PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
1 EXMA. SRA. DRA. JUÍZA DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA
COMARCA DE CAPITÃO POÇO-PA.
REF.: Autos de Inquérito Civil Público nº. 015/2018-MP/PJCP.
SIMP nº. 000179-079/2018.
“O Ministério Público é instituição
permanente, essencial à função
jurisdicional do estado, incumbindo-
lhe a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis”. (Art. 127, caput, da CF/88)
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, por
seu Promotor de Justiça, no uso de suas atribuições legais, vem a V. Exa., nos
termos dos arts. 129, inciso III e 225, da Constituição Federal; art. 182, inciso
III, da Constituição Estadual, art. 25, inciso IV, “a”, da Lei nº. 8.625/93, art. 52,
VI da Lei Complementar Estadual nº. 057/2006; arts. 4º, 5º, 19 e 21 da Lei nº
7.347/85, dentre outros diplomas que regem a matéria, propor a presente AÇÃO
CIVIL PÚBLICA de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente e
a saúde e sossego da população contra:
MUNICÍPIO DE CAPITÃO POÇO,
pessoa jurídica de direito público
interno, de CNPJ de nº.
05.149.109/0001-09, representada por
seu prefeito municipal João Gomes de
Lima, com sede na Av. Moura
Carvalho, nº. 710, CEP: 68650-000,
Capitão Poço;
N. G. DO CARMO-ME, pessoa
jurídica de direito privado, de CNPJ nº.
02.442.933/0001-64, com nome fantasia
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2 “Paraiso Tecidos e Confeções”, com
sede na Tv. 23 de dezembro, nº. 879,
bairro Centro, CEP.: 68650-000, na
cidade de Capitão Poço-PA, neste
município de Capitão Poço-PA;
U. M. CARLOS DA SILVA, pessoa
jurídica de direito privado, de CNPJ nº.
12.055.873/0003-42, com nomes
fantasias “Casa de Carne EP” e
“Baratão do Frango”, com sede na Av.
Moura Carvalho, s/nº., Centro, CEP.:
68650-000, nesta cidade de Capitão
Poço-PA;
R P DA SILVA – EIRELI ME, pessoa
jurídica de direito privado, de CNPJ nº.
20.798.579/0001-97, com nome fantasia
“ELETRO CENTER”, com sede na Tv.
23 de dezembro, nº. 560, Centro, nesta
cidade de Capitão Poço, CEP.; 68.650-
000;
“GRUPO TONHEIRO”, com as
seguintes empresas M DOS S LIMA
RAMOS EIRELI, com nome fantasia
“MMV MM Veículos”, com CNPJ nº.
09.107.407/0001-97, com sede na rua
João Moura, nº. 853, Coutilândia; A
GOMES DE LIMA & CIA LTDA ME,
com nomes fantasias “Casa Lima
Agronegócio” ou “Lima Citros” ou
“Pizzaria & Chopperia Lima”, de CNPJ
nº. 07.986.548/0001-00, com sede na R.
23 de dezembro, nº. 669; LIMA
FERRO & AÇO INDUSTRIAL
EIRELLI, com nomes fantasias “Lima
Ferro & Aço Materiais de Construção”
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3 e “Gran Lima mármores e granitos com
fino acabamento”, de CNPJ nº.
18.891.118/0001-12, com sede na Av.
Professora Flora, nº. 1234; RG DE
LIMA EIRELI, com nome fantasia
“Casa da Carne Lima”, de CNPJ nº.
21.157.898/0001-86, com sede da Rua
23 de dezembro, nº. 275-351; MOTO
PEÇAS LIMA LTDA, com nome
fantasia “Moto Peças Lima”, de CNPJ
nº. 09.107.253/0001-33, com sede na
Av. Moura Carvalho, nº. 529; M. L.
PINTO EIRELI, com nome fantasia
“Lima Informática”, de CNPJ nº.
20.873.317/0001-40, com sede na Av.
Moura Carvalho, Tatajuba, nº. 511-573;
“R & C Shopping RMG”, com nome de
fantasia “R & C Shopping”, de CNPJ
nº. 04.062.289/0001-24, com sede na
Av. 23 de dezembro, nº. 669; todas
localizadas no município de Capitão
Poço; pelos seguintes fatos e
fundamentos jurídicos:
1. DOS FATOS
De acordo com os autos de Inquérito Civil Público de nº.
15/2018-MP/PJCP, instaurado diante de denúncias constantes pela população
de poluição sonora no município de Capitão Poço decorrentes de propaganda
volantes por veículos, fora constatado que as rés em questão, N. G. DO
CARMO-ME, U. M. CARLOS DA SILVA, R P DA SILVA-EIRELI ME,
juntamente com as empresas do “GRUPO TONHEIRO”, com as seguintes
empresas M DOS S LIMA RAMOS EIRELI, com nome fantasia “MMV MM
Veículos”, A GOMES DE LIMA & CIA LTDA ME, com nome fantasia “Casa
Lima Agronegócio” ou “Lima Citros” ou “Pizzaria & Chopperia Lima”, LIMA
FERRO & AÇO INDUSTRIAL EIRELLI, com nomes fantasias “Lima Ferro &
Aço Materiais de Construção” e “Gran Lima mármores e granitos com fino
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4 acabamento”, RG DE LIMA EIRELI, com nome fantasia “Casa da Carne
Lima”, MOTO PEÇAS LIMA LTDA, com nome fantasia “Moto Peças Lima”,
M. L. PINTO EIRELI, com nome fantasia “Lima Informática”, “R & C
Shopping RMG”, com nome de fantasia “R & C Shopping”, praticam
reiteradamente poluição ambiental na modalidade sonora em Capitão Poço,
prejudicando a saúde e o sossego da população.
Essas rés realizam essas publicidades e propagandas sonoras
em carros em quaisquer dias da semana, em quaisquer horários, em quaisquer
locais, em total desrespeito com as regras de convívio social, conforme
fotografias e vídeos anexos. Sendo que, o município não realiza nenhuma
fiscalização diante dessa situação, inclusive existe lei ambiental que proíbe esse
tipo de publicidade sem o licenciamento ambiental no município e a mesma não
é cumprida, sendo que ninguém possui autorização para fazê-la por parte da
municipalidade. Além das empresas rés, há as condutas de particulares que usam
aparelhos sonoros em seus veículos e uso de motocicletas com descargas
adulteradas para fazerem barulhos, gerando um grande caos social, com
gerações de decibéis nefastos à saúde humana. Sendo que, além disso, a
sonância fragela a população em geral.
O “Grupo Tonheiro” possui para a publicidade de suas
empresas um carro, tipo trio, incompatível com a divulgação publicitária dentro
de uma cidade ou de qualquer centro urbano, conforme foto e vídeo anexos,
além de um carro pequeno. De igual forma, a empresa R P DA SILVA –
EIRELI ME possui um carro volante num formato de pequeno trio. Sendo que
na “Casa de Carnes EP” fora encontrado até um som de carretinha na frente do
estabelecimento estacionado geração grande poluição sonora. A ré “ELETRO
CENTER” também se utiliza de um carro, tipo trio, que faz muito barulho na
cidade, ficando até estacionado na frente do seu estabelecimento quando não
está rodando, conforme foto e vídeo anexos. Finalmente, a ré N. G. DO
CARMO-ME possui também um carro próprio que faz sua publicidade
barulhenta na cidade.
Ainda, conforme cópia de procedimento policial juntado nos
autos de inquérito civil, até a publicidade de bingos no município está sendo
feita com veículos volantes, praticamente popularizando a contravenção
localmente.
