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Page 1: Nº 2 – Edição: Abril/Maio/Junho 2014

Geriatria & Gerontologia

Revista

Sociedade Brasileira de

Geriatria & Gerontologia

Órgão Oficial de Publicação Científ ica

EDITORIAL

É normal todo idoso apresentar incontinência urinária?

ARTIGOS ORIGINAIS

Avaliação das unidades de alimentação e nutrição em instituições de longa permanência para idosos

Prevalência da incontinência urinária em idosos de Porto Alegre-RS

Adesão ao tratamento medicamentoso da hipertensão em um programa de saúde da família

Aspectos fonoaudiológicos e qualidade de vida na doença de Parkinson: estudos de casos

Avaliação da compreensão de ícones como recurso no preenchimento do diário de ati-vidades físicas por idosos

ARTIGO DE REVISÃO

Protocolos de prevenção da incontinência urinária em idosas: revisão crítica da literatura

ISSN 1081-8289

Volume 8Número 2

Abr/Mai/Jun 2014

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EDITORIAL

É normal todo idoso apresentar incontinência urinária?..............................................................

ARTIGOS ORIGINAIS

Avaliação das unidades de alimentação e nutrição em instituições de longa permanência para idosos | Jamile Almeida Lopes, Ingrid Cardoso Fideles, Adriana Lima Mello, Anna Karla Carneiro Roriz, Vanessa Everlin Matos Faria, Magali Teresópolis Reis Amaral, Lílian Ramos Sampaio........

Prevalência da incontinência urinária em idosos de Porto Alegre-RS | Luís Henrique Telles da Rosa, Cislaine Machado de Souza, Caroline Helena Lazzarotto de Lima, Elenice da Silveira Bissigo Boggio, Fernanda Cecília dos Santos, Cristiane Carboni, Kalina Durigon Keller, Patrícia da Silva Klahr, Patricia Viana da Rosa.........................................................................................

Adesão ao tratamento medicamentoso da hipertensão em um programa de saúde da família | Tracy Kelly Dias, Antonio C. M. Godinho Netto, André Luiz Teixeira, Gabriela Soares, Flávia Passos de Almeida, Juliana Chaves Costa, Plínio Santos Ramos, Djalma Rabelo Ricardo.......................

Aspectos fonoaudiológicos e qualidade de vida na doença de Parkinson: estudos de casos | Gabriela Ribeiro Schilling, Arlete Hilbig, Maria Cristina Cardoso..................................................

Avaliação da compreensão de ícones como recurso no preenchimento do diário de atividades físicas por idosos | Rosemary Rauchbach, Neila Maria de Souza Wendling, Anderson Paulo Scorsato, Ayrton Scorsato Neto, Estélio Henrique Martin Dantas................................................

ARTIGO DE REVISÃO

Protocolos de prevenção da incontinência urinária em idosas: revisão crítica da literatura | Mariana Gagliardi Pinceli, Ana Silvia Moccellin ...................................................................

INSTRUÇÕES AOS AUTORES..................................................................................................

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ISSN 1081-8289

Volume 8Número 2

Abr/Mai/Jun 2014

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A SBGG empenha-se diariamente em proporcionar aos especialistas as melhores ferramentas de cuidados para os idosos. Com seus projetos, oferece a contínua atualização profissional de seus associados, para que todos tenham aprimoramento da qualificação técnica e científica.

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EDITORIAL

Base Editorial

Av. Copacabana, 500 sala 609/610, Copacabana 22020-001 – Rio de Janeiro.

e-mails: [email protected] / [email protected]

No estudo SABE (Saúde, Bem-Estar e Envelhe-cimento - Cad. Saúde Pública, 2009, 25(8):1756), a prevalência de incontinência urinária (IU) em idosos residentes na cidade de São Paulo foi de 11,8% para os homens e 26,2% para as mulheres. Nesses idosos, os fatores associados à IU foram depressão (odds ratio = 2,49), sexo feminino (2,42), idade avançada (2,35) e limitação funcional importante (2,01). Nesta edição, Rosa et al. avaliaram 401 idosos (65 anos ou mais) residentes em um bairro na cidade de Porto Alegre e encontraram uma frequência maior de IU – 32%, sendo 15,5% para os homens e 37,9% para as mulheres. Foi identificado também um impacto negativo na qualidade de vida, sobretudo dos 90 aos 99 anos. Pinceli et al. fazem uma revisão da literatura e encontram que sessões de treinamento da bexiga e da musculatura do assoalho pélvico, além da modi-ficação de comportamento, foram intervenções bené-ficas na prevenção da IU. O envelhecimento é acom-panhado de modificações na musculatura pélvica e no aparelho urinário, o que contribui para o aumento de risco da IU. No entanto, essa não deve ser consi-derada uma manifestação “normal” do envelheci-mento. Muitas vezes, é dada pouca importância a essa questão na rotina assistencial, justamente porque o idoso interpreta como um fenômeno inevitável e constrangedor. É possível haver causas agudas de IU (infecção urinária, medicamentos, hiperglicemia, hipercalcemia, impactação fecal, etc.) e crônicas (IU de esforço, urgência, transbordamento, funcional e mista), sendo que algumas delas são evitáveis ou tratá-veis. O tratamento é comportamental e, dependendo da causa, pode-se também indicar fármaco ou trata-mento cirúrgico. Percebemos que a prevalência é alta e, quando abordamos a questão, temos a possibilidade de avaliar, tratar e modificar o impacto que ela causa nas atividades e na qualidade de vida dos idosos.

Maysa Seabra CendorogloEditora-chefe

É normal todo idoso apresentar incontinência urinária?

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REvIsTA GERIATRIA & GEROnTOLOGIA

Editora-chefeMaysa Seabra Cendoroglo – São Paulo, Brasil (Unifesp)

CONSELHO EDITORIAL NACIONAL

Editores AssociadosJoão Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC)Júlio César Moriguti – Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP)Milton Luiz Gorzoni – São Paulo, Brasil (FCMSC-SP)Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG)Wilson Jacob Filho – São Paulo, Brasil (USP)

Editores ExecutivosJoão Senger – Novo Hamburgo, BrasilKarla Cristina Giacomin – Belo Horizonte, BrasilMaria do Carmo Lencastre Lins – Recife, BrasilMonica Rodrigues Perracine – São Paulo, Brasil

Adriano César B. S. Gordilho – SalvadorAna Amélia Camarano – Rio de JaneiroÂngelo Boss – Porto AlegreAnnette Leibing – Rio de JaneiroAnita Libetalesso Néri – CampinasCláudia Burlá – Rio de JaneiroClineu de Mello Almada Filho – São PauloEdgar Nunes de Moraes – Belo Horizonte Eduardo Ferriolli – Ribeirão PretoEliane Jost Blessmann – Porto AlegreElisa Franco de Assis Costa – GoiâniaElizabete Viana de Freitas – Rio de JaneiroEmilio H. Moriguchi – Porto AlegreEmilio Jeckel Neto – Porto AlegreFlávio Chaimowicz – Belo HorizonteGuita Grib Debert – CampinasIvete Berkenbrock – CuritibaJoão Carlos Barbosa Machado – Belo HorizonteJoão Marcos Domingues Dias – Belo HorizonteJoão Toniolo Neto – São PauloJohannes Doll – Porto AlegreJosé Elias S. Pinheiro – Rio de JaneiroKarla Cristina Giacomin – Belo HorizonteKátia Magdala L. Barreto – RecifeLaura Mello Machado – Rio de JaneiroLeani Souza Máximo Pereira – Belo Horizonte

Ligia Py – Rio de JaneiroLuiz Eugênio Garcez Leme – São PauloLuiz Roberto Ramos – São PauloMaira Tonidandel Barbosa – Belo HorizonteMarcella Guimarães A. Tirado – Belo HorizonteMarcos Aparecido Sarria Cabrera – LondrinaMaria Fernanda Lima-Costa – Belo HorizonteMaurício Gomes Pereira – BrasíliaMaurício Wajngarten – São PauloMyrian Spínola Najas – São PauloNaira Dutra Leme - São PauloNewton Luiz Terra – Porto AlegrePaulo Hekman – Porto AlegreRenato Maia Guimarães – BrasíliaRenato Moraes Fabbri – São PauloRicardo Komatsu – MaríliaRoberto Dischinger Miranda – São PauloRômulo Luiz de Castro Meira – SalvadorSérgio Márcio Pacheco Paschoal – São PauloSilvia Maria Azevedo dos Santos – FlorianópolisSônia Lima Medeiros – São PauloTereza Loffredo Bilton – São PauloToshio Chiba – São PauloTulia Fernanda Meira Garcia – FortalezaUlisses Gabriel Vasconcelos Cunha – Belo HorizonteVânia Beatriz M. Herédia – Porto Alegre

Andrea Caprara – Roma, ItáliaAntony Bayer – Cardiff, Reino UnidoDavid V. Espino – San Antonio, EUAJay Luxenberg – San Francisco, EUAJeanne Wei – Little Rock, EUA

Masatoshi Takeda – Osaka, JapãoPaulo Henrique M. Chaves – Baltimore, EUARoberto Kaplan – Buenos Aires, ArgentinaSergio Ariño Blasco – Barcelona, Espanha

Indexada na LATINDEX (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal).

Direção executiva e comercial: Silvio Araujo | André Araujo

Coordenação comercial: Cristiana Domingos

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Contatos: www.acfarmaceutica.com.br

São Paulo – (11) 5080.0770 | Rio de Janeiro – (21) 3543.0770

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na internet e

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editora nem do laboratório, que apenas patrocina sua distribuição à classe médica. Esta publicação contém publicidade de medicamentos sujeitos à prescrição, sendo destinada exclusivamente

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Esta é uma publicação

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CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL

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REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA | 97

DIRETORIA nAcIOnAL DA sBGG

Presidente Nezilour Lobato Rodrigues (PA)1o Vice-PresidentePaulo Renato Canineu (SP)Pres. Depto. GerontologiaMariana Asmar Alencar (MG)Secretária GeralAna Lúcia de Sousa Vilela (RJ)Secretária AdjuntaLeila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)TesoureiroDaniel Kitner (PE)Diretora CientíficaMaria Alice Vilhena de Toledo (DF)Diretora de Defesa ProfissionalSilvia Regina Mendes Pereira (RJ)Conselho ConsultivoMaria Angélica dos Santos Sanches (RJ)Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR)Paulo Roberto Cardoso Consoni (RS)Conselho Consultivo PlenoAdriano Cesar Gordilho (BA)Antonio Jordão Neto (SP)Eliane Jost Blessmann (RS)Elisa Franco de Assis Costa (GO)Elizabete Viana de Freitas (RJ)Flavio Aluizio Xavier Cançado (MG)João Carlos Barbosa Machado (MG)Jussara Rauth (RS)Laura Melo Machado (RJ)Margarida Santos (PE)Maria Auxiliadora Cursino Ferrari (SP)Marianela Flores de Hekman (RS)Myrian Spínola Najas (SP)Paulo Cesar Affonso Ferreira (RJ)Renato Maia Guimarães (DF)Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)Sonia Maria Rocha (RJ)Tereza Bilton (SP)Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP)Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG)Nezilour Lobato Rodrigues (PA)Mariana Asmar Alencar (MG)Marianela Flores de Hekman (RS)Comissão de NormasPresidente: Marianela Flores de Hekman (RS)Adriano Cesar Gordilho (BA)Eliane Jost Blessmann (RS)Elisa Franco de Assis Costa (GO)Elizabete Viana de Freitas (RJ)Jussara Rauth (RS)

Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)Comissão de Ética e Defesa ProfissionalPresidente: Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)Adriano Cesar Gordilho (BA)Carlos Roberto Takayassu (MT)Cristiane Ribeiro Maués (PA)Emylucy de Paiva Paradela (RJ)Gelson Rubem A. Almeida (MG)Janaína Alvarenga Rocha (ES)João Senger (RS)Jussimar Mendes de Aquino (MS)Katíuscia Karine Martins da Silva (AL)Marcelo Azevedo Cabral (PE)Marcelo de Faveri (DF)Mariste Mendes Rocha (PB)Rangel Osellame (SC)Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR)Rosina Ribeiro Gabriele (CE)Tassio José D. Carvalho Silva (SP)Yara Maria Cavalcante de Portela (MA)Comissão de ComunicaçãoPresidente: Salo Buksman (RJ)Fabio Falcão de Carvalho (BA)Ivete Berkenbrock (PR)Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)Leani de Souza M. Pereira (MG)Marcela Guimarães Assis (MG)Renato Moraes A. Fabbri (SP) Comissão de Cuidados Paliativos Presidente: Daniel Lima Azevedo (RJ)Isadora Crosara Alves Teixeira (GO)Claudia Burlá (RJ)Johannes Doll (RS)José Francisco Pinto de Almeida Oliveira (RJ)Josecy Maria S. Peixoto (BA)Laiane Moraes Dias (PA)Ligia Py (RJ)Lucia H.Takase Gonçalves (SC)Maristela Jeci dos Santos (SC)Toshio Chiba (SP)Comissão de Título de GeriatriaPresidente: Elisa Franco de Assis Costa (GO)Adriano Cesar Gordilho (BA)Karlo Edson Carneiro Santana Moreira (PA)Livia Terezinha DEVENS (ES)Maira Tonidandel Barbosa (MG)Maria do Carmo Lencastre de M.E C. D.Lins (PE) Paulo José Fortes Villas Boas (SP)Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR)Veronica Hagemeyer Santos (RJ)Comissão de Título de GerontologiaPresidente: Cláudia Fló (SP)

Jordelina Schier (SC)Marisa Accioly R. da C. Domingues (SP)Tulia Fernanda Meira Garcia (CE)Viviane Lemos Silva Fernandes (GO)Comissão de Formação Profissional e Cadastro Geriatria Veronica Hagemeyer Santos (RJ)Gerontologia Maria Celi Lyrio Crispim (RJ)Comissão de InformáticaCoordenador: Rodrigo Martins Ribeiro (RJ)Representante Institucional COMLAT-Diretora da Área de Educação Marianela Flores de Hekman (RS)CNA Elizabete Viana de Freitas (RJ)CNDI Jussara Rauth (RS)Comissão Científica de GeriatriaPresidente: Maria Alice Vilhena de Toledo (DF)Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso (SP)Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ)Daniel Apolinário (SP)Edgar Nunes de Moraes (MG)Einstein Francisco de Camargos (DF)Jacira do Nascimento Serra (MA)Juliana Junqueira M. Teixeira (GO)Jussimar Mendes de Aquino (MS)Luiz Antonio Gil Junior (SP)Maisa Carla Kairalla (SP)Marco Polo Dias Freitas (DF)Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR)Maria Fernanda Coelho Moreira Costa (PA)Monica Hupsel Frank (BA)Rubens de Fraga Junior (PR)Comissão Científica de GerontologiaPresidente: Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)Ana Elizabeth dos Santos Lins (AL)Leonor Campos Mauad (SP) Ligia Py (RJ)Márcia Carrera Campos Leal (PE)Maria Angélica dos S.Sanchez (RJ)Maria Izabel Penha de o. Santos (PA)Otávio de Toledo Nobrega (DF)Rosângela Corrêa Dias (MG)Vania Beatriz M. Herédia (RS)Comissão de Avaliação de Divulgação de Assuntos e Eventos CientíficosLeila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)Ligia Py (RJ)Maria Alice Vilhena de Toledo (DF)Marianela Flores de Hekman (RS)Comissão de Políticas Públicas Marilia Anselmo V. da S. Berzins (SP)Comissão de PublicaçõesEditora-Chefe: Maysa Seabra Cendoroglo (SP)

ALAGOAS Presidente: Helen Arruda Guimarães2o Vice-Presidente: Ana Elizabeth LinsDiretor Científico: Oswaldo da Silva Liberal

BAHIA Presidente: Rômulo Meira2o Vice-Presidente: Fábio FalcãoDiretor Científico: Lucas Kuhn Prado

CEARÁ Presidente: João Bastos Freire Neto2a Vice-Presidente: Lucila Bonfim Lopes PintoDiretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho

DISTRITO FEDERAL Presidente: Marco Polo Dias Freitas2o Vice-Presidente: Vicente de Paula FaleirosDiretor Científico: Leonardo Pitta

ESPÍRITO SANTO Presidente: Roni Chaim Mukamal2o Vice-Presidente: Neidil Espinola da CostaDiretora Científica: Daniela Souza Gonçalves Barbieri

GOIÁS Presidente: Isadora Crosara Alves Teixeira2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva FernandesDiretor Científico: Ricardo Borges da Silva

MARANHÃOPresidente: Jacira do Nascimento Serra2o Vice-Presidente: Adriano Filipe Barreto GrangeiroDiretores Científicos: Herberth Vera Cruz Furtado Marques Júnior e Margareth de Pereira de Paula

MATO GROSSO DO SUL Presidente: José Roberto PelegrinoDiretora Científica: Marta Dreimeier

MATO GROSSO Presidente: Roberto Gomes de Azevedo2a Vice-Presidente: Roseane MunizDiretora Científica: Janine Nazareth Arruda

MINAS GERAIS Presidente: Rodrigo Ribeiro dos Santos2a Vice-Presidente: Marcella Guimarães AssisDiretora Científica: Maria Aparecida Camargos Bicalho

PARÁ Presidente: Karlo Edson Carneiro Santana Moreira2a Vice-Presidente: Maria Izabel Penha de O. SantosDiretor Científico: João Sergio Fontes do Nascimento

PARAÍBA Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas2a Vice-Presidente: Mirian Lucia TrindadeDiretor Científico: João Borges Virgolino

PARANÁ Presidente: Debora Christina de lacantara Lopes2a Vice-Presidente: Rosemary RauchbachDiretor Científico: Breno Barcelos Ferreira

PERNAMBUCO Presidente: Alexsandra Siqueira Campos2a Vice-Presidente: Luisiana Lins LamourDiretor Científico: Sergio Murilo Fernandes

RIO DE JANEIRO Presidente: Rodrigo Bernardo Serafim2a Vice-Presidente: Maria Angélica dos S. Sanchez Diretor Científico: Tarso Lameri Sant’Anna Mosci

RIO GRANDE DO SUL Presidente: Ângelo José Bos2a Vice-Presidente: Vania HerediaDiretor Científico: Paulo Roberto Cardoso Consoni

SANTA CATARINA Presidente: Paulo Cesar dos Santos Borges2a Vice-Presidente: Silvia Maria Azevedo do SantosDiretora Científica: Nagele Belettini Hahn

SÃO PAULO Presidente: Renato Moraes Alves Fabbri2a Vice-Presidente: Valmari Cristina AranhaDiretora Científica: Maisa Carla Kairalla

DIRETORIAs DAs sEçõEs EsTADuAIs DA sBGG

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resumoObjetivo: Avaliar as condições estruturais e higiênico-sanitárias das Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) nas instituições de longa permanência para idosos (ILPI) na cidade de Salvador, Bahia. Métodos: Utilizou-se o instrumento adaptado da lista de verificação das Boas Práticas de Fabricação – checklist, da RDC n° 275/02. Os itens avaliados subdividiram-se em cinco blocos e as ILPI foram classificadas segundo o percentual de atendimento dos itens investigados. Resultados: Das 14 ILPI avaliadas, apenas uma atingiu adequação em mais de 75% dos itens analisados, e a grande maioria das instituições atendeu a menos de 50% dos itens da lista de verificação. O bloco 5, referente à documentação das boas práticas, apresentou 79,5% de não conformidade, seguido pelo bloco 3, dos manipuladores, com 56,1%, evidenciando a necessidade da oferta de treinamento em boas práticas. A ausência de nutricionista foi identificada na maioria das ILPI. Conclusão: Grande parte das UAN avaliadas apresentou aspectos estruturais e higiênico-sanitários inadequados, o que poderá influenciar no estado de saúde e nutrição dos idosos. Há necessidade de elaboração e validação de um checklist específico para as ILPI.

EvALuATIOn Of fOOD AnD nuTRITIOn unITIEs In HOmEs fOR THE AGED

abstract Objective: This study had the objective of evaluating the structural and hygienic and sanitary conditions of Food and Nutrition Unities (FNUs) in Homes for the Aged (HAs) on the City of Salvador-Ba. Methods: For data collec-tion was used the instrument adapted from the Check List of Good Manufacturing Practices of RDC number 275/02. The evaluated items were subdivided in 5 blocks and the LTEIs were classified according to assistance percentage of the investigated items. Results: From the 14 evaluated HAs, only one was classified in group 1, reaching adequacy in more than 75% of the analyzed items and the majority of institutions complied with less than 50% of the checklist items. Block 5 referring to Good Practices documentation had higher noncompliance value with 79.50%, followed by Block 3, of handlers, with 56.10%, evidencing the need to offer training in good practices. The absence of the pro-fessional nutritionist was identified in most of the HAs. Conclusion: Most of the evaluated FNUs had inadequate structural and hygienic and sanitary aspects, which may influence the health and nutritional state of the elderly. It is needed to elaborate and validate an specific check-list for HAs.

aPrograma de Pós-graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde.bCentro de Estudo e Intervenção na Área de Envelhecimento da UFBA.cEscola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia.dUniversidade Estadual de Feira de Santana.

dados para correspondênciaLílian Ramos Sampaio – Endereço: Avenida Araújo Pinho, 32 – Canela. Cep: 40.110-150. Salvador – BA.Tel/fax: (71) 3283-7719. E-mail: [email protected]

AvALIAçãO DAs unIDADEs DE ALImEnTAçãO

E nuTRIçãO Em InsTITuIçõEs DE LOnGA

PERmAnêncIA PARA IDOsOsJamile Almeida Lopesa,b,

Ingrid cardoso fidelesb,c, Adriana Lima mellob,c,

Anna Karla carneiro Rorizb,c, vanessa Everlin matos fariab,c,

magali Teresópolis Reis Amarald,e, Lílian Ramos sampaioa,b

artigo or iginal

Palavras-chave Checklist.

Instituições de longa permanên-

cia para idosos. Legislação sobre

alimentos.

KeywordsChecklist. Homes

for the Aged. Food legislation.

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Alimentação em instituições geriátricas | 99

introduÇÃoO cenário caracterizado pelo envelhecimento das popu-lações configura um importante desafio a ser cumprido pelos serviços de saúde e pela sociedade, principalmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos passou de 15,5 milhões, em 2001, para 23,5 milhões em 2011, correspondendo a 24,5% da população brasileira com 60 anos ou mais.1-4

O aumento na expectativa de vida, aliado à nova es-trutura das famílias brasileiras (com redução do número de membros), a inserção da mulher no mercado de tra-balho e seu acúmulo de funções têm propiciado a oferta e demanda crescentes de instituições de longa perma-nência para idosos (ILPI).5,6

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),7 ILPI são instituições governamen-tais ou não governamentais, de caráter residencial, des-tinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania.

