-
CAMILA DE OLIVEIRA CAVALCANTI
NANOCOSMTICOS: DA MANIPULAO ATMICA AOS DESAFIOS
REGULATRIOS
Dissertao de mestrado apresentada no
mbito do 2. Ciclo de Estudos em Direito
da Faculdade de Direito da Universidade
de Coimbra, na rea de Especializao
em Cincias Jurdico-Polticas.
Meno: Direito do Ordenamento, do
Urbanismo e do Ambiente
Orientadora: Prof. Dr. Maria Alexandra
Sousa Arago
Coimbra Portugal
Outubro de 2014
-
1
Aos meus pais, hoje e sempre.
-
2
AGRADECIMENTOS
Agradeo, primeiramente, a Deus e Virgem Maria, por todas as bnos
derramadas em minha vida. Por serem um amparo certo e seguro na vida longe de casa
e por dar-me disposio, discernimento e sabedoria diante dos obstculos impostos
diariamente no decorrer desta caminhada;
Agradeo a todos os professores que durante todos os estgios me serviram de
estmulo, exemplo e incentivo. Fico reconhecida pela dedicao e por todos os
conhecimentos compartilhados. Quero expressar o meu especial agradecimento
Doutora Maria Alexandra Arago, por quem tenho imenso respeito e admirao. Ela
instigou-me sempre a procurar novos caminhos e a pr prova as minhas capacidades,
apresentando sugestes e tentando melhorar este projeto.
Agradeo ao meu pai por sempre acreditar nos meus objetivos e no medir
esforos no dar a uma filha; por moldar o meu carter e ter feito de mim uma pessoa
honesta e fiel aos princpios, sempre ciente das minhas responsabilidades. Por me fazer
sentir, atravs da sua dedicao, com uma obrigao que vai alm todas inerentes a
este projeto, a obrigao de satisfazer, a altura, todas as expectativas apostadas. E, por
conseguir dar-me todo o afeto, mesmo estando privada da sua presena fsica.
minha me por todo o amor compartilhado, por todas as vezes que foi o meu
melhor amparo e a minha maior companhia, mesmo estando distante. Por no me faltar
em nenhuma vez que precisei na vida, pela educao e valores transmitidos e,
principalmente, por simplesmente me ouvir, me fazer sentir amada e acreditar em mim;
Aos meus trs irmos, mas sem desmerecer o amor, a amizade e o carinho dos
de nenhum deles, deixo uma palavra especial a Caio, por ser o meu maior exemplo na
profisso que escolhi seguir, por sempre me orgulhar em suas conquistas e me instigar a
tentar, ao menos, atingir um pouco do seu brilhantismo;
A toda a minha famlia, em especial s minhas tias, que me transmitem a
extraordinria e indescritvel sensao de possuir o amor de vrias mes;
Aos meus padrinhos, os quais eu agradeo no apenas em seus nomes, mas a
toda famlia Zrpoli que, como meu segundo lar na vida, foi sempre um porto seguro e
fiel em todas as etapas desta caminhada;
A todas as minhas amigas e por sorte tenho muitas e as melhores tanto as
que esto distantes, mas fazem parte de uma vida, quanto as que conquistei ao longo do
-
3
mestrado e que, de certo, tambm seguiro na vida comigo, por terem o condo de dar
leveza aos meus dias, sempre me alegrando e transmitindo um sorriso fcil e certo no
rosto.
-
4
LISTA DE SIGLAS
ABIHPEC Associao Brasileira da Indstria de Higiene Pessoal, Perfumaria e
Cosmticos
ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
CALTHECH California Institute of Technology
CCE Comisso das Comunidades Europeias
CE Comunidade Europeia
CENARIOS - Certifiable Nanospecific Risk Management and Monitoring System
EACH Agncia Europeia dos Produtos Qumicos
ISO/TC International Organization for Standardization Comit Tcnico
MTI - Massachusetts Institute of Technology
N&N Nanotecnologia e Nanocincia
NIOSH National Institute of Occupational Safety and Health
nm Nanomtro (Unidade de Medida)
OGM Organismos Geneticamente Modificados
RDC Resoluo de Diretoria Colegiada
REACH Registro, Avaliao, Autorizao e Restrio dos Produtos Qumicos
STM Scanning Tunneling Microscope
UE - European Union/Unio Europia
-
5
NDICE
INTRODUO .............................................................................................................. 7
PARTE I NANOTECNOLOGIA: DA ALMEJADA MANIPULAO DO
INVISVEL AO RISCO GLOBAL ............................................................................ 14
1. Nanotecnologia: conceito e breve enquadramento histrico ......................... 14
2. Nanotecnologia como Cincia do Futuro: suas princpais aplicaes e seus
efeitos predominantes ............................................................................................... 20
A) Produtos Txteis ............................................................................................. 23
B) Meio Ambiente ............................................................................................... 24
C) Alimentos ........................................................................................................ 27
D) Construo ...................................................................................................... 30
E) Eletrnica ........................................................................................................ 30
F) Medicina e Farmcia ..................................................................................... 31
G) Cosmticos ...................................................................................................... 33
H) Outras Aplicaes .......................................................................................... 33
2.1 Principais Efeitos Predominantes das Nanopartculas .................................. 34
3. Riscos e Benefcios Oriundos da Nanotecnologia ........................................... 36
PARTE II NANOCOSMTICOS INSERIDOS NO MERCADO: AUSNCIA
DE REGULAMENTAO E NOVOS DESAFIOS ................................................. 53
1. Cosmticos: Conceito e Evoluo Histrica .................................................... 53
1.1 Cosmticos no Brasil ............................................................................... 55
1.2 Cosmticos na Unio Europeia ..................................................................... 57
2. Nanocosmticos: consideraes gerais ............................................................. 60
3. A Regulamentao ou ausncia de aplicada aos nanomateriais contidos
em cosmticos ............................................................................................................ 65
-
6
4. Os Desafios Axiolgicos da Introduo dos Nanocosmticos no Mercado de
Consumo: um olhar sob a perspectiva das sociedades de risco. ........................... 67
5. O Estado de Direito Ambiental e o Dever de Atuao Diante dos Riscos e
Incertezas Prprios das Sociedades Atuais ............................................................ 79
6. A Aplicao do Princpio da Precauo aos Nanocosmticos: o caminho para
uma adequada gesto dos riscos. ............................................................................. 92
6.1 Instrumentos Jurdicos para salvaguarda dos valores protegidos e
aplicao do princpio da precauo ................................................................. 105
6.1.1 Necessidade de Proteo Segurana dos Consumidores ................. 105
6.1.2 Mecanismos de Informao aos Consumidores ................................. 109
CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................... 113
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 117
-
7
INTRODUO
A nanotecnologia consiste na manipulao da matria em uma escala atmica
ou molecular, assentando na formao de novas estruturas e dispositivos a nveis
bastante reduzidos que variam de 1nm a 100nm (onde 1nm equivale a 1 x 10-9 parte de
um metro).
Apesar de ter passado por um longo processo histrico de desenvolvimento,
desde a sua idealizao at sada do campo das pesquisas e dos laboratrios e sua
subsequente materializao, a nanotecnologia pode ser atualmente encarada como uma
realidade que entrou de maneira significativa no quotidiano social. Ela faz parte do dia-
a-dia das pessoas, nomeadamente atravs de uma gama de produtos que j se encontram
largamente difundidos no mercado.
certo que a prpria evoluo da sociedade requer e busca , cada vez mais, o
desenvolvimento de inovaes cientficas e tecnolgicas. Fruto do aprofundamento dos
conhecimentos e da investigao, tais inovaes possuem mecanismos aptos a
solucionar ou pelo menos minorar diversos conflitos da contemporaneidade,
contribuindo, dessa forma, para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
neste contexto que surgem as nanotecnologias com potencial para
penetrarem em praticamente todos os setores produtivos, j que introduzem uma nova
perspectiva relativamente ruptura com antigos modelos disciplinares. Contribuem para
a concretizao de uma mudana efetiva de de paradigma, baseada na convergncia de
conhecimentos de diversas disciplinas, com vista criao de produtos e servios
aplicveis a inmeros campos da atividade produtiva. Assim, as nanotecnologias so
uma boa resposta aos anseios das sociedades contemporneas, no seio das quais os
modelos disciplinares tendem a deixar de responder de maneira efetiva s questes
relevantes. Ela aparece, nesse sentido, como a mais recente revoluo tecnolgica,
baseada num modelo predominantemente interdisciplinar.
Os benefcios das nanotecnologias podem comprovar-se nos mais variados
setores. Ressalte-se a possibilidade de salvar vidas atravs da criao de mecanismos
capazes de fornecer o diagnstico precoce de doenas.Mais concretamente na rea
farmacutica, podem permitir a liberao controlada dos frmacos, reduzindo assim os
efeitos secundrios que eles causam. Mas, as aplicaes estendem-se a outros setores:
pense-se na introduo de novas caractersticas nos produtos txteis, que passam a ser
mais leves, resistentes e econmicos; na contribuio para a proteo ambiental, por
-
8
meio de sistemas capazes de reduzirem a poluio, de melhorar o tratamento da gua, de
explorar novas tcnicas para o incremento de energias alternativas e renovveis, de
mecaniscos de controle de pragas e doenas dos alimentos. Atravs das nanotecnologias
equaciona-se tambm a produo de cosmticos mais eficientes e multifuncionais, que
conjulguem mais do que uma funo no mesmo produto, conduzindo assim obteno
de resultados mais eficazes e num menor lapso o de tempo.
Contudo, para alm dos benefcios da nanotecnologia, no podemos esquecer
que a reduo de substncias escala nano lhe confere caractersticas distintas daquelas
que elas apresentariam quando consideradas na escala macro. Assim, a partir da reduo
de escala, os materiais podem sofrer alteraes nas suas propriedades naturais e
reagirem, consequentemente, de maneira diferente da que reagiriam os materiais
convencionais, podendo tornarem-se mais reativos, sofrer alteraes na cor, aumentar a
sua condutividade eltrica, possuir maior capacidade de penetrao na pele, etc.
Ocorre que o surgimento destes novos materiais com propriedades distintas
daquelas que teriam quando analisados em sua verso convencional fez,
consequentemente, que aparecessem novos riscos e incertezas que suscitam novas
preocupaes e requerem uma especial ateno por se tratar de um campo de estudo
recente e que em muito precisa sair do desconhecimento. Necessitando. Torna-se, ento,
necessria uma avaliao adequada para que os produtos no venham a causar danos
nem para a sade humana nem para o meio ambiente.
