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PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIC
DEPARTAMENTO DE CANTO
ORIENTADOR(A): Prof.(ª) DENISE JUSSARA SARTORI
ALUNO(s): HELEN BOVO TÓRMINA ZANÃO
O PAPEL DAS VOGAIS E CONSOANTES NA TÉCNICA VOCAL DO CANTO
ERUDITO
Curitiba, 20 de agosto de 2010.
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PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIC
DEPARTAMENTO DE CANTO
ORIENTADOR(A): Prof.(ª) DENISE JUSSARA SARTORI
ALUNO(s):HELEN BOVO TÓRMINA
O PAPEL DAS VOGAIS E DAS CONSOANTES NA TÉCNICA VOCAL DO CANTO
ERUDITO
Relatório contendo os resultados finais do projeto de
iniciação científica vinculado ao Programa PIC-Embap
Curitiba, 20 de agosto de 2010
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus primeiramente, por estar comigo todos os dias, me dando
inspiração e ânimo para cumprir com meu trabalho.
Logo em seguida, um agradecimento muito especial ao meu amado esposo e filha,
pelo apoio e por terem se privado da minha companhia diversas vezes. À minha amada
mãe, pelo incomparável incentivo.
Agradeço à minha orientadora, Prof. Denise, por ter me aconselhado e ter sido fonte
de ideias valiosas, e também à fonoaudióloga Dóris Beraldo pelas conversas e indicações
de livros, essenciais à realização deste trabalho.
Finalmente, agradeço à Fundação Araucária pelo apoio financeiro, e à Embap, pelo
apoio organizacional para o desenvolvimento desta pesquisa.
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RESUMO
A presente pesquisa investigou a função dos fonemas (segmentos vocálicos e
consonantais) existentes na língua portuguesa no Brasil dentro dos exercícios de
técnica vocal, praticados por professores, cantores e estudantes de canto erudito. A
pesquisa se baseou em entrevistas e questionários com e professores alunos de canto,
levantamento bibliográfico pertinente ao tema e observações de aulas e de práticas dos
estudantes em máster classes. Esta investigação adentrou principalmente as áreas de
fisiologia da voz e fonética articulatória. Foram encontradas diversas utilidades
específicas para determinadas consoantes e vogais, entre elas: melhorar a projeção
sonora, tonificar a musculatura do trato vocal, promover maior adução de pregas vocais,
promover maior eficiência respiratória, aquisição de timbre metálico, correção de
hipernasalidade, entre diversas outras.
Palavras chave: vocalize, canto erudito, consoantes, vogais, fonética
articulatória e fisiologia da voz.
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ABSTRACT
This study investigated the role of phonemes (vowel and consonant segments) on the
Portuguese language in Brazil within the exercises in vocal technique, practiced by teachers,
singers and students of classical singing. The research was based on interviews and
questionnaires with students and teachers of singing, literature relevant to the subject and
classroom observations and practices of students in master classes. This research mainly
entered the areas of voice physiology and articulatory phonetics. We have found many uses
for certain specific consonants and vowels, among them: improving the sound projection, tone
the muscles of the vocal tract, promoting greater adduction of vocal cords, and greater
respiratory efficiency, acquisition of metallic timbre, correction of hypernasality, and many
others.
Keywords: vocalize, classical singing, consonants, vowels, articulatory fonetics an
physiology of the voice.
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SUMÁRIO
Resumo.....................................................................................................................................03
Abstract....................................................................................................................................04
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................07
2 OBJETIVOS.........................................................................................................................07
3 DESENVOLVIMENTO......................................................................................................08
3.1 METODOLOGIA UTILIZADA..................................................................................08
3.2 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................................09
3.2.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS DA VOZ..................................09
3.2.1.1 Órgãos Ressonadores...................................................................................09
3.2.1.2 Órgãos Articuladores..................................................................................29
3.2.2 ANATOMIA E FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS DO SISTEMA
RESPIRATÓRIO.........................................................................................................31
3.2.2.1 Processo Respiratório..................................................................................31
3.2.2.2 Órgãos do Sistema Respiratório..................................................................33
3.2.2.3 Musculatura Abdominal..............................................................................36
3.2.3 DIFERENÇAS ENTRE VOZ FALADA E VOZ CANTADA...........................41
3.2.3.1 Ajustes do Trato Vocal...............................................................................41
3.2.3.2 Diferenças da Respiração na Fala e no Canto.............................................42
3.2.4 INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS BÁSICOS DE ACÚSTICA -
RESSONÂNCIA E PROJEÇÃO DA VOZ......................................................................43
3.2.4.1 Bases Físicas para a Fonação....................................................................43
3.2.4.2 A Formante do Cantor..............................................................................46
3.2.5 A FALA DE ACORDO COM A FONÉTICA...................................................47
6
3.2.5.1 Músculos de Articulação Fonética e suas Funções: Musculatura dos
Lábios, Mandíbula e Bochechas..........................................................................48
3.2.5.2 Seguimentos Consonantais......................................................................49
3.2.5.3 Seguimentos Vocálicos............................................................................51
4 RESULTADOS.................................................................................................................53
4.1 PRODUÇÃO E POSSÍVEL UTILIZAÇÃO DAS CONSOANTES EM TÉCNICA
VOCAL......................................................................................................................54
4.2 PRODUÇÃO E POSSÍVEL UTILIZAÇÃO DAS VOGAIS EM TÉCNICA
VOCAL......................................................................................................................81
5 DISCUSSÃO......................................................................................................................82
6 CONCLUSÃO...................................................................................................................87
REFERÊNCIAS..................................................................................................................89
APÉNDICES........................................................................................................................91
7
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa apresenta um estudo inicial da utilidade das vogais e consoantes
do português brasileiro dentro dos exercícios de técnica vocal. Este estudo procurou entender
desde o processo de produção da voz, descrevendo a anatomia e fisiologia dos órgãos
responsáveis para tanto, até o processo da produção dos fonemas da língua portuguesa
brasileira (sua articulação e mudanças no trato vocal). Complementando esta descrição, para
uma melhor compreensão da aplicação destes fonemas, este estudo traz as sugestões da
fonoaudiologia para a utilização destes fonemas, e exemplificando os exercícios sugeridos por
fonoaudiólogos e os exercícios mais utilizados no treinamento dos alunos do curso Superior
de Canto da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP).
À medida que o conhecimento se aprofundava no tema pesquisado, percebi a
necessidade de reformulação de algumas idéias e adequação do projeto às reais possibilidades
de realização deste, e compreendi o quão complexo e extenso será o desenvolvimento deste
estudo. Pesquisadores passam em média dois anos estudando grupos separados de vogais,
como a Dra. Silvia Maria Rebelo Pinho, a qual na ocasião de seu mestrado, escreveu sobre
“Configurações do trato vocal nas vogais orais do português”. Assim, entende-se que um ano
é insuficiente para concluir esta pesquisa.
Infelizmente, a observação dos exames foi inviabilizada pelo hospital previamente
selecionado, primariamente em razão da Gripe H1N1, posteriormente por motivo
desconhecido.
Este estudo teve como alicerce três áreas de conhecimento: a fonética articulatória, a
fisiologia da voz e uma breve passagem por acústica.
2. OBJETIVOS
Durante o curso desta pesquisa, muitas das idéias iniciais tiveram que ser
reformuladas, inclusive alguns objetivos.
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Um dos objetivos era observar o funcionamento das pregas vocais durante a fonação
de todas as vogais e consoantes do sistema fonético da língua portuguesa brasileira. Contudo,
com a evolução do estudo, foi compreendido que a observação somente das pregas vocais não
seria suficiente para atingir a meta realmente desejada, que é conhecer como funcionam e para
que servem os exercícios usados no desenvolvimento da técnica vocal erudita. Os Objetivos
passaram a se resumir em um único objetivo geral:
• Observar e descrever as alterações de todo o trato vocal supraglótico e conformação
das pregas vocais durante a produção dos fonemas da língua brasileira, e assim compreender
melhor a função destes fonemas nos exercícios vocais – também conhecidos como vocalizes –
praticados para obtenção da técnica necessária a prática do canto erudito.
3 DESENVOLVIMENTO
3.1 METODOLOGIA UTILIZADA
Para o desenvolvimento da pesquisa a aluna utilizou três artifícios: observação em
campo, entrevistas e questionários e levantamento bibliográfico.
O primeiro foi a observação de cantores em aulas e master classes que aconteceram
uma vez por semana nas segundas-feiras no período da tarde, de agosto a dezembro de 2009.
Durante estas observações a aluna catalogou os problemas técnicos que eram mais facilmente
observáveis durante a apresentação de seus colegas. Estas observações resultaram em uma
tabela com os problemas técnicos mais freqüentemente observados que se encontrará nos
resultados.
O segundo consistiu em entrevistas com os alunos do curso superior de canto e
preenchimento de questionários, o roteiro destas entrevistas e os questionários se encontram
nos apêndices. Neste âmbito a aluna encontrou certa relutância por parte dos alunos em
responder perguntas como idade e dificuldades técnicas.
O terceiro se deu na realização de um levantamento bibliográfico. No calendário
proposto no projeto, a idéia inicial era realizar este levantamento em seis meses – outubro de
2009 a fevereiro de 2010. No entanto devido à complexidade do tema, este levantamento
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levou oito meses para ser concluído, e tiveram de ser consultadas bibliotecas que não fizeram
parte do pré-estudo. Sendo assim, a principal biblioteca consultada foi a da Universidade
Tuiuti do Paraná, onde nos foi aberta a possibilidade de fazer o cadastro entre as bibliotecas
da Embap e da Tuiuti, que agora pode ser utilizada por todos os alunos da Embap. Também
foi consultada a biblioteca da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, sendo menos
acessada devido à distância. Nesta segunda universidade, não foi realizado o cadastro para
empréstimo interbibliotecas, sendo colocado aqui neste relatório como uma sugestão que pode
ser de muita valia à todos os alunos da Embap.
Além do levantamento bibliográfico utilizado para desenvolver o referencial teórico, a
aluna realizou um levantamento de títulos necessários ao prosseguimento da pesquisa. Esta
lista de títulos se encontrará nos apêndices.
3.2 REVISÃO DA LITERATURA
3.2.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS DA VOZ
3.2.1.1 Órgãos ressonadores
3.2.1.1 a) Boca
A boca constitui um dos órgãos mais importantes para produção de fonemas, pois
além de ser o principal articulador é um importante ressonador da voz. É capaz de diversas
variações em forma e tamanho, um dos fatores que nos permite falar e cantar. É constituída
por estruturas fixas (dentes, maxila e palato duro) e móveis (língua, palato mole e mandíbula)
(GARDNER, 1964).
Estas estruturas são responsáveis pela dicção, formando o som dos fonemas através da
articulação entre uma estrutura e outra. No livro "Fonética e Fonologia do Português" de
Cristófaro (1998), a autora cita a classificação entre fonemas pela diferença de ressonância:
oral ou nasal. Essa diferença acontece pelo posicionamento do véu palatino, que subindo,
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veda a passagem do ar vindo pela glote em direção às cavidades do nariz, permanecendo toda
a ressonância – fenômeno que será descrito no parágrafo – na boca. O efeito contrário se dá
quando o palato permanece abaixado, deixando livre a entrada do ar nas cavidades nasais,
tendo a ressonância do som neste local. Uma maneira simples de diferenciar um segmento do
outro é posicionar os dedos indicadores na face rente ao nariz. Os segmentos nasais deixam
que esta região tenha vibração, já os orais permanecem sem vibração neste local.
Fonte:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-digestivo/imagens/sistema-
digestivo-37.jpg
3.2.1.1 b) Fossas Nasais
O primeiro contato que o ar tem com o corpo humano se dá nas fossas nasais, onde é
filtrado, umedecido e aquecido. As fossas nasais são compostas de duas cavidades paralelas,
que tem início nas narinas seguindo até orifícios chamados coanos, os quais se comunicam
com a rinofaringe. São separadas uma da outra pelo septo nasal, constituído por uma parede
cartilaginosa. No interior destas cavidades, existem vincos chamados cornetos nasais, que se
subdividem em corneto inferior, médio e superior, onde o ar é forçado a turbilhonar. São
revestidas de um tecido dotado de cílios e células produtoras de muco, estruturas que também
são encontradas nas vias aéreas inferiores, como traquéia, brônquios e porção inicial dos
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bronquíolos. No teto das fossas nasais existem células sensoriais, responsáveis pelo sentido do
olfato (GARDNER, 1964). Esta cavidade é separada da faringe pelo palato mole e “pode
controlar a claridade e a beleza da voz” 1.
3.2.1.1 c) Seios paranasais
Le Huche (2005) os define como cavidades associadas às fossas nasais que se
comunicam com estas por meio de pequenas aberturas chamadas ostium. São divididos em
frontal, etmoidal, esfenoidal e maxilar, sendo o último o maior. De acordo com Le Huche,
estas cavidades "aparentemente não desempenham nenhum papel na fonação2". De fato,
diversas fontes relatam que o papel destas cavidades é controverso, contudo a grande maioria
ainda as cita como caixas de ressonância da voz. Cristófaro (1998) e Issler (1983) escreveram
sobre a ressonancia nasal como importante fator de diferenciação entre os fonemas.
Pinho(2001) no capítulo "Introdução à análise acústica da voz e da fala" cita diversos
fenômenos acústicos que ocorrem com a voz, como o dentre eles efeito damping ou
abafamento acústico que podem acontecer quando o som é direcionado para as cavidades
nasais, dando uma característica diferenciada a este som.
Os seios da face possuem dois tipos de finalidades: estrutural e funcional3. Serão
citadas algumas de suas principais. Estruturalmente, servem para reduzir o peso do crânio,
participam do crescimento facial e ajudam a proteger o crânio de traumas. Funcionalmente,
além da função como caixa ressonadora, serve para aquecimento e umidificação do ar, já que
o ar é forçado a turbilhonar nestas cavidades. Também contribuem para a secreção de muco
para retenção de impurezas, pois o epitélio que o reveste é repleto de células excretoras de
muco. Ainda servem como isolante térmico e equilibram a pressão nasal (GUYTON, 1976).
Cavidades nasais, boca e seios da face:
1 MARTINEZ, E.; SARTORI, D. J.; GORIA, P.; BRACK, R. "Regência coral: princípios básicos". p. 178. 2 LE HUCHE, F; ALLALI, A. "A Voz – Anatomia e fisiologia dos órgãos da voz e da fala". p.26. 3 http://www.dgsotorrinolaringologia.med.br/apost_sinusopatias.htm
12
Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
3.2.1.1 d) Faringe
É um canal em forma de tubo, posterior às cavidades da boca e do nariz, que se
prolonga para baixo por detrás da laringe, sendo um canal comum ao sistema respiratório e
digestório. No caminho que o ar percorre no nosso corpo, tanto o ar respirado pela boca
quanto aquele respirado pelo nariz passa pela faringe antes de atingir a laringe. Seu
comprimento varia entre 13 cm e 14 cm (LE HUCHE, 2005; GARDNER, 1964). Estende-se
da base do crânio até a margem inferior da cartilagem cricóidea, anteriormente, e
posteriormente até a margem inferior da vértebra C6, sendo mais larga na direção oposta ao
osso hióide (5 cm) e mais estreita no limite inferior (1,5 cm), onde começa o esôfago. É
dividida em três regiões: a nasofaringe ou rinofaringe, a orofaringe e a hipofaringe, também
denominada laringofaringe. é de composição músculo membranosa da qual uma camada de
músculos é circular e outra é longitudinal (GARDNER, 1964).
Com grande flexibilidade, é capaz de contrair-se lateralmente (alargando-se ou
estreitando-se) ou de trás para frente (encurtando-se ou alongando-se). Essas variações
dependem dos movimentos da elevação e abaixamento da laringe. Esta estrutura é constituída
pelos seguintes músculos (GARDNER, 1964):
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- Constritor superior: responsável pela contração da parte superior da faringe. Permite
o ajuste da forma da faringe.
- Constritor mediano: responsável pela contração da parte média da faringe. Também
permite o ajuste da forma da faringe.
- Constritor inferior: responsável pela contração da parte inferior da faringe.
- Estilofaríngeo: responsável por elevar a faringe e aumentar seu diâmetro.
- Salpingofaríngeo: também eleva a laringe; é responsável pela abertura da tuba
auditiva.
A faringe é dividida em três partes: a rinofaringe ou nasofaringe (parte nasal), a
orofaringe (parte oral) e a laringofaringe (parte laríngea) (LE HUCHE, 2005).
