Transcript
  • JESUTAS BRASIL

    Em edio 39ANO 4OutubrO 2017InformatIvo dosJesutas do BrasIl

    MeNsAgeM dO PAPA FrANciscO PArA Os cOlOMbiANOs

    pg. 10

    serviO JesutA de reFugiAdOs recebe PreMiAO

    pg. 11

    seMiNriO debAte trFicO huMANO NA trPlice FrONteirA

    pg. 19

    especial pg. 12

    LideRANA iNACiANAcolgios e escolas jesutas oferecem projetos e atividades que

    buscam o desenvolvimento do protagonismo juvenil

  • 4 5Em Em

    sumRio edio 39 | ANO 4 | OutubrO 2017

    edItorIal A Liderana Inaciana em tempos de mudana

    Pedro Risaffi

    CalendrIo lItrgICo

    entrevIsta PeregrInos em mIsso Em defesa da vida

    Pe. Sandoval Alves Rocha, SJ

    o mInIstrIo de unIdadena IgreJa santa s Na Colmbia, Papa leva mensagem

    de reconciliao

    mundo CrIa Servio Jesuta de Refugiados recebe Prmio

    Anne Frank

    Grupo de jesutas estuda sobre o Isl Nomeaes

    esPeCIal Jovens lderes inacianos

    amrICa latIna CPal Uma proposta de recepo Seminrio da Rede de Enfrentamento do

    Trfico Humano

    Evento sobre o direito paz e gua Visita do Papa ao Santurio de So Pedro Claver

    servIo da f Aplicativo Click To Pray completa um ano

    no Brasil

    dIlogo Cultural e relIgIoso Lanamento de Obra completa de Manuel

    da Nbrega

    Promoo da JustIa soCIoamBIental Uma histria para no esquecer: Os Centros

    Sociais da Companhia de Jesus na Amrica Latina

    eduCao Unisinos torna-se guardi do acervo de

    Luis Fernando Verissimo

    Colgios promovem bate-papo sobre igualdade

    6

    78

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    21

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    24

    A liderana inaciana foi um dos temas do 2 Encontro de Formao Integral da RJE, que reuniu 48 alunos

  • 4 5Em Em

    Juventude e voCaes Peregrinando com Nossa Senhora Aparecida Novo espao para a juventude nasce em Russas (CE)

    na Paz do senhor Pe. Manuel Madruga Samaniego

    JuBIleus / agenda

    EmJESUTAS BRASIL

    26

    30

    31

    InformatIvo dosJesutas do BrasIl

    exPedieNte

    EM COMPANHIA uma publicao mensal dos

    Jesutas do Brasil, produzida pelo Ncleo de

    Comunicao BRA So Paulo e Rio de Janeiro.

    ComuNiCAo [email protected]

    www.jesuitasbrasil.com

    diRetoR editoRiALPe. Anselmo Dias

    editoRA e joRNAListA RespoNsveLSilvia Lenzi (MTB: 16.021)

    RedAoJuliana Dias

    diAgRAmAo e edio de imAgeNsHanderson Silva

    rica Silva

    estAgiRiAManuela Carpenter

    ANNCiosHanderson Silva

    CoLABoRAdoRes dA 39 edioAnglica Cunha, Bruno Alface, Mnica Cordeiro,

    Osvaldo Meca, Pe. Valrio Sartor e Ana Ziccardi

    (reviso). Um agradecimento especial a todos que

    colaboraram com a matria especial dessa edio.

    FotosBanco de imagens / Divulgao

    tRAduo dAs NotCiAs muNdo + CRiA geRALPe. Jos Luis Fuentes Rodriguez

  • 6 7Em Em

    editoRiAL

    A LideRANA iNACiANA em tempos de mudANA

    pedro RisaffiSecretrio Executivo da Rede Jesuta de Educao - RJE

    Vivemos em um mundo con-temporneo lquido. Tudo o que era slido, correto e ver-dadeiro, hoje, parece fluido, incer-

    to e passageiro. Crises econmicas,

    excluso social, degradao do meio

    ambiente, crises migratrias, desgas-

    te das instituies pblicas, colocam

    em cheque o modelo de sociedade

    que se consolidou desde a revoluo

    industrial. A perda de credibilidade

    dos nossos lderes frustra o cidado

    eleitor, desperta uma atitude blas e

    individualista na sociedade e torna-

    -se terreno frtil para o discurso radi-

    cal e maniquesta.

    Assim como desafios do passado

    foram superados, urge a necessidade

    de novos lderes, capazes de conduzir

    a humanidade por meio dos desafios

    atuais. No lderes que tragam solu-

    es antigas para os novos problemas,

    mas lderes capazes de vislumbrar

    caminhos de transformao da nossa

    cultura e sociedade.

    Mas o que a vida e os ensinamen-

    tos de um peregrino do sculo XVI

    podem nos dizer sobre liderana no

    sculo XXI?

    O mais valioso que a experincia de

    Incio pode nos ensinar, especialmen-

    te por meio dos Exerccios Espiritu-

    ais, no como um lder deve ser, mas

    como um lder deve se desenvolver.

    Afinal, um lder nunca est completo,

    sua formao um processo contnuo

    e permanente, focado em quatro valo-

    res que podem ser percebidos no rela-

    to da vida de Incio: autoconscincia,

    inventividade, amor e herosmo, con-

    vencidos de que toda liderana come-

    a com a autoliderana, como afirma

    Chris Lowney, no livro Liderana Heroi-

    ca (Edies de Janeiro, 2015) .

    Os Exerccios Espirituais so um

    caminho para preparar e dispor nos-

    sa alma para um profundo exerccio

    de autoconhecimento, que o alicer-

    ce da liderana, o ponto de partida

    para se eleger um propsito de vida.

    Ad Majorem Dei Gloriam a definio

    convicta de Incio que nortear qual-

    quer escolha feita por ele e por outros

    jesutas ao longo de suas vidas.

    A base da inventividade a indi-

    ferena a todas as coisas. Um indiv-

    duo dominado por seus apegos, preso

    s ideias ou mtodos antigos, no far

    escolhas livres e, como resultado, no

    escolher o que ir melhor servir a ele,

    sua famlia e sociedade. Somente

    os desapegados so livres e flexveis

    para escolher a melhor forma de ao,

    tornando-se, assim, inventivos para

    responder aos desafios da atualidade.

    Imbudos de um propsito de

    vida, que surge do autoconhecimen-

    to, e livres de apegos desordenados,

    o desejo do magis nos impulsionar

    no s a alcanar um objetivo, mas

    tambm a buscar concretiz-lo da

    melhor forma possvel. Somos desen-

    corajados a realizar as coisas medio-

    cremente, mas buscar metas heroi-

    camente ambiciosas.

    Por fim, para completar a forma-

    o do lder, na meditao conhecida

    como Contemplao para alcanar o

    amor, nos Exerccios Espirituais, In-

    cio nos instiga a contemplar o mundo

    no qual iremos realizar o nosso poten-

    cial, em uma atitude permanente de

    deciso pelo amor e pela liderana po-

    sitiva e servidora, para em tudo amar

    e servir.

    Acredito que seja esse estilo de l-

    der que poder curar um mundo ferido

    e conduzir-nos por meio dos desafios

    contemporneos. [...] homens e mu-

    lheres comprometidos com a reconci-

    liao, capazes de superar os obstculos

    que a ela se opem e propor solues,

    conforme aponta a 36 Congregao Ge-ral dos Jesutas.

    Boa leitura!