No h dvidas que o emergir de uma nova tecnologia implica no
aparecimento de novas dvidas acerca de at que ponto estas podem ser consideradas
como benficas ou no e quais os caminhos ideiais a serem adotados para o
direcionamento do avano cientfico-tecnolgico, de maneira que consiga-se aproveitar
ao mximo o seu desenvolvimento ltil e benfico para a sociedade.
Cumpre salientar, neste ponto, que os riscos relacionados com o
desenvolvimento cientfico e tecnolgico so prprios do mundo contemporneo, e so
inerentes ao atual modelo social existente, das sociedades de risco1, que possuem como
caracterstica serem desconhecidos longo prazo, portadores de um elevado grau de
1 Nas sociedades atuais, a natureza no pode ser dissociada da sociedade e a sociedade no pode ser
pensada sem a natureza. A consequncia central da modernidade social reside exatamente no fato de que
no se podem compreender de maneira autnoma as questes relacionadas com a natureza. Desta forma,
as destruies e ameaas ao meio ambiente passam a ser um componente integral da dinmica social,
econmica e poltica. BECK, Ulrich. La Sociedad del Riesgo - Hacia una nueva modernidad. Barcelona:
Ediciones Paids Ibrica, 1998.
-
9
incerteza e tendentes globalizao, sem respeitarem os limites territoriais de um s
Estado2.
Entendemos ser essencial realizar uma apresentao da nanotecnologia, para
que haja um enquadramento do tema, por meio do qual tenhamos uma real percepo a
respeito desta inovao tecnolgica, percebendo qual o seu potencial de aplicao, e
de que maneira ela se reflete no quotidiano da sociedade. Interrogar-nos-emos ainda
acerca das possveis consequncias de sua utilizao. Consideramos relevante a
compreenso da importncia e das caractersticas peculiares dos nanomateriais, assim
como entendemos ser importante a anlise dos efeitos nocivos dos novos riscos, em que
a avaliao e a gesto dos mesmos se tornam decisivas.
Tal apresentao torna-se indispensvel em virtude de o tema ser abordado, na
maioria das vezes, em relao direta com outras reas do conhecimento como a
engenharia, a economia e a gesto , descurando-se a reflexo sobre o seu impacto
jurdico e social. Os estudos voltados para a questo so recentes, o que nos leva a
esclarecer, desde j, que no buscamos aprofundar a temtica nem alarg-la a diversos
campos. O nosso objetivo mostrar a relevncia jurdica dos entraves provenientes da
nanotecnologia e, de forma mais especfica, dos nanocosmticos inseridos no mercado.
Na maioria das vezes, h um total desconhecimento sobre eles, no se sabendo em que
produtos esto presentes nem quais as suas reaes. Para que, assim, entendamos qual o
papel do Estado de Direito Ambiental na proteo dos valores jurdicos envolvidos.
A importncia dos valores jurdicos em questo no que diz respeito a utilizao
de produtos cosmticos base da nanotecnologia e, consequentemete, os potenciais
riscos da sua exposio, pode ser visualizada devido ao fato destes encontrarem-se
constitucionalmente consagrados. Assim, h que se levar em considerao, para a
resoluo dos conflitos existentes entre estes valores, a relevncia dos valores jurdicos
face a cada caso concreto. Os conflitos envolvem, de maneira direta, a dupla relao
existente entre o valor esttico e o valor da sade humana e o valor esttico versus o
2 Podemos dizer que hoje em dia se verifica uma desnacionalizao, pelo que passa a existir uma
complexa atribuio de responsabilidades preventivas referentes aos riscos das sociedades atuais, que no
so atribudas de maneira exclusiva e independente a um nico Estado. o que pode ser comprovado
com o desenvolvimento tecnolgico que, ao introduzir novos riscos, geram novos deveres para os
Estados de Direito Ambiental, so riscos globais, no s pela sua magnitude e abragncia geogrfica, mas
tambm pelos interesses mediticos que suscitam. ARAGO, Alexandra. A Preveno de Riscos em
Estados de Direito Ambiental na Unio Europeia. In: Temas de integrao. Coimbra. Sem. 1-2, n 31-32
(2011), p. 123-160. Arquivo Eletrnico. Disponvel em:
http://www.ces.uc.pt/aigaion/attachments/Prevencao%
20de%20Riscos%20em%20Estados%20de%20Direito%20Ambiental.pdf1a14060ed87cb105d54a17036c
ac71fa.pdf
http://webopac.sib.uc.pt/search~S20*por/t?Temas+de+integra%7bu00E7%7d%7bu00E3%7do.http://webopac.sib.uc.pt/search~S20*por/t?Temas+de+integra%7bu00E7%7d%7bu00E3%7do.http://www.ces.uc.pt/aigaion/attachments/Prevencao%20de%20Riscos%20em%20Estados%20de%20Direito%20Ambiental.pdf-1a14060ed87cb105d54a17036cac71fa.pdfhttp://www.ces.uc.pt/aigaion/attachments/Prevencao%20de%20Riscos%20em%20Estados%20de%20Direito%20Ambiental.pdf-1a14060ed87cb105d54a17036cac71fa.pdfhttp://www.ces.uc.pt/aigaion/attachments/Prevencao%20de%20Riscos%20em%20Estados%20de%20Direito%20Ambiental.pdf-1a14060ed87cb105d54a17036cac71fa.pdf
-
10
valor ambiental. Indiretamente, mas no menos importantes, o dever do Estado de no
garantir apenas mas de impulsionar tambm o desenvolvimento econmico e
tecnolgico. Alm disso, como materializao da liberdade humana, deve fomentar o
livre exerccio da autonomia da vontade das pessoas na escolha da assuno de certos
riscos e dos produtos que desejam consumir.
Para alm dos conflitos entre os valores constitucionais mencionados, que se
do no mbito intrageracional, ou seja, versam sobre interesses atualmente conflitantes,
que ocorrem na esfera vivenciada pelas geraes presentes. So de extrema relevncia e
devem ser amplamente considerados, os interesses das geraes que ho de vir3.
Surgem, neste ponto, os conflitos intergeracionais, entre os interesses das
geraes presentes e a necessidade de proteo dos recursos existentes a disponibilizar
s geraes futuras, uma vez que as geraes presentes no podem deixar para as
futuras geraes uma herana de dficits ambientais ou do estoque de recursos e
benefcios inferiores aos que receberam das geraes passadas4. Desta forma, o
interesse das geraes atuais em explorar ao mximo a inovao tecnolgica e, no caso
em anlise, fazer uso indiscriminado dos nanocosmticos, coloca m risco a proteo dos
interesses das geraes futuras e o seu acesso, em iguais condies, aos recursos
atualmente disponveis.
Facilmente se compreende esta tenso, pois, apesar de no haver certezas
absolutas quanto aos danos causados pela utilizao destes produtos, h estudos que
indicam que os nanomateriais possuem maior potencial de penetrao cutnea. Nesse
sentido, pouco se sabe a respeito dos nveis da pele so capazes de penetrar, sendo
prudente que questionemos se estes produtos quando utilizados por uma mulher
gestante, e caso atinjam nveis profundos da pele e circulem na corrente sangunea, so
capazes de atingir e prejudicar ou no o feto. Outro exemplo atravs da eliminao
destes produtos, muitas partculas podero acumular-se inadequadamente no meio
ambiente e virem a afetar toda a cadeia alimentar.
3 A obrigao de proteo do meio ambiente pra as geraes futuras pode ser visualizada, por exemplo, na
Declarao de Estocolmo de 1972 sobre o Ambiente e o Desenvolvimento que determina: O homem
tem o direito fundamental liberdade, igualdade e ao gozo das condies de vida adequadas, num
ambiente de qualidade que lhe permita levar uma vida com dignidade e bem-estar, e portador de uma
obrigao solene de proteger e melhorar o meio ambiente, para as geraes presentes e futuras. Arquivo
Eletrnico. Disponvel em: http://www.apambiente.pt/_zdata/Politicas/DesenvolvimentoSustentavel
/1972_Declaracao_Estocolmo.pdf 4 SAMPAIO, Jos Adrcio Leite; WOLD, Chris; NARDY, Afrnio. Princpios de Direito Ambiental na
dimenso internacional e comparada. Belo Horizonte, Del Rey Editora, 2003, p. 57.
http://www.apambiente.pt/_zdata/Politicas/DesenvolvimentoSustentavel%20/1972_Declaracao_Estocolmo.pdfhttp://www.apambiente.pt/_zdata/Politicas/DesenvolvimentoSustentavel%20/1972_Declaracao_Estocolmo.pdf
-
11
Assim, temos que de suma importncia para os intrpretes nas tomadas de
decises entenderem o quadro instaurado pela nanotecnologia e, consequentemente e de
maneira mais especfica, aquele com relao a livre circulao de nanocosmticos no
mercado. Os conflitos sociais que surgem com o aparecimento destes novos riscos so
de extrema relevncia jurdica e, necessariamente, requerem a criao de instrumentos e
polticas capazes de lidar com esta situao de incerteza, alm de respostas jurdicas
voltadas para uma adequada gesto preventiva dos riscos e garantia de um meio
ambiente sustentvel.
certo que o uso de produtos cosmticos convencionais j representa para o
sistema judicirio uma srie de aes em face das empresas responsveis devido ao
incumprimento, por parte destas, de diversas obrigaes para com a introduo dos
produtos no mercado.
Isto pode acontecer, por exemplo, pela ausncia de informaes necessrias nas
embalagens no que toca o modo correto de utilizao e os riscos de danos sade dos
produtos; ausncia de testes que garantam a segurana dos produtos; introduo de
alguma substncia no permitida por lei ou utilizao da substncia em quantidade
superior aquela permitida; ausncia de informao no que tange a presena de
determinada substncia no produto5.
Neste contexto, faz-se mister frisar que a inexistncia de um aparato regulatrio
com relao aos nanocosmticos traz a baila um problema jurdico de mxima
relevncia no diz respeito a possibilidade concreta de que a ausncia de uma gesto
preventiva e precaucional adequada destes produtos venha a gerar conflitos sociais
futuros que exponha, para alm dos potenciais efeitos tanto para a sade quanto para o
5 Vale demonstrar neste ponto, apenas a ttulo exemplificativo, uma deciso recente do Tribunal de
Justia do Rio Grande do Sul onde resta claro o potencial dos comticos em causar prejuzos sade
humana frente a ausncia de informao com relao a determinadas substncias e seus potenciais riscos -
APELAO CVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE CONSUMO. INFORMAES
INSUFICIENTES QUANTO AOS RISCOS DA UTILIZAO DE PRODUTO COSMTICO.
