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MISSÕES LUTERANAS E IMPERIALISMO ALEMÃO NO BRASIL
(1905-1914)
Wilson Maske, Curso de História PUCPR1
Resumo
O trabalho tem como proposta avaliar se o Império Alemão tinha como objetivo utilizar a emigração e a instituições culturais e religiosas, como a sociedade missionária Caixa de Deus Luterana (Gotteskasten), no período de 1905 a 1914, como mecanismos indiretos de propagação da cultura e de influência alemã no Brasil. Buscou-se analisar se a Alemanha teve intenção de exercer uma política externa com teor imperialista, criando, através da emigração, um elo com o Brasil que também seria um canal para estreitar vínculos, principalmente comerciais e culturais, onde a Alemanha, por meio dos imigrantes alemães e teuto-brasileiros, tivesse preferências em relacionamentos comerciais, podendo, por fim, auxiliá-la a consolidar o papel de potência mundial.
Palavras chave: Missões Luteranas; Imigração Alemã no Brasil; Política Externa Alemã; Relações Internacionais do Brasil; Imperialismo.
Abstract
The purpose of the article is the evaluation if Germany in his foreign policy during the Wilhelminian Age had the intention to use the German communities abroad and his religious and cultural institutions as means to achieve the building of a worldwide economic and political empire. In our case, we had studied the experience of the Gotteskasten (Lutheran Gods Bank) as missionary society among German immigrants and German-Brazilians, during 1905-1914. Their primarily goal was to finance the need of pastors and missionaries, build churches, schools and social facilities and preserve the sense of Germaness among German-Brazilians. Those, were seen by the German government as open doors to German produce, capital and goods in Brazil and the preservation of the sense of belonging to the German identity could help to reach their goal.
1 Professor Titular do Curso de História da PUCPR. Doutor em História pela UFPR. Especialista em História Política Contemporânea e História das Relações Internacionais. Atualmente desenvolve o projeto de pesquisa “Brasil e Alemanha Imperial (1871-1918): Diplomacia, Imigração e Imperialismo”, no qual estuda as inúmeras interfaces das relações entre Brasil e Alemanha. Também se dedica a estudar a História do Protestantismo e suas conexões políticas, assim como o processo imigratório para o Brasil. Endereço eletrônico: [email protected].
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Key-words: Lutheran Missions; German Immigration to Brazil; German Foreign Policy; International Relations of Brazil; Imperialism.
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INTRODUÇÃO
O artigo tem como tema “Missões Luteranas e o Imperialismo Alemão no
Brasil: A ação missionária da Gotteskasten no Paraná e em Santa Catarina
(1905-1914)” e pretende estudar a ação missionária de uma instituição luterana
que pretendia oferecer apoio espiritual, financeiro e logístico, através do envio
de pastores e subsídios diversos, destinados a apoiar as comunidades
luteranas de imigrantes alemães no Paraná e Santa Catarina, carentes de
apoio e recursos. Percebemos que, ao lado de seu trabalho de cunho
puramente religioso, a ação da Gotteskasten serviu também, involuntariamente
talvez, como um mecanismo de preservação da identidade germânica, e assim,
atendia também às expectativas da política externa do Império Alemão,
interessado em abrir e consolidar novos espaços econômicos e políticos para
expansão do capitalismo alemão, para o que pretendia contar com o apoio da
grande colônia alemã, estabelecida no Paraná e em Santa Catarina.
A Alemanha unificada em 1871 desenvolveu uma política externa com
um viés especialmente imperialista, em especial depois de 1890, no qual
pretendia desenvolver um papel de potência mundial. Nessa visão, assim como
outras potências imperialistas da época, a Alemanha via-se também incumbida
de uma “missão civilizadora”, que incluía desenvolver mecanismos de amparo
religioso, auxilio social, educacional e sanitário das populações colonizadas,
mas também consolidar sua influência nas regiões em que atuava. Para tal,
contava com a ação da Igreja Luterana e suas instituições, ligadas ao Estado
alemão.
POLÍTICA DE IMIGRAÇÃO DO BRASIL
Já na época do Brasil Colônia, existia o desejo de atrair imigrantes para
a Colônia portuguesa, mas esta imigração tinha um caráter restrito: o interesse
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brasileiro era em imigrantes italianos, suíços e alemães, e não em castelhanos,
ingleses, holandeses e franceses, pois estes últimos poderiam representar um
perigo para o Brasil, uma vez que suas terras natais eram também portadoras
de colônias.
Em 1808 foi publicado um decreto que incentivava a imigração para o
Brasil. Segundo o decreto, as terras seriam concedidas em um sistema de
sesmarias:
sendo conveniente ao meu real serviço ao bem público argumentar a lavoura e a população que se acha muito diminuída neste Estado; e por outros motivos que me foram presentes: Hei por bem, que aos estrangeiros residentes no Brasil se possam conceder terras por sesmarias pela mesma forma com que segundo as minhas reaes ordens se concedem aos meus vassalos, sem embargo de quaisquer leis ou disposições em contrario (MAROCHI, 2006, p.25).
