. Mas todas as medidas contracionistas de 2011 estão sendo revertidas. O BC vem reduzindo juros e alterando parte das medidas de contenção de crédito. Os in vestimentos públicos serão retoma-dos, especialmente com a proximidade da Copa do Mundo. O salário mínimo aumentará 7,5% em termos reais (em 2011 não houve aumento real).

Dessa forma, é legítimo esperar uma aceleração da atividade ao longo do ano. Diferentemente das economias cen­trais – EUA, Europa –, o potencial de consumo e as oportunidades de inves-timentos no Brasil são grandes, o que garante que a demanda reaja aos estí-mulos implementados. No segundo se-mestre de 2012, é provável que o país volte a crescer acima de 6% ao ano (se este é um ritmo sustentável para os anos à frente é outra história, tema para uma próxima coluna).

Um alerta, no entanto, deve ser feito. A crise europeia atingiu patamares mui-to mais preocupantes com a disparada dos juros da dívida externa de Itália e Es-panha. São países grandes demais para serem salvos, com vencimentos che­ gando próximo a € 700 bilhões nos pró-ximos 12 meses.

Dúvidas pairam também sobre Bélgi-ca, França e até Alemanha. Se a situa-ção se agravar, podemos ter um cenário de crise bancária e estrangulamento de crédito semelhante ao que se viu por oca sião da quebra do banco americano Lehman Brothers, entre 2008 e 2009. O mundo não escaparia de uma reces-são profunda. Nem o Brasil, pelo me-nos por alguns trimestres.

Em suma, 2012 tem tudo para ser um espelho de 2011: começa mais fraco, e vai acelerando rapidamente ao longo do ano. Se a Europa deixar. Il

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Apesar das incertezas do cenário externo, empresas brasileiras de papel e celulose investem no aumento da capacidade de produção

Sérgio Siscaro, de São Paulo

NEGÓCIOSCommoditiEs

Asituação econômica delica-da dos países que compõem a zona do euro tem potencial de gerar uma crise que afe-

te o nível de demanda de vários mer-cados que compram produtos brasilei-ros ao longo deste ano. No entanto, as empresas brasileiras do setor de papel e celulose seguem com seus planos de investimentos – confi antes na força do

Sem medo da crise

Hoje, a China é um dos principais clientes

das exportações brasileiras do setor

mercado interno e na recuperação do cenário externo. A Eldorado Celulose prossegue com as obras de sua fábri-ca em Mato Grosso do Sul, enquanto a Suzano Papel e Celulose confi rmou re-centemente sua disposição de manter o ritmo de construção de uma nova uni-dade no Maranhão. Na corrida pelo au-mento da produção, quem poderá sair atrás é a Klabin, que ainda deverá deci-

dir nos próximos meses se leva adian-te o projeto de instalar uma nova plan-ta no Paraná.

Esse otimismo parece ser bem fun-damentado. De acordo com os dados da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel), divulgados em no-vembro, o país se destaca na relação dos principais produtores mundiais de celu-lose (4º lugar) e papel (10º), tendo regis-

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trado US$ 12 bilhões de investimentos na última década. As f lorestas planta-das no Brasil já atingem 2,2 milhões de hectares. Nos dez primeiros meses de 2011, a produção de celulose atingiu 11,7 milhões de toneladas – quase o mesmo patamar de todo o ano de 2010 –, en-quanto a de papel totalizou 8,2 milhões de toneladas (equivalente ao desempe-nho de 2010). No mesmo período, a ba-lança comercial do setor de papel e ce-lulose teve superávit de US$ 4,2 bilhões (contra US$ 4 bilhões entre janeiro e ou-tubro do ano passado). A China aparece como um dos principais mercados con-sumidores para a produção nacional.

Além disso, dados da última edição do estudo “Latin American Pulp and Paper Forecast”, elaborado pela Risi, consulto-ria internacional especializada no setor f lorestal, mostram que os países latino--americanos tiveram crescimento con-sistente ao longo de 2011. O papel tissue, de maior valor agregado, por exemplo, apresenta perspectiva de aumento anual de 4,2% na capacidade de produção na região até 2016 – quando deverá chegar a 4,9 milhões de toneladas.

Novo projetoA Klabin é uma das empresas que vêm se movimentando para elevar a sua ca-pacidade. No fim do semestre passado, ela anunciou a compra dos ativos f lores-tais da Vale do Corisco, localizada nas proximidades de sua unidade de Mon-te Alegre, no Paraná. A operação, reali-zada em parceria com a chilena Arauco, totalizou US$ 473,5 milhões e possibili-tou o aumento da área de f lorestas plan-tadas da Klabin para 243 mil hectares – dos quais 110 mil estarão disponíveis para novos projetos industriais.

E o primeiro desses projetos será a construção de uma nova planta de celu-lose naquela região, voltada aos merca-dos de tissue e de papéis especiais – os quais, na avaliação da companhia, apre-sentam menor volatilidade de mercado. Além disso, a unidade – que deverá ser administrada por uma nova empresa, a Klabin Celulose, totalmente controlada pela holding – também vai se dedicar aos segmentos de fibra longa (embalagens) e f luff (produtos de higiene).

Em apresentação a investidores rea-lizada em novembro, o diretor-geral da companhia, Fabio Schvartsman, dis-se que a nova unidade deverá ser f lex, ou seja, lidar com diversos tipos de eu-caliptos, produzindo itens de maior va-lor agregado. Além disso, será capaz de atender tanto o mercado interno quan-to o externo. “O objetivo é desenvolver a planta de celulose mais competitiva e sustentável do mundo”, afirmou.

No entanto, o projeto ainda deverá passar pela aprovação do Conselho de Administração da companhia neste tri-mestre. Se for dado o sinal verde, a fábri-ca poderá entrar em funcionamento já em 2014. Nesse intevalo, a Klabin busca-rá investidores interessados em partici-par da construção da nova planta, assim como a contribuição do BNDES (Ban-co Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social).

Logística favoráveLOutra empresa atenta às oportunidades do mercado é a Suzano Papel e Celulose – que planeja colocar em operação já no final de 2013 uma nova unidade produ-tora, localizada no município de Impera-triz, no Maranhão. Com investimentos previstos de US$ 2,8 bilhões, dos quais R$ 2,3 bilhões serão destinados à par-te industrial e US$ 575 milhões à base f lorestal – sendo que R$ 2,7 bilhões vi-rão na forma de recursos do BNDES –, o projeto se insere na estratégia da empre-sa de buscar mais competitividade no se-tor de celulose e criar novas oportunida-des nas áreas de biotecnologia e energia renovável. Com uma logística favorá-

bilhões é o valor investido

pelo setor no Brasil ao longo

da última década

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PRINCIPAIS PROJETOS NO BRASIL

Suzano Papel e CeluloseNova unidade em Imperatriz (MA)Investimento: R$ 2,8 bilhõesProdução: 1,5 milhão de ton/anoInício de operação: final de 2013

Eldorado CeluloseFábrica em Três Lagoas (MS)Investimento: R$ 4,8 bilhõesProdução: 1,5 milhão de ton/ano de celulose branqueadaInício de operação: final de 2012

Klabin*Nova unidade em Monte Alegre (PR)Investimento: R$ 3,8 bilhõesProdução: 1,5 milhão de ton/anoInício de operação: 2014

Fonte: Empresas * Previsão

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vel às exportações direcionadas ao He-misfério Norte, em razão da localização da planta, a nova unidade terá capacida-de anual de produzir 1,5 milhão de tone-ladas de celulose.

Mesmo o espectro da crise na Europa – principal mercado importador de celulo-se da Suzano – não desanima a empresa. “Se a situação internacional se agravar, poderemos adiar alguns de nossos outros planos, como a implantação de uma no-

va fábrica no Piauí [cuja decisão sobre a compra de equipamentos foi adiada em junho para o primeiro semestre de 2014]. Mas não é o caso do Maranhão, uma vez que já chegamos a um ponto em que não há retorno”, avalia o presidente da com-panhia, Antonio Maciel Neto.

Para ele, a possível queda na demanda por celulose na Europa não deverá afetar significativamente os planos da Suzano. “Se o continente apresentar um cresci-

mento zero em 2012, a demanda vai se manter. A China, por outro lado, ainda apresenta perspectivas consideráveis.”

De toda forma, a Suzano vem se pre-parando para um possível agravamento do cenário externo – e já pensa em colo-car à venda alguns de seus ativos na área de produção de papel, e de sua partici-pação na Usina Hidrelétrica de Capim Branco, no Rio Araguari (MG). Maciel salienta, contudo, que nenhuma decisão

a esse respeito foi tomada. A análise se-rá feita ainda neste trimestre.

Enquanto isso, a empresa se benefi-cia dos ganhos na área de papel e celu-lose – na qual a maior parte de suas ven-das é destinada ao mercado interno. De acordo com a avaliação da empresa, a demanda por papel deverá continuar al-ta na América Latina nos próximos anos – e a Suzano tem como objetivo chegar à liderança nos mercados sul-americanos.

Mercado exterNoCom um investimento total projetado em R$ 4,8 bilhões, o projeto da Eldorado Celulose prevê a instalação de uma no-va fábrica na cidade de Três Lagoas, lo-calizada no Mato Grosso do Sul – com a qual a empresa pretende ter a maior uni-dade dedicada à produção de celulose no mundo. Com sua conclusão prevista pa-ra o fim deste ano, a planta deverá ter ca-pacidade de produzir 1,5 milhão de to-neladas por ano de celulose branqueada.

A empresa trabalha com a perspectiva de a nova fábrica responder por 20% das exportações brasileiras de celulose. Seu principal foco serão as vendas para os mercados produtores de papel da Amé-rica do Norte, Europa e Ásia.

Essa decisão estratégica foi adotada porque, de acordo com projeções feitas pela Eldorado Celulose, a necessidade mundial de celulose deverá aumentar em 25 milhões de toneladas anuais até 2023. Para viabilizar essa expansão, a companhia incorporou, no segundo se-mestre, a Florestal Brasil – empresa de exploração agroflorestal cuja atuação é centrada nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Com planos de aumentar sua produção, a Suzano espera chegar à liderança em diversos mercados da América do Sul

O Brasil tem 2,2 milhões de hectares de florestas plantadas

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OPINIÃO

Petróleo do fim do mundo

Mac Margolis é correspondente de longa data da revista Newsweek. Realiza reportagens sobre o Brasil,

outros países da América Latina e os mercados emergentes, e já colaborou para diversas outras publicações, entre elas The Economist, The Washington Post e The Los Angeles Times.

Comparado com os desastres da indústria petroleira mundial, até que não foi tão grave. O acidente

no poço da Chevron, ocorrido em no­vembro, resultou no vazamento de cer­ca de 4 mil barris de petróleo pelos ma­res do Rio de Janeiro. Nada a ver com a explosão de abril de 2010 da plataforma de Deepwater Horizon, da petroleira BP, que matou 11 pessoas e espalhou 4 milhões de barris de petróleo pelo Golfo do México, uma hecatombe em câmera lenta para a fauna e f lora marítima. Mas o Golfo ainda pode ser aqui.

Aos sete mares, os políticos nacionais não se cansam de cantar a fortuna es­condida no fundo do mar. Pudera. Com 30 bilhões a 50 bilhões (ou serão 100 bilhões?) de barris de petróleo leve ao nosso alcance, quem não vislumbra­ria um “bilhete de loteria premiado”, como disse o ex­presidente Lula, ou até “fortes indícios de que Deus é brasilei­ro”, como quis a ainda ministra Dilma Rousseff, hoje presidente? Só que Deus também despista. Neste tempo em que o homem vai cada vez mais longe e fun­do para cavar fontes seguras de energia, o modesto acidente brasileiro pode ser um grande presságio.

Em 2010, com um mar negro no Gol­fo e “Big Oil” no pelourinho, a ideia de cavoucar no fundo do mar em busca de combustíveis fósseis parecia desavisa­da, se não criminosa. Tanto governos, executivos e ambientalistas concorda­ram que a indústria de petróleo nunca mais seria a mesma. Os seguros para prospecção em águas profundas dispa­ravam, enquanto nações, da Itália ao Gabão, suspendiam operações em ultra­mar. Mas foi apenas um intervalo. Hoje, a corrida para encontrar petróleo nos ca­fundós segue mais forte do que nunca.

As razões para isso são tão simples quanto eloquentes. O crescimento explo­sivo nos países emergentes com suas classes médias em ascensão já acende cantos do mapa­múndi que mal pis­cavam algumas décadas atrás. Índia e China juntas devem consumir 28% da energia produzida no mundo em 2030, três vezes a quantia de que precisavam em 1990, segundo o Departamento da Energia dos Estados Unidos. Com a ex­

pansão pífia nas economias avançadas, os emergentes irão comandar parcela ainda maior da corrente mundial – e sua demanda já empurra as reservas conhe­cidas de petróleo ao limite.

A tecnologia também conspira a fa­vor do petróleo extremo. Com uma nova geração de robôs submarinos, du­tos e mangueiras robustas e resistentes ao choque térmico, sondas que podem “enxergar” pelo breu da rocha e do sal no fundo do mar, fontes de petró­leo das mais impossíveis estão subita­mente à mão. Engenheiros e geólogos hoje miram o óleo do pré­sal africano, nas águas sulfurosas do Mar Negro, na rocha ultradensa do Texas, debaixo da calota de gelo do Polo Norte e até no lamaçal das areias betuminosas do Ca­nadá e da Venezuela.

Mas nada disso se compara ao desa­fio do pré-sal brasileiro. Afinal, a maior parte do petróleo na “picanha azul”, a celebrada província do nosso pré­sal, está mais longe (a 300 quilômetros da costa), mais profunda (7,2 mil metros) e ocultada por um tampão de sal dos mais grossos (2 quilômetros) da histó­ria da indústria da prospecção. Estará o Brasil preparado para o mundo novo do petróleo radical?

O acidente do Golfo foi um espanto global e ninguém admite assistir à sua reprise, nem mesmo em escala mo­desta. Espanta também o fato de que o mesmo volume de petróleo que vazou no Golfo (760 milhões de litros de pe­tróleo) polui anualmente os oceanos, a vasta maioria decorrente de falhas em cargueiros e poços convencionais. E pode piorar. Até 2030, um em cada dez barris de petróleo no mundo será extra­ído de águas ultraprofundas, segundo a IHS Cambridge Energy Resources. O bravo novo mundo do petróleo extre­mo está apenas começando. Que não seja o início da era dos acidentes ex­tremos, também.

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O governo de Ollanta Humala parece decidido a levar adiante seu projeto de criar uma companhia aérea low-cost

Luis Felipe Gamarra, de Lima

Acidentes, com dezenas de mor-tos e feridos, centenas de pas-sageiros em solo por causa de voos suspensos por falhas téc-

nicas. Assim foram os últimos meses da TANS Perú, companhia aérea esta-tal criada em 1963 e que o governo do ex-presidente Alan García decidiu fe-char em 2005 por motivos financeiros.

Seis anos antes foi a vez da Aerope-rú, fundada pelo general populista Juan Velasco Alvarado, fechar as portas. Um acidente fatal no Oceano Pacífico, um confuso processo de privatização e pre-juízos que chegaram a US$ 174 milhões acabaram tirando a empresa do ar.

Apesar desse retrospecto nada bom, tudo indica que o Estado peruano volta-rá a administrar uma companhia aérea. “Queremos ver as cores da bandeira ou-tra vez no céu”, diz, com entusiasmo, Ju-lián Palacín Fernández, especialista em

A volta do condor

direito aeronáutico, que elaborou para a bancada governista “Gana Perú” o estu-do de viabilidade da estatal.

Apesar da opinião de Fernández, há quem anteveja dias difíceis caso o proje-to saia do papel. Trata-se de uma decisão complexa no cenário da aviação comer-cial. Segundo dados da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), du-rante a última década, cerca de 200 com-panhias aéreas faliram em todo o mun-do. A volatilidade do preço do petróleo e a crise financeira global forçaram as empresas a somar forças para sobrevi-ver: Air France-KLM, Delta-Northwest, Gol-Varig (e mais tarde Webjet), Conti-nental-United, British Airways-Ame-rican Airlines. Na América Latina, a Avianca uniu-se à TACA, e a LAN es-colheu a TAM como parceira.

“A realidade econômica nos obriga a deixar de falar de companhias aéreas es-

tatais para falar de companhias regio-nais ou globais”, afirma Carlos Adrian-zén, decano da Faculdade de Economia da Universidade Peruana de Ciências Aplicadas. As exceções são Cuba, Ve-nezuela, Equador, Bolívia e Argentina. Esses países mantêm empresas estatais de aviação que operam com prejuízos.

Germán Efromovich, presidente do Synergy (grupo controlador da Avian-ca-Taca), aponta que Humala “não po-de reinventar a roda. E que não é pre-ciso olhar muito longe para comprovar isso. A Argentina, por exemplo, insiste em manter sua companhia aérea [Aerolí- neas Argentinas], o que lhe custa muito dinheiro. A Venezuela criou a Conviasa e também precisa de muito dinheiro pa-ra sustentá-la”. E o empresário boliviano, naturalizado brasileiro, conhece mui-to bem o Peru: em 2006, teve uma fali-da incursão pelo país com a Wayra Perú.

A primeira linha da nova empresa

ligará a capital Lima a Cuzco (foto)

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Fernández defende-se das críticas e tem o apoio de integrantes de peso do ga-binete peruano. “Não será uma compa-nhia aérea financiada pelo Estado. Isso já foi feito e fracassou”, afirma. “Os só-cios privados colocarão todo o capital e o Estado usará o que existe nas regiões do país para fornecer a infraestrutura aero-portuária necessária.”

O modelo a ser seguido é o das com-panhias aéreas low-cost, que oferecem passagens mais econômicas, sem ne-nhum serviço a bordo, a fim de redu-zir os custos operacionais para atingir a máxima rentabilidade por quilômetro percorrido. “Para captar os 6 milhões de peruanos que não têm acesso a esse mercado em razão de suas tarifas eleva-das, precisamos imitar empresas como Southwest, Ryanair e EasyJet”, diz Fer-nández, cujo irmão Carlos presidiu a Ae-rocondor, companhia aérea privada que faliu em 2008.

Funcionários ligados ao governo de Humala afirmam que o investimento inicial para que a nova companhia co-mece a voar seria de US$ 70 milhões, fi-nanciados por meio de leasing, pagáveis em 20 anos, destinados ao aluguel de uma frota de seis Airbus 319 (156 pas-sageiros) e seis aviões Bombardier (80 passageiros). Com 12 aeronaves, a Ae-rolíneas del Perú teria a segunda maior frota do país andino, depois da LAN Perú (31), e à frente da Taca Perú (seis).

O ministro da Economia, Luis Miguel Castilla, dono de um perfil de tecnocrata

conservador, acredita que o projeto seja viável. “O esquema provavelmente seria uma parceria público-privada, porque, embora tenhamos recursos públicos im-portantes, eles são finitos, e as necessida-des, enormes”, afirma Castilla.