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5 À fl. 11 dos autos de inquérito civil público, consta o oficio
de nº. 156/2018, datado de 22.11.18, assinado pelo secretário municipal de meio
ambiente, Sr. SEBASTIÃO VIEIRA ALVES, o qual informara o seguinte
“...que até a presente data esta Secretaria Municipal não realiza a
regulamentação formal dos serviços vinculados a publicidade sonora, estando
em fase de implantação o projeto para fiscalização e regulamentação dos
referidos serviços, a ser iniciado a partir do exercício de 2019...” (textuais).
O Ministério Público do Estado do Pará chegara a expedir
várias recomendações para o município sobre tal situação da poluição sonora,
conforme fls. 69 a 99, não sendo conhecida alguma atuação por parte da
secretaria municipal do meio ambiente, estando sua omissão contribuindo para o
desrespeito às normas ambientais em vigor no país.
Na “Audiência Pública do Meio Ambiente de Capitão Poço”,
realizada no dia 12.12.18, no auditório da UFRA de Capitão Poço, novamente o
problema da poluição sonora fora denunciado pelos presentes, conforme
documentos anexos às fls. 102 a 111.
Ante o exposto o Ministério Público do Estado do Pará,
havendo condutas reiteradas das requeridas em realização indevida da atividade
de propaganda/publicitária, sem licenciamento ambiental, gerando poluição
sonora de forma permanente no território municipal, logrando êxitos nas suas
condutas ilegais, com a omissão do município, ingressa com a presente Ação
Civil Pública em defesa da vida, saúde e sossego da população e obediência das
normas públicas que permeiam a vida em sociedade ao meio ambiente saudável.
2. DAS LEGITIMIDADES
2.1. DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Em face do disposto no art. 127, “caput”, da Constituição
Federal de 1988, incumbe ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis,
corroborando-se isso com o art. 129, inciso III e art. 225, da Constituição
Federal; art. 182, inciso III, da Constituição Estadual; arts. 1º e 25, IV, “a”, da
Lei nº. 8.625/93; art. 52, VI da Lei Complementar Estadual nº. 057/2006; arts.
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6 1º, item I, 4º, 5º, 19 e 21 da Lei nº. 7.347/85; ainda, Lei nº. 10.257, de 10.07.01,
abrangendo indiscutivelmente essa destinação a defesa do meio ambiente.
“MINISTÉRIO PÚBLICO-LEGITIMIDADE DE PARTE
ATIVA- DEFESA DA ORDEM JURÍDICA, SOBRETUDO NO QUE DIZ
RESPEITO AOS DIREITOS BÁSICOS DO CIDADÃO-RECURSO
PROVIDO. NÃO SE DEVE NEGAR AO MINISTÉRIO PÚBLICO A
LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM, NA DEFESA DO CUMPRIMENTO
DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, SOB O ARGUMENTO DA
INDEPENDÊNCIA ENTRE OS PODERES. SÃO INDEPENDENTES,
ENQUANTO PRATICAM ATOS ADMINISTRATIVOS DE COMPETÊNCIA
INTERNA CORPORIS. NÃO SÃO INDEPENDENTES PARA, A SEU
TALANTE, DESOBEDECEREM À CARTA POLÍTICA, ÀS LEIS E SOB
TAL PÁLIO, PERMANECEREM, CADA UMA SEU LADO, IMUNE À
REPARAÇÃO DAS ILEGALIDADES” (TJSP, Apel. 201.109-1, Rel. Villa da
Costa, 04.02.94).
2.2. DAS LEGITIMIDADES PASSIVAS DOS RÉUS
O município de Capitão Poço é responsável pela degradação
ambiental no caso em questão, até porque contribui com sua omissão para que as
práticas ilícitas das rés ocorram, não empreendendo fiscalização efetiva e não
exigindo a compensação ambiental e cumprimento da legislação em vigor. Por
sua vez, as rés comportam-se da pior forma possível, desrespeitando a sociedade
como um todo, especialmente pessoas idosas que precisam descansar e crianças
e adolescentes que tem até aulas paradas até que os carros volantes barulhentos
passem dos seus estabelecimentos de ensinos.
É objetiva a responsabilidade dos requeridos pelo dano
ambiental causado (art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81), tendo os mesmos, por isso,
a obrigação clara de recuperar e indenizar.
Veja-se que, a Lei nº. 9.605/98, também leciona no mesmo
sentido:
“Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas
administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em
que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
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7 contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua
entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas
não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo
fato”.
Também, de acordo com o art. 3º da Lei Municipal de nº.
265/2012, cópia anexa, a responsabilidade do município é inconteste:
“Art. 3º - Cabe ao órgão municipal responsável pela política
ambiental:
I – a prevenção, a fiscalização e o controle da poluição
sonora no âmbito do Município;
II – estabelecer programa de controle dos ruídos urbanos e
exercer, diretamente ou através de delegação, poder de controlar e fiscalizar
as fontes de poluição sonora, em ação conjunta com a Secretaria de Estado de
Segurança Pública e outros órgãos afins;
III – estudar e decidir a localização de estabelecimentos
recreativos, industriais, comerciais, ou de outra espécie, que possam produzir
poluição sonora em rua, vilas, bairros ou áreas preponderantemente
residenciais ou zonas sensíveis a ruídos;
IV – organizar o serviço de atendimento ao cidadão, de
modo a atender às demandas de reclamações contra o excesso de ruídos ou
sons, adotando o procedimento administrativo e judicial necessário para coibi-
lo;
V – aplicar as sanções previstas na lei”.
Finalmente, o art. 13º da aludida lei municipal reforça a
importância da responsabilidade do município:
“Art. 13º. A emissão de sons ou ruídos produzidos por
veículos automotores, ciclomotores, de tração animal, aeroplanos e
aeródromos e os produzidos no interior dos ambientes de trabalho, obedecerão
às normas expedidas respectivamente pelo Conselho Nacional de Meio
Ambiente-CONAMA, e pelos órgãos competentes, devendo o órgão ambiental
responsável pela política ambiental empreender a fiscalização e aplicação das
penalidades previstas na lei.
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8 Parágrafo Primeiro – O órgão municipal responsável pela
política de tráfego deverá empreender vistoria ambiental nos veículos que
necessitem de seu licenciamento ou autorização, averiguando os níveis de
emissão de sons e ruídos, de modo a compatibilizá-los com esta lei e com a
legislação estadual e federal pertinente”.
E não, a própria lei municipal diz que é proibido o serviço
como realizado pelas rés, sem licenciamento ambiental:
“Art. 15 – Os serviços de auto falantes móveis, sons
eletronicamente amplificados, tais como carros som, trios elétricos e
congêneres, e outras formas de transportar tais sons, bem como as atividades
que os utilizem, deverão obter o licenciamento do órgão municipal
responsável pela política ambiental, em que constarão o horário, dias e
critérios com que poderão funcionar”.
3. DO DIREITO
Esse ataque ao meio ambiente constitui uma agressão ao
próprio habitat do homem e à qualidade de vida não só das atuais, como das
futuras gerações, impondo-se um dever a toda comunidade – e especialmente
àqueles que detém a responsabilidade e os instrumentos legais para tanto – de
lutar contra essa degradação que a médio ou longo prazo trará funestas
conseqüências à humanidade, corriqueira no município de Capitão Poço pela
poluição sonora exagerada e sem controle algum.
A ocorrência de dano ambiental, por si só, não tem o condão
de atrair a competência federal, salvo se haver prova ou indício minimamente
razoável de afetação específica de bem, serviço ou interesse da União, entidade
autárquica ou empresa pública federal, a teor do art. 109, item VI, da
Constituição Federal de 1988.