    Os ExErcciOs Espirituais sO um caminhO para prEparar E dispOr nOssa alma para um prOfundO ExErcciO dE autOcOnhEcimEntO, quE O alicErcE da lidErana [...]

  • 6 7Em Em

    calendrio litrgicoPrprio da Companhia de Jesus outuBRo

    DIA 3 DIA 12 DIA 13

    DIA 19 DIA 21 DIA 22

    DIA 30 DIA 31

    So Francisco de Borja Nossa Senhora Aparecida Beato Joo Beyzym

    So Joo de Brbeuf

    e So Isaac Jogues,

    e companheiros mrtires

    Beato Diogo Lus de San Vtores

    So Pedro CalungsodNossa Senhora da Graa,

    Padroeira do Noviciado BRA

    Beato Domingos Collins Santo Afonso Rodrigues

  • 8 9Em Em

    eNtRevistA PeregriNOs eM MissO

    pe. sandoval Alves Rocha, SJ

    A ONU (Organizao das Naes Unidas) reconhece o acesso

    gua limpa e ao saneamento bsico como direitos humanos

    fundamentais. Apesar dessa resoluo, aprovada em 28 de julho de 2010, atualmente, cerca de 900 milhes de pessoas no mundo no tm acesso gua potvel. Provocado por essa realidade, que

    atinge, inclusive, a populao da Amaznia, regio abundante

    em recursos hdricos, o padre Sandoval Alves Rocha sentiu-se

    impelido a estudar sobre o tema. Em entrevista ao informativo

    Em Companhia, o jesuta conta-nos um pouco mais sobre

    sua pesquisa no doutorado e como ela o ajudar na misso da

    Companhia de Jesus.

    Conte-nos um pouco da sua histria.

    Nasci no interior do Cear, em Ipu,

    com sede no p da serra da Ibiapaba. Em

    seguida, acompanhando a minha fam-

    lia, me mudei para Fortaleza. Ali conclu a

    minha infncia, vivi a minha adolescn-

    cia e tambm fui jovem estudante, traba-

    lhador e leigo engajado, chegando at a

    realizar a experincia do servio militar.

    Desta ltima experincia, eu no sinto

    saudades, embora no me arrependa de

    t-la realizado. O que mais me marcou,

    nessa poca, foi o autoritarismo da ins-

    tituio, calcado num rigoroso esquema

    hierrquico, no qual nada se espera da-

    queles que se encontram na base da pir-

    mide, a no ser a submisso. Em um pas

    to desigual quanto o nosso, esse esque-

    ma promoveria ainda mais a distncia

    entre ricos e pobres e a anulao de direi-

    tos fundamentais, como ficou evidencia-

    do durante o regime militar.

    Por que decidiu ser jesuta?

    Depois de me mudar para Fortaleza

    com a famlia, alguns anos mais tarde,

    nos deslocamos para o Conjunto Indus-

    trial, bairro da periferia, hoje pertencen-

    te ao municpio de Maracana, Regio

    Metropolitana de Fortaleza. Nesse bairro,

    minha me me inscreveu na catequese de

    Primeira Eucaristia, na comunidade ecle-

    sial local, que integrava a Parquia de Nos-

    sa Senhora do Perptuo Socorro, assistida

    pelos jesutas. Foi a onde comecei a parti-

    cipar da Igreja. No comeo, eu apresentei

    algumas resistncias, mas, pouco a pou-

    co, fui tomando gosto pelas atividades da

    comunidade: catequese, grupo de jovens

    e trabalho social.

    em deFesA dA vidA

    Este foi o contexto em que senti os

    primeiros apelos vocacionais: participa-

    o na comunidade, vontade de colabo-

    rar. Em um mundo como o nosso, com

    tanta pobreza e violncia, eu achava, e

    ainda acho, que a comunidade crist no

    podia se omitir, mas devia fazer algo para

    melhorar a sociedade. Minha compreen-

    so de Deus se expressava muito na ideia

    de algum que ama o ser humano e quer

    ajud-lo, que tem uma preocupao es-

    pecial para com as pessoas e segmentos

    mais frgeis, pois estes expressam de for-

    ma mais evidente onde o mundo precisa

    melhorar: na justia, na solidariedade, no

    amor ao prximo. Em meio a tudo isso,

    eu fui conhecendo a Companhia de Jesus,

    por meio da sua atuao junto s Comuni-

    dades de Base e, pouco a pouco, fui notan-

    do que, como jesuta, eu poderia ajudar

    no trabalho de anunciar a f e promover

    a justia. Penso que isso que Deus quer!

    Durante sua formao como jesuta,

    quais experincias foram determinan-

    tes para estudar Cincias Sociais?

    Ao longo da formao, eu tive mui-

    tas experincias que me foram impelin-

    do para os estudos das Cincias Sociais,

    mas todas foram confirmando a percep-

    o inicial de que Deus ama demais a

    humanidade, deseja que o ser humano

    seja feliz e por isso est constantemente

    trabalhando para transformar as estru-

    turas pessoais (espirituais) e sociais (co-

    munitrias) que impedem a realizao

    dessa felicidade. Penso que a atuao

    de Jesus Cristo, anunciando o Reino de

    Deus, se aproxima dessa compreenso.

    Afinal, foi assim que o evangelista Lu-

    cas descreveu a misso de Jesus: o Es-

    prito do Senhor est sobre mim, pois

    ele me ungiu para anunciar a Boa Nova

    aos pobres: enviou-me para proclamar a

    libertao aos presos e, aos cegos, a recu-

    perao da vista; para dar liberdade aos

    oprimidos e proclamar um ano aceito da

    parte de Deus (Lc 4,18).Fiz algumas experincias que foram

    confirmando essa concepo e reafirman-

    do o desejo de me associar a Jesus nesse

    servio. Os estudos filosficos e teolgi-

    cos, os Exerccios Espirituais, a atuao

    pastoral junto s Comunidades de Base, as

    experincias de insero em movimentos

    sociais e o trabalho na Amaznia.

    Essa ltima experincia foi definiti-

    va para que eu enveredasse para o douto-

    rado nas Cincias Sociais. Nessa poca,

    entre 2012 e 2014, trabalhei em Manaus (AM), combinando a docncia univer-

    sitria com a atuao na Pastoral Uni-

    versitria Diocesana, alm de participar

    de um coletivo formado por lideranas

  • 8 9Em Em

    preocupadas com a situao precria

    dos servios de abastecimento de gua

    e esgotamento sanitrio da cidade. Era

    uma situao bastante constrangedora

    e contraditria e esse problema ainda

    no est resolvido. Imagine uma regio

    como a Amaznia, abundante em recur-

    sos hdricos, sofrer com o problema da

    falta de gua potvel! Esses servios ha-

    viam sido privatizados no ano 2000, mas os poderes pblicos eram totalmente

    coniventes com o descumprimento das

    metas contratuais, no fazendo a devida

    cobrana empresa encarregada. Diante

    dessa realidade, esse grupo, denomina-

    do Frum das guas, atuava mobilizan-

    do as comunidades e exigindo, da parte

    das autoridades pblicas e da empresa,

    a soluo desse problema. Era uma atu-

    ao que envolvia aspectos sociais, po-

    lticos e jurdicos. Foi nesse contexto de

    luta pelos direitos sociais que me veio a

    ideia de estudar a problemtica do aces-

    so gua potvel na Amaznia.

    O senhor est fazendo doutorado

    em Cincias Sociais pela PUC-Rio.

    Qual o tema que est estudando?