Dos aspectos que devem ser considerados com re-lação à atenção à saúde dos idosos institucionalizados, a nutrição requer destaque, uma vez que parece ser in-fluenciada pelas modificações sociais, econômicas, psi-cológicas e pela alimentação ofertada nas instituições, a qual pode interferir na qualidade de vida dos indivíduos, bem como na sua reabilitação a curto prazo.8,9

Nesse contexto, a qualidade da alimentação oferecida aos idosos institucionalizados é um dos fatores deter-minantes da sua condição de saúde, sobretudo porque, nessa fase, ocorrem mudanças fisiológicas importantes e maior índice de morbidade.10,11 De acordo com a Portaria n° 810/89, do Ministério da Saúde, que estabelece nor-mas para o funcionamento de instituições destinadas ao atendimento de idosos, a produção das refeições ofereci-das a eles é de responsabilidade da própria instituição,12 considerando os aspectos culturais locais e todas as eta-pas da cadeia produtiva da UAN (manipulação, prepa-ração, fracionamento, armazenamento e distribuição).13

A avaliação das condições estruturais e higiênico-sanitá-rias pode ser feita por meio da lista de verificação das Boas Práticas, mais conhecida como checklist, da RDC nº 275/02,14 a qual permite o levantamento dos pontos que apresentam inconformidade, facilitando, assim, a tomada de decisões, me-didas de prevenção e correção necessárias que possam, de al-guma forma, comprometer a qualidade dos alimentos e, con-sequentemente, a saúde da coletividade.15,16 Diante do exposto, este artigo objetiva avaliar as condições estruturais e higiênico-sanitárias das UAN das ILPI na cidade de Salvador, Bahia.

mÉtodosEste artigo trata-se de um estudo transversal, parte de um projeto maior intitulado “Avaliação Multidimensional

dos Idosos Residentes em Instituições de Longa Permanência na cidade de Salvador-BA”, com coleta de dados primários em ILPI públicas e privadas e situadas na zona urbana de Salvador.

Das 18 instituições selecionadas, 14 participaram do presente estudo, representando oito distritos sanitários dos 10 em Salvador que possuem ILPI. Houve a recusa de duas instituições; duas outras foram excluídas, pois o preparo da alimentação era realizado fora dali, por uma empresa terceirizada.

A coleta de dados foi realizada nas UAN das ILPI en-tre os meses de novembro de 2012 e outubro de 2013, pe-la equipe do Centro de Estudo e Intervenção na Área de Envelhecimento (CEIAE) da Universidade Federal da Bahia.

Foi utilizada a lista de verificação das Boas Práticas de Fabricação em estabelecimentos produtores/indus-trializadores de alimentos – mais popularmente conhe-cida como checklist, que compõe a RDC n° 275, de 21 de outubro de 2002,14 adaptada para ser aplicada nas ILPI neste estudo. O checklist foi aplicado por meio de visitas periódicas realizadas nas instituições por nutricionista e estagiários de Nutrição, com a complementação de ano-tações feitas por observações das condições estruturais, da cadeia produtiva das refeições nas UAN e entrevistas com responsáveis pela instituição para obter algumas informações impossíveis de serem obtidas apenas pela observação da área física.

Nesse checklist adaptado, não foram incluídos os itens 4.3, 4.5 e 5.2.8 e seus subitens por não serem pertinentes para ILPI. As opções de respostas foram SIM, quando o item foi conforme; NÃO, quando o item não foi confor-me e NÃO SE APLICA, nos casos em que o quesito não se fez presente na ILPI.

Sendo assim, foram avaliados 148 itens divididos em cinco blocos: bloco 1 – Edificações e Instalações (79 itens); bloco 2 – Equipamentos, Móveis e Utensílios (21 itens); bloco 3 – Manipuladores (14 itens); bloco 4 – Produção e Transporte do Alimento (19 itens); e bloco 5 – Documentação (15 itens). Para cada instituição foi utilizada a seguinte fórmula, para a obtenção do percen-tual de atendimento às normas:17

% atendimento = Total de SIM × 100 Total de itens – Itens NÃO SE APLICA

Conforme atendimento dos itens investigados, as ILPI foram classificadas em: grupo 1 (76-100% de aten-dimento); grupo 2 (51-75% de atendimento); grupo 3 (0-50% de atendimento), conforme critérios estabelecidos pela RDC n° 275/2002.14

Todos os dados foram processados com o auxílio do Programa Microsoft Excel versão 2007 e apresenta-dos sob a forma de frequência simples. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola de Nutrição da UFBA (CEPNUT), registrado sob o n° 11/12.

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100 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

Para a realização do estudo, foi solicitada previamente a autorização das ILPI, concedida por seus respectivos di-retores e/ou responsáveis administrativos. Todos os dados foram devolvidos às instituições sob a forma de relatórios impressos, apresentações e discussões presenciais.

resultadosAs 14 UAN avaliadas foram codificadas para fins de apre-sentação dos resultados com letras do alfabeto de A a N. Os percentuais de adequação e classificação das UAN das ILPI, segundo checklist, são apresentados na Tabela 1.

Com relação à natureza jurídica, as ILPI foram clas-sificadas em Instituição Filantrópica Religiosa (1 ILPI), Filantrópicas Leigas (4 ILIPs) e Privadas (9 ILPIs).18

Os percentuais de adequação das UAN analisadas va-riaram de 19 a 78,4%, com média de 48,32%. As UAN das instituições B, I e N foram as que apresentaram pio-res resultados, atingindo valores de 29,7; 23,3 e 19%, res-pectivamente. Essas UAN foram as que menos atende-ram aos itens do checklist aplicado. A instituição D foi a que apresentou maior percentual de adequação dos itens avaliados, com 78,4% (Tabela 1). Essa instituição é de caráter privado e possui nutricionista como responsável técnico em período integral.

De acordo com a porcentagem de atendimento aos itens analisados, observa-se que 57,2% das instituições avaliadas se encontravam no grupo 3, o que significa que atendiam a menos de 50% das especificações previstas nas normas da legislação, seguida por 35,7% no grupo 2 e 7,1% no grupo 1, representado por apenas uma institui-ção, atendendo de 76 a 100% das especificações, conside-rado ideal para um serviço de alimentação e nutrição.

De acordo com a natureza jurídica, as Instituições Filantrópicas Leigas apresentaram percentual de adequa-ção entre 0 e 50% (grupo 3) e a Instituição Filantrópica Religiosa no grupo 2. Entre as Instituições Privadas, 44,4% faziam parte dos grupos 3 e 2 e apenas 11,2% do grupo 1.

Buscando uma melhor caracterização dos resultados com relação à adequação das UAN, os dados foram ana-lisados em função dos blocos de categorização dos itens avaliados, conforme Figura 1. Nele, foi possível observar que o bloco 2, que trata da avaliação dos equipamentos, móveis e utensílios, foi o que apresentou maior percen-tual médio de conformidade, obtendo 59,2% de adequa-ção. Na maioria das instituições avaliadas, foi possível observar equipamentos de fácil manuseio e conservação. Em contrapartida, as inadequações mais frequentes fo-ram observadas nos blocos 3 e 5.

O bloco 3, referente aos manipuladores, apresentou 56,1% de inconformidade. Observou-se que os mani-puladores conversavam e por vezes cantavam durante a manipulação dos alimentos, utilizavam adornos, não realizavam lavagem das mãos na troca de atividades, e, na maioria das instituições, os manipuladores não fa-ziam uso de uniforme adequado para a atividade e nem de equipamentos de proteção individual (EPI). Além disso, observou-se que a maioria das instituições não disponibilizava material educativo acerca da higieni-zação das mãos e não havia programas de capacitação nem a supervisão de um responsável técnico. Metade das instituições visitadas não realizava acompanhamento do estado de saúde dos manipuladores.

O bloco 5, referente à documentação relacionada às boas práticas de manipulação, com a inclusão do Manual de Boas Práticas (MBP) e Procedimentos Operacionais

tabela 1 Caracterização das Unidades de Alimentação e Nutrição de Instituições de Longa Permanência para Idosos, segundo o distrito sanitário, a natureza jurídica e adequação às boas práticas de manipulação. Salvador, BA. 2013

distrito sanitário instituição* natureza jurídica conforme não conforme não se aplica adequação (%) classificação**

01 a Filantrópica leiga 55 74 19 42,6 Grupo 3

02

b privada 36 85 27 29,7 Grupo 3

c Filantrópica religiosa 73 59 16 55,3 Grupo 2

d privada 109 30 09 78,4 Grupo 1

03 e privada 94 39 15 70,7 Grupo 2

04F Filantrópica leiga 45 91 12 33,1 Grupo 3

G privada 82 49 147 62,6 Grupo 2

05H privada 81 56 11 59,1 Grupo 2

i privada 31 102 15 23,3 Grupo 3

06J privada 48 81 19 37,2 Grupo 3

K privada 99 33 16 75,0 Grupo 2

07 l privada 59 73 16 44,7 Grupo 3

08m Filantrópica leiga 61 72 15 45,9 Grupo 3

n Filantrópica leiga 25 107 16 19,0 Grupo 3

* As 14 UAN avaliadas foram classificadas com letras do alfabeto de A a N.**Grupo 1 (76-100%), grupo 2 (51-75%), grupo 3 (0-50%), de acordo com classificação da RDC n° 275/2002 – Anvisa.13

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Alimentação em instituições geriátricas | 101

Padronizados (POP), foi o que apresentou maior valor de inconformidade (79,5%). Do total das instituições vi-sitadas, apenas quatro possuíam MBP e POP, sendo que três apresentaram os POP incompletos (Figura 1).

Quanto à questão estrutural referente ao bloco 1 (Edificações e Instalações), a maioria das UAN estava instalada em cozinhas do tipo domésticas adaptadas e sem divisão por setores. Verificou-se ausência ou insa-tisfatório sistema de drenagem, falta de lavatórios para a prática de higienização das mãos pelos funcionários, presença de danos estruturais nos revestimentos como pisos quebrados ou rachados, tetos e paredes com racha-duras, inexistência de cantos arredondados nas arestas das paredes, ausência de telas milimetradas na maioria das aberturas de ventilação e acesso comum para a habi-tação e a área de produção das refeições.

Ainda em relação às edificações e instalações, a maioria das UAN estava localizada no pavimento térreo, considerado o local preferencial devido à facilidade de acesso dos fornecedores, manutenção de equipamentos e remoção do lixo.

Quanto ao item produção e transporte dos alimentos, referente ao bloco 4, foram observadas algumas irregula-ridades. Constatou-se falta de separação dos locais para pré-preparo e preparo dos alimentos – aspecto verifica-do em 85,71% das instituições, que apresentavam área de produção única, ou seja, sem divisão dos setores, o que não proporcionava um fluxo de produção ordenado, linear e sem cruzamentos. Observou-se também falta de controle de qualidade do produto final em 64,28% das unidades estudadas. De todas as instituições, 94,85% não realizavam a retirada de amostra das preparações para análise. Outras inconformidades observadas nesse bloco foram a falta de inspeção e controle de temperatura das matérias-primas no recebimento e a falta de controle da circulação e do acesso de outras pessoas que não fazem parte do quadro responsável pela produção das refeições.

discussÃoEsta pesquisa é um estudo inédito com amostra repre-sentativa das ILPI de uma capital brasileira no qual fo-ram avaliadas as condições estruturais e higiênico-sani-tárias das UAN dessas instituições.

Medidas de prevenção e controle devem ser adotadas durante todas as etapas da produção para garantir que os alimentos produzidos estejam seguros para o consumo por meio das Boas Práticas de Fabricação (BPF).15 Neste estudo, observou-se que o grau de atendimento às BPF, na maioria das instituições, estava aquém do preconiza-do pela Anvisa.14

Toral et al.,20 ao analisarem cinco ILPI localizadas no Distrito Federal, encontraram resultados inferiores a 75% de adequação para todas as instituições avaliadas nos itens re-lacionados às condições estruturais e ambientais do setor de produção. Com relação à adequação das condições de higie-ne, foi verificada uma variação entre 0 e 75%, ressaltando que somente uma unidade alcançou o maior percentual.

Entre os itens analisados no bloco 1, de edificações e instalações, no presente estudo, 47,7% atendiam aos pré-requisitos da legislação vigente. Embora tendo avaliado apenas uma instituição, outros autores1 verificaram con-formidade em 53,7% dos itens desse bloco.

A maioria das UAN das instituições avaliadas neste estudo é resultado de adaptações de casas já existentes, apresentando cozinhas domésticas, o que justifica mui-tas das irregularidades discutidas no quesito edificações e instalações. Por esse motivo, as ILPI não apresentavam acesso direto às UAN, mas sim comum à habitação, o que favorece o aumento do risco de contaminação de alimen-tos e influencia no estado de saúde e nutrição dos idosos. Viana,21 após avaliação das UAN em 36 ILPI na cidade de São Paulo, verificou que as áreas de produção caracteri-zavam-se em sua totalidade pela existência de “cômodos únicos”, também denominados cozinha, e que não apre-sentavam uma separação física das áreas de preparo.

20,5%

25,6%

43,4%

59,2%

47,7%

79,5%

56,1%

39,8%

38,9%

0,0%

0,5%

1,0%

13,4%

26,7%

Conforme Não conforme Não se aplica

Bloco 05 - Documentação

Bloco 04 - Produção e transporte do alimento

Bloco 03 - Manipuladores

Bloco 02 - Equipamentos, móveis e utensílios

Bloco 01 - Edi�cações e instalações

47,7%

Figura 1 Percentual de conformidade dos blocos de itens avaliados do checklist nas unidades de alimentação e nutrição das ILPI. Salvador, BA. 2013.

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102 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

O bloco referente a equipamentos, móveis e uten-sílios foi o que apresentou maior número de itens ade-quados à legislação, com 59,2%. Isso pode ser justificado principalmente pelas características de produção nessas instituições, que, em geral, apresentavam um número pequeno de refeições, com uma média de 183 ao dia por instituição, não demandando grande quantidade de equipamentos para atendimento às necessidades da produção. Esses resultados refletem que, em geral, as instituições avaliadas atendem às exigências da RDC n° 216/04, a qual preconiza que esses itens devem ser man-tidos em condições higiênico-sanitárias adequadas, e as operações de higienização devem ser realizadas por fun-cionários com capacitação comprovada.22

O bloco 3, dos manipuladores, foi um dos blocos que apresentou maior número de inconformidade, sobretu-do quanto aos cuidados higiênico-sanitários, o que ca-racteriza risco de contaminação dos alimentos. Muitas dessas inadequações também foram evidenciadas no es-tudo de Semprebom et al.,1 como a falta de treinamento quanto às BPF e não padronização dos uniformes dos funcionários. Viana21 também verificou que 82,9% das instituições não ofereciam treinamento nas UAN.

Quanto à produção e transporte do alimento, referen-te ao bloco 4, a área única para pré-preparo e preparo dos alimentos foi um dos itens que mais contribuiu para a baixa pontuação, comprometendo o fluxo de produção como um todo. Isso é reflexo, mais uma vez, da adaptação das ILPI em casas antigas e que, portanto, não foram projetadas para esse tipo de atividade. No que se refere ao controle de qualida-de do produto final e retirada de amostra, acredita-se que a ausência de nutricionista, inexistência de treinamentos, ca-pacitação ou mesmo um programa de educação continua-da, contribuam para o resultado insatisfatório desses itens. A presença de nutricionista foi encontrada em apenas três das 14 instituições avaliadas neste estudo. Toral et al.20 identificou a ausência de nutricionista em todas as instituições avaliadas. Viana21 verificou a presença de apenas 11 nutricionistas em 117 instituições estudadas. Outros estudos também tiveram resultados semelhantes,23,24 o que sugere uma maior probabi-lidade de inadequação quanto à legislação e às recomenda-ções nutricionais preconizadas para indivíduos idosos.

O nutricionista é o responsável por elaborar, acom-panhar e supervisionar o MBP e os POP, documentos formais da UAN, em que são descritos os procedimen-tos para as diferentes etapas de produção de alimentos e refeições e prestação de serviço de nutrição, além das especificações dos padrões de identidade e qualidade adotados pelo serviço, evitando erros.25 Ademais, cabe a esse profissional adequar a alimentação a todas as necessidades inerentes à idade e às especificidades in-dividuais, elaboração de cardápios e coordenação do setor de produção.

Portanto, este estudo evidenciou que a maio-ria das UAN das ILPI visitadas apresentou aspec-tos estruturais e higiênico-sanitários inadequados. Constatou-se ainda a falta de capacitação e quali-ficação dos manipuladores de alimentos e, princi-palmente, a ausência do profissional de Nutrição. A alimentação segura do ponto de vista nutricional e higiênico-sanitária nas instituições geriátricas ne-cessita ser garantida e os órgãos sanitários possuem papel fundamental na geração de ações que promo-vam a melhoria do setor de alimentação e nutrição, fortalecendo o binômio dieta/saúde.

Por fim, a elaboração de um checklist específico para avaliação em instituições é recomendada, evitando-se, assim, ajustes inadequados dos itens existentes e ausên-cia de aspectos inerentes ao processo de produção de ali-mentação nesse ambiente.

A escassez de trabalhos que avaliaram as condições higiênico-sanitárias de UAN das ILPI limitou as possibi-lidades de comparação dos resultados encontrados.

conclusÃoA maioria das UAN avaliadas apresentou aspectos estru-turais e higiênico-sanitários inadequados, o que poderá influenciar no estado de saúde e nutrição dos idosos.

conFlito de interesseOs autores declaram não haver potenciais conflitos de interesse.

reFerências1. Semprebom KA, Ribeiro CSG. Análise da estrutura física, opera-

cional e organizacional de uma Unidade de Alimentação e Nutrição de uma Instituição Geriátrica, Maringá, PR. Nutrire Rev Soc Bras Aliment Nutr. 2005;30:53-65.

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Bras Geriatr Gerontol. 2008;11(1):29-44.6. Camarano AA, Kanso S. Envelhecimento da população brasileira:

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define normas de funcionamento para as Instituições de Longa Permanência para Idosos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília (DF): 27 set. 2005. Seção 1, p. 58-9.

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Alimentação em instituições geriátricas | 103

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13. Secretária do Estado de Saúde. Superintendência de Vigilância em Saúde. Diretoria de Vigilância Sanitária. Segurança Sanitária para Instituições de Longa Permanência para Idosos. 2.ed. Estado de Santa Catarina, Outubro, 2009.

14. RDC nº 275/2002 Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Proce-dimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabeleci-mentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação de Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília (DF): 23 out. 2002.

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20. Toral N, Gubert MB, Schimitz BAS. Perfil da alimentação ofere-cida em instituições geriátricas do Distrito Federal. Rev Nutr. 2006 Jan-Feb;19(1):29-37.

21. Viana IC. Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) de Insti-tuições Geriátricas: estrutura física, operacional e organizacional [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública; 2000.

22. RDC n° 216/2004 Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília (DF), 2004.

23. Marucci MFN. Avaliação das dietas oferecidas em instituições para idosos localizadas no município de São Paulo [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 1985.

24. Piloto AA, Nunes ATGL, Assis M, Frias SR. O asilo na cidade do Rio de Janeiro. Gerontologia. 1998 Mar;6(1):7-12.

25. CFN n° 380/2005 Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, estabelece parâmetros numé-ricos de referência por área de atuação e dá outras providências. Conselho Federal de Nutricionistas. Brasília (DF), 2005.

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104 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

resumoObjetivo: O objetivo do estudo foi avaliar a prevalência da incontinência urinária (IU) e seu impacto na qualidade de vida na população idosa de um bairro de Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Metodologia: A amostra foi composta por 401 indivíduos, com idade superior a 65 anos, de ambos os sexos, residentes há pelo menos 12 meses no bairro. A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação do International Consultation on Continence Questionnaire - Short Form (ICIQ-SF), durante uma visita domiciliar. Resultados: A prevalência de IU encontrada na população foi de 32,2%. Em relação ao gênero, 37,9% das mulheres apresentaram-se incontinentes; nos homens, o percentual foi de 15,5%. Os tipos de IU mais prevalentes foram de urgência (18%) e de esforço (16%). Existe uma associação significativa entre a presença de IU e o avanço da idade (r = 0,183; p < 0,001), idade e a interferência na vida diária (r = 0,101; p = 0,044) e idade e a piora na qualidade de vida (r = 0,117; p = 0,02). O ICIQ-SF demonstrou impacto negativo na qualidade de vida dos idosos com IU. Conclusão: Observou-se maior prevalência de IU entre mulheres em todas as faixas etárias. A IU de urgência e a de esforço foram as mais prevalentes. O ICIQ-SF indicou interferência negativa significativa da IU na qualidade de vida dos idosos, sobretudo na faixa etária dos 90 aos 99 anos. A prevalência de IU interferiu de maneira significativa na frequência das perdas, na realização das atividades de vida diária e na piora da qualidade de vida dos idosos estudados.

PREvALEncE Of uRInARY IncOnTInEncE In ELDERLY In PORTO ALEGRE-Rs

abstract Objective: The study objective was to assess the prevalence of urinary incontinence (UI) in the elderly population of Porto Alegre-RS, as well as its impact on quality of life of these individuals. Methodology: The sample consisted of 401 indivi-duals, with over 65 years of age, of both genders, resident for at least 12 months in the neighborhood. Data collection was performed by applying the International Continence Consultation on Questionnaire - Short Form (ICIQ-SF) during a home visit. Results: The prevalence of UI found in the population was 32.2%. Regarding gender, 37.9% of incontinent women showed up to 15.5% of men. The most prevalent types of UI were urgency (18%) and stress (16%). There is a significant association between the presence of UI and advancing age (r = 0.183, p <0.001), age and interference in daily life (r = 0.101, p = 0.044) and age and the decline in quality of life (r = 0.117, p = 0.02). The ICIQ-SF score demonstrated negative impact on quality of life of elderly patients with UI. Conclusion: We observed a higher prevalence of UI among women in all age groups. The UI of urgency and stress were the most prevalent. The ICIQ-SF indicated significant negative interference of urinary incontinence on quality of life of the elderly, especially in the age group of 90 to 99 years old. The prevalence of UI interfered significantly in the frequency of losses, in the performance of daily activities and poorer quality of life of the aged.

aFisioterapeuta. Doutor em Gerontologia Médica. Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), bFisioterapeuta. Graduada pelo Centro Universitário Metodista, IPA, cFisioterapeuta. Especialista em Saúde da Mulher. Mestranda em Ciências da Reabilitação (UFCSPA), dFisioterapeuta. Especialista em Saúde Comunitária. Mestre em Ciências da Reabilitação (UFCSPA), eFisioterapeuta. Especialista em Saúde Comunitária. Mestre em Ciências da Reabilitação (UFCSPA), fFisioterapeuta. Mestre em Reabilitação do Assoalho Pélvico. Mestranda em Ciências da Reabilitação (UFCSPA), gFisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia Tráumato-ortopédica – Universidade Federal de Goiás (UGF), hFisioterapeuta. Especialista em Cinesioterapia e Terapia Manual. Mestranda em Ciências da Reabilitação (UFCSPA), iFisioterapeuta. Doutora em Gerontologia Biomédica. Docente do Curso de Fisioterapia da UFCSPA.

dados para correspondênciaLuís Henrique Telles da Rosa – Endereço: Rua Sarmento Leite, 245. CEP: 90050-170. Bairro: Centro, Porto Alegre- RS. Telefone: (51) 3303-9000 – ramal 8824 E-mail: [email protected]

PREvALêncIA DA IncOnTInêncIA uRInÁRIA

Em IDOsOs DE PORTO ALEGRE-RsLuís Henrique Telles da Rosaa,

cislaine machado de souzab, caroline Helena Lazzarotto de Limac,

Elenice da silveira Bissigo Boggiod, fernanda cecília dos santose,

cristiane carbonif, Kalina Durigon Kellerg,

Patrícia da silva Klahrh, Patricia viana da Rosai

artigo or iginal

Palavras-chave Idosos.