A Inglaterra pressionava o Brasil para que deixasse o sistema
escravocrata, pois com o avanço da industrialização a Europa precisava de
novos mercados consumidores e com este sistema o Brasil não representava
um mercado consumidor representativo:
quando [...] a mecanização da produção com a Revolução Industrial, potenciando a produtividade de uma forma rápida e intensa, leva a um crescimento da produção capitalista num volume e ritmo que passam a exigir no Ultramar mais amplas faixas de consumo, consumo não só de camadas superiores da sociedade, mas agora da sociedade com um todo; o que se torna imprescindível é a generalização das relações mercantis. Então, o sistema (colonialismo assentado no escravismo) entra em crise. (WITT, 1996, p.14).
O receio de uma revolução negra igual a que acontecerá no Haiti, em
1804, fez com que se criasse uma política de branqueamento. O que também
favorecia o branqueamento era o fato de que alguns políticos considerarem a
agricultura da época atrasada, alegando que faltavam bons colonos europeus
que pudessem tratar a terra de boa maneira e com novas técnicas (MAROCHI,
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2006, p.25). Outro fator que contribuiu para a imigração foi o decreto de leis
como a de Eusébio de Queirós de 1850, que punia de forma severa os
traficantes de escravos; a Lei Nabuco de Araújo de 1854 que trazia os
traficantes de escravos a julgamento; a Lei do Ventre Livre de 1871; a Lei dos
Sexagenários de 1885 e a Lei Áurea que acabou por fim libertando os
escravos. Por outro lado, havia a oposição dos grandes latifundiários à
imigração, pois segundo a política de imigração, os europeus receberiam
terras, e, consequentemente o poder dos grandes senhores latifundiários
poderia diminuir. Apesar disso, ao analisar prós e contras, o Brasil abriu suas
portas para a imigração.
Os interesses na imigração europeia eram diversos. Entre deles estava
o interesse do Império Brasileiro em criar colônias de proprietários para que o
sul do Brasil fosse povoado, pois as fronteiras no sul ainda não eram muito
bem delineadas. Com a independência do Brasil, surgiu a preocupação de
alguns políticos de povoar as terras vazias, à semelhança do que estava sendo
feito em outras nações (MAROCHI, 2006, p. 25). As fronteiras eram áreas de
conflito entre espanhóis e portugueses, pois nenhuma das nações
colonizadoras respeitavam essas demarcações (WITT, 1996, p. 17). A
imigração portuguesa também caiu drasticamente após a independência. Estes
e outros motivos contribuíram para a consolidação da política de imigração.
Existia também o interesse dos produtores de café que necessitavam de mais
mão de obra para a produção crescente. Outro interesse do Império brasileiro
na imigração era a criação de uma classe intermediária entre a classe
latifundiária e a classe escrava. Em outras palavras, havia interesse na criação
de uma classe média que poderia aumentar o mercado consumidor.
Marochi caracteriza, segundo discursos dos políticos da época, os
principais motivos para a imigração no Brasil:
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fornecer mão-de-obra para as lavouras de café; Ocupar espaços demográficos vazios; Criar uma política livre formada por pequenos proprietários agrícolas, que através de seu trabalho abasteceriam as grandes cidades; Fornecer filhos para as Forças Armadas; Suprir a falta de mão de obra nas obras públicas, principalmente nas construções de pontes e estradas. (MAROCHI, 2006, p. 27).
EMIGRAÇÃO ALEMÃ NO CONTEXTO GERAL
Alguns países europeus, incluindo a Alemanha, se depararam no final do
século XVIII com uma expressiva taxa de crescimento populacional
(MAROCHI, 2006, p. 19). Esse crescimento tinha suas justificativas baseadas
não somente na taxa de natalidade, mas também em uma maior expectativa de
vida que a medicina preventiva e as melhores condições de higiene trouxeram
(PRIEN, 2001, p. 25). Com o passar do tempo esse crescimento populacional
trouxe problemas sociais e econômicos, o que acabou transformando a Europa
em uma “Europa expulsora”. Esse desejo era presente, pois as autoridades
teriam menos pessoas para sustentar e com o surgimento de sindicatos teriam
menos pessoas reivindicando seus direitos (MAROCHI, 2006, p. 19s). Esse
tipo de ideias era proclamado por pessoas como, o cônsul de Baden no Rio de
Janeiro, F.X. Ackermann, citado por Prien:
somente a emigração é capaz de mudar a situação não-natural com que os estados se confrontam. As massas excedentes devem ir embora, a fim de devolver aos remanescentes a antiga paz e a felicidade perdida. (PRIEN, 2001, p. 26).
Para concretizar essa política expulsória a Europa contou com a ajuda
dos poucos ricos, proprietários de grandes extensões de terras e poderosos,
como também de algumas comunidades locais que ajudavam nesse processo
de emigração com o objetivo de diminuir os gastos com os indigentes
necessitados (PRIEN, 2001, p. 26).