    Como j mencionado, a temtica de

    minha pesquisa o direito gua, que

    ainda um grande desafio para a huma-

    nidade, pois h regies onde a populao

    no tem acesso gua potvel e, por ser

    um bem limitado, empresas particulares

    querem se apropriar dele, transform-lo

    em mercadoria, visando o lucro.

    Na onda de privatizao do abaste-

    cimento de gua, os pobres so os mais

    prejudicados, pois as empresas elevam

    ao mximo as tarifas. deixando aqueles

    que tm baixo poder aquisitivo impos-

    sibilitados de acessar, satisfatoriamente,

    esse bem essencial. Trata-se de um bem

    distribudo de forma desigual, por isso

    uma investigao que diz respeito linha

    de pesquisa que aborda as desigualdades

    polticas, sociais e econmicas. Ao abor-

    dar a partir desse foco, busco explicitar

    elementos que indicam que essa desi-

    gualdade de acesso gua no resulta-

    do de fatores naturais, mas de interesses

    econmicos e polticos que atuam de for-

    ma articulada na regio.

    As ltimas Congregaes Gerais

    falam de um compromisso da Com-

    panhia com a justia socioambiental.

    Em nossa realidade latino-americana,

    como a Companhia de Jesus est colo-

    cando em prtica essa recomendao?

    O compromisso com a justia so-

    cioambiental deveria envolver a todos,

    pois os recursos ambientais esto cada

    vez mais ameaados pela ao humana.

    A justia socioambiental diz respeito

    capacidade de gerir os recursos am-

    bientais de forma justa e sustentvel,

    ou seja, considerando as necessidades

    de todos e, ao mesmo tempo, respeitan-

    do o ritmo da natureza, sem destru-la

    nem torn-la mercadoria.

    Na Amrica Latina, a CPAL (Confern-

    cia dos Provinciais Jesutas da Amrica

    Latina) est contribuindo na promoo da

    justia socioambiental. Os esforos esto

    em diversas reas de atuao, mas pode-

    -se notar a sua contribuio, principal-

    mente, em trs eixos: Rede de Solidarie-

    dade e Apostolado Indgena, Rede Jesuta

    com Imigrantes e Rede de Centros Sociais.

    H uma iniciativa muito interessante,

    o Projeto Panamaznico, que busca dar

    uma ateno especial regio amaznica.

    Como est o trabalho da Provn-

    cia dos Jesutas do Brasil-BRA no

    campo social?

    A provncia tem avanado no cam-

    po da ao socioambiental por meio de

    iniciativas locais e buscando criar uma

    articulao entre as obras atravs do

    OLMA (Observatrio Nacional de Jus-

    tia Socioambiental Luciano Mendes

    de Almeida), sediado em Braslia (DF).

    Com a criao da Provncia BRA, hou-

    ve a necessidade de articular as aes

    socioambientais dispersas pelo pas,

    de forma a no trabalharmos isolada-

    mente, assim nasceu o OLMA. Penso

    que uma boa iniciativa, mas o projeto

    ainda est em construo, procurando

    ganhar espao. A ideia da articulao

    necessria e constitui um processo

    demorado, uma vez que ainda estamos

    muito calcados por uma longa histria

    de atuao fragmentada. Os caminhos

    esto sendo descobertos.

    H o consenso sobre a necessida-

    de de trabalharmos em rede, visando

    unir nossas foras para colaborar na

    superao do abismo das desigualda-

    des socioeconmicas, que constitui

    um grande desafio na nossa sociedade.

    Penso que esse desafio s poder ser

    superado medida que fizermos uma

    anlise crtica do sistema econmico

    capitalista, que promove a concentra-

    o dos recursos socialmente produ-

    zidos nas mos de alguns, gerando a

    precariedade das condies de vida e

    trabalho da maioria da populao. De-

    vemos insistir na pauta dos direitos:

    civis, polticos, sociais e ambientais.

    No h dvidas de que, no Brasil, est

    havendo um perigoso retrocesso nesse

    aspecto, dando espao cada vez maior

    a uma pauta neoliberal e pouco com-

    prometida com os interesses das po-

    pulaes mais pobres.

    A superao das desigualdades

    econmicas s ocorrer se houver o

    engajamento da maioria da sociedade,

    por isso a necessidade de criarmos re-

    des de ao e colaborao, envolvendo

    todos aqueles que se preocupam com

    essa questo, sobretudo, aqueles que

    sentem na pele os efeitos perversos da

    desigualdade e da pobreza. Penso que

    ainda precisamos avanar muito para

    chegarmos a esse ponto.

    Aps a concluso do doutorado, h

    algum plano ou projeto em que o se-

    nhor vai colaborar?

    O projeto mais factvel diz respeito

    ao retorno para a Amaznia. Tive uma

    boa experincia nessa regio e h uma

    boa expectativa de eu voltar para conti-

    nuar ajudando na misso da Companhia

    l. Eu espero poder fazer parceria com

    os movimentos da sociedade civil, com

    a universidade, com as comunidades,

    dentre outros. Vamos ver se isso se con-

    firma. Concluo pedindo a intercesso de

    Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do

    Brasil, que celebramos neste ms de ou-

    tubro. Que ela continue rogando a Deus

    pelo nosso pas, mantendo a esperana

    dos brasileiros e os conduzindo a cons-

    truir um pas melhor para todos.

  • 10 11Em Em

    o miNistRio de uNidAde NA igRejA sANtA sCompANhiA de jesus sANtA s

    Entre os dias 6 e 10 de setembro, o Papa Francisco realizou a 20 via-gem internacional de seu pontifi-cado. Dessa vez, o destino foi a Colmbia,

    pas com a stima maior populao de

    catlicos no mundo. O Pontfice levou

    ao pas latino-americano uma mensa-

    gem de encorajamento no caminho da

    reconciliao e do perdo, tendo em vis-

    ta o processo de paz em andamento no

    pas e marcado pelo acordo firmado entre

    o governo e as Farc (Foras Armadas Re-

    volucionrias da Colmbia). Iniciando a

    srie de compromissos, o Papa Francis-

    co acendeu uma pira pela paz em frente

    ao Palcio de Nario, sede do governo de

    Bogot. Em seu discurso, afirmou: Os

    passos dados fazem crescer a esperana,

    na convico de que a busca da paz uma

    obra sempre em aberto, uma tarefa que

    no d trguas e exige o compromisso de

    todos. Ele ainda ressaltou: De nada vale

    silenciar os fuzis, se seguirmos armados

    em nossos coraes. De nada vale acabar

    com uma guerra, se ainda vemos uns aos

    outros como inimigos.

    Durante a viagem, Francisco visitou

    quatro cidades: Bogot, Villavicencio,

    Medelln e Cartagena. Um dos momen-

    NA CoLmBiA, pApA LevA meNsAgem de ReCoNCiLiAo

    tos mais aguardados da viagem foi o

    encontro de orao para a reconciliao

    nacional, realizado no dia 8, que reuniu

    cerca de seis mil pessoas na cidade de

    Villavicencio. Trs discursos feitos por

    colombianos destacaram os percursos

    dos conflitos e suas consequncias. Em

    um dos testemunhos, Juan Carlos Mur-

    cia falou dos dias em que passou a ser-

    vio das Farc; ele deixou a organizao

    aps alguns anos.

    O Santo Padre ficou comovido com

    os testemunhos que, segundo ele, no

    so s histrias de sofrimento, mas de

    amor e de perdo. Francisco convidou

    os colombianos a no ter medo de pedir

    e oferecer o perdo e a abrir os coraes

    para a reconciliao.