REAO ALRGICA. CONFIGURAO DO DEVER DE INDENIZAR. Caso dos autos em que a
autora sofreu forte reao alrgica pela utilizao de dois esmaltes fabricados pela r. luz das
disposies do Cdigo de Defesa do Consumidor, objetiva a responsabilidade do fabricante por dano
decorrente de fato do produto, bem como dever do fabricante informar acerca dos riscos do produto
sade e segurana dos consumidores, especialmente quando o seu uso do pode causar graves danos. Prova
dos autos que demonstra a falta de informaes adequadas quanto aos riscos do produto, notadamente
com relao existncia de componente que podem causar reao alrgica. Configurao do dever de
indenizar. Danos morais in re ipsa. QUANTUM INDENIZATRIO. CRITRIOS. Valor da condenao
fixado de acordo com as peculiaridades do caso concreto, bem como luz dos princpios da
proporcionalidade e razoabilidade, alm da natureza jurdica da condenao. Precedentes jurisprudenciais.
RECURSO PROVIDO. (TJ-RS - AC: 70057545832 RS , Relator: Tasso Caubi Soares Delabary, Data de
Julgamento: 18/12/2013, Nona Cmara Cvel, Data de Publicao: Dirio da Justia do dia 20/01/2014).
Arquivo Eletrnico. Disponvel em: http://www.tjrs.jus.br/site/
http://www.tjrs.jus.br/site/
-
12
meio ambiente, o sistema jurdico a uma srie de demandas originadas pela inrcia
estatal diante da inexistncia de certeza cientfica quanto a segurana das substncias
em escala nanomtica contidas nos produtos.
Perante isto, cabe ao Estado de Direito Ambiental o exerccio de uma gesto
preventiva dos riscos e, assim assumir a responsabilidade pela proteo destes valores,
devendo prevenir os riscos ambientais e evitar a concretizao de efeitos prejudiciais,
principalmente aqueles que podem acarretar consequncias irreversveis. Este dever do
Estado notrio tendo em vista a importncia dos valores afetados, a amplitude do dano
e a tendncia de irreversibilidade que comportam, j para no falar do impacto que os
comportamentos de hoje tm nas geraes futuras.
No entanto, no cabe ao Estado prevenir a ocorrncia de riscos, pois a prpria
existncia humana j acarreta riscos para a sociedade, sendo impossvel atingir-se o
risco-zero6.
A fim de solucionar tal questo, h critrios para a identificao dos limites de
tolerncia na sociedade de risco, ou seja, esto fixados quais so os riscos aceitveis,
aos quais o Estado pode abster-se de intervir e, quando excedidos estes limites, possuem
o dever de agir ativamente na sua preveno.
Tais critrios giram em torno da probabilidade de ocorrncia do dano tendo em
vista que, em face da ausncia de certezas cientficas, so os estudos probabilsticos que
guiaro a atuao do Estado e o seu dever de adotar as medidas necessrias para a
preveno dos riscos e a potencialidade dos seus efeitos danosos, de modo que devem
ser prevenidos todos os ricos que tenham capacidade de causar danos significativos
graves, irreversveis e duradouros - e, neste ponto, considera-se que se a sade
humana puder ser afetada, no haver dvidas em qualificar os danos ambientais como
graves7.
Na adoo de medidas preventivas, o Estado deve ter presente a justia
temporal, ou seja, merecem salvaguarda no so s os danos atuais que lesam as
geraes de hoje, mas os efeitos futuros, a fim de que sejam respeitados os direitos das
6 Neste sentido, Carla Amado Gomes, entende que no h vida sem risco, porque no h vida (no sentido
psquico e no meramente fisiolgico) sem liberdade. Com efeito, a ao do Estado para evitar todo e
qualquer risco, para alm das suas impossibilidades financeiras, implica uma restrio prpria liberdade
humana. GOMES, Carla Amado. Risco e Modificao do Acto Autorizativo Concretizador de Deveres do
Ambiente. Dissertao em Doutoramento em Cincias Jurdico-Polticas. Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa. Lisboa, 2007, p. 245. 7 ARAGO, Alexandra. A Preveno de Riscos em Estados de Direito Ambiental na Unio Europeia.
[...]. Op. Cit., p.28.
-
13
geraes vindouras, por meio de medidas no apenas preventivas, mas tambm
precaucionais, para evitar a consumao de danos irreversveis. Alm disso, tem de
acionar uma justia ecolgica, pois no podemos supervalorar determinados danos em
detrimento de outros igualmente importantes. Este aspecto est ligado igualdade
interespcies como, por exemplo, quando h uma maior proteo aos danos humanos e
ignora-se a relevncia dos demais danos sofridos pelo meio ambiente como um todo8.
8 ARAGO, Alexandra. A Preveno de Riscos em Estados de Direito Ambiental na Unio Europeia.
[...]. Op. Cit., p.35.
-
14
PARTE I NANOTECNOLOGIA: DA ALMEJADA
MANIPULAO DO INVISVEL AO RISCO GLOBAL
1. Nanotecnologia: conceito e breve enquadramento histrico
Quando falamos em inovao, no surgimento de novas tecnologias e, com elas,
no aparecimento de inmeros produtos e servios, comum vir-nos mente todas as
questes que este processo de conhecimento, investigao e consequente aplicao
destas novas tcnicas implicar no cotidiano da sociedade.
Como sabido, o avano tecnolgico fruto de um longo e histrico processo
de desenvolvimento de novos conhecimentos e artefatos que servem de suporte s
tecnologias atuais e, por conseguinte, para seu aperfeioamento e formao das
tecnologias que ho de vir que, por ora, ainda esto a ser mentalizadas e
cuidadosamente investigadas por aqueles que, com capacidades imaginativas alm da
mdia da sociedade, so mentores de ideias que sero materializadas apenas anos ou
dcadas depois de terem sido idealizadas, e, por se inserirem de maneira to natural
em nosso dia-a-dia, no nos permite compreender com a devida acuidade os percalos
desta trajetria de criao-difuso9.
H muitos anos estamos sendo espectadores do surdir de uma nova esfera da
evoluo do aprofundar da atividade cientfica que aparece com a expectativa de nos
proporcionar uma gama de novas tecnologias capazes de percorrer, em virtude do seu
enorme leque de possibilidades de criao, os mais diversos campos de produo e de
nos trazer ferramentas aptas solucionar, ou pelo menos minorar, inmeros problemas
enfrentados pela sociedade atual.
Ao passo que estas novas tecnologias emergem, torna-se necessria a criao
de um contexto social favorvel sua integrao. No basta interlig-las com os
interesses econmicos que as acompanham. Deve haver uma maior preocupao com a
pesquisa e a investigao, bem como a adaptao s normas legais atinentes ao seu
desenvolvimento. Acresce a isto a necessidade de conhecer e reduzir seus os potenciais
riscos, controlando de forma efetica a sua atividade. Deste modo, estabelecer-se- um
9 JUNIOR, Jorge Luiz dos Santos. Cincia do Futuro e Futuro da Cincia redes e polticas de
nanocincia e nanotecnologia no Brasil. Editora UERJ. Rio de Janeiro, 2013. p 22.
-
15
contexto satisfatrio para que as novas tecnologias sejam consolidadas e direcionadas
para a resoluo de conflitos existentes na sociedade10.
A nanotecnologia aparece como uma destas novas tecnologias promissoras da
atualidade. Sua atividade decorre do controle e da manipulao da matria escala dos
tomos e das molculas e hoje a materializao de conhecimentos e investigaes que
perpassaram um longo processo de desenvolvimento. Para que possamos compreender
o atual estgio da nanotecnologia essencial que faamos uma viagem no tempo e
entendamos a maneira como os conhecimentos acerca dos tomos foram evoluindo no
curso da histria.
Muito antes de os tomos serem conhecidos enquanto tal, ainda na antiguidade,
o homem j demonstrava preocupaes com o comportamento e a composio da
matria. Vrias suposies foram criadas, mas foi Leucipo de Mileto o primeiro filsofo
a propor que a matria era composta por pequenas estruturas que seriam sua parte
indivisvel, s quais seu discpulo, Demcrito de Abdera, deu-lhe a denominao de
tomo11.
Embora tenham sido elaboradas diversas teorias acerca da existncia atmica,
tais suposies foram bastante criticadas pelo meio cientficas da poca, pairava em
torno da existncia de partculas atmicas no interior da matria uma total
incredulidade. Mesmo diante deste quadro de incerteza e de ausncia de mecanismos
suficientes para sua comprovao, vrias teorias para descrever o tomo foram
formuladas, dentre as quais merece destaque a de John Dalton que defendia que a
matria composta por pequenas partculas, os tomos, e que estes quando agrupados
formam unidades maiores, as molculas, que, de acordo com as pores em que forem
combinadas, so capazes de formar outros diversos componentes qumicos. A teoria
atomista ganha fora a partir da tese de doutoramento de Albert Einstein, em 1905, na
10 importante frisar que adotamos, na anlise da inovao tecnolgica, a perspectiva proposta por Bruno
Latour, da sociologia construtivista, em que a prtica e o desenvolvimento da inovao no devem
envolver apenas fatores econmicos. Para que haja a inovao se consolide, importante interlig-la com
fatores no econmicos, como, por exemplo, a compatibilizao desta com o contexto social em que est
inserida.. ANDRADE, Thales de. Inovao Tecnolgica e Meio Ambiente: a construo de novos
enfoques. Ambiente & Sociedade. Vol. VI I n. 1 jan./jun. 2003. Arquivo Eletrnico. Disponvel em:
http://www.scielo.br/pdf/asoc/v7n1/23538 11 A palavra tomo, de origem grega, provem de = sem e temn = cortar, ou seja, significa aquilo que
no pode ser quebrado em partes, que indivisvel.
http://www.scielo.br/pdf/asoc/v7n1/23538
-
16
qual o cientista explicou o movimento browniano como sendo o movimento aleatrio
das partculas como conseqncia da coliso entre os tomos 12.
No entanto, foi por intermdio dos experimentos realizados por Ernest
Rutherford que a ideia da indivisibilidade do tomo deixou de fazer sentido.. Embasado
na descoberta de Joseph John Thomson acerca da existncia de partculas negativas nos
tomos (os eltrons), Rutherford encontrou um pequeno ncleo no centro do tomo, no
qual, de acordo com o que afirmou Niels Bohr dois anos depois, os eltrons orbitam
sua volta.