Existiram outros fatores para essa emigração, que contou com cerca de
10 milhões de alemães, no século XIX (PRIEN, 2001, p. 25). Marochi cita
alguns deles:
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fatores como o forte crescimento demográfico, a concentração de terras nas mãos de poucos proprietários, a concorrência desleal dos produtos agrícolas no mercado interno, o endividamento dos pequenos proprietários rurais, o aumento exagerado dos impostos, as perseguições políticas em alguns países, a mecanização da agricultura, o avanço tecnológico das indústrias e o grande desemprego provocado principalmente pelos dois últimos fatores foram, sem dúvida, as principais razões que levaram as pessoas a partirem para a América (MAROCHI, 2006, p. 19).
A imigração alemã no Brasil iniciou em 1818, quando os primeiros
grupos organizados se instalaram na Bahia (MAROCHI, 2006, p. 25). A partir
daí, vários grupos imigraram para as terras brasileiras e dentro deste contexto
foi que os protestantes, e consequentemente os luteranos, vieram para o
Brasil.
Os imigrantes protestantes no Brasil se encontravam em uma situação
econômica difícil e viviam marginalizados socialmente, eram considerados
cidadãos de segunda classe, pois nesta época não existiam registros civis e
consequentemente os documentos que os protestantes portavam não eram
validos (PRIEN, 2001, p. 105). Portanto, viviam um isolamento social, político e
eclesiástico (PRIEN, 2001, P.106). Vale lembrar que muitas dessas
dificuldades em que os protestantes passavam eram consequência da união da
Igreja Católica com o Estado.
Com a chegada de tantos imigrantes germânicos protestantes no sul do
Brasil a organização no meio eclesiástico se tornou iminente. Essa organização
era também uma saída da marginalização em que se encontravam, pois como
diz Prien:
a formação de comunidade coincidia com a autoafirmação e a luta por igualdade de direitos, sendo que a preservação da própria identidade era possível somente através da comunidade evangélica e da escola alemã (PRIEN, 2001, p.106).
A comunidade necessitava de direitos iguais dentro da sociedade,
precisava de uma instituição que defendesse seus direitos perante o Estado,
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qualificação de pastores, qualificação também de professores de escolas
evangélicas e também de uma organização que cuidasse da vida espiritual das
comunidades, e que preservasse as tradições doutrinarias e culturais. Dentro
dessa preservação da cultura, o próprio Rotermund teria dito que “igreja e
germanidade estão ligados entre si para o que der e vier” (LINK, 2004, p.88).
A GOTTESKASTEN
Durante o movimento de reavivamento em que passava a Igreja
Luterana no século XIX, surgiu o desejo de suprir a necessidade espiritual que
os emigrantes alemães passavam. O pastor Ludwig Adolf Petri (1803-1873)
uniu ações missionárias de Hanover e de Neuendettelsau (que tinha como
fundador o pastor Wilhelm Löhe), com o objetivo de recolher doações que
seriam destinadas para pregadores, professores, e para literatura, incluindo
Bíblias para as comunidades luteranas da América e também para a formação
de novas igrejas luteranas. Essas doações foram requisitadas quando, em 31
de outubro de 1853, Petri publicou um pedido de ajuda em favor dos luteranos
necessitados.
Este centro de recolhimento de doações recebeu o nome de
Gotteskasten (Caixa de Deus). O nome faz alusão à passagem bíblica de
Marcos 12.41, na qual Jesus está no templo e observa a multidão lançando
dinheiro dentro de um gazofilácio, ou caixa de ofertas, que na tradução de
Lutero é chamada de Caixa de Deus.
A instituição recebeu ofertas regulares de membros da comunidade que
entenderam a urgência de se fazer missões e a necessidade que seus irmãos
luteranos estavam passando na América.
Algumas associações missionárias luteranas formaram, através de uma
conferência de delegados em 1880, a Federação das ALCD (Associação
Luterana Caixa de Deus) que tinha, segundo Leonhard Fr. Creutzberg, a “meta
de preservar e fomentar o luteranismo em todo o mundo”.
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Em 1892, o Brasil mandou para a instituição Caixa de Deus um pedido
de ajuda e, em 1896, após discussões com o Sínodo Luterano de Iowa-EUA,
na reunião de representantes das ALCD, a instituição da Baviera assume a
obra no Brasil.
O pastor Otto Kuhr que trabalhava no Sínodo de Ohio, nos Estados
Unidos, como pregador itinerante foi persuadido por seu tio a trabalhar no
Brasil. Assim em 1897, Kuhr foi enviado para a comunidade de Estrada da Ilha,
região de Joinville, em Santa Catarina, sendo o primeiro pastor enviado pela
Caixa de Deus ao Brasil. Depois dele, foram enviados os pastores Fritz Bühler
para Joinville, Carl Bergold para a comunidade de Dona Francisca e Konrad
Roesel para Brüdertal e Itapocu.