    No faltaram, na visita Colmbia,

    as palavras de pastor do Papa para a Igre-

    ja local. No encontro com membros do

    episcopado colombiano, em que esta-

    vam presentes 130 bispos, o Pontfice refletiu sobre o lema de sua visita Dar o

    primeiro passo, e procurou encorajar os

    religiosos. O Papa pediu aos bispos que

    guardem, com santo temor e emoo,

    aquele primeiro passo de Deus em di-

    reo a cada um, ao seu ministrio e ao

    povo que lhes foi confiado.

    Francisco tambm se reuniu com o

    conselho diretivo do Conselho Episco-

    pal Latino-Americano (Celam). Nesse

    discurso, a nfase foi sobre a necessi-

    dade de paixo pelo servir para trans-

    formar as ideias em utopias viveis.

    E aos jovens, que Francisco defi-

    niu como a esperana da Colmbia,

    o encorajamento para manter viva a

    alegria, no deixar roubar a esperan-

    a, no ter medo do futuro e sonhar

    com coisas grandes. Os jovens so

    a esperana da Colmbia e da Igreja.

    Em seu caminhar e em seus passos,

    deslumbramos os de Jesus, os passos

    Daquele que nos traz sempre boas no-

    tcias, disse.

    Fontes: Cano Nova/Isto

    dE nada valE silEnciar Os fuzis, sE sEguirmOs armadOs Em nOssOs cOraEs

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  • 10 11Em Em

    CompANhiA de jesus No muNdo criA gerAl

    Em 14 de setembro, o Servio Jesuta de Refugiados JRS, dos Estados Unidos, foi reco-nhecido pela Embaixada do reino da

    Holanda com o Prmio Anne Frank,

    concedido a pessoas ou organizaes

    que desenvolvem um trabalho contra

    a intolerncia, o antissemitismo, o

    racismo ou a discriminao e promo-

    seRvio jesutA de ReFugiAdos ReCeBe pRmio ANNe FRANk

    va a liberdade e a igualde de direitos.

    O JRS foi premiado por seu trabalho

    para melhorar o acesso educao

    de refugiados e outros afetados por

    guerras e conflitos.

    Atualmente, a organizao atende

    famlias no apenas em programas

    educativos regulares como educa-

    o infantil, primria, secundria ou

    ensino superior , mas tambm fa-

    cilita o acesso formao profissio-

    nal formal ou informal e a programas

    vocacionais para refugiados, crian-

    as, jovens e adultos. Os programas

    educativos de JRS incluem outras in-

    tervenes como programas comple-

    mentares de capacitao pedaggica

    e aprendizagem de idiomas.

    NomeAes

    gruPO de JesutAs estudAsObre O isl

    Recentemente, um grupo de je-sutas reuniu-se para conhecer mais sobre o Islamismo, sua di-versidade e tolerncia inter-religiosa.

    O encontro aconteceu na Indonsia,

    pas muulmano mais populoso do

    mundo. No total, 12 jesutas de dife-

    O Papa Francisco nomeou:O Pe. Anthony James Cor-coran (UCS), administrador apostlico da Administrao apostlica

    do Quirguisto. Nascido em 1963, o pa-dre Corcoran ingressou na Companhia

    de Jesus em 1985 e foi ordenado sacer-dote em 1996. A partir de 1997, esteve na Federao Russa. Foi Superior da Regio

    independente da Companhia de Jesus

    da Rssia (2009-2017).

    rentes pases (Alemanha, Frana, Ni-

    gria, Turquia, ndia, Espanha, Itlia e

    Indonsia) participaram de uma srie

    de aulas, no Colgio interno Tebui-

    reng de Jombang, na provncia de Java

    Oriental. O encontro uma das reu-

    nies habituais do programa Jesutas

    entre Muulmanos (JAM, Jesuits among

    Muslims) e, este ano, a Indonsia foi o

    pas anfitrio, explicou o lder do gru-

    po, padre Franz Magnis Suseno, jesuta

    indonsio nascido na Holanda, profes-

    sor de Filosofia e reconhecido por suas

    iniciativas de dilogo inter-religioso.

    O Padre Geral nomeou:

    O Pe. Roland Coelho (GOA), pro-

    vincial da Provncia de Goa. Nascido

    em 1972, padre Coelho ingressou na Companhia em 1993 e foi ordenado sacerdote em 2003. Tomar posse na funo em 20 de outubro de 2017.

    O Pe. Stephen Chow Sau-yan

    (CHN), provincial da Provncia da

    China. Nascido em 1959, padre Chow Sau-Yan ingressou na Companhia em

    1984 e foi ordenado sacerdote em 1994. Assumir a funo a partir de 1 de janeiro de 2018.

    O Pe. Primitivo E. Viray, Jr

    (PHI), provincial da Provncia de Fi-

    lipinas. Nascido em 1960, o padre Vi-ray ingressou na Companhia em 1984 e foi ordenado sacerdote em 1995. Tomar posse do funo no dia 17 de novembro de 2017.

    Fonte: Boletim da Cria dos Jesutas (N12 e 13/setembro 2017)

  • 12 13Em Em

    especial

    joveNs LdeRes iNACiANos inspiradas por cristo, as instituies de ensino da companhia de Jesus buscam colaborar com o protagonismo juvenil

    12 Em

    espeCiAL

  • 12 13Em Em

    No texto de Mateus (Mt 20, 20-28), h a narrativa da splica da me dos fi-

    lhos de Zebedeu os apstolos Tiago e

    Joo a Jesus: Ordena que estes meus

    dois filhos se sentem, um tua direita e

    outro tua esquerda, no teu reino. Em

    resposta, Cristo diz que eles podem be-

    ber do seu clice, porm, quanto a sen-

    tar-se ao seu lado, no cabe a ele dar

    esse consentimento: Porque

    estes lugares so destinados

    queles para os quais meu

    Pai os reservou. Ao ouvi-

    rem o dilogo, os outros

    apstolos ficam indig-

    nados com os dois ir-

    mos. Jesus, ento, os

    chama e lhes diz: Sa-

    beis que os chefes das

    naes as governam e

    os grandes exercem o

    poder sobre elas. Mas

    entre vs no ser assim.

    E quem quiser fazer-se

    grande entre vs ser vosso

    servidor e quem quiser ser o pri-

    meiro dentre vs ser o vosso em-

    pregado, a exemplo do Filho do homem,

    que no veio para ser servido, mas para

    servir e dar a sua vida em resgate pela

    multido dos homens.

    Uma liderana que tenha como ali-

    cerce o Amor, a Justia e o Servir sem-

    pre esteve presente nas palavras e aes

    de Cristo. Foi esse exemplo de vida que

    inspirou Santo Incio e que, h anos,

    tem servido de guia tambm para a

    Companhia de Jesus na formao de

    jovens lderes inacianos.

    Padre Mrio Sndermann, delegado

    para a Educao Bsica da Rede Jesuta

    de Educao (RJE), conta que o intuito

    desenvolver lideranas que entendam

    a prpria autoridade como servio que

    transforma as pessoas e, por meio das

    pessoas, a sociedade. Desejamos formar

    lderes capazes de colocar os interesses

    coletivos acima dos desejos e interesses

    pessoais. Buscamos desenvolver uma li-

    derana que seja permeada pelo esprito

    de gratido, generosidade e compromis-

    so social. Que encontre disposio, ener-

    gia, competncia e criatividade necess-

    rias para seguir construindo um mundo

    mais justo, fraterno, inclusivo e cristo,

    ressalta o jesuta.

    expeRiNCiAs tRANsFoRmAdoRAs

    Os colgios e escolas da RJE oferecem

    vrios e diversificados projetos e ativida-

    des com o objetivo de desenvolver o pro-

    tagonismo e a liderana dos seus alunos.