Incontinência urinária.

Qualidade de vida.

KeywordsElderly. Urinary

Incontinence. Quality of life

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Prevalência da incontinência urinária em idosos de Porto Alegre-RS | 105

introduÇÃoDados do IBGE (2010) mostram que a população brasi-leira está “envelhecendo”. Esse fenômeno demográfico se explica pelo aumento da população, pelo decréscimo do índice de fecundidade e pela baixa mortalidade, o que proporciona aumento relativo do número de idosos e, por consequência, acréscimo de anos à expectativa de vida da população brasileira.1 Diante dessa perspectiva, cabe ressaltar as novas demandas advindas tanto do pro-cesso natural do envelhecimento, ou senescência, quanto do processo patológico, chamado de senilidade.2

Nesse sentido, entre as síndromes geriátricas, fre-quentes em idosos, está a incontinência urinária (IU), que apresenta uma incidência que aumenta linearmente com o avançar da idade.3 Seu aparecimento relaciona-se com as alterações advindas do processo fisiológico do envelhecimento, caracterizada pelo declínio funcional dos sistemas do organismo, mas não faz parte do proces-so natural do envelhecer.4

A IU é definida pela Sociedade Internacional de Continência (ICS) como toda perda involuntária de uri-na.5 Nos idosos, por conta das dificuldades enfrentadas, pode ser um fator importante na institucionalização, o que contribui para depressão e isolamento social.6,7 Essa patologia está associada a um risco aumentado de defi-ciência funcional global em pessoas que se tornam incon-tinentes depois dos 65 anos, sinalizando o início precoce da fragilidade, outro aspecto importante relacionado ao processo patológico do envelhecimento.8,9 A partir dessas considerações, este estudo teve como objetivo avaliar a prevalência da IU nos idosos de um bairro do município de Porto Alegre e o impacto na sua qualidade de vida.

mÉtodosEste estudo é transversal, descritivo e de base epide-miológica. Para escolha randômica, foram introdu-zidos os números referentes a cada Equipe de Saúde da Família (ESF) em envelopes pardos lacrados. O sorteio foi realizado por um indivíduo externo à pes-quisa. Sendo assim, a região da pesquisa refere-se à equipe 3 da ESF, a qual atende a quatro setores censi-tários do IBGE (431490205001612, 431490205001613, 431490205001615 e 431490205001616).

De acordo com o Censo de 2010,1 viviam nesses setores 673 pessoas com 65 anos ou mais. Todos os endereços das ruas localizadas nos setores censitários já mencionados fo-ram procurados pelos pesquisadores. Em casos de insuces-so no primeiro contato, ocorreram até três retornos a fim de encontrar os sujeitos da pesquisa em seus domicílios.

Com relação aos critérios de seleção, foram incluídos neste estudo indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos, de ambos os sexos, residentes há pelo menos 12 meses na área de adscrita de uma Equipe de Saúde da Família selecionada de maneira aleatória, independen-

temente de seu vínculo, acesso ou frequência de atendi-mentos na ESF. O cálculo amostral foi baseado no núme-ro total de sujeitos residentes no bairro, nas quatro áreas censitárias. Foi adotado um erro populacional de 5% e um nível de confiança de 5%.

Por meio do Censo 2010,1 foi estimada uma população de 673 idosos na região eleita (IBGE, 2011). O período de coleta foi de dezembro de 2011 a julho de 2012. O for-mulário de entrevista era composto de um questionário denominado International Consultation In Continence Questionnaire - Short Form (ICIQ-SF), validado para a Língua Portuguesa, no ano de 2004.10 O ICIQ-SF é um questionário simples, breve e autoadministrável, capaz de avaliar rapidamente o impacto da IU na qualidade de vida e qualificar a perda urinária de pacientes de ambos os sexos. É composto de cinco questões que avaliam fre-quência, gravidade e impacto da IU, além de um conjunto de oito itens de autodiagnóstico, relacionados a situações de IU vivenciadas pelos indivíduos. O somatório máximo dos valores das respostas indica o escore de 21 pontos, re-ferente a um alto impacto da IU na vida do indivíduo.

A coleta dos dados teve início em janeiro de 2012 com término em maio do mesmo ano. Todos os ido-sos participaram da pesquisa após terem assinado o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. Este estu-do foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), sob o parecer número 824/11.

análise estatísticaA normalidade da distribuição dos dados foi verificada por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Na análise descritiva das variáveis contínuas paramétricas, os dados foram expressos por meio de média e desvio-padrão; as variáveis qualitativas foram descritas pela frequência ab-soluta e pela frequência relativa. Para realizar estratifica-ções nas situações de perda urinária e suas respectivas faixas etárias, foi utilizado o teste de qui-quadrado.

Foi realizado o teste de Correlação de Pearson pa-ra verificar a associação entre as variáveis de idade e os escores dos itens do questionário ICIQ-SF: frequência urinária, interferência da perda urinária na vida diária e qualidade de vida. Todos os dados foram armazenados e analisados no Software Statistical Package for the Social Sciences 21.0 for Windows. O nível de significância de alfa adotado foi de 0,05 (p < 0,05).

resultadosA amostra populacional desta pesquisa representou 59,58% da população estimada pelo Censo 2010,1 o qual descreveu a existência de 673 idosos na área de abran-gência selecionada aleatoriamente. Os dados de caracte-rização da amostra estão descritos na Tabela 1.

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Foram encontrados apenas 498 sujeitos por meio da busca ativa em seus domicílios. Desses, foram excluí-dos da amostra quatro indivíduos que se encontravam hospitalizados e um idoso institucionalizado. Foram consideradas perdas da amostra 92 pessoas que se re-cusaram a participar do estudo. Portanto, o grupo ava-liado foi de 401 idosos.

A Tabela 2 descreve, em relação à população to-tal de idosos, a prevalência de IU, sua interferência na vida dos indivíduos (questão 5 ICIQ-SF), o ICIQ-SF escore, frequência, quantidade e situações de per-da urinária. A Tabela 3 descreve a prevalência de IU usando os mesmos critérios da Tabela 2, mas confor-me o gênero. A Tabela 4 demonstra, de acordo com as faixas etárias, a prevalência de IU, sua interferência na vida dos indivíduos (questão 5 ICIQ-SF), o ICIQ- SF escore, frequência, quantidade e situações de perda urinária. As situações de perdas urinárias foram signi-ficativas em todos os grupos (p < 0,001).

O teste de Pearson apresentou correlação significati-va, embora extremamente fraca, entre idade e a frequên-cia das perdas urinárias (r = 0,183; p < 0,001), idade e interferência na vida diária (r = 0,101; p = 0,044) e idade e piora na qualidade de vida (r = 0,117; p = 0,02). Não foi significativo o valor encontrado relativo à correlação en-tre idade e a quantidade da perda (r = 0,067; p = 0,185).

discussÃoDo número total de idosos, no Brasil, metade é represen-tado por pessoas do sexo feminino.11 No ano 2000, para cada 100 mulheres idosas, havia 81 homens idosos. Em 2050, é provável que haverá cerca de 76 idosos para 100 idosas.11 Estima-se que, na faixa etária acima de 80 anos, haverá duas idosas para cada um idoso.11 Esses dados re-lacionam-se a um fenômeno chamado de “feminilização da velhice”. A velhice, mesmo sendo um processo uni-versal, apresenta um forte componente de gênero, pois existem mais idosas que idosos. Dessa forma, por vive-rem mais, as mulheres tornam-se mais sujeitas a doenças e têm mais probabilidade de problemas relacionados à adaptação às mudanças fisiológicas decorrentes da ida-de, o que pode se transformar em conflitos com identi-dade, entre outras questões.12

Neste estudo, 32,2% da população demonstrou-se in-continente. Já nos achados de Viegas et al.13 (2009), 24% da população idosa apresentou IU. O problema é referido por 30 a 60% dos idosos do sexo feminino e por 10 a 35% dos indivíduos do sexo masculino.13 Os achados deste estudo corroboram com os de Viegas et al.13 (2009), que tinham como objetivo avaliar a prevalência da IU em idosos de Porto Alegre, encontrando 37% dos incontinentes do se-xo feminino e 15% do sexo masculino. Dessa forma, este estudo revelou alta prevalência de queixa entre os idosos,

tabela 1 Características socioeconômicas, demográficas e comporta-mentais de idosos residentes em um bairro de Porto Alegre (RS), 2012

características n %

idade (anos) – média ± dp 76,5 ± 7,3

Gênerosexo feminino 298 74,3

46 103 25,7

estado civil

solteiro 46 11,15

casado/união estável 155 38,7

Viúvo 171 42,6

separado/divorciado 29 7,2

anos estudados - md (p25 - p75) 6 (5-9)

possui renda própria 388 95,3

exerce atividade remunerada 45 11,2

aposentadosim 306 76,3

não 95 23,7

apoio social

Frequenta grupos de convivência 36 9

convive com a fa-mília 369 92

autopercepção de saúde

excelente/muito boa 89 22,2

boa 155 38,7

média 128 31,9

ruim 29 7,2

internação hospitalar no último ano 48 12

tabela 2 Prevalência da IU e suas características em idosos residentes em um bairro de Porto Alegre (RS), 2012

Variáveis n %

perda urinária 129 32,2

Frequência da perda urinária

nunca 272 67,8

uma vez por semana ou menos 46 11,5

duas ou três vezes por semana 31 7,7

uma vez ao dia 12 3,0

diversas vezes ao dia 32 8,0

o tempo todo 8 2,0

Quantidade de perda urinária

nenhuma 272 67,8

pequena quantidade 88 21,7

moderada quantidade 20 5

Grande quantidade 21 5,2

situações de perda urinária

antes de chegar ao banheiro 83 20,7

Quando tosse ou espirra 64 16

Quando está dormindo 17 4,2

durante atividade física 20 5

ao vestir-se após urinar 15 3,7

sem razão óbvia 16 4

o tempo todo 16 4

Quanto interfere na vida diária 5,74 ± 3,59*

iciQ-sF escore 11,07 ± 4,98*

*,média; ±, desvio-padrão.

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Prevalência da incontinência urinária em idosos de Porto Alegre-RS | 107

tabela 3 Prevalência da IU e suas características estratificadas por gênero em idosos residentes em um bairro de Porto Alegre (RS), 2012

Variáveis

Homens mulheres

n % n %

103 25,7 298 74,3

perda urinária 16 15,5 113 37,9

Frequência da perda urinária

nunca 87 84,5 185 62,1

uma vez por semana ou menos 7 6,8 39 13,1

duas ou três vezes por semana 2 1,9 29 9,7

uma vez ao dia 0 0 12 4

diversas vezes ao dia 7 6,8 25 8,4

o tempo todo 0 0 8 2,7

Quantidade de perda urinária

nenhuma 87 84,5 185 62,1

pequena quantidade 10 9,7 77 25,8

moderada quantidade 3 2,9 17 5,7

Grande quantidade 3 2,9 18 6

situações de perda urinária

antes de chegar ao ba-nheiro 14 13,6 69 23,2

Quando tosse ou espirra 5 4,9 59 19,8

Quando está dormindo 2 1,9 15 5

durante atividade física 2 1,9 18 6

ao vestir-se após urinar 1 1 14 4,7

sem razão óbvia 2 1,9 14 4,7

o tempo todo 2 1,9 14 4,7

Quanto interfere na vida diária 6,05 ± 3,71* 5,65 ± 3,76*

iciQ-sF escore 11,18 ±4,88* 10,30 ±5,24

*,média; ±, desvio-padrão.

em especial no sexo feminino. Sabe-se que o número de mulheres afetadas pela IU é maior que de homens, fator que se agrava com o avançar da idade.14

Diversos autores demonstraram a associação entre a ocorrência de IU com o avanço da idade e o sexo femini-no. De maneira geral, entre os fatores predisponentes da IU em mulheres, encontram-se aqueles relacionados ao processo natural do envelhecimento, como o hipoestro-genismo e a diminuição do diâmetro das fibras muscu-lares do assoalho pélvico, acrescido de paridade, tipo de parto, peso do recém-nascido, menopausa e cirurgias gi-necológicas.15,16 Nos homens, as principais causas de IU são as relacionadas à hiperplasia prostática benigna e ao tratamento do câncer de próstata (como prostatectomia radical), mais prevalentes com o avançar da idade.17

Independentemente do gênero, a incontinência uri-nária é um fator que acompanha o avanço do processo de envelhecimento.13 Nesta pesquisa, indivíduos de 65 a 69 anos foram menos incontinentes e os de 90 a 99 anos, mais incontinentes.

Pode-se associar à IU, em ambos os gêneros, diminui-ção da capacidade da bexiga, doenças crônicas, aumento do IMC – sobretudo na relação cintura-quadril, geran-do o aumento da pressão intravesical14 –, quantidade de medicamentos a que são submetidos (principalmente os

de uso prolongado,7 o que contribui para o aumento da frequência urinária e noctúria14,7), além da sarcopenia (sistema musculoesquelético, inclusive assoalho pélvico e instabilidade do músculo detrusor).18,19,20

Acredita-se na relação entre a etiologia da IU e o pro-cesso fisiológico do envelhecimento, já que se trata de uma etapa da vida composta por maior vulnerabilidade às doenças, podendo influenciar diretamente disfunções nas vias urinárias inferiores, contribuindo para o surgimento da IU e aumentando sua prevalência entre os idosos.21

A incontinência urinária de esforço (IUE) caracteri-za-se pela perda involuntária de urina dos idosos quan-do submetidos a situações como, por exemplo, tossir ou espirrar. A incontinência urinária de urgência (IUU) é caracterizada por contrações vesicais involuntárias, sen-do acompanhada pelo desejo miccional. Na IUE, a causa frequente é a hipermotilidade uretral decorrente da fra-queza do assoalho pélvico.22

Neste estudo, as situações de perdas urinárias mais prevalentes foram antes da chegada ao banheiro (20%), sugerindo a ocorrência de IUU, e ao tossir ou espirrar (16%), sugerindo IUE. Para Reis et al.23 (2003), a IUE ra-ramente é encontrada nos indivíduos do sexo masculino, fato que pode ser observado neste estudo, pois 13,6% dos homens referem IUU e apenas 4,9% de IUE.

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108 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

tabela 4 Prevalência da IU e suas características estratificadas por faixa etária em idosos residentes em um bairro de Porto Alegre (RS), 2012

Variáveis

65-69 anos(n=90)

70-79 anos(n=165)

80-89 anos(n=133)

90-99 anos(n=13)

n % n % n % n %

Homens 23 25,6 43 26,1 32 24,1 5 38,5

mulheres 67 74,4 122 73,9 101 75,9 8 61,5

perda urinária 22 24,4 54 32,7 48 36,2 5 38,5

Frequência da perda urinária

nunca 68 75,6 111 67,3 85 63,9 8 61,5

uma vez por semana ou menos 11 12,2 25 15,2 8 6 2 15,4

duas ou três vezes por semana 4 4,4 16 9,7 11 8,3 0 0

uma vez ao dia 2 2,2 4 2,4 5 3,8 1 7,7

diversas vezes ao dia 5 5,6 7 4,2 19 14,3 1 7,7

o tempo todo 0 0 2 1,2 5 3,8 1 7,7

Quantidade de perda urinária

nenhuma 68 75,6 111 67,3 86 64,7 8 61,5

pequena quantidade 15 16,7 35 21,2 32 24,1 4 30,8

moderada quantidade 2 2,2 11 6,7 7 5,3 0 0

Grande quantidade 5 5,6 7 4,2 8 6 1 7,7

situações de perda urinária

antes de chegar ao banheiro 15* 16,7 33* 20 31* 23,3 4* 30,8

Quando tosse ou espirra 10* 11,1 30* 18,2 24 18 0 0

Quando está dormindo 0* 0 5* 3 12* 9 0 0

durante atividade física 4* 4,4 7* 4,2 9* 6,8 0 0

ao vestir-se após urinar 1* 1,1 1,1* 6,7 3* 2,3 0 0

sem razão óbvia 2* 2,2 6* 3,6 8* 6 0 0

o tempo todo 2* 2,2 5* 3 8* 6 1* 7,7

Quanto interfere na vida diária 6,05 ± 3,71** 5,65 ± 3,76** 5,79 ± 3,38** 6,80 ± 4,32**

iciQ-sF escore 11,18 ± 4,88** 10,30 ± 5,24** 11,75 ± 4,62** 12,40 ± 6,06**

*, diferença (p) < 0,001; **, média; ±, desvio-padrão.

Resultados diferentes foram encontrados por Sebben e Filho4 (2008). De acordo com os autores, 18,8% dos homens perdem urina antes de chegar ao banheiro e 32% quando tossem ou espirram. O fato pode ocorrer no pós-operatório de próstata, por exemplo.24 Sabe-se também que a IU gera impacto altamente negativo no desem-penho do idoso, causando diversos transtornos físicos, econômicos, psicológicos, emocionais, sexuais e sociais, refletindo na condição de saúde e interferindo direta-mente no bem-estar social e na qualidade de vida.21

Teunissen et al.25 (2006) objetivaram saber o impacto da IU em idosos da população em geral e observaram que ela afeta de maneira mais significativa os homens, em comparação com as mulheres. Nesta pesquisa, tam-bém, os homens tiveram pontuações maiores quando questionados sobre o quanto a perda urinária interfere na vida diária e no ICIQ-SF escore.

Nesta pesquisa, o pior escore do questionário do ICIQ-SF foi encontrado na faixa etária de 90 a 99 anos, indican-do que a IU prejudica mais a qualidade de vida dessa po-pulação. Esse fato aponta para a relação entre a presença de IU e limitações de funcionalidade do indivíduo idoso, conforme já discutido na literatura, e pode significar um

dos critérios de fragilidade em indivíduos muito idosos.7,26

Outro aspecto importante, que corrobora com os demais já citados, foi os resultados significativos encontrados na as-sociação entre a idade e a frequência das perdas urinárias, a interferência na vida diária e a piora na qualidade de vida. Embora as correlações sejam fracas, existe uma associação.

Wehrberger et al,27 (2013), em um estudo de coor-te populacional, avaliou 262 idosos de ambos os sexos, com idade superior a 80 anos e encontrou resultados semelhantes. Observou-se o alto impacto na qualidade de vida das mulheres com disfunções do trato urinário inferior, na sua maioria, com IU e bexiga hiperativa nes-sa faixa etária avançada. Demais pesquisas sobre o mes-mo assunto mostraram que a presença de IU interfere diretamente nas atividades diárias dos idosos e piora sua qualidade de vida. Isso acontece porque os indivíduos que apresentam perda de urina precisam modificar seus hábitos, adaptar-se à condição e, assim, diminuir o im-pacto dos sintomas no cotidiano.11

Os achados de Honório e Santos28 (2009) demonstra-ram que a ocorrência de perda urinária não é relatada no cotidiano dos idosos, levando a crer que seja algo normal, já incorporada no dia a dia. É possível que haja

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Prevalência da incontinência urinária em idosos de Porto Alegre-RS | 109

tabela 4 Prevalência da IU e suas características estratificadas por faixa etária em idosos residentes em um bairro de Porto Alegre (RS), 2012

Variáveis

65-69 anos(n=90)

70-79 anos(n=165)

80-89 anos(n=133)

90-99 anos(n=13)

n % n % n % n %

Homens 23 25,6 43 26,1 32 24,1 5 38,5

mulheres 67 74,4 122 73,9 101 75,9 8 61,5

perda urinária 22 24,4 54 32,7 48 36,2 5 38,5

Frequência da perda urinária

nunca 68 75,6 111 67,3 85 63,9 8 61,5

uma vez por semana ou menos 11 12,2 25 15,2 8 6 2 15,4

duas ou três vezes por semana 4 4,4 16 9,7 11 8,3 0 0

uma vez ao dia 2 2,2 4 2,4 5 3,8 1 7,7

diversas vezes ao dia 5 5,6 7 4,2 19 14,3 1 7,7

o tempo todo 0 0 2 1,2 5 3,8 1 7,7

Quantidade de perda urinária

nenhuma 68 75,6 111 67,3 86 64,7 8 61,5

pequena quantidade 15 16,7 35 21,2 32 24,1 4 30,8

moderada quantidade 2 2,2 11 6,7 7 5,3 0 0

Grande quantidade 5 5,6 7 4,2 8 6 1 7,7

situações de perda urinária

antes de chegar ao banheiro 15* 16,7 33* 20 31* 23,3 4* 30,8

Quando tosse ou espirra 10* 11,1 30* 18,2 24 18 0 0

Quando está dormindo 0* 0 5* 3 12* 9 0 0

durante atividade física 4* 4,4 7* 4,2 9* 6,8 0 0

ao vestir-se após urinar 1* 1,1 1,1* 6,7 3* 2,3 0 0

sem razão óbvia 2* 2,2 6* 3,6 8* 6 0 0

o tempo todo 2* 2,2 5* 3 8* 6 1* 7,7

Quanto interfere na vida diária 6,05 ± 3,71** 5,65 ± 3,76** 5,79 ± 3,38** 6,80 ± 4,32**

iciQ-sF escore 11,18 ± 4,88** 10,30 ± 5,24** 11,75 ± 4,62** 12,40 ± 6,06**

*, diferença (p) < 0,001; **, média; ±, desvio-padrão.

constrangimento em falar sobre o assunto, sobretudo no primeiro encontro. Esses são fatores que podem influen-ciar a não verbalização das perdas urinárias em idosos. É possível que tais fatores também tenham influenciado nas respostas desta pesquisa.

Diante dessas considerações sobre a alta incidência e prevalência da IU em idosos, não se pode considerá-la um fator inerente ao envelhecimento, e sim algo passível de prevenção e tratamento.29

Entre os estudos abordando a prevalência da IU, a investigação acaba por ser em populações mais jovens ou nos gêneros feminino e masculino, separadamente. O presente estudo conseguiu abordar o tema na popula-ção idosa, unindo os dois sexos, tornando-se importan-te, também, ao considerar o envelhecimento um assunto atual e de relevância na saúde pública.

Ao final deste trabalho, ressalta-se a influência negativa da presença da IU na vida dos idosos, da necessidade de prevenção e tratamento e, acima de tudo, ações que objeti-vem a atenção integral a essa população. Sugere-se, ainda, um novo estudo com o objetivo de acompanhar a evolução

dos sintomas, propondo e avaliando intervenções.Limitações do estudo: o delineamento deste estudo

não permitiu realizar análises de causa e efeito. A qua-lidade de vida envolve outros aspectos que não só a IU.

conclusÃoEste trabalho encontrou maior prevalência de IU entre mulheres em todas as faixas etárias, sendo a IUU e a IUE as mais prevalentes.