Esses pastores eram enviados às comunidades sem um aviso prévio,
mas, apesar desta política, a chegada deles foi aparentemente bem recebida,
como relata Hans-Jürgen Prien:
Provavelmente informado por Kuhr sobre as vacâncias, a sociedade bávara da Caixa de Deus perseguiu, desde o início, uma dinâmica política de pessoal, isto é, enviava pastores sem combinação prévia com determinadas comunidades, na confiança de que esses iriam convencer as comunidades por sua apresentação, o que ao que parece, deu certo; pois já em outubro de 1898 chegou o P. Conrad Roesel, que já no Natal foi chamado para Brüdertal e Itapocu. E em abril seguiu o P. Gottfried Riegel, que foi para a Estrada da Ilha como substituto de Kuhr, enquanto Kuhr viajava pelo Paraná, onde preparou o terreno em Castro, podendo, assim, mais tarde, assumir essa comunidade (PRIEN, 2001, p.169).
Em julho de 1899, sob a presidência do pastor Otto Kuhr, estes
pastores, que se reuniam frequentemente para a troca de experiências que
estavam tendo em terra estrangeira, fundaram uma “Conferência Pastoral
Luterana”, ou seja, um sínodo pastoral. Segundo Prien, o sínodo encontrava-se
em ligação com a Federação das Associações Luteranas da Caixa de Deus na
Alemanha que tinha uma hierarquia bastante marcada. Todos esses pastores
que eram enviados das ALCD eram automaticamente membros do sínodo. Um
outro aspecto interessante a ser destacado é que estes pastores eram em sua
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maioria proveniente do “Seminário Luterano para Missão e Diáspora” em
Neuendettelsau, Baviera, que foi fundado pelo já citado pastor Wilhelm Löhe. A
seguinte trecho do artigo 5° da base de fé confessional revela alguns desses
aspectos:
os membros do “Sínodo Evangélico Luterano no Brasil” comprometem-se a não pregar e ensinar, em seu ministério da pregação e ensino, nem publicamente nem em particular, nada além do que ensinam a Sagrada Escritura e os Escritos Confessionais da Igreja Evangélica Luterana [...] Os mesmos também prometem conduzir fiel e conscienciosamente o ministério da pregação e o serviço eclesiástico que lhes é confiado segundo (os direitos e) as ordens da Igreja Evangélica Luterana e a prestar a seus superiores, com toda a reverência, a obediência devida (PRIEN, 2001, p.170).
Na celebração do jubileu do 25° ano de existência da Caixa de Deus da
Baixa Saxônia, a Alemanha propôs a fundação de um sínodo luterano. A
sugestão foi aceita e em 1905, como pré-estabelecido na conferência de
pastores luteranos, foi distribuído um folheto em todas as comunidades, com o
objetivo de debater a proposta da formação de um sínodo. O folheto tinha
como título “O que se pensa a respeito de um sínodo? Uma palavra às nossas
comunidades”.
Depois da discussão sobre o panfleto que explicava a proposta de um
sínodo, foi convocado o primeiro concílio sinodal, que aconteceu nos dias 7 a 9
de outubro de 1905. No último dia foi fundado na Estrada da Ilha, tendo como
presidente o pastor Otto Kuhr, o sínodo que tinha como nome “Sínodo
Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros Estados da América
do Sul”. Neste concílio aderiram à instituição onze pastores, um professor e
cinco comunidades. Este sínodo se tornou conhecido como
Gotteskastensynode (Sínodo Caixa de Deus) (LUTHERISCHE KIRCHE IN
BRASILIEN, p. 1 e seguintes).
A instituição se expandiu fortemente até 1914, impulsionada pela política
pessoal da Caixa de Deus, que continuava recebendo pastores sem ao menos
ter um campo de trabalho. Sendo assim, ajudavam onde existia maior
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necessidade até encontrarem uma comunidade onde poderiam assumir um
trabalho.
O Sínodo Evangélico Luterano criou um jornal que dentre outros motivos
também serviria para estimular a unidade dentro das comunidades. O
“Evangelisch-Lutherisches Gemeindeblatt” (Folha Comunitária Evangélica-
Luterana) começou a ser publicado em julho de 1905 e era, segundo Prien,
uma “voz comum do Sínodo para o incremento do cristianismo no senso e
espírito luteranos e para a confissão da fé perante o mundo” (2001, p.175). É
interessante levantar os objetivos do Sínodo Evangélico Luterano que foram
registrados na primeira edição do boletim:
com que mentalidade e espirito o jornal deve ser conduzido, está gravado, com toda a clareza, em sua testa por seu nome. Com isso, indicamos o fundamento sobre o qual estamos firmados: é a pura doutrina da Sagrada Escritura, como ela foi exposta por nossos pais, na época da Reforma, nas maravilhosas confissões de nossa Igreja Luterana, a preciosa palavra de Deus, pela qual nossos pais empenharam os bens e a vida. Em nome de Deus levantamos uma bandeira”. (LINK, 2004, p.90)
O Sínodo Luterano tinha uma posição confessional muito clara, o que a
diferenciava dos demais sínodos. É importante esclarecer que o Sínodo Caixa
de Deus tinha um perfil caracterizado mais por pastores do que por
comunidades, o que era uma diferença marcante em relação aos outros
sínodos, mais caracterizados pelas congregações.