A primeira rota seria Lima-Cuzco-Li-ma. “Não podemos operar apenas o os-so, precisamos de carne e osso. Inclusive de rotas internacionais, para fortalecer os aeroportos de fronteira”, diz Fernández. Isto é, além do itinerário tradicional e de maior rentabilidade, a Aerolíneas del Perú cobriria as rotas que até o momen-to não são rentáveis para o setor privado.

Segundo Fernández, o modelo de ne-gócio registrará, no primeiro ano, recei-tas de cerca de US$ 50 milhões, mas em menos de uma década deverá render em torno de US$ 500 milhões, alcançando uma participação de 40% do mercado.

São números que trazem ânimo ao se-tor. “Quase não existem mais compa-

nhias aéreas estatais no mundo”, afirma Carlos Gutiérrez, presidente da Associa-ção de Empresas de Transporte Aéreo Internacional. Isso acontece como resul-tado dos tratados de céu aberto, que glo-balizaram a indústria.

Carlos Canales, presidente da Câmara Nacional de Turismo, a Canatur, desta-ca que essa companhia aérea representa-rá um perigo para as empresas privadas do setor, que poderiam sair do mercado se concorressem em desvantagem com os privilégios de uma empresa estatal.

A LAN Perú, que tem 60% do merca-do e faturou US$ 759 milhões em 2010, não está preocupada com a criação da companhia aérea estatal. Pelo menos é o que diz. O empresário Enrique Cueto, vice-presidente-executivo, disse publica-mente que a empresa manterá seu plano de investimento para os próximos cinco anos, equivalente a US$ 700 milhões. No caso da Taca, Efromovich não acredita no sucesso da Aerolíneas del Perú e con-tinua com seu plano de apostar no mer-cado peruano.

Embora a Aerolíneas del Perú ain-da não tenha uma data para nascer, sua chegada já é iminente. A Pro Inversión, agência governamental que procura in-vestidores para o Estado, está encarre-gada de estruturar o projeto e tem pressa para colocá-lo de pé. E, a partir do mo-mento que isso aconteça, será possível saber se realmente existem empresas privadas interessadas em se associar ao Estado peruano em uma companhia aé-rea low-cost.

A LAN Perú manterá os planos de

investimento mesmo com o aumento da

concorrência

O presidente Humala quer atrair investidores para montar a companhia aérea estatal

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ESPECIALEMPREENDEDORISMO

42 AméricaEconomia Janeiro, 2012

Alexandre Costa começou a fabricar ovos de Páscoa

artesanalmente, com uma pessoa contratada, e hoje

sua empresa tem 1,1 mil funcionários e mais de mil

lojas em todo o Brasil

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O Brasil que dá certo

Durante anos, abrir o próprio ne-gócio esteve associado ao de-sejo de não ter patrão e a uma alternativa de ocupação pa-

ra quem se aposentava. Ou, ainda, ser-via para quem queria se manter na ativa ou não conseguia se reinserir no mer-cado de trabalho formal depois de uma demissão inesperada. A mudança pro-funda pela qual vem passando a eco-nomia brasileira nos últimos anos, com redução das taxas de desemprego, es-tabilidade e um rumo mais certeiro so-bre o que esperar do futuro, fez com que um novo perfil empreendedor surgis-se no Brasil. Desde 2003, os empreen- dedores por oportunidade superaram os por necessidade.

Dados da pesquisa GEM (Global En-trepreneurship Monitor) de 2010 mos-tram que, para cada empreendedor por necessidade, há outros 2,1 por oportu-nidade. A proporção brasileira está pró-xima da americana, de 2,4 por oportuni-dade. Segundo o consultor Pedro João Gonçalves, da Unidade Inteligência de Mercado do Sebrae (Serviço Brasilei-ro de Apoio às Micro e Pequenas Em-presas), “uma hipótese para esse quadro positivo é que, com a melhora das taxas de crescimento da economia nos últimos anos, surgiram oportunidades lucrativas no mercado”.

Coordenador do FGVcenn (Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas), em São Pau-lo, o professor Tales Andreassi destaca que, antes da estabilização econômica, quando não havia emprego, a única al-ternativa era ser empreendedor. “Agora, as pessoas empreendem por vocação, vão atrás e se informam mais antes de abrir um negócio. Por isso também quebram menos. Mas juros e crédito preocupam.”

As pesquisas do Sebrae de São Pau-lo indicam que a taxa de mortalidade das empresas paulistas recém-constituí- das caíram. Dos negócios abertos em 1997, 36% fecharam no primeiro ano. Em 2007, 27% não alcançaram o segun-do ano de atividade.

“Há um conjunto de fatores que podem ter contribuído para essa melhora relati-

va. Ao longo dos anos, tem melhorado a escolaridade dos proprietários de em-presas. Em São Paulo, entre 1995 e 1997, 62% dos novos empreendedores tinham pelo menos o ensino médio. De 2003 a 2007, esse percentual passou para 78%. É importante citar também a criação e o aperfeiçoamento de políticas em favor do empreendedor, por exemplo, a Lei Ge-ral das Micros e Pequenas Empresas e o Simples Nacional”, afirma Gonçalves.

Outro ponto é que, com a classe C ga-nhando espaço, há uma demanda maior por educação e serviços. “A pessoa com renda maior vai gastar com ela mesma, consumir cultura, diversão, restaurantes, beleza e móveis. Quando o país melho-ra a renda, melhoram os serviços. Esses negócios existiam, mas eram mais sim-ples e baratos. Agora o nível de sofistica-ção mudou”, afirma Andreassi.

Ocorreram ainda mudanças cultu-rais, aponta Batista Gigliotti, presiden-te da Fran Systems, consultoria em de-senvolvimento de negócios e franquias, e coordenador de Projetos do FGVcenn. “Com a crise nos países desenvolvidos, a atratividade do trabalho em uma mul-tinacional está sendo questionada. Mui-tos empregados começam a investir em um negócio paralelamente, ou colocam a mulher na operação e depois passam a se dedicar integralmente também.”

Para cada um empreendedor

por necessidade, existem outros

2,1 por oportunidade

no país

Com economia favorável, cresce o número de empreendedores no país. Conheça algumas dessas inspiradoras histórias de sucesso

Adriana Chaves, de São Paulo

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Isso ajuda a explicar por que a mulher brasileira é uma das que mais empreen-dem no mundo, segundo a GEM. Apenas em Gana as mulheres atingiram taxas de empreendimento iniciais mais altas que os homens entre os 59 países participan-tes da pesquisa, segundo dados de 2010. Entre os empreendedores iniciais, 50,7% são homens, e 49,35%, mulheres.

Pesam ainda a flexibilidade de horá-rios e a ideia de fazer algo que tenha sen-tido para a vida da pessoa. Embora o em-preendedorismo tenha crescido em todas as faixas etárias, as motivações variam, aponta Gigliotti. “O jovem procura cres-cimento e, pela falta de renda, opta mais por serviços do que pelo varejo. O indi-víduo mais velho procura fluxo de caixa, quer ampliar sua vida útil empresarial.”

O crescimento dos novos negócios in-fluencia o mercado de franquias, que au-mentou em 20% o faturamento em 2010 (25% decorrentes das microfranquias), segundo o diretor-executivo da ABF (Associação Brasileira de Franchising), Ricardo Camargo. Para 2011, a meta é subir 15%. “Tradicionalmente, as mais procuradas estão ligadas à beleza, à saú-de e à alimentação, além das relaciona-das à educação e ao turismo.”

Conheça a seguir histórias de brasi-leiros que, em diferentes setores da eco-nomia, apostaram no próprio potencial e levaram adiante ideias criativas para se tornarem referências em seus ramos de atividades.

CaCau ShowNa Páscoa de 1988, então com 17 anos, Alexandre Tadeu da Costa resolveu re-vender chocolates para ganhar um di-nheiro extra. Após receber uma enco-menda de 2 mil ovos de 50 gramas de uma escola, soube que o fornecedor não poderia produzir ovos com esse peso. Para honrar o pedido, partiu para produ-ção própria. Comprou a matéria-prima – com dinheiro emprestado do tio – e con-tratou uma senhora que fazia chocolate caseiro para produzir os confeitos. De-pois de três dias, com jornadas de traba-

lho de 18 horas, a missão foi cumprida. Hoje, o negócio conta com 1,1 mil fun-cionários só na fábrica e cerca de 1,1 mil lojas no país.

A face empreendedora de Costa apa-receu cedo. “Iniciei minha busca pela independência aos 13 anos, quando fui trabalhar em um posto de gasolina no bairro. Fiquei um ano calibrando pneus, até comprar minha bicicleta. Depois fui trabalhar com minha mãe, com vendas de porta em porta.”

A transformação da Cacau Show em franquia foi inusitada. Uma jornalista queria abrir uma loja da marca na Gran-de São Paulo. Costa foi ao local conhecer o ponto e, como chegou antes do horário marcado, levou o carro a um lava-rápi-do. Um funcionário trancou o carro com a chave do lado de dentro do veículo. O dono do estabelecimento ficou tão cons-trangido, que levou Costa até São Paulo para buscar a chave reserva.

“No caminho, entre muitas descul-

pas, ele falou que sua mulher queria abrir uma loja de chocolates e que estava im-pressionada com o sucesso de uma tal de Cacau Show. Foi então que me apre-sentei como fundador. O negócio com a repórter não vingou, mas fechei com ele imediatamente. Começava ali, em 2002, o sistema de franquias da Cacau Show que alcançaria mil lojas em apenas oito anos”, diz Costa.

Rádio ibizaA paixão pela música uniu os jovens Pe-dro Salomão, 32 anos, Levy Gasparian, 42, e Rafael Gasparian, 32. Em 2003, Pe-dro e Rafael criaram a produtora de áu-dio Tá Surdo Produções. Da parceria, veio a ideia para se juntarem a Levy, ir-mão de Rafael e DJ no Rio de Janeiro, para lançarem uma empresa pioneira no serviço de identidade musical, a Rádio Ibiza. Seguindo a tendência mundial de personalização, passaram a desenvolver rádios customizadas.

“Eu atuava no mercado financeiro e a produtora em que o Rafael trabalha-va entrou em crise em 2001, quando o acesso à internet começou a crescer. Eu sempre gostei de produto e fazia pós-gra- duação em Sociologia para conhecer mais sobre comportamento. Era um pe-ríodo em que a prestação de serviços en-gatinhava no país e começamos a con-versar sobre esse mercado potencial. Percebi que havia espaço”, conta Pedro.

Como precisava de um tema para sua monografia, ele aproveitou para desen-

dos novos empreendedores

em São Paulo têm pelo menos o ensino médio

78%

Com o Grupo Fitta, André Nunes

abriu a primeira franquia de

câmbio no país

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volver o planejamento estratégico da produtora. “Quando percebi que não iria conseguir colocar o plano em prática, optamos por montar a Tá Surdo. De 2003 a 2006, a produtora ganhou prêmios pu-blicitários e estabeleceu conceitos como o de construir no trabalho um ambiente tão bom como em casa.”

Segundo Rafael, em 2006, a produtora ia bem financeiramente, mas eles identi-ficaram que uma nova crise se aproxima-va, devido ao avanço da pirataria e dos downloads de músicas. “Começamos a entender que surgia uma nova oportu-nidade de negócio. Várias marcas inves-tiam em pontos de venda, criavam pro-jetos arquitetônicos mirabolantes, mas a música era deixada de lado. Música am-biente servia para tudo.”

Foi assim que nasceu a Rádio Ibiza, usando música como produto e matéria--prima do marketing, para criar identi-dade para a marca. Nessa fase, Levy se juntou ao grupo. Para escolher a trilha de acordo com o perfil do cliente, a Ibiza faz um estudo prévio do público-alvo da marca. As lojas ou filiais de uma rede são padronizadas com o mesmo som, mas é possível fazer adequações.

Em pouco tempo, eles passaram de oito clientes e 38 pontos instalados pa-ra 500 clientes e mais de 3,5 mil pon-tos. Recentemente, a empresa assinou contratos com restaurantes em Nova York. Além de ter filiais em Curitiba, São Paulo e Sergipe, os sócios plane-jam abrir outros escritórios em Brasí-

lia e Porto Alegre. O projeto mais recen-te do grupo é o lançamento do primeiro aplicativo para iPhone com customi-zação musical para pessoas físicas. O aplicativo oferece podcasts personali-zados de cada um dos dez DJs da pro-dutora, com programação renovada a cada semana. A produtora investiu R$ 40 mil no novo produto. Para este ano, a empresa prevê chegar ao fatura-mento de R$ 4,5 milhões.

GRupo FiTTaPioneiro em franquias de agências de câmbio no país, o Grupo Fitta foi funda-do em 1999 pelos executivos André Nu-nes, 39 anos, e Rodrigo Macedo, 34. A empresa começou com a compra e ven-da de ouro. Nunes vinha de um empre-go em um banco. Macedo também havia atuado em empresas do setor.

O banco faliu no fim dos anos 1990. Foi a motivação necessária para que Nu-nes e Macedo se unissem a dois sócios

para dar o pontapé inicial no novo negó-cio. Eles iam a garimpos para comprar o metal e revender em quantidades meno-res e mais acessíveis aos pequenos pro-dutores de joias. “Logo percebi que, por mais que tivesse uma carteira enorme de clientes de ouro, não tinha a bandeira de um banco e não ia conseguir operar co-mo grande atacadista. Tivemos de des-cobrir como comprar o metal de forma fracionada e vender no varejo e para pe-quenas indústrias.”

A virada começou a partir de 2000. Naquele ano, os sócios instalaram uma loja no Oiapoque (a 700 quilômetros de Macapá), na fronteira com a Guiana Francesa. O euro tinha sido lançado re-centemente, e um grande volume da mo-eda era transacionada na região. “As pes- soas entravam na loja para vender eu-ro. Tínhamos o local, segurança, blinda-gem e autorização do Banco Central. Em pouco tempo, negociávamos mais moe-da estrangeira que ouro.”

Segundo Nunes, esse modelo fun-cionou bem nas cerca de 20 lojas que o grupo tinha, na época, em regiões fron-teiriças ou cidades com grande movi-mentação de estrangeiros. Devido ao grande número de cambistas atuando irregularmente, a expansão para outras lojas deslanchou depois de uma grande operação da Polícia Federal desarticular uma rede de cambistas em 2004. No ano seguinte, o BC também modificou as re-gras cambiais, deixando-as mais alinha-das com a política de varejo. “Isso veio

das empresas paulistas abertas em 2007 não chegavam

ao segundo ano de atividade

27%

Rafael Gasparin, Pedro Salomão e Levy Gasparin (da esq. para dir.), sócios da Rádio Ibiza: a empresa cria a identidade musical de marcas nacionais e internacionais

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ao encontro de uma melhora nas condi-ções sociais da classe média”, diz Nunes.

Em 2007, o grupo apresentou o pri-meiro sistema de franquia do setor acei-to pelo Banco Central. Hoje, a Fitta Franquias já conta com cerca de 70 fran-queados com contratos assinados e qua-se 60 lojas em funcionamento. A em-presa também continuou no mercado de ouro e metais preciosos e estabeleceu a Reserva Metais, uma joint venture com a fornecedora Marsam.

CNaO grupo CNA surgiu meio “por acaso”, há 36 anos. Depois de uma temporada nos Estados Unidos, Luiz Gama Neto, 66 anos, seguiu para Porto Alegre e co-meçou a vender livros de uma coleção chamada Inglês Dinâmico, de porta em porta. Em pouco tempo, ele montou uma equipe de 250 vendedores. Na época, fa-lar inglês já despontava como um dife-rencial no mercado de trabalho.

“Certo dia, um dos vendedores da equipe, na ânsia de fechar um negócio, prometeu a uma dona de casa 12 aulas gratuitas, caso ela comprasse os livros, estratégia para reduzir a rejeição. Quan-do soube da negociação, repreendi o fun-cionário, mas logo depois percebi que havia aí uma oportunidade de negócio e, rapidamente, adotamos a ‘promoção’ co-mo ferramenta de venda”, afi rma Neto.

No começo, as aulas eram realizadas no escritório, nas salas usadas para trei-nar os vendedores. Alguns professores foram contratados e, em seis meses, a es-cola já contava com 2,4 mil alunos. De-pois de Porto Alegre, foram abertas es-colas em Curitiba (PR), Londrina (PR) e Campinas (SP).

“Atualmente, a concorrência acirrada é o principal entrave ao desenvolvimen-to do setor. Mas ainda há muitas oportu-nidades. Entre os principais fatores que contribuirão para esse crescimento, des-tacam-se a realização da Copa do Mun-do de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil, além da ascensão da nova classe média brasileira, que investe mais em educação”, diz.

Por ter vivido nos Estados Unidos, on-de as franquias já eram comuns, ele co-nheceu o modelo de franchising bem an-tes de sua popularização no Brasil. “No fi m da década de 1970, o CNA já tinha unidades em Porto Alegre, Curitiba, Londrina, Campinas e São Paulo, so-mando mais de 10 mil alunos. O negócio já estava grande o sufi ciente para atrair outros empreendedores quando as fran-quias despontaram.”

A primeira escola franqueada foi inau-gurada em 1981. Em um ano, o em-presário comercializou 30 unidades. No segundo, outras 50. Por enquan-to, a rede está voltada à expansão na-cional. “Atualmente, temos 701 esco-las do CNA em operação em todo o país. Até 2014, 500 novas unidades devem ser inauguradas dentro desse período.”

E, para quem quer empreender, Neto recomenda: sonhar grande, inovar sem-pre, escolher bem os parceiros de negó-cios e a equipe, surpreender o cliente e usar o bom-senso.

LaVaNdERia RoToViCA trajetória de Paola Tucunduva, 43 anos, confunde-se com a história dos ne-gócios da família. Seu pai fundou uma lavanderia em 1968, ano em que ela nas-ceu. Durante toda a infância e a ado-lescência, a empresária acompanhou a família na empreitada, muitas vezes aju-dando nos serviços gerais, ao lado o ir-mão. “Vivia na lavanderia. No meu san-gue, corre detergente”, brinca.

Paola conta que o pai tinha se forma-do em Engenharia e, inspirado em um tio que era industrial, decidiu abrir um negócio. Nessa época, conheceu o siste-ma de uma rede de lavanderias em Belo Horizonte. Em seguida, foi para os Esta-dos Unidos fazer cursos para se especia-lizar na área. Na volta, inaugurou a Vip Lavanderia, em São Paulo.

Paola acabou graduando-se em Ad-ministração de Empresas para adquirir mais embasamento técnico. “A lavan-deria também atendia indústrias, espe-cialmente uniformes. Quando terminei o curso, já havia conversas sobre suces-são na família e surgiu a possibilidade de comprar essa divisão do negócio.”

dos empreendedores iniciais no Brasil são mulheres,

participação inferior apenas à de Gana

49,35%

O CNA surgiu a partir da iniciativa de um vendedor de livros da equipe de Luiz Gama Neto de ofertar aulas de inglês

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A Rotovic foi criada em 2000, com foco industrial. Pouco depois, um dos clientes da Rotovic em São Paulo mu-dou-se para Camaçari (BA), e Paola viu

uma possibilidade de desenvolvimento, instalando uma unidade para atender es-se e outros potenciais clientes do Polo de Camaçari. “Inicialmente, fi zemos uma

parceria com uma lavanderia de lá. En-tre 2005 e 2006, conseguimos um ter-reno da Prefeitura de Camaçari e cons-truímos uma unidade própria.”

