MODELO DE REGRESSÃO LOGÍSTICA APLIACADO A DOR
DENTÁRIA E FATORES ASSOCIADOS EM PACIENTES
PORTADORES DE COAGULOPATIAS
Larycia Vicente Rodrigues Departamento de Estatística. - UFPB.
Rua Iolanda Eloy de Medeiros, 101, Bloco A, apto 1104, Água
Fria. João Pessoa – PB. CEP:58053-028. E-mail:
Mayara dos Santos Camêlo Moreira Departamento de Clínica e Odontologia Social – UFPB
Rua Paulino dos Santos Coelho, 95
Jardim Cidade Universitária. CEP:58052-720
João Pessoa, Brasil Email: [email protected]
Carla Ramos de Oliveira Departamento de Clínica e Odontologia Social – UFPB
R. Fernando Luiz Henrique dos Santos, 451
CEP: 58037-050, Bessa
e-mail: [email protected]
Julia Julliêta de Medeiros Departamento de Estatística. - UFPB
Cidade Universitária, s/n, CEP: 58051-900
João Pessoa, PB, Brasil
E-mail: [email protected]
Eufrásio De Andrade Lima Neto Departamento de Estatística - UFPB
Cidade Universitária, s/n,CEP 58.051-900
e-mail: [email protected] João Pessoa - PB, Brasil
Ana Maria Gondim Valença Departamento de Clínica e Odontologia Social – UFPB
Av. Jacinto Dantas 94/206, Manaíra, João Pessoa, PB
CEP 58038-270 e-mail: [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: Métodos Estocásticos e Estatísticos; Doenças Hematológicas; Regressão
Logística; Dor de Dente;
RESUMO: objetivou-se a identificar a associação de fatores relacionados a dor dentária em
pacientes portadores de coagulopatias, através da regressão logística. A amostra foi composta por 80
pacientes e os dados foram coletados entre outubro/2011 a julho/2012. Os dados foram submetidos à
analises estatísticas descritiva e inferencial (Regressão Logística; p-valor≤0,10). Os resultados
mostraram uma associação entre o desfecho Dor Dentária nos últimos 6 meses com: ida ao dentista
pela última vez para realizar tratamento dentário, o fato do paciente achar a última consulta boa; não
dormir ou dormir mal devido algum problema nos dentes; ter Hemofilia A Grave ou Doença de Von
Willebrand e o paciente não estar nem satisfeito e nem insatisfeito com sua qualidade de vida.
Introdução
A experiência de dor de dente vivenciada pela população revela o acesso restrito aos serviços
odontológicos e a perda dentária denuncia a existência de uma prática mutiladora imposta pelos
serviços de saúde para solucionar a dor1, tornando esta um problema de saúde pública mundial
2.
Quando inserimos neste contexto o binômio dor dentária e pacientes portadores de
coagulopatias por deficiência de fator não conseguimos encontrar, com maior ênfase, trabalhos
científicos que estimem essa condição, bem como, os fatores a ela associados. Grande parte das
pesquisas se detêm a relatar a prevalência e/ou incidência de algum agravo3. E a grande problemática
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desse assunto no estado da Paraíba é o não conhecimento do cenário da saúde bucal dos seus pacientes
portadores de Hemofilias e Doença de Von Willebrand.
As hemofilias são as coagulopatias de maior prevalência, as quais são caracterizadas por uma
desordem sanguínea, rara e crônica de caráter hereditário que acomete cerca de 400.000 mil pessoas de
todas as raças em todo o mundo4 e cerca de 11.040 só aqui no Brasil
5. Em seguida vem a Doença de
Von Willebrand (DVW), que é decorrente da ausência do Fator de von Willebrand, possuindo a
mesma sintomatologia das hemofilias. Este auxilia no transporte do fator VIII da coagulação e na
mediação da adesão plaquetária nos locais de lesão vascular6.
Dada a relevância do problema, este estudo teve por objetivo identificar a associação de
fatores relacionados à dor dentária em pacientes portadores de coagulopatias, através da regressão
logística. Com os resultados encontrados poder-se-á tomar as melhores decisões na escolha de ações
de promoção de saúde e prevenção de agravos, assim poderemos evitar problemas mais graves, como
extrações dentárias, que podem até causar risco de morte nestes pacientes justamente pela deficiência
de coagulação existente.
Metodologia
Estudo epidemiológico, transversal, de natureza descritiva e inferencial, com abordagem
quantitativa, realizado por meio do uso da observação direta intensiva, com registros dos exames
clínicos, e extensiva, para preenchimento de formulários. A amostra se deu por conveniência e foi
composta por 80 pacientes de 1 a 59 anos, portadores de Hemofilia e Doença de Von Willebrand,
cadastrados no Hemocentro de João Pessoa e que procuraram o serviço para atendimento no período
de outubro/2011 a julho/2012. Foram coletadas informações relativas à condição socioeconômica, a
morbidade autorefereida, a autopercepção de saúde bucal e ao acesso e utilização de serviços
odontológicos mediante formulário padronizado pelo SB Brasil 20105. Com relação aos prontuários de
atendimento médico e odontológico dos pacientes, verificou-se o tipo de coagulopatia apresentada,
idade e distância de sua residência ao Hemocentro. O exame das condições de saúde bucal foi
realizado por uma examinadora previamente calibrada (kappa > 0,85), adotando-se os códigos e
critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e registrados em odontogramas. Os dados foram
analisados por meio de estatística descritiva e inferencial, inicialmente por intermédio do Teste de
Qui-Quadrado, onde foi testado a associação entre a variável dependente Dor Dentária nos últimos 6
meses e demais variáveis independentes relacionadas à condição socioeconomica, morbidade
autorefereida, auto percepção de saúde bucal e ao acesso e utilização de serviços odontológicos (p-
valor ≤ 0,20). Em seguida, aquelas significativas na primeira análise foram inseridas em um Modelo
de Regressão Logística (p-valor ≤ 0,10). O intuito foi o de identificar fatores correlacionados, chances
de ocorrências e os fatores de riscos e proteção para a Dor dentária. A escolha do modelo logístico se
deu devido o fato de seu uso permitir análises binárias dos eventos estudados, tais como sim ou não, a
sua fácil interpretação dos dados e, principalmente, se adequar a estudos do tipo epidemiológico.