O meio ambiente, considerado essencial à qualidade de vida
da população, fora qualificado pela ordem constitucional em vigor como bem de
uso comum do povo, a englobar as órbitas federal, estadual, distrital e
municipal, excluindo, destarte, qualquer postura ou pensamento restritivista
sobre a proteção desse bem jurídico. Isso é claro ao verificar-se ter sido
estabelecida divisão de atribuições entre as entidades políticas componentes da
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9 estrutura federativa, já que o art. 23, VI, da CF/88 confere competência material
comum à União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios quanto à
proteção do meio ambiente e ao combate à poluição em qualquer de suas
formas, bem como competência concorrente às três primeiras entidades para
legislar sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição.
Vale destacar que, ainda, a própria Constituição Federal, no
seu art. 225, § 4º, define a Floresta Amazônica, Mata Atlântica, a Serra do Mar,
o Pantanal Mato-Grossense e da Zona Costeira, como patrimônio nacional, em
ordem a descartar a possibilidade de apropriação unilateral da proteção
ambiental por alguma entidade política.
Sendo a tutela ambiental, matéria de competência comum da
União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios e, inexistindo, na seara
da legislação penal ou civil ambiental, dispositivo constitucional ou legal
expresso sobre a Justiça competente para seu julgamento, tem-se que, em regra,
o processo e julgamento dos delitos e danos dessa natureza pertençam à Justiça
Estadual. Ausente, em princípio, qualquer lesão direta e efetiva a bens, serviços
ou interesses da União ou de suas autarquias ou empresas públicas, consoante
dispõe o já citado art. 109, IV, da CF/88, afasta-se a competência da Justiça
Federal.
Mesmo discorrendo sobre a fauna e crime, o entendimento do
Procurador de Justiça Sulivan Silvestre Oliveira adequa-se perfeitamente, nesse
momento, quando diz: “A nova visão dada pela Constituição Federal de 1988 é
de que o meio ambiente (...) é do interesse (domínio eminente) do Poder Público
em todos os níveis e esferas, ou seja, federal, estadual e municipal (...) Mais do
que uma questão de interpretação lógica, o que se busca é permitir que a justiça
possa alcançar os depredadores da fauna silvestre, uma vez que nem a Polícia
Federal nem a Justiça Federal estão próximas do habitat dos animais” (Crimes
contra a fauna – competência da Justiça Estadual, Revista de Direito Ambiental,
São Paulo: RT, n. 8, p. 48, 1997).
Esse entendimento vem predominando na jurisprudência
brasileira. Senão, vejamos:
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10 RECURSO ESPECIAL. PENAL. COMPETÊNCIA.
CRIMES CONTRA A FLORA. INEXISTÊNCIA DE LESÃO A BENS,
SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. Esta Colenda Corte Superior de Justiça já
decidiu que inexistindo, em princípio, qualquer lesão a bens, serviços ou
interesses da União (art. 109 da CF), afasta-se a competência da Justiça Federal
para o processo e o julgamento de crimes cometidos contra o meio ambiente, aí
compreendidos os delitos praticados contra a fauna e a flora (CC 27.848/SP, 3ª
Seção, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ de 19/02/2001). A razão de ser de tal
entendimento é que, em sendo a proteção ao meio ambiente matéria de
competência comum da União, dos Estados e dos Municípios, e inexistindo,
quanto aos crimes ambientais, dispositivo constitucional ou legal expresso sobre
qual a Justiça competente para o seu julgamento, tem-se que, em regra, o
processo e o julgamento dos crimes ambientais são de competência da Justiça
Comum Estadual. Recurso desprovido (STJ, Quinta Turma, Rel. Min. José
Arnaldo da Fonseca, julgado em 23.03.04, DJ 26.04.2004, p. 215).
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO
ESTADUAL X JUÍZO FEDERAL. CRIME AMBIENTAL. EXTRAÇÃO
DE AREIA EM PEQUENO RIO A CÉU ABERTO. PROPRIEDADE
PARTICULAR. INEXISTÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. Não atenta contra bens,
serviços ou interesses da União Federal, a extração, sem autorização do órgão
competente, de areia de pequeno rio denominado "Ribeirão dos Paiva",
localizado em propriedade particular. O citado ribeirão não está entre os bens da
União, haja vista que o mesmo não está situado em seu terreno de domínio, não
banha mais de um Estado, não serve de limite com outro país e não se estende a
estado estrangeiro, conforme dispõe o art. 20, inciso III, da CF/88. Conflito
conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da Comarca de Belo
Vale/MG (STJ, Terceira Seção, Rel. Min. Fontes de Alencar, julgado em
23.04.03, DJ 12.05.2003, p. 210, RSTJ, vol. 174 p. 428).
AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROMOVIDA PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. DANOS AO MEIO AMBIENTE.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. Não havendo intervenção da
União ou de órgãos da administração federal, nem notícia da repercussão de
possível dano ambiental no território ou em outro Estado da Federação, somado-
se ao fato de que a ação civil pública partiu do Ministério Público Estadual,
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11 verifica-se a falta de interesse da União, exsurgindo a competência da Justiça
Estadual.Conflito positivo conhecido, declarando-se a competência da Justiça
Estadual (STJ, Primeira Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, julgado
em 17.08.98, DJ 01.03.1999, p. 222).
PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA O MEIO-
AMBIENTE. PROVOCAÇÃO DE INCÊNDIO EM MATA DE
PROPRIEDADE PARTICULAR. COMPETÊNCIA. Compete à Justiça
Estadual processar e julgar o feito destinado a apurar a prática de delito contra o
meio-ambiente, quando não se vislumbra a ocorrência de efetiva lesão a bens,
serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas. Conflito conhecido, para declarar-se a competência do Juízo de Direito
da 1ª Vara Criminal de Campos de Goytacazes/RJ (STJ, Terceira Seção, Rel.
Min. Paulo Medina, julgado em 11.05.05, DJ 13.06.05, p. 167).
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME
CONTRA A FLORA. ARTIGO 50 DA LEI Nº 9.605/98. MATA
ATLÂNTICA. NÃO-DEMONSTRAÇÃO DE LESÃO A BEM,
INTERESSE OU SERVIÇO DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL. I - A competência da Justiça Federal, expressa no art. 109, IV, da
Constituição Federal, restringe-se às hipóteses em que os crimes ambientais são
perpetrados em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas
autarquias ou empresas públicas. II - Não restando configurada, na espécie, a
ocorrência de lesão a bens, serviços ou interesses da União, a competência para
processar e julgar o feito é da Justiça Estadual (Precedentes). Recurso
desprovido. (STJ, Quinta Turma, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 06.05.04,
DJ 14.06.04, p.274).
RECURSO ESPECIAL. PENAL. COMPETÊNCIA.
CRIMES CONTRA A FAUNA. INEXISTÊNCIA DE LESÃO A BENS,
SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA ESTADUAL. O simples fato de existirem entes públicos federais
encarregados de fiscalizar a preservação do meio ambiente, não indica, por si só,
que exista interesse direto da União para atrair a competência da Justiça Federal.
Destarte, inexistindo, em princípio, qualquer lesão a bens, serviços ou interesses
da União (art. 109 da CF), afasta-se a competência da Justiça Federal para o
processo e o julgamento de crimes cometidos contra o meio ambiente, aí
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12 compreendidos os delitos praticados contra a fauna e a flora (CC 27.848/SP - 3ª
Seção - Rel. Min. Hamilton Carvalhido – DJ de 19/02/2001). Recurso
conhecido, mas desprovido (STJ, Terceira Seção, Rel. Min. Paulo Medina,
julgado em 14.05.03, DJ 16.06.2003, p. 258).