O desenvolvimento de estudos mais precisos a respeito do comportamento e
das caractersticas dos tomos foi impulsionado pelo surgimento de novos mecanismos
viabilizadores. Novos mtodos e equipamentos foram sendo adotados e aprimorados
pela cincia. Os estudos voltaram-se no s para o conhecimento da composio da
matria, mas tambm para a sua manipulao.
A ideia de podermos manipular a matria escala atmica ou molecular ganha
consistncia a 29 de dezembro de 1959, quando o fsico norte-americano Richard
Phillips Feynmam, durante o encontro da Sociedade Americana de Fsica, no Instituto
de Tecnologia da Califrnia (Caltech), proferiu a conferncia intitulada Theres Plenty
of Room at the Bottom. Hoje considerada um marco histrico para a evoluo das
nanotecnologias. Feynmam pretendia alertar para a possibilidade de se manipular e
controlar as coisas numa escala muito reduzida, a escala atmica, uma vez que, segundo
o autor, se conhecssemos os tomos poderamos arranj-los da maneira que
desejssemos13.
De acordo com o mesmo cientista, desde que os estudos da poca se voltassem
para este campo do saber e que os microscpios eletrnicos fossem aperfeioados, seria
possvel, respeitadas todas as leis da natureza, dispor a matria numa escala muito
pequena, o que permitiria que fosse usada para inmeras aplicaes tcnicas. Segundo
ele, no se tratava de violar qualquer lei, mas sim de algo que, a princpio poderia ser
12 DURN, Nelson; MATTOSO, Luiz Henrique Capparelli e MORAIS, Paulo Csar. Nanotecnologia:
introduo, preparao e caracterizao de nanomateriais e exemplos de aplicao. So Paulo. Artliber
Editora, 2006, p. 15. 13 FEYNMAM, Richard Phillips. (1959), Theres Plenty of Room at the Bottom, An Invitation to Enter a
New Field of Physics. Onde afirmou: I would like to describe a field, in wich little has been done, but, in
which na enourmous amount can be done in principle.(...) What I want to talk about is the problem of
manipulating and controlling things on a small scale.(...) It is a staggeringly small Word that is blow.
(...)What would happen if we could arrange the atoms one by one the way we want them. Arquivo
Eletrnico. Disponvel em: http://www.zyvex.com/nanotech/feynman.html.
http://www.zyvex.com/nanotech/feynman.html
-
17
feito, mas que, na poca no existiam meios viabilizadores suficientes. O cientista
desafiou os espectadores para a possibilidade de escrevermos os 24 volumes inteiros da
Enciclopdia Britnica na cabea de um alfinete, onde a concretude desta afirmao
estava na criao de instrumentos que fossem capazes de reduzir o texto a uma escala
muito pequena. Para este cientista, poderia ser colocada uma quantidade enorme de
informaes em espaos extremamente pequenos. Enfatizou, tambm, em conformidade
com a ideia lanada j no ttulo da sua palestra que haveria uma infinitude a serem
descobertas e criadas a partir da manipulao atmica, e que sua explorao era no
somente vivel, mas inevitvel e proporcionaria a criao de inmeros dispositivos teis
em todos os ramos do conhecimento.
No entanto, a palavra que hoje utilizada para denominar esta cincia de
manipulao escala nanomtrica idealizada por Feynmam, a expresso
nanotecnologia, foi empregada pela primeira apenas em 1974, pelo professor da
Universidade de Cincias de Tquio, Norio Taniguchi, que fez uso do termo para narrar
a fabricao precisa de novos materiais com escalas nanomtricas.
Conforme j havia sido proposto por Feynmam, e tendo em conta os
mecanismos existentes poca, o progresso da nanotecnologia estaria estritamente
ligado a sofisticao dos microscpios existentes. Apesar de esse aspeto ter sido
evocado em 1959, s vrias dcadas mais tarde que a nanocincia se consolidou como
um proficiente campo de investigao. Foi atravs da criao do microscpio eletrnico
com efeito tnel (scanning tunneling microscope STM), inventado pelos fsicos
Heinrich Roehrer e Gerd Binning no ano de 1981, que se tornou possvel visualizar e
manipular os tomos de maneira individual. Com a criao do STM, as nanocincias
ganham um impulso extraordinrio. A tecnologia utilizada desde o seu primeiro
prottipo tem evoludo consideravelmente, dando-se azo criao de um campo de
desenvolvimento da tecnologia mais amplo. Com efeito, tornou-se possvel ver os
tomos ao vivo e no apenas l-los como palavras ( l Demcrito) ou v-los como
bolas pintadas num livro ( l Dalton)14. O tomo agora salta aos olhos dos cientistas,
no somente por seu movimento independente, mas pelos vislumbres das possibilidades
14 FIOLHAIS, Carlos. Nanotecnologia: o futuro vem a. Departamento de Fsica e Centro de Fsica
Computacional da Universidade de Coimbra. Arquivo Eletrnico. Disponvel em:
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/12377/1/NANOTECNOLOGIA.pdf . Pgina 6.
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/12377/1/NANOTECNOLOGIA.pdf
-
18
de se construir novos elementos por meio da manipulao atmica. O que era difcil de
ser visto passa agora a ser manipulado15.
Podemos, a ttulo de hoje, constatar que Feynman nos falava com a
propriedade de quem detinha toda razo. A materializao dos devaneios ditos pelo
cientista em sua palestra pode ser nitidamente observada nas mais diversas aplicaes
presentes no cotidiano social. Ousamos dizer que quilo que foi dito outrora, encontra-
se, atualmente, no apenas incutido nas mais variadas aplicaes da cincia, mas
superou em muito as expectativas criadas em torno do seu potencial de aplicao e
desempenho.
O exponencial crescimento da nanotecnologia e a sua difuso no quotidiano da
sociedade gerou uma preocupao em torno da questo e ganhou relevo no s no
campo das investigaes cientficas, mas tambm das pesquisas acadmicas voltadas
para a matria. O primeiro artigo cientfico que se debruou sobre esta temtica foi
escrito por Kim Eric Drexler, investigador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts
MIT, que tem orientado os seus estudos para as nanotecnologias e para as suas formas
de implementao, procurando ser teis e voltar a sua atuao para a resoluo de
problemas escala global16-17.
Ao analisarmos, epistemologicamente, a palavra nanotecnologia, podemos
constatar que o prefixo nano deriva do latim nanus e do grego nnnos ou nnos que
significa ano. A palavra comumente empregada para remeter a ideia de algo
extremamente pequeno. Adotada pela 11 Conferncia Geral de Pesos e Medidas, a
palavra nano tambm pode ser utilizada como unidade de medida, onde um nanmetro
ser equivalente a bilionsima parte de um metro. As nanoestruturas so to pequenas
que o dimetro de um fio de cabelo dezenas de mil vezes maior que um nanmetro
15 JUNIOR, Jorge Luiz dos Santos. Cincia do Futuro [...] Op. Cit. p. 26. 16 Kim Eric Drexler o autor de obras significativas como, por exemplo, Engines of Criation: The
Coming Era of Nanotechnology e foi o primeiro a adquirir o ttulo de doutor em nanotecnologia
molecular, defende a hiptese de que, uma vez sendo criadas mquinas capazes de se autoarrajarem e, por
meio da sua utilizao e programao de maneira adequada, seria possvel a produo em massa de
dispositivos melhores e mais complexos, que, atravs dessas mquinas, se autorreplicariam em um
nmero infinito de cpias idnticas, ou seja, nanomquinas capazes de formar em larga escala macro
objetos tomo tomo. LOBO, Rui Filipe Marmont. Nanotecnologia e Nanofsica conceitos de
nanofsica moderna. Escola Editora. 2009, p.19. 17 Alm dos marcos histricos narrados no texto, no menos importante, tambm, a descoberta, no ano de 1986, por Richard Smalley, dos fulerenos (buckminster ou buckyballs) que abriu portas para a sntese
de diversos compostos, alm de conduzir importante descoberta dos nanotubos de carbono que esto
so altamente resistentes e, atualmente, compem diversos materiais.
-
19
(1nm). Um outro exemplo ainda mais cristalino: um vrus, impossvel de ser visto a
olho nu, mede cerca de duzentos nanmetros (200nm)18.
Neste sentido, a nanotecnologia pode ser entendida como a tecnologia aplicada
manipulao da matria atravs de uma escala atmica ou molecular. Ela assenta na
formao de novas estruturas e dispositivos a nveis muito pequenos, para os tornar
inovadores e eficientes. Para Salamanca-Buentello, a atividade nanotecnolgica deve se
compreendida como o estudo, design, criao, sntese, manipulao e aplicao
funcional de materiais, equipamentos e sistemas atravs do controle da matria na
escala nanomtrica (de um a 100 nanmetros, onde um nanmetro equivale a 1 x 10-9
parte de um metro), isto , no nvel atmico e molecular; alm da explorao dos
fenmenos e propriedades originais da matria nessa escala19.
J a Comisso das Comunidades Europeias, aquando da formulao de
estratgias a serem adotadas pela Europa acerca das nanotecnologias, entende que o
termo deve ser adotado para designar a cincia e tecnologia escala nanomtrica dos
tomos e das molculas e os princpios cientficos e as novas propriedades que podem
ser compreendidos e dominados ao trabalhar neste domnio. Essas propriedades podem
ento ser observadas e exploradas escala microscpica ou macroscpica, por exemplo,
nomeadamente para o desenvolvimento de materiais e dispositivos com funes e
desempenhos inovadores20.
A nanotecnologia procura, atravs da juno de um vasto conjunto de
conhecimentos cientficos interdisciplinares, criar novos materiais e desenvolver novos
produtos e dispositivos por meio da ligao dos tomos, um a um, de maneira to
especfica, precisa e individual que jamais se poder estudar em simultneo uma vasta
quantidade de partculas21.
Como um novo paradigma tecnolgico, sobrepe-se s demais tecnologias
emergentes, em virtude da maneira como so preparadas as estruturas fundamentais. H
dois mtodos principais para a formao destas nanoestruturas, a saber: o mtodo top
down, que se desenvolve atravs de uma construo de cima para baixo, ou seja,
18 TOMA, H. E.; ARAKI K. 2005. O Gigantesco e Promissor Mundo do Muito Pequeno. Instituto
Cincia Hoje. Arquivo Eletrnico. Disponvel em: http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-
2005/217/pdf_aberto/nano.pdf 19 SALAMANCA-BUENTELLO, F. et al. Nanotechnology and the developing world. In: PLoS
Medicine, 2005, vol. 2, p.97. 20 COMISSO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, Comunicao da Comisso para uma Estratgia
Europia sobre Nanotecnologias. Bruxelas, 2004, p.4. Arquivo Eletrnico. Disponvel em:
http://ec.europa.eu/nanotechnology/pdf/nano_com_pt.pdf 21 FIOLHAIS, Carlos. Nanotecnologia [] Op. Cit. p. 1.