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Resultados Obtidos
Os pacientes são em sua maioria do sexo masculino (87,5%;n=70), da raça parda (57,5%;
n=46), com média de idade de 27,41 anos, renda salarial entre R$501 a R$1.501 (51,25%.n=41), com
Hemofília do tipo A leve (36,25%; n=29) e que procura o dentista para fazer revisões (50%; n=40). A
dor de dente esteve presente em 25% (n=20), sendo que 2,5% eram crianças (n= 02) de um total de 08
(oito) e 22,5% adultos (n=18) de 72 avaliados, respectivamente.
Após teste de associação e inserção das variáveis significativas no primeiro momento a um p-
valor ≤ 0,20 (Qui-quadrado), chega-se ao modelo logístico final descrito na tabela 1.
Tabela 1: Estatística do Modelo Logístico para Dor Dentária e fatores associados.
Variável Independente β DP p-valor OR IC 90% OR
Intercepto -1.7598 0.9163 0.054 - -
O motivo da última consulta foi o
tratamento dentário 1.5247 0.7707 0.047 * 4.6 1.28; 16.28
A ultima consulta realizada pelo
dentista foi boa -1.5213 0.7242 0.035 * 0.21 0.06; 0.71
Não dormiu ou dormiu mal por causa
dos dentes 1.9548 0.8205 0.017 * 7.06 1.82; 27.11
Ter Hemofilia A grave 2.0099 0.9509 0.034 * 7.5 1.55; 35.51
Ter Doença von Willebrand 1.8214 0.8815 0.038 * 6.2 1.44; 26.31
Na maioria das vezes procura o dentista
para fazer Revisões dentárias -2.1179 0.7824 0.006** 0.12 0.03; 0.43
Não está nem satisfeito e nem
insatisfeito com sua qualidade de vida 1.5678 0.8201 0.055 4.8 1.23; 18.35
β: estimador; DP: desvio padrão; p-valor ≤0,010; Intervalo de Confiança (IC): 90%; OR: Odds Ratio.
Os resultados da regressão logística mostraram uma associação entre o desfecho Dor Dentária
nos últimos 6 meses com: ida ao dentista pela última vez para realizar tratamento dentário (n=27); o
fato do paciente achar a última consulta boa (n=43); não dormir ou dormir mal devido algum problema
nos dentes (n=16); ter Hemofilia A Grave (n=19) ou Doença de Von Willebrand (n=12); e o paciente
não estar nem satisfeito e nem insatisfeito com sua qualidade de vida (n=20).
Não foram encontrados estudos semelhantes ao proposto por esta pesquisa a fim de maiores
comparações. Porém, quando se fala em estudos de prevalência de cárie e fatores associados em
pacientes hemofílicos, um realizado no Recife, Pernambuco mostrou que o sexo masculino e a
hemofilia são os mais freqüentes. No presente estudo houve aplicação tópica de flúor em 79,5% e 50%
só buscam o serviço odontológico quando apresenta algum um problema dentário. Dessa forma os
autores mencionam que os bons hábitos de higiene aliados ao uso do flúor haveria uma diminuição da
cárie, pois, está é hoje o maior agravo em saúde bucal que consequentemente poderá a vir determinar a
dor dentária8.
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Analise dos resultados e Conclusão
A análise dos resultados permitiu observar que as chances do paciente vir a ter Dor Dentária é,
respectivamente, 4,6 vezes a mais se a ida ao dentista pela última vez foi para realizar tratamento
dentário, 7,06 se ele não dormiu ou dormiu mal devido algum problema nos dentes, 7,5 se tiver
Hemofilia A Grave ou 6,2 se tiver Doença de Von Willebrand como coagulopatia e 4,8 se ele não
estiver nem satisfeito e nem insatisfeito com sua qualidade de vida, sendo estes, portanto, fatores de
risco.
As seguintes variáveis: busca pelo serviço odontológico para revisões, percepção que a última
consulta odontológica foi boa apresentaram-se como fatores de proteção, diminuindo,
respectivamente, as chances de vir a ter dor de dente em 8,31 e 4,57 vezes.
Conclui-se, portanto que a prevalência de dor dentária é alta/baixa entre os portadores de
coagulopatias, quando a avaliação é feita por faixa etária. Pacientes portadores de Hemofilia A grave e
DVW que relataram ter ido ao dentista pela última vez para tratamento, que apresentaram dificuldades
para dormir devido a problemas dentários e consideram-se nem satisfeitos nem insatisfeitos com sua
qualidade de vida apresentaram mais chances de ter dor dentária.
REFERÊNCIAS
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Especializada. Perfil das coagulopatias hereditárias no Brasil: 2007 / Ministério da Saúde, Secretaria
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Saúde, 2008b. 96 p. : il. – (Série G. Estatística e Informação em Saúde).
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