- Rinofaringe ou nasofaringe: situa-se na parte posterior da cavidade nasal, acima do
palato mole (GARDNER, 1964). Tem função respiratória, pois permite a passagem do ar
(GUYTON, 1974).
- Orofaringe: situa-se na parte posterior da cavidade oral, abaixo do palato mole
(GARDNER, 1964). Tem função respiratória e digestória, permitindo tanto a passagem de ar
quanto a de alimentos (GUYTON, 1974).
- Laringofaringe: situa-se na parte de trás da laringe e estende-se da parte superior da
epiglote à base da cartilagem cricóide (GARDNER, 1964). Como a orofaringe, tem função
respiratória e digestória (GUYTON, 1974).
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br
3.2.1.1 e) Laringe
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É o principal órgão da voz (LE HUCHE,2005) . Apesar disso, a fonação seria uma
função secundária deste órgão. A primeira função da laringe consiste em proteger as vias
aéreas superiores e inferiores, resguardando as vias aéreas superiores contra agentes estranhos
(como poeira, por exemplo) que possam obstruir o mecanismo respiratório e também
bloqueando as vias aéreas inferiores na deglutição, (prevenindo a entrada de comida ou
fluidos pela traquéia nos pulmões), na defecação e no esforço físico excessivo (TSUJI, 2009).
Este órgão é formado por um tubo situado zona média e anterior do pescoço, abaixo
do osso hióide como continuação da faringe, entre esta e a traquéia (GARDNER, 1964). É
sustentada por cartilagens articuladas, e formada por músculos e ligamentos. Sua entrada
chama-se glote e se localiza na altura da C4, onde possui uma fibrocartilagem em forma de
“U” chamada epiglote, que se conecta anteriormente ao osso hióide por ligamentos e tem sua
borda livre projetada em direção à faringe. (GARDNER,1964). A epiglote funciona como
uma válvula que fecha a laringe quando nos alimentamos, evitando que alimentos adentrem as
vias respiratórias (GARDNER, 1964; LE HUCHE, 2005).
Seu limite inferior se dá na cartilagem cricóide, onde a traquéia tem início, e seu
comprimento normalmente é um pouco maior nos homens do que nas mulheres (cerca de 5
cm de comprimento nos homens) (GARDNER, 1964). Seu tecido possui várias glândulas
produtoras de muco que englobam partículas de poeira que não foram retidas nas fossas
nasais(GARDNER, 1964).
Em seu interior é constituída por seis cartilagens4 (três pares e três ímpares), um grupo
de músculos extrínsecos (que ligam a laringe às estruturas externas e dividem-se em um grupo
de quatro músculos supraióideos5 e quatro infraióideos
6), e um grupo de onze
7 músculos
intrínsecos responsáveis pela adução e abdução das pregas vocais, cuja vibração produz sons
(GARDNER, 1964).
Laringe
4 Cartilagens pares: Aritenóides, Corniculatas e Cuneiformes. Cartilagens ímpares: Epiglote, Tireóide e Cricóide
5 Músculos responsáveis pela elevação da laringe, sendo um dos quatro músculos pares e o restante ímpares. 6 Músculos responsáveis pelo abaixamento da laringe 7 Um músculo ímpar e dez pares,
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Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br
Suporte estrutural da Laringe
O suporte estrutural da laringe é composto pelos seguintes elementos:
- Osso hióide
- Cartilagens ímpares e medianas: tireóide, cricóide e epiglótica.
- Cartilagens pares e laterais: aritenóides, corniculatas e cuneiformes (GARDNER,
1964).
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-respiratorio/
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Osso Hióide
Situa-se exatamente acima da cartilagem tireóide e sua particularidade é a de não se
articular com nenhum outro osso. Liga-se a músculos da laringe e tem articulação com o
chifre superior da cartilagem tireóide, ligando-se a ela por meio da membrana tireóide. Faz
parte do aparelho suspensor da laringe (GARDNER, 1964).
Cartilagem Tireóide
É a maior cartilagem da laringe. Por ser composta de cartilagem hialina, sofre
processo de ossificação, fato que limita sua flexibilidade com o passar dos anos. É formada
por duas lâminas quadriláteras e verticais que se unem na frente como uma capa de livro
ligeiramente aberta (GARDNER, 1964). Estas lâminas formam um ângulo de
aproximadamente 90º no homem e 120º na mulher. Esta diferença significa, entre outros
fatores, pode significar que homens têm pregas vocais maiores e, conseqüentemente, vozes
mais graves; e que mulheres têm pregas menores e vozes mais agudas (MARTINEZ, 2000).
Estas lâminas juntam-se na linha mediana, formando a proeminência chamada pomo-de-adão,
mais visível nos homens. A cartilagem tireóide tem projeções (cristas) em suas partes inferior,
superior e nos cantos. A crista superior faz ligação com o osso hióide e a crista inferior curva-
se para o interior, repousando sobre a cartilagem cricóide e articulando-se com a mesma
(GARDNER, 1964).
Cartilagem Epiglótica ou Epiglote
Com a forma de uma pétala, é delgada e flexível, composta de cartilagem elástica e
coberta de membrana mucosa. Situa-se entre a parte posterior da língua e a glote, sua ponta
inferior se prende à porção interna do ângulo interno da cartilagem tireóide (GARDNER,
1964). Esta cartilagem pode impedir que comida e bebida passem pela laringe durante a
deglutição (GUYTON, 1976). Por ser elástica, não sofre calcificação e permanece flexível, o
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que faz com que o espaço glótico permita a passagem de ar para os pulmões e também de
comida e bebida pelo esôfago (GARDNER, 1964).
Cartilagem Cricóide
Tem “a forma de um anel largo e achatado, com a pedra voltada para trás” 8 e situa-se
abaixo da cartilagem tireóide, articulando-se com a mesma por meio de duas concavidades
ovais em suas faces posteriores. Forma a base da laringe, a parte frontal inferior da mesma e
grande parte de suas paredes. Abaixo dela encontram-se a traquéia e os pulmões (GARDNER,
1964).
Cartilagens Aritenóides
São cartilagens pares, pequenas e simétricas, com a forma de uma pirâmide com o
ângulo agudo voltado para cima. Suas bases são côncavas e repousam sobre a parte superior
da cartilagem cricóide, com a qual se articulam. As cartilagens aritenóides têm uma função
muito importante: são responsáveis por qualquer alteração na posição das pregas vocais
(PINHO,2008).
A base de cada aritenóide apresenta duas projeções anteriores e laterais,
respectivamente: o processo vocal, no qual se inserem as pregas vocais, e o processo
muscular, no qual se inserem outros músculos responsáveis por movimentos de deslizamento
e rotação (MARTINEZ, 2000).
8 LE HUCHE, F.; ALLALI, A. A voz: Anatomia e Fisiologia dos Órgãos da Voz e da Fala. p. 69.
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Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-respiratorio/laringe-9.php
Cartilagens Corniculatas
São pequenas estruturas em forma de cone constituídas de tecido elástico situadas na
parte posterior das pregas ariepiglóticas. As cartilagens corniculatas se articulam com as
cartilagens aritenóides e às vezes podem estar fundidas às mesmas (MARTINEZ, 2000).
Cartilagens Cuneiformes
Pequenas estruturas de formato circular situadas uma de cada lado das pregas
ariepiglóticas.
As cartilagens corniculatas e cuneiformes estão ligadas entre si por ligamentos e
articulações que permitem o deslizamento de uma sobre a outra (GARDNER, 1964).
Cartilagens e Pregas Vocais
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Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-respiratorio/laringe-6.php
Musculatura extrínseca da laringe
Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000
De acordo com Pinho (2007), a musculatura extrínseca possui importante papel na
deglutição, na fala e no canto. Pinho (2007) descreve que a musculatura, a qual envolve a
laringe, é formada por um complicado sistema muscular fechado que atua juntamente com os
músculos intrínsecos como um único sistema. A musculatura extrínseca tem diversas funções
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como abaixar, fixar e tracionar a parte anteroposterior a laringe como um todo, além de
estabilizá-la. Esses músculos também determinam a movimentação das cartilagens da laringe,
e embora a musculatura intrínseca seja a responsável pela conformação das pregas vocais, os
músculos extrínsecos ainda podem exercer influência na forma da glote e na pressão
subglótica, na tensão das pregas vocais, na intensidade e na ressonância.
Essa mesma autora expõe que a musculatura extrínseca opera na voz em diferentes
registros:
“À medida que se vocaliza em direção aos agudos independentemente do registro
utilizado, há uma tendência à elevação da laringe. Entretanto, isto é mais notório no registro
de peito do que no registro de cabeça, comparando-se a posição da laringe na mesma
freqüência. Portanto, comparativamente, no registro de cabeça, a laringe assume posição
mais baixa do que no registro de peito, em notas mais agudas. É por esta razão que no canto
belting, utilizado nos musicais da Broadway, a emissão vocal mostra-se similar àquela
utilizada durante a fala com predomínio do registro de peito, mesmo que em notas bem
agudas. (...) A função da musculatura extrínseca no controle da freqüência da voz humana é
imprescindível tanto para tons mais altos quanto para tons mais baixos.” (PINHO et al, p.:
157, 158)
Essa musculatura é ligada à língua, à mandíbula, ao osso hióide, à faringe, à traquéia e
à laringe, onde sua ligação se dá “quase que exclusivamente por via da cartilagem tireóide, e
assim pode-se aplicar sua influência laríngea diretamente sobre as pregas vocais” (PINHO,
2007 pg. 155), também possuindo inserção em algumas estruturas externas. É dividida em
músculos supraióideos e infraióideos (acima ou abaixo do osso hióide).
Os músculos supraióideos que têm por função elevar e tracionar antero posteriormente
a laringe são os músculos genioióide, miloióide e ventre anterior do digastrico. Já os
infraióideos têm por função o abaixamento da laringe, puxando para baixo a cartilagem
tireóide e o osso hióide. Esses músculos se nomeiam Esternotireóideo, Tiroióideo,
Esternocleidoióideo ou Esternoióideo e Omoióideo (PINHO et al, 2007). Algumas
propriedades desses dois grupos serão apresentados a seguir.
Musculatura Extrínseca Supraióidea
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Responsáveis pela elevação da laringe, esses músculos causam estiramento das pregas
vocais, aumento da pressão subglótica e alteração das cavidades de ressonância, além de
prender a laringe à parte superior do tórax e determinar a relação da língua e da mandíbula
com o osso hióide (PINHO et al, 2007).
Genioióideo
É o músculo mais profundo supraióideo. Tem sua inserção na face anterior do osso
hióideo e na apófise gênio inferior9 e se alarga na medida em que prossegue para baixo e para
trás. Sua função consiste em elevar a língua e o osso hióideo para cima e para frente (PINHO
et al, 2007). Estas autoras afirmam que esse músculo exerce uma força indireta na cartilagem
tireóide, e que é um músculo importante em fonações que envolvem altas freqüências.
Inervação: ramos oriundos da alça cervical. (GARDNER, 1964)
Miloióideo
Equivale a um músculo fino, inserido sobre a linha miloióidea, na face posterior do
corpo maxilar inferior, e tem suas fibras voltadas para baixo e para dentro. Compõe um
assoalho sobre o qual se assentam o músculo gênioióideo e a glândula sublingual. Sua função
é mais articulatória do que estabilizadora do osso hióide, sendo que é descrito como
levantador do osso hióide, da base da língua e do soalho da boca. Inervação: nervo miloióideo
(n. trigêmeo). Vascularização: artéria alveolar posterior (a. maxilar) (PINHO et al, 2007)..
Digástrico
Possui esse nome por ter “dois ventres”: um anterior e um posterior, unidos à um
tendão intermediário. Entre suas funções estão: elevar a laringe, o osso hióide e deprimir a 9 Situa-se sobre a face posterior do corpo maxilar inferior em sua posição mediana, próximo ao bordo inferior.
22
mandíbula, e apresentam atividade na deglutição, fonação e tosse. O ventre posterior tem sua
origem na incisura digástrica e sua inserção na borda superior do osso hióide. O ventre
anterior tem sua origem na fossa digástrica e processo gênio e sua inserção na borda superior
do osso hióide passando através da faixa tendínea que aproxima o tendão intermediário do
osso hióide. Inervação: ventre anterior - nervo Miloióideo (n. trigêmeo), ventre posterior -
ramo digastrico (n. facial) Vascularização: artéria submentoniana no ventre anterior e artéria
ociptal no ventre posterior (PINHO et al, 2007).
Estiloióideo
Sua função se dá em levantar e retrair o osso hióide e levantar a base da língua. Sua
origem situa-se no processo estilóide do osso temporal, abrindo-se em dois feixes musculares,
inserindo-se na junção do osso hióide com o chifre superior da cartilagem tireóide. Inervação:
ramo Estiloióideo. Vascularizarização: artéria occipital (a. carótida externa) (PINHO et al,
2007).
Musculatura Extrínseca Infraióidea
São músculos abaixadores da laringe e do maxilar inferior quando se força a abertura
da boca. Puxam a cartilagem tireóide e o osso hióide para baixo. Pinho et al (2007) conta que
este grupo da musculatura extrínseca aparentemente tem maior influência nas pregas vocais.
Costuma-se classificar esses músculos em plano profundo e plano superficial, sendo aqui o
músculo a e b do primeiro, c e d do segundo respectivamente (PINHO et al, 2007).
Esternotireóideo
Sua função consiste em bascular a cartilagem tireóide e tem efeito tensor das pregas
vocais. É uma músculo par, longo e achatado em sentido ântero-lateral. sua origem se dá
23
embaixo da face posterior do manúbrio esternal e sobre a parte externa da primeira cartilagem
costal, dirigindo-se verticalmente para cima e obliquamente para fora. Sobe em direção oposta
ao esterno, formando com ele um “V”, cruza o corpo da tireóide e se insere na face externa da
asa tireóidea, subindo a linha oblíqua que os une (PINHO et al, 2007). Inervação: ramos da
alça Cervical (n. do hipoglosso) com fibras de C1 à C3. Vascularização: arteríolas
provenientes da artéria tireóidea superior e da artéria tiroideia inferior (GARDNER, 1964).
Tiroióideo
Dá continuidade ao músculo anterior acima da cartilagem tireóide. Sua função consiste
em aproximar a cartilagem tireóide ao osso hióide, rolando a cartilagem tireóide para cima e
afetando o comprimento, a massa e a tensão das pregas vocais. Tem importante papel no
estreitamento da glote durante a expiração. Esse músculo tem mais atividades na produção de
altas freqüências. Tem sua inserção anterior no corno maior do osso hióide e posterior na
cartilagem tireóide (PINHO et al, 2007). Inervação: Nervo do Hipoglosso (C1 e C2).
Vascularização: arteríolas provenientes dos ramos tiroideu e lingual da artéria tiroideia
superior (GARDNER, 1964).
Esternocleidoióideo ou Esternoióideo
É um músculo abaixador da laringe e do osso hióide e tem importante desempenho na
produção de sons de freqüência mais baixa. Sua contração pode causar aumento da pressão
subglótica e intensidade vocal durante a fonação (PINHO et al, 2007). Tem sua inserção no
bordo da extremidade interna da clavícula, no ligamento esternoclavicular e na parte vizinha
do manúbrio esternal. Inervação: asa do nervo hipoglosso (XII). Vascularização: artérias
tireóidea superior e inferior (GARDNER, 1964).
Omoióideo
24
Também abaixador do osso hióide, Zemlim descreve como causador de tensão na
fáscia cervical, impedindo o colapso do pescoço durante a inspiração profunda e evitando que
os vasos do pescoço e ápice dos pulmões sejam comprimidos durante a inspiração.
(ZEMLIM, 2000. p.119 a 204). Esse músculo também possui dois ventres e se estende do
bordo superior da escápula, dirigindo-se para cima, para dentro e para frente, cruzando os
escalenos e passando por trás do esternoióideo (PINHO et al, 2007).. Inervação: ramos da alça
cervical do nervo hipoglosso. Vascularização: não encontrada na bibliografia (GARDNER,
1964).
Musculatura Intrínseca da laringe
De acordo com Dominguez, essa musculatura é formada por um grupo de onze
músculos, dos quais um é impar e o restante é par, que contribui para a respiração, controlam
os movimentos refinados das pregas vocais, sendo então a principal musculatura responsável
pela fonação. Pinho (2008) alega que este é o grupo muscular responsável pelo controle da
freqüência e intensidade da voz por gerarem variação na pressão do ar subglótico, tensão e
modificações da massa vibrante nas pregas vocais. Pinho (2008) ainda ressalta que alguns
destes músculos são compostos de compartimentos diferentes que funcionam
independentemente.