    Foi assim que o antigo aluno do Colgio

    Antnio Vieira, em Salvador (BA), Gabriel

    Moreira Gomes Cavalcanti, conectou-se

    com uma realidade totalmente estranha

    ao seu cotidiano. Quando eu estava no 1 ano do Ensino Mdio, em 2011, o colgio me convidou para participar de um encon-

    tro de lderes em Capim Grosso, no serto

    da Bahia. Foi uma experincia diferente de

    tudo o que eu j havia feito. Ns passamos

    um final de semana com os moradores lo-

    cais, dormindo em suas casas e conhecen-

    do suas vidas. Isso me fez crescer muito

    e ver situaes boas e ruins. Tambm fez

    Formado por alunos e ex-alunos

    do Colgio Antnio Vieira, desde 2013, o grupo Peregrinos de Cala Jeans

    (PCJ) desenvolve importantes ativida-

    des baseadas em trs pilares: amizade,

    espiritualidade e ao social.

    com que eu me aproximasse de Deus,

    conta o estudante, de 22 anos, que hoje cursa Direito na Universidade Federal da

    Bahia (UFBA).

    Gabriel recorda que a viagem a Capim

    Grosso mexeu internamente com ele,

    deixando-o profundamente incomodado

    com os problemas vistos na regio e com

    o sofrimento dos outros. Fiquei tam-

    bm incomodado comigo mesmo,

    com minhas atitudes. Esse sen-

    timento foi importante para

    me dar energia, visando

    trabalhar para mudar essa

    situao. Foi o pontap

    inicial para falar com

    pessoas com quem eu

    no conversava tanto,

    para valorizar mais o

    que eu tinha em casa e

    para buscar caminhos

    de atuao para mudar as

    coisas, afirma o jovem.

    Toda essa experincia,

    segundo Gabriel, foi essen-

    cial para sua formao humana.

    Em um momento turbulento, com

    vrias dvidas, em uma fase da vida em

    que muitas coisas passam pelas nossas

    cabeas, tive a oportunidade de receber

    um balde de gua fria e ver que o mundo

    muito maior do que eu pensava. Aprendi

    que muitas pessoas sofrem males maio-

    res do que os meus e nem por isso desis-

    tem ou vivem reclamando da vida. Graas

    a essa vivncia, eu pude, anos depois, par-

    ticipar da criao do grupo Peregrinos de

    Cala Jeans (PCJ) e de alguns projetos na

    regio de Capim Grosso, como a doao

    de 11 violinos para a escola de msica Flor do Meu Serto, o ensino para jovens e a

    construo de banheiros na comunidade

    de Embratel, relata o estudante.

    13Em

  • 14 15Em Em

    especialespeCiAL

    14 Em

    Foi tambm por meio de uma ativi-

    dade escolar que Letcia Yolanda Silva,

    16 anos, despertou para o voluntariado,

    no final de 2015, ao participar do proje-

    to Cantando o Natal organizado pela

    Pastoral do Colgio Catarinense e pela

    Igreja Santa Catarina de Alexandria, que

    ficam em Florianpolis (SC). Acho que

    foi a partir dessa experincia que enten-

    di o real significado de reciprocidade,

    pois, ao oferecer um abrao ou sim-

    plesmente fazer companhia para idosos

    ou doentes, percebi que essas pessoas

    estavam fazendo muito mais por mim

    do que eu por elas. Compreendi o quo

    incrvel sentir o poder que o simples

    gesto de carinho e a simpatia tm sobre

    a alma, conta a aluna do Catarinense.

    Letcia revela que, a partir de proje-

    tos oferecidos pelo colgio, mudou sua

    viso de mundo e passou a agir de forma

    diferenciada perante as inmeras ques-

    tes da sua vida, tanto familiar quanto

    comunitria. Creio que a humildade e

    Organizado pela Pastoral do Co-

    lgio Catarinense e pela Igreja Santa

    Catarina de Alexandria, o projeto

    Cantando o Natal envolve repre-

    sentes de toda a comunidade educa-

    tiva. O objetivo transmitir o verda-

    deiro esprito fraterno do Natal aos

    irmos doentes, idosos e residentes

    em instituies assistenciais.

    a compaixo so os valores mais mar-

    cantes que aprendi por meio dessas ex-

    perincias, pois elas nos tornam mais

    fraternos. E isso, com certeza, faz toda

    a diferena para ns prprios e para o

    mundo, avalia a jovem. Talvez, eu no

    possa solucionar o terrorismo na Sria, a

    fome na frica ou ainda a crise poltica e

    tica no Brasil, mas sei que posso ajudar

    e fazer a diferena para aqueles que es-

    to minha volta, necessitando do meu

    olhar e da minha ao solidria. Acredito

    que, se queremos construir um mundo

    melhor, precisamos parar de esperar

    que os problemas se solucionem

    sozinhos. Temos todos de tomar a

    iniciativa, seja em casa, no traba-

    lho, na comunidade ou no pas.

    iNspiRAdos peLo magiS

    Aluna do 3 Ano do Ensino M-dio, Mariana Hippert Gonalves Silva

    conta que as vrias atividades pro-

    movidas pelo Colgio dos Jesutas,

    em Juiz de Fora (MG), foram marcan-

    tes para sua formao. Por meio da

    Aprendi que muitas

    pessoas sofrem males maiores do que os meus

    e nem por isso desistem ou vivem reclamando da vida.

    gabriel moreiragomes Cavalcanti

    Acredito que, se queremos

    construir um mundo melhor, precisamos parar de esperar que os problemas se

    solucionem sozinhos.

    Letcia Yolanda silva

  • 14 15Em Em 15Em

    Criada pela FLACSI (Federao La-

    tino-americana de Colgios da Com-

    panhia de Jesus), em 2011, a Cam-panha Inacianos pelo Haiti tem

    promovido um importante trabalho

    FoRmANdo LdeRes iNACiANos

    A educao jesuta instrumen-

    to efetivo de formao de lideranas,

    fundamentado na f, na prtica da

    justia, do dilogo inter-religioso e no

    cuidado com o meio ambiente. Alm

    de educarmos alunos e educadores

    para o compromisso e a transforma-

    o social, buscamos que eles vivam e

    promovam uma relao sadia e de res-

    ponsabilidade com a natureza, reco-

    nhecendo-a como dom de Deus para

    a vida de todos, afirma padre Mrio

    Sndermann, delegado para a Educa-

    o Bsica da RJE, acrescentando que

    desejamos formar uma liderana que

    seja competente nas cincias e nas

    letras, permeada pelo esprito da gra-

    tido, da generosidade e do compro-

    misso social.

    Padre lvaro Negromonte, diretor

    da Formao Crist do Colgio Loyola,

    em Belo Horizonte (MG), enfatiza que

    os alunos dos colgios jesutas so cha-

    mados de lderes inacianos porque se

    reconhecem em uma busca constante

    de magis, o maior servio aos outros,

    de modo que possam exercer a discreta

    caridade na incumbncia de uma ao

    transformadora do mundo a partir de si

    mesmo. O lder inaciano, alm da ad-

    mirao por Cristo, aberto, alegre com

    a vida e capaz de reconhecer os prprios

    talentos e fraquezas. ainda misericor-

    dioso com os outros e consigo mesmo,

    informa o jesuta. A liderana inaciana

    descentralizada de si mesma para co-

    locar o desejo de Deus em primeiro lu-

    gar. O modo inaciano exige discernimen-

    to, abertura, escuta e esvaziamento, o que

    contrrio a uma cultura atual.