Atualmente, a Rotovic é a terceira maior lavanderia industrial no Brasil, com cerca de 200 clientes em áreas di-versas, como indústria automotiva, me-talúrgica, petroquímica, alimentícia e química. A unidade de Camaçari atua também nas localidades vizinhas. Já a de São Paulo atende ainda o Rio de Janeiro.

A empresária espera atingir a meta de crescimento de 12% para 2012 e, mais do expandir a rede, busca elevar os graus de certifi cação de qualidade e sustentabili-dade. “Lavamos uniformes, tiramos su-jeira da roupa, e essa sujeira passa para a água. É fundamental ter um tratamento adequado para esses efl uentes para que não termine no meio ambiente.”

Depois de acompanhar o trabalho do pai durante a infância e a adolescência, Paola Tucunduva abriu a lavanderia Rotovic, com foco industrial

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Um MBA com sabor cubanoDepois da recente abertura econômica, a ilha de Fidel ganha um programa para disseminar o conhecimento do mundo dos negócios entre a população

Daniela Arce

A pós dois anos de estudos na então União Soviética, Pauli-no García voltou a Cuba, seu país de origem, para continu-

ar o curso de Direito na Universidade de Havana. Formado, ele conseguiu um emprego na Corporación Cimex. Em 1996, o jovem deixou a empresa para ser dono do próprio negócio. Graças à legalização do trabalho autônomo, García conseguiu abrir um restauran-te. “Não houve planejamento, apenas meu desejo ter um restaurante”, afirma.

O ponto de partida para que García pu-desse ter o próprio negócio foi o fato de contar com um pouco de dinheiro guar-dado e a família como capital humano para tocar o dia a dia do restaurante. His-tórias como a de García foram inspirado-ras para o cardeal Jaime Ortega y Ala-mino. Em uma conversa com José Luis Mendoza Pérez, presidente da Ucam (Universidade Católica de San Antonio), de Múrcia, na Espanha, o religioso falou da necessidade de ajudar todos os admi-nistradores e donos de pequenos negó-cios em Cuba.

Assim como García, que teve no pas-sado a oportunidade de se tornar dono do próprio negócio, outros cubanos so-nham em seguir o mesmo caminho e dar adeus ao emprego público. Isso vem acontecendo graças a uma mudança pro-movida pelo governo de Raúl Castro no

fim de 2010, que mudou as regras do jo-go e abriu caminho para a atividade pri-vada no país, ainda que minimamente.

Em novembro de 2010, foi anunciado que alguns tipos de negócio, como salões de cabeleireiros ou pequenas cafeterias, passariam a ser administrados por parti-culares. Além disso, o Estado permitiu a ampliação dos paladares – pequenos res-taurantes, como o de García. Com a mu-dança nas regras do país, muitos se de-ram conta de que já não basta intuição e tino para tocar um negócio.

As aulas começaram no fim de setem-bro em um edifício bastante simbólico, o antigo seminário de San Carlos y San Ambrosio, fundado em 1689 e atualmen-te sede do Centro Cultural Padre Félix Varela. Gonzalo Wandosell, vice-decano de Administração e Direção de Empre-sas da Ucam, conta que os 45 primeiros estudantes vieram de empresas estatais e da gestão privada. A ligação ao catolicis-

mo não foi um requisito para a formação da turma. “São engenheiros, advogados e economistas.”

O papel da Igreja na iniciativa é im-portante, ainda mais em um contexto histórico. Desde 1959, o clero cubano tem sido o antagonista por excelência da Revolução. Nas últimas décadas, no en-tanto, as relações ficaram mais amenas, principalmente depois da visita à ilha do papa João Paulo II, em 1998. Mais recen-temente, as conversas entre as duas par-tes melhoraram de tom com a libertação de presos políticos.

Ao contrário dos caríssimos progra-mas de ensino de outros países, o MBA cubano é gratuito para seus estudantes. “Os fundos estão sendo cobertos pela universidade e com doações de empre-sas de Múrcia”, afirma Antonio Alcaraz, vice-reitor da Extensão Universitária da Ucam. “Mas, mesmo sem ajuda, nós o faríamos gratuitamente.”

Os financiadores espanhóis assumem o pagamento dos profissionais de ensino e os custos com as viagens, enquanto a Igreja fornece as instalações e coordena os professores locais.

Não é o primeiro programa dessa na-tureza em Cuba. A primeira tentativa partiu da instituição argentina de ensino ADEN Business School. Mais tarde, foi implantado o programa Profor, patroci-nado pela Comissão Europeia, pela Fun-

O MBA cubano é o único curso voltado

apenas para os empreendedores

autônomos

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: AFP

dação Esad, da Espanha, e pela EFMD (Fundação Europeia para Gestão do De-senvolvimento). O programa chegou a ser ministrado entre 1995 e 2004, mas o contrato terminou e não foi renovado. Em 2010, houve uma tentativa de reabrir o programa, sem sucesso. Segundo Pre-drag Avramovic, chefe de seção da dele-gação da União Europeia em Cuba, “o projeto está sendo redefinido”.

O diferencial do programa da Ucam e do Centro Cultural Padre Félix Vare-la está no fato de ser o único curso volta-do exclusivamente para empreendedo-res autônomos. Não é o caso do mestrado em Administração de Negócios ofereci-do pela Universidade de Havana. Para ingressar na universidade é necessário pertencer a uma empresa oficial (do Es-tado), o que exclui, assim, os autônomos.

EmprEEndEr Em CubaMajel Reyes Quesada, que tem licencia-da em língua inglesa e é aluna do MBA, conta que decidiu pelo programa por ra-zões pragmáticas. “Acredito que, com as novas políticas de abertura, eu pos-sa vir a fazer algo, ter uma empresa pri-vada, uma PME [Pequena e Média Em-presa]”, afirma.

Esse perfil de aluno explica a natureza prática da formação. “É o que chamamos na Espanha de mestrado profissional”, diz Wandosell, da Ucam. “O objetivo é oferecer conhecimentos avançados na gestão de empresas, mas muito orienta-do às PMEs, microempresas e coopera-tivas, que são os empreendimentos em formação atualmente em Cuba.”

O MBA é composto de sete discipli-nas: marketing (a opção que tem mais popularidade, segundo alguns alunos), economia financeira, contabilidade, comportamento organizacional, produ-ção, gestão da qualidade e, por último, sistema tributário.

O título concedido pela Ucam será vá-lido dentro da Comunidade Europeia, mas não em Cuba. Para isso, precisa ser reconhecido pelo Ministério de Ensi-no Superior. Os organizadores do MBA esperam que, em breve, tanto o Estado cubano quanto a Universidade de Hava-na reconheçam o título.

Apesar das recentes reformas, ainda há muitos obstáculos ao desenvolvimen-to de uma PME em Cuba. Por um lado, a lista restrita de atividades autorizadas para os profissionais autônomos impede a maior abrangência de interessados. Por

exemplo, são permitidas as licenças pa-ra reformadores de livros, mas não pa-ra aqueles que desejam abrir uma edito-ra. É possível ser pedreiro e colocar os azulejos de um banheiro, mas não se po-de ter uma construtora. E nenhuma em-presa desse tipo poderá nascer em Cuba enquanto a Constituição privilegiar “o sistema de economia baseado na pro-priedade socialista”.

Além disso, não há um sistema de cré-dito ou microcrédito ativo. Sem acesso a um financiamento inicial, as oportuni-dades de empreender uma atividade por conta própria ficam reduzidas.

Também não foi implementada uma das resoluções do último Congresso do Partido Comunista, que permitiria o fun-cionamento “dos mercados de suprimen-tos que vendem a preços atacadistas e oferecem serviços de aluguel de mídias e equipamentos, sem subsídio, ao siste-ma empresarial”.

Seria o MBA a porta dos fundos para a esperada transformação capitalista de Cuba? Sobre isso, o padre Yosvani Car-vajal, diretor da Ucam, deixa clara a po-sição da Igreja, e a finalidade desse pro-grama: “O bem maior é para Cuba. Esses alunos são para Cuba”.

Pequenos negócios, como os “paladares”, tendem a se proliferar com as mudanças adotadas pelo governo de Cuba

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FINANÇASConCorrênCiA

Entrada de players estrangeiros no mercado de ações nacional reduzirá custos para os investidores

Natalia Gómez, de São Paulo

Se ao longo dos últimos anos o mercado de capitais brasileiro foi marcado por uma enxur-rada de companhias listando

suas ações pela primeira vez na bol-sa de valores, os próximos anos pro-metem uma revolução do outro lado do balcão. A BM&FBovespa, que rei-na sozinha no mercado de negociação de ações, está prestes a ganhar concor-rentes. Somente neste ano duas bol-sas estrangeiras anunciaram planos de atuar no Brasil – a Bats Global Markets e a Direct Edge. Caso os projetos se concretizem, o mercado brasileiro deve se aproximar da configuração existente na Europa e nos Estados Unidos, onde diferentes bolsas convivem no mesmo mercado, o que promete gerar redução de custos para os investidores e elevar o nível tecnológico das operações.

Seja qual for o país e o produto, é fa-to que a quebra de um monopólio resul-ta em queda de preços para o consumi-dor final, pois a existência de diferentes competidores estimula a concorrência.

No caso das bolsas de valores, a lógica não seria diferente, o que deve beneficiar os investidores pessoa física e, princi-palmente, os investidores institucionais.

Eles fazem operações com grandes volu-mes e por isso gastam ainda mais dinhei-ro com taxas. “A fragmentação do mer-cado trará uma melhora no preço para quem está negociando, o que é bom para o investidor final”, afirma o responsável pela área institucional da corretora Um Investimentos, Gustavo Schahin.

Uma das bolsas que pretendem vir ao Brasil é a Bats Global Markets – que experimentou esse fenômeno quan-do começou a atuar nos Estados Uni-dos, em 2005. As tradicionais Nasdaq e a Bolsa de Valores de Nova York, a Nyse, cobravam uma taxa de US$ 0,10 para cada lote de 100 ações. Já a nova concorrente começou suas operações praticando uma taxa de apenas US$ 0,01, o que levou a uma forte redução dos pre-ços. Hoje, as taxas caíram para US$ 0,03 por lote de 100 ações. Segundo infor-mações da Bats, os preços praticados no

Brasil estão acima de outros mercados. Na Europa, as taxas cobradas são de 10 a 20 vezes menores do que as cobradas pela BM&FBovespa.

As taxas que mais pesam sobre os in-vestidores são chamadas de emolumen-tos, cobradas pela bolsa e pela CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia) como um percentual sobre o volume movimentado no dia. Para com-pra e venda de ações, a taxa é de 0,035%. Para o Day Trade (operações de compra e venda realizadas no mesmo dia), a taxa é de 0,025%. Além de serem considera-das altas, essas taxas seguem uma lógi-ca diferente daquela dos países desenvol-vidos, pois incidem tanto sobre a compra quanto sobre a venda das ações. Em ou-tros mercados, só paga quem compra o papel; quem vende é isento.

Os planos dos concorrentes estran-geiros já tiveram algum efeito de redu-

As novas bolsas do Brasil

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ção de preços. Em meados de 2011, a BM&FBovespa anunciou uma nova po-lítica de tarifas, que inclui planos para isentar o investidor de varejo da taxa de custódia, cobrada mensalmente.

Outro ganho importante para o inves-tidor brasileiro será na parte operacional, na visão dos especialistas do setor. Ope-rações que hoje não são possíveis de se-rem realizadas poderão virar realidade com a entrada dos concorrentes. O espe-cialista em fi nanças da MoneyFit, André Massaro, explica que em mercados de-senvolvidos é possível operar com ações idênticas que são cotadas em mercados diferentes, ganhando com pequenas di-ferenças de cotações.

Chamada de arbitragem, tal opera-ção é feita em grandes volumes para ob-ter ganhos com pequenas diferenças de preço, e por isso é realizada por investi-dores de grande porte. Com a existência

contado em milésimas frações de se-gundo, qualquer aumento de agilidade faz diferença. Além da arbitragem, exis-tem outras operações que se baseiam em transações de alta velocidade, conhe-cidas em inglês como “high frequency trading”, que também ganharão volume.

De acordo com Massaro, o aumento do valor negociado será positivo para to-dos, pois a liquidez aumenta enquanto a volatilidade tende a diminuir. Quando o mercado é pequeno, operações de com-pra e venda mais robustas podem distor-cer os preços. Quanto maior for o mer-cado, menos suscetível ele será a esses movimentos. A BM&FBovespa movi-menta um volume diário de R$ 6,5 bi-lhões, em média.

Nos EUA, existem dezenas de am-bientes de negociação. Além da bolsa de valores Nyse e de mercados de balcão or-ganizados como a Nasdaq, Massaro ci-ta redes privadas usadas por investidores institucionais e as chamadas “dark pools”(piscinas escuras), ambientes em que grandes investidores transacionam ações sem revelar o volume à venda.

A diversifi cação de bolsas no Brasil também deve reduzir o risco sistêmico das operações. Na prática, isso signifi ca que, se o sistema de uma das bolsas sair do ar, pode-se contar com outro mercado para dar sequência aos negócios. Segun-do operadores, mais de uma vez os siste-mas da bolsa tiveram uma pane que pro-vocou a interrupção do pregão.

A expectativa é de que a concorrência estimule novos investimentos em tecno-logia da BM&FBovespa, que não deseja-rá fi car atrás dos concorrentes que já têm plataformas muito desenvolvidas no ex-terior. Segundo Marcos Guimarães, di-retor da empresa de tecnologia Multire-de – que presta serviços para corretoras e para a própria bolsa –, a Bats e a Direct Edge virão para o Brasil com uma tec-nologia madura e estrutura enxuta, fru-to das operações na Europa e nos EUA. “Eles já chegarão ao mercado efi cien-tes, ao passo que a bolsa terá de se tornar mais efi caz”, explica. Na visão do exe-cutivo, a bolsa ainda tem espaço para

de mais de uma bolsa, será possível fa-zer essa transação com ativos idênticos no Brasil, o que deve atrair um volume maior de investimentos para o país. “Nos Estados Unidos, esse tipo de operação é comum”, explica Massaro.

AVANÇO TECNOLÓGICOA expectativa é de que a tecnologia tra-zida pelas novas bolsas será mais avan-çada, possibilitando operações mais rá-pidas. Como neste mercado o tempo é

No Brasil, a chegada de concorrentes deve trazer uma queda no valor das

taxas cobradas

Espera-se que as tecnologias

das novas bolsas reduzam o tempo

das operações

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FINANÇASConCorrênCiA

A Nyse americana foi influenciada pela

concorrência e baixou os valores das taxas

ganhar em termos de eficiência, porque nunca foi pressionada pela concorrência.

O investidor Richard Rytenband, eco-nomista que começou a investir em ações com apenas 14 anos, conta que o inves-tidor brasileiro não tem acesso aos mes-mos produtos que existem no exterior. “Falta uma gama de produtos que são triviais, como índices de ações de bolsas estrangeiras, uma série de commodities e títulos soberanos de outros países”, afir-ma. “É como se estivéssemos parados no tempo.” Rytenband espera que a entra-da de novas bolsas permita uma diversi-ficação dos produtos disponíveis, acom-panhando o padrão internacional, além de baratear as operações.

Apesar de beneficiar o investidor pes-soa física, o maior interesse das bolsas estrangeiras está nos investidores insti-tucionais, que são os que mais se quei-xam dos custos atuais, segundo Frederico Skwara, economista e sócio-fundador do site Bússola do Investidor, voltado para pessoas físicas. Atualmente, a bolsa con-ta com cerca de 600 mil investidores pes-soa física, número muito maior do que os 85 mil registrados em 2002, embora o vo-lume ainda seja pequeno. O atual momen-to de volatilidade e a crise externa não fa-vorecem o avanço, mas a expectativa de longo prazo é de fortalecimento da pessoa física nas aplicações em renda variável.

PROJETOSA Bats foi a primeira bolsa a divulgar in-tenção de atuar no Brasil neste ano. A em-presa veio a público em fevereiro de 2011 para anunciar um memorando de enten-dimento com a Claritas, companhia bra-sileira de gestão de recursos. De acor-do com o anúncio, as empresas devem trabalhar conjuntamente para criar uma nova bolsa de valores no país. Lança-da em 2005, a Bats tem sede em Kansas City, nos Estados Unidos, além de escritó-

rios em Nova York e Londres. A compa-nhia opera bolsas nos EUA e na Europa.

Na ocasião, o vice-presidente sênior de Desenvolvimento de Negócios e Marke- ting da Bats, Ken Conklin, declarou que a nova bolsa poderia ter preços mais atra-tivos em comparação àqueles oferecidos pela BM&FBovespa e trazer tecnologias de ponta para o mercado de ações nacio-nal. A intenção é negociar papéis que já estão no mercado, assim como ocorre nos EUA, onde a Bats negocia ações lis-tadas na Nyse e na Nasdaq.

O projeto da americana Direct Edge, divulgado em novembro, já tem data pa-

ra entrar em operação. Segundo William O’Brien, CEO da Direct Edge, a bolsa deve começar a operar por meio de uma plataforma eletrônica no quarto trimes-tre deste ano e será sediada no Rio de Ja-neiro. Será a primeira bolsa de valores com sede no Rio desde 2002, quando a parcela de negócios que ainda restava na antiga Bolsa de Valores do Rio foi trans-ferida para a BM&FBovespa.

A empresa não divulga o volume a ser investido no país, tampouco se terá só-cios. Serão negociadas por meio da pla-taforma da Direct Edge ações de empre-sas já listadas na bolsa brasileira, além de ETFs (fundos de índices) e BDRs (certi-ficados de ações estrangeiras). A inten-ção é também a de atrair para o Brasil operações que hoje são realizadas no ex-terior, por meio de American Depositary Receipts, as ADRs, ou recibos de ações, na sigla em inglês.

“Assim como ocorreu nos Estados Unidos, acreditamos que a introdução de uma segunda bolsa de valores no Brasil

O maior interesse das bolsas

estrangeiras está nos investidores

institucionais

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Nos EUA, além de bolsas como a Nasdaq, há os “dark pools”, ambientes em que os grandes investidores transacionam

vai incentivar a competição e a inovação, tornando os mercados mais eficientes para os investidores. A Direct Edge não vai apenas acelerar o ritmo de melhoras tecnológicas, como também reduzirá os custos de operação e gerará um aumen-to nos volumes”, afirma Guimarães, da Multirede. A empresa estuda o mercado brasileiro há quase dois anos.

Responsável atualmente por 10% do total de ações transacionadas nos Esta-dos Unidos, a Direct Edge negocia cer-ca de quatro vezes e meia o volume mé-dio da BM&FBovespa, com cerca de US$ 27 bilhões por dia. Entre seus acio-nistas estão nomes de peso, como o Gold- man Sachs, o J.P. Morgan, a Internatio-nal Securities Exchange, além da Knight Capital e a Citadel Derivatives Group.