Os resultados do questionário ICIQ-SF indicaram in-terferência negativa significativa da IU na qualidade de vida dos idosos, em especial na faixa etária dos 90 aos 99 anos. Foi demonstrado, também, que a prevalência de IU interferiu de maneira significativa na frequência das perdas, na realização das atividades de vida diária e na piora da qualidade de vida dos idosos estudados.

conFlitos de interesseNão há conflitos de interesse.

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110 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

resumoObjetivo: Verificar os fatores que influenciam na frequência da adesão ao tratamento farmacológico da HAS em idosos atendidos em uma unidade básica de saúde. Métodos: Foram avaliados 504 voluntários (316 mulheres) com idade de 70 ± 8 anos (média ± desvio-padrão), com hipertensão arterial sistêmica (HAS) previamente diagnostica-da, atendidos em uma unidade básica de saúde. Foram realizadas visitas domiciliares para a aplicação do questio-nário, o qual era constituido por 14 questões relacionadas às características sociodemográficas dos voluntários e à adesão ao tratamento farmacológico. Após aplicação do questionário, foi gerado um escore baseado em Morisky (0 = alta adesão; 1 e 2 = média adesão; 3 e 4 = baixa adesão). Resultados: Dos 504 indivíduos avaliados, 56,7% demos-traram alta adesão ao tratamento farmacológico. Indivíduos com mais de 10 anos de HAS são mais aderentes (p < 0,001), assim como as mulheres (p = 0,04). A participação em campanhas educativas não influenciou na adesão ao tratamento da HAS (p = 0,24), assim como o médico que acompanha o paciente (p = 0,13). Conclusão: A adesão ao tratamento medicamentoso da HAS não foi influenciada por fatores socioeconômicos, como renda familiar, escola-ridade e atividade profissional, nessa população.

ADHEREncE TO PHARmAcOLOGIcAL TREATmEnT Of HYPERTEnsIOn In fAmILY HEALTH PROGRAm

abstractObjective: to verify prevalence of adherence to pharmacological treatment of hypertension in elderly patients. Methods: We assessed 504 volunteers (316 women) aged 70 ± 8 years (mean ± SD), with hypertension in a primary care unit. Home visits were made to the questionnaire and collecting their data. The questionnaire consists of 10 questions related to socio-demographic characteristics of volunteers and four other issues related to adherence to pharmacological treatment. After the questionnaire was generated based on Morisky (0 = High adherence, 1 and 2 = Average adherence; 3:04 = low adherence) score. Results: Of the 504 individuals evalua-ted 56.7% demonstrated adherence to pharmacological treatment of hypertension. Individuals over 10 years of hypertension are more adherent to treatment (p < 0.001), as well as women when compared to men (p = 0.04). Participation in educational campaigns did not affect adherence to treatment of hypertension (p = 024), just as the doctor accompanying the patient (p = 0.13). Conclusion: Adherence to drug treatment for hypertension was not influenced by socioeconomic factors such as family income, education and occupation in this population.

aHospital Maternidade Therezinha de Jesus da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora – Suprema

dados para correspondênciaProf. Dr. Djalma Rabelo Ricardo – Endereço: Alameda Salvaterra, nº 200 – Salvaterra. CEP: 36.033-003. Juiz de Fora – MG. Tel: (32) 2101-5000. E-mail: [email protected]

ADEsãO AO TRATAmEnTO mEDIcAmEnTOsO

DA HIPERTEnsãO Em um PROGRAmA DE

sAÚDE DA fAmÍLIATracy Kelly Diasa, Antonio c. m. Godinho nettoa,

André Luiz Teixeiraa, Gabriela soaresa,

flávia Passos de Almeidaa, Juliana chaves costaa,

Plínio santos Ramosa, Djalma Rabelo Ricardoa

artigo or iginal

Palavras-chave Hipertensão.

Medicamento. Tratamento

Farmacológico. Adesão ao

medicamento.

KeywordsHypertension.

Drugs. Drug therapy.

Medication adherence.

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Tratamento medicamentoso da hipertensão arterial sistêmica | 111

introduÇÃoO crescimento da população idosa é um fenômeno mundial e, no Brasil, o envelhecimento e as modificações na pirâmide etária ocorrem de forma radical e bastante acelerada de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).1 As projeções mais conservadoras indicam que, em 2020, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, com um contingente superior a 30 milhões de pessoas.2 Segundo o Ministério da Saúde,3 a saúde do idoso é incluída como item prioritário na agenda de saúde do País, promulgando uma nova política nacional de saúde da pessoa idosa que objetiva, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), garantir atenção integral à saúde da população idosa, enfatizando o envelheci-mento saudável e ativo baseada no paradigma da capacidade funcional, abordada de maneira multidimensional.4

Nesse sentido, um dos problemas de saúde pública que requer maior atenção dentro das políticas do SUS é a HAS, que, em idosos, corresponde ao dobro dos acometimentos da população em geral.5 Estudos epidemiológicos brasileiros realizados a partir da medida casual da pressão arterial regis-tram prevalência de HAS entre 40 e 50% entre adultos com mais de 40 anos.6 A HAS é um problema crônico bastante co-mum, cujos fatores de risco e complicações representam, ho-je, a maior carga de doenças em todo o mundo. É responsável por altas taxas de morbimortalidade da população,7 além de gerar sofrimento pessoal e familiar e alto custo financeiro. No Brasil, no período entre janeiro e maio de 2012, foram gas-tos mais de R$ 192 milhões com internações decorrentes das complicações da HAS, de acordo com o DATASUS.8 Mesmo sendo assintomática em muitos casos, a HAS é responsável por complicações cardiovasculares, encefálicas, coronaria-nas, renais e vasculares periféricas.7 Estima-se que 40% dos acidentes vasculares encefálicos e cerca de 25% dos infartos ocorridos em pacientes com HAS poderiam ser prevenidos com terapia anti-hipertensiva adequada.7

A terapia anti-hipertensiva é fornecida gratuitamente aos pacientes do SUS, e o controle periódico, somado a adesão ao tratamento medicamentoso, pode reduzir so-bremaneira as complicações advindas da HAS. Além dis-so, o custo para o tratamento medicamentoso individual da hipertensão pode variar de R$ 4,00 a R$ 45,00, valores muito menores do que o custo de uma internação hospi-talar decorrente das complicações da HAS. Com isso, este estudo teve o objetivo de verificar a adesão ao tratamento farmacológico da HAS em pacientes idosos atendidos em uma Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS).

mÉtodos

população da amostraParticiparam deste estudo 504 idosos (316 mulheres) com idade de 70 ± 8 anos (média ± desvio-padrão), diagnosti-cados com HAS em uma UAPS com Programa de Saúde da Família (PSF) há 10 anos. Inicialmente, por meio da lista dos

participantes do HIPERDIA (Programa de controle da HAS e do diabetes), foram selecionados 607 pacientes com HAS, mas 103 foram excluídos por não serem encontrados em seu domicílio no momento da visita ou por se recusarem a par-ticipar do estudo. Todos os voluntários, ao aceitarem parti-cipar, leram e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido previamente aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa institucional, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

procedimento de coleta e análise dos dadosForam efetuadas visitas domiciliares no período matuti-no para a realização de uma entrevista estruturada, uti-lizando dois instrumentos previamente validados, sendo uma entrevista constituída por 14 questões9 e um ques-tionário com quatro questões.

Ambos os instrumentos foram aplicados por quatro acadêmicas devidamente treinadas. As questões abordadas nos instrumentos referiam-se às caracteristicas sociodemo-gráficas dos voluntários,9 como: a) tempo de exposição à doença; b) gênero; c) atividade profissional; d) grau de esco-laridade; e) participação em programas educativos; f) tipo de medicamento; e g) quantidade de medicamentos. Outras quatro questões desenvolvidas por Morisky et al.,10 em um estudo com follow-up de três anos, relacionadas à adesão ao tratamento farmacológico de pacientes com HAS, tam-bém foram usadas. Para tal, os pacientes respondem apenas “sim” ou “não”, sendo que o paciente é classificado no grupo de alto grau de adesão quando as respostas a todas as per-guntas são negativas. Após a aplicação do questionário, foi gerado um escore baseado nas questões de Morisky et al.10 (0 = alta adesão; 1 e 2 = média adesão; 3 e 4 = baixa adesão).

Todos os medicamentos utilizados para o tratamento da hipertensão foram classificados da seguinte manei-ra: a) diuréticos; b) inibidores da enzima conversora de angiotensina; c) inibidores adrenérgicos (beta e alfablo-queadores); d) bloqueador de receptor de angiotensina; e) bloqueador de canal de cálcio.

análise estatísticaInicialmente, foi testada a normalidade e a homocedastici-dade dos dados, validando a utilização da estatística não pa-ramétrica. Em seguida, a amostra foi dividida em três grupos (alta, média e baixa adesão ao tratamento), com base no re-sultado de adesão ao tratamento proposto por Morisk et al.,10 a fim de verificar a prevalência de adesão ao tratamento me-dicamentoso. A seguir, foi utilizado o teste do qui-quadrado para verificar a influência de cada uma das variáveis socio-demográficas na adesão ao tratamento medicamentoso. Por fim, foi verificado se a quantidade de medicamentos influen-cia na adesão ao tratamento. Todas as análises foram realiza-das utilizando o software GraphPad Prism, versão 5.01, e o nível de significância adotado foi de 5%.

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112 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

resultadosDos 504 indivíduos avaliados, 56,7% apresentaram alta adesão ao tratamento farmacológico da HAS, de acordo com os crité-rios de Morisk et al., apresentados na Tabela 1. Entretanto, al-gumas variáveis parecem influenciar na adesão, como o tem-po de exposição à doença. Indivíduos com mais de 10 anos de exposição apresentam maior adesão ao tratamento medica-mentoso da HAS quando comparados aos demais grupos (p = 0,003). Outro fator que também influenciou na adesão foi o gênero – as mulheres foram mais aderentes ao tratamento do que os homens (p = 0,044). A participação em campanhas educativas não influenciou na adesão ao tratamento da HAS (p = 0,247), assim como o médico que acompanha o paciente (p = 0,135), podendo ser o médico da UAPS, um especialista, ou até ambos atuando juntos (Tabela 1).

1 medicamento2 medicamentos3 medicamentos

1 medicamento

Alta MédiaAdesão ao Tratamento

Tota

l de v

olun

tári

os

Número de Medicamentos

Baixa

200

180

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Figura 1 Número de medicamentos utilizados em função da adesão ao tratamento medicamentoso da HAS.

Ao investigar se havia diferença entre o número de medicamentos utilizados para o tratamento da HAS nos três grupos classificados de acordo com a adesão ao tra-tamento, não foram encontradas diferenças estatísticas (p=0,053), conforme mostra a Figura 1.

De acordo com a classificação adotada neste estudo, a classe de medicamentos mais utilizada para o controle da HAS foi a diurética, correspondendo a 37,1%, segui-da dos inibidores da enzima conversora de angiotensina, com 28,8%. Mais detalhes sobre a classificação dos medi-camentos utilizados são apresentados na Tabela 2.

discussÃoA HAS é uma doença prevalente não só no Brasil, mas em todos os países do mundo, sendo associada com alta taxa de morbimortalidade.7 Tendo em vista que a HAS é fácil de ser controlada por meio da utilização de terapia medi-camentosa, este estudo dedicou-se a investigar a adesão ao tratamento farmacológico da HAS em pacientes idosos atendidos em uma UAPS. Os resultados demonstraram que a adesão ao tratamento medicamentoso em idosos não foi

influenciada por fatores socioeconômicos como renda fa-miliar, escolaridade e atividade profissional. A maior razão para o controle inadequado da HAS, de acordo com Clarck et al.,11 é a falta de adesão ao tratamento medicamentoso, fato que pode ser influenciado por diversos fatores sociode-mográficos,12,13 alguns abordados neste estudo.

A identificação dos fatores que interferem na adesão se inicia pelo reconhecimento das características do pacien-te – idade, sexo, raça, escolaridade, nível socioeconômico, ocupação, entre outras. Aspectos relativos à HAS, como a cronicidade da doença, em geral não associada à sintoma-tologia desagradável, também interferem na adesão ao tra-tamento14. As características do tratamento, que englobam intervenções medicamentosas e não medicamentosas e, portanto, mudanças de comportamento, disponibilidade fi-nanceira e tolerância a eventuais efeitos colaterais, também devem ser considerados no processo de adesão15. Em igual importância, encontram-se as políticas de saúde vigentes, a facilidade de acesso do paciente aos serviços de saúde e a qualidade do trabalho desenvolvido nesses serviços15.

Neste estudo, contrariando as expectativas iniciais, en-controu-se uma alta adesão ao tratamento medicamentoso para a HAS. Acredita-se que alguns fatores podem ter con-tribuído para esse resultado, como a existência do progra-ma de saúde da família e a inserção de acadêmicos da área da saúde nessa região, fatores que serão discutidos a seguir.

No presente estudo, a adesão do paciente ao trata-mento medicamentoso da HAS foi avaliada por meio do questionário proposto por Morisky et al.,10 o qual é vali-dado, específico e de baixo custo. Cabe ressaltar que esse instrumento já foi utilizado por outros estudos nacionais com objetivo similar ao desta pesquisa.16 Neste estudo, a aplicação do questionário foi favorável para a obtenção dos dados, uma vez que, por se tratar de uma amostra de 504 indivíduos, se fosse utilizado um instrumento mais longo, provavelmente a aplicação seria impossível. Outro ponto importante é que as perguntas utilizadas facilitam a compreensão do entrevistado por serem bem diretas.

Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o grau de adesão ao tratamento sofre influência direta dos modelos de atenção estabelecidos para a saúde. Assim sen-do, o modelo de estratégia do PSF, implementado na área analisada há mais de 10 anos, pode explicar o bom resultado obtido de 56,7% de alta e 30% de média adesão ao tratamen-to (Tabela 1). De acordo com o Caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde,(17) esse programa tem o objetivo de facilitar o acesso da população aos provedores do serviço de saúde sob todos os aspectos, desde a informação básica de saúde até a distribuição de medicamentos, e visitas fre-quentes, que também proporcionam mudança mais efetiva no estilo de vida e bem-estar dos pacientes. Assim, a pre-sença do paciente na unidade de saúde é determinante para o controle da HAS, pois traz motivação individual, o que, por sua vez, conduz a certas atitudes que contribuem para a redução da pressão arterial. Encontros frequentes propiciam

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Tratamento medicamentoso da hipertensão arterial sistêmica | 113

tabela 2 Classificação dos medicamentos utilizados para o controle da hipertensão, por grupos de medicamantos e de acordo com a adesão ao tratamento

adesão diuréticos ieca inibidores adrenér-gicos bra bloqueadores de

canal de cálcio total

baixa 30 28 6 4 3 71

média 29 27 11 8 5 80

alta 249 184 85 87 74 679

IECA, inibidores da enzima conversora de angiotensina; BRA, bloqueador de receptor de angiotensina.

tabela 1 Variáveis sociodemográficas de acordo com a adesão ao tratamento medicamentoso avaliada pelo questionário de Morisk et al.

Variáveisadesão ao tratamento p

alta média baixa–

adesão ao tratamento 256 (56,7%) 150 (30%) 67 (13,3%)

Gêneromasculino (n= 188) 113 (60,1%) 50 (26,5%) 25 (13,2%)

0,044Feminino (n= 316) 193(61,0%) 101 (31,9%) 22 (6,9%)

temo de Has

6 a 11 meses (n = 8) 5 (62,5%) 0 (0%) 3 (37,5%)

0,0031 a 4 anos (n = 62) 42 (67,7%) 12 (19,3%) 8 (12,9%)

5 a 9 anos (n = 68) 37 (54,4%) 20 (29,4) 11 (16,2%)

> 10 anos (n = 366) 222 (60,7%) 119 (32,5%) 25 (6,8%)

ocupação ativo (n = 90) 56 (62,2%) 33 (36,6%) 11 (12,2%)0,544

não ativo (n = 404) 250 (61,9%) 118 (29,2%) 36 (8,9%)

Grau de escolaridade nunca frequentou (n = 117) 68 (58,1%) 40 (34,2%) 9 (7,7%)

0,121

Fundamental incompleto (n = 296) 182 (61,5%) 81 (27,3%) 33 (11,1%)

Fundamental (n = 55) 32 (58,2%) 22 (40%) 1 (1,8%)

médio incompleto (n = 9) 6 (66,6%) 3 (33,3%) 0 (0%)

médio (n = 24) 17 (70,8%) 3 (12,5%) 4 (16,6%)

superior (n = 3) 1 (33,3%) 2 (66,6%) 0 (0%)

renda familiar 1 salário (n = 336) 209 (62,2%) 97 (28,8%) 30 (8,9%)

0,247

1 a 3 salários (n = 130) 77 (59,2%) 40 (30,7%) 13 (10%)

4 a 6 salários (n = 24) 14 (58,3%) 10 (41,7%) 0 (0%)

> 6 salários (n = 4) 2 (50%) 1 (25%) 1 (25%)

não sabe (n = 10) 4 (40%) 3 (30%) 3 (30%)

HAS, hipertensão arterial sistêmica.

melhor monitoração dos níveis pressóricos, assim como a oportunidade de ter mais acesso ao conhecimento, podendo servir de base para o cumprimento das orientações diante do tratamento medicamentoso da HAS.

No campo em que foi realizada a pesquisa, existe outro fator que pode ter contribuído para a adesão ao tratamento farmacológico: o Programa Integrador da Faculdade de Ciências Médicas da Saúde de Juiz de Fora (FCMS/JF), que atua em consonância com o PSF de Juiz de Fora. Esse programa tem o objetivo de contribuir para a formação de profissionais da saúde, promovendo bases concretas para a integração do graduando da instituição de ensino na cultura e prática da atenção integral à saúde, por meio de ações de promoção e recuperação da saúde, de forma integral e contínua, com visitas dos acadêmicos acompanhados de agentes comunitários de saúde e ativi-

dades expositivas e educativas, reforçando e facilitando a comunicação e o entendimento da população.

A HAS é uma doença insidiosa, na maior parte do tempo assintomática, fato que induz muitas pessoas a não se reco-nhecerem como portadoras. Castro et al.18 verificaram que as modificações no estilo de vida relacionaram-se à presen-ça de sintomatologia, à compreensão dos pacientes sobre a doença e ao seu impacto em suas vidas. Para os autores, o enfrentamento da cronicidade da HAS envolve, entre outros aspectos, a compreensão do seu significado, de acordo com as concepções do portador sobre saúde-doença, gerando me-lhora da adesão ao tratamento. De acordo com um estudo da OMS, a adesão ao tratamento é uma ferramenta fundamen-tal para o gerenciamento de doenças crônicas: “melhorar a adesão ao tratamento pode ser o melhor investimento para gerenciar as condições crônicas de maneira efetiva”.18

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Neste estudo, constatou-se que as mulheres apre-sentam maior aderência ao tratamento medicamentoso quando comparadas aos homens, fato corroborado por Pessuto et al.,19 que relataram em seus últimos estudos que, antigamente, os homens tinham mais chances de desenvolver HAS devido aos hábitos de vida. Com a mu-lher estando cada vez mais inserida no mercado de tra-balho, além de suas mudanças nos hábitos de vida, houve um aumento do número de mulheres com hipertensão.19 Apesar do número crescente de mulheres portadoras da doença, pode-se evidenciar, por meio dos questionários aplicados, que elas são mais responsáveis pela adesão ao tratamento da HAS, mantendo níveis pressóricos mais satisfatórios, assim como verificado por Flack et al.20

De acordo com Andrade et al.,21 uma das causas a ser ressaltada a respeito da aderência ser maior entre as mulheres é em relação ao consumo de álcool. Embora pacientes com hipertensão devam ser orientados a re-duzirem a ingestão de álcool, é preciso rever a forma como essa orientação tem sido passada, pois é possí-vel que esteja ocorrendo uma má interpretação, so-bretudo pelo sexo masculino, o qual prefere continuar consumindo álcool em detrimento dos medicamentos anti-hipertensivos.21 Também observou-se que o fato de ser ativo profissionalmente não proporcionou uma maior taxa de adesão ao tratamento medicamento-so. Uma possível explicação para esse fato pode ser a distribuição gratuita de medicamentos para o tra-tamento da HAS pelo SUS, divergindo dos resultados encontrados por Medel et al.,12 que verificou que os pacientes profissionalmente ativos eram mais aderen-tes ao tratamento do que os aposentados. Atribui-se esse fato à questão econômica, pois, ao se aposentar, os indivíduos sofrem perdas financeiras, que podem contribuir para o abandono do tratamento.

O conhecimento sobre a doença e o tratamento são variáveis a serem consideradas no contexto da adesão ao tratamento.22 De modo geral, portadores de hipertensão conhecem seu problema de saúde. A discrepância entre conhecer a doença e aderir ao tratamento e conseguir controlar a pressão arterial mostra que há uma grande diferença entre conhecimento e adesão. Enquanto o co-nhecimento é racional, a adesão envolve diversos outros processos, como fatores biossociais, emocionais e obstá-culos concretos, de ordem prática e logística.

Outro fator importante são as atividades educativas para o controle da pressão arterial. Tendo como base a aplicação do questionário neste estudo e avaliando seus resultados, pode-se dizer que campanhas educacionais pouco contribuem para o aumento da população aderente ao tratamento da HAS. Conforme Andrade et al.,21 cam-panhas educacionais para o controle da pressão arterial não foram mencionadas como razões predominantes pa-ra o retorno dos pacientes ao tratamento, como seria de se esperar. É importante esclarecer que esse resultado não

desqualifica nem desfaz a importância de sua realização, fato sugerido pelos estudos do III Consenso Brasileiro de HAS23 que descreveram a importância e o benefício de um programa de educação no controle da doença e na ade-rência ao tratamento, assim como o estudo de Car et al.24

A HAS é umas das mais importantes causas de mor-bimortalidade universal.7 O impacto desses dados e a perspectiva do controle da elevação da pressão arterial, por meio de estratégias terapêuticas bem aplicadas, jus-tifica a alta prioridade que deve ser dada a sua detecção pelos médicos, tanto os clínicos gerais como os especia-listas.21 Demonstrando a importância desse profissional para a adesão ao tratamento da HAS pelos pacientes, uma relação médico-paciente insatisfatória pode deter-minar o abandono e a falta de controle pressórico por parte dos pacientes.

Ainda conforme Andrade et al.,21 a maioria dos pa-cientes reflete a falta de uma comunicação mais adequa-da entre o paciente e seu médico, em relação à doença e as sérias consequências do abandono ao tratamento. Essa comunicação inadequada pode ser em função da insuficiência de informação prestada e também da in-capacidade de percepção do paciente. É preciso deixar claro que estratégias devem ser desenvolvidas para me-lhorar a comunicação da informação médica no intuito de aumentar a aderência ao tratamento proposto. Talvez seja necessário inserir nas campanhas a mensagem de que o tratamento da HAS não deve ser interrompido e que somente o médico está autorizado a modificá-lo.