    A formao de lideranas inacianas

    permeia os currculos de todos os col-

    gios que formam a Rede Jesuta de Educa-

    o. Segundo Juliana Lima, coordenadora

    de Ao Social e Voluntariado do Colgio

    Santo Incio, no Rio de Janeiro (RJ), isso

    se d em todas as aes desenvolvidas

    pela instituio, desde uma campanha de

    arrecadao at os encontros formativos

    nacionais e internacionais de que nossos

    alunos participam, alm dos prprios gru-

    pos de formao de lideranas.

    Buscamos formar lderes servidores,

    ao modelo de Jesus Cristo, que sejam ca-

    pazes de colocar em prtica os quatro Cs

    proposto pelo padre Peter-Hans Kolven-

    bach: conscientes, competentes, com-

    passivos e comprometidos, diz Juliana

    Lima. Se nossas futuras lideranas no

    forem capazes de calar o sapato do ou-

    tro e enxergar os demais como irmos e,

    automaticamente, como coerdeiros des-

    ta mesma Casa Comum, certamente no

    mudaremos este cenrio de crise moral e

    tica que estamos vivendo.

    O coordenador do Servio de Orien-

    tao Religiosa e Pastoral do Colgio An-

    tnio Vieira, em Salvador (BA), professor

    Joo Ramiro, tambm conta que h uma

    conexo total entre as propostas da ins-

    tituio com o Projeto Educativo Comum

    (PEC). Temos como misso formar den-

    tro da escola lderes para o mundo, pesso-

    as que sejam conscientes, competentes,

    comprometidas e compassivas. So indi-

    vduos responsveis que pensam no outro

    e no ambiente em que esto inseridos. A

    ideia construir o Reino de Deus a partir

    de boas lideranas, diz Joo Ramiro.

    Assim, segundo o professor, valo-

    res cristos como solidariedade, com-

    paixo e diversidade permeiam todos

    os projetos do Colgio Antnio Vieira.

    Procuramos fazer com que os estudan-

    tes percebam que Jesus se faz presente

    em todo ser humano, diz Joo Rami-

    ro. Esses valores ajudam esses lderes

    na compreenso, na apreciao e no

    respeito diversidade social e cultural

    como um componente enriquecedor

    para melhorar a sua convivncia na so-

    ciedade.

    Renan Nascimento, coordenador

    da Dimenso Espiritual do Colgio

    So Lus, em So Paulo (SP), conta que

    os projetos desenvolvidos na insti-

    tuio buscam ensinar valores como

    respeito pluralidade de ideias, o

    compromisso social e com a convi-

    vncia democrtica, o autoconheci-

    mento, a compreenso da realidade,

    a cooperao no servio e a luta con-

    junta pela justia. Um jovem que de-

    senvolva uma liderana inspiradora

    capaz de motivar pelas palavras e,

    principalmente, pelas atitudes. Nos-

    sos projetos trabalham valores para

    capacitar os alunos a serem testemu-

    nhas de que possvel fazer um mun-

    do melhor, mais humano para todos.

    A vitalidade e a capacidade de sonhar

    com os ps no cho fazem do jovem

    um instrumento precioso para mudar

    a realidade, a comear pela sua pr-

    pria, diz o coordenador.

    de reestruturao nas escolas de F e

    Alegria do pas, atingido por um forte

    abalo ssmico em 2010. Os colgios da Rede Jesuta de Educao do Brasil par-

    ticiparam ativamente da iniciativa.

    participao no Coral, por exemplo,

    percebi o quanto a arte nos ajuda a

    sermos mais humanos, enfatiza a es-

    tudante, de 17 anos. No projeto Inacianos pelo Haiti, en-

    quanto pesquisava para fazer um cartaz,

    ouvi a msica Eu s peo a Deus. uma

    prece para Deus continuar nos dando for-

    a para seguirmos fazendo o que quere-

    mos, o bem. E foi muito legal ver tantos

    alunos, de diferentes lugares, esforan-

    do-se em prol de uma causa to bonita.

  • 16 17Em Em

    especial

    16 Em

    espeCiAL

    O Encontro de Liderana Crist

    III Compaeros experincia pes-

    soal e comunitria de insero social,

    orao, trabalho e reflexo, realizada

    com os alunos do 3 Ano do Ensino Mdio do Colgio dos Jesutas.

    Realizado, no incio do ano, pelo

    Colgio Medianeira, o Encontro de

    Formao de Lderes Inacianos

    tem como objetivo promover a for-

    mao tica, poltica e cidad dos

    alunos, alm de promover atividades

    formativas com base na espirituali-

    dade inaciana.

    Nos pAssos de sANto iNCio

    Conhea as caractersticas que pautam a vida de um lder inaciano:

    movido pelo magis, buscando sempre dar o seu melhor.

    Pauta sua vida pelo servio aos demais.

    competente e comprometido: faz a diferena na realidade em que est inse-rido e no contexto do mundo contemporneo.

    Tem um olhar humano e sensvel para os problemas e desafios do mundo.

    Sai de si e vai ao encontro do outro: no cruza os braos diante da injustia, nem fecha os olhos aos que sofrem. Ou seja, solidrio afetiva e efetivamente com os demais a partir dos valores assumidos.

    Tem coragem de trilhar a rota do autoconhecimento e reconhecer suas quali-dades e fraquezas.

    Ainda quero conhecer, pessoalmente,

    a atuao do F e Alegria no Haiti, sen-

    tir as pessoas de l e poder trabalhar de

    verdade com elas, diz a aluna do Colgio

    dos Jesutas.

    Segundo Mariana, outro projeto que

    a marcou foi o Encontro de Liderana

    Crist Compaeros, por permitir aos alu-

    nos colocarem em prtica o que desejam

    viver e o que querem para o mundo. Essa

    experincia foi realizada em Bocaina de

    Minas (MG), uma cidade pequena. Se eu

    fosse para l em uma viagem com a fam-

    lia, no seria a mesma coisa que o Colgio

    nos possibilitou viver, pois nos preparou

    para termos um olhar diferenciado, ina-

    ciano mesmo. Essa vivncia me motivou

    a escolher minha profisso, quero ser

    mdica!, revela a jovem, acrescentando:

    Carrego muito para a minha vida a ideia

    do magis, dar sempre o meu melhor, inde-

    pendentemente de tudo. algo incrvel,

    muito inspirador, que me orienta e que

    me d fora para continuar lutando pelo

    que quero.

    carrego muito para a

    minha vida a ideia do magis, dar sempre o

    meu melhor [...]

    mariana hippert gonalves silva

    Aluna do 3 Ano do Ensino Mdio do Colgio Medianeira, em Curitiba

    (PR), Ana Beatriz Nerone conta que o

    Encontro de Formao de Lderes

    Inacianos foi um marco em sua tra-

    jetria na instituio. O contato com

    a espiritualidade de Santo Incio dei-

    xa marcas e lembranas profundas,

    principalmente se vivida dentro de um

    ambiente to corriqueiro e to presen-

    te em minha vida. Experincias como

    essa me ajudam a compreender alguns

    valores pregados pela Rede Jesuta de

    Educao, possibilitando o contato

    com o verdadeiro sentido de compai-

    xo, o inconformismo diante das in-

    justias de nossa realidade, o discer-

    nimento e o esprito de ao, afirma

    a jovem. E acrescenta: Esses valores

    denotam o modo como percebemos e

    lidamos com a vida. Eles influem na

    forma como tratamos e vemos o outro,

    nas atitudes com o ambiente e, princi-

    palmente, no mpeto de querer trans-

    formar o mundo em um lugar justo e

    solidrio. Acredito que o aprofunda-

    mento desses valores seja fundamen-

    tal para a formao de cidados mais

    ativos e mais compassivos.