Outro movimento que sinaliza o ape-tite estrangeiro pelo mercado de capitais brasileiro foi a compra de 12,5% da Ce-tip (companhia aberta que atua na oferta de produtos e serviços de registro, cus-tódia, negociação e liquidação de ativos

e títulos, principalmente os de renda fixa privados) pela Intercontinental Exchan-ge (ICE), bolsa americana de commodi-ties e mercado futuro, em julho.

DESAFIOSMesmo com tanto interesse pelo Brasil, as instituições estrangeiras enfrentam um desafio para começar suas opera-ções. Para que uma bolsa opere, preci-sa contar com uma empresa que faça a custódia dos ativos, a compensação e a liquidação das operações realizadas pe-los investidores. No país, esse serviço é prestado pela CBLC, companhia contro-lada pela BM&FBovespa.

A bolsa brasileira sinalizou que não pretende abrir mão da exclusividade desse serviço. O presidente da institui-ção, Edemir Pinto, chegou a declarar que os concorrentes seriam “oportunistas” que pretendem “beliscar” um pedaço do mercado e, depois, ir embora.

Caso uma parceria seja realmente in-viável, os novos entrantes terão de cons-

tituir uma nova câmara de compensação, o que significa trabalho e custo dobra-dos, pois os especialistas afirmam que a criação de uma empresa como essa é tão complexa quanto a criação de uma bolsa. Isso poderá ser feito com ou sem a par-ceria de sócios, mas nenhuma das bol-sas interessadas no Brasil revelou sua estratégia nessa área. Apesar do risco de aumento de custo, os analistas acre-ditam que as taxas aplicadas terão de ser obrigatoriamente mais baixas que as da BM&FBovespa, do contrário, os planos não vão decolar por aqui.

Os projetos precisam de aprovação da CVM (Comissão de Valores Mobiliá-rios), órgão que regula o mercado de ca-pitais. Segundo a autarquia, nenhum pe-dido para abertura de novas bolsas foi encaminhado até o momento. O perío-do de análise é de 90 dias, mas pode ser interrompido por 60 dias a partir do in-gresso do pedido formal na CVM. Antes disso, é possível ainda ocorrer conversas com a área técnica para “esclarecimen-tos acerca de modelo e procedimento”.

O apetite das bolsas pelo Brasil está em linha com o aquecimento vivido no mercado mundial de bolsas de valores. Depois da fusão de bolsas de Amsterdã, Bruxelas, Paris e Lisboa para criar a Eu-ronext, no início da década passada, o mercado observou a compra da Euronext pela Nyse em 2006. Em 2011, foi a vez de a Nyse Euronext anunciar negociações avançadas para uma fusão com a Deuts-che Börse de Frankfurt, que dará origem à maior operadora de bolsas do mundo.

Na América Latina, as bolsas da Co-lômbia e do Peru se uniram em 2011 pa-ra criar o Mila (Mercado Integrado Lati-no-Americano) e formam a quarta maior bolsa da região. Neste momento, o Brasil e a América Latina são alguns dos luga-res do mundo em que este mercado tem mais espaço para crescer.

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FINANÇASENTREVISTA

“O mundo não vai acabar”

Na avaliação do diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, a solidez da economia brasileira deverá continuar a atrair investidores ao longo deste ano

Sérgio Siscaro, de São Paulo

“Há uma tendência de diversifi cação de

setores na bolsa”

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As incertezas globais trazidas pelo desenrolar da crise de dí-vida na Europa ao longo do ano passado assustaram as

empresas brasileiras – especialmen-te aquelas que planejavam se lançar no mercado de ações. Com o potencial agravamento da situação externa, es-sas companhias podem manter a ado-ção de uma postura cautelosa e buscar outras formas de se capitalizar – ou, fi -nalmente, levar adiante seus planos de IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). Esse último cenário é consi-derado o mais provável na avaliação do diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto.

Em sua avaliação, a realização, nos próximos anos, de grandes eventos es-portivos no país, deverá incentivar o lan-çamento de ações por parte de empresas que atuam no segmento de infraestru-tura, ao mesmo tempo em que o aque-cimento do mercado doméstico certa-mente favorecerá a realização de IPOs de companhias ligadas à área de con-sumo. Além disso, a recente decisão do governo federal de isentar a cobrança de taxas para investidores estrangeiros tam-bém deverá contribuir para aumentar o grau de atratividade do mercado de ca-pitais brasileiro.

Acompanhe a seguir a entrevista com o presidente da bolsa brasileira.

AméricaEconomia – O temor quan-to aos efeitos da crise internacional fez com que várias empresas brasileiras que pretendiam abrir seu capital resolves-sem adiar os planos. Há perspectivas de que esses IPOs possam ser realizados já no primeiro semestre de 2012?

Edemir Pinto – Embora a crise na Eu-ropa e nos Estados Unidos ainda te-nha contornos graves, a expectativa da BM&FBovespa é de que seu total di-mensionamento pelos investidores já te-nha chegado ao fi m, ou perto disso. O que signifi ca que o Brasil pode ter, em 2012, uma retomada dos IPOs, já no pri-meiro semestre. A estimativa da bolsa é de que existam entre 40 e 45 compa-

a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016 – e de con-sumo, considerando os avanços na ren-da da população, especialmente da clas-se C. Acreditamos também na vinda de companhias para o Bovespa Mais, seg-mento que permite a realização de ofer-tas menores ou somente a listagem, pa-ra que a empresa inicie sua exposição ao mercado de capitais.

AE – Se a crise se tornar mais aguda,

esses projetos poderão ser adiados in-defi nidamente? As empresas poderiam buscar outras formas de capitalização?

Edemir – Mesmo com o aprofunda-mento da crise, principalmente na Eu-ropa, o mundo não vai acabar. Os inves-tidores terão de buscar um porto seguro para seus poucos ou muitos investimen-tos, e o Brasil tem hoje uma economia sólida, um mercado de capitais bem es-truturado e regulado e muitas empre-sas com bons resultados e possibilida-des de crescimento. Tudo isso contribui para manter a atratividade do país pa-ra os investidores, especialmente os es-trangeiros. Nesse contexto, o nosso mer-cado de capitais aparece como uma das mais importantes fontes de recursos pa-ra as empresas e para o desenvolvimen-to da economia brasileira nos próximos anos, apesar da crise.

AE – A cobrança do IOF (Imposto so-bre Operações Financeiras) sobre ope-rações do mercado de ações também foi um fator inibidor à entrada de novas em-presas na bolsa em 2011?

Edemir – Sim, a cobrança de IOF cons-tituiu-se em fator inibidor, pois reduziu o interesse dos investidores estrangei-ros [que respondem, em média, por 70% dos investimentos nos IPOs] pelas ofer-tas públicas de ações na bolsa brasileira. Agora, com a decisão do governo federal de isentar os estrangeiros dessa cobran-ça [o decreto presidencial foi publicado em 1º de dezembro de 2011], sem dúvida as perspectivas para a retomada das ofer-tas públicas de ações em 2012 são mui-to melhores.

nhias, represadas pela grande capita-lização da Petrobras em 2010 e a crise agravada no segundo semestre de 2011, que já estão preparadas para lançar su-as ações, aguardando um momento me-lhor de mercado.

AE – Qual setor poderá liderar essa retomada no mercado de capitais?

Edemir – Há uma tendência de diversi-fi cação de setores na bolsa brasileira, co-mo já vem ocorrendo nos últimos anos. Temos vários setores com perspectivas positivas e que necessitam de recursos fi nanceiros para se desenvolver e cres-cer. Podemos mencionar, por exemplo, empresas ligadas às áreas de infraestru-tura, por causa dos eventos esportivos –

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“O Brasil pode ter, em 2012, uma retomada

dos IPOs já no primeiro semestre”

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FINANÇASPREMIAÇÃO

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Prêmio de AméricaEconomia reconhece maiores e melhores bancos de 2011Cerimônia homenageou os melhores colocados no ranking dos 250 Maiores Bancos da região

Sérgio Siscaro, de São Paulo

Carlos Galan, vice-presidente- -executivo do Santander Brasil

Ricardo Villela Marino, vice-presidente do Itaú Unibanco para a América Latina

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A revista AméricaEconomia en-tregou, no início de dezembro, em São Paulo, os troféus aos representantes dos dez maio-

res bancos e a melhor instituição finan-ceira da América Latina. Os nomes fo-ram definidos com base no ranking Os 250 Maiores Bancos da América Lati-na, publicado na edição de outubro da revista, que é elaborado há dez anos pela AméricaEconomia Intelligence.

A lista levou em consideração as or-ganizações que mais se destacaram em termos de volume de ativos totais (em ju-nho de 2011). Nessa edição, lideraram o ranking, pela ordem, as seguintes insti-tuições financeiras: Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômi-ca Federal, Santander Brasil, Banamex, Bancomer México, HSBC Brasil, Banco Votorantim e Santander México.

Já a categoria Melhor Banco da Amé-rica Latina é baseada em um ranking de 100 instituições, classificadas em termos de estrutura de capital, qualidade de ati-vos, gestão operacional, rentabilidade, li-quidez e tamanho. O vencedor deste ano

foi o Itaú Unibanco. Foi a primeira vez que um banco brasileiro consagrou-se como o melhor da região. O vice-presi-dente da instituição para a América La-tina, Ricardo Villela Marino, recebeu o prêmio das mãos de José Roberto Maluf, publisher de AméricaEconomia.

O prêmio ocorre em um momen-to bastante positivo para o setor bancá-rio na América Latina. A estabilização econômica dos países da região, assim como a redução dos níveis de desigual-dade, tem contribuído para levar os ser-viços financeiros a amplas parcelas da população. Além disso, essas institui-ções têm atuado como o motor do de-senvolvimento econômico e do aumen-to do empreendedorismo nesses países. A soma das carteiras de crédito dos 250

maiores bancos latino-americanos atin-gia, em junho de 2011, US$ 1,4 trilhão. Nesse quadro, os grandes grupos inter-nacionais têm conseguido compensar na região as perdas registradas em mer-cados mais maduros, como o europeu, e veem oportunidades de crescimento e expansão de seus negócios.

A premiação ocorreu paralelamente ao São Paulo City Day 2011 – evento re-alizado no início de dezembro, pela Sun-Gard, empresa americana que fornece serviços de software e tecnologia para o setor financeiro. Na ocasião, uma sé-rie de especialistas discutiu as principais tendências na América Latina no que se refere a temas como o mercado de capi-tais, commodities, gestão de risco ban-cário e asset management.

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Maurício Castro, diretor comercial de AméricaEconomia, entrega o prêmio a Laércio Paiva, do Banco Votorantim

Paulo Galli, da Caixa Econômica Federal, recebe o troféu de Tatiana Engelbrecht, diretora de AméricaEconomia

Leonel Andrade, diretor- -presidente do Consumer Business Brasil, recebeu o prêmio pelo Banamex

Antonio Carlos Seidl, assessor-chefe de Imprensa do HSBC, representou o CEO do banco na cerimônia

Paulo Faustino da Costa, diretor

do Bradesco, cumprimenta Noel

Norking, presidente da SunGard

O publisher de AméricaEconomia, José Roberto Maluf (à esq.), ao lado de Dan Conrad (BB) e Débora Aliprandi (SunGard).

Cerca de 300 pessoas participaram do evento

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58 AméricaEconomia Janeiro, 2012

DEBATERISCOS GLOBAIS

Crise na Europa, eleições nos EUA, alta da inflação, instabilidade no Oriente Médio, possível ruptura institucional na Venezuela, efeitos do câmbio sobre o comércio – as razões para inquietação ao longo deste ano são muitas, e seus efeitos, imprevisíveis

Sérgio Siscaro, de São Paulo

Um observador neutro que viesse à Terra para avaliar as perspectivas econômicas pa-ra 2012 teria sérias dificul-

dades. A crise da dívida nos países da zona do euro tem gerado uma série de dúvidas nos últimos meses – sendo que algumas delas colocam em xeque até mesmo a existência do projeto da moe- da única europeia, símbolo máximo do processo de integração econômica ocorrido no continente nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, e que já foi visto como uma alternativa viável ao predomínio dos Estados Uni-dos nas finanças internacionais.

Os efeitos dessa situação são difíceis de prever – assim como sua interação com o quadro atual das demais econo-mias mundiais. No caso da América La-tina, há ainda a preocupação de que seus aspectos negativos se combinem com problemas políticos decorrentes de um eventual processo de sucessão do presi-dente da Venezuela, Hugo Chávez.

Além disso, a possibilidade de uma recessão mundial reduz a aquisição das commodities exportadas por diversos países da região. Some-se a isso a possi-bilidade de um novo conflito armado no Oriente Médio (e suas consequências na cotação do petróleo).

No caso do Brasil, as políticas econô-micas recentes deram ao país uma robus-tez que lhe permitiu sair relativamente incólume da crise de 2008. No entan-to, as pressões inflacionárias, aliadas a uma possível redução nas exportações de commodities e à deterioração das condições de comércio exterior para as empresas nacionais (resultante da apre-ciação do real), tornam o cenário opaco mesmo para os especialistas

A AméricaEconomia apresenta a se-guir alguns pontos que merecem ser acompanhados – e que têm potencial pa-ra afetar as previsões econômicas de au-toridades do governo e de economistas.

O que a economia reserva para

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O crescimento da economia brasileira em 2012 deve ser de 3,4%, ao passo que a produção industrial deverá se ex-pandir 3,46%, e a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB (Produ-to Interno Bruto) passará para 38%. Es-tas são algumas das previsões feitas em meados de dezembro pelos analistas fi -nanceiros consultados pelo BC (Ban-co Central) em seu boletim semanal Fo-cus, que busca medir a temperatura dos agentes que operam no mercado.

Ainda que não tragam nenhuma proje-ção catastrófi ca, as apostas – que inclu-íam também um dólar cotado a R$ 1,75 para este ano, um superávit na balança comercial de US$ 17,45 bilhões e a en-trada de US$ 54 bilhões em IED (investi-mento estrangeiro direto) – mostram que ninguém espera a continuidade do ciclo recente de expansão econômica, dada a conjuntura externa e a necessidade de conter as pressões infl acionárias, que já deram as caras ao longo de 2011.

O temor do fantasma dos preços altos motivou a autoridade monetária a elevar os juros – e a retomar sua queda quan-do a infl ação parecia sob controle (veja quadro abaixo).

Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulga-da no início de dezembro, o BC anunciou ter reduzido suas previsões de infl ação para 2012, que estariam mais próximas do centro da meta ofi cial, de 4,5%. Es-sa reavaliação se deve, segundo o texto da ata, à deterioração e a uma “incerte-za acima do usual” na economia interna-cional. O IPCA (Índice de Preços ao Con-sumidor Amplo) de novembro, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geogra-fi a e Estatística), fechou em 0,52% – ou seja, 0,9 ponto percentual superior à do mês anterior. Com isso, o IPCA acumula-do em 12 meses atingiu 6,64%.

De acordo com Gustavo Franco – ex--presidente do BC na gestão de Fernando Henrique Cardoso (entre 1997 e 1999) e atual estrategista-chefe da Rio Bravo Investimentos –, o limite é quando a ta-xa de infl ação atingir 20% ao ano. “Antes desse patamar, a população não sente muito. Quando começa a ser de 20%, a taxa já começa a fi car mais pesada. Esse é o momento em que as pessoas come-çam a pedir reajustes de salários semes-trais – e, se isso ocorre, a infl ação tam-bém muda de patamar. Não é por outra

razão que há na Argentina, por exemplo, esse esforço insano de manipulação dos índices para evitar que o número ofi cial mostre 20%”, avalia.

Ao mesmo tempo, o documento do Co-pom pondera que a demanda domésti-ca deve permanecer “robusta” nos pró-ximos trimestres, em razão do impacto da queda da taxa básica de juro, a Se-lic – reduzida para 11% ao ano no fi m de novembro. No entanto, alguns sinais preocupantes já se faziam sentir em de-zembro. A FGV (Fundação Getulio Var-gas), por exemplo, indicou que a con-fi ança do comércio na economia recuou 4,5% no trimestre encerrado em novem-bro, na comparação com igual período de 2010 – passando de 137,2 para 131 pontos, a maior queda desde maio.

Para Franco, o principal risco à eco-nomia brasileira decorre da falta de res-ponsabilidade fi scal. O economista fez a palestra de abertura do City Day 2011, organizado pela SunGard – empresa es-pecializada em soluções tecnológicas para o mercado fi nanceiro – no início de dezembro. Em uma apresentação feita a representantes do setor fi nanceiro em

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Selic tem acompanhado de perto as altas da infl ação (%)

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Gustavo Franco alerta para a falta de responsabilidade fi scal

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DEBATERISCOS GLOBAIS

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Fontes: OMC/FGV

Tarifa ajustada

Tarifa aplicada

TARIFAS X CÂMBIO ANIMAIS VIVOS

CARNES

FUMO

COMBUSTÍVEIS MINERAIS

VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS

AUTOMÓVEIS E TRATORES

AERONAVES E APARELHOS ESPACIAIS

MADEIRA E CARVÃO VEGETAL

FRUTAS

PRODUTOS FARMACÊUTICOS

Tarifa aplicada é aquela efetivamente adotada pelo Brasil.

Tarifa ajustada leva em conta uma valorização de 30% do real.

Desalinhamento da moeda gera tarifa negativa

dezembro, o ex-presidente do BC avaliou que há pouca poupança por parte do se-tor público, o orçamento está corrom-pido, os serviços à população não têm qualidade, há problemas com a estrutura previdenciária e a carga tributária é exa-gerada. “A política fi scal é uma incógni-ta. Com a crise, o governo poderá aumen-tar o superávit primário para 8% do PIB, criando um ‘Plano Real 2’. Se for menos, podemos encarar um cenário semelhan-te ao da Argentina, com infl ação alta.”

Outro risco para o Brasil é que suas políticas sejam “contaminadas” por prá-ticas adotadas por vizinhos como Vene-zuela e Argentina. “Os dois países, em matéria de política macroeconômica, são maus exemplos – e tentações permanen-tes para nós. Na Argentina, temos políti-cas inconsistentes que produzem uma infl ação percebida superior a 20% – e a percepção de manipulação dos índices lá é muito clara. Isso é horrível”, avalia.

Para Franco, as mudanças de metodo-logia adotadas pelo Tesouro Nacional se assemelham à alteração que o governo argentino promoveu em relação a seus dados de infl ação. “É manipulação tam-bém. Aqui, escondem-se os défi cits [nas contas do governo] por meio de opera-ções do BNDES [Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social].”

Os exportadores brasileiros queixam--se já há algum tempo das consequên-cias negativas que a apreciação do real tem tido sobre sua competitividade nos mercados externos. Além disso, alguns setores, como o têxtil, sentiram com mais força a pressão das importações – facili-tadas pela desvalorização de divisas co-mo o dólar e o yuan –, que acirram ainda mais a concorrência no mercado interno.