O maior número de medicamentos prescritos e o esquema terapêutico também estão associados a não adesão, mesmo quando o medicamento é fornecido pelo SUS. Esse é um dos principais fatores que interferem na falta de adesão. Todavia, neste estudo não foi encontrada diferença na adesão à terapia medicamentosa anti-hiper-tensiva com monoterapia ou com uma terapia combina-da (com dois ou mais anti-hipertensivos), concluindo que o aumento da complexidade do regime terapêutico não resulta em diminuição da adesão ao tratamento na amostra avaliada.25 É importante ressaltar que este es-tudo pode apresentar algumas limitações por estar ba-seado em questionários cujas respostas podem ter sido omitidas ou não serem fidedignas.

conclusÃoNa população estudada, a adesão ao tratamento medica-mentoso da HAS não foi influenciada por fatores socioe-conômicos como renda familiar, escolaridade e atividade profissional.

conFlito de interesseTodos os autores declaram não apresentar conflito de in-teresse no presente estudo.

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Tratamento medicamentoso da hipertensão arterial sistêmica | 115

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aFonoaudióloga formada pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).bNeurologista. Doutora em Medicina: Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora Associada do Departamento de Clínica Médica e do Programa de Pós-graduação em Patologia da UFCSPA, Coordenadora do Ambulatório de Distúrbios do Movimento.cFonoaudióloga clínica. Doutora em Gerontologia Biomédica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professora Adjunta II do Departamento de Fonoaudiologia e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação da UFCSPA.

dados para correspondênciaGabriela Ribeiro Schilling – Endereço: Av. José Loureiro da Silva, 1600/507 – Centro. CEP: 94010-000. Gravataí – RSTelefone: (51) 3430-1222. E-mail: [email protected]

AsPEcTOs fOnOAuDIOLóGIcOs

E quALIDADE DE vIDA nA DOEnçA

DE PARKInsOn: EsTuDOs DE cAsOsGabriela Ribeiro schillinga,

Arlete Hilbigb,

maria cristina cardosoc

artigo or iginal

Palavras-chave Doença de Parkinson. Qualidade

de Vida. Fonoaudiologia.

KeywordsParkinson’s

disease. Quality of life.

Speech Therapy.

resumoObjetivo: Estabelecer o perfil fonoaudiológico dos sujeitos portadores da doença de Parkinson (DP) e correlacioná-los à qua-lidade de vida. Método: Estudos de casos transversal descritivo e quantitativo. Foram selecionados pacientes com diagnóstico clínico de DP provável e utilizados os seguintes instrumentos: Miniexame do Estado Mental (MEEM), avaliação fonoaudioló-gica e Parkinson’s Disease Questionnaire. Resultados: Participaram deste estudo 12 indivíduos (4 homens e 8 mulheres) com idade média de 62,25 ± 10,28 anos e tempo médio de diagnóstico de DP de 5,2 ± 3,54 anos. O estágio da doença, segundo a escala de Hoehn e Yahr, variou entre 2 e 3. Os participantes apresentaram, em média, 23,83 ± 4,75 pontos no MEEM, com tempo médio de instrução formal de 4,25 ± 3,44 anos. Houve alteração dos tempos máximos fonatórios, respiração, voz, olfa-to, articulação e deglutição. A pior percepção de qualidade vida dos participantes foi observada nas categorias de desconforto corporal, atividade de vida diária e mobilidade. Os escores dessas categorias elevam-se conforme o aumento da incapacidade verificado no estágio da doença, assim como as categorias de cognição, bem-estar emocional e comunicação. Todos os parti-cipantes com alteração na articulação à avaliação fonoaudiológica pontuaram na categoria “comunicação”. Conclusão: Neste estudo, as alterações fonoaudiológicas que se destacaram nos portadores da DP envolvem aspectos de voz, respiração, deglu-tição, olfato e disartria, aos quais atribui-se interferência na qualidade de vida. O tremor de mandíbula, também, apresenta possível reflexo na qualidade vida dos portadores da doença, sobretudo nos aspectos de comunicação.

sPEEcH THERAPY AsPEcTs AnD quALITY Of LIfE In PARKInsOn’s DIsEAsE: cAsE REPORTs

abstract Objective: Determining the profile of speech therapy of Parkinson’s Disease patients and correlate them to the quality of life. Method: A descriptive cross-sectional case studies and quantitative. We selected patients with a clinical diagnosis of Parkinson’s Disease and likely used the following instruments: Mini-Mental State Examination, speech therapy evaluation and Parkinson's Disease Questionnaire. Results: The study included 12 participants (4 men and 8 women) with a mean age of 62.25 ± 10.28 years and with a mean time of diagnosis of Parkinson’s Disease 5.2 ± 3.54 years. The disease stage, according to Hoehn and Yahr scale, ranged between 2 and 3. Participants had, on average, 23.83 ± 4.75 points on the Mini-Mental State Examination, with mean formal instruction of 4.25 ± 3.44 years. There was a change of maximum phonation time, breath, voice, smell, articulation and swallowing. The worst perception of quality of life participants was observed in the categories bodily discomfort, activity of daily living and mobi-lity. The scores of these categories rise when increasing inability of the subject seen in the stage of the disease, as well as the categories of cognition, emotional well-being and communication. All participants with abnormal articulation in the speech evaluation scored in the category “communication”. Conclusion: The speech pathology, in this study, was highlighted in patients with Parkinson's di-sease involve aspects of voice, breathing, swallowing, smell and dysarthria which infer interference with quality of life. The trembling mandible, also presents possible effect on quality of life of patients with the disease, especially in communication.

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Doença de Parkinson e fonoaudiologia | 117

introduÇÃoA doença de Parkinson (DP) é definida como uma doença crônica progressiva neurodegenerativa, na qual existe a dis-função dos gânglios da base por diminuição da dopamina ao nível do estriado em função da degeneração do sistema dopaminérgico nigroestriatal, causando a desinibição do núcleo subtalâmico e do globo pálido.1-3 A característica pa-tológica da DP é a presença de corpos de Lewy, ou seja, in-clusões proteináceas citoplasmáticas eosinofílicas (principal-mente alfa-sinucleína), sobretudo nos neurônios da camada ventral da parte da substância negra e no locus ceruleus.3

A DP tem, na maioria dos casos, um início insidio-so.2 Estima-se uma variação da prevalência da doença de 50 a 260 casos a cada 100 mil indivíduos na população geral, que aumenta com a idade, chegando a 550 casos por 100 mil habitantes na idade de 70 anos, sendo mais comum em homens.3,4

Os sintomas predominantes na DP são motores, ini-ciando de forma unilateral e tornando-se bilaterais com a progressão da doença.2,3 Entre os sintomas motores, destacam-se bradicinesia, hipocinesia, tremor de re-pouso e rigidez muscular do tipo plástica. Também são frequentes a postura corporal flexionada, perda dos re-flexos posturais, distúrbios de equilíbrio e freezing (ou fenômeno de congelamento).1-3,5

Em geral, o tremor é o primeiro sintoma a ser detecta-do, de repouso, presente nas extremidades e desaparecendo com uma ação. A rigidez é definida como o aumento do tô-nus muscular e é evidenciada pela resistência aumentada ao movimento passivo. A bradicinesia é caracterizada pela len-tidão e redução da amplitude dos movimentos e dificuldade de iniciar a movimentação.3 Esses são alguns dos sinais da DP3 que interferem nos aspectos fonoaudiológicos.

Nessa doença, há alteração dos aspectos fonoaudio-lógicos referentes à motricidade das estruturas e funções relacionadas à fala, mastigação, deglutição, respiração, fonação e execução da linguagem escrita. Os portado-res da DP, em geral, apresentam dificuldades de degluti-ção, hiponimia, disartria, alterações de voz (hipofonia) e de escrita (micrografia).3,5,6 É comum que esses sujeitos apresentem tremor de repouso nos lábios, na língua e na mandíbula, sendo essas estruturas importantes na reali-zação das diferentes funções orofaciais.3

A disfagia pode ser definida como um sintoma relacio-nado com qualquer alteração no ato de engolir que dificul-te ou impeça a ingestão oral segura, eficiente e confortá-vel.7 Os distúrbios de deglutição na DP estão presentes nas fases preparatória, oral, faríngea e esofágica.8,9 Portadores de DP apresentam dificuldade em realizar, de forma rápida e coordenada, a movimentação necessária para deglutir, o que gera transtornos no gerenciamento dos alimentos, pois o distúrbio de coordenação dos movimentos e a rigi-dez dos músculos faciais ocasionam dificuldades de mas-tigação, comprometendo a deglutição por aumentar a pos-sibilidade de escape prematuro do alimento e engasgos.6

Alguns dos sinais indicativos de disfagia na fase oral na DP são escape de alimento pela comissura labial, dificulda-des mastigatórias causadas por tremores nos órgãos fonoar-ticulatórios, alteração na formação do bolo alimentar e alte-ração na movimentação de língua, dificultando a propulsão do bolo.8,9 Esses sinais podem causar atraso no início da fase faríngea, com estase de alimentos em valécula e recessos piri-formes, gerando risco de aspiração ou penetração laríngea.8,9

Tosse ou engasgo podem ocorrer. Entretanto, o porta-dor de DP pode também apresentar aspiração silente e alte-ração da peristalse do trato gastrintestinal, que pode causar aumento do trânsito esofágico, gerando sensação de ali-mento parado na garganta (presença de globus faríngeo).8,9

Associada aos sinais clínicos da DP, tem-se a dificul-dade de suporte respiratório, gerada pela incapacidade de controle adequado dos músculos respiratórios, o que causa diminuição de loudness, encurtamento de frases, fala apressada e interrupções abruptas.5,10 A alteração vocal é outro sinal comum na DP. Com frequência, os portadores da doença apresentam voz monótona e alte-rações da qualidade vocal, evidenciada pela rouquidão e soprosidade. Outro sinal vocal encontrado é a hipofonia, isto é, redução da intensidade, que está associada às alte-rações das pregas vocais como fendas glóticas.2,10

A disfunção olfatória é um dos sinais prevalentes na DP. Estudos11,12 já demonstraram que os portadores de DP apresentam déficits olfativos quando comparados aos indivíduos de mesma idade e gênero, mas sem a doença.

Muitas características da DP podem refletir em alterações na qualidade de vida de seus portadores. Os aspectos moto-res como tremor, bradicinesia e hipocinesia podem interferir na capacidade comunicativa dos indivíduos.3 Os distúrbios de deglutição presentes na DP podem gerar constrangimen-tos aos portadores no momento da alimentação, dificultando a capacidade de convívio em sociedade, gerando prejuízos psicológicos.9 Outro fator que pode acarretar mudanças na qualidade de vida do portador de DP é a alteração do olfato, pois este influencia no sabor dos alimentos e bebidas, além de servir de proteção contra substâncias perigosas.13

O conceito de qualidade de vida é muito amplo e deba-tido entre estudiosos. Um dos conceitos aceitos engloba, de forma complexa, a saúde física, o estado psicológico, o nível de independência, as relações sociais, as crenças pes-soais e a relação com aspectos significativos do meio am-biente.14,15 Considerando esse conceito, em 1995, o grupo World Health Organization Quality of Life (WHOQOL) definiu a qualidade de vida como “a percepção do indi-víduo de sua posição na vida, no contexto de sua cultura e no sistema de valores em que vive e em relação a suas expectativas, seus padrões e suas preocupações”.14,15

Estudos sobre qualidade de vida na DP que utilizaram o Parkinson’s Disease Questionnaire (PDQ-39)16 mostraram que, com a evolução da DP, as dimensões de mobilidade, ati-vidade de vida diária e cognição podem apresentar alteração; portanto, tais aspectos pioram com o avanço da doença.16-18

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O objetivo deste estudo é estabelecer o perfil fonoau-diológico dos portadores de DP atendidos no ambulató-rio de neurologia de um hospital de Porto Alegre e cor-relacioná-lo a aspectos de qualidade de vida.

metodoloGiaTrata-se de um estudo de casos transversal, descritivo e quantitativo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) sob o parecer número 332243.

Foram analisados os dados de 30 portadores de DP atendidos no Ambulatório de Distúrbios do Movimento de Neurologia e Fonoaudiologia de um hospital da ci-dade de Porto Alegre (RS) e excluídos 18 sujeitos com quadros demenciais não associados a essa doença e/ou que não completaram a bateria de avaliações.

Os 12 participantes selecionados para o estudo, ao concordarem com a participação, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual estão relatadas as informações referentes aos objetivos da pesquisa, aos procedi-mentos que foram realizados e às garantias do estudo. Todos os participantes tiveram seus direitos garantidos e sua privacida-de preservada, participando de forma voluntária deste estudo. Todos foram informados quanto aos objetivos, métodos, afi-liações institucionais do pesquisador e os benefícios do estudo.

Após a assinatura do termo, os participantes foram submetidos à triagem, com objetivo da obtenção de dados referentes à sua identificação, ao tempo do diag-nóstico, ao resultado do MEEM19 e ao estadiamento da doença, compreendidos nos prontuários médicos do ambulatório de distúrbios do movimento.

O estágio da doença foi determinado pela equipe de neurologistas do hospital, de acordo com a Escala de Estágios de Incapacidade de Hoehn e Yahr.21 Essa escala avalia a incapacidade dos portadores de DP,18,21 indicando o estado geral de forma rápida e prática.22 Sua forma modifi-cada inclui medidas globais de sinais e sintomas que permi-tem classificar o sujeito quanto ao nível de incapacidade.20-22

Os estágios de classificação compreendem:22 nenhum sinal da doença (0); doença unilateral (1); envolvimen-to unilateral e axial (1,5); doença bilateral sem déficit de equilíbrio (2); doença bilateral leve, com recuperação no pull test (2,5); doença bilateral leve a moderada, alguma instabilidade postural, capacidade para viver indepen-dente (3); incapacidade grave, ainda capaz de caminhar ou permanecer de pé sem ajuda (4); e confinado à cama ou cadeira de rodas, a não ser que receba ajuda (5).

O MEEM foi utilizado como critério de inclusão neste estudo e aplicado junto aos participantes que ainda não haviam sido submetidos a tal avaliação. Tal protocolo é um instrumento de rastreio de comprometimento cogni-tivo.23 e tem sido empregado em pesquisas e em ambientes clínicos, integrando uma série de baterias neuropsicológi-cas.23 Tal instrumento é composto por questões divididas

em sete categorias:24 orientação para tempo (cinco pon-tos), orientação para local (cinco pontos), registro de três palavras (três pontos), atenção e cálculo (cinco pontos), lembrança das três palavras (três pontos), linguagem (oito pontos), e capacidade construtiva visual (um ponto).

O escore do MEEM pode variar de 0 até um total de 30 pontos24 e foi adaptado de acordo com os anos de ins-trução formal de cada participante, isto é, 13 pontos para analfabetos, 18 para baixa e média escolaridade (entre 1 e 8 anos incompletos de estudo) e 26 para alta escolari-dade (8 anos de estudo ou mais).25 Esses valores têm sido questionados quanto a sua sensibilidade e especificidade para a população de idosos no Brasil, e, para o presente estudo, foram considerados os seguintes valores: 18/19 pontos para analfabetos e 24/25 para participantes com instrução escolar.23 Após essa etapa, os participantes fo-ram submetidos à avaliação fonoaudiológica conforme a proposta de Palermo et al. (2009)5 e avaliados em rela-ção a características vocais, fala, respiração, deglutição, articulação, olfato e higiene oral, verificando as estrutu-ras e funções orofaciais e sensibilidade de língua e lábios.

As características vocais englobaram os tempos má-ximos fonatórios (TMF) e a análise vocal (qualidade vocal, emissão, ataque vocal, pitch e loudness) realizados por meio da avaliação perceptivo-auditiva a partir das gravações das vozes dos participantes. A avaliação da respiração envolveu o estabelecimento do ritmo, inten-sidade, tipo respiratório e ciclos respiratórios por minu-to (marcado com utilização de um cronômetro digital), considerando-se a frequência respiratória normal como 12 a 20 ciclos por minuto.5,26 O tipo respiratório foi clas-sificado em abdominal, misto, torácico ou clavicular.

A presença ou ausência de tremor de língua, tremor de mandíbula, articulação, ritmo de fala, estruturas orofa-ciais (palato duro e mole, articulação temporomandibular e arcada dentária), mobilidade dos órgãos fonoarticulató-rios e higiene oral foram avaliados de maneira qualitativa.

A mastigação foi avaliada quanto à presença de late-ralização de alimentos na consistência sólida e de movi-mentos rotatórios de língua e mandíbula. A sucção, pelo estabelecimento da pressão intraoral, coordenação entre sucção/deglutição e selamento labial durante a deglutição de líquidos. A deglutição dos participantes foi avaliada por meio da presença ou ausência dos reflexos protetivos (tosse voluntária e pigarreio), de cliques da deglutição (avaliado pela ausculta cervical), salivação, xerostomia, tosse, globus faríngeo ou algia. Também foram verificadas as consistências ingeridas, se houve alguma modificação ou retirada de algum alimento nos últimos tempos.

Os critérios utilizados para classificação da disfagia foram presença de tosse após a ingestão de alimentos, alteração do movimento rotatório de mandíbula durante a mastigação, ausência de vedamento labial no sorver de líquidos e alteração das consistências ingeridas ou atraso na ejeção do bolo alimentar.

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A sensibilidade da língua e dos lábios foi testada a partir do toque com dedo enluvado nessas regiões, com solicitação do fechamento dos olhos dos participantes, sendo que eles deveriam identificar a presença ou ausên-cia dos toques e nomear sua localização.

O olfato foi avaliado por meio da apresentação de quatro odores (canela, orégano, fumo e café). Eram apresentados na mesma ordem a todos os participantes, que deveriam expressar se estavam sentindo tal odor e identificá-lo. A classificação utilizada foi: normal nos participantes que identificaram de três a quatro odores; hisposmia nos participantes que identificaram um ou dois odores; anosmia em participantes que não reconhe-ceram nenhum odor; e parosmia naqueles que apresen-taram distorção de olfato.5

A avaliação da articulação dos participantes se deu pela observação da fala e classificada em precisa ou im-precisa e inteligível ou ininteligível.

Para a classificação dos participantes em disartria fo-ram avaliados os seguintes critérios: presença de altera-ção na qualidade vocal, respiração e articulação, confor-me sugere Fracassi et al. (2011).26

A qualidade de vida dos participantes foi anali-sada por meio do PDQ-39.16 Esse protocolo é com-posto por 39 questões que avaliam a percepção da qualidade de vida do sujeito no último mês.18,27 Tais questões abrangem aspectos de mobilidade (10 itens), atividades de vida diária (AVD) a partir de seis itens, bem-estar emocional (seis itens), supor-te social (três itens), desconforto corporal (três itens), estigma (quatro itens), cognição (quatro itens) e comunicação (três itens).18,27 Cada um des-ses aspectos pode ser classificado de acordo com a frequência com que ocorre, variando a pontuação de zero a quatro. A pontuação total é de 0 a 100 pontos: quanto menor escore, maior a qualidade de vida.18 A aplicação desse questionário foi realizada na for-ma de entrevista, visando a melhor compreensão das questões por parte dos participantes.

Os dados das avaliações dos participantes foram cru-zados entre si, aplicando-se métodos descritivos (tabe-las) e testes estatísticos. As variáveis qualitativas foram apresentadas em forma de frequência e percentual (con-siderando-se a média da pontuação dos participantes da amostra, estimou-se que indivíduos com pontuação geral no PDQ-39 maior ou igual a 40,49 pontos, e supe-rior ou igual a 27,08 pontos na categoria “comunicação”, apresentaram pior percepção da qualidade de vida).

Para verificar as associações entre essas variáveis, foi utilizado o teste qui-quadrado de Pearson e, quando necessário, o teste exato de Fisher, com o recurso com-plementar da análise de resíduos padronizados ajustados para identificar a localização das associações ao nível de significância de 5%. Nenhuma das análises realizadas apresentou associação significativa.

resultados Participaram deste estudo 12 indivíduos (4 homens e 8 mu-lheres) com idade média de 62,25 ± 10,28 anos, variando entre 39 e 75 anos. Os participantes apresentaram tempo médio de diagnóstico de DP 5,2 ± 3,54 anos, variando entre um e 13 anos de evolução. Entre os indivíduos avaliados, se-te encontravam-se no estágio 2 da escala de Hoehn e Yahr; um no estágio 2,5; e quatro no estágio 3 da escala.

Considerando os valores originais do MEEM, os par-ticipantes apresentaram, em média, 23,83 ± 4,75 pontos, com tempo médio de instrução de 4,25 ± 3,44 anos.

Na avaliação dos aspectos vocais, foram encontra-dos os seguintes resultados: TMF dos participantes com média de 6 ± 3,70 segundos, variando entre 0,6 e 19,7 segundos; contagem de números de 1 a 10, apresentan-do média de 6,35 ± 3,13 segundos; e média de 1,11 na relação S/Z. Todos os participantes apresentaram pitch adequado ao seu gênero. A distribuição desses resulta-dos quanto aos aspectos de qualidade vocal, ataque vocal e loudness são mostrados na Tabela 1.

A respiração apresentou-se coordenada em todos os participantes, com frequência respiratória média de 21,5 ± 3,71 ciclos por minuto, apresentando-se com ritmo adequado em nove participantes e com intensidade fraca em cinco. O tipo respiratório predominante nos parti-cipantes foi misto. A distribuição desses dados pode ser visualizada na Tabela 2. O ritmo de fala foi adequado em três participantes e lentificado em nove.

Em relação ao olfato, três participantes foram clas-sificados com hisposmia, sete com anosmia e dois com parosmia. Tais dados estão dispostos na Tabela 3.

A higiene oral encontrou-se adequada em sete par-ticipantes e ineficiente nos demais. Foram identificados oito participantes com palato duro normal, três com tipo ogival e um com tipo atrésico. Já o palato mole mostrou-se normal em sete participantes e parético em cinco.

Mastigação, coordenação entre sucção e deglutição, sensibilidade de língua, elevação de base de língua e refle-xos protetivos de tosse e pigarreio estiveram presentes em todos os participantes do estudo. O tremor de língua esteve presente em 10 participantes e o tremor de mandíbula, em sete. Salivação adequada foi identificada em 10 participan-tes; o sialismo (abundância de salivação) esteve presente em dois deles. A sensibilidade dos lábios e o movimento rota-tório de mandíbula mostraram-se alterados em um sujeito.

Apenas um participante apresentou alteração para com as consistências ingeridas, apresentando dificuldade na ali-mentação com sólidos, diminuindo a ingestão de alimentos em tal consistência na sua dieta diária. Os demais partici-pantes ingeriam os três tipos de consistências. Quatro par-ticipantes apresentaram transtorno da deglutição.

Observou-se imprecisão articulatória em oito parti-cipantes, não relacionada aos estágios da DP (Tabela 3). Associando esse dado aos de respiração e voz, tem-se a classificação de seis participantes com quadros de disartria.