Todos têm suas origens, inserções na área interna da laringe. A laringe, na sua
conformação interna, estende-se desde o aditus até ao bordo inferior da cartilagem cricóidea e
apresenta três zonas, limitadas pelas cordas vocais e pelas bandas vestibulares: o vestíbulo, o
ventrículo e a subglote (PINHO, 2008).
Os músculos intrínsecos da laringe também se dividem em três classificações: adutores,
abdutores e tensores (PINHO, 2008). Todos são inervados pelo nervo recorrente, com exceção
do músculo cricotireóideo (PINHO, 2008).
Músculos adutores:
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Consistem nos músculos que realizam o fechamento das pregas vocais. Este grupo é
composto pelos aritenóideos oblíquos (músculos pares), aritenóideo transverso (músculo
ímpar), cricoaritenóideos laterais (músculos pares) e pelos tiroaritenóideos externos
(músculos pares) (PINHO, 2008).
Aritenóideos ou Aritenoepiglóticos (AA)
Possui duas porções: uma profunda e outra superficial, de disposições transversa e
oblíqua respectivamente. Ambas as porções contribuem para a adução glótica, e por este
motivo são referidos de maneira geral como músculos aritenóideos. Estes músculos são
importantes não apenas na fonação, mas para realizar atividades como defecar, vomitar, tossir
ou levantar peso (PINHO, 2008).
Na porção transversa, esse músculo se estende até a face posterior dos músculos
aritenóides. As fibras mais profundas do aritenóideo transverso se prolongam em torno das
cartilagens aritenóideas, mesclando-se ás fibras do tiroaritenoideo. A contração da porção
transversa aproxima as cartilagens aritenóideas da linha média, contribuindo para o
fechamento do espaço da glote, cooperando para a fonação através de uma ação de adução
(PINHO, 2008).
As porções oblíquas, mais superficiais que a anterior, é constituída de duas partes
cruzadas que tem inserção na base do processo muscular de uma cartilagem aritenóidea
transitando até o limite superior da outra. A ação independente deste músculo gera adução dos
processos vocais destas cartilagens, formando nas pregas vocais uma extensa fenda glótica.
Sua função é aproximar essas cartilagens em seus ápices e juntar sua porção transversa as
bases, regulando a compressão medial das pregas vocais, promovendo adução. Contudo, esses
músculos não têm efeito sobre as características vibratórias das pregas vocais, sendo
fornecedores de suporte para outros músculos no controle da freqüência fundamental,
intensidade vocal e registros, características as quais serão abordadas no capítulo sobre
ressonância e projeção da voz (PINHO, 2008).
Cricoaritenoideos Laterais (CAL)
26
Têm sua origem no arco cricóide e sua inserção no processo muscular dos aritenóides.
Existe em número par e é de pequeno tamanho. Suas fibras acabam se fundindo com as do
músculo tiroaritenoideo, de maneira em que na região lateral do pescoço não se consegue
diferenciar um músculo do outro. A ação destes músculos provoca uma rotação interna,
aproximando as pregas vocais da linha média, onde se separam as porções cartilaginosas.
Quando estimulados em conjunto com os tiroaritenóideos, causam aumento da pressão
subglótica. Muito importantes para a fonação e no reflexo de fechamento glótico, impedindo a
entrada de corpos estranhos nas vias aéreas inferiores. Também influenciam moderadamente
o controle da freqüência fundamental da fala e intensidade vocal, além de serem responsáveis
pelo sussurro (PINHO, 2008).
Tiroaritenóideos Externos (TA externo)
Estende-se da face anterolateral dos aritenóides ao ângulo entrante dos tireóides, indo
desde a tireóide até a epiglote. Sua principal função é o controle da intensidade. Sua ação dá
volume às pregas vocais, aproximando-as ao encurtá-las.
Este músculo forma parte da prega vocal em sua zona profunda, passando a denominar-se
músculo vocal ou músculo tiroaritenoideo interno fazendo-se distinção com o tiroaritenoideo
externo (PINHO, 2008).
Músculos Abdutores
Cricoaritenoideos Posteriores (CAP)
É um músculo bilateral, de morfologia triangular que se origina na face posterior da
lâmina cricóidea e cursa um trajeto lateral e externo no qual se insere distalmente no processo
muscular das aritenóides. Sua ação produz uma rotação externa com a qual produz a abertura
27
das pregas vocais. Esse é o único músculo intrínseco abdutor, favorecendo a respiração
(PINHO, 2008).
Músculos Tensores
Cricotireóideos (CT)
Tem sua origem na porção anterolateral da cartilagem cricóide e sua inserção na borda
inferior da cartilagem cricóide. A ação desse músculo estira e tenciona a prega vocal, sendo
assim, um músculo essencial à fonação e ao canto. Diferentemente dos outros músculos
intrínsecos, esse músculo é tem sua inervação pelo nervo laríngeo externo (PINHO, 2008).
Tiroaritenóideos internos (TA interno)
Também chamado de músculo vocal ou porção tireovocal, o TA interno é formado por
fibras branco-peroladas, com alto controle sensorial. Suas fibras são ágeis, contudo sofrem
fadiga mais rapidamente, e algumas de suas fibras tem um padrão muito distindo de outros
músculos do corpo.
Pinho (2008) nos adverte que o TA deve ser considerado como apenas um músculo,
dividido em três partes: TA interno, TA externo e projeção superior do TA ( correspondendo
ao músculo ventricular responsável por medializar as pregas vestibulares). É muito difícil
diferenciar o TA externo do TA interno, pois entre eles não existe fáscias divisórias. O TA
interno ainda tem dois subcompartimentos: superior e inferior. O inferior, de coloração mais
esbranquiçada, modifica sua espessura de acordo com a intensidade da vibração.
A principal função deste do TA interno é encurtar as pregas vocais e moderar a
contração do CT. Sendo assim, esse é o músculo responsável pelo controle de freqüência e
pela emissão vocal.
28
Estrutura das Pregas vocais
As pregas vocais são divididas em duas pregas constituídas de tecido muscular, as
quais formam o espaço glótico. A parte vibratória das pregas vocais é constituída pelos
músculos tiroaritenoideos internos.
Prega Vocais
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/gramatica/fonetica-1.php
Mecanismo de Funcionamento das Pregas vocais
Durante a fonação, os músculos adutores (o cricoaritenoideo lateral e os
interaritenoideos transverso e oblíquo) contraem-se e aproximam as pregas vocais, e a pressão
do ar expirado produz movimentos ondulatórios sucessivos horizontais, entrecortando o fluxo
aéreo e produzindo o tom fundamental da voz. Esse som gerado na laringe pode ser
modificado na sua passagem pelo nariz e boca pela movimentação dos lábios, língua e palato
(ISSLER, 1983). Na respiração, os músculos abdutores (os cricoaritenoideos posteriores)
contraem-se, afastando as aritenóides e, por conseqüência, as pregas vocais, permitindo a
passagem de ar pela glote (PINHO, 2008).
29
Anatomia das Pregas Vocais
Fonte:
http://www.ibb.unesp.br/nadi/Museu2_qualidade/Museu2_corpo_humano/Museu2_como_funciona/Museu_homem_nervoso/
Museu2_homem_nervoso_audicao/Museu2_homem_nervoso_audicao_voz.htm
Pregas ventriculares (Falsas pregas vocais ou pregas Vestibulares)
Localizam-se acima das pregas vocais. Originalmente não desempenham função,
porém, em situações de emissão vocal indevida ou de grande intensidade sonora, podem
entrar em ação por serem compostas, em parte, por algumas fibras do músculo tiroaritenoideo
externo – o que permite a vibração das mesmas em condições anormais (PINHO, 2008).
3.2.1.2 Órgãos Articuladores
3.2.1.2 a) Língua
Participa das funções de mastigação, deglutição, fala e paladar, e é provavelmente o
órgão articulador mais importante. Por ser uma estrutura constituída de músculos extrínsecos
30
e intrínsecos, é bastante móvel, e seu formato pode ser mudado: pode encurtar-se, estreitar-se,
tornar-se plana ou prolongar-se por ação dos músculos extrínsecos, e elevar-se, abaixar-se,
estender-se para frente ou para trás por ação dos músculos intrínsecos.
A contração destes músculos produz diversos posicionamentos da língua, o que
resulta na mudança do formato e do tamanho da cavidade oral. (GARDNER, 1964)
Partes da Lingua
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/
3.2.1.2 b) Lábios
"Duas dobras musculofibrosas que limitam a abertura d boca." (GARDNER, 1964,
p.806). A face interna de cada um deles é ligada à gengiva correspondente por uma dobra da
mucosa chamada "frênulo do lábio" (GARDNER, 1964). Sendo assim, podem mudar o
formato da boca e desempenham um papel importante na articulação dos fonemas labiais e na
qualidade de emissão das vogais. (CRISTÓFARO, 1998; LE HUCHE, 2005)
3.2.1.2 c) Mandíbula ou maxilar inferior
31
Estrutura móvel em forma de "U", formada por duas partes simétricas fundidas à parte
anterior. Tem ligação com a articulação temporomandibular (ATM), a qual liga a mandíbula
ao crânio, e é o osso mais forte da face. (GARDNER, 1964)
3.2.1.2 d) Palato
"Constitui o teto da boca e o soalho das cavidades nasais" (GARDNER, 1964; p.806).
É dividido em duas partes: o palato duro, parte óssea anterior que ocupa dois terços da
cavidade oral, e o palato mole, o terço posterior constituído por tecido fibromuscular. O
palato mole tem formato de arco com uma projeção, a úvula, e divide parcialmente a
rinofaringe da orofaringe. É de extrema importância para a fonação e para o canto por fazer
movimentos de dobradiça próximos à sua inserção com o palato duro (GARDNER, 1964; LE
HUCHE, 2005).
3.2.2 ANATOMIA E FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO
3.2.2.1 O Processo Respiratório
A função essencial da respiração é fornecer oxigênio para células e retirar o dióxido de
carbono resultante da atividade da produção de energia.
O sistema respiratório é constituído de um par de pulmões, órgãos responsáveis pela
hematose, e por mais uma série de estruturas responsáveis pela entrada e saída de ar fossas
nasais, a boca, a faringe, a laringe, a traquéia, os brônquios, os bronquíolos e os alvéolos, os
três últimos se localizando dentro dos pulmões. Essa seqüência nos da idéia do caminho
percorrido pelo ar em nosso corpo.
A respiração é dividida em dois processos: inspiração e expiração. A Inspiração, que
promove a entrada de ar nos pulmões, dá-se pela contração da musculatura do diafragma e
dos músculos intercostais.
32
Primeiro o diafragma promove o descimento da parte inferior da caixa torácica, que é
expandida no sentido vertical. Depois, os intercostais externos e os músculos cervicais elevam
a parte anterior da caixa torácica, fazendo com que as costelas formem ângulo menor com a
vertical, o que alonga a espessura anteroposterior dessa caixa, e em conseqüência, há uma
redução da pressão interna com relação à externa10
, forçando o ar a entrar nos pulmões da
seguinte forma: o ar entra pelas narinas dilatadas onde é filtrado, aquecido e umedecido e
segue pela faringe (que sofre aumento tanto pela descida da laringe quanto pela comum
elevação da cabeça) (GUYTON, 1976).
Quando o ar chega à laringe, esta sofre descida, as cordas vocais se separam, ou assim
se mantém se já estiverem separadas. A Laringe é responsável por reter as partículas de pó
que passaram pela filtragem do nariz. Em seguida, o ar é conduzido pela traquéia (que sofre
aumento de calibre e também apresenta descida) passando pelos brônquios que vão se
subdividindo até que terminam em sacos sem fundo (alvéolos pulmonares) (TSUJI, 2009).
Nos alvéolos pulmonares acontece a hematose, processo onde o gás oxigênio do ar
difunde-se para os capilares sangüíneos e penetra nas hemácias, combinando-se com a
hemoglobina, enquanto que o gás carbônico (CO2) é expulso pelas vias aéreas na expiração
(GUYTON, 1976).
A expiração, que promove a saída do ar dos pulmões, os músculos participantes são os
abdominais e, em menor grau, os intercostais internos. Os músculos abdominais produzem a
expiração por dois modos: primeiro, puxam a caixa torácica para baixo, o que reduz a sua
espessura; depois forçam o deslocamento para cima das costelas e do conteúdo abdominal, o
que empurra também para cima o diafragma, diminuindo a dimensão vertical da cavidade
pleural. Os músculos intercostais internos participam do processo de expiração por
tracionarem as costelas para baixo, diminuindo a espessura do tórax. Assim, com a
diminuição do volume, a pressão interna aumenta e o ar é forçado a sair dos pulmões
(GUYTON, 1976).
Mecanismo da respiração:
10 Não existem ligações físicas entre os pulmões e a parede torácica. Em vez disso, os pulmões são mantidos como que
empurrados contra essa parede por pequeno vácuo no espaço intrapleural, que é o espaço extremamente reduzido entre os pulmões e a parede torácica, e que possui o líquido intrapleural com uma pressão interna de -4 mmHG.
33
3.2.2.2 Órgãos do Sistema Respiratório
Traquéia
Continuação da laringe, a traquéia localiza-se na C6 logo abaixo da cartilagem
cricóide e acaba bifurcando-se na crista anteroposterior, em nível de T5 no 2º espaço
intercostal11
, onde a traquéia se divide nos brônquios. Por causa de suas relações vasculares a
traquéia é mais próxima do pulmão direito que do esquerdo. É constituída por um tubo
membranoso de 1,5 cm de diâmetro aproximado e 10 a 12 cm de comprimento, com paredes
11 Ângulo de Louis: corresponde a uma elevação no osso esterno, formada pelo ângulo entre o
manúbrio esternal e o restante do esterno. Definição retirada de: http://www.inca.gov.br/pqrt/download/tec_int/cap2_p2.pdf
34
reforçadas por cerca de 16 a 20 anéis cartilaginosos incompletos sobrepostos e atrelados por
tecido conjuntivo. No epitélio da traquéia existem cílios e glândulas produtoras de muco, que
englobam partículas de pó e bactérias que são retirados da região pelo movimento dos cílios,
levando-os a serem expelidos ou engolidos posteriormente (GARDNER, 1964; LE HUCHE,
2005).
Figura Traquéia e Brônquios:
Fonte: http://www.viaaereadificil.com.br/anatomia/anatomia.htm
Brônquios
Ramos em que se decompõe a traquéia, são divididos em dois brônquios principais,
que se subdividem brônquios lobares e posteriormente em segmentares. Cada brônquio
principal se desdobra da bifurcação da traquéia, penetrando no hilo do pulmão
correspondente, dividindo-se no parênquima do pulmão (GARDNER, 1964).
Ambos os brônquios são estruturas móveis e elásticas, e da mesma forma que a
traquéia, conseguem modificar seu comprimento. São vascularizados pelas artérias
bronquiais e a drenagem sanguínea acontece através das veias bronquiais (GARDNER,
1964). Posteriormente se subdividem em bronquíolos que terminam nos alvéolos, que são
sacos aéreos delicados, com paredes muito finas contendo capilares, onde ocorre a troca
35
gasosa no sangue através de capilares muito finos. Os alvéolos ainda contêm dentro de si
um líquido chamado surfactante alveolar, que mantém a pressão intra-alveolar suficiente
para que os alvéolos permaneçam abertos(GUYTON, 1976).
Pulmões
Principais órgãos da respiração, são bastante complexos, e serão abordados de maneira
mais simplificada e resumida possível. São órgãos em forma de funil, que se localizam no
tórax, alcançando em sua base o diafragma e em seu ápice ultrapassando ligeiramente a
clavícula, tendo sua zona superior chamada de cúpula. Cada pulmão, envolto em seu
respectivo saco pleural12
, está preso ao coração e à traquéia pela raiz e pelo ligamento
pulmonar, estando os dois livres na cavidade torácica (GARDNER, 1964).
O espaço entre os pulmões e a caixa torácica é chamado de espaço intrapleural,
existindo uma determinada pressão neste espaço, chamada de pressão intra-pleural Os
Pulmões de um recém nascido têm coloração róseo clara, e o de um adulto normalmente
apresenta manchas azuladas ou cinzentas em um fundo azulado, devido a penetração de
poeira atmosférica inalada com o passar dos anos. São órgãos esponjosos, de tecido brilhante,
elástico e macio. (GARDNER, 1964)
Existem diferenças entre o pulmão direito e o esquerdo, sendo o primeiro mais pesado
que o segundo. O direito é mais curto que o esquerdo devido à posição mais alta da cúpula
direita do diafragma, que tem esta disposição por ser pressionado pelo lobo direito do fígado.