COMPETÊNCIA. CONFLITO NEGATIVO. Crime contra o
meio ambiente. No caso, não tendo a infração penal sido praticada em
detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, da justiça estadual é a competência para a
causa (STJ, Terceira Seção, Rel. Min. Vicente Leal, julgado em 11.09.02, DJ
28.04.2003, p. 171).
PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA. CRIME
CONTRA O MEIO AMBIENTE. LEI N.º 9.605/98. Compete à Justiça
Estadual processar e julgar crimes praticados contra o meio ambiente, quando
não se constata qualquer lesão a bens, serviços ou interesses da União, suas
autarquias ou empresas públicas federais. Inteligência da Lei n.º 9.605/98.
Conflito de Competência conhecido. Competência do Juízo de Direito de Santa
Rita de Caldas/MG (STJ, Primeira Seção, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado
em 22.08.01, DJ 18.02.2002, p. 222).
PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA O MEIO-
AMBIENTE. COMPETÊNCIA. Compete à Justiça Estadual processar e julgar
o feito destinado a apurar a prática de delito contra o meio-ambiente, quando
não se vislumbra a ocorrência de efetiva lesão a bens, serviços ou interesses da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Recurso
desprovido (STJ, Sexta Turma, Rel. Min. Paulo Medina, julgado em 16.12.04,
DJ 28.02.2005 p. 374).
PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA O MEIO-
AMBIENTE. COMPETÊNCIA. Compete à Justiça Estadual processar e julgar
o feito destinado a apurar a prática de delito contra o meio-ambiente, quando
não se vislumbra a ocorrência de efetiva lesão a bens, serviços ou interesses da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Recurso
desprovido (STJ, Terceira Seção, Rel. Min. Paulo Medina, julgado em 11.05.05,
DJ 13.06.2005 p. 167).
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13 PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA O MEIO-
AMBIENTE. PROVOCAÇÃO DE INCÊNDIO EM MATA DE
PROPRIEDADE PARTICULAR. COMPETÊNCIA. Compete à Justiça
Estadual processar e julgar o feito destinado a apurar a prática de delito contra o
meio-ambiente, quando não se vislumbra a ocorrência de efetiva lesão a bens,
serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas. Conflito conhecido, para declarar-se a competência do Juízo de Direito
da 1ª Vara Criminal de Campos de Goytacazes/RJ (STJ, Terceira Seção, Rel.
Min. Paulo Medina, julgado em 14.04.04, DJ 17.05.2004 p. 103).
A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL É AMPLA
E RESIDUAL, RESERVADOS À JUSTIÇA FEDERAL OS CRIMES QUE
CARACTERIZAM LESÃO A, OU EM DETRIMENTO DE BENS,
SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO OU DE SUAS ENTIDADES
AUTÁRQUICAS OU EMPRESAS PÚBLICAS FEDERAIS,
ESPECIFICAMENTE PERTINENTE E OBJETIVAMENTE
DEMONSTRADOS (TRF 1ª Região, RC 2001.32.00.1134-9-AM, DJU – II
22.03.02, p. 39).
CONSTITUCIONAL COMPETÊNCIA. EXTRAÇÃO DE
AREIA. TERRENO PARTICULAR. CRIME FEDERAL.
INEXISTÊNCIA. I- A extração de areia a céu aberto, em terreno particular não
confira crime da competência da Justiça Federal, pois não atenta contra bens,
serviços ou interesses da União Federal. II- Conflito de competência conhecido.
Competência da Justiça Estadual. (juízo suscitado) (STJ-Ag. Nº 122.294, rel.
Min. Humberto Gomes de Barros, DJU Nº 68, de 10.04.97, p. 11.990).
Em outras palavras, para que a Justiça Federal seja suscitada
é necessário que o crime ou dano tenha sido praticado em terras ou águas
pertencentes à União, em suas autarquias ou empresas públicas, no sentido de
haver extração indevida de recursos neles existentes, ou venha a ofender direta,
imediata e especificamente serviço/interesse/direito desses órgãos e entidades, a
exemplo do delito perpetrado no interior de uma unidade de conservação,
conforme estabelecido no art. 225, III da CF/88, ou, também, quando se cuida de
delito ecológico catalogado em tratado ou convenção internacional de que o
Brasil seja signatário, ou, ainda, cometido a bordo de navio ou aeronave.
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14 Ainda, a proteção e preservação ambientais, dirigidas às
presentes e futuras gerações, constituem obrigação e responsabilidade de todo
ser humano e do Estado, digo, União, Estados-membros, Distrito Federal e
Municípios. Portanto, sendo inadmissíveis as ações dos réus de extrair
ilegalmente areia e seixo, incomodando e desprezando a população que vive ali,
violando a ordem pública, o atendimento de valores mínimos da conveniência
social, notadamente a paz, o trânsito de pessoas e veículos, a segurança, a
salubridade, o decoro, a estética e o meio ambiente.
Categoricamente, a jurisprudência dos Tribunais brasileiros
vem sendo unânime no reconhecimento do dano ambiental e da
responsabilização do infrator em casos como o presente. Senão, vejamos:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Extração de Areia, bacia do
rio Araguari Mirim – Danos ao meio ambiente – Ação procedente – Ordem
de restauração da vegetação danificada – Cominação de multa diária – Sentença
confirmada – Recurso improvido (Apelação Cível nº 249.331-1. São João da
Boa Vista – Tribunal de Justiça de São Paulo. 4ª Câmara Cível – Rel. Des.
Willian Marinho – Julgado em 22.08.96, fonte: Jurisprudênia Informatizada
Saraiva, nº 9, 3º Trimestre/97).
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. EXTRAÇÃO DE AREIA.
DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE. FATO
INCONTROVERSO. PROCEDÊNCIA. Impugnação: decisão ultra petita.
Inocorrência. Sendo fato incontroverso que, ao extrair areia da margem do rio
Iguaçu, produzindo um buraco de grande proporção, a empresa-ré causou danos
ao meio ambiente, julga-se procedente a ação civil pública proposta pelo
Ministério Público condenado-se a Ré a recompor a área florestal danificada,
restaurando a mata ciliar. (...) (Apelação Cível nº 48.683. União da Vitória –
Tribunal de Justiça do Paraná. 1ª Câmara Cível – Rel. Des. Accacio Cambi –
publicado em 28.03.94, fonte: Jurisprudênia Informatizada Saraiva, nº 8, 2º
Trimestre/97).
PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXTRAÇÃO IRREGULAR DE
AREIA. ÁREA PARTICULAR. AUSÊNCIA DE LESÃO A BENS,
SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
15 JUSTIÇA ESTADUAL. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. O bem a reclamar
a tutela jurisdicional, porquanto privada a área ambiental afetada, situada às
margens de rio estadual, não é de domínio federal, de modo que não se
visualiza, neste momento processual, lesão a bens, serviços ou interesses da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas a atrair a
competência da Justiça Federal. 2. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg
no CC 153183/RJ AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE
COMPETÊNCIA 2017/0163539-6, Ministro RIBEIRO DANTAS (1181), 3ª
Seção, j. 25/10/2017, DJe 31/10/2017).
As ações judiciais visando a tutela do meio ambiente, como
as que objetivam a responsabilidade civil dos degradadores, não prescrevem.
Esse entendimento é o que mais se coaduna com a defesa do direito fundamental
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Enquadrado o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado no rol dos direitos fundamentais da terceira geração (inciso LXXIII
e §2º do artigo 5º, c/c art. 225, todos da CF/88), verifica-se sua elevação à
categoria de direito indisponível e, portanto, imprescritível, qualidade essa,
aliás, comum a todos os direitos fundamentais previstos na Constituição1.