  • 16 17Em Em 17Em

    eNCoNtRo de FoRmAo iNtegRAL dA Rje

    Durante 11 dias, entre 5 e 15 de setembro, 48 alunos reuniram-se para o 2 Encontro de Formao In-tegral (EFI) da Rede Jesuta de Edu-

    cao (RJE), realizado na Vila Fti-

    ma, unidade do Colgio Loyola, em

    Belo Horizonte (MG). A iniciativa

    o principal projeto envolvendo os

    estudantes da RJE e tem como obje-

    tivo colaborar com a formao inte-

    gral dos jovens, fortalecendo as di-

    menses afetiva, espiritual, tica,

    comunicativa e sociopoltica por

    meio de uma experincia profun-

    da de Deus, iluminada pelo modo

    de proceder inaciano. Nada mais

    amplo e integral do que uma imer-

    so como essa, em que se trabalha

    e aprofunda as diversas dimenses

    da aprendizagem que transcendem

    os espaos e tempos escolares e per-

    meiam todas as atividades, transfor-

    mando vidas, ressaltou padre Mrio

    Sndermann, delegado para a Educa-

    o Bsica da RJE.

    Os principais temas tratados no

    EFI foram autoconhecimento, lide-

    rana inaciana, tcnicas de oratria,

    sustentabilidade e condies do tra-

    balho no Brasil, alm de experincias

    de voluntariado e imerso sociocul-

    tural. Um dos xitos do Encontro

    de Formao Integral propor um

    modelo de aprendizagem centrado na

    experincia do aluno, em que espaos

    e tempos so redimensionados para

    gerar mais mobilidade e criatividade

    no processo educativo, exatamente

    como indica o PEC (Projeto Educati-

    vo Comum) da RJE, afirmou Pedro

    Risaffi, secretrio executivo da RJE.

    importante ressaltar que, ao retorna-

    rem a seus colgios de origem, esses

    alunos tornam-se multiplicadores

    dessa experincia.

    Aproveite e assista ao vdeo

    com depoimentos de alguns jo-

    vens participantes do EFI. Produ-

    zido pela equipe de Comunicao

    do Colgio Loyola, o vdeo pode ser

    acessado via o QR code abaixo.

    O lder inaciano aquele

    que est junto aos demais, atuando para alcanar

    objetivos que beneficiem a todos igualmente.

    Ana Beatriz Nerone

    Aos 17 anos, Ana Beatriz lembra que a juventude, mais do que nun-

    ca, est sendo requisitada para tomar

    frente nos processos de mudana so-

    cial, no enfrentamento das injustias

    e na busca por mais desenvolvimen-

    tos nas mais diversas reas. Sinto que

    aprender mais sobre liderana ina-

    ciana me d suporte para concretizar

    os meus projetos de vida, coletivos e

    individuais, ao mesmo tempo em que

    me auxilia no entendimento da reali-

    dade que me cerca, explica a estudan-

    te. O diferencial do lder inaciano o

    sentimento do magis. Ou seja, ele no

    emprega suas qualidades para garantir

    prestgio ou estar um passo frente

    dos outros. O lder inaciano aquele

    que est junto aos demais, atuando

    para alcanar objetivos que beneficiem

    a todos igualmente. Ele visa a uma vida

    que seja mais para os demais e com os

    demais, ressalta Ana Beatriz.

  • 18 19Em Em

    A CompANhiA de jesus NA AmRiCA LAtiNA cPAl

    umA pRopostA de ReCepo Da carta do Pe. Geral, Arturo Sosa, sobre o Discernimento Apostlico em Comum

    pe. Roberto jaramillo Bernal, sjPresidente da CPAL

    orque como j havia nos acontecido

    muitas vezes, sendo alguns de ns

    franceses, outros espanhis, outros

    savoianos e outros cntabros, tnhamos

    relativamente ao nosso estado uma varie-

    dade de pareceres e opinies, ainda que to-

    dos com uma mesma inteno e vontade

    de buscar a benevolente e perfeita vontade

    de Deus. Segundo o fim da nossa vocao

    de Deliberao dos primeiros padres.

    Em uma carta publicada em 27 de se-tembro, o Superior Geral da Companhia

    de Jesus, padre Arturo Sosa, ilustrou e

    inspirou-nos sobre o discernimento

    apostlico em comum como forma de

    governo do Corpo Apostlico da Com-

    panhia. Nessa era de excesso de infor-

    mao e mltiplas ocupaes, muito

    provvel que passemos de modo desa-

    percebido por exortaes to importan-

    tes como esta, reduzindo, assim, o im-

    pacto que deve ter em nossas vidas e nas

    nossas obras apostlicas. Devemos estar

    atentos a isso para no cair nessa verda-

    deira tentao (do mau esprito) e ter

    o corao e a mente abertos para ouvir

    o que Deus diz por meio Daquele que

    colocado como cabea do Corpo de que

    quisemos e de queremos fazer parte.

    Pretendo somente comentar dois

    elementos que, na parte introdutria da

    carta, eu considero fundamentais. Em

    primeiro lugar, importante ter adiante

    a tarefa que o Pe. Geral recebeu da Con-

    gregao nas tarefas de discernir [...] as

    consequncias de formular a misso da

    Companhia como contribuio para a re-

    conciliao e [...] escolher preferncias

    apostlicas universais neste momento

    do mundo e da Companhia. Alm disso,

    convida-nos a refletir sobre a necessida-

    de de crescer a partir do discernimento

    em comum no desafio de constituirmos

    como um corpo intercultural, aprofundar

    o dilogo com as culturas e as religies

    e promover a cultura da salvaguarda de

    crianas, jovens e pessoas vulnerveis.

    Esses cinco elementos que o Pe. Ar-

    turo Sosa ressalta em um mesmo par-

    grafo pede toda a nossa ateno e nosso

    compromisso pessoal e institucional:

    1 o ministrio central da reconcilia-o (encargo evanglico e ponto central

    da frmula do instituto);

    2 a unidade de misso na diversidade que nos constitui (as preferncias apos-

    tlicas universais);

    3 a unio de um Corpo uno e diversi-ficado: com pessoas concretas, tempos

    e locais de encarnao;

    4 com a capacidade de ver e valorizar os modos originais de revelao do ni-

    co Deus em diversas culturas e religies;

    5 e com o cuidado especial e ativo (prag-mtico) dos mais vulnerveis e pobres.

    Eu lhes convido a fazer, de cada

    uma dessas questes, um motivo de re-

    flexo, orao, dilogo e discernimento

    em nossas vidas.

    Em segundo lugar, quero enfatizar

    o fato de que, de vrias maneiras, insiste

    o Padre Geral que o discernimento ine-

    rente ao modus operandi da Companhia.

    O que une os companheiros de Jesus, em

    Veneza (Itlia), que todos tm uma vida

    espiritual ativa centrada em Jesus Cristo,

    por quem esto enamorados, que esto a

    servio dos pobres e permanecem dispo-

    nveis para o servio a.m.d.g. Estas dispo-

    sies vitais lhes garantem um caminho

    aberto para o discernimento em comum.