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tabela 1 Características vocais: TMF, qualidade vocal, ataque vocal, loudness e relação S/Z dos idosos

participante média tmF (em segundos) Qualidade vocal ataque vocal loudness relação s/Z

1 3,22 rouca, soprosa e instável brusco Fraco 2

2 6,52 soprosa, áspera e instável brusco Fraco 1,04

3 7,6 soprosa, áspera e instável aspirado Fraco 0,81

4 6,56 normal brusco Forte 1,11

5 1,22 soprosa, áspera e instável aspirado Fraco 1,5

6 5,78 áspera e instável brusco Fraco 0,48

7 13,8 rouca e instável isocrônico Forte 1,21

8 5,25 instável isocrônico Forte 0,78

9 2,02 rouca isocrônico Forte 1,66

10 11,9 normal isocrônico Forte 0,75

11 4,91 normal isocrônico Forte 0,5

12 4,25 soprosa isocrônico Fraco 1,51

tabela 2 Características respiratórias: tipo, frequência, ritmo e intensidade respiratória dos idosos

participante tipo respiratório Frequência respiratória (ciclos/min*) ritmo intensidade

1 abdominal 26 adequado Fraca

2 abdominal 20 adequado Fraca

3 mista 22 lentificado Fraca

4 torácica 23 adequado adequada

5 mista 24 acelerado Fraca

6 mista 15 adequado adequada

7 torácica 16 adequado adequada

8 mista 26 acelerado adequada

9 torácica 20 adequado adequada

10 mista 18 adequado adequada

11 mista 24 adequado adequada

12 mista 24 adequado Fraca

*Ciclos respiratórios por minuto.

Os resultados do PDQ-39 estão expostos na Tabela 4, na qual se têm os escores médios, mínimos, máximos, desvio-padrão de cada categoria e do total. Todos os participantes apresentaram pontuação nos aspectos de mobilidade, AVD e desconforto corporal. Na categoria “desconforto corporal”, um participante apresentou pon-tuação máxima para o item; na categoria “comunicação”, que engloba aspectos de fala e interação com os outros, todos os participantes com alteração articulatória pon-tuaram (Tabela 3).

Em referência à escrita (dado de questão compo-nente do PDQ-39), sete participantes apresentaram a pontuação máxima, ou seja, sempre têm dificuldade na sua execução.

A correlação entre a pontuação geral do PDQ-39, a categoria “comunicação”, os itens da avaliação fonoaudiológica, o tipo de alteração de olfato (his-

posmia, anosmia ou parosmia), o gênero e o está-gio da DP podem ser visualizados na Tabela 5. A presença de tremor de mandíbula mostrou uma ten-dência de associação com a alteração do escore de “comunicação” do PDQ-39.

discussÃoSabe-se que, com a evolução da idade, há um aumen-to da prevalência da DP.4 Em relação à idade média dos portadores de DP, os achados do estudo corroboram com trabalhos científicos já realizados,9,11,17 sendo a mé-dia de idade e o desvio-padrão dos idosos deste estudo de 62,25 ± 10,28 anos.

A maioria dos participantes do estudo encontrava-se no nível 2 da escala de Hoehn e Yahr,21 ou seja, apresen-tando a doença bilateralmente e sem déficit de equilíbrio.

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tabela 3 Relação entre características fonoaudiológicas e a categoria ”comunicação”’ do PDQ-39

participante deglutinação articulação olfato estágio da dp* comunicação pdQ-39**

1 normal alterada Hiposmia 2 16,67

2 normal alterada anosmia 2,5 50

3 alterada alterada anosmia 2 41,47

4 normal normal Hiposmia 2 0

5 normal alterada anosmia 3 16,67

6 alterada alterada parosmia 2 33,33

7 normal normal anosmia 3 0

8 normal alterada parosmia 3 33,33

9 alterada normal anosmia 2 0

10 alterada normal Hiposmia 2 33,33

11 normal alterada anosmia 2 41,67

12 normal alterada anosmia 3 58,33

* Estágio da DP de acordo com a escala de Hoehn e Yahr.20

** Escore da categoria ”comunicação” do PDQ-39 (números absolutos).

tabela 4 Média, desvio-padrão, valores mínimos e máximos dos escores do PDQ-39 por categoria e o total

média dp mínimo máximo

mobilidade 54,17 22,04 10 95

atividades de vida diária 48,96 21,62 12,5 79,17

bem-estar emocional 37,15 27,15 0 95,83

estigma 28,13 26,31 0 75

suporte social 12,50 19,94 0 66,67

cognição 23,44 20,14 0 56,25

comunicação 27,08 20,14 0 58,33

desconforto corporal 65,28 25,58 25 100

total 40,49 16,84 14,1 76,28

Na literatura, os estudos que utilizam essa escala variam em relação à metodologia aplicada, tendo-se estudos que a utilizam como critério de inclusão,5,6 para estabalecer grupos13,18 ou subgrupos.17

As alterações vocais podem estar presentes desde os estágios iniciais da DP, apresentando alterações na sua qualidade, na diminuição da intensidade e dos TMF, co-mo foi evidenciado neste estudo.28 Em relação à avaliação da qualidade vocal, 75% dos participantes apresentaram alteração, com qualidade vocal rouca em dois participan-tes, soprosidade em quatro e um participante com ambas, concordando com o encontrado na literatura. Evidenciou-se presença de voz rouca em 81% dos participantes com DP,5 assim como a qualidade vocal soprosa.10

A média e o desvio-padrão da frequência respirató-ria apresentada pelos participantes desse estudo (21,5 ± 3,71 ciclos/min) tiveram valores similares ao estudo desenvolvido por Parreira et al. (2003),29 envolvendo portadores de DP. Esses resultados evidenciam ciclos respiratórios reduzidos, podendo-se vincular tal limita-ção aos seguintes fatores: bradicinesia, rigidez, alterações

posturais, anormalidades da musculatura laríngea e fra-queza da musculatura respiratória, como afirma Ferreira et al. (2011),28 ao mesmo tempo em que assegura que a fraqueza da musculatura respiratória pode gerar dimi-nuição do suporte respiratório e, por consequência, da intensidade vocal e dos TMF.

A alteração de olfato é um sintoma prevalente, embora pouco relatado ou notado pelos sujeitos.11,13 A alteração da função olfatória pode influenciar na qualidade de vida, uma vez que o olfato influencia no sabor dos alimentos e bebi-das, servindo de proteção contra substâncias perigosas.13 A hisposmia pode anteceder os sinais motores da DP.11

Neste estudo, foram encontrados sete (58,3%) parti-cipantes com anosmia, sendo esse índice menor que o achado de Palermo et al. (2009),5 de 93% (com anosmia), e diferente dos dados de outro estudo,11 no qual dois apresentaram tal padrão olfatório.

Estudos mostram que o número geral de acertos dos odores entre os portadores de DP é significativamente menor quando comparado aos controles normais.11,13 A alta prevalência de disfunção do olfato presente na DP po-

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tabela 5 Relação entre os dados avaliados e a média dos escores geral do PDQ-39 e da categoria “comunicação” do PDQ-39

escore geral pdQ-39* p-valor escore “comunicação“ pdQ-39* p-valor

articulação, n (%) 5 (62,5) 0,545 6 (75) 0,222

Voz, n (%) 5 (55,6) 1 5 (55,6) 1

disfagia, n (%) 2 (50) 1 3 (75) 0,576

respiração, n (%) 4 (50) 1 5 (62,5) 12

tremor de mandíbula, n (%) 4 (57,1) 1 6 (85,7) 0,072

tremor de língua, n (%) 6 (60) 0,455 6 (60) 1

disartria, n (%) 4 (40) 0,455 5 (50) 0,47

olfato, n (%) 0,117 0,332

Hisposmia 0 (0) 1 (33,3)

anosmia 5 (71,4) 4 (57,1)

parosmia 1 (50) 2 (100)

sexo, n (%) 0,545 0,576

masculino 1 (25) 3 (75)

Feminino 5 (62,5) 4 (50)

estágio, n (%) 0,343 0,659

2 3 (42,9) 4 (57,1)

2,5 0 (0) 1 (100)

3 3 (75) 2 (50)

*A média do escore do geral do PDQ-39 neste estudo foi ≥ 40,49 e a média do escore na categoria “comunicação” foi de ≥ 27,08.

de colaborar com o diagnóstico diferencial dessa doença e como ferramenta de diagnóstico precoce da DP.11

Neste estudo, todos os participantes apresentaram altera-ção do olfato. Ao correlacionar a disfagia com as alterações de olfato, dois sujeitos apresentaram anosmia, um apresentou parosmia e outro, hisposmia. Os quatro participantes com al-teração olfatória e com transtorno de deglutição encontram-se classificados em nível 2 na escala de incapacidade da DP. Os dados encontrados na literatura não referenciam os dis-túrbios olfatórios à disfagia especificamente junto à DP.

Em relação aos reflexos protetivos (tosse voluntária e pigarreio), os resultados encontrados neste estudo con-cordam com o estudo de Palermo et al. (2009),5 no qual todos os participantes apresentaram presença de pigar-reio e 96% evidenciaram presença de tosse voluntária.

Na literatura, encontram-se como sinais de alterações de deglutição na DP os seguintes critérios: fechamento incom-pleto dos lábios e escape de saliva, diminuição do reflexo da deglutição, possível acúmulo de saliva em cavidade oral, per-da prematura de alimento, estase em recessos faríngeos e pe-netração laríngea antes da deglutição.6 Alguns desses sinais puderam ser percebidos nos participantes deste estudo.

A rigidez dos músculos faciais pode comprometer a mastigação, gerando dificuldades na formação de um bolo coeso para ser deglutido durante o disparo do refle-xo, originando resíduos em região posterior de cavidade oral, aumentando a possibilidade de escape prematuro de alimento e provocando engasgos.6

A disartria hipocinética, que é característica da DP, gera disfunção laríngea que pode ser observada já nos estágios iniciais da doença.26 Em estudo realizado com portadores de DP,26 esse distúrbio aparece com fonação caracterizada por diminuição do tempo máximo de fo-

nação (66,7%) e reduzida intensidade vocal (61,9%). A alteração da qualidade vocal (soprosidade e rouquidão) e o padrão articulatório impreciso também são relatados como característicos desse tipo de disartria.10 O padrão articulatório impreciso, visto em oito participantes deste estudo, pode ser relacionado à hipocinesia, imprecisão do ponto de articulação, ausência de estreitamento ade-quado do trato vocal, incoordenação dos músculos arti-culatórios e redução da abertura vertical da boca, como o encontrado em Dias et al. (2011).10

A pontuação geral e de algumas categorias (cognição e desconforto corporal) do PDQ-39, neste estudo, apre-sentaram valores diferentes dos encontrados em estudos anteriores,17,18,27,30 o que pode ser relacionado ao pequeno número de participantes.

As categorias AVD, estigma, suporte social e bem-es-tar emocional apresentaram valores próximos aos en-contrados em estudo de Navarro-Peternella e Marcon (2012),17 que classificaram a pontuação dos participantes entre os gêneros e o grau de acometimento da DP e, as-sim como no presente estudo, não encontraram relação significativa entre o grau de acometimento da doença e os valores do PDQ-39.

A pior percepção de qualidade vida dos participantes des-te estudo foi observada nas categorias de desconforto corpo-ral, AVD e mobilidade, sendo que as duas últimas categorias também apresentaram pior percepção de qualidade de vida no estudo de Lana et al. (2007).30 Estudos sobre qualidade de vida na DP, que utilizaram o PDQ- 39,14 mostraram que, com a evolução da doença, as dimensões de mobilidade, AVD e cognição apresentam-se alteradas, sugerindo, assim, que es-ses aspectos pioram com o avanço da doença.16-18 No pre-sente estudo, essas três categorias apresentaram aumento do

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Doença de Parkinson e fonoaudiologia | 123

escore com o aumento do grau de estadiamento da DP, assim como as categorias de bem-estar emocional, comunicação e desconforto corporal também apresentaram tal acréscimo no escore, embora sem diferença estatística (Tabela 5).

A tendência de associação entre o tremor de mandí-bula e o escore de “comunicação” do PDQ-39 pode ser justificada por ser uma estrutura importante na reali-zação das diferentes funções orofaciais e o tremor ser o primeiro sintoma observado.3

Cabe salientar que as características da amostra do es-tudo podem estar limitadas em função do seu tamanho e que mais estudos devem ser realizados correlacionando as alterações dos aspectos fonoaudiológicos às alterações da qualidade de vida e do nível de incapacidade dos portado-res da DP, de forma a promover generalizações pertinentes. Os resultados encontrados neste estudo podem ampliar as possibilidades de diagnóstico e intervenção precoce da DP,

sabendo-se que a identificação precoce pode imprimir uma qualidade de vida favorável aos seus portadores.

conclusÃoA partir deste estudo, pode-se relatar que foi observado comprometimento dos aspectos de qualidade vocal, respi-ração, deglutição, olfato e a presença de disartria, aos quais atribui-se interferência na qualidade de vida dos partici-pantes. Salienta-se, também, que o tremor de mandíbula apresenta possível reflexo na qualidade vida dos portado-res de DP, sobretudo nos aspectos de comunicação.

conFlito de interesseOs autores deste trabalho não apresentam potenciais conflitos de interesse.

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a,bSecretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude; Prefeitura Municipal de Curitiba.cUniversidade Federal do Paraná.dTCA Estúdio.ePrograma de Pós-graduação Stricto Sensu em Enfermagem e Biociências – Doutorado, da Universidade.

dados para correspondênciaGabriela Ribeiro Schilling – Endereço: Av. José Loureiro da Silva, 1600/507 – Centro. CEP: 94010-000. Gravataí – RSTelefone: (51) 3430-1222. E-mail: [email protected]

AvALIAçãO DA cOmPREEnsãO DE ÍcOnEs

cOmO REcuRsO nO PREEncHImEnTO DO

DIÁRIO DE ATIvIDADEs fÍsIcAs POR IDOsOsRosemary Rauchbacha, neila maria de souza Wendlingb,

Anderson Paulo scorsatoc, Ayrton scorsato netod,

Estélio Henrique martin Dantase

artigo or iginal

Palavras-chave Comunicação.

Atividade motora.

Diário de atividade física.

Avaliação. Idosos.

KeywordsCommunication.

Motor activity. Daily physical

activity. Evaluation.

Older adults.

resumoObjetivo: Criar ícones como artifício facilitador para interpretação e comunicação da tarefa realizada por idosos no preenchimento de diário de atividades físicas. Método: A amostra foi composta por 30 idosas, participantes de um programa de atividades físicas. O método utilizado foi o de reconhecimento de 50 figuras com pontuação do número de acertos. Para oferecer uma comunicação eficiente e direta, foram escolhidas as atividades que mais evidenciaram o comportamento dos idosos e o ambiente da prática da atividade física. O critério adotado para seleção dos ícones foi a proporção de acertos: ≥ 0,80, figura aprovada; entre 0,70 e 0,79, figura que precisa de modificações; ≤ 0,70, figura que precisa ser refeita. Resultados: Observou-se que cinco das figuras teriam de ser refeitas e oito precisariam ser melhora-das em relação a contraste e profundidade; as demais (37 figuras) obtiveram a proporção de acertos esperados (> 0,8000). Conclusões: Formas gráficas sintéticas com conteúdo de informação amplo foram, em parte, responsáveis pelo desvio na interpretação, como também a deterioração da visão normal causada pelas modificações fisiológicas do envelheci-mento. As imagens tiveram seu tamanho ligeiramente ampliado e determinadas partes dos gráficos foram evidenciadas para conduzir a interpretação correta. Observou-se que os ícones se tornam uma ferramenta de comunicação eficiente que minimiza dificuldades na compreensão para o preenchimento do diário de atividade física por idosos.

EvALuATIOn In THE unDERsTAnDInG Of IcOns As REsOuRcE fOR fILLInG In THE PHYsIcAL AcTIvITIEs DIARY fOR sEnIORs

abstractObjective: Making icons as communications resource for filling in the daily physical activity for older adults, was the aim of this study. Methods: The sample was composed of 30 women who participated in a physical activity program. The method used was the recognition of 50 figures was scored and the number of hits. To provide efficient communication activities were chosen that showed longer behavior of the elderly as also the environment of physical activity. The criterion for selection of icons was the hitting ratio: ≥ 0.80, figure approved; between 0.70 and 0.79, figure that needs modifications; ≤ 0.70, figure that needs to be redone. Results: We found that five of the figures would have to be redone, and eight would need to be improved in relation to contrast and depth, the other (37 figu-res) achieved the expected proportion of correct> 0.8000. Conclusions: The synthetic graphical shapes with large information content were partly responsible for the deviation in interpretation, but also the deterioration of normal vision caused by physiological changes of aging. The images have a size slightly enlarged and certain parts of the graphs were shown to lead to correct interpretation. It was observed that the icons become an effective communi-cation tool that minimizes difficulties in understanding for the completion of daily physical activity for older adults.

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Avaliação da compreensão de ícones | 125

introduÇÃoA literatura apresenta diversos instrumentos que foram desenvolvidos para a avaliação da atividade física reali-zada por idosos, e mais de 30 técnicas diferentes foram levantadas para estimar a atividade física e o gasto ener-gético. Tais técnicas podem ser classificadas em dois gru-pos: instrumentos que utilizam informações dadas pelos sujeitos (questionários, entrevistas e diários) e instru-mentos que utilizam marcadores fisiológicos ou sensores de movimento para medida direta das atividades em um determinado período de tempo.1-3

Há consenso entre os pesquisadores no que diz respeito aos estudos epidemiológicos, quanto ao alto custo no uso dos métodos laboratoriais e sensores de movimento3,4,5 e a facilidade e aceitação no uso dos questionários, entrevistas e diários, os quais têm sido o método mais usado para medir a atividade física em vários países.6,7,8 Staudenmayer et al.2 apontaram quatro estudos internacionais que utilizaram acele-rômetros em escala populacional, pois são conside-rados padrão de referência, por gerarem uma medida direta de atividade física.9 No Brasil, a utilização dos acelerômetros em larga escala ainda é considerada cara. Apesar dos dados do acelerômetro apresenta-rem-se mais precisos, ainda é necessária a ajuda de recordatórios ou diários de atividade física para es-clarecer o tipo de atividade que está sendo executada em um determinado período.3,4,6

Quanto aos recordatórios com formato de questio-nários, os mais utilizados com idosos são o Modified Baecke Questionnaire for Older Adults e o International Physical Activity Questionnaire (IPAC). Porém, esse último método citado depende do viés de memória do avaliado, e a dificuldade em relatar corretamente o tem-po e a intensidade das atividades diárias pode gerar erros de interpretação dos resultados.7,8,11

Ribeiro et al.9 citam, em revisão sobre métodos de avaliação utilizados para mensurar atividade física, que o questionário indicou a superestimação das atividades re-latadas pelos participantes comparadas ao gasto energé-tico mensurados por outros métodos de referência, entre eles, a água duplamente marcada. Já os diários de ativi-dade física, que podem avaliar o tempo, a intensidade e a estimativa do gasto energético das atividades diárias, são baseados no autorrelato e geralmente fornecem um registro detalhado das atividades realizadas durante um dia normal.4 De acordo com Tavares,3 o uso de diários parece ser uma ferramenta fundamental para análise dos dados capturados pelos sensores de movimento.

Dos diários de atividade física apontados na lite-ratura, que permitem avaliar as atividades realizadas e estimar o gasto energético, o mais utilizado é o de Bouchard et al.,12 em que as atividades são classifica-das em nove categorias diferenciadas em grupos dis-tintos de gasto energético. As desvantagens apontadas

pela literatura em relação ao preenchimento dos diá-rios pelos idosos é que os indivíduos podem ser in-fluenciados pelas experiências vivenciadas, flutuações no estado de saúde e de humor, depressão, habilidade de lidar com a tarefa e problemas com a memória e cognição.11 Além disso, idosos dedicam a maior parte de seu dia intercalando atividades de baixa e modera-da intensidade, como caminhadas, tarefas domésticas e jardinagem, tendo dificuldade em diferenciar a in-tensidade e o tempo destinado a cada tarefa.

Rauchbach e Wendling,13 em estudo para adequa-ção de instrumento que mede o nível de atividade física em idosos, utilizaram o diário elaborado por Bouchard et al.,12 cuja adaptação foi pedir aos idosos que descrevessem as atividades e não só apontassem o número referente à classificação da atividade. Tal solicitação foi em função da dificuldade dos partici-pantes em enquadrarem a atividade realizada com a descrita no instrumento. Além disso, o objetivo dos autores era identificar atividades comuns ao univer-so do idoso que não eram contempladas nos instru-mentos encontrados na literatura, como o tempo de-dicado aos cuidados de criança pequena ou adulto dependente. Os autores constataram que os idosos tinham dificuldade no preenchimento do instru-mento, precisando de reforço na orientação. Ao en-tregar o primeiro formulário de registro de 24 horas, dúvidas, erros e dificuldades de apontamento eram esclarecidos antes da entrega do formulário seguinte.

Os achados incluíram dificuldade em escrever por falta de estudos ou de preensão do lápis – sendo necessá-rio que o formulário fosse preenchido por outra pessoa –, falta de clareza no texto (Figura 1) e explicações ex-tensas da ação, como o ato de cozinhar vir acompanhado da receita do dia. Essas dificuldades faziam com que o formulário fosse entregue sem preenchimento ou acom-panhado por outras folhas com os registros, tendo como justificativa o medo de borrar o papel entregue.

A partir dessas dificuldades, ponderou-se a utilização de recursos facilitadores para o entendimento de diários de atividade física pela população idosa. Hallal et al.,14 em um levantamento feito depois de 10 anos de uso de recordatório sobre atividades físicas, recomendaram a utilização de fotos ou figuras que relatem as diferentes atividades que são culturalmente relevantes ao grupo estudado. Assim, as imagens dos movimentos comuns na vida do idoso foram simplificadas em ícones, por um processo de sintetização gráfica e extração das caracte-rísticas amplas correspondentes às ações que se preten-de representar. Os ícones têm por características serem imagens representativas e análogas a uma determinada situação ou ação, podendo ter maior ou menor grau de representatividade e abrangência de comunicação.

Segundo Peirce, citado por Rabaça e Barbosa,14 íco-ne é tudo aquilo que, sob certos aspectos e em alguma

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Figura 1 Exemplo das dificuldades encontradas pelos pesquisadores na interpretação dos diários preenchidos pelos idosos.

medida, substitui alguma outra coisa, representando-a para alguém. A utilização de sombra de cor única nas imagens icônicas oferece ao observador uma informa-ção direta e bastante simplificada. No entanto, o pro-cesso de síntese na produção da imagem tende a afetar também o grau de representatividade ou significância do ícone. Dessa maneira, quanto mais a imagem sofre abstração e dela é eliminado o excesso de informação, mais o ícone final torna-se universal.15

A característica da construção da imagem iconográ-fica proporciona o benefício da universalidade da comu-nicação, mas também pode distanciar a imagem da rea-lidade vivida por parte do universo das pessoas pesqui-sadas. Esse fato ocorre em função de a interpretação dos ícones estar baseada no conhecimento e nas experiências vividas por cada indivíduo.16

A fim de minimizar a variabilidade de respostas ob-tidas em instrumentos de autopreenchimento, o objetivo deste estudo foi criar ícones como artifício facilitador para interpretação e comunicação da tarefa realizada por idosos no preenchimento de diário de atividades físicas.

mÉtodo A escolha da população foi intencional e composta por 30 mulheres com 60 anos ou mais, participantes de um programa de atividades físicas para terceira idade na cidade de Curitiba. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas com as idosas durante o período da aula da ginástica. Este estudo faz parte de um dos capí-tulos do projeto de pesquisa do Doutorado em Ciências Médicas e Saúde da Rede Euroamericana de Motricidade Humana (REMH), intitulado “Autenticidade científica do instrumento de avaliação do nível de atividade físi-ca de idosos Curitibativa”, nº 004/2012, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da REMH.