Assentando o caráter indisponível do direito à integridade do
meio ambiente, conforme o seguinte aresto do STF: “(...) O direito à integridade
do meio ambiente - típico direito da terceira geração - constitui prerrogativa
jurídica da titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo da afirmação dos
direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao
indivíduo identificado em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente
mais abrangente, à própria coletividade social. Enquanto os direitos de primeira
geração (direitos civis e políticos) - que compreendem as liberdades clássicas,
negativas ou formais - realçam o princípio da liberdade e os direitos da segunda
geração (direitos econômicos, sociais e culturais) - que se identificam com a
liberdades positivas, reais ou concretas - acentuam o princípio da igualdade, os
direitos de terceira geração, que materializam poderes de
titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais,
1 Nesse sentido: JOSÉ AFONSO DA SILVA. Curso de Direito Constitucional positivo. 6ª ed. São Paulo : RT,
1990, p. 162; ALEXANDRE DE MORAES. Direito humanos fundamentais. 2ª ed. São Paulo : Atlas, 1998, p.
41.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
16 consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento
importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento
dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais
indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade. Considerações
doutrinárias.” (STF, MS 22.164, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30-
10-1995, Plenário, DJ de17-11-1995.) No mesmo sentido: RE 134.297, Rel.
Min. Celso de Mello, julgamento em 13-6-1995, Primeira Turma, DJ de 22-9-
1995).
4. DA NECESSIDADE DE GARANTIR A SAÚDE E SOSSEGO
PÚBLICO
Desnecessário frisar que a poluição sonora é causa de
deterioração da qualidade de vida, exigindo atenção constante da administração
pública, através de medidas de precaução, controle, fiscalização e repressão.
Bem por isso, no uso de suas atribuições legais, o Ministério do Interior baixou a
Portaria nº 92 em 19/06/80, considerando prejudicial à saúde, à segurança e ao
sossego público a emissão de sons e ruídos que atinjam, no ambiente exterior,
níveis superiores a 50 dB(A), independentemente do ruído de fundo. No mesmo
diapasão, também no âmbito das suas funções dadas pela Lei nº. 6.938/81, o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) editou a Resolução nº. 1 em
08/03/90, estabelecendo serem prejudiciais à saúde e ao sossego público os
ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela Norma NBR
10152 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
A NBR 10.151 dispõe sobre à avaliação do ruído em áreas
habitadas, visando o conforto da comunidade. Esta Norma fixa as condições
exigíveis para a avaliação da aceitabilidade do ruído em comunidades,
independentemente da existência de reclamações. Além da NBR 10.151, tem-se
a NBR 10.152, que trata dos níveis de ruídos para conforto acústico,
estabelecendo os limites máximos em decibéis a serem adotados em
determinados locais. Exemplificando, em restaurante o nível de ruído não deve
ultrapassar os 50 decibéis estabelecidos pela NBR 10.152.
O art. 3º da Lei nº 6938/81 conceitua “poluição” como “a
degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população”
(inc. III, a); e “poluidor” como “a pessoa física ou jurídica, de direito público
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
17 ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental” (inc. IV). Vê-se, pois, que as rés com essas suas
atividades publicitárias se enquadram, respectivamente, nos conceitos legais de
“poluidor” e de “poluição”.
Há muito tempo preocupa-se com a poluição sonora, prova
disso é o disposto no artigo 42, do Decreto-lei 3.688/41, que institui a Lei das
Contravenções Penais:
“Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios:
I – com gritaria ou algazarra;
II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo
com as prescrições legais;
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
IV – provocando ou não procurando impedir barulho
produzido por animal de que tem guarda.
Pena – prisão simples, de 15 dias a 3 meses, ou multa.
Também, a Lei nº. 9.605/98 prevê como crime a poluição que
cause danos à saúde humana, entre outras:
Art. 54. causar poluição de qualquer natureza em níveis
tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que
provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. Se o crime é
culposo: Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
A Lei Municipal nº. 265, de 26.06.2012, a qual dispõe sobre o
controle e o combate à poluição sonora no âmbito do município de Capitão
Poço, conforme fls. 16 a 27, prevê no seu art. 2º., que no município é proibida a
emissão de ruídos, sons e vibrações, produzidos de forma que ponha em perigo
ou prejudique a saúde individual ou coletiva, cause incômodos de qualquer
natureza, cause danos de qualquer natureza às propriedades públicas e privadas,
cause perturbação ao sossego ou ao bem-estar públicos e ultrapasse os níveis
fixados nessa mesma lei.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
18 Além do mais, de acordo com a aludida lei municipal essa
publicidade volante precisa ser licenciada. Senão, vejamos:
“Art. 10º. As atividades potencialmente causadoras de
poluição sonora dependem de prévia autorização do órgão municipal
responsável pela política ambiental, mediante licença ambiental, para
obtenção dos alvarás de construção, localização, funcionamento e outros
expedidos pelo poder público local, para atividades permanentes ou eventuais.
Parágrafo único – São atividades potencialmente causadoras
de poluição sonora as que utilizem instrumentos mecânicos ou eletroacústico
de propagação de som ou ruído, ou equipamentos que emitem sons ou ruídos
contínuos ou intermitentes”.
Consigne-se que o meio-ambiente tem o caráter de bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, por norma
constitucional (art. 225, caput).
5. DO DANO MORAL AMBIENTAL COLETIVO
Nosso ordenamento jurídico não exclui a possibilidade de
que um grupo de pessoas venha a ter um interesse difuso ou coletivo de natureza
não patrimonial lesado. E daí nasce a pretensão de ver tal dano reparado.
Consoante o disposto no art. 5º, inciso X, da CR, “são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação”.
No que diz respeito ao dano moral, trata-se de fenômeno que
pode acometer tanto um indivíduo em específico, como grupamentos sociais
expressivos, ou mesmo a sociedade como um todo (dano moral coletivo ou
difuso), sendo que em ambos os casos a indenização é devida.
O dano moral coletivo configura-se, portanto, quando a ação
danosa, mais do que diminuir e fragilizar a Administração, resulta na frustração
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19 deliberada de um ideal coletivo que abala a imagem e a credibilidade do ente
público, incutindo no povo a ideia de desmazelo dos gestores diante das
necessidades dos administrados. No caso de dano ambiental, estende-se aos
degradadores/poluidores, os quais associados com o poder público ou
aproveitando-se de suas omissões, desprestigiam o agir estatal, maculando sua
atuação, a qual deve ser legal, impessoal, moral, razoável e proporcional e em
respeito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
No ponto, é oportuno trazer à colação a lição do Procurador
Regional da República ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS a esse respeito:
Com isso, vê-se que a coletividade é passível de ser
indenizada pelo abalo moral, o qual, por sua vez, não necessita ser a dor
subjetiva ou estado anímico negativo, que caracterizariam o dano moral na
pessoa física, podendo ser o desprestígio do serviço público, do nome social,
a boa imagem de nossas leis, ou mesmo o desconforto da moral pública, que
existe no meio social. […] Assim, a dor psíquica na qual se baseou a teoria do
dano moral individual acaba cedendo espaço, no caso do dano moral coletivo, a
um sentimento de desapreço que afeta negativamente toda a coletividade.