Esse desequilíbrio entre as moedas tem um efeito ainda mais grave: o de, na prática, anular as negociações feitas pelo Brasil no âmbito de fóruns como a OMC (Organização Mundial do Comércio) para proteger sua indústria com tarifas de importação. De acordo com um estu-

do do Cemap (Centro de Macroeconomia Aplicada) da EESP-FGV (Escola de Econo-mia de São Paulo, pertencente à FGV), a valorização do real acaba tornando es-sas tarifas negativas, ao mesmo tempo em que difi culta a entrada de produtos brasileiros em mercados cujas moedas estejam desvalorizadas – os dos EUA e da China, por exemplo.

O estudo, que compara os casos do Brasil, dos EUA e da China, calculou os desalinhamentos cambiais das moedas dos três países com base no conceito de equilíbrio macroeconômico das divisas – e não na diferença de cotação obser-vada em um determinado período. A par-tir daí, os acadêmicos converteram as

CÂMBIO

DiStorÇÕeS AMeAÇAM SiSteMA coMerciAL

Setor de vestuário tem sido penalizado pelo real forte

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variações das moedas em uma tarifa, a fim de aplicá-la sobre as taxas de impor-tação de produtos que cada nação ne-gociou nos órgãos internacionais (tarifa consolidada) e aquela efetivamente uti-lizada (tarifa aplicada). No caso do Bra-sil, foi levada em conta uma valorização de 30% do real.

O levantamento mostrou que um se-tor como o de vestuário, por exemplo – no qual o Brasil tem o direito de cobrar uma tarifa de até 35% sobre a entrada de bens importados, como forma de pro-teger a produção nacional –, passa, com o impacto do desalinhamento cambial, a ter um percentual negativo, de -5,5% (ve-ja quadro na página ao lado). Em outras palavras, um instrumento negociado na OMC para conter a entrada de itens que concorram no mercado doméstico acaba se tornando um incentivo para a entrada desses mesmos bens no país.

“O direito adquirido na OMC, de so-mente utilizar a tarifa como defesa co-mercial, é totalmente erodido. Se você está com seu câmbio valorizado, é como se tivesse diminuído a tarifa. E, no caso dos EUA, que têm sua moeda desvalori-zada, é como se houvesse uma sobreta-rifa”, explica uma das responsáveis pelo estudo, a professora da EESP-FGV e co-ordenadora do CCGI (Centro do Comér-cio Global e Investimento) daquela insti-tuição, Vera Thorstensen.

O peso do câmbio sobre as tarifas ne-gociadas na OMC acaba, dessa forma, inviabilizando as negociações feitas na-quela organização, e afeta diretamente as políticas governamentais de incenti-vo à indústria local, por exemplo. “Quan-do você tem uma flutuação acima de 15% nas tarifas, as regras passam a ser completamente ineficazes. E esse cená-rio leva a guerras comerciais. Tivemos recentemente no Brasil a elevação do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializa-dos] sobre veículos vindos da China. Ou seja, como não se pode discutir o impac-to do câmbio na OMC, os governos ado-tam medidas que levam a distorções.”

E esse cenário deve persistir – ainda que, no entender do professor da EESP-

-FGV e coordenador do Cemap, Emerson Marçal, coautor do estudo, seja muito di-fícil prever o comportamento do câmbio. “O que existe são desequilíbrios macroe-conômicos pesados que têm de ser resol-vidos. O dilema da Europa passa por um acordo político para acertar a questão do endividamento dos países. Já a economia dos EUA é uma incógnita”, avalia.

De acordo com Vera, a relação entre câmbio e comércio internacional sem-pre foi tabu nos órgãos internacionais – mas essa situação, aparentemente, es-

CENÁRIO EXTERNOA incógnitA europeiA

Uma das grandes incertezas deste ano – e aquela com maior potencial de afetar o desempenho de economias ao redor do mundo – é a crise da dívida em paí-ses que compõem a zona do euro. No iní-cio de dezembro, um encontro entre os líderes da União Europeia decidiu firmar um pacto fiscal, por meio do qual todos os integrantes do bloco seriam obrigados a equilibrar suas contas. No entanto, um acordo oficial sobre o assunto é espera-do apenas para março deste ano.

A decisão, tomada quase 20 anos

Acordo na zona do euro não acalmou

o mercado

tá mudando. “Agora o assunto parece ter entrado na pauta de discussões. O Bra-sil apresentou uma proposta na OMC, em abril, para tentar estudar essa questão. E, no mês de setembro, voltou a tocar no assunto. Contudo, o momento atual é ex-tremamente delicado para retomar es-sa discussão em razão da crise na Euro-pa e das perspectivas diante da eleição presidencial dos EUA neste ano. Deverá haver um seminário acadêmico na OMC em maio que abordará o tema”, pondera a professora.

após a criação da União Europeia, e uma década depois do início da circulação da moeda comum, foi vista como uma vitó-ria da Alemanha. No entanto, seu poten-cial de acalmar os mercados internacio-nais é limitado, uma vez que continuam as preocupações sobre as dívidas de Itá-lia e Espanha – países que poderão as-sumir o papel desempenhado pela Gré-cia ao longo de 2011.

Para ex-diretor do BC e sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, Alexandre Schwartsman,

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DEBATERISCOS GLOBAIS

Uma das principais bases do cresci-mento econômico recente do Brasil, os preços internacionais das commodities que são exportadas pelo país – tanto agrícolas quanto minerais – também po-dem trazer algumas surpresas ao longo do ano. No entanto, o apetite chinês de-verá manter a demanda em alta – a não ser, claro, que o gigante asiático também entre em crise, em razão de sua expan-são acelerada.

Na avaliação do consultor internacio-nal especializado em negociações com commodities no mercado futuro, Pedro Dejneka, o Brasil é atualmente o país para o qual a China mais tem direciona-do seus investimentos no setor agríco-la. “Sem o país comprando nossas com-modities, a situação complica”, pondera.

ENERGIApreocupAÇÃo coM o petróLeo

Outro importante componente que po-derá afetar a economia mundial neste ano é o eventual recrudescimento da si-tuação geopolítica no Oriente Médio. Em dezembro, a invasão da embaixada bri-tânica em Teerã (capital do Irã) levou à retirada dos diplomatas daquele país do território iraniano e, em contrapartida, ao fechamento da representação da nação persa no Reino Unido. Da mesma forma, a possibilidade de um ataque militar de Israel aumenta o risco de um novo confl i-to armado na região.

De acordo com o diretor do CBIE (Cen-tro Brasileiro de Infraestrutura), Adriano Pires, um confronto envolvendo o Irã tem potencial para gerar muito mais proble-mas para o mercado de petróleo do que a guerra civil na Líbia. “O Irã é um forne-cedor muito mais importante que a Líbia. Um eventual confl ito pode elevar os pre-ços de forma considerável”, diz.

Ele avalia que o mundo está hoje dian-te de uma crise econômica que não se sabe aonde vai parar – o que deve in-fl uenciar o consumo de petróleo nas na-

o principal risco que a economia e as empresas do país devem enfrentar nes-te ano é o acirramento da crise na zona do euro. “A tendência é que as autorida-des europeias empreguem uma respos-ta mais decisiva com o agravamento da situação”, avalia.

Com isso, pondera, o crescimento eco-nômico da Europa será limitado, e isso tornará o mercado internacional de capi-tais menos atraente – levando as empre-sas brasileiras a buscar alternativas pa-ra se capitalizar. “Dessa forma, os efeitos da crise europeia serão maiores para as

Lembrando que boa parte das oscila-ções observadas nos preços de produtos agrícolas no mercado mundial se deve à ação de especuladores, Dejneka observa que a situação das economias é apenas a faísca do mercado – capaz de infl uen-ciar um movimento, mas não completa-mente responsável por ele.

“O problema atual não é a falta de di-nheiro no mercado, mas a ausência de confi ança. A situação hoje é difícil de in-terpretar, por causa da proliferação de muitas notícias de cunho mais sensacio-nalista. Mas a produção agrícola mundial deve continuar crescendo, elevando os estoques e reduzindo o patamar de pre-ços. E é aí que entram os subsídios go-vernamentais, a fi m de estimular os pro-dutores”, afi ma.

exportadoras que atuam naqueles mer-cados, mas não se restringirá, de forma alguma, a elas.”

Com relação às medidas adotadas pelo governo brasileiro no início de de-zembro, para conter os efeitos do agra-vamento da situação europeia – e que incluíram instrumentos para facilitar o acesso ao crédito –, o economista acredi-ta que possam ter algum resultado positi-vo. “A questão é ver se isso será compa-tível com a meta de crescimento do PIB de 5% para 2012, anunciada pelo gover-no. Acho difícil.”

COMMODITIESe oS preÇoS, coMo FicAM?

O apetite chinês deverá manter a demanda por commodities

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Além de ser diretamente afetada pela evolução da situação econômica mun-dial – especialmente em um cenário de agravamento da crise europeia –, a Amé-rica Latina também oferece potencial de riscos neste ano. A principal variável é a possível piora da doença do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o que colo-caria em risco a política e a economia do país vizinho – abrindo espaço para con-sequências imprevisíveis.

Na avaliação do sócio-diretor da con-sultoria Prospectiva, Ricardo Sennes, a possível sucessão de Chávez traria ris-cos tanto de ordem política quanto eco-nômica. “Se a tentativa do presidente de fazer um sucessor não encontrar respal-do das Forças Armadas, há possibilida-de de que se crie um movimento políti-co, com o encrudescimento da oposição – e isso pode complicar a situação insti-tucional do país.”

Já a Argentina apresentaria proble-mas, em razão do fato de sua presiden-te, Cristina Kirchner, não ter se mostrado disposta a realizar reformas importan-tes na economia – o “freio de ar-rumação” adotado no Brasil por sua colega Dilma Rous-seff. “Esperava-se uma mudança mais signifi ca-tiva na equipe econômi-ca, por exemplo, o que não houve. E a presiden-te argentina não pare-ce inclinada a adotar os ajustes fi nanceiros e fi s-cais necessários para ar-rumar a economia”, pon-dera Sennes.

Para ele, o país vizi-nho é duplamente vul-

nerável aos efeitos da crise fi nanceira mundial, uma vez que é exportador de commodities e tem um setor fi nancei-ro bastante relevante em sua economia.

Já com relação ao México, que vem sofrendo com os ataques do crime or-ganizado, o especialista descarta a pos-sibilidade de uma ruptura institucional mais séria. “O clima não é muito favorá-vel, mas trata-se de um problema crôni-co e localizado. Os atentados são direcio-nados a regiões específi cas do território mexicano”, avalia.

Além desses três países, problemas po-derão ser encontrados em outros meno-res, que têm suas economias fortemente atreladas à exportação de commodities, caso a crise externa se torne mais aguda. “Países que não dispõem de fundamentos sólidos em suas economias tendem a ir para a lona, dependendo de como a crise evoluir. Esse é um cenário também possí-vel para a Venezuela, no caso do petróleo, se houver uma redução dos preços inter-nacionais”, pondera.

AMÉRICA LATINArupturA e enFrAQueciMento

ções mais desenvolvidas. “No entanto, hoje, o preço é mais afetado pelo cres-cimento dos emergentes, o que deve-rá continuar. Países como o Brasil têm como política absorver os aumentos do óleo para o mercado interno, de forma a permitir o crescimento econômico e se-gurar a infl ação”, diz.

No entendimento de Pires, se não hou-ver grandes turbulências geopolíticas no Oriente Médio, o preço do petróleo deve-rá fi car entre US$ 80 e US$ 100 (barril Brent) ao longo deste ano, por causa da expansão da atividade econômica dos países emergentes.

Contudo, a busca por fontes alternati-vas de energia deve persistir neste ano. A avaliação é do consultor internacional Pedro Dejneka. “Não há uma respos-ta muito clara sobre o que pode aconte-cer no Oriente Médio – e o petróleo um dia vai acabar. O Brasil, certamente, se-rá, no futuro, um dos líderes na produ-ção de energia no mundo. Não pode-mos deixar de produzir etanol, ainda que os EUA odeiem a utilização desse com-bustível. No entanto, já vemos intercâm-bio de etanol entre o Brasil e os estados americanos mais ‘verdes’, como a Cali-fórnia”, afi rma.

Situação no Oriente Médio

pode se agravare infl uenciar o

preço do petróleo

Em seu primeiro mandato, Cristina

Kirchner não adotou as reformas necessárias ao país

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te, Cristina Kirchner, não ter se mostrado disposta a realizar reformas importan-tes na economia – o “freio de ar-rumação” adotado no Brasil por sua colega Dilma Rous-seff. “Esperava-se uma mudança mais signifi ca-tiva na equipe econômi-ca, por exemplo, o que não houve. E a presiden-te argentina não pare-ce inclinada a adotar os ajustes fi nanceiros e fi s-cais necessários para ar-rumar a economia”, pon-

nacionais”, pondera.

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DEBATEJUSTIÇA

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Os casos de irregularidades no governo crescem no país, assim como a impaciência do brasileiro com a impunidade

Izabelle Azevedo, de Brasília

A praga da corrupção

Acorrupção no Brasil é cada vez mais evidente. Estruturas vi-ciadas transformaram órgãos públicos em feudos de partidos

e grupos políticos. Os problemas exis-tem há décadas. Não seria arriscado di-zer que há séculos. Mas agora têm des-pertado cada vez mais a indignação da sociedade, que se manifesta por meio de marchas organizadas indo às ruas pa-

ra pedir transparência e honestidade no uso do dinheiro público. Apesar das rea-ções ainda serem discretas e nem de lon-ge lembrarem a articulação que aconte-ce em outros países, as manifestações são consideradas por especialistas como um bom começo para a tentativa de tor-nar o país menos corrupto.

É um caminho longo e tortuoso. Prova disso é uma pesquisa divulgada pelo Mi-

O ano de 2011 foi marcado por marchas contra

a corrupção

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Os casos de irregularidades no governo crescem no país, assim como a impaciência do brasileiro com a impunidade

Izabelle Azevedo, de Brasília

corrupção

Acorrupção no Brasil é cada vez mais evidente. Estruturas vi-ciadas transformaram órgãos públicos em feudos de partidos

e grupos políticos. Os problemas exis-tem há décadas. Não seria arriscado di-zer que há séculos. Mas agora têm des-pertado cada vez mais a indignação da sociedade, que se manifesta por meio de marchas organizadas indo às ruas pa-

ra pedir transparência e honestidade no uso do dinheiro público. Apesar das rea-ções ainda serem discretas e nem de lon-ge lembrarem a articulação que aconte-ce em outros países, as manifestações são consideradas por especialistas como um bom começo para a tentativa de tor-nar o país menos corrupto.

É um caminho longo e tortuoso. Prova disso é uma pesquisa divulgada pelo Mi-

O ano de 2011 foi marcado por marchas contra

a corrupção

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Corrupção, do latim, corruptionis. Signifi ca corrompimento, decomposição, devassidão, depravação, suborno, perversão

tica mostra um verdadeiro descaso com propostas anticorrupção. “Não estamos conseguindo fazer com que esse tema as-suma um papel importante nas discus-sões do país. Acho que somente a pres-são social pode mudar esse quadro. Há projetos que realmente poderiam mu-dar a realidade no Brasil, se já tivessem sido colocados em prática”, diz o depu-tado Francisco Praciano (PT-AM), que preside a Frente Parlamentar de Comba-te à Corrupção.

Entre as principais propostas citadas pelos integrantes da Frente como exem-plo de leis que, se em vigor, podem re-duzir práticas corruptivas estão a lei da improbidade administrativa, que esta-belece aumento de pena para crimes que causem danos ao erário, e outra que tor-na passível de prisão temporária quem cometer crimes de peculato, concussão, corrupção passiva e corrupção ativa.

PunIÇÃo AoS CoRRuPToSMas é a proposta que prevê punição a corruptores que mais causa polêmica en-tre os congressistas. O projeto foi envia-do ao Congresso com pompas e festejos

em 2010 pelo então presidente Lula co-mo sinal de reação à Operação Castelo de Areia, feita pela Polícia Federal, que encontrou diversas irregularidades nas relações entre políticos e empresas fi nan-ciadoras de campanhas eleitorais, mas as investigações nunca foram concluídas. Em meio ao clima de suspeição, o gover-no encaminhou o projeto ao Congresso propondo modifi cações no Código Pe-nal, de modo a permitir que empresas também possam responder por crimes contra a administração pública. De acor-do com a lei atual, somente pessoas físi-cas podem ser processadas.

O projeto, apesar de ser amplamen-te defendido pelos órgãos de controle, sofre grande resistência entre os con-gressistas. Tanto que a Câmara demo-rou mais de um ano para designar os integrantes da comissão especial desti-nada a analisar o texto. Em 2011, o pro-jeto ganhou novo fôlego, porque o depu-tado Carlos Zarattini (PT-SP) resgatou a proposta que tinha sido arquivada com o fi m da legislatura anterior. O petista ten-tou pressionar os deputados para aprova-ção do relatório na comissão especial

nistério Público Federal, segundo a qual apenas 0,23% dos cerca de 450 mil pre-sos brasileiros pagam pena por delitos cometidos contra a administração públi-ca, incluindo desvio de recursos e impro-bidade. “É difícil pensar que a corrupção não é um dos piores crimes cometidos contra a sociedade. Cada centavo que sai desfalca saúde, educação e impede in-vestimentos básicos. É preciso fechar as brechas que permitem que essas irregu-laridades ocorram”, diz Roberto Gurgel, procurador-geral da República.

As brechas às quais o procurador-geral se refere estão por toda parte e se man-têm graças à inércia disseminada no Po-der Público para combatê-las. Exemplo disso é a extensa lista de projetos relacio-nados à corrupção que tramitam no Con-gresso e que aguardam, há anos, na fi la de votação. Somente na Câmara dos De-putados, pelo menos 27 deles, que pode-riam reduzir o espaço para desvios e au-mentar as penas para corruptos, esperam para entrar na pauta do plenário.

Apesar das promessas do presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), de que elas teriam tratamento prioritário, a prá-

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Corrupção, do latim, corruptionis. Signifi ca corrompimento, decomposição, devassidão, depravação, suborno, perversão

tado Francisco Praciano (PT-AM), que preside a Frente Parlamentar de Comba-te à Corrupção.

Entre as principais propostas citadas pelos integrantes da Frente como exem-plo de leis que, se em vigor, podem re-duzir práticas corruptivas estão a lei da improbidade administrativa, que esta-belece aumento de pena para crimes que causem danos ao erário, e outra que tor-na passível de prisão temporária quem cometer crimes de peculato, concussão, corrupção passiva e corrupção ativa.

PunIÇÃo AoS CoRRuPToSMas é a proposta que prevê punição a corruptores que mais causa polêmica en-tre os congressistas. O projeto foi envia-do ao Congresso com pompas e festejos

propondo modifi cações no Código Pe-nal, de modo a permitir que empresas também possam responder por crimes contra a administração pública. De acor-do com a lei atual, somente pessoas físi-cas podem ser processadas.