O Sínodo Evangélico Luterano apresentou outra definição de seus
objetivos e nesta podemos ver também um traço de etnocentrismo com a velha
pátria alemã:
queremos mais uma vez delinear o objetivo do nosso trabalho: “Congregações independentes, com uma base confessional definida, filiadas a um sínodo fiel à confissão, e que cultivem os vínculos de fé e vivência com a velha pátria. O Senhor da Igreja nos ajude a alcançar esse alvo!. (REILY, 2003, p.205)
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O sínodo apresentava crescimentos expressivos, pois segundo o o
relato no livro comemorativo Lutherische Kirche in Brasilien, no ano de sua
fundação, a Caixa de Deus era composta de 11 pastores, 5 comunidades
sinodais, 30 comunidades que não eram sinodais, mas reconheciam seus
pastores sem se vincularem ao sínodo e a ela pertenciam 2.527 famílias com
aproximadamente 15.404 pessoas e, após dez anos já tinham 17 pastores, 25
comunidades sinodais e 29 que não eram sinodais, o total de pessoas
vinculadas ao sínodo totalizava cerca de 22.450 (LUTHERISCHE KIRCHE IN
BRASILIEN, p. 2).
ATUAÇÃO DA GOTTESKASTEN EM SANTA CATARINA E NO
PARANÁ
A Gotteskasten teve uma importante atuação no Paraná e em Santa
Catarina, atuação esta que influenciou fortemente as congregações luteranas,
em especial àquelas de imigrantes alemães e teuto-brasileiros. O principal
agente deste trabalho foi Otto Kuhr, que pertencia à ação missionária
Gotteskasten:
observamos que o atendimento aos alemães evangélicos do Paraná está bem organizado. Para o atendimento da igreja às novas colônias, trabalha o pastor Otto Kuhr Senior, que reside em Papagaios Novos e que, mediante um plano definido, as visita e as atende espiritualmente, como também a grupos menores de crentes evangélicos (FUGMANN, 2008, p. 97).
Abordaremos a seguir algumas formas de atuação da Gotteskasten,
para que tenhamos uma visão geral da presença desta ação missionária nos
Estados do Paraná e de Santa Catarina.
O sínodo da Gotteskasten deixou muitas marcas onde foi percebida dua
atuação, como na fundação de escolas e de igrejas, que trabalharam juntas
para cuidar da assistência religiosa, da moral e da educação formal dos
imigrantes alemães e teuto-brasileiros. Muitos desses prédios eram usados
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durante a semana como escolas e nos finais de semana como igrejas. Algumas
dessas igrejas e escolas como, por exemplo, a casa de oração e a escola em
Rio Negro, Paraná, eram construídas com dinheiro originário da Alemanha
(FUGMANN, 2008, p. 87). Podemos também ver essa parceria entre igreja e
escola na Comunidade Evangélica Luterana em Imbituva, região dos Campos
Gerais, Paraná:
no ano de 1893, os cristãos evangélicos uniram-se ainda mais e construíram, com muito sacrifício, um modesto templo que serviu como igreja e como escola até 1917, quando pôde ser inaugurado um novo e bonito templo. Os pastores Schulz, de Curitiba, e Wiedmer, da Lapa, inauguraram a primeira igrejinha. [...] O pastor Dehmlow trabalhou por dez anos em Imbituva, servindo à igreja e à escola, que foram fundadas logo após a sua investidura. Quando o pastor Dehmlow deixou a comunidade, esta solicitou ao Sínodo Evangélico Luterano outro assistente espiritual, tendo sido eleito o pastor Johann Knoerr, que assim, a partir de 1905, passou a atender a igreja e a escola. (FUGMANN, 2008, p. 89).
A escola comunitária luterana em Curitiba também foi um exemplo dessa
parceria, que tinha grande apreço pelo ensino de religião. A escola foi fundada
pelo pastor Schulz, que por não conseguir inserir o ensino de religião na antiga
escola em que trabalhava, decidiu fundar uma onde o ensino religioso tivesse a
devida atenção. A igreja evangélica luterana comunidade de Cristo, na região
central de Curitiba, que estava sob a orientação de Friedrich Gaertner, assumiu
a escola fundada por Schultz e teve como pregador o pastor Otto Kuhr
(FUGMANN, 2008, p. 78):
O pastor O. Kuhr serviu à comunidade de 1901 a 1907. Foi chamado para Ponta Grossa, e o seu sucessor em Curitiba foi o pastor Albert Hess, que foi um homem de dotes extraordinários, especialmente na área de estudos da natureza, da qual possuía grande conhecimento. (FUGMANN, 2008, p. 81).
A Comunidade Evangélica Luterana de Ponta Grossa teve sucesso em
organizar os protestantes alemães em uma comunidade onde a religião e a
escola estavam em sincronia. A comunidade desfrutava de pessoas que eram
ao mesmo tempo pastores e professores como no caso de Gustav Berchner,
que Fugmann comenta:
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depois da partida de Berchner, veio para Ponta Grossa o pastor José Kohl, que servia em Entre Rios (Guaragi) fazia alguns anos. Ele e o pastor Wiedmer, antes de tudo, organizaram as atividades escolares e recomendaram que a comunidade se ligasse ao Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros estados, o que foi feito em 4 de agosto de 1906. No ano seguinte o pastor Otto Kuhr Senior, que atuou na comunidade até 1911. Paralelamente, ele foi pregador itinerante do Sínodo. (FUGMANN, 2008, p. 92).