No mesmo sentido, colhe-se a lição de CARLOS ALBERTO
BITAR FILHO, para quem:
[...] dano moral coletivo é a injusta lesão da esfera moral de
uma dada comunidade, ou seja, é a violação antijurídica de um determinado
círculo de valores coletivos. Quando se fala em dano moral coletivo, está-se
fazendo menção ao fato de que o patrimônio valorativo de um a certa
comunidade (maior ou menor), idealmente considerado, foi agredido de maneira
absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico: quer isso dizer, em
última instância, que se feriu a própria cultura, em seu aspecto imaterial. Tal
como se dá na seara do dano moral individual, aqui também não há que se
cogitar de prova da culpa, devendo-se responsabilizar o agente pelo simples fato
da violação (damnum in re ipsa).
No caso em tela, os requeridos, afastando-se do interesse
público, deram causa a toda essa situação precária de poluição ambiental
ocorrida no município de Capitão Poço.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
20 Daí, portanto, a presença do dano moral coletivo, dedutível
da lastimável situação existente, de desrespeito à legislação em vigor, da
poluição ambiental e omissão de tomadas de providências efetivas pela
municipalidade para evitar o dano ao meio ambiente e à saúde das pessoas.
Visível, assim, que tais comportamentos devem ser reparados civilmente,
observados os marcos compensatórios e punitivos (punitive damages).
Nesse quadro, pretende-se não só ver compensado o abalo ou
a diminuição da credibilidade da administração pública, mas também punir os
infratores pelos atos, o que encontra eco na teoria do valor do desestímulo
(punitive damages), observado, em todo caso, o direito de regresso em face do
agente público causador do dano ou que omitiu-se.
6. NA NECESSIDADE DA CONCESSÃO DA TUTELA E DE
LIMINARES
O legislador ordinário ao observar a frequente ocorrência de
demora na prestação jurisdicional, fato este que causava ineficácia no
provimento final, instituiu, na denominada reforma processual, o instituto da
tutela provisória, impondo ao Estado-Juiz a concessão de plano do bem da vida
postulado na exordial desde que preenchidos os requisitos previstos no artigo
294 do Código de Processo Civil, que preceitua, in verbis:
“Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se
em urgência ou evidência.
Parágrafo único. A tutela provisória de urgência,
cautelar ou antecipada, pode ser concedida em caráter
antecedente ou incidental”.
O verbo poderá contido no caput do referido artigo, embora
possa indicar uma faculdade do magistrado, na realidade constitui obrigação,
desde que preenchidos os requisitos legais. Esta é a lição do professor Nelson
Nery Júnior quando analisou o termo semelhante previsto no Código Civil
anterior:
“Embora a expressão poderá, constante do CPC 273
caput, possa indicar faculdade e discricionariedade do
juiz, na verdade constitui obrigação, sendo dever do
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
21 magistrado conceder a tutela antecipatória, desde que
preenchidos os pressupostos legais para tanto, não
sendo lícito concedê-la ou negá-la pura e
simplesmente.”.2
Em outro dispositivo do Código de Processo Civil resta
clara a exigência de indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide,
do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil
do processo:
“Art. 303. Nos casos em que a urgência for
contemporânea à propositura da ação, a petição
inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela
antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com
a exposição da lide, do direito que se busca realizar e
do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do
processo”.
Ao analisar as provas coligidas e os requisitos previstos para
a concessão da tutela, depreende-se que se faz presente a existência de todos
esses requisitos, que na verdade materializam na própria observância da
Constituição Federal e das leis vigentes relacionadas à matéria em questão.
A antecipação de tutela em ações que objetivem a
obrigação de fazer ou não fazer possui previsão no art. 303 do Código de
Processo Civil, aplicável à Ação Civil Pública por força do que dispõe o art. 19
da lei 7.347/85, sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, o que já ocorria no antigo
Código de Processo Civil, conforme Nelson Nery Júnior e Rosa Maria
Andrade Nery (Ob. Cit. p. 1149) advertem que "Pelo CPC 273 e 461 § 3º, com
a redação dada pela Lei 8.952/94, aplicável à ACP (LACP 19), o juiz pode
conceder a antecipação da tutela de mérito, de cunho satisfativo, sempre que
presentes os pressupostos legais. A tutela antecipatória pode ser concedida
quer nas ações de conhecimento, cautelares e de execução, inclusive de obrigação de fazer ou não fazer".
A aplicabilidade da antecipação da tutela na ação civil
pública é tema abordado por Lúcia Valle Figueiredo, citada por Rodolfo de
2 Código de Processo Civil Comentado e legislação extravagante. 7.ed. rev. e ampl. São Paulo: RT, 2003, p.648.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
22 Camargo Mancuso (In: Ação Civil Pública, 5ª edição, p. 145, Editora Revista
dos Tribunais), com base no antigo Código de Processo Civil, que assim leciona:
"Deverá o magistrado pela prova trazida aos autos, no momento da concessão
da tutela, estar convencido de que, ao que tudo indica - o autor tem razão e a
procrastinação do feito ou sua delonga normal poderia pôr em risco o bem de
vida protegido - dano irreparável ou de difícil reparação. A irreparabilidade do
dano na ação civil pública é manifesta, na hipótese de procedência da ação. A
volta do ‘status quo’ ante é praticamente impossível e o ‘fluid recovery’ não
será suficiente a elidir o dano. Mister também salientar que os valores
envolvidos na ação civil pública têm abrigo constitucional. A lesão a ditos
valores será sempre irreparável (danos ao meio ambiente, ao consumidor, a
bens e direitos de valores histórico, turístico e paisagístico)”. Finalmente, o que
resta em sintonia com o novo Código de Processo Civil, que não proibiu-a nas
ações coletivas.
No Código de Defesa do Consumidor, a previsão legal
encontra-se no artigo 84, parágrafo 3o, onde enseja a concessão de tutela
liminarmente ou após justificação prévia, quando for relevante o fundamento da
demanda e houver justificado receio de ineficácia do provimento final.
Já Lei nº. 7.347/85, que disciplina a ação civil pública,
contém expresso preceito permissivo do deferimento de medida liminar,
regulando no seu art. 12 que “Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”.
Em face da absoluta harmonia com o instituto regulado do
art. 303, do Código de Processo Civil, tem-se por inegável a natureza
antecipatória da medida liminar encartada no Código de Defesa do Consumidor
e na Lei da Ação Civil Pública.
Desta feita, mister se faz que providências urgentes e
inadiáveis sejam tomadas, a fim de que cesse tal prática de degradação
ambiental pelas rés.
São requisitos para a concessão da tutela a relevância do
fundamento da demanda e o justificado receio de ineficácia do provimento final,
em síntese o fumus boni iuris e o periculum in mora.
O direito encontra-se exposto na fundamentação supra,
corroborado pela comprovação documental anexa, especialmente porque sempre
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
23 voltam a explorar ilegalmente a mesma área. Por sua vez, a plausibilidade do
direito é facilmente verificável através das razões já apresentadas,
principalmente considerando-se os dispositivos legais citados.
Sem maiores esforços, constata-se que a relevância do
fundamento jurídico. Conforme declinado, o ordenamento jurídico não
contemporiza com as posições da requerida diante dessa situação, antes, regula
postura diametralmente oposta, afastando categoricamente a situação existente
de continuidade da atividade lesiva.
Assim, uma vez comprovadas as condições gerais e
particulares exigidas pelo artigo 294 e ss do Código de Processo Civil, a
concessão da tutela antecipada pleiteada se faz mister. Destacando-se que, não
há perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão, já que busca garantir a não
degradação do meio ambiente, sendo obrigação do poder público garantir que a
poluição sonora ilegal cesse e que, caso, ocorra a publicidade regular, respeite a
legislação ambiental em vigor.