O projeto, apesar de ser amplamen-te defendido pelos órgãos de controle, sofre grande resistência entre os con-gressistas. Tanto que a Câmara demo-rou mais de um ano para designar os integrantes da comissão especial desti-nada a analisar o texto. Em 2011, o pro-jeto ganhou novo fôlego, porque o depu-tado Carlos Zarattini (PT-SP) resgatou a proposta que tinha sido arquivada com o fi m da legislatura anterior. O petista ten-tou pressionar os deputados para aprova-ção do relatório na comissão especial

vestimentos básicos. É preciso fechar as brechas que permitem que essas irregu-laridades ocorram”, diz Roberto Gurgel, procurador-geral da República.

As brechas às quais o procurador-geral se refere estão por toda parte e se man-têm graças à inércia disseminada no Po-der Público para combatê-las. Exemplo disso é a extensa lista de projetos relacio-nados à corrupção que tramitam no Con-gresso e que aguardam, há anos, na fi la de votação. Somente na Câmara dos De-putados, pelo menos 27 deles, que pode-riam reduzir o espaço para desvios e au-mentar as penas para corruptos, esperam para entrar na pauta do plenário.

Apesar das promessas do presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), de que elas teriam tratamento prioritário, a prá-

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DEBATEJUSTIÇA

ainda no ano passado, mas as discussões foram adiadas.

Até o momento, o grupo tem se dedi-cado a realizar audiências públicas, em uma tentativa de mobilizar a socieda-de para pressionar a aprovação da ma-téria. “É importante o apoio social para esse projeto. Temos de ampliar as possi-bilidades de punição. O país tem de pu-nir tanto corruptos quanto os corrupto-res”, opina Zarattini. A relação direta entre o apoio social e o avanço do proje-to no Congresso tem explicação. Finan-

ciados por grandes empresários e muitas empreiteiras, os políticos não se sentem à vontade para defender um texto que possa prejudicar quem os ajuda em suas campanhas políticas.

moBIlIZAÇÕeSNo dia 9 de dezembro, quando é come-morado o Dia Internacional de Comba-te à Corrupção, integrantes da Frente Parlamentar protocolaram uma indica-ção a ser encaminhada à presidente Dil-ma Rousseff sugerindo a celebração de

um pacto assinado pelos Três Poderes da República. No documento, os deputados destacam a necessidade de os poderes fi rmarem compromisso com a estrutu-ração dos órgãos ofi ciais de fi scalização e controle dos recursos públicos, além da melhoria na administração e racionaliza-ção do Judiciário. Apesar de o pacto não trazer novidades e de suas propostas se-rem óbvias, especialistas defendem que iniciativas como essa se somam a uma série de movimentos que vêm ocorren-do no Brasil contra a corrupção.

CORRUPÇÃO AO LONGO DOS ANOS

Em 1992, começa o escândalo no governo de Fernando Collor de Mello. Acusado de envolvimento em atos de corrupção e tráfi co de infl uência, ele sofre impeachment e perde os direitos políticos.

Em 1995, durante a administração de Fer-nando Henrique Cardoso, foram as privatiza-ções do sistema Telebrás e da Vale do Rio Do-ce que chamaram atenção. Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa de campanha de FHC e do senador José Serra e ex-diretor da Área In-ternacional do Banco do Brasil, foi acusado de pedir propina de R$ 15 milhões para ob-ter apoio dos fundos de pensão ao consórcio que levou a Vale e de ter cobrado R$ 90 mi-lhões para ajudar o grupo de empresas que comprou a Telemar.

Em 2001, o então presidente do Senado, Jader Barbalho, renun-ciou ao cargo sob acusações de corrupção passiva, formação de quadrilha, peculato e sonegação fi scal. Perdeu os direitos políticos por oito anos.

Nas cadeias lotadas do país, onde vivem 450 mil presos,

só 0,23% cumprem pena

por delitos ligados à

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Para o cientista político e presiden-te da ONG Transparência, Consciência e Cidadania, David Fleischer, apesar da inércia do Congresso brasileiro para mo-difi car as leis e tornar mais rigorosas as punições, o país vive avanços signifi ca-tivos no que se refere à reação do coman-do do governo. “Não se pode negar que a saída de sete ministros em um ano de-monstra certa intolerância da presidente Dilma Rousseff com as práticas de cor-rupção. Não acho que o país fi cou mais corrupto. Mas dá para ver que pelo me-nos esse tipo de conduta não é aceito por ela como acontecia nos governos ante-

Em 2003, a Operação Anaconda de-nuncia que um delegado aposenta-do da PF e juízes federais estavam en-volvidos em um esquema para aliviar a situação de acusados em inquéritos policiais.

riores. Isso já é um avanço a ser come-morado”, avalia.

O que o especialista contabiliza co-mo aumento da intolerância é justamen-te a queda de sete ministros nos últimos sete meses. Seis deles por envolvimento em denúncias. O primeiro a sair, Anto-nio Palocci, deixou o cargo em junho sob suspeitas de enriquecimento ilícito. Foi a primeira demonstração de que o atu-al governo tentará deixar sua marca no combate à corrupção. O então ministro da Casa Civil era considerado o homem forte e mais infl uente do novo governo. “Se a presidente, na hora de demitir al-

guém, considerasse suas relações pesso-ais e simpatia, por certo não teria tirado Palocci depois de apenas seis meses de governo. Acho que a saída dele foi um si-nal positivo de que avançamos”, opina o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

Dilma também não aceitou manter no cargo de ministro dos Transportes Alfre-do Nascimento (indicado pelo PR), de-pois que suspeitas de superfaturamen-to em obras tocadas pela pasta tomaram espaço na mídia. Ele pediu demissão em julho, após ser pressionado pela cúpula do governo. Sua saída resultou em uma crise entre seu partido e a presidente.

Em maio de 2005, o Brasil conhe-ceu o escândalo dos Correios. A cor-rupção vem à tona por causa de um vídeo que mostrava um ex-funcioná-rio da empresa negociando propina com um suposto empresário interes-sado em participar de uma licitação e mencionando ter o respaldo do depu-tado federal Roberto Jefferson, do PTB do Rio de Janeiro.

No mesmo ano, pressionado, Roberto Jefferson decidiu denunciar outro es-quema de corrupção durante o gover-no Lula, o mensalão. A irregularidade resultou no indiciamento de 40 políti-cos, entre eles José Dirceu. O desfecho do escândalo deve acontecer no início deste ano, quando o STF (Supremo Tri-bunal Federal) vai concluir o julgamen-to do caso.

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A Frente Parlamentar de Combate à Corrupção propõe aumento de pena para quem causar danos ao erário

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DEBATEJUSTIÇA

Em 2006, houve o escândalo dos Sanguessugas, também conhecido como Máfi a das Ambulâncias. O es-quema consistia no desvio de dinhei-ro público para a compra de ambulân-cias superfaturadas e que nunca eram entregues.

Em 2007, a Polícia Federal defl agrou a Operação Navalha, contra um esque-ma que consistia no desvio de recursos de obras do PAC. Na ocasião, 74 pes-soas foram presas.

Um mês depois, as denúncias de cor-rupção em programas tocados pelo mi-nistério da Agricultura atingiram o en-tão ministro Wagner Rossi (do PMDB), que também deixou o cargo. Na sequên-cia, vieram as demissões de Pedro No-vais (também do PMDB) do Ministério do Turismo e de Orlando Silva (indicado pelo PCdoB), do Ministério do Esporte.

O último a sair (até o fechamento desta edição) foi Carlos Lupi, em 4 de dezem-bro, depois de insistir que não tinha en-volvimento com irregularidades em con-vênios. Lupi nega ter obtido vantagens pessoais de dirigentes de ONGs, mas não se segurou depois que a Comissão de Éti-ca Pública da Presidência divulgou um parecer afi rmando que sua conduta con-trariava os princípios éticos. Lupi se des-ligou do ministério do Trabalho, apesar de suas ligações com a cúpula do Planal-to, de ter a simpatia da presidente Dilma e de alguns movimentos sindicais terem defendido sua permanência no cargo.

A queda de ministros passou a ser roti-na no governo Dilma Rousseff e não tem alterado o funcionamento e a divisão de poder das legendas. Pelo menos por en-quanto. Neste mês, a presidente prome-te realizar sua primeira reforma minis-terial e estuda demitir pelo menos seis ministros, além de reduzir a quantidade de ministérios.

A ideia inicial da cúpula do Planalto é unir as secretarias especiais em um úni-co órgão, o que diminuiria a estrutura e

os gastos. O problema é que algumas se-cretarias com status de ministério, como a de Promoção da Igualdade Racial e a de Mulheres, resultaram de conquistas de movimentos de classe e encolhê-las poderia ser interpretado como um ges-to da presidente de reduzir o espaço des-ses setores. Dividida entre seu projeto e os efeitos políticos das mudanças que po-deria promover, a presidente tem falado pouco sobre o que pretende fazer.

Até o momento, Dilma limitou-se a mandar recados avisando que a inten-ção é dar a sua cara ao primeiro esca-lão do governo e deixar as equipes, es-pecialmente as herdadas de Lula, com perfi l mais técnico. A presidente acredi-ta que, diminuindo o espaço e a infl uên-cia dos partidos dentro dos ministérios, será possível fechar as torneiras da cor-rupção que ainda permanecem abertas.

A oposição, é claro, aproveita as de-missões para tripudiar. “Não há dúvi-da de que a divisão de poder que foi fei-ta para recompensar a base de apoio nas eleições abriu espaço para essas demons-trações de corrupção em massa e uso da máquina pública em benefício de algu-mas siglas. Alguma coisa a presidente terá de fazer para impedir essa sequên-cia de denúncias”, avalia o senador Álva-ro Dias (PSDB-PR).

O parlamentar tucano tentou, por me-ses, recolher assinaturas para abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquéri-to) destinada a investigar casos de cor-

Em 2009, outro esquema envolven-do o pagamento de propina a políticos se tornou público. Desta vez, envolvia o governo do Distrito Federal.O mensalão do DEM, como fi cou co-nhecido, der-rubou o então governador José Roberto Arruda.

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rupção no Executivo. Tentativa frus-trada, pois parlamentares da base não quiseram assinar o documento, apesar de defenderem em público a apuração de todas as denúncias. “Houve um mo-vimento estranho e muita gente que dizia apoiar a investigação desistiu de assinar, preferindo deixar o clima de suspeição”, reclama o senador.

Sem uma CPI para investigar os casos do atual governo e a herança deixada por

Em 2008, a Polícia Federal lançou a Operação Satiagraha, para tentar frear o desvio de verbas públicas. Banquei-ros e investidores foram presos.

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Lula, o mundo político vive a expectati-va do desfecho do caso do mensalão, que é considerado o maior escândalo políti-co dos últimos anos. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa anunciou que vai apresentar de-cisão no início deste ano. O processo en-volve 38 pessoas, a maioria petistas, que se transformaram em réus depois que o STF aceitou a denuncia do Ministério Público de que o grupo praticou crimes de corrupção passiva, ativa, peculato e lavagem de dinheiro.

Além do mensalão, outros casos de corrupção que marcaram a sociedade ainda esperam na fi la da Justiça, sem que os envolvidos nos desvios sejam devida-mente punidos. É o caso, por exemplo, das irregularidades em obras que fazem parte do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) encontradas pela Polí-cia Federal durante a Operação Nava-lha, em 2007. Ninguém foi condenado até agora, apesar de, na época, 74 pesso-as terem sido presas. Também não houve punições aos acusados de participação em outro esquema de pagamento de pro-

pina a políticos: o mensalão do DEM. O escândalo foi descoberto em 2009 e en-volvia o alto escalão do governo do Dis-trito Federal. Na época, o então gover-nador José Roberto Arruda chegou a ser preso. Mas até hoje o caso não avançou na esfera judicial.

A demora nos julgamentos dos casos de corrupção tem dado fôlego a uma pro-posta de emenda constitucional defendi-da abertamente pelo presidente do STF, Cezar Peluso, a PEC dos Recursos. O projeto foi apresentado ao Congresso no início do ano passado pelo Supremo com objetivo de reduzir o número de recursos encaminhados ao STF e ao STJ. A ideia é dar mais celeridade à tramitação dos pro-cessos e evitar que anos se passem sem que as condenações sejam efetivadas.

A PEC propõe a imediata execução das decisões judiciais, logo após o pro-nunciamento dos tribunais de segunda instância (Tribunais de Justiça e Tribu-nais Regionais Federais). “Essa proposta não tem a pretensão de resolver todos os problemas do Brasil, mas pode atender a demanda da sociedade referente à mo-

rosidade da Justiça”, defende Peluso. O projeto conta com o apoio da Controla-doria-Geral da União, que tem feito uma campanha intensa por sua aprovação. Segundo o ministro-chefe da CGU, Jor-ge Hage, a proposta pode permitir a pri-são dos corruptos após o julgamento por um único tribunal, acabando com a sen-sação de impunidade devido ao excesso de possibilidades de os acusados recor-rerem em diferentes instâncias. “Essa impunidade e a demora nos julgamen-tos é, sem sombra de dúvidas, o princi-pal alimento da corrupção”, diz Hage.

no RAnKInG mundIAlAs demissões feitas por Dilma Rousseff não foram consideradas na análise sobre índices de corrupção feita pela ONG ale-mã Transparência Internacional e divul-gada no início de dezembro. Com base em informações e opiniões de brasileiros sobre casos de corrupção e punições, a entidade classifi cou o Brasil na 73ª posi-ção do ranking mundial, com nota de 3,8 em uma escala que vai de zero (mais cor-rupto) a dez (menos corrupto). A nota

Contra a corrupção e a falta de liberdade e democracia, surgiram os protestos que defl agraram a “Primavera Árabe”

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DEBATEJUSTIÇA

baixa brasileira nunca foi tão observada por entidades internacionais.

Isso ocorre, em primeiro lugar, por-que o país assumiu uma posição de visi-bilidade mundial devido ao crescimento econômico. Em segundo, porque sediará eventos esportivos e receberá financia-mentos bilionários tanto públicos quan-to privados. “As atenções estão voltadas para o Brasil e, por isso, é tão importante mostrar intolerância com a corrupção”, avalia o cientista David Fleisher.

Para mostrar ao mundo que o país tem reagido, o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams, anunciou números positivos durante as comemorações do Dia Internacional de Combate à Cor-rupção. Segundo ele, nos últimos anos, o Brasil vem ampliando o índice de re-cuperação de recursos desviados de 1% para 15%. “Nossa meta é chegar a 25% até 2016”, disse ele. Metas que, segundo o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, fi-carão mais próximas de serem atingidas quando o país aprovar leis mais rigorosas e acabar com o financiamento privado de campanhas eleitorais.

Pelo mundoNão é apenas no Brasil que a corrupção é assunto diário e mobiliza a sociedade. Em 9 de dezembro, a ONU (Organização das Nações Unidas) lançou uma grande campanha mundial pela moralidade na administração pública. A ideia é sensi-bilizar os cidadãos para que denunciem e combatam atos ilegais e imorais.

Na mensagem pelo Dia Internacional contra a Corrupção deste ano, o secretá-rio-geral das Nações Unidas, Ban Ki-mo-on, fez menção à chamada “Primavera Árabe” e pediu a união de todos no com-bate a este mal. “Embora os pobres pos-sam ser marginalizados pela corrupção, eles não serão silenciados. Nos aconteci-mentos em todo o mundo árabe e duran-te este ano, os cidadãos comuns uniram suas vozes para denunciar a corrupção e exigir que seus governos combatam es-se crime contra a democracia”, declarou.

No clima mundial de intolerância com a corrupção, ao menos por enquanto a

Apesar de tantas notícias ruins no que se refere à corrupção no poder público brasileiro, nem tudo está perdido. Algu-mas prefeituras no interior do país troca-ram de comando no ano passado para punir irregularidades cometidas por pre-feitos e seus assessores. Foi o caso da cidade de Campinas, terceira maior cida-de do estado de São Paulo. Hélio de oli-veira Santos (PdT) teve o mandato cas-sado pela Câmara municipal em agosto do ano passado sob a acusação de omis-são e negligência em supostas fraudes em contratos públicos. era o segundo mandato do dr. Hélio, como é conhecido.

os primeiros indícios de irregularida-des contaminaram o primeiro escalão do prefeito de Campinas, envolvido em de-núncias de pagamento de propinas. na época em que o escândalo estourou, a ex-primeira-dama e ex-chefe de gabine-te, Rosely nassim Jorge Santos (foto), foi citada pelo ministério Público como che-

fe de um suposto esquema de fraudes em licitações. A quadrilha apontada pelo mP também é acusada de receber propi-na por meio da empresa pública Sanasa, de saneamento básico.

o vice, demétrio Vilagra (PT), assu-miu a prefeitura, mas também está na marca do pênalti e pode perder o cargo, o que dependerá dos resultados das in-vestigações do mP sobre o seu possível envolvimento com o escândalo na ges-tão de dr. Hélio.

A 63 quilômetros de Campinas, em li-meira, houve um caso semelhante. A pri-meira-dama, Constância Félix, mulher de Silvio Félix (PdT), passou cinco dias pre-sa, no fim de novembro, por suspeita de envolvimento em um esquema de sone-gação de impostos, lavagem de dinhei-ro, furto qualificado, formação de qua-drilha e falsidade ideológica. A operação do mP pediu a prisão de outras 11 pes-soas. Dois filhos do casal também fo-

ram presos.o prefeito foi afastado tempora-

riamente do cargo por decisão da Câmara de Vereadores, mas con-seguiu na Justiça uma liminar para ser reconduzido ao cargo. Até o fe-chamento desta edição, ele ainda ocupava a prefeitura de limeira. no período em que esteve fora, o cargo foi ocupado pelo vice, orlando José Zovico (PdT), que também é investi-gado pelo mP sob suspeita de enri-quecimento ilícito e improbidade ad-ministrativa.

AindA há esperAnçAPaula Pacheco, de São Paulo

presidente Dilma tem mostrado afina-ção entre seu discurso e suas ações. Par-lamentares e especialistas são unânimes ao avaliar que nada do que aconteceu até agora no Brasil caminhou na contramão do que Dilma anunciou que faria duran-te a solenidade de posse: “Serei rígida na

defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanen-temente, e os órgãos de controle e inves-tigação terão todo o meu respaldo pa-ra atuar com firmeza e autonomia”. Até agora, é o que vem acontecendo.

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: AFPA pobreza encolhe

Indicadores da Cepal mostram, contudo, que existerisco de retrocesso em razão do cenário externo

Sérgio Siscaro, de São Paulo

Após ter amargado a difícil dé-cada de 1980 – época em que a crise da dívida agravou a si-tuação econômica dos países

latino-americanos e, como consequên-cia, aumentou os níveis de desigual-dade social –, a região vem sistemati-camente reduzindo os indicadores de pobreza desde 1990. De acordo com o estudo Panorama Social da Améri-ca Latina, lançado em dezembro pe-la Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), houve um recuo de 18 pontos percentuais na par-cela da população considerada pobre nos países da região – que passou de 48,8% (ou 204 milhões de pessoas) pa-ra 30,4% (174 milhões). Também caiu o percentual da população em situa-ção de pobreza extrema, que passou de 22,6% para 12,8%.