A pesquisadora se apresentou ao grupo antes do iní-cio das atividades, explicando a utilidade da pesquisa e como seria feita, ou seja, por meio da apresentação de figuras e qual o significado, sem, contudo, mostrar os ícones para a turma. Foi explicado o que é o termo de consentimento e a sua importância, deixando livre a participação ou não na pesquisa entre as idosas pre-sentes. A entrevista era realizada em local reservado,

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Avaliação da compreensão de ícones | 127

isoladamente com a idosa voluntária. As idosas foram orientadas a levarem os óculos, se fosse o caso, para a entrevista. O primeiro item era a leitura do termo de consentimento e sua assinatura, para, na sequência, apresentar os ícones em separadamente e em ordem aleatória, sob o comando de explicar qual a ação re-presentada pelo ícone. Não foi fornecido pela pesqui-sadora ou por terceiros nenhum tipo de auxílio para a compreensão do desenho, as idosas falavam sua inter-pretação e a pesquisadora anotava em formulário espe-cífico no espaço correspondente ao ícone apresentado. O tempo para a interpretação e formulação da resposta não foi limitado e as idosas foram liberadas a responder “não sei”, caso não conseguissem identificar ação algu-ma no desenho. Após o último ícone, a participante re-tornava para a aula e a próxima era chamada.

O método utilizado foi o de reconhecimento da figu-ra e pontuação do número de acertos. Para tanto, foram construídas fichas plastificadas em formato de cartões, somando-se um total de 50 cartas, cada uma com um desenho. Cada desenho recebeu um código composto por uma letra e um número para posterior identificação. Para oferecer uma comunicação eficiente e direta, foram escolhidas as atividades que mais evidenciaram o com-portamento das idosas, descritas nos diários da pesquisa de Rauchbach e Wendling.13 Outras foram acrescenta-das, comuns ao ambiente da prática da atividade física, descritas em instrumentos já mencionados.1 Ao total, foram selecionadas 50 atividades e elaboradas imagens do tipo ícone (Quadro 1). Para construção dos ícones, as imagens foram simplificadas, e as características das ações que se pretendia representar foram realçadas.

O critério para determinar os ícones que deveriam ser refeitos, considerando a participação voluntária de apenas 30 idosas, foi fixar o alfa, utilizando a função poder como padrão para determinar a proporção de aceitação do íco-ne. Ao fixar o erro tipo I (rejeitar a hipótese nula, dado que essa é verdadeira), tem-se a intenção de evitar que um íco-ne mal planejado seja considerado eficiente. O erro tipo II (não rejeitar a hipótese nula, dado que é falsa) é utilizado para o cálculo do poder do teste (poder do teste = 1 – erro tipo II). Na análise desse erro evita-se que um ícone com qualidade seja considerado não eficiente. Assim, quanto mais próximo de “1” for o valor do poder, melhor é o en-tendimento do ícone em questão.

Ao fixar a probabilidade de cometer o erro tipo I em 5%, e tomando uma proporção igual a 0,5 acerto como hipótese nula, para uma amostra de 30 idosas, obtém-se diferentes valores para o poder de teste, de acordo com a proporção de acertos (Figura 2). Na simulação de pro-porção para 0,7 acerto, obtém-se um poder de teste de 88% para descartar a hipótese nula. Já o ícone com pro-porção de acertos igual a 0,8 apresentaria um poder de teste de 98% para descartar a hipótese nula (a probabili-dade de cometer o erro tipo II é de 2%).

Quadro 1 Lista de atividades descritas pelas idosa e transformadas em ícones

1- dormindo profundamente2- tempo destinado ao banho; que envolve despir-se, tomar banho, secar-se, pentear-se e vestir-se novamente.3- toda faxina que exige grande esforço físico. esfregar o chão, varrer calçada, limpar vidros.4- carregar pequenas compras por um período de deslocamento maior que 10 minutos.5- cuidar de criança pequena, que exige pegar no colo, carregar, trocar fraldas, ajudar a vestir-se, dar banho, dar de comer, etc.6- trabalhando, jogando, conversando sentado em frente a uma escrivani-nha, utilizando ou não os recursos do computador.7- subir escadas com muitos degraus (10 degraus ou mais).8- Fazer exercícios orientais do tipo taichi, konfu e outros que exijam o domínio do equilíbrio.9- Jogos com raquete. 10- trabalhos de manutenção, como marcenaria, carpintaria, pregar, marretar, colocar tijolos, empilhar objetos, etc.11- na cama, acordado, rezando, lendo, em atividade tranquila antes de dormir ou após acordar.12- dança de salão, em um baile ou aula de dança.13- cuidar das plantas, limpar os vasos, regar, adubar. esforço físico sem cansaço.14- tarefas domésticas como lavar, secar e guardar a louça. organização dos objetos na cozinha.15- cuidar de pessoa doente, quando tarefas de dar o medicamento, alimentação, banho e troca de roupa de cama exigem atenção constante.16- sair para passear com o animal de estimação.17- subir ladeiras, em que o esforço físico faça perder o fôlego.18- exercícios nos quais o esforço físico provoque calor com suor.19- atividades aquáticas que exijam remar e empurrar o barco para dentro da água.20- tarefas de manutenção que exijam subir uma escada, equilibrar-se, arrastar e levantar objetos em situação de desequilíbrio.21- sentado lendo ou assistindo tV.22- conversando com amigos.23- Jardinagem. tarefas nas quais o esforço físico exija cavar, agachar, utilizar pá, enxada, foice, ancinho. sentir-se cansado no final da atividade.24- arrumação da casa, em que o esforço físico exija empurrar e carregar móveis. sentir-se cansado ao final da atividade25- levar criança para a escola.26- caminhar como forma de deslocamento entre uma atividade e outra (mais de 10 minutos) ou como exercício programado.27- exercício físico que exige esforço. ocorrência de cansaço e sudorese.28- natação em piscina, mar ou rio.29- pescar na beira de rio ou lago.30- permanecer em pé por um período de mais de 10 minutos carregando objetos nas mãos.31- sentado à mesa fazendo uma refeição.32- cantando, participando de coral.33- tempo destinado ao preparo dos alimentos. cortar, picar, preparar e cozinhar.34- arrumar a cama, organizar o quarto.35- namorar.36- andar de bicicleta.37- Fazer exercícios nas academias e/ou ao ar livre, nas praças.38- Fazer exercícios na água (hidroginástica).39- atividades como bolão, boliche ou bocha.40- dirigir.41- tempo destinado à higiene; escovar os dentes, pentear o cabelo, barbear-se, etc.42- limpeza da casa, em que o esforço físico seja leve a moderado, não sentindo exaustão ao final da tarefa.43- carregar sacolas ou volumes pesados44- Fazendo trabalhos manuais: tricô, crochê, bordado etc.45- Vestir-se.46- correr.47- exercícios de alongamento.48- Jogos com bola.49- esperar em fila por mais de 10 minutos (ônibus, banco etc.).50- lavar o carro.

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128 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

resultados A amostra foi composta por 30 idosas, com média de idade de 69,37±6,70 anos, com predominância para etnia branca, que se utilizam dos serviços gratuitos ofertados pelo município. Na análise dos resultados, observou-se que cinco das figuras teriam de ser refeitas, e oito preci-sariam ser melhoradas em relação a contraste e profun-didade. As demais (37 figuras) obtiveram a proporção aproximada de acertos esperados > 0,8000 (Tabela 1).

discussÃo Das figuras que tiveram baixa proporção de acertos (Figura 3), “arrumar a cama” (D4) foi a que apresentou maior dificuldade de interpretação, sendo entendida como “empurrar um barco”. “Cuidar de pessoa doente” (B5) foi identificada como ir ao médico; e “conversando

Proporção de acertos

Pode

r de

test

e

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Figura 2 Critério adotado para seleção dos ícones. Proporção de acer-tos ≥ 0,80, figura aprovada; proporção de acerto entre 0,70 e 0,79, figura que precisa de modificações; proporção de acerto ≤ 0,70, figura que precisa ser refeita.

0,8571 0,9667 0,7667 0,7 0,9333 1 1 1 1 0,9

a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7 a8 a9 a10

0,9333 0,9667 0,9667 0,7 0,3333 1 0,7 1 0,9667 1

b1 b2 b3 b4 b5 b6 b7 b8 b9 b10

0,9667 0,5667 1 0,7333 1 0,9667 0,9333 0,7333 1 0,8571

c1 c2 c3 c4 c5 c6 c7 c8 c9 c10

0,9333 0,9333 0,8 0,2 0,6667 1 0,7667 0,9 1 0,93

d1 d2 d3 d4 d5 d6 d7 d8 d9 d10

0,8571 0,8333 0,8 0,7667 0,6667 0,7667 0,9 0,9333 0,8333 1

e1 e2 e3 e4 e5 e6 e7 e8 e9 e10

no Figuras aprovadas

no Figuras que precisam melhorar detalhes e constraste

no Figura a ser refeita

com amigos” (C2) gerou dúvida nas participantes sobre a ação executada, como se a ideia fosse ajudar alguém. Já a figura que expressava o ato de vestir (E5) foi interpre-tada como exercício de alongamento. Quanto à imagem que representava estar namorando (D5), as idosas pre-feriram ignorar a resposta e dizer “não sei”, talvez por questões culturais, visto o rubor na face.

tabela 1 Proporção de acertos por figura

Observou-se que formas gráficas simplificadas com amplo conteúdo de informação foram, em parte, respon-sáveis pela dificuldade na interpretação dos significados. Como recurso, para minimizar o ruído ocasionado por esse fato, as imagens foram aprimoradas, tendo seu ta-manho ligeiramente ampliado e determinadas partes dos gráficos realçados. Foi necessário incluir elementos para esclarecer a ação, dar profundidade para melhorar a vi-sualização e melhorar a perspectiva dos objetos, condu-zindo, assim, à interpretação correta do ícone (Figura 4). Os desenhos que não atingiram a proporção necessária para aprovação foram refeitos. Para serem usados como recurso no preenchimento de diários de atividade física, os desenhos foram estruturados em uma folha de tama-nho A4, dispostos em 10 colunas e cinco linhas, ocupan-do os dois lados da folha (Figura 5).

Figura 3 Exemplos de imagens. C2, conversando com amigos; B5, cui-dar de pessoa doente; D4, arrumando a cama, organizando o quarto; D5, namorar; E5, vestir-se.

Figura 4 Exemplos de alterações feitas para adaptação das figuras.

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Avaliação da compreensão de ícones | 129

Foi possível identificar que a interferência na inter-pretação dos ícones se deu em decorrência de dois fato-res. Inicialmente, o desvio foi ocasionado pela vivência diferente de cada indivíduo pesquisado, o que foi mini-mizado ajustando as imagens às situações representati-vas e culturalmente conhecidas dos idosos. Outro fator que influenciou foi a limitação da representação gráfi-ca em atender a exigência de representar um conteúdo muito amplo de maneira sintética, como a utilização dos equipamentos de ginástica em praças públicas.

O que pode determinar a capacidade de distinguir os detalhes de uma figura é a deterioração da visão normal causada pelas modificações fisiológicas do en-velhecimento. A acuidade visual decresce, aumenta a sensibilidade à luminosidade e há perda da nitidez das cores.18 Em média, o idoso precisa três vezes mais con-traste para ver alguns estímulos em baixa frequência, e a percepção de profundidade é mais fraca.19 Essas alterações não são corrigidas com uso de lentes, e as dificuldades são amenizadas pela adaptação, aumen-tando o tempo na presença do estímulo, distanciando e aproximando o objeto do foco de visão ou interfe-rindo no grau de luminosidade.

Um ponto a ser considerado é o tamanho da amostra – pequena, recrutada em um único pro-grama de atividade física e constituída apenas por

mulheres. Reflete um contexto sociocultural muito específico, de forma que os achados apresentam va-lidade externa limitada. Aconselha-se que os ícones sejam testados quanto ao seu entendimento antes da sua utilização como ferramenta no auxílio do preenchimento dos diários de atividade física, em grupos mistos ou em contexto cultural diferente, pois as figuras modificadas não foram reavaliadas.

conclusÃoMesmo considerando a ocorrência de posteriores des-vios na interpretação das figuras, após as imagens ajus-tadas à realidade do universo pesquisado, os ícones se tornam uma ferramenta de comunicação eficiente que minimiza dificuldades na compreensão para o preenchi-mento do diário de atividade física por idosos.

conFlito de interesseOs autores declaram não haver conflito de interesses per-tinentes.

Fontes de FinanciamentoO presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Figura 5 Guia de orientação para o preenchimento do recordatório da atividade física.

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130 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

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Protocolos de prevenção da incontinência urinária em idosas | 131

PROTOcOLOs DE PREvEnçãO DA

IncOnTInêncIA uRInÁRIA Em IDOsAs:

REvIsãO cRÍTIcA DA LITERATuRA

mariana Gagliardi Pincelia, Ana silvia moccellinb

artigo de revisão

aFisioterapeuta, Especializanda em Fisioterapia Geriátrica pela Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP.bProfª. Drª. do Núcleo de Fisioterapia da Universidade Federal de Sergipe – UFS, Campus Lagarto, Lagarto/SE.

dados para correspondênciaMariana Gagliardi Pinceli – Endereço: Rua Jornalista Sebastião Macedo, 334 – Centro. CEP:13.580-000. Ribeirão Bonito – SPTel: (16) 3344-1298. Email: [email protected]

resumoObjetivo: Sistematizar e analisar as evidências científicas sobre as formas preventivas da incontinência urinária (IU) em mulheres idosas. Método: Estudo realizado até agosto de 2013 por meio de revisão sistemática nas bases de dados Medline/Pubmed. Foram investigados os títulos e resumos de todos os artigos identificados com as palavras-chave prevention, uri-nary incontinence e elderly, que abordassem formas preventivas de IU em mulheres idosas. Resultados: Foram identifi-cados 221 estudos na pesquisa às bases de dados. Entre eles, oito foram considerados apropriados e utilizados na análise deste trabalho. As intervenções abordaram rodas de conversa, entrega de folhetos educativos, vídeos, informações obtidas por meio de um sistema de computador, mudanças comportamentais e realização de exercícios. Dois estudos destacaram o interesse dos participantes na obtenção de informações sobre a IU por discussões, panfletos e vídeos. Quatro estudos mostraram que sessões de treinamento da bexiga e da musculatura do assoalho pélvico, a partir de exercícios de Kegel, e aderência ao grupo de modificação comportamental, com intervalos miccionais programados, foram benéficos para prevenção da IU. As sessões com informações sobre a prevenção variaram de 60 minutos a acompanhamentos durante 12 meses e foram realizadas de forma individual e coletiva. Conclusão: Não há uma definição da intervenção mais adequada para prevenir a IU em idosas. Entretanto, metade dos estudos afirma que sessões de treinamento da bexiga e da muscu-latura do assoalho pélvico, além da modificação de comportamento, foram intervenções benéficas na prevenção da IU.

PROTOcOLs TO uRInARY IncOnTInEncE PREvEnTIOn In ELDERLY WOmEn: A cRITIcAL REvIEW Of THE LITERATuRE

abstractObjective: To systematize and analyze the scientific evidence about urinary incontinence preventive forms in elderly wo-men. Method: The study was made until August/2013 through systematic review on Medline/Pubmed databases. The titles and abstracts of all articles identified with keywords prevention, urinary incontinence and elderly, that addressed preventive forms of urinary incontinence in elderly women were investigated. Results: 221 studies were identified in the research da-tabases. Among these, eight were considered appropriate and used in the analysis of this review. Interventions addressed since wheels conversation, delivering educational brochures, videos, information obtained by a computer system, behavioral changes and exercises. Two studies highlighted the participants interest in obtaining information about urinary incontinence through discussions, pamphlets and videos. Four studies showed that bladder and pelvic floor muscles training sessions, from Kegel exercises, and adherence to behavioral modification group, with scheduled voiding intervals, were beneficial for urinary incontinence prevention. The sessions with information about prevention ranged from 60 minutes to accompaniments for 12 months and were conducted individual and collective way. Conclusion: There is no definition of the most appropriate intervention to prevent urinary incontinence in elderly women. However, half of the studies state that the bladder and pelvic floor training sessions, in addition to behavior modification intervention were beneficial in preventing urinary incontinence.

Palavras-chavePrevenção.

Incontinência urinária. Idosos.

KeywordsPrevention.

Urinary incontinence.

Aged.

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132 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

introduÇÃoEm decorrência do avanço da longevidade, a IU surge co-mo um problema que afeta os idosos de maneira significa-tiva, sobretudo as mulheres,1 em seus aspectos físico e psi-cológico, exercendo múltiplos efeitos sobre suas ativida-des diárias e interações sociais.2 De acordo com o conceito da International Continence Society (ICS), a IU consiste na perda involuntária de urina, que é um problema social ou higiênico, objetivamente demonstrável.3-4

Com a idade, surgem alterações que, por si só, não provocam incontinência, mas induzem a modificações funcionais e estruturais no sistema urinário que predis-põem ao problema.5 Diabetes, obesidade, tabagismo, me-nopausa, doenças do sistema nervoso central, uso de me-dicamentos, restrição da mobilidade, múltiplos partos va-ginais, impactação fecal, distúrbios psíquicos, diminuição do tônus da região perineal e uso de álcool são alguns dos fatores que podem predispor ao desenvolvimento da IU.5-7

Muitos idosos veem a incontinência de forma incorreta, como um processo natural do envelhecimento e, por falta de informação ou até por vergonha, partem diretamente para o uso de fraldas ou absorventes, interferindo na vida sexual, nas atividades físicas e domésticas e no trabalho.8

A perda urinária leva a sentimentos de embaraço e ao isolamento devido ao receio do odor da urina,9-10 poden-do desencadear depressões e até institucionalizações;11 pode causar irritação na pele e agravar as escaras de de-cúbito. A IU ocasiona implicações sociais de desconfor-to e perda da autoconfiança, além de interferir de forma negativa na qualidade de vida de muitos idosos.12 Além disso, acarreta grandes custos e despesas e é um aspecto econômico que tende a se agravar nos próximos anos.8,11 Assim, torna-se cada vez mais importante criar hábitos de prevenção para evitar que essa condição desconfortá-vel afete a vida das mulheres idosas.

A literatura apresenta diversos protocolos utilizados para a prevenção da IU em mulheres idosas, mas não há uma definição de qual seria o mais efetivo para esse pú-blico. Dessa forma, o objetivo desta revisão foi sistema-tizar e analisar as informações disponíveis na literatura a respeito dos protocolos de prevenção da IU na popula-ção de mulheres idosas.

metodoloGiaO estudo foi realizado até agosto de 2013 e incluiu publi-cações disponíveis na base de dados eletrônica Medline/Pubmed. Foram levantados artigos publicados entre 1992 e 2013, utilizando como palavras-chave prevention, urinary incontinence e elderly.

A seleção dos artigos ocorreu a partir da leitura dos títulos e seus respectivos resumos, procurando-se ve-rificar o atendimento aos critérios de inclusão. Foram incluídos artigos que abordassem formas preventivas de IU em mulheres idosas. Excluíram-se os artigos com

títulos não relacionados ao tema da revisão, artigos que apresentassem procedimentos cirúrgicos e aqueles rela-cionados à incontinência fecal. Duas revisoras estiveram envolvidas tanto na análise prévia quanto na revisão dos textos completos. A lista dos artigos foi de comum acor-do, decidida por consenso em reunião.

Os artigos selecionados foram organizados e compa-rados de forma descritiva, de acordo com os seguintes itens: ano e local de publicação, desenho metodológico incluindo o tamanho da amostra e a intervenção/ação realizada, além dos resultados.

resultadosForam identificados 221 estudos na pesquisa à base de dados mediante as palavras-chave empregadas. Foram excluídos os artigos com títulos não relacionados ao tema escolhido, artigos que descreviam procedimentos cirúrgicos e aqueles relacionados à incontinência fecal. Dessa forma, oito estudos13-20 foram incluídos na etapa de apreciação crítica quanto aos protocolos de prevenção da IU em mulheres idosas (Figura 1).

213 estudos excluídos em função de: * títulos não relacionados ao tema;* procedimentos cirúrgicos;* associação com incontinência fecal

221 estudos identificados

8 estudos analisados

Figura 1 Busca e seleção dos artigos durante o processo de revisão sistemática.

Os estudos selecionados foram realizados nos Estados Unidos e na Austrália e incluíram amostras di-versificadas em relação a gênero, faixa etária e número de participantes envolvidos nas pesquisas. As caracterís-ticas quanto a intervenção e desfechos estão apresenta-das na Tabela 1 .

Houve uma variabilidade em relação à metodologia empregada, mostrando uma falta de padronização quan-to à prevenção da IU em mulheres idosas. As interven-ções abordaram rodas de conversa, entrega de folhetos educativos, vídeos, informações obtidas por meio de um sistema de computador, mudanças comportamentais e realização de exercícios.

Dois estudos15,16 salientaram o interesse dos partici-pantes na obtenção de informações sobre a IU por dis-cussões, panfletos e vídeos. No estudo conduzido por Boyington et al.17, os participantes ficaram satisfeitos com a melhora dos sintomas após testarem um sistema de computador que incluía técnicas de autogestão para mulheres com sintomas de perda involuntária de urina. Lee et al.13 relataram que caminhadas frequentes podem ser protetoras para a IU em idosas. Além disso, os auto-res afirmam também que um índice de massa corporal (IMC) elevado aumenta a probabilidade da ocorrência da perda urinária.

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Protocolos de prevenção da incontinência urinária em idosas | 133

tabela 1 Resumo dos dados extraídos dos artigos analisados (autor, ano e país, desenho metodológico e resultados)autor, ano, país desenho metodológico resultados

lee aH et al.austrália

2012

n = 1.000 (700 homens e 300 mulheres).média de idade = 66,2 (± 7,7) anos.Foi aplicado face a face um questionário estrutu-rado (international consultation on incontinence Questionnaire - short Form [iciQ-sF]) para verificar a prevalência da incontinência urinária e a qualidade de vida, além de um Questionário internacional de atividade Física para avaliar os níveis de atividade física (caminhada, atividades moderadas e vigoro-sas), medidas por equivalentes metabólicos (met).

a prevalência da incontinência urinária foi de 7,2% para homens e 27,5% para mulheres. essa preva-lência diminuiu com a participação desses indiví-duos em atividades físicas (caminhadas frequentes) de 8,2% para 6,9% em homens e de 35,4% para 25,3% nas mulheres. o índice de massa corporal (imc) elevado também aumentou significativamen-te a probabilidade de incontinência urinária para mulheres. Quando comparados os caminhantes frequentes com gastos de mais de 1.000 mets por semana, o risco de interface do usuário foi de 0,36 para homens e 0,43 para mulheres em relação aos completamente sedentários. a descoberta sugere que a caminhada pode ser protetora para inconti-nência urinária em idosos.