Registre-se, ainda, a necessidade da incidência das regras do
parágrafo único do artigo 297 e art. 536, § 1º, todos do Código de Processo
Civil, isto é, da fixação de multa diária e se for o caso de medida equivalente
para concretização da tutela específica pleiteada, mormente no que tange a
obrigação de fazer das requeridas.
Atente-se que a tutela específica positivada no § 1º do artigo
536, tendo por objetivo proteger as obrigações de fazer e de não fazer que
decorrem ex contratu ou ex lege, também permite que o juiz, a fim de assegurar
o resultado prático correspondente aos direitos previstos no ordenamento
jurídico, bem como a efetiva prevenção de danos ao cidadão, estipule um fazer
(mandatory injunction) ou um não-fazer (prohibitory injunction) ao requerido,
salientando a natureza mandamental da sentença coletiva.
Por simetria, tendo em vista as permanências dos mesmos
objetivos no Novo Código de Processo Civil, comparando-se com o anterior,
resta válida de Luiz Guilherme Marinoni ao comentar sobre o direito à tutela
jurisdicional efetiva e o poder do juiz “(...) a solução foi estabelecer regras que
conferissem maior poder ao juiz, dando-lhe a oportunidade de conformar o
processo segundo as peculiaridades dos casos concretos. Exemplo disso se
encontra nos arts. 84 do CDC e 461 do CPC. Como se sabe, tais artigos,
voltando-se para a possibilidade de imposição de um fazer ou de um não-fazer,
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
24 permitem que o juiz conceda a tutela específica ou determine providências que
assegurem resultado prático equivalente (caput). Além disso, dá-se ao juiz o
poder de, segundo as circunstâncias do caso concreto, ordenar sob pena de
multa (§4º) ou decretar medida de execução direta (que estão somente
exemplificadas no §5º, tanto no curso do processo (§3º) quanto na sentença
(§4º)”.3
A tutela da obrigação na forma específica é reflexo da
tomada de consciência de que é imprescindível, dentro da sociedade
contemporânea, dar ao jurisdicionado o bem que ele tem direito de receber, e
não apenas o seu equivalente em pecúnia. Nesse sentido, destaca KAZUO
WATANABE que importa, mais do que a conduta do devedor, o resultado
prático protegido pelo Direito, correspondente à obrigação, em sua plenitude. (É
o que se lê do artigo 273, § 3º c/c §§4º e 5º do artigo 461 do CPC), do mesmo
Diploma: “A conversão da obrigação em perdas e danos somente será
admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a
obtenção do resultado prático correspondente.”
O intuito é de criar uma tutela capaz de impedir na prática, a
repetição ou a continuação do ilícito, bem como uma tutela capaz de remover o
ilícito continuado, para que danos não ocorram, não se multipliquem ou não
sejam potencializados.
Os direitos difusos e coletivos são protegidos por normas
que definem condutas ilícitas com o escopo de evitar danos. A tutela específica,
instrumentalizada através de uma ordem que impõe um não fazer ou um fazer
sob pena de multa, volta-se exatamente a evitar a prática, a continuação ou a
reparação do ilícito. Faz-se necessária sempre que o fornecedor tem o dever de
agir e sua omissão leva a prejuízos de direitos individuais ou metaindividuais.
Ressalta Luiz Guilherme Marinoni: “É importante deixar claro, principalmente
em virtude do crescente número de serviços públicos concedidos a particulares,
que é possível e necessário, para a efetividade da tutela dos direitos, o uso da
inibitória em face das concessionárias de serviços públicos. (...) O usuário ou
legitimado à ação coletiva, não só tem direito de evitar um comportamento
comissivo ilícito da concessionária, mas também o de exigir, em caso de
3 Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: RT, 2004, p.289.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
25 omissão ilegal, que a concessionária pratique ato tendente a corrigir sua
omissão.” (In: Tutela Específica, editora RT, p. 121).
Esta ação, justamente porque pode ordenar um fazer ou não
fazer, presta-se para impedir a prática, a continuação ou a repetição de um
ilícito, o que é fundamental quando se pensa na efetividade da tutela dos
direitos.
Outrossim, está evidente o justificado receio de ineficácia do
provimento final. Pelo já exposto, claro é o intuito da lei de evitar o dano, antes
mesmo que ocorra. Assim, com o atraso na prestação jurisdicional, permite a
continuidade das atividades de publicidades ilícitas das requeridas.
O atraso na prestação jurisdicional, portanto, equivale à
denegação de justiça, principalmente no caso sub judicie, onde se tem por
objetivo regulamentar direitos fundamental de envergadura, direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado.
Em síntese, deixar de conceder a tutela antecipada pleiteada
ou apreciá-la somente quando da prolação da sentença, equivale, em termos
práticos, a autorizar a consumação de danos irreparáveis ou de difícil reparação.
Estão presentes, portanto, os requisitos do artigo 303, do
Código de Processo Civil, já que os elementos trazidos à colação são aptos para
imbuir o magistrado do sentimento de que a realidade fática corresponde ao
relatado, levando-se, outrossim, em consideração que o pleito se baseia em
sólido entendimento pretoriano e que a demora do provimento jurisdicional só
acabará por prolongar, em demasia, a situação caótica existente.
Cumpre destacar, ainda, que o Estatuto da Criança e do
Adolescente também prevê a hipótese de antecipação da tutela, nas ações que
tenham por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, prevendo
a estipulação de multa diária, conforme se depreende da leitura do artigo 536, §
1º, do Código de Processo Civil, demonstrando que o legislador do Estatuto
também se preocupou com a instrumentalidade substancial e maior efetividade
do processo. Lembrando-se que, todos, inclusive crianças e adolescentes sofrem
com tais situações e podem ser vítimas dessa situação, por não terem direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Aliás o Estatuto, assim como o art. 303 do CPC para a
concessão da tutela antecipatória não exigem sequer a probabilidade de dano
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
26 irreparável ou de difícil reparação, basta perigo de dano ou risco ao resultado
útil do processo. E no caso sub judicie conforme mencionado alhures foi
demonstrada, até mesmo a probabilidade do dano, razão pela qual o deferimento
da antecipação da tutela se faz mister.
7. DOS PEDIDOS
Ante o exposto, o Ministério Público do Estado do Pará, por
seu Promotor de Justiça, oferece a presente, requerendo a V. Exa., o seguinte:
I - Liminarmente:
a) sejam as rés N. G. DO CARMO-ME, U. M. CARLOS
DA SILVA, R P DA SILVA-EIRELI ME e todas as empresas do “GRUPO
TONHEIRO” (M DOS S LIMA RAMOS EIRELI, A GOMES DE LIMA &
CIA LTDA ME, com nome fantasia “Casa Lima Agronegócio” ou “Lima
Citros” ou “Pizzaria & Chopperia Lima”, LIMA FERRO & AÇO
INDUSTRIAL EIRELLI, com nomes fantasias “Lima Ferro & Aço Materiais de
Construção” e “Gran Lima mármores e granitos com fino acabamento”, RG DE
LIMA EIRELI, com nome fantasia “Casa da Carne Lima”, MOTO PEÇAS
LIMA LTDA, com nome fantasia “Moto Peças Lima”, M. L. PINTO EIRELI,
com nome fantasia “Lima Informática”, “R & C Shopping RMG”, com nome de
fantasia “R & C Shopping”) proibidas de realizarem propaganda e/ou
publicidade por auto falantes móveis, sons eletronicamente amplificados, tais
como carros som, trios elétricos e congêneres, e outras formas de transportar tais
sons, bem como as atividades que os utilizem, enquanto não obtiverem o devido
licenciamento do órgão municipal responsável pela política ambiental, em que
constarão o horário, dias e critérios com que poderão funcionar;
b) seja o município de Capitão Poço proibido de
conceder-lhes quaisquer tipos de autorizações, permissões, licenças, alvarás e
licenciamentos ambientais, inclusive o que é extensivo para outras pessoas
físicas e jurídicas, enquanto não cumprirem todos os requisitos legais para
realização de propaganda e/ou publicidade por auto falantes móveis, sons
eletronicamente amplificados, tais como carros som, trios elétricos e congêneres,
e outras formas de transportar tais sons, bem como as atividades que os utilizem,
de acordo com a legislação em vigor;
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
27
c) seja o município de Capitão Poço obrigado a realizar as
autuações de todos os proprietários e/ou possuidores e/ou motoristas de veículos
e/ou dos veículos, inclusive “caixas de sons” e “carretinhas”, que estiverem
fazendo propaganda/publicidade sonora sem licenciamento ambiental;
d) seja o município de Capitão Poço obrigado a implantar
o programa de controle dos ruídos urbanos, no prazo de 60 (sessenta) dias úteis,
conforme art. 3º., I, da Lei Municipal nº. 265/2012;
e) seja o município de Capitão Poço, também no prazo de
60 (sessenta) dias úteis, obrigado a organizar e implantar o serviço de
atendimento ao cidadão, de modo a atender às demandas de reclamações contra
excesso de ruídos ou sons, adotando o procedimento administrativo e judicial
necessário para coibi-lo, nos termos do art. 3º., IV da Lei Municipal nº.