Além disso, é também mais largo devido ao coração e pericárdio se sobressaírem para a
esquerda. (GARDNER, 1964)
Cada pulmão é dividido em uma base, um ápice, três bordas (anterior, inferior e
posterior), três faces (costal,medial e diafragmática) e três faces interlobares ocultas pela
profundidade das fissuras. Quanto a estas fissuras, mais uma vez existe diferença entre um
pulmão e outro: o esquerdo é dividido em lobos superior e inferior por uma fissura oblíqua e o
direito, dividido em lobos superior, inferior e médio por uma fissura oblíqua e uma horizontal
(GARDNER, 1964).
12 Pleura - A pleura é uma membrana escorregadia que forra a parede torácica e o mediastino, se refletindo do mediastino
para o pulmão, sendo facilitadora da movimentação dos pulmões na caixa torácica. Tem aparência serosa e brilhante. É
dividida em pleura visceral, e parietal, onde a parietal ainda se subdivide em mediastinal, costal, diafragmática e cervical
(GARDNER, 1964).
36
Fonte: FERLAUD, C. In: GUIZZO, João (Ed.). Atlas “O Corpo Humano”. 16ª edição. São Paulo: Ática, 2006.
3.2.2.3 Musculatura Abdominal
A musculatura abdominal é de extrema importância nos processos inspiratório e
expiratório. No processo inspiratório, os músculos abdominais atuantes são o diafragma
(provavelmente, o mais importante) e os intercostais externos; no processo expiratório, os
músculos atuantes são os intercostais internos, transverso abdominal, oblíquos interno e
externo e reto abdominal (MARTINEZ et al, 2000).
Musculatura Abdominal
37
Fonte http://pgfysio.blogspot.com/
Músculos da Inspiração
Diafragma e intercostais externos
O diafragma é uma divisória músculo tendinosa em forma de cúpula que separa a
cavidade torácica da abdominal. Este músculo apresenta duas cúpulas: a cúpula diafragmática
esquerda e a direita, sendo esta última mais alta do que a primeira (GARDNER, 1964).
Os músculos intercostais localizam-se entre as costelas e são divididos em internos e
externos (GARDNER, 1964). Sartori (1996) relata haver muitas controvérsias sobre a real
função destes músculos, e que geralmente se atribui atividade na inspiração para os
intercostais externos, e na expiração para os intercostais internos.
Na inspiração, o tórax aumenta de volume de três formas: verticalmente, pois o
diafragma contrai-se e é puxado para baixo, o que reduz a pressão intratorácica e produz
aumento da pressão intra-abdominal; horizontalmente, por deslocamento da parede abdominal
para frente; e horizontalmente por alargamento do tórax, pois as costelas são movidas para
cima pela contração dos músculos intercostais externos (GARDNER, 1964).
38
Fonte: http://www.perfilpilates.com.br/o-diafragma-na-respiracao/
Músculos Acessórios
São músculos que não participam tão ativamente na respiração, mas que são acionados
durante uma inspiração mais vigorosa. Este grupo é composto pelo grande dorsal ou
latissimus dorsi, escaleno (posterior, médio e anterior), esternocleidomastóideo, subclavo,
peitoral maior e menor, levatoris costarum e serratus posterior e superior.
MÚSCULOS DA EXPIRAÇÃO
Na expiração, participam ativamente os músculos Transverso abdominal, oblíquos
interno e externo, reto abdominal e finalmente os intercostais internos, mencionados acima
(MARTINEZ et al, 2000).
O músculo transverso abdominal situa-se nas partes frontal e lateral do abdômen e
também abaixo do músculo oblíquo interno. Ele forma um cinto de fibras horizontais que se
estende desde a parte posterior da coluna vertebral lombar até a linha Alba do abdômen. É
responsável por comprimir a massa visceral e contrair o abdômen (GARDNER, 1964).
O músculo oblíquo interno é mais superficial que o transverso e recobre-o quase que
inteiramente. Localiza-se nas partes frontal e lateral das paredes da cavidade abdominal e suas
fibras são oblíquas de baixo para cima e de trás para frente, cruzando com as fibras do
39
músculo oblíquo externo. Na sua contração, empurra a parede abdominal para dentro e dirige
as costelas inferiores para baixo (GARDNER, 1964).
O músculo oblíquo externo é mais superficial que o oblíquo interno e o recobre quase
que inteiramente. É um músculo plano e largo composto por fibras que se irradiam de cima
para baixo e de baixo para cima, estendendo-se por toda a parede abdominal. Este músculo
comprime a parede abdominal e pode auxiliar o controle da expiração (GARDNER, 1964).
O músculo reto abdominal é um músculo vertical em forma de fita que se estende na
parte frontal da cavidade abdominal, com fibras que se irradiam de baixo para cima. Este
músculo alarga-se em sua parte superior. Quando contraído, empurra a massa visceral para
dentro e também pode abaixar as costelas inferiores e o esterno (GARDNER,1964).
Os músculos abdominais contraem-se e puxam a caixa torácica para baixo, reduzindo
suas dimensões; depois, empurram para cima as costelas e a massa visceral, o que faz com
que o diafragma também seja empurrado para cima, diminuindo as dimensões da cavidade
pleural. Os músculos intercostais internos tracionam as costelas para baixo, fazendo com que
as dimensões do tórax diminuam. Assim, com a diminuição do volume, há aumento da
pressão interna e o ar é forçado a sair dos pulmões (MARTINEZ et al, 2000).
Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000
40
TIPOS DE RESPIRAÇÃO
Respiração torácica superior, apical ou clavicular
Caracteriza-se pela expansão da parte superior do tórax, com levantamento dos
ombros e da clavícula. As costelas e o diafragma levantam-se e a parede abdominal é
passivamente pressionada para dentro. De um modo geral, atletas se utilizam deste tipo
respiratório de um modo bastante intensificado durante a prática de atividade por promover
uma troca gasosa rápida (LE HUCHE, 2000)..
Sartori (1996) elucida que este tipo de respiração corresponde à fala ou à voz não-
direcionada e aconselha a não se utilizar da respiração superior no canto por gerar tensões nos
ombros e pescoço, além de elevar a posição da laringe e não ter um controle satisfatório da
laringe.
Respiração abdominal
Este tipo de respiração pode ser observada com freqüência em bebês. O diafragma
contrai-se sem que haja levantamento significativo das costelas. Os músculos oblíquo e
transverso produzem conjuntamente retração da parede abdominal (o que empurra o
diafragma para cima) e abaixamento costal “de alça de balde”, que produz um estreitamento
da caixa torácica (LE HUCHE, 2000). Esses dois movimentos combinados produzem
compressão da parte inferior do pulmão. Sartori (1996) afirma que este método não permite
um domínio eficaz do movimento muscular e não produz pressão subglótica satisfatória.
Respiração intercostal diafragmática
41
Neste tipo respiratório as costelas são expandidas e o diafragma contrai-se. De acordo
com Sartori (1996), esse método de respiração tem uma maior eficiência no canto por permitir
ao cantor maior controle sobre a ação muscular e também possibilitar maior circulação de ar.
Para os cantores um termo muito comum que faria parte da expiração neste modelo de
respiração seria o "apoio". Podemos definir apoio como o esforço dos músculos abdominais
para manter as costelas abertas, resultando em uma sustentação mais constante do som
vocalizado ou cantado com a pressão do ar.
3.2.3 DIFERENÇAS ENTRE VOZ FALADA E VOZ CANTADA
3.2.3.1 Ajustes do trato Vocal
Behlau et al (2005) cita no livro “Voz, o livro do especialista” que é muito simples
diferenciar a voz falada da cantada, contudo, diferenciar os ajustes feitos para a produção
tanto de um tipo de voz quanto do outro nem sempre é tão simples. A autora cita que, em
geral, a emissão da voz falada é inconsciente, dispensando ajustes, em contrapartida, para a
produção da voz cantada, é exigida uma série de ajustes obtidos através de treinamento
prévio.
Russo (1999) descreve que na voz falada, para emissão principalmente de consoantes,
o trato vocal sofre uma série de mudanças de forma e tamanho, devido à modificação da
posição da língua e/ou pela ação da musculatura faríngea.
Nos estudos feitos por Figueiredo, Bortoli, Kyrillos e Hamam (2006) comparando
características de cantores líricos com cantores populares, foi observado durante exames
laringoscópicos presença de constrição antero-posterior significativamente aumentada na voz
dos cantores líricos, encontrando-se também nas vozes faladas destes cantores.
Esta mesma constrição, além de outras alterações futuramente descritas, foi observada
e descrita por Pinho, Tsuji, Camargo e Hanayama (2003) no estudo sobre a voz metálica.
Contudo, como o próprio grupo de pesquisadores citou em seu trabalho, a bibliografia de
Behlau e Pontes (1995) explica que esta constrição antero-posterior no caso dos cantores não
significa necessariamente inequação vocal, pois esta ocorre devido a aproximação das
42
cartilagens aritenóides à epiglote, formando assim uma nova caixa de ressonância e obtendo
enriquecimento da projeção vocal.
Figueiredo, Bortoli, Kyrillos e Hamam (2006) ainda citam a bibliografia de Sataloff e
Spiegel(1991), onde se descreve o efeito “Lombard”, que seria a tendência que um cantor tem
de promover uma compensação do ruído de fundo (no caso de uma apresentação com
orquestra por exemplo) aumentando o volume de sua voz.
3.2.3.2 Diferenças da respiração na fala e no canto
A respiração na voz falada acontece de forma natural, rápida e pela boca durante uma
frase longa, e de forma vagarosa e nasal durante uma pausa prolongada (BEHLAU et al,
2005). Durante o repouso, a proporção do ciclo inspiração/expiração é de 40% para 60%,
enquanto que na fala esta relação muda para 10% inspiração e 90% expiração (ISSLER,1983).
O ciclo da expiração na fala é passivo, e seu ritmo esta sujeito a mudanças decorrentes da
emoção do falante (BEHLAU et al, 2005).
Esta relação se mantém no canto, entretanto é uma das poucas semelhanças. A
respiração no canto não é um ato inconsciente, mas sim educada para que utilize uma
musculatura diferenciada e precisa, fazendo com que seus ciclos aconteçam de acordo com a
frase musical (BEHLAU et al 2005).
Diferentemente da expiração na fala, o processo da soltura de ar no canto é ativo, e
mantém todas as paredes do tórax expandidas pelo máximo tempo possível (BEHLAU et al,
2005). Behlau et al(2005, pg. 308) cita que Miller em “The mechanics of singing:
coordenating fisiology and acoustics in singing”, afirma que um cantor habilidoso produz
uma pressão subglótica constante, coordenando um início de fonação adequado com o
controle do ar expirado. Em seguida a mesma autora cita diversas fontes que acreditam que o
controle respiratório seja essencial para o cantor, e que a falta deste pode trazer prejuízos de
projeção ou criar padrões compensatórios da voz.
Sartori (1996), como citado anteriormente, ao falar dos três tipos de respiração
(abdominal, clavicular e intercostal diafragmática), recomenda que o tipo respiratório
43
utilizado no canto seja o intercostal diafragmático por promover “apoio13
” mais efetivo e uma
quantidade de ar inspirado superior, promovendo melhor sustentação do som.
3.2.4 INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS BÁSICOS DE ACÚSTICA – RESSONÂNCIA
E PROJEÇÃO DA VOZ
Para melhor compreender o próximo capítulo se faz necessário entender alguns
conceitos do ramo da física denominado acústica, que, por sua vez estuda a geração, a
propagação e a detecção das ondas mecânicas associadas ao som. Ao falarmos sobre voz,
entendemos esta como um som emitido pelo corpo humano. O som é entendido como a
impressão fisiológica que ondas mecânicas, periódicas e regulares, com freqüências
compreendidas entre 20 e 20000Hz14
, causam ao nosso ouvido. Entenda-se também, que
quanto maior a freqüência, mais agudo é o som, e quanto menor, mais grave. Esta qualidade é
chamada de altura. (TALAVERA, CARRILHO E TRIGO, 2002; p 133)
Sabe-se também que o som se propaga no ar através de onda15
longitudinal. Numa
onda longitudinal, os pontos oscilam na mesma direção de propagação da onda. Assim, se um
volume de ar for percorrido por uma onda sonora, suas diversas camadas serão
alternadamente comprimidas e expandidas na direção do seu avanço. Sua velocidade de
propagação no ar varia conforme a temperatura, sendo de aproximadamente 318 metros por
segundo, a uma temperatura de -17ºC e de aproximadamente 340 metros por segundo, a uma
temperatura de 20ºC. (TALAVERA, CARRILHO E TRIGO, 2002; p 114, 133 e 134)
3.2.4.1 Bases físicas para a fonação
O som produzido pela laringe é um som de baixa intensidade, e de acordo com Issler
(1983), seria inaudível sozinho.
13 Para os cantores, apoio é a pressão da musculatura abdominal, fazendo com que a caixa toráxica permaneça aberta por
mais tempo. Esta pressão é utilizada como compensação do esforço laríngeo devido ao alto nível de pressão subglótica. 14 Freqüência é dada pelo número vibrações, por unidade de tempo. Sua unidade de medida é Hz, que é igual a ciclos por
segundo. (ROEDERER, 2002; p 44) 15 Onda é uma perturbação oscilante de alguma grandeza física no espaço e periódica no tempo. (WIKIPÉDIA)
44
Para que este som tenha intensidade suficiente, é necessário o mesmo seja
amplificado. A ampliação do som acontece através do fenômeno acústico chamado
ressonância, o qual é de suma importância, não apenas pela projeção da voz, mas também por
auxiliar os cantores a averiguar se sua emissão vocal está correta.
No dicionário de Bueno (1996) a definição de ressonância se dá por “fenômeno físico
pelo qual o ar que existe dentro de uma cavidade é suscetível de vibrar com freqüência
determinada por influência de um corpo sonoro, produzindo reforço de vibrações”.
Para Issler (1983), ressoar é soar junto, e as estruturas que participarão da ressonância
da voz se encontram acima da glote, sendo espaços cheios de ar, massas musculares, mucosas
da faringe, cavidades nasais e orais.
Mais específicamente, o sistema de ressonância da voz é composto pelas seguintes
estruturas:
- Ressonadores infraglóticos16
: traquéia, tubos bronquiais, pulmões e caixa torácica.
- Ressonadores supraglóticos17
: laringe, faringe (rinofaringe, orofaringe e
laringofaringe), boca, cavidade nasal e seios paranasais.
De acordo com Russo (1999) o sistema ressonador da voz seria o responsável central
pelas características estéticas da voz.
Segundo Pinho e Camargo (1998), a condição para que o fenômeno da ressonância
aconteça dentro do trato vocal, é de que se estabeleçam ondas estacionárias18
dentro do trato
vocal e que exista compatibilidade entre o comprimento das ondas produzidas e as dimensões
do tubo formado por este trato.
O trato vocal tem seu limite inferior na glote e limite superior nos lábios e nariz, que
pode ser chamado de filtro. Conforme as autoras acima, o tubo constituído pelo trato vocal é
considerado um “ressonador não acentuadamente afinado”, por ter paredes ligeiramente
curvas e uma extremidade aberta.
Para esta classificação de ressonador, se considera as partículas do ar do lado de fora
do trato vocal como parede refletora, o que somente é possível se a distância entre a fonte
(pregas vocais em vibração) e a parede refletora (partículas de ar do ambiente localizadas na
extremidade aberta do trato vocal) for igual 1/4λ ou 3/4λ ou múltiplas desses valores. Nessas
condições, é possível que a onda incida na parede refletora (ar do lado de fora da boca)
exatamente no ponto de compressão máxima ou de rarefação máxima, constituindo ondas
estacionárias, e desta maneira ressonância (PINHO E CAMARGO, 1998). 16 Localizados abaixo da glote. 17 Localizados acima da glote. 18 Ondas estacionárias são formadas quando duas ondas sonoras idênticas que se movem em sentido contrário se encontram.
45
Pinho e Camargo (1998) ainda consideram que no caso do trato vocal, podem ocorrer
ondas estacionárias de freqüências diferentes ao mesmo tempo, pois como o tamanho do tubo
é ligeiramente variável, ele pode estar afinado em freqüências diferentes, dependendo do local
considerado.