A congregação de Papagaios Novos, colônia de teuto-russos localizada
no Município de Palmeira, também se ligou ao Sínodo Evangélico Luterano e
teve temporariamente como diretor principal da comunidade o pastor Otto Kuhr
(FUGMANN, 2008, p. 94).
Também em Castro, o pastor Otto Kuhr fundou uma escola e uma
comunidade, à qual, já de inicio, se ligaram 50 famílias. Isso nos revela a
importância que a presença de Kuhr e o trabalho da Gotteskasten tiveram na
região, bem como algumas consequências, como a da união da escola da
comunidade com a escola da Sociedade Alemã, o que nos mostra que a
cultura alemã ainda se mantinha muito presente e viva por causa desses
mecanismos que a promoviam:
os colonos eram assistidos espiritualmente, de tempo em tempo, pelo pastor Wiedmer, e quando em 1899 o pastor Kuhr passou a residir em Castro, fundando uma comunidade com uma escola, os colonos de Santa Clara ligaram-se a ela. [...] A comunidade conta com 70 familias e cerca de 400 almas. Há alguns anos, também residiu em Castro o presidente do Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina e Paraná. Em 1924 a comunidade festejou o seu 20º jubileu de fundação, e em 1925, o jubileu de investidura do pastor Wiesinger e também a sua operosidade. Em 1920 a escola da comunidade fundiu-se com a escola da Sociedade Alemã. (FUGMANN, 2008, p. 96s).
ETNOCENTRISMO: GOTTESKASTEN E O IMPÉRIO ALEMÃO
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Assim como o Brasil tinha interesses com a imigração alemã, como foi
abordado anteriormente, a Alemanha também tinha interesses para com a
emigração. Osmar Luiz Witt nos destaca duas fases: na primeira, a emigração
tinha como objetivo o de diminuir a população da Alemanha, principalmente no
que diz respeito à camada social mais baixa. E na segunda fase, quando a
Alemanha já era um Estado unificado, outros interesses vieram à tona. Através
da emigração o governo alemão procurou tirar proveito da existência de uma
diáspora alemã em várias regiões do mundo, tentando criar estreitas ligações
com ela, como com o sul do Brasil, favorecendo instituições que pudessem
manter com que a cultura germânica permanecesse viva, assim como o
sentimento de pertencimento à germanidade, visando o favorecimento
econômico:
com o passar dos anos, o poder dos alemães residentes no Brasil será, portanto muito significativo, e não é possível calcular a influência desta circunstância, bem como a influência da feliz constelação que, nesta época fatídica, levou uma alemã, filha de imperador, ao trono brasileiro sobre o futuro desenvolvimento de um império ao qual, por causa de seus novos habitantes, parece faltar ainda certo caráter nacional. Esses colonos continuarão tendo muita afinidade com os alemães do aquém-mar devido à língua, ao modo de vida, aos usos e costumes e, se as demais circunstâncias forem relativamente semelhantes. Entre os alemães dos dois hemisférios estabelecer-se-á um relacionamento semelhante ao que existe entre a Inglaterra e suas colônias na América do Norte, e a Alemanha não continuará sentindo a falta de colônias como privação. (SCHRÖDER, p. 34s apud WITT, 1996, p.22).
A Alemanha vivia simultaneamente um surto de grande expansão
industrial e também de emigração. Como seu mercado consumidor era restrito,
para manter sua prosperidade e crescimento econômico, precisava de países
para onde pudesse exportar seus produtos. O Brasil foi um desses lugares em
que a Alemanha tentou ampliar sua presença. Era um país com grande
potencial para receber produtos alemães, assim como fornecer matérias-
primas e receber investimento. Havia em geral um sentimento positivo em
relação à Alemanha na opinião pública brasileira, que se pretendia reforçar
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com a influência de imigrantes alemães e seus descendentes teuto-brasileiros.
Muitos dos adeptos do imperialismo alemão, interessados em desfrutar
dessas vantagens que viam presentes dentro do contexto da imigração alemã,
faziam certas recomendações como Klaus Richter nos mostra:
adeptos do imperialismo e nacionalismo da época, consideravam de interesse nacional que pela emigração os emigrantes não perdessem a sua etnia, cultura língua e nacionalidade, mas, sim, formassem poderosos quistos étnicos alemães no além-mar. Para tal fim, recomendavam que fossem fundadas colônias agrícolas em regiões que:
1) sendo pouco habitadas pelos nativos e possuindo condições climáticas vantajosas, favorecessem uma imigração alemã em grande escala com boas possibilidades de desenvolvimento. 2) pelo fato de a população nativa ser de “raça inferior” garantissem que a etnia, cultura, língua e nacionalidade dos imigrantes ficariam preservadas; 3) a longo prazo fornecessem matérias primas para a Alemanha; e, 4) no início não desenvolvessem indústria própria, dependendo portanto, da importação de produtos industriais da Alemanha. (RICHTER, 1986 p. 13).