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2005/217/pdf_aberto/nano.pdfhttp://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2005/217/pdf_aberto/nano.pdfhttp://ec.europa.eu/nanotechnology/pdf/nano_com_pt.pdf
-
20
esculpindo a estrutura de maneira a eliminar seus excessos. J o mtodo bottom up,
constri-se de baixo para cima, atravs da organizao tomo a tomo ou molcula por
molcula at atingir a estrutura desejada, ou seja, a parte da sua menor estrutura at
formar os nanodispositivos pretendidos.
Constatamos assim que passaram dcadas at formulao das primeiras
suposies sobre a possibilidade de manipulao atmica. Contudo, vislumbramos que
aquilo que em tempos foi alvo de contestao por comportar um avano tecnolgico.
Estamos a viver a poca da materializao desta tecnologia do futuro, a nanotecnologia,
que deixou de fazer parte apenas dos laboratrios cientficos para virar realidade e
adentrar a vida cotidiana da sociedade com um potencial extraordinrio.
2. Nanotecnologia como Cincia do Futuro: suas princpais aplicaes e seus
efeitos predominantes
A cincia de exponencial contributo para o evoluir da sociedade. O
desenvolvimento da atividade cientfica ocorre atravs do apronfundar das pesquisas,
anlises e experimentos com o objetivo de compreender e orientar a natureza e as
atividades humanas, propiciando, assim, a descoberta de novos artefatos capazes de
impulsionar a inovao. Deste avano dos conhecimentos cientficos que surgem as
novas tecnologias, como forma de aplicao destes conhecimentos a determinado ramo
de atividade, estas so essncias para o progresso natural da sociedade22.
Neste contexto, torna-se necessrio que voltemos nossa ateno para a
nanocincia e a nanotecnologia (N&N), propulsoras da mais recente revoluo
tecnolgica23, possuem enorme potencial inovador e, para melhor compreend-las, no
22 DURN, Nelson; MATTOSO, Luiz Henrique Capparelli e MORAIS, Paulo Csar. Nanotecnologia
[] Ob. Cit p.14-25. 23 Importa, neste ponto, compreendermos o fato de considerarmos em concordncia com o
entendimento majoritrio a nanotecnologia como promissora da mais recente revoluo tecnolgica. A
aceitao da nanotecnologia como uma revoluo tecnolgica esta relacionada com o fato do emergir
desta representar uma real e concreta mudana de paradigma. A mudana de paradigma implica que haja
um paradigma anterior que seja dominante e que sofra uma ruptura nos padres de desenvolvimento
impostos por esta e a aceitao de novas prticas. Para tanto, faz-se essencial que estas novas prticas
tenham a capacidade de penetrar em todo o setor econmico alterando as estruturas produtivas existentes,
de forma que a sua difuso reflita no sistema organizacional de maneira ampla, englobando novos efeitos
econmicos, sociais e ambientais, alm de gerar, tambm, novas incertezas.
Ocorre que, para alguns estudiosos a nanotecnologia representa uma inovao incremental, ou
seja, uma continuidade no avano cientfico e tecnolgico que perpassou um longo processo histrico de
acumulao de conhecimentos e no, uma inovao radical, que seja capaz de acarretar uma nova
revoluo cientfica oriunda da mudana de paradigma. Para ns, o carter revolucionrio da
nanotecnologia este, exatamente, interligado com este acmulo de conhecimentos, no entanto, analisados
e materializados por uma nova perspectiva, a convergncia de tecnologias para a formao de produtos e
-
21
podemos deixar de entender de maneira concreta a ligao existente entre esta
tecnologia escalas to reduzidas e a cincia que orbita ao seu redor.
A nanocincia a cincia que destina seus estudos criao de novos
mecanismos e aparatos capazes de manipular a matria tomo por tomo ou molcula
por molcula, consiste na possibilidade de se controlar a forma, o tamanho e as
propriedades da matria. Atravs do desenvolvimento desta atividade cientfica temos a
nanotecnologia, que nada mais do que o produto deste conjunto interdisciplinar de
conhecimentos nanocientficos24. Atravs da nanotecnologia temos a materializao, ou
seja, a aplicao das tcnicas que perpassaram por um longo processo evolutivo de
estudos cientficos para a criao dos mais distintos produtos e servios voltados para
fins industriais.
O que se percebe, atualmente, que os assuntos emergentes tendem a serem
queles que possuam como caracterstica a interdisciplinaridade, campos que no se
destinem a apenas uma determinada rea do conhecimento, mas sim que possam ser
abordados numa perspectiva ampla, atravs da juno de conhecimentos diversos. No
mundo contemporneo, faz-se indispensvel o emergir de assuntos que conjuguem
cincia e tecnologia com as demandas atuais da sociedade25. Neste vis, certo afirmar
que a nanotecnologia vem contribuindo de maneira significativa, devido a sua atuao
ocorrer de maneira ampla e interdisciplinar, esta no aparece como uma tecnologia
especfica, mas como um conjunto de tcnicas que convergem conhecimentos oriundos
de uma srie de disciplinas como Fsica, Qumica, Biologia, Informtica, Engenharia de
Materiais.
O carter revolucionrio das N&N est diretamente relacionado aos valores
agregados a estas. Seu grande potencial pode ser vislumbrando em virtude das
servios com potencial de penetrabilidade em inmeros campos do conhecimento e diversos setores da
atividade produtiva. De modo que talvez no esteja ocorrendo uma ruptura epistemolgica, nem uma
mudana de trajetrias tecnolgicas. O que parece haver uma exploso na capacidade de gerar novos
conhecimentos, novas ideias e novas inovaes a partir da unio de tecnologias que h muito vm se
desenvolvendo. Assim, os sonhos cientficos (que no so novos) se tornam possveis atravs dessa
conjuno de novas ideias, rotinas e artefatos. Neste norte, temos que a nanotecnologia representa uma
nova viso convergente acerca do desenvolvimento, que incorre em fortes incertezas quanto a sua
aceitao, seus riscos, suas possibilidades cientficas, tecnolgicas e econmicas, fator que, cumulado
com seu potencial de penetrao, j a caracteriza como um novo paradigma de construo do
conhecimento, marcado pela ruptura com o modelo predominantemente disciplinar, para a predominncia
de novas estruturas cientficas interdisciplinares. JUNIOR, Jorge Luiz dos Santos. Cincia do Futuro [...]
Ob.Cit pp. 59-73. 24 JUNIOR, Jorge Luiz dos Santos. Cincia do Futuro [...] Ob.Cit., p.29. 25 SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo e outros. Nanocincia e Nanotecnologia como Temticas para
Discusso de Cincia, Tecnologia, Sociedade e Ambiente. In: Cincia e Educao. Bauru, 2010, p.482.
Arquivo Eletrnico. Disponvel em: http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132010000200014
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132010000200014
-
22
nanotecnologias no representarem um mercado em si, mas uma cadeia de valor, com
possibilidade de penetrao nos mais diversos setores, tanto cientficos quanto de
atividade produtiva26. As possibilidades de explorao das nanotecnologias so
infinitas, ela traz consigo uma multiplicidade de usos e responsvel pela criao de um
leque de produtos menores, mais leves, mais eficientes e com significativa reduo em
seu custo de produo, surgem como algo que tem o condo de fazer mais por menos27.
Os produtos passam a ser multifuncionais e economicamente mais viveis.
Certamente, ao longo dos anos, pouqussimas indstrias iro conseguir se
esquivar desta evoluo tecnologia, com um enfoque radicalmente novo no processo de
produo, estas ocasionaro inovaes em praticamente todos os setores. As empresas
que no aderirem s inovaes trazidas pela nanotecnologia tero o desafio de lidar com
uma competitividade futura desleal quando comparadas a empresas que incorporaram
tais avanos no seu processo produtivo28. Como j fora mencionado anteriormente, este
fato ocorre em virtude da capacidade que a nanotecnologia tem de trazer novas funes
e propriedades para os produtos, tornando-os mais rentveis, teis e eficazes.
A nanotecnologia vem crescendo em um ritmo acelerado, seu potencial j pode
ser observado em grande parte dos principais setores da indstria. Desta maneira, os
conhecimentos cientficos ganham espao no cotidiano da sociedade, A cincia e a
tecnologia no se restringem mais a grandes laboratrios, mas, ao contrrio, esto
presentes em nosso dia a dia, nos mais diferentes matizes29.
Tida como a mais recente revoluo tecnolgica, esta traz consigo fortes
influncias scio-econmicas, movimentanto a economia de maneira significativa e
figurando como uma das reas que vem chamando a ateno e atraindo investimentos
em todo o mundo. Sua disperso ganhou uma dimenso global e, atualmente, tem
atrado grande parcela dos recursos pblicos destinados tecnologia.
Para alm dos investimentos na rea, e num ritmo no menos intenso, esto s
vendas dos produtos com algum tipo de nanotecnologia. Estudos indicam que houve,
26 MARTINS, Paulo Roberto (org.). Nanotecnologia, sociedade e meio ambiente. Segundo Seminrio
Internacional. So Paulo, Editora Xam, 2005, p.42. 27 DELGADO RAMOS, Gian Carlo. El paradigma econmico de la nanotecnologa. Revista de
Comrcio Exterior, Vol. 57, N. 7, Julio, 2007, p.546 28 MOORE, Grahan. Nanotecnologia em embalagens. Coleo Quattor, vol. 2, Editora Blucher, 2010,
p.XXV 29 SILVA, Manoel Messias Alves da; NADIN, Odair Luiz. A variao terminologia da
nanocincia/nanotecnologia. In: Filosofia e Lingustica Portuguesa, n. 12(2), p.295-312, 2010. Arquivo
Eletrnico. Disponvel em: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v12i2p295-312. Pgina 298.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v12i2p295-312
-
23
em 2004, 12.980 milhes de dlares em vendas destes produtos30 e estima-se que haja
uma taxa mdia de crescimento de 30% ao ano, chegando a 1 trilho de dlares em
vendas at 201531.
O mercado das nanotecnologias vem crescendo demasiadamente rpido,
atravs da convergncia de conhecimentos de diversas reas, influencia quase a
totalidade dos setores produtivos em todo o mundo, o que o torna de extrema
importncia para a economia. Dentre seu vasto leque de aplicaes, podemos mencionar
os produtos txteis; os alimentos; as inovaes mdicas, farmacuticas e os produtos
cosmticos; as novas tecnologias para o meio ambiente; os equipamentos desportivos;
dentre muitas outras.