Hines sH et al.estados unidos

2007

n = 164 mulheres após a menopausa.as mulheres participantes receberam treinamento muscular do assoalho pélvico e treinamento da bexiga e foram acompanhadas durante 12 meses.

as análises indicam que mulheres que incorpora-ram o treinamento da bexiga como rotina por três meses são mais propensas a manter o nível de ade-rência ao programa nos 12 meses pós-intervenção, para prevenir a incontinência urinária.

o connell b et al.austrália

2006

n = 631 (352 mulheres e 279 homens).receberam um folheto educativo sobre incontinên-cia urinária e preencheram um questionário sobre continência. dois a três meses mais tarde, foram entrevistados novamente.

cento e onze participantes procuraram ajuda pa-ra o problema de incontinência urinária. desses, 65,4% tomaram medidas para tratar a questão; 44,1% relataram ter discutido o problema devido às informações contidas no folheto. mais de 94% relataram que o folheto seria útil para prevenção da incontinência urinária. diante desses resultados, a distribuição de um pacote de educação sobre con-tinência é definida como uma estratégia de promo-ção de saúde da bexiga.

palmer mH et al.estados unidos

2006

n = 81 idosos (17 homens e 64 mulheres).participaram de um grupo de discussão sobre incon-tinência urinária por aproximadamente 60 minutos. logo após, assistiram um vídeo sobre prevenção e tratamento da incontinência e, em seguida, respon-deram a um questionário sobre controle da bexiga.

os participantes demonstraram interesse em aprender sobre o assunto. discutiram sobre formas de receber o material com informações relaciona-das à saúde da bexiga e tanto homens quanto mu-lheres gostariam de aprender mais sobre o controle miccional. essa informação pode ser usada para desenvolver um programa educativo sobre contro-le da bexiga, aceitável para adultos mais velhos e cujas informações podem ser facilmente acessadas em locais onde eles residem ou se divertem.

boyington ar et al.estados unidos

2005

n = 71 mulheres idosas, com queixas urinárias.as participantes testaram, em uma sessão, um sistema de computador baseado na promoção da saúde para incontinência urinária. trinta e seis par-ticipantes usaram o sistema e 35 mulheres usaram um sistema alternativo. os resultados foram cole-tados após oito semanas por meio da aplicação de questionários e diário miccional.

o grupo de intervenção melhorou significativamen-te em angústia urogenital (p = 0,01) e qualidade de vida (p = 0,003), em relação ao grupo-controle. as mulheres expressaram satisfação em relação às informações recebidas pelo sistema.

sampselle cm et al.estados unidos

2005

n = 359 mulheres (164 do grupo de intervenção e 195 do grupo-controle).média de idade: 55 a 80 anos (Grupo de intervenção 65,4 ± 6,7 anos; Grupo-controle 66,2 ± 6,4 anos).o grupo de intervenção participou de sessões in-dividuais para treinamento da bexiga, treinamen-to muscular do assoalho pélvico e aderência ao grupo de modificação comportamental. (as parti-cipantes receberam informações sobre a bexiga em relação a anatomia, funcionalidade e perdas urinárias. receberam treinamento para a realização de exercícios de contrações perineais e foram en-sinadas sobre intervalos miccionais programados.) o grupo-controle não recebeu qualquer instrução. acompanhou-se durante 12 meses.

do grupo de intervenção, 90% aprenderam a téc-nica proposta para o treinamento da bexiga; 86% realizaram corretamente o treinamento muscular do assoalho pélvico, e 3% não foram capazes de aprender a técnica. a adesão ao programa variou de 63 a 82% para o programa de treinamento do assoalho pélvico e 58 a 67% para o treinamento da bexiga realizados de duas a três vezes por semana.

schirm V et al.estados unidos

2004

n = 180 adultos, faixa etária de 47 a 100 anos.participaram de um programa de uma hora sobre bexiga saudável, em que receberam informações sobre promoção e manutenção da saúde da bexiga e panfletos com informações sobre funcionalidade da bexiga, controle miccional, ingestão de líquidos e realização de exercícios de Kegel para fortaleci-mento muscular do assoalho pélvico.

dos participantes, 25% diminuíram suas idas ao banheiro e 30% relataram melhoras em eventuais perdas súbitas de urina. os resultados mostram que o programa foi bem-sucedido na prestação de in-formações de saúde da bexiga e que adultos mais velhos podem usá-lo imediatamente como forma de prevenção da incontinência urinária.

diokno ac et al.estados unidos

2004

n = mulheres com 55 anos ou mais.um grupo de mulheres continentes com 55 anos ou mais e um grupo-controle foram acompanhados por 12 meses. o grupo recebeu um programa de modificação comportamental e, no final, recebeu uma avaliação clínica quanto a continência, força muscular do assoalho pélvico e frequência urinária.

em 12 meses, o grupo de tratamento foi signifi-cativamente melhor nos estados de continência, força muscular do assoalho pélvico e frequência miccional.

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134 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

Quatro estudos14,18-20 mostraram que sessões de trei-namento da bexiga e da musculatura do assoalho pélvico (MAP), a partir de exercícios de Kegel, e aderência ao grupo de modificação comportamental, com intervalos miccionais programados, foram benéficos para a pre-venção da IU.

As sessões com informações sobre a prevenção dura-ram 60 minutos a acompanhamentos durante 12 meses e foram realizadas de forma individual e coletiva.

discussÃoCom as mudanças ocorridas no mundo atual e o conse-quente aumento da expectativa de vida das mulheres, a IU surge como uma causa importante que compromete e limita as atividades nos grupos etários, sobretudo os mais avançados. A IU gera muitos problemas no dia a dia das idosas e, mesmo com o interesse e a preocupação em rela-ção a essa doença, na literatura científica não há um con-senso sobre qual protocolo mais adequado a ser aplicado.

Os estudos analisados13-20 demonstram alguns proto-colos que se mostraram eficazes na prevenção da IU em idosos. As pesquisas apresentaram variação no gênero, na idade e quantidade de idosos, e também variaram em re-lação ao tempo de aplicação dos protocolos. Alguns auto-res15-16 demonstraram protocolos em que as informações sobre IU apresentadas por meio de discussões em grupo, divulgação de panfletos e vídeos educativos, foram formas interessantes e aceitas pelos idosos para obtenção do co-nhecimento e acesso às formas preventivas da doença.

Segundo a ICS, a prevenção da IU deve incluir edu-cação sobre hábitos comportamentais que aumentam a chance de desenvolver incontinência, informações sobre o funcionamento normal do trato urogenital e intestinal, mudanças esperadas com o envelhecimento e formas de como encontrar o tratamento mais apropriado.21

Figueiredo et al.21 relatam a experiência do projeto “Cuidar de Quem Cuida”, no qual funcionárias de um centro de saúde participaram de uma dinâmica teó-rico-prática com uso de vídeos, gravuras e datashow. Conforme os autores, por meio das informações recebi-das, as participantes desenvolveram o autocuidado e me-lhoraram as orientações sobre IU fornecidas nos centros de saúde.

Borges et al.22 afirmaram que o índice de IU foi con-siderado alto em estudo realizado por aplicação de um questionário com 50 perguntas sobre informações gerais. Os pesquisadores fizeram um levantamento do perfil dos idosos que participaram de um grupo de convivência pa-ra favorecer o direcionamento de ações tanto no plano de saúde como nos aspectos físicos, sociais, emocionais, culturais e econômicos. Os autores concluíram que as idosas estão aptas a receberem informações e se sentiram à vontade para tratar do tema nos grupos de convivência.

No estudo de Boyington et al.,17 os autores afirmam

que as mulheres ficaram satisfeitas com a melhora de seus sintomas após testarem um sistema de computador com informações de autogestão sobre a IU. Isso justifica a importância da tecnologia levando a informação e me-lhorando os conhecimentos em relação à promoção de saúde, visto que tais informações podem ser atualizadas facilmente e adaptadas às diversas condições de saúde.23

Caminhadas frequentes foram consideradas prote-toras para a IU. De acordo com Virtuoso et al.,24 idosas pouco ativas fisicamente apresentam maior incidência de perdas urinárias. Outro estudo25 apresentou a associa-ção da prática de atividades físicas com a ocorrência da IU de urgência. Os autores concluíram que as idosas se-dentárias apresentaram maior frequência de sintomas de urgência miccional. Dessa forma, a prática de atividade física mostrou-se um fator de proteção entre mulheres ativas e pouco ativas.

Caetano et al.26 afirmam que a atividade mais realiza-da pelas mulheres foi a caminhada (35,5%). Eles verifi-caram a influência da prática de atividade física na qua-lidade de vida e na imagem corporal de mulheres com IU por meio da aplicação de um programa de atividades com duração de 16 semanas em que foram incluídos exercícios para a MAP. Após a intervenção com progra-ma de atividades físicas, ocorreu melhora significativa na qualidade de vida das participantes nos domínios re-lacionados a percepção geral da saúde, impacto da IU, limitações físicas, relações pessoais, sono e disposição.

Quatro estudos14,18-20 desta revisão mostraram que sessões de treinamento da bexiga e da MAP, a partir de exercícios de Kegel e aderência ao grupo de modificação comportamental com intervalos miccionais programa-dos, foram benéficos para prevenir a IU. Sabe-se que a função da MAP é sustentar as vísceras em posição ver-tical, além da manutenção da continência urinária.1 A série de Kegel baseia-se em contrações voluntárias da MAP objetivando o aumento do tônus e da força mus-cular. Sousa et al.7 afirmam que ocorreu um aumento significativo no grau de força muscular, no pico e no tempo de contração após o tratamento de mulheres com queixas de perdas urinárias aos esforços e urgência mic-cional, com os exercícios de Kegel.7

No estudo de Oliveira et al.,8 verificou-se o efeito da cinesioterapia sobre a perda diária da urina, alívio dos si-nais e sintomas e impacto na qualidade de vida de idosas com IU. Os autores observaram que, após aplicação de exercícios para a MAP, houve redução na frequência de micções noturnas e na apresentação dos sintomas de IU, apresentando melhora na qualidade de vida.

A modificação comportamental é proposta para me-lhorar a condição dos hábitos desenvolvidos pelas idosas em relação a higiene, educação, controle miccional, pre-venção de lesões no períneo, alimentação e ingestão de líquidos.1 Caldas et al.1 relatam a experiência da implan-tação da terapia comportamental para a IU como uma

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Protocolos de prevenção da incontinência urinária em idosas | 135

estratégia para melhorar o controle urinário e a quali-dade de vida em idosas. Os autores afirmam que alguns pacientes conseguiram zerar as perdas urinárias após aplicação da terapia comportamental e relatam também a melhora da autoestima e autocuidado dessas senhoras.

Diante do exposto, pode-se afirmar que existem di-ferentes estratégias eficientes e capazes de amenizar os problemas de IU em mulheres idosas. Assim, pode-se concluir, de acordo com os resultados deste estudo, que bons protocolos podem ser compostos pela divulgação e conscientização de hábitos de vida saudáveis, mudanças comportamentais – incluindo, principalmente, a cons-cientização da musculatura do períneo que garante a

continência – e a prática regular de exercícios para forta-lecimento da MAP, que podem tratar e até prevenir a IU.

Esses protocolos são úteis para que profissionais da saúde tenham mais acesso às informações referentes à IU e tornem-se capazes de ajudar as idosas, colocando em prática os conhecimentos adquiridos. É importante também que as mulheres idosas tenham acesso aos co-nhecimentos e as informações que proporcionarão a elas uma melhor qualidade de vida.

conFlito de interesseOs autores não declaram nenhum conflito de interesse.

reFerências 1. Caldas CP, Conceição IRS, José RMC, Silva BMC. Terapia compor-

tamental para incontinência urinária da mulher idosa: uma ação do enfermeiro. Texto & Contexto Enferm. 2010;19(4):783-788.

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136 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

Informações geraisA revista Geriatria & Gerontologia – G&G é uma publicação cientí-fica trimestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG, cujo objetivo é veicular artigos que contribuam para a promo-ção do conhecimento na área de Geriatria e Gerontologia, em suas diversas subáreas e interfaces. A G&G aceita submissão de artigos em português, inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão impressa, distribuída a todos os associados da SBGG, e em versão eletrônica acessada pelo site: www.sbgg.org.br.

Instruções para o envio dos manuscritosOs trabalhos devem ser enviados por via eletrônica (arquivo word) para o endereço: [email protected]. Antes de enviar o manus-crito, verifique se todos os itens definidos em “Orientações para a preparação dos manuscritos” foram apontados em seu texto. O autor receberá mensagem acusando recebimento do trabalho; caso isto não aconteça, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor de-verá enviar uma declaração de que o manuscrito está sendo submetido apenas à revista G&G, a concordância com a sessão de direitos auto-rais, a declaração de conflito de interesses e o documento de aprovação do comitê de ética em pesquisa.

Avaliação dos manuscritos por pareceris-tas (peer review)Os manuscritos que atenderem à política editorial e às instruções aos autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito científico da contribuição. Aprovados nessa fase, os manuscritos serão encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida compe-tência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retornar aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de edi-toração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manuscritos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de até três meses. Os manuscritos publica-dos são de propriedade da revista, sendo proibida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma.

Pesquisas envolvendo seres humanosResultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de ori-gem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro co-mitê de ética em pesquisa credenciado junto a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação do cumpri-mento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), além do atendimento à legislação específica do país no qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Tipos de artigos publicadosA revista G&G aceita a submissão de:Editoriais e comentários: esta seção destina-se à publicação de arti-gos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autoridades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relacionados a conteúdos dos artigos publicados na revista.Artigos originais: contribuições destinadas à divulgação de resul-tados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pesquisa. Devem ter de duas a quatro mil palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências (máximo de 30).

Artigos de revisão: avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, per-mitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os pro-cedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de cinco mil palavras e o número máximo de referências bibliográficas de 50.Comunicações breves: são artigos resumidos destinados à divulgação de resultados preliminares de pesquisa; de resultados de estudos que envol-vem metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de rele-vância na área de Geriatria e Gerontologia. Deve ter de 800 a 1.600 pa-lavras (excluindo tabelas, figuras e referências), uma tabela ou figura e no máximo 10 referências bibliográficas. Sua apresentação deve acompanhar as mesmas normas exigidas para artigos originais, fazendo-se exceção aos resumos, que não são estruturados e devem ter até 150 palavras.Relatos de caso: são manuscritos relatando casos clínicos inéditos e interessantes. O título deve apresentar a doença ou a peculiaridade clínica – relato de caso. Devem observar a estrutura de resumo (150 palavras) com introdução (justificativa ao leitor o motivo do relato de caso, não se estender na descrição da «doença ou particularidade clínica»), relato do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clínicos, seguimento, diagnóstico. ATENÇÃO: Não utilizar siglas ou notas de rodapé), discussão (comparar com dados de semelhança na literatura) e conclusão do caso. Devem conter a bibliografia consultada e não podem ter mais de 1.500 palavras e 15 referências.Artigos especiais: são manuscritos entendidos pelos editores como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências prévias quanto às refe-rências bibliográficas.Cartas ao editor: seção destinada à publicação de comentários, discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de 1.000 palavras e até cinco referências.

Orientações para a preparação dos manuscritosOs manuscritos devem ser digitados em Word para Windows (inclu-sive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução.Devem ser apresentados na sequência:a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (in-cluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores para correspondência, incluindo nome, endereço, telefones, fax e e-mail.Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em portu-guês e em inglês (abstracts), entre 150 a 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos devem ser estrutura-dos incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraídos do vocabulário “Descritos em Ci-ências da Saúde” (DeCS – www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/), quando acompanharem os “Abs-tracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para co-brirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido.

InsTRuçõEs AOs AuTOREs

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Instruções aos autores | 137

Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão, os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos: Introdução: deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada a apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do co-nhecimento (estado de arte) que serão abordados no artigo. Métodos: devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados: devem se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir inter-pretações e comparações. Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão: deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos com base em ou-tras observações já registradas na literatura. É importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática profis-sional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indiví-duos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho.

Conflito de interessesDeve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produ-tos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empre-gadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnolo-gias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstâncias que poderiam ser consideradas capazes de influenciar a interpretação dos resultados.

Referências bibliográficasAs referências devem ser listadas no final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas na primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” www.icmje.org). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguindo de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das refe-rências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no texto do artigo são de responsabilidade do autor.LivrosKane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics 5th ed. New York: McGraw Hill, 2004.Capítulos de livrosSayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Ja-neiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8Artigos de periódicosOuslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981; 135 (2): 482-91Dissertações e tesesMarutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacien-tes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, se-minários e outrosPeterson R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vi-tamin E as treatments for mild congnitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05.

Artigos em periódicos eletrônicosBoog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Ver Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10]; 15(1). Disponível em www.scielo.br/rmTextos em formato eletrônicoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saúde: as-sistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em: 05/02/2004)More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: 05/06/1996.

InsTRucTIOns fOR AuTHORs

BackgroundGeriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aim-ing the publication of articles on Geriatrics and Gerontology, including their several subareas and interfaces. G&G accepts article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print content is available for SBGG members and the online content can be accessed at: www.sbgg.org.br

Instructions for sending the manuscriptPapers should be sent by e-mail to: [email protected]. Before sending your manuscript, please check if all the items established under “Instruction for Manuscript Sending” have been fulfilled. The corresponding author will receive a message acknowledging receipt of the manuscript. Should this do not occur up to seven working days, the author should get in touch with the journal. Concurrently, the author should send by mail a declaration stating that the manu-script is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that he/she agrees with the cession of copyright.

Manuscript evaluation by peer reviewManuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will be referred to editors who will evaluate the scientific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might return for au-thors’ approval in case of changes made for editorial and standardiza-tion purposes, according to the journal style. Manuscripts not accepted will not be returned, unless they are requested by the respective authors within three months. The copyright of the published manuscripts are held by the journal. Therefore, full or partial reproduction in other journals or translation into another language is not authorized.

Research involving human subjectsArticles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures were followed in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (institutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of com-pliance with ethical principles outlined in the Helsinki Declaration (2000) shall appear in the last paragraph of “Methods” section, as well as fulfillment of specific requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the research should have sig-ned a “Free and Informed Consent Term”.

Categories of manuscriptsG&G accepts the following submissions:Original articles: Contributions aiming at the release of unpublished research results considering the theme’s relevance, its range and the knowledge generated for research purposes. Original articles should contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures (not exceeding 5) and references (not exceeding 30).

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138 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

Review articles: Critical and systematic evaluation of literature on certain subject containing a comparative review of papers in that area, discussing methodological limitations and ranges, indicating further study needs for that research area, and containing conclusions. The proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies should be described, informing the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 references.Brief communications: These are summarized articles designed for dissemination of preliminary results, results of studies involving meth-odology of low complexity, and new hypotheses of relevance in the field of Geriatrics and Gerontology. They should contain 800-1600 words (excluding tables, figures and references), one table or figure and a maximum of ten references. Your presentation should follow the same standards of original articles, with exception of the abstracts, which are not structured and should contain a maximum of 150 words.Case Reports: These are manuscripts reporting original and inter-esting clinical cases. The title should have the disease or clinical peculiarity — a case report. They must observe the structure of ab-stract (150 words) with introduction (an explanation to the reader for the case report does not extend the description of “illness or clinical particularity”), case report (with description of the patient, results of clinical tests, follow-up, and diagnosis — WARNING: Do not use acronyms or footnotes), discussion (comparison with simi-lar data in the literature), and case outcome. They should contain a bibliography and have no more than 1500 words and 15 references.Letters to the editor: Section designed for publication of com-ments, discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words and 5 references.

Instructions for manuscript preparationManuscripts should be typed in Word for Windows [(including ta-bles), figures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution]. Manuscripts should be prepared according to the sequence below:a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 char-acters, b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English, c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author data, including name, address, tele-phone and fax numbers, and e-mail. Abstract: All manuscripts should be submitted with an abstract in Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For original articles and brief communications, abstracts should be struc-tured to include objective, methods, results, and conclusions. For other manuscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information. Abstracts should not contain quota-tions and abbreviations. At least three and at most six keywords should accompany the Abstracts being extracted from the vocabulary in De-scritores em Ciências da Saúde (DeCS - www.bireme.br) when accom-panying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headings – MeSH (http //www.nlm nih gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manuscript theme, words or expressions of known usage might be indicated.Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text. Introduction: The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods: This section should have clear and brief description of proceed-ings adopted, sampling, data source and selection criteria, mea-surement instruments, statistical analysis, among other features. Results: This section should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. When-ever possible, results should be displayed in tables or figures

designed to be self-explanatory and having statistical analysis. Discussion: The discussion should properly and objectively ex-plore the results, discussed in the light of further observation already registered in literature. It Is important to point out the study limitations. The discussion should culminate by conclu-sions indicating avenues for new research or implications for professional practice.

Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effective-ly contributed to the paper.

Conflict of interestConflict of interest includes a) financial conflict such as employ-ment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent sharing related to marketed products or technology in-volved in the manuscript; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies connected to marketed prod-ucts or technology involved in the manuscript c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered capable of in-fluencing the result interpretation.

ReferencesShould be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals Writing and Editing for Medical Publication” [http://www.icmje org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 fol-lowed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in Med-Line. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text.

Examples of reference styleBooksKane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed New York: McGraw Hill, 2004.

Book chaptersSayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Ja-neiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8

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Essays and thesesMarutinho AF Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pa-cientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.

Papers introduced in congresso, symposiums, meetings, seminars etc.Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thai L. Donepezil and vi-tamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05.

Articles from electronic journalsBoog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10]; 15(1). Disponível em www.scielo.br/RN

Texts in electronic formatInstitute Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saúde: as-sistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em: 05/Fev/2004)

More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996.

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Page 52: Nº 2 – Edição: Abril/Maio/Junho 2014

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• Contribui na melhora da imunidade1,2,3

Referências bibliográficas: 1. Price R. Daly F. Pennington CR, McMurdo ME. Nutritional supplementation of very old people at hospital discharge increases muscle streight: A randomised controlled trial. Gerontology. 2005:51:179-185. 2. Fabian E. Bogner M. Kickinger A. Wagner KH, Elmadfa I. Vitamin status in elderly people in relation to the use of nutritional supplements. J. Nutr Health Aging. 2012;16(3):206-12. 3. Morley JE. Sarcopenia in the elderly. Fam Pract. 2012:29 Suppl l.i44-i48.

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