O Brasil tinha condições favoráveis para que essas colônias fossem
implantadas e que se desenvolvessem mantendo um ótimo relacionamento
com a Alemanha:
será que não há um país na face da terra no qual os imigrantes continuem, ainda que por muito tempo, sendo consumidores dos produtos da indústria alemã, onde o clima seja favorável para eles, onde o solo seja produtivo e onde as leis nacionais não dificultem o cumprimento do dever de cidadão e o exercício da religião? Alegra-me de coração que a resposta de todas as pessoas conhecedoras da situação aponte, de maneira quase que unanime, para a América do Sul e que especialmente o sul do Império do Brasil seja indicado como o país no qual as condições mencionadas são preenchidas. (DIE SOCIALE UND POLITISCHE STELLUNG DER DEUTSCHEN IN SÜD-BRASILIEN, p. 29 apud WITT, 1996, p. 23).
Este cuidado da Alemanha para manter a língua, costumes, enfim e a
cultura germânica em geral, teve grandes influências para os trabalhos
realizados por instituições evangélicas como a instituição Gotteskasten.
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Podemos mencionar a principal delas como sendo a instituição da
escola, que tinha o objetivo e os recursos para manter língua e cultura:
uma abrangente ajuda da pátria, antes de mais nada para as necessidades da Igreja, e depois para as necessidades das escolas, é imprescindível para a preservação do teuto-brasileirismo, e também promissora (BRAUNSCHWEIG apud PRIEN, 2001, p. 350).
A Alemanha, através de instituições mantenedoras, prestava ajuda
financeira para as comunidades de imigrantes no sul do Brasil e queremos
destacar a seguir a ajuda que instituições evangélicas prestaram aos sínodos e
que através disso favoreceu a economia alemã:
como foi dito, um grande impulso motivador proveio das instituições mantenedoras europeias para a formação dos sínodos. Os sínodos recebiam recursos materiais e pessoais dessas organizações e sentiam-se ligados a elas. Essa assistência foi possível graças aos interesses do Estado alemão que surgiu em 1871 e que tinha interesses em conseguir mercado para seus produtos. Assim, a germanidade foi fomentada pelo Estado alemão e, com isso, garantiu, no inicio do século XX, a posição de segundo maior fornecedor de produtos industrializados ao Brasil. (LINK, 2004, p.96)
O sínodo Gotteskasten, foi uma dessas instituições que recebeu ajuda
de instituições alemãs, ajuda essa que foi realizada de diversas formas, como
por exemplo: dinheiro, financiamento para construção de templos, escolas,
hospitais, casas paroquiais, envio de pastores, missionários, Bíblias, literatura
evangelística, livros didáticos e material escolar em língua alemã, entre outros
(PRIEN, 2001, p. 352):
mesmo assim o Sínodo ainda era muito pequeno e precisava do auxilio das comunidades alemãs que lhe foi dado por intermédio do “Lutherischen Gotteskasten” [...] Alguns anos após a grande catástrofe o “Lutherischen Gotteskasten” extendia de novo a mão ao nosso Sínodo. (LUTHERISCHE KIRCHE IN BRASILIEN, p. 2).
Na origem da instituição Gotteskasten podemos encontrar, como já
descrito anteriormente, evidências de que o pastor Ludwig Adolf Petri uniu
ações missionárias de Hannover e de Neuendettelsau. Wilhelm Löhe foi o
fundador do seminário de Neuendettelsau e como Baade aborda, o
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pensamento desse homem marcou o seminário por muito tempo (BAADE,
2007, p. 58):
os pastores que atuavam no Sin. Evang. Lut. eram provenientes em sua maioria do seminário para a diáspora de Neuendettelsau e somente alguns provinham de Hermannsburg ou Kropp e trouxeram em sua bagagem a tradição teológica e filosófica que ali predominava. (BAADE, 2007, p. 59).
Como citado anteriormente a Gotteskasten recebeu profunda influencia
de Wilhelm Löhe que apresentava fortes tendências etnocêntricas como ele
mesmo mostra em um escrito de 1845:
vós sois alemães! Levastes uma língua bela para além do oceano [...] Preservai o que tendes, não troqueis vossa língua por outra [...] Queremos colocar isso com letras maiúsculas diante dos vossos olhos. Com vossa língua, perdereis vossa história, e com isso a compreensão correta da Reforma, com isso a compreensão correta da verdadeira Igreja de Deus (Wilhelm Löhe Apud PRIEN, 2001, p. 352)
Essas ideias etnocêntricas que expressavam Wilhelm Löhe, o seminário
Neuendettelsau e a própria Alemanha com seus interesses econômicos,
influenciavam tanto os pastores e missionários que eram enviados pela ação
Gostteskasten como também a comunidade teuto-brasileira que recebia essas
ideias via escola, igreja, literatura evangelística, professores, pregadores e
pessoas de destaque:
na relação do Sín. Evang. Lut. com o germanismo, a tradição de Löhe desempenha um papel que não deve ser subestimado, e que muitas vezes foi esquecido na pesquisa. Quanto a isso, o seminário de diáspora luterano em Neuendettelsau se constitui na instancia mediadora determinante, cujo modelo de formação remonta a Löhe. No Brasil, havia consciência desse nexo. Isso se evidencia na edição comemorativa pelo cinquentenário do Sín. Evang. Lut. de 1955, que mostra, ao lado da folha de rosto, Wilhelm Löhe como um de seus mentores espirituais.