Desta forma, e para que seja possvel massificar o entendimento do potencial
de penetrabilidade da nanotecnologia nos mais diversos setores, faremos uma breve
descrio de algumas destas principais aplicaes.
A) Produtos Txteis
As exigncias de inovao do mercado foram o setor txtil a se adaptar e,
assim, sofrer constantes mutaes, sendo indispensvel, para tal, o investimento em
novas tecnologias capazes de acompanhar as necessidades de crescimento inerentes ao
setor.
Neste contexto, as nanotecnologias aparecem como a mais recente tecnologia
de inovao existente para os txteis, esta possui o poder de fabricao de produtos com
elevado valor agregado, que contenham novas e melhores caractersticas32. Atravs da
compreenso e modificao das propriedades das fibras txteis, as nanotecnologias
propiciam ao setor a possibilidade de criao de tecidos que sejam mais leves,
resistentes e econmicos, que consigam atingir as expectativas do mercado e responder
de maneira adequada sua forte concorrncia.
Atravs da nanotecnologia, esto sendo introduzidas na indstria txtil a
fabricao de tecidos com propriedades diferenciadas, atravs da modificao da
superfcie das fibras, permitiu a criao de tecidos anti-bactericidas, anti-manchas, anti-
30 DELGADO RAMOS, Gian Carlo. El paradigma [...] Op.Cit. p. 548 e 549. 31 Ibdem 32 FUNDACIN OPTI Observatorio de Prospectiva Tecnolgica Industrial. Aplicaciones industriales
de las nanotecnologias em espana em El horizonte 2020. Arquivo Eletrnico. Disponvel em:
http://www.opti.org/publicaciones/pdf/resumen10.pdf
http://www.opti.org/publicaciones/pdf/resumen10.pdf
-
24
odorficas, antivrus, resistentes a chamas, que no desbotam, absorventes dos raios
ultravioletas e que no sejam txicos no contato com a pele33. Os tecidos passaram,
ento, a serem multifuncionais, com aplicaes altamente precisas e caractersticas cada
vez mais sofisticadas, conjugam mais de uma funcionalidade em um mesmo produto, o
que os tornam ainda mais eficientes e atrativos para o consumidor.
Para alm do que foi dito anteriormente, as novas funcionalidades dos
produtos txteis fazem com que estes sirvam como material alternativo para outros
setores como o automobilstico, aeroespacial, agricultura, telecomunicaes34, mdico35.
Outra maneira de reproduo de procedimentos nanotecnolgicos no setor txtil
atravs dos tecidos auto-limpantes, em semelhana ao que ocorre com as plantas e
alguns insetos, estes possuem como caracterstica manterem-se sempre limpos sem que
para tal seja preciso o uso de detergentes, o chamado Efeito Ltus, que consiste nesta
capacidade de repelir a gua com capacidade auto-limpante.
Portanto, o vasto rol de aplicaes da nanotecnologia nos produtos txteis pode
trazer mudanas drsticas no setor com influncia direta em outros setores tendo em
vista que eles passam a ser multifuncionais e suas novas caractersticas so bastante
atraentes para o mercado, restando, no entanto, muito ainda h a se descobrir quanto
questo da durabilidade destas funcionalidades frente s condies de uso destes
materiais.
B) Meio Ambiente
A nanotecnologia introduz novas tcnicas com avanos significativos que
podem causar impactos diretos no meio ambiente. Partiremos de uma viso especfica
de como esta influncia ocorre no setor agrcola, onde, em virtude da busca constante
por novos mtodos que consigam melhorar a qualidade e impulsionem a produtividade
dos produtos agrcolas e de seus derivados, muitos sero os impactos destes avanos
tecnolgicos para, ento, adentrar em uma viso ampla de como estas inovaes podem
causar influncias no meio ambiente como um todo. As mudanas advindas da
nanotecnologia j podem ser visualizadas e esto revolucionando alguns setores direta
33 MARTN, Javier Ramn Snchez. Los tejidos inteligentes y el desarrollo tecnolgico de la industria
txtil. In: Tcnica Industrial 268, Marzo Abril, 2007, p. 44. Arquivo Eletrnico. Disponvel em:
http://www.tecnicaindustrial.es/tiadmin/numeros/28/36/a36.pdf 34 Fundacin OPTI. Aplicaciones industriales [...] Op. Cit. p. 5. 35 MARTN, Javier Ramn Snchez. Los tejidos inteligentes [...]. Op. Cit. p.44.
http://www.tecnicaindustrial.es/tiadmin/numeros/28/36/a36.pdf
-
25
ou indiretamente ligados agricultura, quais sejam: o desenvolvimento de defensivos
agrcolas ambientalmente corretos; o melhoramento gentico de plantas e animais; a
reduo da emisso de poluentes por meio da converso eficiente de energia; e, o
desenvolvimento de sistemas integrados de sensoriamento36.
Estas inovaes tecnolgicas refletem no setor agrcola de forma que este tem
sido beneficiado com o desenvolvimento de novos produtos qumicos e defensivos
agrcolas ecologicamente corretos que sofram degradao no solo num tempo mnimo e
possam ser absorvidos como nutrientes pelas plantas37. Podemos visualizar a
importncia desses novos defensivos agrcolas levando-se em considerao que, desta
forma, torna-se possvel um controle mais efetivo dos produtos alimentcios contra
eventuais pragas, insetos, fungos ou outras doenas que venham a contamin-los no
curso das etapas antecipatrias da sua chegada ao mercado, que se d desde a seleo
das sementes, da plantao, irrigao, fertilizao at a colheita e o transporte38-39.
O estudo acerca da manipulao molecular possibilita, ainda, a introduo de
novos mtodos que tenham a capacidade de modificar os genes das plantas e dos
animais, j esto sendo desenvolvidas, por exemplo, plantas capazes de se adaptar s
condies climticas do local do cultivo, que so mais produtivas e mais resistentes
pragas e doenas40.
Outra maneira de influncia da nanotecnologia na agricultura atravs da
reduo de poluentes por meio da converso eficiente de energia. Contudo, faremos
neste ponto uma anlise de maneira geral acerca da influncia da nanotecnologia no
setor energtico, e, assim, o seu consequente benefcio para com diversos setores, dentre
eles o setor agrcola.
Como sabido, atualmente a maior parte da produo de energia eltrica a
nvel mundial feita a partir da queima de combustveis fsseis. No entanto, tal
procedimento apresenta numerosos inconvenientes, tendo em vista que as reservas de
36 DURN, Nelson; MATTOSO, Luiz Henrique Capparelli e MORAIS, Paulo Csar. Nanotecnologia
[...] Op. Cit., p.195 37. DURN, Nelson; MATTOSO, Luiz Henrique Capparelli e MORAIS, Paulo Csar. Nanotecnologia
[...] Op. Cit., p.196. 38Ibdem 39 O mtodo mais comum utilizado para o controle de pragas atravs dos agrotxicos e estes j esto
sendo comercializados contendo ingredientes em escala nanomtrica. ETC GROUP. A Invaso Invisvel
do Campo O Impacto das Nanotecnologias na Alimentao e na Agricultura. Novembro de 2004.
Arquivo Eletrnico. Disponvel em: http://www.etcgroup.org/sites/www.etcgroup.org/files/publication
/531/02/invasaoformateada.pdf. Pgina 3. 40 DURN, Nelson; MATTOSO, Luiz Henrique Capparelli e MORAIS, Paulo Csar. Nanotecnologia [...] Op. Cit. p.196
http://www.etcgroup.org/sites/www.etcgroup.org/files/publication%20/531/02/invasaoformateada.pdfhttp://www.etcgroup.org/sites/www.etcgroup.org/files/publication%20/531/02/invasaoformateada.pdf
-
26
combustveis fsseis no so renovveis e, assim, no sero capazes de suprir as
demandas da sociedade longo prazo. E, para alm da sua escassez, h que frisar,
tambm, a questo ecolgica associada ao uso deste recurso natural no renovvel. Em
virtude desta problemtica, buscou-se criar alternativas tecnolgicas que conciliasse a
necessidade de consumo de energia e a escassez dos recursos com solues mais
sustentveis para o meio ambiente41.
Desta forma, a nanotecnologia tem enorme potencial para o desenvolvimento
de novos materiais a nvel nanomtrico possam ser teis para a produo e o uso
eficiente da energia, atravs da obteno de recursos alternativos, como, por exemplo, o
aproveitamento da energia solar. Neste campo, as nanopartculas so teis para a
fabricao de dispositivos fotovoltaicos ou clulas solares, capazes de converter a
energia solar em energia eltrica, associando a isto um baixo custo de produo quando
comparadas com clulas solares convencionais base de silcio42.
Portanto, com o aparecimento destes nanomateriais surgiro tambm novas
oportunidades de explorao de energias alternativas e renovveis que sero essenciais
para a construo de um meio ambiente mais limpo visto que reduziro
significativamente a emisso de poluentes na atmosfera. Neste norte, as projees
indicam que, nos prximos 10 a 15 anos, os avanos em nanotecnologia na rea de
iluminao tero potencial de reduzir o consumo mundial de energia em mais de 10%,
correspondendo a uma economia de 100 bilhes de dlares por ano e uma reduo
correspondente na emisso de carbono para a atmosfera de 200 milhes de toneladas43.
Por ltimo, torna-se essencial que mencionemos os sistemas integrados de
sensoriamento, monitoramento e controle de doenas, pragas e qualidade de alimentos,
estes colaboram para que haja uma deteco precoce de determinada doena a qual
esteja infectada uma planta ou um animal. Isto de suma importncia tendo em vista
que, sem a existncia de tais sistemas, o perodo que decorre desde a infeco at a
apario dos sintomas e posterior descoberta pode chegar a demorar semanas, ou at
meses, o que poder acarretar na proliferao da doena. Esta a chamada agricultura
de preciso, que conta com um sistema de sensoriamento, os biossensores, capazes de
41 GARCA-GUTIRREZ, Domingo I.; NAVARRO, Marco A. Garza; PELEZ, Ren F. Cienfuegos;
GUERRERO, Leonardo Chvez. Aplicaciones de la nanotecnologa en fuentes alternas de energa. In:
Ingenieras, ISSN-e 1405-0676, Vol. 13, N. 49, 2010, pp.53 e 54. 42Ibdem, p. 55. 43 DURN, Nelson; MATTOSO, Luiz Henrique Capparelli e MORAIS, Paulo Csar. Nanotecnologia [...] Op. Cit. p.197
http://dialnet.unirioja.es/servlet/autor?codigo=2634216http://dialnet.unirioja.es/servlet/autor?codigo=2548161http://dialnet.unirioja.es/servlet/autor?codigo=2634220http://dialnet.unirioja.es/servlet/autor?codigo=2634220http://dialnet.unirioja.es/servlet/revista?codigo=11413http://dialnet.unirioja.es/servlet/ejemplar?codigo=251918
-
27
monitorar as condies ambientais e detectar qualquer variao no metabolismo dos
animais e das plantas44.