Issler (1983) afirma que a ressonância acontecerá se as estruturas acima descritas
possuírem a mesma freqüência de vibração da onda sonora resultante da laringe, que irão
estender o “tom fundamental laríngeo” também chamado de freqüência fundamental.
Roederer (2002, p. 21) define freqüência fundamental como “frequencia de repição de um
padrão de vibração, descrito pelo número de oscilações por segundo”. Esta freqüência é
determinada pelas propriedades da fonte que a produz, como veremos abaixo.
Issler (1983) ressalta que a freqüência fundamental, chamada em acústica de F₀, é
alterada ao sair da glote, pois esta vibração ocupa espaços cheios de ar e estruturas de
diferentes massas, dimensões, configurações e funções, estando algumas destas em
movimento. Sendo assim, esta freqüência vai sofrer o que a acústica chama de reforço de
sobretons19
.
Existem uma série de variáveis fisiológicas que também alteram a freqüência
fundamental, aumentando ou diminuindo a mesma, sendo as três primeiras responsáveis pelo
aumento da Freqüência e as três últimas pelo decréscimo desta. São elas: pressão subglótica,
tensão longitudinal, elasticidade das pregas vocais, pregas vocais compactas, massa das
cordas em vibração e peso das cordas vocais (ISSLER, 1983).
Issler (1983, p. 89) também cita dois princípios de ressonância que são interessantes
no estudo da voz. O primeiro diz que quanto maior a massa, menor a freqüência de oscilação,
aplicando-se à prega vocal diretamente quanto à produção de sons graves; o segundo afirma
que a velocidade de vibração é diretamente proporcional a rigidez, se pensarmos em
diferenças de vibração entre músculos e ossos. Neste mesmo capítulo, a autora ainda fazer
referência aos pesquisadores House e Stevens, que consideram três fatores como sendo
fundamentais para determinar o padrão de ressonância:
1. “O lugar de maior constrição do trato vocal’.
2. “O grau de constrição nesse ponto.”
3. “O grau de arredondamento dos lábios”
“Estas três variáveis são importantes para precisar a ressonância acústica
durante a produção das vogais.” (ISSLER, 1983; p 89) 19 Sobretons: Um sobretom (overtone) é um componente senoidal de uma forma de onda com freqüência maior do que sua
freqüência fundamental. Definição de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sobretom
46
Pinho e Camargo (1998) descrevem alguns fenômenos pelos quais ocorre a
ressonância da voz. Um deles o seria o processo chamado função de transferência, que
acontece quando há o ajuste perfeito do comprimento das ondas e dimensões do tubo,
enfatizando as ondas de ressonâncias naturais do trato vocal ou modos naturais de vibração
deste aparelho, ondas quais chamamos de formantes. Quando este sinal filtrado chega aos
lábios, ocorre um segundo fenômeno chamado de efeito da radiação, onde o som será
propagado para fora do trato vocal e receberá reforço de energia em 6dB20
por oitava .
Estas mesmas autoras ainda salientam que a ressonância da voz ainda pode ocorrer
pelo fenômeno de simpatia, onde uma estrutura que vibra com uma determinada freqüência,
se próxima de outra estrutura de freqüência similar, vibram juntas por simpatia. Pinho e
Camargo (1998) dão o exemplo prático de aproximar dois diapasões de mesma freqüência e
desencadearmos a vibração de um deles, acontece a vibração do segundo por simpatia.
Quanto à ressonância, os fonemas são classificados de duas maneiras: nasais e orais,
sendo as cavidades orofaríngeas ressoadoras dos fonemas orais, e as cavidades velofaríngeas
ressonadoras dos fonemas nasais (Cristófaro, 1998; Issler, 1983; Callou e Leite, 1990;
Russo,1999).
Para que a ressonância do fonema nasal ocorra, a corrente de ar chega na orofaringe
tem de encontrar o véu palatino abaixado, havendo assim um espaço para que o ar chegue nas
cavidades nasais. O grau de ressonância nasal dependerá da posição do palato mole, podendo-
se encontrar diferentes graus de ressonância nasal (Russo,1999).
Em contrapartida, para que exista a ressonância oral, o véu palatino deverá encontrar-
se levantado, bloqueando a passagem de ar que leva aos seios nasais. (Cristófaro, 1998; Issler,
1983; Callou e Leite, 1990; Behlau 2005)
3.2.4.2 A formante do cantor
Podemos denominar formantes como ondas de ressonância do aparelho fonador.
Russo (1999), define formantes como “faixas de frequências que concentram maior energia
acústica”.
20 dB – Decibel - Nível de intensidade sonora.
47
Pinho et al (2007, pg 25) cita a definição de Sundberg para formante do cantor:
“Proeminência do espectro acústico, envolvendo um pico de freqüência, pela junção do
terceiro, quarto e quinto formantes, amplificando assim, os harmônicos de 2.000, 3.000 e
4.000Hz, decrescendo o nível de pressão sonora em direção aos agudos”.
Behlau (2005) resume as distintivas do canto lírico em controle respiratório
desenvolvido, presença de formante do cantor e valorização do vibrato. Em posição diferente,
Pinho et al defende que o bom desempenho do cantor não depende excepcionalmente de
presença do formante do cantor, pelo fato do cantor lírico desenvolver diversos artifícios
técnicos vocais, imprescindíveis para a boa qualidade de sua arte.
3.2.5 A FALA DE ACORDO COM A FONÉTICA
De acordo com Cristófaro (1998), Fonética é a ciência detentora dos métodos para
descrição, classificação e transcrição dos sons da fala.
Neste trabalho abordaremos apenas o ramo desta ciência chamado de fonética
articulatória, que examina a fonação sob o enfoque fisiológico e articulatório. Para Callou e
Leite (1990, p. 15), fonética articulatória é o “exame da produção do som pelo aparelho
fonador e registro de ouvido” e pode ter dois propósitos. O desígnio mais amplo se destina a
descrever qualquer som produzido pelos seres humanos, e o mais restrito, dedicado a formar
uma asserção que especifica os mecanismos existentes nas línguas humanas.
Existem algumas discordâncias entre os autores consultados quanto ao número de
segmentos para a fonética da língua portuguesa no Brasil. Motta fala sobre esta dificuldade
em fazer transcrições fonéticas, afirmando que não existem transcrições fonéticas perfeitas, e
que até os foneticistas mais bem treinados e dotados de ouvido absoluto discordam sobre um
mesmo estímulo (MOTTA, 1985; p 18). Issler (1983) e Motta (1985), pensando em
transcrição larga (que não inclui aspectos secundários) concordam quanto ao número de
segmentos consonantais, expondo o número dezenove como sendo o total de consoantes, e
discordam quanto aos segmentos vocalicos, onde Issler (1983) acredita ser sete o número de
vogais e duas semivogais, o que Motta (1985) descreve como quinze. Já Cristófaro (1998),
descreve vinte e quatro consoantes, diferentemente das outras autoras. Passemos então a
descrever estes segmentos começando pelos consonantais, pois acusticamente são mais
simples.
48
3.2.5.1 Músculos da Articulação Fonética e suas Funções: Musculatura dos Lábios,
Mandíbula e Bochechas
Diferentes grupos musculares são utilizados para a produção dos fonemas, incluindo
não apenas os músculos articulatórios, mas também a musculatura intrínseca e extrínseca da
laringe (GARDNER, 1964; ISSLER, 1983). Infelizmente, não houve tempo hábil para uma
descrição minuciosa da utilização muscular de cada fonema. Dessa forma, neste trabalho será
dado maior enfoque para a musculatura articulatória, tendo uma abordagem secundária aos
demais grupos.
- Músculo elevador do ângulo da boca: eleva as comissuras da boca e acentua o
sulco nasolabial.
- Músculo zigomático maior: traciona o ângulo da boca para trás e para cima, como,
por exemplo, na risada. Eleva as comissuras da boca e acentua o sulco nasolabial.
- Músculo zigomático menor: eleva as comissuras da boca e acentua o sulco
nasolabial.
- Músculo risório: retrai o ângulo da boca lateralmente, como no riso forçado.
- Músculo orbicular da boca: fecha a boca, movimenta as asas do nariz e a pele do
mento.
- Músculo depressor do ângulo da boca: abaixa as comissuras da boca, sendo
responsável pela “expressão de tristeza”.
- Músculo do mento: eleva e projeta para fora o lábio superior; enruga a pele do
queixo.
- Músculo depressor do lábio inferior: repuxa o lábio inferior para baixo e
lateralmente, como na expressão de ironia.
- Músculo platisma: músculo do pescoço que puxa os lábios e a mandíbula para
baixo. Também tenciona a pele do pescoço.
- Músculo temporal: fecha a boca e retrai a mandíbula.
- Músculo masseter: fecha a mandíbula.
49
- Músculo pterigóideo medial: responsável por abrir a boca e pelo movimento de
rotação na mastigação.
- Músculo pterigóideo lateral: protrai, abre e lateraliza a mandíbula, sendo também
responsável pelo movimento de rotação na mastigação.
- Músculo bucinador: responsável por alterar a forma das bochechas. Auxilia na
mastigação, comprimindo as bochechas contra os dentes e também é importante no ato de
assobiar e soprar.
Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000
3.2.5.2 Seguimentos Consonantais
Segundo Cristófaro (1998), entende-se por segmento consonantal um som que seja
produzido com algum tipo de obstrução, total ou parcial da passagem da corrente de ar pelas
cavidades supraglotais, havendo fricção ou não. No português brasileiro, a direção da corrente
de ar é sempre egressiva. Issler (1983, p 75) em sua definição acrescenta ainda o modo de
articulação destes sons: “A consoante é um som propagado pelo ar que sai dos pulmões,
passa pela laringe e vai até a boca, onde encontra obstáculos. Se o obstáculo for total é
50
oclusiva. Se for parcial é constritiva, com ou sem a fricção percebida nas fricativas. Eis o
modo de articular.”
Estes segmentos ainda podem ser classificados quanto a ressonância, como nasais e
orais, e quanto ao estado da glote sendo usado a terminologia vozeada e desvozeada por
Cristófaro (1998), ou sonora ou surda por Issler(1983). Neste estudo foi adotada a
nomenclatura de Cristófaro(1998) para o estado da glote, pois entende-se que não
necessariamente não haverá som quando não houver voz.
Ainda quanto à articulação, devemos considerar mais três parâmetros: o lugar de
articulação levando em conta os articuladores passivos e ativos, o modo de articulação e
possíveis articulações secundárias. A notação destes segmentos dá-se por: “modo de
articulação + lugar de articulação + posição da glote” (Cristófaro, 1998) Exemplos:
[ m ] Nasal bilabial vozeada;
[ s ] Fricativa alveolar desvozeada;
[ g ] Oclusiva velar vozeada.
Entende-se por modo de articulação o conjunto de movimentos realizados pelos
articuladores e a maneira utilizada na obstrução da corrente de ar (MOTTA, 1985). De
acordo com Cristófaro (1998) e Callou e Leite (1990), as classificações das consoantes quanto
ao modo de articulação são as seguintes:
Oclusiva: Obstrução completa da passagem de ar através da boca, com o véu palatino
levantado, encaminhando o ar que vem dos pulmões para a cavidade oral.
Nasal: Obstrução completa através da boca da passagem do ar vindo dos pulmões,
com o véu palatino abaixado, encaminhando a vibração para a cavidade do nariz.
Fricativa: Segmentos orais “produzidas pela turbulência do ar passando pela
constrição de pontos” (Issler, 1983). Os articuladores produzem uma obstrução parcial
da corrente de ar, se aproximando e fazendo com que a passagem de ar seja central
produzindo fricção, sendo esta apenas um resultado ouvido. Para a fonação destes
segmentos é necessário que se forme uma pressão intra-oral
Africada: Formada a partir das oclusivas e fricativas. Na fase inicial, os articuladores
produzem uma obstrução completa da corrente de ar através da boca, encontrando-se o
véu palatino levantado. Na fase final dessa obstrução (quando se dá a soltura) ocorre
uma fricção decorrente da passagem central da corrente de ar.
51
Tepe (ou vibrante simples): O articulador ativo toca rapidamente o passivo ocorrendo
uma rápida obstrução da corrente central de ar.
Vibrante (múltipla): Articulador ativo toca algumas vezes o articulador passivo
causando vibração.
Retroflexa: O palato duro é o articulador passivo e a ponta da língua é o articulador
ativo. A ponta da língua é levantada e encurvada em direção ao palato duro.
Laterais: O articulador ativo toca o articulador passivo e a corrente de ar é obstruída
na linha central do trato vocal, expelindo o ar por ambos os lados desta obstrução.
Os segmentos consonantais ainda podem ser classificados de acordo com o Lugar de
articulação e quanto a articulações secundárias, não será abordada neste texto, com exceção
de um único segmento consonantal [ ɫ ].
Quanto ao lugar de articulação leva-se em consideração o articulador ativo e o
passivo, sendo o ativo aquele que se movimenta em direção ao passivo. São classificadas em
bilabial, Dental, Labiodental, Alveolar, Alveopalatal, Palatal, Velar e Glotal (CRISTÓFARO,
1985). No capítulo seguinte será descrito em cada consonante como é realizada sua
articulação seguindo estes critérios.
bilabial labiodental alveolar alveopalatal palatal velar glotal
Oclusiva
desv p t k
voz b d g
Africada
desv tʃ
voz dʒ
Fricativa
desv f s ʃ x h
voz v z ʒ ɣ ɦ
Nasal voz m n ɲȳ
Tepe voz ſ
Vibrante voz ř
Retroflexa voz ɻ
Lateral voz l ɫ w ʎ lj
3.2.5.3 Segmentos Vocálicos
52
De acordo com Issler (1983) a vogal é um som propagado pelo ar que sai dos pulmões,
num fluxo sem interrupção até a laringe, onde ocorre a vibração das pregas vocais. Quando
esta corrente de ar chega na cavidade bucal não encontra obstrução, ao contrário do que
acontece na maior parte dos segmentos consonantais, e também não produz fricção
(CRISTÓFARO, 1998; ISSLER, 1983). A cavidade bucal, a laringe e a oro-faringe sofrem
grandes variações de forma e tamanho, tanto pela mudança de posição de língua quanto pela
ação da musculatura faríngea (RUSSO, 1999).
Russo (1999) afirma que os sons vocálicos são sonoros, intensos, contínuos e seu
formantes são bem definidos pelo fato do trato vocal se encontrar aberto. Estes formantes se
tornam mais altos à medida que o tamanho trato vocal diminui, e mais baixas à medida que à
medida que ele aumenta.
Segundo Cristófaro (1998), segmentos vocálicos são descritos de acordo com os
seguintes parâmetros: altura da língua, posição anterior/posterior da língua e arredondamento
ou não dos lábios.
Quanto à altura, as vogais são classificadas em quatro níveis de altura: alta, média alta,
média alta, média baixa e baixa. Cristófaro (1998) afirma que alguns autores definem nível de
altura quanto ao grau de abertura/ fechamento de boca, as classificações são: fechada, meio
fechada, meio aberta e aberta. Quanto à posição anterior/posterior da língua, as vogais são
classificadas em anterior, central e posterior; e quanto aos lábios estarem estendidos ou
arredondados, se utiliza: arredondado ou não arredondado.
As vogais, em semelhança às consonantes também possuem características
secundárias de articulação, que serão apenas citadas. São elas: Duração ([a:] duração longa,
[a.] duração média e [a] duração breve), Desvozeamento (que normalmente são vozeados,
contudo, em finais de palavra pode se omitir a voz na vogal não acentuada, como por
exemplo, em "sapo" = sap e "bote" = bot) e Tensão (caqui) / frouxidão (vogais átonas, ex:
castanha) (CRISTÓFARO, 1998; MOTTA, 1985).
Ainda são classificadas quanto à ressonância: vogais nasais e orais (CRISTÓFARO,
1998; MOTTA, 1985; CALLOU E LEITE, 1990). A diferenciação de uma e outra acontece
da mesma forma que nas consoantes, onde o palato mole levantado direciona a corrente de ar
para a boca, ou permanece em posição neutra permitindo a passagem para as cavidades nasais
(ISSLER, 1983). Nas vogais nasais é acrescentado o símbolo [~], exemplo: [ã].