Na edição comemorativa da Comunidade Evangélica Luterana de Joinville, do ano de 1955, se lê:
A Caixa de Deus enviou pastores e professores “exatamente conforme as instruções que o P. Wilhelm Löhe deu, a fim de ‘auxiliar’ os correligionários no exterior ‘para que tenham pregadores que os fortaleçam com o pão da vida’”. No seminário para o exterior de Neuendettelsau, fundado por Löhe, “mensageiros se preparavam para o serviço junto a compatriotas e correligionários que vivem no
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exterior. No decurso de muitos decênios, puderam tornar-se, como mensageiros de Deus, simultaneamente portadores e preservadores da cultura (PRIEN, 2001, p. 351s).
Como Prien relata, até mesmo aqui no Brasil o sínodo tinha consciência
da influência que Wilhelm Löhe exercia entre os missionários da Gotteskasten.
Isso nos mostra que pensamentos etnocêntricos rodeavam os missionários da
instituição da Caixa de Deus que operava no sul do Brasil.
A Gotteskasten atuou grandemente dentro dessas comunidades, fundou
muitas escolas que eram instrumentos para manter a língua e a cultura viva
nos imigrantes, fundou também igrejas que uniu e organizou as colônias. O
sínodo recebeu inúmeras vezes ajuda financeira para realizar todo esse apoio
social que os imigrantes necessitavam. Necessidades estas que podem ser
caracterizadas como educação, assistência espiritual e social, bíblias, materiais
para a liturgia dos cultos entre outros.
A maioria dos missionários da Gotteskasten, que vinha da Alemanha,
havia estudado no seminário de Neuendettelsau, na Baviera, onde reinava um
forte sentimento etnocêntrico, como parte do legado de seu fundador, Wilhelm
Löhe. Essas tendências exerciam forte influência nas comunidades em que a
Gotteskasten atuava.
Com ideais etnocêntricos alemães, com ajuda financeira de
mantenedores e com a Gotteskasten trabalhando para manter viva a língua,
costumes e cultura, o povo imigrante alemão se mantinha conectados à sua
pátria de origem e assim eram, de certa forma, uma colônia alemã no sul do
Brasil. Através desses laços emocionais e religiosos a Alemanha mantinha
estreitas conexões com o Brasil o que poderia favorecer o país em seus
exercícios de jovem grande potência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Com base nas análises realizadas a partir das fontes primárias, de
autores que abordam a ação da Gotteskasten e o processo de imigração e
emigração alemã, podemos ver claramente que a Gotteskasten servia
indiretamente aos interesses do governo alemão, pois congregava as diversas
comunidades coloniais alemãs, em especial em sua área de atuação nos
Estados do Paraná e de Santa Catarina. A Alemanha através de instituições
mantenedoras prestava ajuda financeira para as comunidades de imigrantes no
sul do Brasil e o sínodo Gotteskasten foi uma dessas instituições que recebeu
ajuda de instituições alemãs, ajuda essa que foi realizada de diversas formas.
Não apenas material evangelístico e Bíblias eram distribuídas pela instituição,
ajuda financeira para a construção de templos, escolas, hospitais, mas também
pastores, professores e diaconisas ofereciam um apoio social que o Estado
brasileiro estava longe de atender e assim, mantinham os imigrantes alemães
no Brasil e seus descendentes conectados à Alemanha, como elementos de
apoio político e portas para o imperialismo alemão no Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAADE, Joel Haroldo. Da Guerra à União: uma abordagem histórica da caminhada da Associação Evangélica de Comunidades e do Sínodo Evangélico-Luterano até a sua fusão e formação do Sínodo Evangélico-Luterano Unido. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia. (Dissertação de Mestrado), 2007.
BERGHAHN, Volker. Imperial Germany 1871-1918: Economy, Society, Culture, and Politics. New York/Oxford: Berghahn Books, 2005.
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FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2005.
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Lutherische Kirche in Brasilien: 1898, 1905-1955. Joinville.
MAROCHI, Maria Angélica. Imigrantes 1870-1950: Os Europeus em São José dos Pinhais. Curitiba: Travessa dos Editores, 2006.
PRIEN, Hans-Jürgen. Formação da Igreja Evangélica no Brasil: das comunidades teuto-evangélicas de imigrantes até a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. São Leopoldo: Sinodal; Vozes, 2001.
RICHTER, Klaus. A sociedade colonizadora hanseática de 1897 e a colonização de Joinville e Blumenau. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1986.
SCHULZE, Hagen. Kleine Deutsche Geschichte. Munique, Alemanha:Beck’sche, 1996.
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WITT, Osmar Luiz. Igreja na migração e colonização. São Leopoldo: Sinodal, 1996.