265/2012;
f) seja o município de Capitão Poço obrigado a promover
e implementar o “Programa Municipal de Educação e Controle da Poluição
Sonora”, no prazo de 60 (sessenta) dias úteis, conforme art. 5º., da Lei
Municipal nº. 265/2012;
g) seja o município de Capitão Poço obrigado a nomear
os membros da “Comissão Municipal de Educação e Controle da Poluição
Sonora”, disponibilizando todas as condições para os trabalhos da mesma, no
prazo de 30 (trinta) dias úteis, conforme parágrafo único do art. 5º., da Lei
Municipal nº. 265/2012;
h) o bloqueio do montante R$ 2.000.000,00 (dois milhões
de reais) das contas bancárias das empresas rés, para garantir as indenizações
devidas, dividido proporcionalmente entre as mesmas, via Bacenjud.
Expeçam-se mandados para citações do município e das
requeridas para, querendo, contestarem a presente no prazo da lei, sob pena de
revelia, prosseguindo-se até final condenações dos demandados;
II – No mérito:
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
28 a) sejam as rés N. G. DO CARMO-ME, U. M. CARLOS
DA SILVA, R P DA SILVA-EIRELI ME e todas as empresas do “GRUPO
TONHEIRO” (M DOS S LIMA RAMOS EIRELI, A GOMES DE LIMA &
CIA LTDA ME, com nome fantasia “Casa Lima Agronegócio” ou “Lima
Citros” ou “Pizzaria & Chopperia Lima”, LIMA FERRO & AÇO
INDUSTRIAL EIRELLI, com nomes fantasias “Lima Ferro & Aço Materiais de
Construção” e “Gran Lima mármores e granitos com fino acabamento”, RG DE
LIMA EIRELI, com nome fantasia “Casa da Carne Lima”, MOTO PEÇAS
LIMA LTDA, com nome fantasia “Moto Peças Lima”, M. L. PINTO EIRELI,
com nome fantasia “Lima Informática”, “R & C Shopping RMG”, com nome de
fantasia “R & C Shopping”) proibidas de realizarem propaganda e/ou
publicidade por auto falantes móveis, sons eletronicamente amplificados, tais
como carros som, trios elétricos e congêneres, e outras formas de transportar tais
sons, bem como as atividades que os utilizem, enquanto não obtiverem o devido
licenciamento do órgão municipal responsável pela política ambiental, em que
constarão o horário, dias e critérios com que poderão funcionar;
b) seja o município de Capitão Poço proibido de
conceder-lhes quaisquer tipos de autorizações, permissões, licenças, alvarás e
licenciamentos ambientais, inclusive o que é extensivo para outras pessoas
físicas e jurídicas, enquanto não cumprirem todos os requisitos legais para
realização de propaganda e/ou publicidade por auto falantes móveis, sons
eletronicamente amplificados, tais como carros som, trios elétricos e congêneres,
e outras formas de transportar tais sons, bem como as atividades que os utilizem,
de acordo com a legislação em vigor;
c) seja o município de Capitão Poço obrigado a realizar as
autuações de todos os proprietários e/ou possuidores e/ou motoristas de veículos
e/ou dos veículos, inclusive “caixas de sons” e “carretinhas”, que estiverem
fazendo propaganda/publicidade sonora sem licenciamento ambiental;
d) seja o município de Capitão Poço obrigado a implantar
o programa de controle dos ruídos urbanos; a organizar e implantar o serviço de
atendimento ao cidadão, de modo a atender às demandas de reclamações contra
excesso de ruídos ou sons, adotando o procedimento administrativo e judicial
necessário para coibi-lo; promover e implementar o “Programa Municipal de
Educação e Controle da Poluição Sonora”; nomear os membros da “Comissão
Municipal de Educação e Controle da Poluição Sonora”, disponibilizando todas
as condições para os trabalhos da mesma;
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAPITÃO POÇO
29 e) as condenações das rés pelo pagamento de indenização
a ser fixada no montante de R$ 100.000,00 (cem mil reais), no mesmo valor
para cada uma, pelos prejuízos sofridos pelos consumidores com as
propagandas/publicidades sonoras abusivas;
f) as condenações dos réus no dano moral ambiental
coletivo.
A cominação de multa diária, equivalente a 50 (cinquenta
salários mínimos em vigor, por cada dia de descumprimento da decisão final,
ainda, em razão da não observância das cautelares eventualmente concedidas,
nos termos do art. 11 da Lei nº. 7.347/85, sendo que todos os valores deverão ser
revertidos para o Fundo Municipal de Defesa do Meio Ambiente.
Protesta provar o alegado com os documentos apresentados,
outros que por bem sejam requisitados por este Douto Juízo, bem como pela
produção de prova documental, pericial e testemunhal, oitivas dos proprietários
das empresas rés e abaixo arrolados, outros, indicados oportunamente, inclusive
requerendo a inversão do ônus da prova, de acordo com a Súmula 618 do STJ.
Dá-se à causa o valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões de
reais) para fins meramente fiscais, por ser a mesma inestimável, incluindo-se o
dano moral coletivo.
Capitão Poço-PA, 13 de dezembro de 2018.
NADILSON PORTILHO GOMES
1º Promotor de Justiça de 2ª Entrância Titular de Capanema, Oficiando no cargo de PJ de Capitão Poço
Portaria nº. 3.176/2012-MP/PGJ
ANEXOS:
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30 1. Autos de Inquérito Civil Público nº. 0015/2018-MP/PJCP, com 120 (cento
e vinte) páginas.
ROL DE TESTEMUNHAS:
1. JOSIANE MATOS ROCHA, SEMMA/Capitão Poço;
2. SEBASTIÃO VIEIRA ALVES, secretário municipal de meio ambiente;
3. SILVAS BRUNO DE MEDEIROS FREIRE, agente de fiscalização da
SEMMA/Capitão Poço;
4. FRANCISCO ALAN LAVOR SANTOS, SEMMA/Capitão Poço;
5. HEITOR SOARES GONÇALVES, delegado de polícia civil;
6. RICARDO CLÉCIO DOS REIS MEDEIROS, conselheiro tutelar;
7. CELMA SILVA DE OLIVEIRA, conselheira tutelar.