Foram encontrados diversos artigos sobre a produção das vogais, investigações sobre a
fisiologia da produção das vogais. Em alguns infelizmente não se obteve o conteúdo total,
pois o autor não autorizou sua divulgação integral via internet, e não se encontravam cópias
53
nas bibliotecas locais. Sendo um tema demasiadamente complexo, com considerações
acústicas muito mais complexas do que as que este trabalho apresenta, a descrição da
formação das vogais não terá detalhamento que merece neste trabalho, que por ser bastante
interdisciplinar, levará com certeza mais do que apenas um ano para ser realmente concluído.
Abaixo se encontra um quadro com as vogais do português brasileiro e suas
respectivas classificações:
Vogais Orais
Anterior Central Posterior
não-arred arred não-arred arred não-arred arred
alta i І ĩ ɨ u ʊ ũ
média-alta e ẽ o õ
média-
baixa ε ʌ ɔ
baixa a ə ã
Tônicas: i e ε a ɔ o
Pretôncas: i e ε a ɔ o u
ε ɔ sufixos, harmonia
Postônicas: i І ĩ e ε a ə ɔ o u ʊ
i e ε a o ɔ ʊ u estilo formal
Vogais Nasais: ĩ ẽ ã õ ũ
4. RESULTADOS
O Referencial teórico proveniente do levantamento bibliográfico aborda
primeiramente as características anatômicas e fisiológicas dos órgãos responsáveis pela
produção da voz. Este estudo começa por esta descrição, pois se entende que antes de analisar
as mudanças no trato vocal durante a prática da técnica vocal, é preciso compreender as
estruturas que compõem o trato vocal e seu funcionamento.
Logo após, o estudo descreve diferenças entre a voz falada e a voz cantada,
discorrendo sobre ajustes no trato vocal21
e diferenças na respiração. Em seguida, o estudo
21 Trato vocal é o nome dado ao conjunto de órgãos que participam do processo de fonação.
54
abordou rapidamente sobre ressonância22
e projeção da voz, trazendo dados sobre os
ressonadores23
e seus aspectos anatômicos e posteriormente sobre os aspectos pertencentes à
acústica, como as freqüências da fala, formantes24
e alguns fenômenos acústicos que
acontecem no interior do trato vocal.
A seguir, o estudo trata dos músculos da articulação fonética, a classificação dos
segmentos consonantais e das vogais de acordo com modo e lugar de articulação, um exemplo
ortográfico, e uma sugestão da fonoaudiologia para o seu emprego.
Por último, o estudo traz tabelas resultantes das entrevistas com os estudantes de
canto, relatando porcentagens das principais queixas destes.
4.1 PRODUÇÃO E POSSÍVEL UTILIZAÇÃO DAS CONSOANTES EM TÉCNICA
VOCAL
Neste capítulo, será abordada a classificação das consoantes de acordo com o lugar e a
maneira de articulação e possíveis aplicações à técnica vocal. Não será feita uma descrição
muscular minuciosa devido à complexidade do tema. A intenção neste capítulo é apenas
ilustrar razoavelmente algumas alterações do trato vocal que tornam possíveis a produção
destes fonemas. Nas ilustrações, a seta negra representa o movimento dos articuladores, indo
do articulador ativo para o passivo. A seta azul indica o que acontece com a corrente de ar
vinda do pulmão. O zoom vindo da glote mostrando as pregas vocais fechadas ou abertas,
indica se há o uso de voz ou não, sendo importante frisar que nem sempre a adução das pregas
vocais é completa e igual como está na figura. Não se obteve a informação exata pela
impossibilidade de realização dos exames descritos no método. O véu palatino levantado ou
abaixado também ilustra de maneira muito precária a ressonância de boca ou de cavidades
nasais, sendo mais uma vez muito importante entender que o levantamento do véu palatino
nem sempre acontece da mesma maneira. Pinho (2008, p. 28) cita que existem diferenças na
altura do palato mole quando observadas a fonação de fonemas fricativos vozeados e
desvozeados.
22 “Fenômeno físico pelo qual o ar que existe dentro de uma cavidade é suscetível de vibrar com freqüência determinada
por influência de um corpo sonoro, produzindo reforço de vibrações” (BUENO, 1996) 23 Ressonadoras são estruturas (músculos, ossos, cartilagens ou cavidades) onde ocorre o fenômeno da ressonância da voz. 24 Formantes: “faixas de freqüências que concentram maior energia acústica”. (RUSSO,?)
55
Classificação: Oclusiva bilabial vozeada.
Como é artidulada: o véu palatino se levanta, o lábio inferior toca o lábio superior, de
maneira a formar uma obstrução completa da passagem de ar.
Exemplo ortográfico: “babá”
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2001) recomenda dois tipos de
exercícios diferentes com esta consoante. O primeiro de plosão curta (seguida de vogal
neutra) faz com que a laringe se abaixe e provoca firmeza nesta musculatura. Este exercício é
recomendado para obter estabilidade fonatória para os cantores que tem instabilidade em
determinada região da tessitura (normalmente os graves), corrigir assimetrias de fase
vibratória entre as pregas vocais, auxilia a passagem de registro sem quebra.
Outro tipo de exercício é o de plosão prolongada. Com o palato levantado, preenche-se
a cavidade bucal com ar, mantendo a sonorização por alguns segundos e posteriormente
liberando uma vogal com suavidade ("[b]+vogal"), onde podem ser utiizadas todas as vogais.
Neste exercício existe a participação da musculatura extrínseca, mais precisamente do
músculo tiroióideo que aproxima o osso hióide da cartilagem tireóide, beneficiando a
medialização das pregas ventriculares (PINHO, 2001). Outros benefícios deste exercício são:
o aumento da firmeza glótica, aumento do fechamento velofaríngeo, elevação ou abaixamento
de laringe, beneficia intensamente portadores de fendas fusiformes e hipocinesias.
56
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: “Biru biru biru biru bi”,
dentro de um intervalo de quinta justa ; “Brim brei brim
brei brim” dentro de um intervalo de quinta justa . Não foi
observado por alunos desta instituição a utilização da segunda modalidade que Pinho (2001)
recomenda.
Classificação: Oclusiva bilabial desvozeada.
Como é artidulada: o véu palatino se levanta, o lábio inferior toca o lábio superior, de
maneira a formar uma obstrução completa da passagem de ar.
Exemplo ortográfico: “pai”
Possível utilização em técnica vocal: Pinho indica exercícios com esta consoante em
terapia vocal para tratar de hipocinesias (falta de agilidade na adução e abdução das pregas
vocais), e sua sugestão de exercício seria a fonação de “pipipi” fazendo pressão com os lábios.
Para cantores com pouca agilidade respiratória, este pode ser um bom artifício para
57
desenvolver mais agilidade, pois a consoante “p” carrega maior energia (PINHO, 2001; p.9), e
tende a exercitar o músculo CAP, responsável pela abdução das pregas vocais.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: Não foi observado o uso
deste fonema em exercícios de treinamento vocal por alunos desta instituição. Porém, foi seu
uso foi notado durante uma aula de canto popular do Conservatório de MPB de Curitiba, no
seguinte vocalize: “A Paula Morelembaum mora no leblon”
.
Classificação: Oclusiva alveolar desvozeada.
Como é artidulada: o véu palatino se levantada, o ápice ou lâmina da língua toca os
alvéolos, de maneira a formar uma obstrução completa da passagem de ar.
Exemplo ortográfico: “Tatu”
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2008, p. 23) afirma que a prática da
repetição deste segmento consonantal (“ttttt”) sem vogal é favorável para exercitar o músculo
CAP, sendo assistencial à inspiração mais ágil. Neste fonema também há ação do músculo
genioglosso, responsável por levantar a ponta da língua, e um exercício com t acrescido das
sete vogais orais e as cinco nasais, colocado em contraposição com outras consoantes na
58
mesma palavra, pode ser realizado para melhorar a dicção. Exemplos: “tr + vogais”, “pataka,
matraka...”.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: “tritritritritri” em
intervalos de terça maior e quinta justa, ascendentes e descendentes. “vivir per te, per te amar,
per te morir, morir per te” em intervalos ascendentes e descendentes de oitava.
Classificação: Oclusiva alveolar desvozeada.
Como é articulada: o véu palatino se levanta, o ápice ou lâmina da língua toca os
alvéolos, de maneira a formar uma obstrução completa da passagem de ar.
Exemplo ortográfico: “dois”
Possível utilização em técnica vocal: Este fonema é sugerido por Pinho (2001) para
trabalhar dicção em conjunto com r ou l e combinada a vogais. Pinho (2008) recomenda
exercícios de curta duração em escala descendente para corrigir quebras na passagem de
registro e/ou alguma instabilidade fonatória em determinada região25
da tessitura de cantores.
Também pode ser realizado como exercício o prolongamento desta consoante terminando na
liberação de da vogal aberta [a], sendo um bom exercício para promover maior eficiência na
25 Pinho (2008) não especifica qual região da tessitura. Contudo durante esta pesquisa,
59
adução de pregas vocais e obtenção de maior firmeza glótica. Contudo, neste último exercício
pode ocorrer discreta elevação da laringe, o que talvez não seja tão interessante para os
cantores eruditos.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: “un jardin di fiori”
. Não foi observada sua utilização como na
sugestão acima.
Classificação: Oclusiva velar desvozeada.
Como é articulada: o véu palatino se levantada, a parte posterior da língua toca o ao
palato mole, produzindo uma obstrução completa da passagem de ar.
Exemplo ortográfico: “casca”
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2008, p. 23) afirma que a prática da
repetição desta consoante (“kkkk”) sem vogal é favorável para exercitar o músculo CAP,
sendo assistencial à inspiração mais ágil. Também poderia ser utilizada para melhorar a
dicção, trabalhando a parte posterior da língua. Muitos cantores se queixam de tensão nesta
região, sendo assim, esta consoante pode ser útil para este fim, mais ainda precisaria de
comprovação por testes EMS.
60
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com este fonema pelos alunos desta instituição
Classificação: Oclusiva velar vozeada.
Como é articulada: o véu palatino se levanta, a parte posterior da língua toca o ao
palato mole, produzindo uma obstrução completa da passagem de ar.
Exemplo ortográfico: “gordo”
Possível utilização em técnica vocal: Em semelhança à consoante [d], Pinho (2008)
recomenda esta consoante para exercícios de curta duração em escala descendente,
objetivando corrigir quebras na passagem de registro e/ou alguma instabilidade fonatória em
determinada região da tessitura de cantores. Esta consoante também pode ser utilizada sendo
prolongada, terminando na liberação de da vogal aberta [a], sendo um bom exercício para
promover maior eficiência na adução de pregas vocais e obtenção de maior firmeza glótica.
Contudo, neste último exercício pode ocorrer discreta elevação da laringe maior do que
acontece com [d], o que talvez não seja tão interessante para os cantores eruditos.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com este fonema pelos alunos desta instituição.
61
Classificação: Africada alveopalatal desvozeada.
Como é articulada: o véu palatino se levanta, a parte anterior da língua se movimenta
em direção à parte medial do palato duro, causando na fase inicial uma obstrução completa da
passagem de ar. Na fase final, havendo soltura desta obstrução, os articuladores produzem
uma fricção, permitindo a passagem de ar ao centro
Exemplo ortográfico: “tia”
Possível utilização em técnica vocal: Infelizmente não foi encontrada na bibliografia
uma suposta função e uma sugestão de exercício com este segmento consonantal. Como não
foi possível realizar os exames nasofibroscópicos nos cantores, por hora, este segmento vai
continuar sem mais detalhes nesta descrição.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com este fonema pelos alunos desta instituição.
62
Classificação: Africada alveopalatal vozeada.
Como é articulada: véu palatino levantado, a parte anterior da língua se movimenta
em direção à parte medial do palato duro, causando na fase inicial uma obstrução completa da
passagem de ar. Na fase final, havendo soltura desta obstrução, os articuladores produzem
uma fricção, permitindo a passagem de ar ao centro.
Exemplo ortográfico: "dia"
Possível utilização em técnica vocal: Infelizmente também não foi encontrada na
bibliografia uma sugestão de exercício com este segmento consonantal. Contudo, este
segmento é a junção da ocusiva [d] com a fricativa [Ʒ], ambas recomendadas por Pinho
(2008) com utilidades diferentes. A primeira aplicada em exercícios de retenção curta para
obter maior estabilidade fônica, corrigir passagens de registro com quebra, ou longa para
promover maior eficiência na adução de pregas vocais. A segunda utilizada para o tratamento
de “quadros de edema crônico, nódulos vocais e quadros hiperfuncionais” (PINHO, 2008; p.
52). Sendo um fonema misto, o uso desta consoante africada poderia ser benéfico para o
conjunto de problemas? Infelizmente, não houve tempo hábil nesta pesquisa para responder
esta pergunta.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com este fonema pelos alunos desta instituição.
63
Classificação: Fricativa labiodental desvozeada.
Como é articulada: o véu palatino se levanta, o lábio inferior se aproxima dos dentes
incisivos superiores, causando fricção. A corrente de ar vinda do pulmão sofre apenas uma
obstrução parcial, permitindo que o ar passe ao centro.
Exemplo ortográfico: “filho”
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2008) recomenda a consoante [f]
prolongada para estimular a adução glótica. Esta consoante foi observada em prática em
apenas um exercício (“un jardin di fiori” partindo da nota fundamental da escala até a oitava
da mesma); praticado com intenção de melhorar a dicção e trabalhar a extensão vocal. Das 40
observações, foi utilizada somente em 12 dos treinos vocais, sendo mais usualmente utilizada
no treino respiratório.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap:: repetição de “s, f, ʃ, pá”
durante toda uma expiração; “un jardin di Fiori” dentro de um intervalo de oitava
.
64
Classificação: fricativa labiodental vozeada.
Como é articulada: o véu palatino se levanta, o lábio inferior se aproxima dos dentes
incisivos superiores, causando fricção. A corrente de ar vinda do pulmão é obstruída
parcialmente, permitindo a passagem de ar ao centro
Exemplo ortográfico: “vazio”
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2008, p. 52) indica a fonação
prolongada de [v] para “quadros de edema crônico, nódulos vocais e quadros
hiperfuncionais”. Já Behlau (2005, p. 354) aconselha a utilização do [v] em conjunto com [z]
e [Ʒ] prolongadamente para obter “projeção de voz no espaço”.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: Uma grande quantidade
de exercícios com [v] foi observada sendo praticada pelos alunos, combinando [v] com outras
consoantes e vogais, contudo seu uso isolado não foi observado. Alguns dos exercícios mais
frequentemente observados: “Vriu vriu vriu vriu vriu” em intervalo de quinta justa
, “Vizu vizu vizu vizu vi” em intervalo de quinta justa
, “viiiiioooooooo” em intervalo de sexta maior
65
, “vozo vozo vo” em intervalo de terça
maior , “vi vi vi vi vi vi vi vi vi” em intervalo de quinta justa
, “vi viú viú viú vi vi” em intervalo de quinta justa
.
Classificação: Fricativa alveolar vozeada.
Como é articulada: O véu palatino se levanta, o ápice ou lâmina da língua se
aproxima dos alvéolos, causando fricção. A corrente de ar vinda do pulmão sofre uma
obstrução parcial, permitindo a passagem do ar ao centro.
Exemplo Ortográfico: “zumbido”
66
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2008) aconselha a utilização de [z] da
mesma maneira e com as mesmas finalidades que as consoantes [v] e [Ʒ]. Behlau (2005)
também atribui as mesmas funções para estas consoantes, contudo com a finalidade de
trabalhar a projeção da voz, como citado na consoanteacima. Porém, é importante ressaltar
que apesar de aparentemente desenvolverem os mesmos efeitos sobre a musculatura intrínseca
da laringe, os articuladores trabalham de maneiras diferentes para a produção destas
consoantes. Estudos posteriores a esta pesquisa inicial talvez possam atribuir alguma pequena
diferença funcional entre elas.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: “ziu ziu ziu ziu zi” dentro
de intervalos de terça maior e quinta justa , “zi vri zi
vri zi” dentro de intervalos de terça maior e quinta justa , “zi zi”
em intervalos de terça maior , “zumi zumi zu” em intervalos de terça
maior e quinta justa .
67
Classificação: Fricativa alveopalatal desvozeada (CRISTÓFARO, 1998)
Como é articulada: O véu palatino se levanta, a parte anterior da língua se aproxima
da parte medial do palato duro, causando fricção. A corrente de ar vinda do pulmão sofre uma
obstrução parcial, com passagem de ar ao centro.