De acordo com o estudo, essa redução da pobreza se deve a mudanças nos pro-cessos de distribuição de renda nos paí-ses da região, principalmente no perío-do entre 2002 e 2010 – que se manteve mesmo com a eclosão da crise fi nancei-ra mundial, em 2008. Além disso, a Ce-

pal observou a continuidade da queda nas taxas de natalidade, diminuindo as-sim a pressão do aumento populacional sobre a economia latino-americana. Ou-tro ponto demonstrado no levantamento da entidade é de que os 21 países da re-gião elevaram o total de gastos públicos nas últimas duas décadas, chegando em 2009 a um total de 28,8% do PIB (Pro-duto Interno Bruto). O importante neste dado é que 17,9% foram direcionados a despesas de ordem social.

Cinco nações registraram reduções mais signifi cativas em suas taxas de po-breza entre os anos de 2009 e 2010: Pe-ru, Equador, Argentina, Uruguai e Co-lômbia. Por outro lado, tanto Honduras quanto México apresentaram alta – de 1,7 e 1,5 pontos percentuais, respectiva-mente. O Brasil, entre 2001 e 2009, teve uma queda de 12,6 pontos percentuais nos índices de pobreza e de 6,2 pontos nos de indigência. Para a Cepal, a apli-cação de instrumentos de transferência de renda para camadas mais carentes da população foi responsável, no caso bra-sileiro, por uma contribuição superior a 40% na redução da desigualdade social.

“A pobreza e a desigualdade seguem diminuindo na região, o que é uma boa notícia – especialmente no contexto da crise econômica internacional. Entre-tanto, esses avanços ainda são ameaça-dos pelas enormes lacunas apresentadas pela estrutura produtiva da região e pelos mercados trabalhistas, que geram em-pregos de baixa produtividade, sem pro-teção social”, afi rmou a secretária-exe-cutiva da Cepal, Alicia Bárcena, durante o lançamento do documento.

No entanto, a organização pondera que o fato de a redução da pobreza estar vin-culada apenas ao crescimento econômi-co dos países latino-americanos confi gu-ra uma vulnerabilidade preocupante. Isso seria especialmente verdadeiro no mo-mento atual, marcado pela incerteza com relação ao cenário externo em razão da crise na Europa. Na avaliação da Cepal, é necessário que os países latino-ameri-canos orientem suas políticas na direção de investimentos que elevem o grau de produtividade da economia e avancem na proteção social, assim como em po-líticas de transferência de renda para as camadas mais carentes da população.

DEBATEAMÉRICA LATINA

Houve uma redução na parcela da população

latino-americana considerada pobre

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DEBATEElEiçõEs

A revolução doenteO câncer de Hugo Chávez levanta dúvidas sobre a continuidade da revolução bolivariana na Venezuela

Redação de AméricaEconomia, em Santiago

Arealidade costuma ser vista a partir de pontos opostos no labirinto de espelhos no qual se transformou a polarizada

Venezuela. Contudo, até muito pouco tempo atrás, era difícil imaginar um cenário mais díspar como o que surgiu em torno da saúde do presidente Hu-go Chávez. O mandatário assegura que já se curou do câncer e que não há uma única célula maligna em seu corpo. Mas insistentes versões esboçam um cenário bem diferente. Segundo diferentes porta--vozes, que alegam ter tido contato direto com a situação, Chávez não apenas conti-nua padecendo da doença, como está em estágio terminal.

Exageradas ou não, essas versões con-firmam que nenhum outro assunto tem maior importância no país petroleiro que se aproxima das cruciais eleições de outubro deste ano. Nelas se decidirá na-da menos que a transformação socialis-ta do Estado, um contexto sobrecarrega-do e no qual Chávez se transformou em uma espécie de convalescente interna-do em cada um dos lares venezuelanos.

“Tudo gira em torno do presiden-te Chávez e de sua doença”, afirma Os-car Schemel, presidente do instituto de pesquisa venezuelano Hinterlaces. “É a grande interrogação dentro da política do país, o elemento de incerteza que pro-voca respostas passionais não apenas do

A maioria é solidária a Chávez, masnão aprova sua

atuação em temascomo a segurança

lado do chavismo, mas também do lado da oposição”, ressalta.

Embora visivelmente inchado em de-corrência do tratamento ao qual está sendo submetido, o mandatário tem au-mentado suas aparições em público, sus-tentando reiteradamente que continuará vivendo e governando o país pelos pró-ximos 20 anos. “Nunca vão me tirar do governo”, garantiu, em meados de no-vembro. “Eles [os opositores] estavam empenhados em que eu me fosse, mas agora não vou em 2021, vou em 2031.”

Contudo, detratores e até alguns de seus antigos colaboradores asseguram que sua doença é muito mais grave do que ele deixa transparecer. Entre os que denunciam a situação está o ex-subse-cretário de Assuntos do Hemisfério Oci-dental do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Roger Noriega, que as-segura que Chávez tem pela frente pou-cos meses de vida.

“Segundo fontes que me passaram in-formações privilegiadas e documentos

de dentro do regime, o câncer de Chá-vez está se propagando mais rápido que o esperado e poderá levá-lo à morte an-tes das eleições presidenciais de outubro de 2012”, garantiu, recentemente, No-riega, que também atuou como embai-xador dos EUA na OEA, a Organização dos Estados Americanos. “Chávez insis-tiu em receber doses baixas de quimiote-rapia para evitar longas ausências da ce-na política durante esse frágil período.”

Segundo o diplomata, as autoridades americanas tinham conhecimento de que Chávez padecia de câncer seis me-ses antes de ter admitido o fato publica-mente, e agora sabem que é pouco prová-vel que ele seja candidato nas próximas eleições presidenciais.

Anteriormente, Salvador Navarrete, antigo médico familiar de Chávez, de-clarou que ele sofria de um câncer de pelve muito agressivo e, no momento de seu diagnóstico, contava com uma ex-pectativa de vida de apenas dois anos. Navarrete, que se viu obrigado a aban-donar o país, afirmou que havia sido in-duzido a falar pela própria família do chefe de Estado, que preferia ver Chá-vez afastado do poder para se concen-trar no tratamento.

Células rebeldesA doença surgiu no momento em que o presidente Chávez realizava os prepara-

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tivos para radicalizar sua revolução so-cialista após a aprovação, no fim de 2010, dos instrumentos legais de que precisa-va para terminar de transformar o Esta-do venezuelano.

Leonardo Palacios, professor de dis-ciplina tributária da Universidade Cen-tral da Venezuela, afirma que a Assem-bleia Nacional, com uma representação majoritariamente chavista, tem aprova-do aceleradamente um conjunto de leis que estabelece o “caráter socialista” da economia venezuelana. “Tudo, absolu-tamente tudo, ficaria sob a administra-ção do Estado”, afirma Palacios. “Tudo o que se refere à produção, à distribuição, e até à forma de consumo, seria adminis-trado e regulado pelo governo central.”

As leis introduzem os conceitos do Es-tado Comunal e a Economia Comunal, sobre os quais descansariam eventual-

va do que no passado”, assegura o analis-ta político venezuelano John Magdaleno.

Joga a favor da oposição o desencan-tamento da população. Segundo dados recentes do Hinterlaces, 59% dos vene-zuelanos desaprovam o trabalho do pre-sidente em questões de segurança. Mais de 50% consideram que ele não conse-guiu atender às necessidades viárias e de transporte. Ao todo, 70% acreditam que ele foi ineficaz em controlar a inflação, e 67% não aprovam sua reação quanto a crise elétrica.

“A campanha de 2012 será bastante exigente e muito desgastante, e teríamos de ver que tipo de atividade o presiden-te poderá realizar na condição em que se encontra”, afirma Magdaleno.

O regime sempre sustentou a imagem de que não há chavismo sem Chávez. Os constantes enfrentamentos entre as dife-rentes facções do movimento ressaltam sua fragilidade.

Segundo versões da imprensa local, o chanceler Nicolás Maduro é o dirigen-te com maiores possibilidades de moti-var as bases do movimento a sair e vo-tar, mas ele não conta com o carisma e o mesmo grau de respaldo em âmbito na-cional que Chávez, e teria de percorrer um caminho morro acima para derrotar a oposição na disputa eleitoral.

Outros potenciais candidatos também incluem o atual vice-presidente Elías Jaua e o irmão do presidente e governa-dor do estado Barinas, Adán Chávez, mas ambos contam com um apoio popu-lar ainda inferior ao de Maduro. Por outro lado, os observadores estão de olho nas manobras do ex-vice-presidente Dios- dado Cabello, um deputado oficialista com ampla influência no setor militar fa-vorável à revolução bolivariana.

“Tudo dependerá dos acontecimentos dos próximos meses”, adverte Leonardo Palacios. O acadêmico é daqueles que creem que mais uma derrota da oposição seria catastrófica à Venezuela, pois “um novo mandato de Chávez poderia com-prometer a estabilidade democrática do país, já que ele teria a Assembleia e, por-tanto, as novas leis a seu favor.”

mente os meios de produção, assim co-mo a arquitetura de poder do país. A nor-mativa legal não começou a ser aplicada, no momento em que a atenção pública se volta para a doença de Chávez, mas is-so poderia mudar se ele conseguisse ser eleito para um novo período.

A doença do presidente, contudo, ge-ra dúvidas sobre o que as urnas poderão revelar em outubro. Ainda que seu hábil manejo midiático da doença tenha lhe rendido certo sentimento de pena, o que foi favorável nas pesquisas, o aumento de popularidade não se traduziu em me-lhora nas intenções de voto.

Além disso, a oposição avançou sig-nificativamente nos últimos anos na for-mação de uma única frente e, no próxi-mo mês, está prevista a escolha de um candidato para disputar a Presidência. “A oposição está muito mais competiti-

Envolto em incertezas sobre sua saúde, Chávez não consegue passar confiança sobre o futuro do chavismo

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: AFP

DEPOIS DO PRIMEIRO MILHÃOA indústria petroleira na Colômbia ganha força, mas carrega o peso de confl itos entre empresas e trabalhadores, além de problemas ambientais

Jenny Carolina González C., de Bogotá

“AColômbia vem aumentando de forma sustentável a pro-dução de petróleo cru. Ho-je, é a quarta produtora da

região, depois de Venezuela, México e Brasil. Há apenas cinco anos, extraía 550 mil barris diários; em novembro, alcançou 971 mil barris. Em 2006, ha-via 12 poços exploratórios e, em 2011, o

país comemorava a marca de 130 poços. Em volume de exportações, a Colômbia passou de US$ 6,32 bilhões em petróleo e derivados em 2006 para US$ 20,06 bi-lhões nos primeiros nove meses de 2011, segundo o Dane (Departamento Admi-nistrativo Nacional de Estatísticas).

Esse crescimento pode ser atribuído, em parte, às melhores condições de se-

gurança conseguidas no governo Álvaro Uribe, que atraiu investimentos estran-geiros diretos para o setor. Contudo, o caminho para passar de 1 milhão de bar-ris e seguir nesse ritmo enfrenta a amea-ça de dois grandes obstáculos: a intensi-fi cação das ações guerrilheiras e, talvez mais grave, o confl ito entre empresários e sindicatos.

Em junho de 2011, quatro cidadãos chineses da britânica Emerald Energy foram sequestrados no departamento de Caquetá, no sudeste do país, e até ho-je seu paradeiro é desconhecido. Some--se a isso o sequestro de 31 trabalhadores petroleiros, em três ocasiões diferentes,

A Força Pública tevede entrar em cena para garantir a segurançadas empresas edos trabalhadores

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que foram liberados, na grande maioria, por pressão do exército; os 19 atentados à infraestrutura petroleira; os 26 cami-nhões de transporte de petróleo queima-dos e um helicóptero da argentina Plus-petrol incendiado.

Mais batalhões “É preciso reconhecer com tristeza que isso tem impacto, porque qualquer inves-tidor estrangeiro leva em conta esse ele-mento em suas decisões”, afirma Her-nando Barrero, presidente da Associação Colombiana de Engenheiros do Petróleo.

O crescimento do setor fez com que a atividade petroleira se estendesse a regiões remotas. O governo insiste que tomou medidas para garantir a seguran-ça, segundo o ministro de Minas e Ener-gia, Mauricio Cárdenas. “Esse não é um impedimento, não é um fator que gere condições para as empresas irem embo-ra ou deixarem de vir para o país.”

Para Alejandro Martínez, presiden-te da ACP (Associação Colombiana do Petróleo), o não pagamento de extorsões e a necessidade de visibilidade das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) estão motivando as ações ter-roristas. “Não é que haja uma considera-ção ideológica contra os investimentos estrangeiros, é a necessidade de mostrar que eles ainda têm importância”, afirma.

O mais recente golpe ocorreu em me-ados de novembro, quando a Emerald Energy, subsidiária da estatal chinesa Si-nochem, anunciou, sem dar detalhes, o fechamento de seu campo Capella, situ-ado em Caquetá, com uma produção de 4 mil barris por dia, por razões de segu-rança. Os comandos militares reagiram com indignação.

“A segurança não pode ser usada de escudo para o não cumprimento dos acordos feitos com as diferentes institui-ções”, afirmou o general Fabricio Cabre-ra, comandante da Brigada 12 do Exérci-to. “Nós garantimos a saída do petróleo cru”. O governo advertiu que expulsa-rá as multinacionais que cederem a ex-torsões, e ajustou sua estratégia de de-fesa no setor, que inclui a criação de seis

batalhões para a proteção da infraestru-tura mineradora e energética nos pró-ximos dois anos. “O mais importante é ganhar espaço de coordenação, que vai desde o nível mais alto até o chão de fá-brica, onde a Força Pública possa acom-panhar os planos das empresas petrolei-ras”, afirma o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, enfatizando que existem empresas que, por anos, tiveram sucesso em seu trabalho com as tropas do Estado.

A ideia é também que as petroleiras invistam em novas tecnologias e meca-nismos para a vigilância de seus campos e infraestrutura e melhorem as relações com as comunidades, dando estabilida-de às regiões. Aí está outro grande de-safio a ser enfrentado pelas petroleiras. Várias comunidades por onde passam

rantir a entrada dos trabalhadores na re-finaria de Barrancabermeja, ao norte do país, depois que a greve se transformou em distúrbios que deixaram 15 feridos.

Os petroleiros asseguram que o mo-tivo dos protestos é uma corrida dos di-ferentes sindicatos para aumentar o nú-mero de afiliados em um setor que está ganhando visibilidade e recebendo in-vestimentos. Eles pediram que casos de greve transformados em desordens se-jam levados à Justiça. Rodolfo Vecino, presidente da USO, a Unión Sindical Obrera, denuncia a existência de uma campanha contra sua organização para desviar o debate sobre as reivindicações trabalhistas, salariais e de condições de trabalho. “Não estamos de acordo com a violência, tampouco com a violência

“O mais importante é ganhar espaço de coordenação, que vai desde o nível mais alto até o chão de fábrica”

Ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón

os caminhões carregados de óleo cru já manifestaram sua insatisfação com a de-terioração das vias. Relatórios da Con-troladoria-Geral da República e inves-tigações do Vice-Ministério do Meio Ambiente indicam que, nos últimos três anos, houve uma série de danos ambien-tais provocados pelo petróleo.

No entanto, o mais grave em termos políticos são os enfrentamentos entre empresas e trabalhadores. A canaden-se Pacific Rubiales, cujas operações no leste do país representam 25% da pro-dução petroleira da Colômbia, teve for-tes conflitos com os sindicatos. As ma-nifestações desembocaram em guerras campais que levaram à suspensão de su-as operações no ano passado. Os protes-tos também se estenderam contra Petro-minerales, Petrobras e Ecopetrol, que, em meados de novembro passado, tive-ram de recorrer à Força Pública para ga-

contra os trabalhadores”, afirma.Vecino diz que o governo assumiu

uma posição a favor da indústria e que a Pacific Rubiales está obrigando seus trabalhadores a renunciar à USO para se afiliar à Uten, a Unión de Trabajadores de la Industria Energética Nacional y de Servicios Públicos Domiciliarios, consi-derada por eles como patronal.

“Essa locomotiva precisa dar condi-ções aos trabalhadores e também a suas famílias. Queremos que essas condições melhorem gradualmente, mas por meio de um processo de diálogo democrático, e não pelas vias de fato”, enfatizou Cár-denas. Segundo a ACP, estima-se que se deixou de produzir entre 40 mil e 50 mil barris em decorrência das paralisações. Apesar do panorama, Martínez, presi-dente do órgão, acredita que a Colôm-bia seguirá o atual ritmo até superar 1,2 milhão, em 2015.

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Uma alternativa para os negóciosConsultoria jurídica preventiva pode reduziras disputas entre empresas e funcionários

Natalia Gómez, de São Paulo

Leonardo (à dir.) e Heraldo Jubilut,

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Arelação entre as empresas e seus funcionários, que sem-pre foi alvo de disputas judi-ciais e gera grandes despesas

para as companhias, tem ganhado ain-da mais relevância com a recente agili-dade processual da Justiça do Trabalho. A informatização do processo e a inter-ligação da Justiça Trabalhista com ór-gãos como a Receita Federal e o Banco Central têm ampliado as possibilidades de execução de sentenças, além de dei-xar o processo mais rápido. Se, no pas-sado, a Justiça podia não ter o aparato

necessário para executar o devedor, ho-je, os mecanismos são mais eficientes e podem levar a bloqueios de conta com mais facilidade.

“O empresário começou a sentir no bolso que o processo está mais rápido”, afirma o advogado Leonardo Jubilut, só-cio do escritório Jubilut Junior Consulto-ria Jurídica Empresarial, especializado na área trabalhista. Os valores envolvi-dos nos processos também estão mais altos, assim como a diversidade das cau-sas. Nesse cenário, a parceria entre escri-tórios de advocacia e empresas tem sido

cada vez mais relevante, especialmente na ação preventiva, que pode evitar es-ses transtornos e preparar as companhias para uma eventual necessidade de defe-sa. Acompanhe a seguir a entrevista com dois sócios do escritório, Leonardo e He-raldo Jubilut. Fundado em 1972, sua atu-ação tem âmbito nacional.

América Economia – Qual é a impor-tância dos escritórios de advocacia no dia a dia das empresas quando o assun-to é direito trabalhista?

Leonardo Jubilut – Ter uma assessoria jurídica é uma necessidade crescente de qualquer empresa, independentemente do porte. Antes, talvez não fosse tão cru-cial, mas a própria evolução da economia e dos negócios entre empresas tornou a

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participação do escritório fundamental. Os países estão se adaptando e criando novas regras de conduta, e as empresas têm de se adequar.

Heraldo Jubilut – O próprio andamen-to da legislação atual favorece o recebi-mento de valores o mais breve possível. O processo ficou mais rápido, porque o juiz tem comunicação online para pe-nhora de contas bancárias, bloqueio de valores financeiros das empresas, o que pode causar prejuízos especialmente pa-ra os negócios de pequeno e médio porte.

AE – Esse processo de modernização da Justiça é recente?