Por meio do desenvolvimento de mtodos mais eficazes, a nanotecnologia
aparece, tambm, como de suma importncia no tratamento e na descontaminao da
gua. Catalisadores baseados em nanoestruturas sero aperfeioados e tornar-se-o mais
eficientes no processo de descontaminao da gua, em virtude da sua grande rea
superficial estes possuem uma maior capacidade de remoo dos poluentes45. Para alm
dos catalisadores mais eficientes, a nanotecnologia pode ser usada, ainda, na fabricao
de filtros de gua mais eficazes, desenvolvendo dispositivos multifuncionais que
possam purificar a gua e ser tambm autolimpantes, evitando, deste modo, posteriores
contaminaes46-47.
De modo geral, a nanotecnologia tem o condo de representar um caminho
importante na proteo ambiental, com mecanismos capazes de controlar e reduzir a
poluio, sistemas para o tratamento da gua, sistemas para o controle de pragas e
doenas dos alimentos, novas tcnicas para a explorao de energias alternativas e
renovveis e um novo conceito no cultivo agrcola. Contudo, todas as providncias
devem ser tomadas no sentido de guiar a explorao da tecnologia de maneira prudente,
adotando todos os cuidados possveis para que, de maneira inversa ao que ocorreu com
os Organismos Geneticamente Modificados, a tecnologia seja amplamente aproveitada e
aceita pela sociedade e os seus benefcios possam ser usufrudos por todos de maneira
segura.
C) Alimentos
H inmeros produtos alimentcios que fazem uso de nanopartculas j esto
disponveis no mercado. O setor encontra-se entre os principais campos de atuao da
nanotecnologia. Muitas so as pesquisas para o desenvolvimento de tcnicas avanadas
44 DURN, Nelson; MATTOSO, Luiz Henrique Capparelli e MORAIS, Paulo Csar. Nanotecnologia [...] Op. Cit, p.198. 45 FUNDACIN OPTI. Aplicaciones industriales [...] Op. Cit. p. 3. 46 MOORE, Grahan. Nanotecnologia em embalagens [...]. Op. Cit., p. 44. 47 Para alm do tratamento da gua, esto sendo fabricados, atualmente, filtros base de nanofibras
capazes de absorver grande parte das substncias cancergenas contidas na fumaa do cigarro, estes filtros
so produzidos a partir de nanofibras orgnicas biodegradveis eletrofiadas em dimetro nominal de
150nm e, depois, fabricadas em uma configurao de teia para maximizar a densidade areal do filtro.
MOORE, Grahan. Nanotecnologia em embalagens [...]. Op. Cit., p.45.
-
28
que permitam mudanas radicais na engenharia, no processamento e nas embalagens
dos alimentos. Desta forma, as tecnologias em escala nanomtrica levaro a engenharia
de alimentos ao diminuto, um novo nvel com o potencial de mudar drasticamente a
maneira como os alimentos so produzidos, cultivados, processados, embalados,
transportados e mesmocomidos48.
A introduo destes alimentos com substncias em nanoescala no mercado
ocorre, principalmente, atravs da insero de aditivos imperceptveis ao consumidor.
No entanto, alteram de maneira significativa as propriedades do produto. Alimentos
com nanopartculas podem apresentar novas caractersticas, novos sabores, cores e
texturas. Estas novas qualidades so bastante atraentes para os fabricantes que tm
voltado suas atenes para as vantagens trazidas por este mercado s escalas reduzidas
como, por exemplo, o fato de haver uma maior durabilidade da vida de prateleira do
alimento49.
As pesquisas direcionadas para a aplicabilidade das nanotecnologias
engenharia dos alimentos buscam uma maior funcionalidade destes, de modo que
atendam as necessidades do corpo e sejam mais nutritivos. Isto ocorrer atravs da
liberao, no momento exato, de substncias especficas para o corpo, de acordo com as
necessidades apresentadas por este, isto dar-se- de forma que o nutriente esteja em
perfeitamente ativo no momento em que pretenda atingir exatamente o local carente do
corpo.
Outro meio de utilizao de nanotecnologias no setor se da atravs dos
alimentos interativos, estes consistem na ideia de que o consumidor seja detentor do
poder de escolha das caractersticas do alimento que ir consumir, ou seja, caber ao
consumidor modificar o alimento sua escolha, de acordo com suas necessidades
pessoais, estticas, nutricionais ou at mesmo de preferncias por determinados sabores,
quais componentes permanecero dormentes no interior do alimento e, quais sero
ativados e liberados50.
48ETC GROUP. A Invaso Invisvel do Campo O Impacto das Nanotecnologias na Alimentao e na
Agricultura [...]. Op. Cit., p.10. 49Ibdem, p.11. 50MARTINS, Paulo Roberto; DULLEY, Richard Domingues; RAMOS, Soraia de Ftima; outros.
Nanotecnologias na Indstria de Alimentos. Arquivo Eletrnico. Disponvel em:
http://www.pucsp.br/eitt/downloads/vi_ciclo_paulomartins_marisabarbosa_nano_puc.pdf. Pgina 8.
ETC GROUP. A Invaso Invisvel do Campo O Impacto das Nanotecnologias na Alimentao e na
Agricultura [...]. Op. Cit., p.12.
http://www.pucsp.br/eitt/downloads/vi_ciclo_paulomartins_marisabarbosa_nano_puc.pdf
-
29
No entanto, dentre as inmeras pesquisas em diversas formas de criao de
tcnicas base nanotecnolgica voltadas para os alimentos, s embalagens aparecem
com um enfoque especial. A presena de nanopartculas nas embalagens alimentcias
pode torn-las inteligentes, de forma que otimizem o tempo de vida dos produtos nas
prateleiras e sejam capazes de monitorar suas condies, por meio de sistemas que
respondam s alteraes do ambiente, se auto-conservem e informem o consumidor
acerca de eventual contaminao no alimento51. J podemos encontrar exemplos destas
embalagens como o filme plstico desenvolvido pela Bayer Polimers que contm
nanopartculas de argila capazes de aumentar o bloqueio da entrada de gases no produto
e, desta forma, prevenir a deteriorao do alimento, associando, ainda, uma maior
leveza e resistncia embalagem; os avanos da Holanda no desenvolvimento de
embalagens com conservantes liberados por comando, ou seja, embalagens que
detectem a presena de micro-organismos capazes de deteriorar o alimento e liberar
conservantes no momento exato52; a criao de pequenos sensores nas embalagens por
parte da Kraft em conjunto com pesquisadores da Universidade de Rutgers nos Estados
Unidos que, com a chamada lngua eletrnica, so capazes de detectar algum tipo de
contaminao no alimento. Dessa forma, os sensores fariam surgir uma alterao de cor
na embalagem como forma de alertar o consumidor53.
As nanotecnologias apresentam, portanto, enorme potencial de
desenvolvimento no setor alimentcio, aparecendo como uma alternativa para a
melhoria da qualidade dos produtos, principalmente no tocante ao seu valor nutricional,
alm de uma melhor garantia de monitoramento e segurana dos alimentos. Contudo,
apesar do imenso entusiasmo dos pesquisadores acerca da aplicao das
nanotecnologias indstria alimentcia, o setor encontra o obstculo de ser mais
cauteloso quanto a modificao atmica destes, tendo em vista que j pde testemunhar
uma aceitao negativa da opinio pblica em relao aos Organismos Geneticamente
Modificados, os transgnicos.
51 MARTINS, PAULO ROBERTO; DULLEY, Richard Domingues; RAMOS, Soraia de Ftima; outros. Nanotecnologias na Indstria de Alimentos [...]. Op. Cit., p, 8 e 9. 52 MOORE, Grahan. Nanotecnologia em embalagens [...].Op. Cit, p.51. 53ETC GROUP. A Invaso Invisvel do Campo O Impacto das Nanotecnologias na Alimentao e na
Agricultura [...]. Op. Cit., p.10.
-
30
D) Construo
As nanotecnologias possuem grande potencial para fomentar inovaes
significativas no campo dos materiais voltados para a construo. Sero desenvolvidos
materiais mais geis, com maior resistncia, mais leves, mais compactos, que causam
menor impacto ao meio ambiente e que consigam agregar maior valor na criao e uso
dos materiais de construo, com vista sua funcionalidade para que se tornem mais
inteligentes e auto-adaptveis54. Isto ocorre atravs do desenvolvimento de novas
tcnicas que atuam acarretando melhorias nas propriedades de uma gama de produtos,
estas alteraes acontecem em virtude da utilizao de nanoaditivos aos materiais
comuns como, por exemplo, o cimento, deixando-os mais fortes e resistentes.
As novas tecnologias influenciam, ainda, a indstria dos revestimentos, das
tintas e dos vidros utilizados para na construo civil. As novas formas de
processamento dos produtos dar-lhe-o a estes uma maior funcionalidade, os
revestimentos e as tintas adquiriro propriedades mais versteis, com caractersticas de
auto-limpeza, capacidade de filtrao das radiaes solares, despoluio, sistema anti-
corroso e os vidros tero propriedades especiais como proteo anti-incndios55. Uma
das mais importantes aplicaes de nanoestruturas nos materiais de construo a
utilizao de isolantes avanados, que, em virtude da sua multiplicidade de usos, sero
de grande valia, por exemplo, para o uso eficiente de energia nos edifcios. Para alm
dos avanos j mencionados, desenvolve-se um leque de novos materiais inteligentes no
setor, que possam manter a estabilidade dos ambientes, sendo capazes de regular as
alternncias de temperatura, umidade e presso.