Exemplo ortográfico: “xadrez”, “chuchu”
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2008, p. 23) afirma que a fonação
prolongada de [ ʃ ], assim como de [f] e [s] são “provavelmente benéficas para estimular a
abdução glótica”. Como já foi ressaltado, diferentes mecanismos articulatórios são usados
para produção de cada uma destas consoantes, e estudos posteriores poderiam demonstrar
pequenas diferenças para a utilização de uma ou outra consoante, que não foram encontradas
na bibliografia pesquisada.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: foi observado o uso desta
consoante apenas para treinamento de resistência respiratória ([ ʃ ] ... prolongada).
Classificação: Fricativa alveopalatal desvozeada.
Como é articulada: O véu palatino se levanta, a parte anterior da língua se aproxima
da parte medial do palato duro, causando fricção. A corrente de ar vinda do pulmão sofre uma
obstrução parcial havendo passagem de ar ao centro.
Exemplo ortográfico: “jacaré”, “viagem”
68
Possível utilização em técnica vocal: Como já descrita em [dƷ], Pinho (2008) sugere
esta consoante, juntamente com [v] e [z] para o tratamento de “quadros de edema crônico,
nódulos vocais e quadros hiperfuncionais” (PINHO, 2008; p 52), assim como Behlau (2005)
para projeção da voz.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com este fonema pelos alunos desta instituição.
Classificação: Fricativa velar desvozeada.
Como é articulada: O véu palatino se levanta, a parte posterior da língua se aproxima
do palato mole, causando fricção. A corrente de ar vinda do pulmão sofre uma obstrução
parcial, havendo passagem de ar ao centro.
Exemplo ortográfico: Pronúncia típica do dialeto carioca : “raiz”, “macarrão”,
“martelo” (CRISTÓFARO, 1998).
Possível utilização em técnica vocal: Infelizmente não foi encontrada na bibliografia
uma suposta função e uma sugestão de exercício específica com este segmento consonantal.
Como não foi possível realizar os exames nasofibroscópicos nos cantores, por hora, este
segmento vai continuar sem mais detalhes nesta descrição.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com este consoante pelos alunos desta instituição.
69
Classificação: Fricativa velar vozeada.
Como é articulada: O véu palatino se levanta, a parte posterior da língua se aproxima
do palato mole, causando fricção. A corrente de ar vinda do pulmão sobre uma obstrução
parcial, havendo passagem de ar ao centro.
Exemplo ortográfico: Pronúncia típica do dialeto carioca “carga” (CRISTÓFARO,
1998).
Possível utilização em técnica vocal: Não foi encontrada na bibliografia uma
sugestão de uso específica para este fonema. Como não foi possível realizar os exames
nasofibroscópicos nos cantores, por hora, este segmento vai continuar sem mais detalhes nesta
descrição.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com esta consoante pelos alunos desta instituição.
70
Classificação: Fricativa glotal desvozeada.
Como é articulada: O véu palatino se levanta, os músculos ligamentais da glote
funcionam como articuladores. Cristófaro (1998) afirma que não há fricção audível no trato
vocal. A corrente de ar vinda do pulmão sofre uma obstrução parcial, havendo passagem de ar
ao centro.
Exemplo ortográfico: Pronúncia típica do dialeto de Belo Horizonte, “mar”, “carta”,
“marra” (CRISTÓFARO, 1998).
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2008, p 15) aconselha o uso de [ɦ]+ [o]
como “hô hô hô” do “Papai Noel” para promover a descida da laringe e subida do palato.
Como existem diferenças de pronúncia podem ser usados tanto [ɦ] como [h]. Como este
fonema faz com que os músculos da glote se comportem como articuladores, pode ser usado
para fortalecer tais músculos e em tratamento de hipocinesias? Infelizmente não houve
condições de responder a esta pergunta nesta pesquisa inicial.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com esta consoante pelos alunos desta instituição.
71
Classificação: Fricativa glotal desvozeada
Como é articulada: véu palatino em posição normal, músculos ligamentais da glote
funcionam como articuladores. Cristófaro (1998) afirma que não há fricção audível no trato
vocal. A corrente de ar vinda do pulmão sofre uma obstrução parcial, havendo passagem de ar
ao centro.
Exemplo ortográfico: Pronúncia típica do dialeto de Belo Horizonte “carga”.
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2008, p 15) aconselha o uso de [ɦ]+ [o]
como “hô hô hô” do “Papai Noel” para promover a descida da laringe e subida do palato
. Como existem diferenças de pronúncia podem ser usados tanto
[ɦ] como [h]. Como este fonema faz com que os músculos da glote se comportem como
articuladores, pode ser usado para fortalecer tais músculos e em tratamento de hipocinesias?
Infelizmente não houve condições de responder a esta pergunta nesta pesquisa inicial.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: “hô hô hô” do “Papai
Noel”
72
Classificação: Nasal bilabial vozeada
Como é articulada: O véu palatino permanece em posição neutra, o lábio inferior se
aproxima do ao superior. Há uma obstrução completa do ar na boca e, devido à posição neutra
do véu palatino, a corrente de ar vinda dos pulmões encontra passagem para as cavidades do
nariz.
Exemplo ortográfico: “mamadeira"
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2001, 2008) expõe várias utilidades para
os sons nasais e recomenda vários exercícios com [m]. Segundo Pinho (2001), estes sons
auxiliam a percepção de vibrações na região da face, melhoram a coaptação glótica e facilitam
a projeção vocal nas freqüências graves. De acordo com Behlau (2005) o trabalho com estes
sons nasais aumenta a ressonância da voz e dissipa a energia sonora no trato vocal,
melhorando a projeção da voz. Pinho (2008) cita que em nível anterior médio de emissão, [m]
direcionado aos lábios é mais freqüentemente usado no canto “belting”. Em canto erudito é
muito comum o uso do [m] de diversas maneiras no treinamento vocal. Pinho (2001) faz
sugestões para terapia vocal, que também podem ser usadas no treino de cantores:
1. “bocca chiusa” tradicional. Consiste em emitir um [m] nasal mantendo os lábios
juntos e arcadas dentarias próximas, sem tensão de lábios, mandíbula, língua e pilares
faríngeos. Este exercício auxilia a coaptação glótica, facilita a projeção vocal e
aumenta a percepção de vibrações na face, especialmente na região do nariz. Pode ser
realizada também a bocca chiusa em staccatos.
73
2. [m] misto. “Emissão de um [m] com a boca aberta, mas com os lábios unidos, língua
relaxada no soalho da boca, distante do véu palatino, que estará em posição neutra”
(PINHO, 2001, p 14). A função deste exercício é auxiliar a coaptação glótica, a
percepção das vibrações da face e a projeção vocal em freqüências graves, o que
constitui uma queixa técnica recorrente dos cantores.
3. “método mastigatório adaptado”. Neste exercício se alterna o uso da “bocca chiusa”
com o exercício do [m] misto, fazendo movimentos de mastigação lentamente. Pinho
(2001) recomenda que a partir do momento em que o indivíduo domine melhor a
musculatura respiratória, o número de mastigações pode aumentar e ser acrescido de
[mu] + vogal. Esta prática promove projeção vocal, adução mais efetiva das pregas
vocais e coordenação dos movimentos das estruturas do trato vocal e da soltura destas.
4. “minimini”. Pinho (2001) propõe este exercício que combina os sons nasais com a
vogal [i], pelos benefícios já descritos do som nasal, em especial a projeção,
combinados à constrição ariepiglótica e do dorso da língua mais o estreitamento do
trato vocal que a vogal [i] provoca. Estas constrições e o estreitamento beneficiam o
reforço de harmônicos agudos, e ainda auxiliam a metalização da voz, muito desejada
por cantores.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: Uma infinidade de
exercícios com [m] são comumente praticadas em técnica vocal:
“mimimi” em intervalos de terça maior ou quinta justa , “mei mai
mei mai mei” em intervalos de terça maior ou quinta justa ,
“mizu mizu mizu mizu mi” em intervalos de quinta justa
, “miniminiminiminimi” em intervalos de quinta justa
, e [m] + vogais com distâncias tonais variadas, além da
bocca chiusa tradicional, [m] misto e do método mastigatório, já descritos acima.
74
Classificação: Nasal alveolar vozeada
Como é articulada: O véu palatino permanece em posição neutra, o ápice ou lâmina
da língua se movimenta em direção aos alvéolos. Há uma obstrução completa do ar na boca e,
devido à posição neutra do véu palatino, a corrente de ar vinda dos pulmões encontra
passagem para as cavidades do nariz.
Exemplo ortográfico: “nariz”
Possível utilização em técnica vocal: Behlau (2005), juntamente com os outros sons
nasais, recomenda o uso de [n] prolongado e modulado para aumentar a ressonância e dissipar
a energia sonora no trato vocal. Pinho (2008) quando se refere aos diversos níveis de projeção
vocal, fala sobre o [n] em nível anterior de emissão, com ressonância direcionada à raiz nasal
sendo freqüentemente usada em canto erudito. De acordo com esta autora, esta posição
aumenta o espaço entre o véu palatino e a laringe. Pinho (2001) recomenda a produção de [n]
com a boca aberta (por meio da oclusão da língua contra a papila palatina), para o reforço de
tons médios da tessitura vocal de cantores.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: [n] prolongado seguido de
vogais em coloratura "na-u-u-u-na-u-u-u-na-u-u-u-na-u-u-u-na-u-u-u-na-u-u-u-na..."
, “ni-ne-na-ni-
75
ne-na-ni-ne-nó” em staccato dentro de um intervalo descendente de quinta justa
, “nó ó ó ó ó” staccato em intervalos de terça maior
e quinta justa ascendente e descentente .
Classificação: Nasal palatal vozeada
Como é articulada: O véu palatino se encontra em posição neutra, a parte média da
língua se movimenta em direção à parte final do palato duro. Há uma obstrução completa do
ar na boca e, devido à posição neutra do véu palatino, a corrente de ar vinda dos pulmões
encontra passagem para as cavidades do nariz.
Exemplo ortográfico: “manha”
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2008, p 32) afirma que a produção deste
som “auxilia na manutenção da ressonância vertical”. Pinho (2001, p 15) aconselha a
emissão de [ɲ], fonema que produz o som de “nh”, de “boca aberta, lábios separados, pilares
faríngeos sem tensão e dorso de língua alto, impedindo o direcionamento do som para a
boca”. A autora relata que este exercício se mostrou muito eficiente para cantores que sofrem
76
com extrema tensão de base de língua e depressão da região medial, chamada popularmente
de “panelinha na língua”. Além disso, permite ampliar a tessitura dos cantores na região
aguda, realçando os harmônicos agudos e promovendo maior efetividade glótica (PINHO,
2001).
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com este fonema pelos alunos desta instituição.
Classificação: Tepe alveolar vozeado
Como é articulada: O véu palatino se levanta, o ápice ou lâmina da língua toca
rapidamente os alvéolos, havendo uma obstrução rápida da passagem do ar.
Exemplo ortográfico: “vara”, “braço”, em alguns dialetos26
: “corpo”, “par”
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2001) aconselha seu uso em exercícios
de dicção, combinada com outros segmentos consonantais. Não foi encontrada na bibliografia
uma sugestão de uso específica para este fonema. Na prática de aquecimento vocal pelos
alunos da embap, o [ ſ ] normalmente é usado combinado à outros fonemas (consonantes +
vogais) com intenção de melhorar a dicção. Como não foi possível realizar os exames
nasofibroscópicos nos cantores, por hora, este segmento vai continuar sem mais detalhes nesta
descrição.
26 Exemplo: moradores de São Paulo – SP, moradores do oeste Paranaense.
77
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: biru biru biru biru bi
, brim brei brim brei brim , vriu
vriu vriu vriu vriu .
Classificação: Vibrante alveolar vozeada
Como é articulada: O véu palatino se levanta, o ápice da língua toca algumas vezes o
palato duro, causando vibração. A corrente de ar vinda dos pulmões não tem obstrução.
Exemplo ortográfico: Pronúncia típica do português europeu, ocorre apenas em
alguns dialetos do português brasileiro. Ex: “barraca”, “raiz”
Possível utilização em técnica vocal: Behlau (2005) recomenda a técnica de vibração
em tons médios e posteriormente nas escalas musicais para beneficiar a movimentação da
mucosa ondulatória das pregas vocais. Pinho (2001) afirma que a vibração de língua é um
bom exercício para tratar a tensão lingual. Pinho (1998) explica que este aumento da
amplitude vibratória da mucosa ocorre por aumento da pressão subglótica devido ao aumento
78
da pressão subaérea, e recomenda que o exercício seja feito com protrusão dos lábios para
evitar tensões na face e no pescoço .
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: Vibração de língua dentro
de variados intervalos tonais, rili roli rili .
Classificação: Retroflexa alveolar vozeada
Como é articulada: O véu palatino levantado, o ápice ou lâmina da língua se encurva
em direção aos alvéolos. Ocorre uma obstrução central da corrente de ar, sendo expelida pelas
laterais.
Exemplo ortográfico: Pronúncia típica do dialeto caipira. Ocorre em final de sílaba.
“porta”, “mar”.
Possível utilização em técnica vocal: Não foi encontrada na bibliografia uma
sugestão de uso específica para este fonema. Como não foi possível realizar os exames
nasofibroscópicos nos cantores, por hora, este segmento vai continuar sem mais detalhes nesta
descrição.
79
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com este fonema pelos alunos desta instituição.
Classificação: Lateral alveolar vozeada
Como é articulada: O véu palatino se levanta, o ápice ou lâmina da língua toca os
alvéolos. Ocorre uma obstrução central da corrente de ar, sendo expelida pelas laterais.
Exemplo ortográfico: “loteria”, “planície”.
Possível utilização em técnica vocal: Pinho (2001) aconselha seu uso em exercícios
de dicção, combinada com outros segmentos consonantais. Não foi encontrada na bibliografia
uma sugestão de uso específica para este fonema. Na prática de aquecimento vocal pelos
alunos da embap, o [ l ] normalmente é usado combinado à outros fonemas (consonantes +
vogais) com intenção de melhorar a dicção. Como não foi possível realizar os exames
nasofibroscópicos nos cantores, por hora, este segmento vai continuar sem mais detalhes nesta
descrição.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: “liu liu liu liu liu”
.
80
[ ɫ ] ou [w] - Classificação: Lateral alveolar vozeada velarizada
Como é articulada: O véu palatino se levanta, o ápice ou lâmina da língua toca os
alvéolos e, em seguida, a parte posterior da língua se movimenta em direção ao véu palatino.
Ocorre uma obstrução central da corrente de ar, sendo expelida pelas laterais.
Exemplo ortográfico: Ocorre em alguns dialetos no final da sílaba. “malte”, “sal”.
Possível utilização em técnica vocal: Não foi encontrada na bibliografia uma
sugestão de uso específica para este fonema. Como não foi possível realizar os exames
nasofibroscópicos nos cantores, por hora, este segmento vai continuar sem mais detalhes nesta
descrição.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com este fonema pelos alunos desta instituição.
Classificação: Lateral palatal vozeada
Como é articulada: O véu palatino levantado, a parte média da língua se movimenta
em direção à parte final do palato duro. Ocorre uma obstrução central da corrente de ar, sendo
expelida pelas laterais.
Exemplo ortográfico: “filho”
Possível utilização em técnica vocal: Não foi encontrada na bibliografia uma
sugestão de uso específica para este fonema. Como não foi possível realizar os exames
81
nasofibroscópicos nos cantores, por hora, este segmento vai continuar sem mais detalhes nesta
descrição.
Exemplo de exercício praticado pelos alunos da Embap: não foi observada a
prática de exercícios com este fonema pelos alunos desta instituição.
4.2 PRODUÇÃO E POSSÍVEL UTILIZAÇÃO DAS VOGAIS EM TÉCNICA VOCAL
Como já falado no capítulo sobre segmentos vocálicos, não houve base teórica e
prática suficiente para produzir uma descrição detalhada de funções das vogais nos exercícios
de técnica vocal. Contudo, algumas importantes observações devem ser feitas com relação ao
seu uso.
A configuração do trato vocal é em grande parte comandada pela posição da língua,
lábios e mandíbulas. Conforme a mudança desta configuração, teremos ênfase em freqüências
diferentes, originando vogais diferentes. Estas freqüências que dão identidade as vogais são
normalmente o primeiro e segundo formantes (F1 e F2), e têm relação com as cavidades
posterior, atrás do ponto máximo de contração lingual, e anterior à constrição lingual (PINHO
E CAMARGO, 2001). Behlau (2005) descreve que os cantores líricos realizam algumas
constições, entre elas a constrição ariepiglótica, e que neste caso não são consideradas
necessariamente um problema, mas sim a criação de novas cavidades de ressonância, e
acrescimento de outras características ao timbre normal, como o “metal” na voz. Estas
constrições, combinadas a vogal certa podem trazer melhora para cantores que se queixam de
“ressonância baixa”? Infelizmente, por hora não houve embasamento teórico prático
suficiente para respondê-la corretamente, sem cair em uma mera especulação. Esta pergunta
certamente pode ser respondida, com a observação de exames nasofibroscópicos e
estroboscópicos, observando as mudanças no trato vocal e as mudanças acústicas entre uma
vogal e outra.