Leonardo – A informatização do pro-cesso, os ofícios online e a interligação da Justiça com outros órgãos, como De-tran, Receita Federal e Banco Central, começou há cerca de dois anos. No iní-cio, isso era pouco usado, mas hoje é corriqueiro. O maior drama do empre-sário é seu bloqueio bancário. Antiga-mente, a Justiça podia não ter o aparato para executar o devedor, mas hoje con-ta com o ofício online e os convênios, o que ampliou as possibilidades de execu-ção e deixou o processo muito mais rá-pido. O empresário já começou a sentir no bolso essa rapidez. Outra novidade é que as ações ficaram mais complexas e envolvem valores maiores, daí a neces-sidade de ter uma assessoria específica nessa área do direito.

AE – Como é a relação entre o escritó-rio e a empresa?

Leonardo – A tendência do merca-do hoje é buscar escritórios especiali-zados, de menor porte, com uma equipe especializada em determinada maté-ria. Acredito que escritórios buscam ser parceiros, deixando de ser um centro de custo das empresas, e mostram que uma atuação preventiva nessa área pode evi-tar demandas futuras. Se não evitar, ao menos a empresa estará bem apoiada pa-ra se defender.

AE – Por que as ações trabalhistas es-tão mais complexas?

regras, ou o Estado poderia instituir re-gras mínimas para tal relação. Mas seria importante permitir que as partes defi-nam alguns aspectos do contrato. Como tudo na vida, o meio-termo e um pouco de regulamentação não podem ser des-cartados. Mas o papel do Estado não de-ve ser de intervenção absoluta.

AE – Quais são os outros aspectos tra-balhistas mais recorrentes nas disputas judiciais atualmente?

Leonardo – As disputas vêm em ondas. Teve a onda das horas extras, depois a do assédio moral, e, agora, a da doença pro-fissional. Esta é a bola da vez. Uma vez ciente dessas ondas, o empresário deve melhorar sua relação de trabalho, orien-tando seus gestores.

Heraldo – No caso da doença profis-sional, a prevenção da segurança do tra-balho é importantíssima, tendo em vista a integridade física. Hoje há muitos pro-cessos postulando indenizações altíssi-mas por acidentes do trabalho que pode-riam ter sido evitados. Foi-se o tempo em que o empresário podia não se preocu-par, porque a condenação não afetaria o caixa da empresa. Hoje a Justiça do Tra-balho se agigantou em termos de impor-tância dentro das instituições.

AE – Como os altos custos trabalhis-tas afetam os negócios das empresas?

Leonardo – O custo espanta novos in-vestimentos no Brasil. A legislação veio para proteger o trabalhador, mas gera o efeito contrário, pois apenas cerca de 30% a 40% dos trabalhadores no país são registrados. A reforma trabalhista seria uma forma de atacar esse proble-ma de frente, mas não se vê nada de con-creto em andamento.

Heraldo – A informalidade ainda pro-voca uma série de dissabores. Um la-do não quer ser descontado, o outro não quer pagar muito. A informalidade não é boa para ninguém. Se houver um lado sem proteção, o outro também fica des-protegido, e o Estado fica sem seu tribu-to. É preciso achar um meio-termo, uma forma de proteger a todos.

Leonardo – Em parte por causa do aprimoramento dos advogados. As ações envolvem uma gama maior de pedidos e maior volume em termos de valores. As relações de trabalho evoluíram muito, e hoje temos vários tipos de disputa, que incluem, por exemplo, danos morais, ou doença profissional.

AE – E a questão dos contratos de tra-balho fora da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), como pessoa jurídica?

Leonardo – A legislação brasileira im-põe custos muito altos para a formali-zação do emprego. Já passou a hora de vir uma legislação para regular esse tipo de situação. A lei atual é muito rigorosa com o empregador.

Heraldo – Um empregado com regis-tro em carteira custa o dobro do seu salá-rio para a empresa empregadora, quando se consideram os gastos indiretos com a

existência do contrato. Outra questão é que a CLT não distingue os trabalhado-res, e alguns podem desejar maior liber-dade no contrato de prestação de servi-ços. Está na hora de alguém agraciar esse tipo de vontade das partes e regulamen-tar o relacionamento entre a PJ (pessoa jurídica) e as empresas. Precisa ser cria-do um caminho intermediário, pois hoje o trabalhador ou é CLT ou fica à margem da legislação, sem nenhuma proteção.

AE – Qual seria uma solução interme-diária para o problema?

Leonardo – Existe hoje esse debate, com a possibilidade de proporcionar às partes uma margem para que se criem

“Os custos trabalhistas

espantam novos investimentos

no Brasil”Leonardo Jubilut, advogado

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Conta corrente do outro lado da linhaA América Latina ainda estuda como aumentar o nível de bancarização com a ajuda dos aparelhos celulares

David Santa Cruz, da Cidade do México

Oarquipélago filipino tem pou-co mais de 95 milhões de habitantes e é composto de 7.107 ilhas. Muitos trâmites,

como pagar a conta de telefone, luz ou enviar dinheiro à família, implicam via-jar a noite inteira em uma balsa para che-gar aos locais onde há uma agência ban-cária. A outra solução são os coletores, personagens singulares que vão de ilha em ilha recolhendo faturas e dinheiro para levar até os bancos. Em 2006, hou-ve uma mudança importante nesse cená-rio, e que poderia representar o fim dos coletores como ocupação remunerada. A empresa de telefonia móvel dominan-te do país transformou os celulares em plataformas de pagamento, ao custo de uma mensagem de texto e sem a necessi-dade de abertura de uma conta bancária.

Hoje, são realizadas nas Filipinas, o 12º país em número de habitantes do mundo, mais de 150 milhões de transa-ções móveis por ano, incluindo transfe- Ilu

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rências bancárias, pagamentos de servi-ços e entrega de subsídios à população carente. Do outro lado do Pacífico, o Mé-xico estuda fazer algo semelhante. Seria uma solução lógica, dada a frequência com que os beneficiários ou pagadores são assaltados.

“O dinheiro eletrônico é uma oportu-nidade de incluir financeiramente essa parcela da população com uma boa re-lação custo-benefício”, explica Nestor A. Espenilla Jr., diretor-adjunto do Ban-co Central das Filipinas. O desafio atual para o país asiático, um dos pioneiros nesse sistema, é aumentar a utilização na zona rural. Aproximadamente 40% dos cerca de 1,5 mil municípios não têm agência bancária. Quase todos os filipi-nos, por outro lado, possuem um celular.

Uma das receitas para que esse siste-ma tenha tanto sucesso é que, longe do que se poderia imaginar, não é compli-cado de operar nem “arriscado”, como explicam seus defensores. Carregar di-nheiro é tão fácil como comprar créditos

em um cartão pré-pago. As transferên-cias são processadas por meio de SMS (mensagem de texto), e não é preciso ter conta em banco. De fato, os depósitos são feitos para um número telefônico, o que reduz a possibilidade de enviar di-nheiro a um desconhecido por engano. Isso é possível porque os chips dos tele-fones celulares são idênticos aos dos car-tões de crédito: basta incluir uma senha, e tudo está resolvido.

“Você tem uma conta com a operado-ra móvel [telefônica], mas todo o dinhei-ro que está nessas contas, por sua vez, é depositado em uma conta bancária”, ex-plica o consultor espanhol Ignacio Mas, um dos defensores da propagação do banco móvel. “O banco emite uma úni-ca conta, e a operadora móvel a distribui em 15 milhões de contas. No final, vo-

cê tem a proteção bancária, porque o investimento desses recursos é feito por um banco com todas as regula-

ções governamentais.”

O maiOr sucessOO PIB (Produto Interno Bruto) per capita do Quênia é de US$ 1.600, um dos 40 mais baixos do planeta.

Dois terços de seu território são ári-dos, o desemprego ronda os 40% e

metade de sua população está abai-xo da linha da pobreza. Sobre banca-

rização, há pouco a se falar. Justamen-te por esse motivo, é terreno ideal para o banco móvel: quase metade da popula-ção possui telefone celular. De fato, em agosto de 2011, 16 milhões de celulares fizeram pagamentos de serviços públi-cos, cerca de US$ 1,2 bilhão em valo-res movimentados, explica o profes-

sor Njuguna Ndung’u, diretor do Banco Central do Quênia.

“O banco móvel nos permite gerar uma economia de US$ 3 por operação. Se levarmos em conta que temos um grande volume de operações mensais, isso leva a uma economia significativa para a população pobre”, explica Ste-phen Mwaura, diretor do Sistema Nacio-nal de Pagamentos do Banco Central do Quênia. “Não se trata apenas de econo-mia de dinheiro, mas também de tempo e qualidade de vida.”

Como no caso filipino, a população ru-ral do Quênia não precisa mais percorrer longas distâncias pelo deserto para reali-zar operações nem para receber doações ou apoio monetário da comunidade in-ternacional, algo crítico em um país ex-posto a secas e outros tipos de desastres climáticos. No entanto, apesar do cresci-mento desse tipo de transação nos países emergentes e em desenvolvimento, ainda resta uma lacuna enorme a ser preenchi-da. “A vantagem do dinheiro eletrônico é que custa a mesma coisa transferir um ou mil”, afirma Ignacio Mas.

a américa chamaO ponto fraco do banco móvel está na in-teroperabilidade das redes celulares (in-terconexão e portabilidade). Muitos paí-ses da América Latina decidiram adotar políticas públicas para estabelecer, por um lado, uma regulamentação clara que dê ao sistema uma boa relação custo-be-nefício e, por outro, que sejam os ban-cos, e não apenas as telefônicas, a enca-beçar o esforço.

“Na Guatemala, os bancos e as em-presas de telecomunicações não que-rem lançar seus produtos até que se ado-te uma norma”, explica Ricardo Estrada, especialista em regulamentação da Su-perintendência de Bancos da Guatema-la. Para isso, o executivo contou com o apoio da AFI (Alliance for Financial In-clusion), uma rede de elaboração de po-líticas de países emergentes e em desen-volvimento, com sede na Tailândia, cujo objetivo é compartilhar experiências e desenvolver iniciativas que promovam

Quênia e Filipinas têm experiências

positivas como uso da telefonia móvel por pessoas

de baixa renda

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a inclusão financeira. A nova regra gua-temalteca entrou em vigor em novembro e não incluiu a questão da interoperabi-lidade, dado que os próprios atores do mercado “já estavam entrando em acor-do sobre isso”, segundo Estrada.

No caso do México, decidiu-se come-çar com a criação de correspondentes bancários, conceito amplamente difundi-do no Brasil. “O principal não é o celular, mas o canal de lojas. Se não tenho como converter o caixa em dinheiro eletrônico, não me adianta nada”, explica Ignacio Mas. “São necessários estabelecimen-tos com alto fluxo de dinheiro, em que as pessoas se sintam benvindas, coisa que nem sempre acontece nos bancos.”

Segundo o especialista espanhol, essa é uma das razões pelas quais as empresas de telecomunicações avançaram mais na questão. Elas entendem o modelo de dis-tribuição varejista melhor que os bancos.

No México, a ideia é exatamente que os bancos participem ativamente da ex-pansão das plataformas móveis. É por isso que a CNBV (Comissão Nacional Bancária e de Valores) começou a promo-ver a abertura simplificada de contas, co-mo explica Guillermo Babatz, presiden-te da instituição. Outro requisito imposto às empresas para lançar esses serviços

A bancarização da popu-lação ainda traz desafios

para o sistema financeiro. En-tre os fatores que influenciam

nesse cenário de dificuldade pa-ra o aumento mais rápido da ba-

se de clientes está a cultura ainda recente sobre o papel dos bancos na

vida das pessoas e o aumento da re-gulação e das taxas sobre os bancos – resultado, em boa parte, da crise fi-nanceira internacional. Mas não falta vontade do setor financeiro de crescer nesse segmento, principalmente nos países latino-americanos. “Enquan-to os mercados maduros não crescem, há um mundo diferente na América Latina, que não para de se expandir”, afirmou José Antonio Álvarez, diretor financeiro do Santander, em evento para jornalistas realizado recentemen-te na Espanha.

O Brasil, com uma das mais baixas taxas de bancarização da região, des-ponta como uma das apostas. Segundo pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), realizada há um ano, o acesso dos brasileiros aos ban-cos acelerou nos últimos cinco anos. Passou de apenas 16,1% em 2005 para 60,5% em 2010, o equivalente, na épo-ca, a cerca de 115 milhões de pessoas.

Ricardo Villela Marino, vice-presi-dente do Itaú Unibanco para a Amé-

rica Latina e ex-presidente da Fela-ban (Federação Latino-Americana de Bancos), explica que a relação entre crédito e PIB (Produto Interno Bruto) aumentou expressivamente no Bra-sil. Em 2002, o crédito respondia por 25% do PIB. Em 2010, 48%. Para ele, a bancarização deve avançar princi-palmente no crédito imobiliário, que, atualmente, representa apenas 4% do Produto Interno Bruto, enquanto no Chile, país vizinho, chega a 70%.

As tecnologias bancárias móveis, como os celulares, podem ajudar na expansão dos serviços, mas ainda es-tão longe da popularização, como mostrou estudo do World Economic Forum, divulgado em maio de 2011. Segundo o levantamento, é preciso aumentar a competição entre os ban-cos e ampliar a educação financeira entre a população.

Recentemente, o Brasil deu um passo rumo ao avanço das tecnolo-gias bancárias. Em dezembro, a Cai-xa Econômica Federal lançou um pro-jeto-piloto no Conjunto Palmeira, em Fortaleza, onde vivem cerca de 1 mil pessoas. O programa prevê o uso de celulares para o pagamento de com-pras. A estimativa do banco é que, nos primeiros seis meses de projeto, cada cliente realize em torno de 30 transações por meio do celular.

No Brasil, ainda há muito a ser feitoPaula Pacheco, de São Paulo

foi exatamente o da interconexão: “Es-se sistema funciona apenas se for massi-vo e de redes”, explica Babatz, cujo país foi o anfitrião da mais recente reunião anual da AFI.

Na conclusão de Alfred Hannig, dire-tor-executivo do órgão, cada região criou seu modelo de inclusão próprio e ade-

quado à sua realidade. “A América do Sul adotou o desenvolvimento de cor-respondentes bancários; a Ásia, os siste-mas de pagamentos móveis; e a África, as microfinanceiras. A América Lati-na está dando passos importantes para incluir em suas carteiras o Banco Mó-vel”, afirma.

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O projeto Destinos de Verão foi criado para atender marcas com produtos sazonais e que priorizam suas campanhas no verão.

Durante os três meses do projeto, as campanhas realizadas a bordo das aeronaves TRIP poderão atingir cerca de 1 milhão de passageiros que prezam pelo conforto e serviço diferenciado da companhia.

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OPINIÃO

A agenda da competitividade no país dos diagnósticos

Luiz Fernando Furlan foi ministro de Estado do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2003/2007).

Temos visto muitas mudanças no Brasil nos últimos anos, princi-palmente econômicas e sociais.

Mas, infelizmente, há situações que não mudam. Uma delas é que o Brasil con-tinua a ser o país dos diagnósticos. Não há o compromisso de entregar resulta-dos. Cada governo, cada ministro, cada secretário que assume vem com ideias, projetos e debates travestidos de um tom novidadeiro. Contratam-se consul-torias, são promovidos seminários, mas as conclusões gerais são sempre muito parecidas. Gastamos mais dinheiro nos “entretanto” do que nos “finalmente”.

Esse retrato é muito diferente do que se vê no setor privado. A falta de re-sultados é penalizada rapidamente. Em uma empresa, se um gerente não fun-ciona, ele é substituído em um curto espaço de tempo. O mercado de capi-tais também reflete isso, com a queda do preço de suas ações.

Já o setor público, em geral, induz o mercado a expectativas e, mesmo sem sair do lugar, acaba não sofrendo penalidades. Nas diferentes esferas de governo, nada acontece se uma meta,

definida depois de um diagnóstico, não é cumprida. Se fosse em uma empresa, seria preto no branco.

Algumas iniciativas pontuais mos-tram, no entanto, que é possível tirar o país do plano exclusivo dos diagnós-ticos e adotar um modelo gerencial. É uma área à qual se dedicam figuras como Jorge Gerdau e Vicente Falconi. É possível ver mudanças em alguns estados e municípios. Com uma nova forma de gerir o Estado, vários indica-dores apresentaram melhorias.

Mas, na maioria dos casos, a reali-dade é outra. Estudos comprovam que o que se entrega de serviço é despro-porcional ao que é gasto. Comparado a outros países, o número de funcionários públicos no Brasil em relação à popula-ção deixa evidente o espaço que existe para o aumento da eficiência.

Outra forma de medir tal eficiência é comparar o quanto é gasto no objetivo final em relação ao que se perde com a burocracia. Na Fundação Amazonas, por exemplo, decidiu-se que, no míni-mo, 70% do orçamento deve ser desti-nado às atividades-fim. É uma maneira de restringir os gastos com as ativida-des-meio e a burocracia.

O fato é que o brasileiro tolera a ine-ficiência. Ao mesmo tempo, sensibiliza--se diante do que dá certo. É o caso do Inmetro, do Corpo de Bombeiros, que

têm suas atividades bem avaliadas. Não se pode passar um mandato

à base de formulação de diag-nósticos. É preciso diagnosti-car, executar e seguir adiante, sem interrupções, ao sabor da mudança de direção do vento.

O fato de ser um país abenço-ado faz com que a índole bra-

sileira seja tolerante e não tenha senso de urgência. Em países que

enfrentam algum tipo de obstáculo, o comportamento é bem diferente. É aí que mora o perigo, porque outros an-dam com mais velocidade do que nós, o que diminui nossa vantagem relativa.

Aqui, se não fizer hoje se faz amanhã. Sobram exemplos. O Rodoanel de São Paulo começou com Mario Covas, e, ao todo, vai levar mais de 20 anos para fi-car pronto. O mesmo aconteceu com o trem-bala, em discussão há pelo menos 10 anos. Seria uma obra para a Copa do Mundo, mas agora não dá mais tempo.

A agenda da competitividade tem de ser prioritária. A meta deve ser fazer melhor com os mesmos recursos ou fa-zer mais com menos. Isso será possível, por exemplo, quando se identificarem no país as melhores práticas e elas fo-rem replicadas em outras áreas. Quando isso acontecer, a melhoria da eficiência será monumental e já há, no setor públi-co, bons exemplos disso.

A presidente Dilma Rousseff de-monstrou ter grande preocupação com o tema. Como gestora do PAC, o Progra-ma de Aceleração do Crescimento, ela criou um sistema de acompanhamento e medição da execução das obras, usan-do pessoas competentes que hoje fazem parte de sua equipe.

Há no governo pessoas com sensi-bilidade para uma agenda de competiti-vidade. Mas entre fazer o diagnóstico e implantar e produzir resultados há uma distância muito grande, embora a ges-tão, em muitos casos, dependa de metas claras e objetivos definidos, para que se possam alcançar as metas projetadas. Daí o senso de urgência. Se nada for feito, provavelmente nada acontecerá a curto e a médio prazo.

Não somos um país com falta de re-cursos, mas um país com falta de capa-cidade de execução. Il

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