E) Eletrnica
Uma das reas pela qual as nanotecnologias tero maior representatividade a
dos dispositivos eletrnicos onde, inclusive, j so muitos os produtos que esto
comercialmente disponveis e contm nanomateriais em sua composio. Atravs destas
novas tecnologias tornou-se possvel reduzir em muito o tamanho destes dispositivos,
54 FUNDACIN OPTI. Aplicaciones industriales [...] Op. Cit. p. 5. 55 CENTI - Centro de Nanotecnologia e Materiais Tcnicos, Funcionais e Inteligentes; Plataforma para a
Construo Sustentvel. NANO@CONSTRUO - A nanotecnologia aplicada ao servio da eficincia
energtica e das necessidades do sector das construes. Arquivo Eletrnico. Disponvel em:
http://www.centrohabitat.net/sites/default/files/projetos-pdf/cd_nc_pt_1.pdf. Pgina 8.
http://www.centi.pt/index.php?lang=ptmailto:Sustentvel.NANO@CONSTRUOhttp://www.centrohabitat.net/sites/default/files/projetos-pdf/cd_nc_pt_1.pdf
-
31
associando a isto, uma maior eficincia aos produtos. O objetivo criar materiais,
estruturas e dispositivos que agreguem uma maior capacidade de armazenamento de
dados e velocidade de processamento com significativa reduo no tamanho fsico dos
produtos finais56.
A informtica passa por um processo evolutivo veloz e, devido a isto, tem
grande potencial para a criao de materiais em escalas reduzidas, de forma que
viabiliza a miniaturizao drstica dos dispositivos eletrnicos, por meio de tcnicas
como a litografia suave e processos bottom-up capazes de formar componentes em
nanoescala por automontagem que podem ser mais efetivos e baratos57. Surgem, ento,
transistores com melhorias em seu potencial de comunicao e de armazenamento de
informao e dispositivos de memria mais potentes, tendo em vista que a sociedade
exige, cada vez mais, que os dispositivos mveis que estejam por longos perodos de
tempo ligados e que causem um menor impacto no meio ambiente 58.
F) Medicina e Farmcia
Os estudos das nanotecnologias aplicados s cincias da vida tm por
denominao nanomedicina. A nanomedicina consiste, a qual consiste, de acordo com o
National Institute of Health, nas aplicaes das nanotecnologias voltadas para o
tratamento, diagnstico, monitoramento e controle de sistemas biolgicos59. Tal ramo
de atuao apresenta-se dentre estas novas tecnologias emergentes como aquele com
maior potencial de projeo para o futuro, de modo que poder vir a proporcionar
melhorias significativas para a qualidade de vida e sade das pessoas. A nanomedicina
tem como objetivo a introduo de novos dispositivos, sistemas e tecnologias que
contenham nanopartculas e, devido a sua reduo de tamanho, tenham novas
propriedades e funes que consigam mudar drasticamente os fundamentos que
envolvem o diagnstico, a preveno e o tratamento das doenas60. Os projetos de
56ETC GROUP. Tecnologia Atmica a nova frente das multinacionais. Traduo: Elisa Schreiner. So
Paulo. Editora Expresso Popular, 2004. p.118. 57 MOORE, Grahan. Nanotecnologia em embalagens [...]. Op. Cit, p.39. 58 Fundacin OPTI. Aplicaciones industriales [...] Op. Cit. p. 3. 59MOGHIMI, S. Moein; HUNTER, A. Christy; MURRA, J. Clifford. Nanomedicine: current status and
future prospects. In: The FASEB Journal. Reino Unido, vol. 19, pp. 311-330, 2005. 60 LECHUGA, Laura M. Nanomedicina: ampliacin de la nanotecnologia en la salud. Centro de
Investigacin en Nanociencia y Nanotecnologa (CIN2) Consejo Superior de Investigaciones Cientficas.
9a edicin del curso de Biotecnologa Aplicada a la Salud Humana. Arquivo Eletrnico. Disponvel em:
http://www.amgen.es/doc3.php?op=biotecnologia9&ap=b9_nanomedicina. Pgina 98-112.
http://www.amgen.es/doc3.php?op=biotecnologia9&ap=b9_nanomedicina
-
32
pesquisa e desenvolvimento que esto na vanguarda da nanomedicina dizem respeito,
em especial, aos avanos para um diagnstico precoce das doenas; a liberao
controlada de frmacos e a medicina regenerativa.
O nanodiagnstico consiste no desenvolvimento de sistemas de anlises
nanobiosensores e de imagens que possuem como objetivo detectar as patologias em
seu estgio mais inicial quanto seja possvel, idealmente, no nvel de uma nica clula.
Um diagnstico precoce da doena pode significar novas perspectivas para o seu
tratamento, ou seja, traz uma dose a mais de esperana e oportunidade de obteno de
resultados favorveis, posto que permite uma rpida resposta a patologia identificada e,
assim, por meio da aplicao do tratamento adequado, uma maior possibilidade de
cura61.
Outro campo para o qual a nanomedicina direciona os seus estudos diz respeito
a criao de novos sistemas para a liberao controlada de frmacos. O que podemos
verificar que, na atualidade, os frmacos adentram o corpo humano, atingem sua
corrente sangunea e percorrem todo o organismo, de forma que alcanam no apenas as
clulas afetadas pela doena, mas tambm reas sadias do corpo, o que acaba por gerar
efeitos secundrios queles que almejam os medicamentos, os chamados efeitos
colaterais. Tal problema pode vir a ser solucionado atravs da criao destes novos
sistemas voltados para a administrao controlada dos frmacos, que se baseiam na
utilizao de nanoestruturas que atuam como pequenos dispositivos guiados para
transportar o frmaco diretamente para a rea afetada, evitando, desta forma, os efeitos
indesejados dos medicamentos62.
A aplicao da nanotecnologia na medicina regenerativa tambm poder
proporcionar substanciais avanos no tratamento das doenas, por meio da introduo
de novos materiais e tcnicas que permitam uma integrao mais eficiente com os
tecidos ser possvel criar uma situao favorvel no caminho da regenerao celular,
que ocorre atravs da substituio dos tecidos enfermos.
61 LECHUGA, Laura M. Nanomedicina: ampliacin de la nanotecnologia en la salud [...]. Op. Cit., p.100. 62 POLETTO, Fernanda S.; POHLMANN, Adriana R.; Guterres, Slvia S. Uma Pequena Grande
Revoluo. In: Cincia Hoje. vol. 43, n 255, 2005, p.28.
-
33
G) Cosmticos
Em virtude do crescimento das preocupaes no que diz respeito aos cuidados
com a aparncia caractersticos das sociedades atuais que, em busca do modelo imposto
de padro de beleza, se preocupa cada vez mais com a esttica. Os cosmticos
representam um dos meios para a materializao destes objetivos e, devido isto, tem
atrado a ateno do mercado que, em virtude da forte concorrncia, busca alternativas
para se destacar e criar produtos ainda mais sofisticados.
Por estas razes, o setor representa uma rea de intensa incidncia da
nanotecnologia, pois, na busca de produtos diferenciados, esto sendo disponibilizados
no mercado cosmticos que possuem na sua formulao nanopartculas capazes de
torn-los mais funcionais e sofisticados, de modo que possuem o condo de atingir mais
rapidamente os objetivos pretenditos pelos consumidores, ou seja, quando comparados
com cosmticos convencionais, os produtos com nanopartculas possuem um
desempenho significativamente superior.
Os nanocosmticos j esto sendo produzidos e figuram como uma linha de
produtos diferenciados, com novas propriedades estes trazem uma melhor performance
para os produtos e, devido a isto, possuem grande potencial no setor, j podemos
encontrar no mercado uma gama de produtos contenham nanopartculas como, por
exemplo, protetores solares, cremes para a face, xampus, cremes anti-rugas,
maquiagens, clareadores de dentes e pele, sabonetes, hidratantes, desodorantes,
perfumes e esmaltes.
A aplicao da nanotecnologia nos cosmticos pode ser observada atravs da
criao do aparecimento protetores solares mais potentes e com caracteristicas
diferenciadas, novas cores de sombras batons e esmaltes, cremes antienvelhecimento
para o rosto com resultados mais rpidos e eficazes, hidratantes com maior sensao de
proteo e cuidado com a pele, sabonetes com antibacterianos ainda mais fortes.
H) Outras Aplicaes
As aplicaes das nanotecnologias possuem enorme potencial de crescimento
na indstria automotiva. Estas novas tecnologias penetram com facilidade no setor
muito em virtude da forte influncia que outros setores exercem sobre este, por
-
34
exemplo, a indstria txtil atravs dos tecidos que contenham nanoestruturas capazes de
torn-los antibacterianos; nanotintas que permitam pinturas especiais mais resistentes
riscos; filtros catalisadores para gases de escapamento mais aperfeioados e eficazes;
tcnicas de iluminao que consigam manter a intensidade das lentes com um menor
consumo de energia; pneus e motores que sejam mais resistentes a desgastes e, assim,
possuam uma maior durabilidade. Desta forma, os progressos nas nanotecnologias sero
de grande contributo o desenvolvimento de novos veculos, com caractersticas distintas
daqueles que existem atualmente no mercado, tornando-os mais seguros, que causem
menos danos ao meio ambiente e sejam energeticamente mais eficazes63.
As novas tcnicas lanadas por estas tecnologias inovadoras j podem ser
visualizadas, tambm, em alguns produtos no mercado esportivo, raquetes de tnis e
bicicletas fabricadas base de nanotubos de carbono passam a ser mais leves,
compactas e resistentes; roupas esportivas que sejam antitranspirantes, que inibam
odores indesejados por possurem nanoestruturas que lhes tornem antibactericidas;
tenha maior durabilidade de suas cores e no manchem; novos calados esportivos;
tacos para golf. As nanotecnologias tm o condo de prolongar a vida til dos produtos
esportivos dando-les, ainda, uma maior funcionalidade.
2.1 Principais Efeitos Predominantes das Nanopartculas
As preocupaes com o surdir de novos materiais em nanoescala ganham
maior destaque na medida em que a manipulao nvel individual dos tomos viabiliza
a criao de uma gama de novos materiais com propriedades diferentes daquelas
apresentadas por estes quando considerados sob uma perspectiva de formulao na sua
verso macro. O que podemos observar que h de se ter, no que diz respeito a
utilizao de materiais na escala nanomtrica, uma cristalina e essencial preocupao
com relao aos efeitos gerados pela reduo de tamanho das partculas, ou seja, a
alterao de escala no pode ser ignorada posto que o tamanho de suma relevncia
para a determinao das propriedades a serem apresentadas, de forma que deve ser,
indispensavelmente, levado em considerao. Esta noo aparece para ns em
concomitncia com os primeiros apontamentos na direo da manipulao atmica
feitos por Feynman, que na poca j alertava para o fato de que a reduo de tamanho
63 ABDI. Cartilha sobre nanotecnologia. Arquivo Eletrnico. Disponvel