Cantores que possuem hipernasalidade na voz devem evitar as consoantes e vogais
nasais como [ i ] em uso isolado, pois elas permitem que o palato permaneça em posição
neutra, favorecendo ainda mais o som nasal. Hanayama, Pinho e Tsuji (2001) descrevem
vários motivos para o som hipernasal, um deles a incompetência velofaríngea, e falam sobre a
afirmativa de Piccoli (1998), o qual acredita que o treino articulatório pode ser suficiente para
82
corrigir a ressonância vocal, obtendo o controle da nasalidade. Para tanto, recomenda-se o
encadeamento de seqüências articulatórias difíceis, colocando os fonemas nasais
posteriormente aos orais.
Em diversas literaturas de Pinho (1998, 2001 e 2008) a fonação da vogal [i] é
recomendada por ter uma maior eficiência adutora, ainda facilitando a constrição ariepiglótica
descrita acima, contribuindo para o surgimento da formante do cantor. Além disso, devido à
elevação do dorso da língua, esta vogal favorece a constrição dos pilares faríngeos e o
estreitamento do trato vocal, favorecendo os harmônicos agudos.
No caso da vogal [a], Behlau (2005) sugere a fonação de um som basal em [a]
prolongado, com uma freqüência grave e sem constrições para promover a ação máxima do
músculo TA. Pinho (2008) indica o uso desta vocal juntamente com as consoantes nasais para
direcionar o canto (ou a fala) para este nível de projeção.
No que se refere ao [u], Pinho (2008) aconselha seu uso para promover alongamento
do trato vocal. Esta mesma autora afirma que uma boa prática para driblar as quebras na
passagem de um registro para outro seria o exercício de “cobertura” utilizando a abertura de
garganta (palato mole levantado e laringe baixa), “fechando” as vogais “ô” em “u”, “ê” em “i”
e “a” em “â” em escalas ascendentes, utilizando o “biquinho francês” para abrir espaços
ressonantais.
5 DISCUSSÃO
Pinho e Scarpel (2003), comentam sobre a importância do aquecimento vocal para os
cantores, considerados de acordo com Behlau (2005) atletas vocais. De acordo com as
primeiras autoras, um bom aquecimento vocal é imprescindível a uma boa performance vocal,
à similaridade do aquecimento muscular do esportista.
A pesquisa de Sartori (1996) demonstrou que tanto os cantores profissionais quanto os
estudantes de canto entrevistados tinham consciência da necessidade de conhecer a fisiologia
do seu instrumento, e Sartori (1996) conclui que este conhecimento é indispensável à prática
vocal como forma de evitar maus hábitos vocais que podem prejudicar a técnica do canto
erudito.
83
Inicialmente, este projeto tinha a intenção de fazer apenas observações em sala de
aula, exames e máster classes, principalmente de alunos do curso Superior de Canto da
EMBAP. Contudo, apesar de concordarem em preencher os questionários, grande parte destes
alunos não se mostrou muito receptiva em responder com honestidade e imparcialidade o
questionário, se negando a responder questões como idade e problemas técnicos que mais
incomodam. Por este motivo, havendo um segundo questionário a ser preenchido, foi aplicado
em forma de entrevista, momento em que alguns alunos se tornaram mais receptivos a
fornecer respostas.
Durante esta pesquisa foram entrevistados 16 alunos e 1 professor(a) de canto, ainda
atuante profissionalmente. A média de idade, descontando 3 indivíduos que se negaram a
responder é de 24 anos. A média de experiência em canto dos alunos, descontando a
experiência do único docente entrevistado (a), é de 4,21 anos de prática. Quanto à escola
vocal mais utilizada, 82,35% diz utilizar a escola italiana de canto e 11,76% diz utilizar outra
escola, que não as mencionadas no questionário, tendo uma negativa de resposta. Contudo,
deste total de 82, 35%, 21,43% demonstrou práticas vocais diferentes das pregadas pela
escola italiana de canto, como diferenças de apoio e colocação da ressonância vocal. A seguir
uma tabela que delineia o perfil dos cantores:
Sujeito# Idade Gênero Experiência
(anos)
Naipe* Escola
1 21 f 5 ms Italiana
2 22 f 6 s Italiana
3 19 f 3 s Italiana
4 29 f 3 s Italiana
5 24 f 5 s Outra
6 Não respondeu m 5 b Outra
7 Não respondeu f 4 s Italiana
8 27 f 6 ms Italiana
9 19 f 1 e ½ S Italiana
84
10 38 m 12 B Italiana
11 18 f 2 ms Italiana
12 17 m 1 bb Italiana
13 32 f 2 s Não respondeu
14 24 m 4 ct Italiana
15 31 m 4 B Italiana
16 24 f 4 S Italiana
17 Não respondeu f 24 S Italiana
*simbologia:
(s): soprano, (ms): mezzo-soprano, (ct): contra-tenor; (b): barítono; (bb): baixo barítono.
(f) feminino; (m) masculino.
100% dos entrevistados consideram importante o conhecimento fisiológico da
voz, contudo, nos questionários respondidos, apenas 5,88% acredita ter um
conhecimento excelente de fisiologia da voz, dominando nomes e funções e
funcionamento das estruturas envolvidas no processo de produção da voz. 35,29%
acreditam ter um bom conhecimento de fisiologia da voz, conhecendo de modo mais
generalizado quais são e como funcionam as estruturas envolvidas no processo.
47,06% acreditam ter um conhecimento razoável de fisiologia da voz, onde
compreendem mais o funcionamento, sem tantos detalhes das estruturas do trato vocal.
11,76% admitem ter um conhecimento insuficiente de fisiologia da voz. Quanto ao
desaquecimento vocal, 88,24% admitiram não praticar após o ato de cantar.
Quanto à função das vogais e consoantes que formam os exercícios utilizados
para o desenvolvimento da técnica vocal do estilo discutido neste estudo, 5,88% afirma
compreender completamente a função dos exercícios que utiliza. 11,76% afirmam
conhecer a função da maioria dos exercícios. 35,29% dizem ter apenas uma idéia
superficial, conhecendo a finalidade de poucos fonemas dentro dos exercícios.
Infelizmente, 47,06% admitem não fazer idéia da finalidade de grande parte dos
exercícios praticados, sabendo apenas que servem para aquecimento vocal e
conhecendo apenas a função dos exercícios para treinamento de “coloratura” (agilidade
85
para produzir diversas notas), “staccato” (notas destacadas) e fraseado musical. O
exemplo mais citado por todos os grupos foi a utilização do exercício de “bocca chiusa”
para trabalhar a ressonância e consoantes vibrantes para trabalhar projeção.
As principais queixas técnicas relatadas foram: “tensão nos agudos”,
“ressonância baixa”, “ressonância nasal”, “golpe de glote”, “tensão de língua”,
“dificuldade para sustentação de notas agudas”, “tensão de mandíbula ou pescoço”,
“deficiência articulatória” e “dificuldade de sustentação do ar”. Nas tabelas abaixo,
observa-se diferenças entre as dificuldades técnicas relatadas nos questionários, e as
observadas durante as práticas coletivas de canto.
Problemas técnicos relatados:
Sujeito# 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Porcentagem
Tensão nos
agudos
X X 11,76
Ressonância
baixa
X X X X X X 35,29
Ressonância
exessivamen-te
nasal
X 5,88
Sustentação do
ar
X X 11,76
Golpe de glote X 5,88
Tensão de
língua
X X X X 23,52
Tensão de
mandíbula
E/ou pescoço
X X X 17,65
Sustentação de
notas agudas
X 5,88
Articulação X X X X 23,52
Passagens de
registro
X X 11,76
Reprodução de
Stacatto
X 5,88
Quadro de problemas técnicos relatados mais observados:
86
Sujeito# 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Porcent
agem
Tensão nos
agudos
X X 11,76
Ressonância
baixa
X X X X X X X X 47,06
Ressonância
nasal
X 5,88
Sustentação do
ar
X X 11,76
Golpe de glote X 5,88
Tensão de
língua
X X X X 23,52
Tensão de
mandíbula e/ou
pescoço
X X X 17,65
Sustentação de
notas agudas
X 5,88
Articulação X X X X X X 35,29
Passagens de
registro
X 5,88
Metal X X X X 23,52
A diferença entre uma tabela e outra pode ser causada por vários motivos: desde
constrangimento em falar de suas dificuldades até falta de propriocepção.
Com o devido conhecimento de como os fonemas são produzidos, e em que cada um
pode nos ajudar dentro de técnica vocal, não seria mais fácil a evolução e correção destas
queixas? Existe uma geração de bons professores de canto, como Marconi Araújo e Felipe
Abreu, que acreditam nisso. Este tema foi abordado tanto em máster class ministrado pelo
primeiro professor (2010) quanto pelo segundo (2009).
Existem várias causas para as dificuldades descritas acima. Infelizmente não foi
possível identificar os motivos reais pelos quais cada uma delas acontece com os voluntários
que participaram da pesquisa sem a realização dos exames nasofibroscópicos. Sendo assim,
tivemos de nos ater às causas gerais.
A maior parte das causas das dificuldades descritas acima, assim como as sugestões
ultrapassar estes problemas já foram abordadas neste trabalho.
Contudo, relembraremos algumas das principais, e citaremos algumas outras. Uma
causa comum para a tensão nos agudos é a elevação da laringe, que pode ser trabalhada com o
exercício do “espaguete”. A ressonância baixa pode ser trabalhada com consoantes e vogais
nasais, enfatizando a passagem do ar para as cavidades nasais e a percepção da vibração da
face. Já no caso de uma ressonância hiper nasal, o trabalho deve ser feito focando o uso de
87
vogais orais, e articulação de seqüências complexas, contrapondo consoantes e vogais orais
com nasais. Em caso de dificuldade para levantar o véu palatino, existe também o recurso do
bocejo.
O músculo responsável pela produção de notas agudas é o CT, que além dos
exercícios já citados, também pode ser trabalhado com uso de falsete em registros
hiperagudos (PINHO, 2008).
O “golpe de glote”, também chamado de adução abrupta das pregas vocais, pode ser
evitado com a passagem de uma consoante fricativa desvozeada para uma vozeada,
estimulando a adução suave das pregas vocais (PINHO, 2001).
No caso da insuficiência respiratória, muitas vezes acontece por falta de da prática de
um modelo respiratório correto, que neste trabalho adotamos como a respiração intercostal
diafragmática. A prática do “apoio” correto, que conserva as costelas abertas, pode ser muito
útil para manter o fluxo expiratório constante. Outro motivo para a dificuldade de sustentação
da respiração é a falta de agilidade do CAP, músculo responsável pela abdução das pregas
vocais, facilitando a entrada de ar nos pulmões. Para malhar este músculo, Pinho (2008) e
Behlau (2005) aconselham o uso de atividades plosivas e fricativas desvozeadas, respiração
forçada rápida, sussurro forte e cochicho.
Em alguns casos, a instabilidade no canto pode ser provocada por presença de
patologias (fendas, nódulos, pólipos, etc), e é importante frisar que, por maior que seja o
conhecimento do cantor, é muito importante o contato dos cantores e demais profissionais da
voz com os profissionais da saúde nas áreas de fonoaudiologia e otorrinolaringologia.
CONCLUSÃO
Nesta pesquisa, concluímos que muitos cantores não têm plena consciência da
finalidade dos exercícios que praticam. 35,29% dos cantores entrevistados tem apenas uma
noção muito superficial da função dos vocalizes praticados e da participação dos fonemas no
papel deste, e 47,06% dos estudantes de canto afirmam não saber realmente para que servem
os exercícios e a função das vogais e consoantes dentro destes.
A literatura nos mostrou diversas utilidades para as consoantes e vogais, dentre elas,
melhorar a projeção da voz, como no caso das consoantes fricativas vozeadas, melhorar a
ressonância da voz utilizando vogais e consoantes nasais, obter maior firmeza da musculatura
88
do trato vocal com a retenção longa de consoantes oclusivas, e de plosão curta com as
mesmas consoantes para obter estabilidade em regiões instáveis da tessitura de cantores.
Consoantes vibratórias são muito importantes para trabalhar a projeção da voz no espaço,
além de mobilizarem a mucosa da prega vocal. Consoantes tepes e laterais também são
ferramentas muito úteis para o trabalho articulatório e para eliminar tensões de língua.
A emissão de vogais também é muito útil dentro de técnica vocal. O fechamento de
vogais abertas em fechadas também pode ser bastante proveitoso para corrigir quebras na
passagem de registro. A vogal "i" produz algumas constrições no trato vocal que criam novas
cavidades de ressonância e conferem timbre metálico à voz dos cantores. A vogal "u" é uma
ferramenta valiosa para alongar a musculatura do trato vocal.
Para finalizar, gostaria de frisar que a intenção deste trabalho não foi a de solucionar
todas as dificuldades técnicas dentro do estudo do canto erudito, e que nada substitui a prática
e o estudo. Este trabalho apenas soma informações que podem facilitar esta jornada,
esclarecendo alguns questionamentos, sem ter a pretensão de ditar um único caminho.
89
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91
APÊNDICES
APÊNDICE 1 – QUESTIONÁRIO.......................................................................................92
APÊNDICE 2 – ROTEIRO DE ENTREVISTAS...............................................................93
APÊNDICE 3 – LEVANTAMENTO DE TÍTULOS NECESSÁRIOS À CONCLUSÃO
DA PESQUISA........................................................................................................................94
APÊNDICE 4 – ILUSTRAÇÕES DA CONFIGURAÇÃO DO TRATO VOCAL PARA
FONAÇÃO DE SEGMENTOS CONSONANTAIS............................................................96
92
APENDICE 1 - QUESTIONÁRIO
Idade:
Sexo: ( )M ( )F
1 A quanto tempo desenvolve estudo da técnica vocal erudita?
2 Qual a escola empregada?
( )Italiana ( )Alemã ( )Inglesa ( )Francesa ( )Russa ( )Outra:
3 De que maneira você definiria seu conhecimento de fisiologia da voz?
( ) excelente
( ) bom
( ) razoável
( ) insuficiente
4 Existe algum problema técnico ligado à ressonância?
5 Existe alguma queixa com relação à dicção e produção dos fonemas?
6 Qual o fonema (seja consoante ou vogal) em que existe mais dificuldade de
articulação?
7 O que você acredita que seja a causa dos problemas acima citados?
8 Qual o problema técnico em geral que mais te incomoda de maneira geral?
93
APENDICE 2 – ROTEIRO DE ENTREVISTA
1 Você considera importante o conhecimento de fisiologia da voz para a prática do
canto?
3 Você compreende a função dos exercícios praticados no treinamento vocal? De
que maneira?
( ) compreende completamente os exercícios que utilizo. Comentários:
( ) conhece a função da maioria dos exercícios.
( ) tem uma idéia superficial, conhecendo a finalidade de apenas alguns.
Comentários:
( ) não faz idéia para que servem... Comentários:
2 Quais os exercícios que você costuma usar para o aquecimento vocal e estudo de
técnica vocal?
3 Você saberia dizer a função de algum destes exercícios? Tente citar uma para
cada um deles.
4 Existe o costume de desaquecimento vocal depois de cantar?
94
APÊNDICE 3 – LEVANTAMENTO DE TÍTULOS NECESSÁRIOS À CONCLUSÃO
DA PESQUISA
BUNCH, M. Dynamics of singing voice. New York: Springer, 1982.
CARROL L, M.; SATALOFF, R.T.; HEUER, R.J.; SPIEGEL, J.R.; RADIONOFF, K.; COHN, J.R. Respiratory and
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português do Brasil. São Paulo: FFLCH-USP, 1990. Tese de doutoramento.
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constriction to “ringing” voice quality: a videolaryngoscopic study wih acoustic analysis.
96
APÊNDICE 4 – ILUSTRAÇÕES DA CONFIGURAÇÃO DO TRATO VOCAL PARA
FONAÇÃO DE SEGMENTOS CONSONANTAIS
Ilustrado por: Fernanda Baglioli Machado Pereira