    Este discernimento realizado tan-

    to em nossas comunidades quanto nas

    obras apostlicas, com a participao

    ativa dos companheiros e companheiras

    na misso. No , de nenhuma manei-

    ra, um privilgio jesuta, mas, sim, um

    modo de ser de toda a Companhia, como

    Corpo Apostlico. E, em seguida, conti-

    nua o Pe. Sosa: [...] lgico que o grupo

    que discerne em comum seja diferente,

    dependendo da deciso que pretenda to-

    mar. Na vida da Companhia, h muitas

    decises que exigem a contribuio de

    mais de um grupo para o discernimen-

    to em comum para poder chegar deci-

    so final, em sintonia com a vontade de

    Deus, assiduamente procurada.

    Tal como acontece com o desafio da

    colaborao mtua e com o desafio do

    trabalho em rede, no poucas vezes os

    sujeitos apostlicos mais resistentes a co-

    locar isso em prtica so os jesutas, que

    nos deixamos levar e guiar pelo nosso

    querer e interesse, enquanto leigos e lei-

    gas, religiosos e religiosas, sacerdotes e

    outras pessoas com as quais colaboramos

    nos metem as esporas e nos ajudam a ir

    em frente neste inerente modo de ser do

    nosso Corpo Apostlico. Onde h capaci-

    dade e necessidade, h responsabilidade,

    disse o Pe. Pedro Arrupe, em seu discurso

    ao final da 31 CG (Congregao Geral). Em matria de discernimento, assim como

    tambm de colaborao e trabalho em

    rede, o convite da 36 CG deve soar em ns como um verdadeiro chamado divino.

    Proponho a todos que, como modo

    de acolher este chamado divino e agra-

    decer ao Pe. Geral esta exortao para

    viver o discernimento como um modo

    inerente de nossa vocao, proponha-

    mo-nos, em todas as obras apostlicas,

    o compartilhamento desse convite e

    dialoguemos sobre ele com todos os co-

    laboradores e colaboradoras, com quem

    formamos um nico Corpo Apostlico.

  • 18 19Em Em

    Fonte: Pan-Amaznia SJ Carta Mensal (n 42/Setembro 2017)Acesse www.jesuitasbrasil.com/cartapanamazonia e leia a ntegra desta e de outras edies.

    semiNRio dA Rede de eNFReNtAmeNto do tRFiCo humANo

    visitA do pApA Ao sANtuRio de so pedRo CLAveR

    eveNtO sObre O direitO PAz e guA

    Aproveitando a visita do Papa Francisco Colmbia [sai-ba mais na editoria Santa S] e dando continuidade ao Seminrio

    de Direito gua, que aconteceu em

    Roma (Itlia), em fevereiro de 2017, organizou-se em Bogot, nos dias 7 e

    8 de setembro, um Seminrio com a temtica: Do direito gua ao direito

    Paz - Uma Ecologia Integral para o Meio

    Ambiente, o Desenvolvimento Sustent-

    vel e a Cultura do Encontro.

    Representando o SJPAM (Servio Je-

    suta Pan-amaznico) e a REPAM (Rede

    o dia 23 de setembro, aconte-ceu mais uma edio do Se-

    minrio da Rede de Enfrenta-

    mento do Trfico Humano, no Centro

    de Formao Frei Ciro, em Tabatinga

    (AM). Com o tema Preveno, tarefa e

    preocupao de todos, a problemtica

    do trfico de pessoas na trplice frontei-

    ra (Brasil-Peru-Colmbia) foi retomada.

    Com o apoio do SJPAM (Servio Jesu-

    ta Pan-amaznico), representado pelo

    No dia 10 de setembro, o Papa Francisco visitou Cartagena (Colmbia). Na ocasio, o Pon-tfice depositou flores junto aos restos

    mortais de So Pedro Claver, conhecido

    como apstolo dos negros. Em seguida,

    padre Valrio Sartor, e de representantes

    de diversas instituies religiosas, p-

    blicas e privadas, o evento contou com

    a participao de mais de 80 pessoas de vrias comunidades dos trs pases

    fronteirios. Segundo padre Valrio, foi

    um dia de intensa reflexo para conhe-

    cer melhor os diferentes tipos de trfico

    de pessoas (explorao sexual, trfico de

    rgos, trabalho escravo, adoo ilegal,

    etc.) e os diferentes meios utilizados

    pela rede organizada do trfico de pes-

    soas. Alm disso, foi a oportunidade de

    conhecer e poder contar com a parceria

    das instituies e dos organismos com-

    petentes para investigar e assumir os

    casos de trfico humano. Para os mem-

    bros da Rede de Enfrentamento ao Tr-

    fico, compete, principalmente, realizar

    o trabalho de preveno e conscienti-

    zao nas escolas e comunidades onde

    atuam, afirmou o jesuta.

    Eclesial Pan-Amaznica), o padre Al-

    fredo Ferro participou do encontro. No

    Seminrio, houve algumas exposies

    e trabalhos em grupo, para refletir e par-

    tilhar o que significa lutar pelos direitos

    de paz e de gua no contexto latino-ame-

    ricano e, especificamente, colombiano.

    O padre Ferro coordenou duas mesas de

    dilogo que se organizaram sobre temas

    relacionados com a Amaznia. Ainda,

    elaborou-se uma Carta compromisso da

    Colmbia para enfrentar a problemtica

    da gua e da paz.

    Francisco quis se encontrar com os jesu-

    tas por 30 minutos no ptio interno do Santurio. Representando o SJPAM (Ser-

    vio Jesuta Pan-amaznico), os padres

    Valrio Sartor e Alfredo Ferro estiveram

    presentes. Foi um encontro fraterno e de

    dilogo informal sobre diversos temas.

    Um fato marcante, que animou e trouxe

    esperana aos jesuitas, foi o momento em

    que o Papa cumprimentou o padre Ferro

    e disse: Vou convocar um Snodo sobre a

    Pan-Amaznia.

  • 20 21Em Em

    A CompANhiA de jesus No muNdo serviO dA F

    Elaborado pela Rede Mundial de Orao do Papa (Apostolado da Orao e Movimento Eucarstico Jovem MEJ), o aplicativo Click To Pray

    completou um ano no Brasil. Nesse per-

    odo, a pgina da ferramenta no Facebook

    j alcanou quase 45 mil seguidores, nmero expressivo que demonstra a re-

    levncia do app nos dias atuais. O Click

    To Pray muito importante, sobretudo,

    para quem no tem um tempo maior

    disponvel para a orao, acredita padre

    Eliomar Ribeiro de Souza, diretor nacio-

    nal da Rede Mundial de Orao do Papa.

    O aplicativo foi desenvolvido pela

    empresa La Machi e tem como objetivo

    facilitar o momento de orao. Padre

    Eliomar explica que, ao longo do dia, so

    propostos trs perodos para conectar o

    corao a Cristo. Em um mundo cada

    vez mais conectado, marcado pelas no-

    vas tecnologias, o app uma oferta, es-

    pecialmente para os jovens, de se apro-

    ximarem mais de Deus e da Igreja. Aos

    poucos, percebemos que as

    formas tradicionais j no

    garantiam mais a partici-

    pao da juventude: grupos

    de jovens, sacramentos, etc.

    Por isso, a importncia de

    oferecer outras possibili-

    dades de sentido para eles,

    explica o jesuta.

    Alm dos trs breves

    momentos de orao ofe-

    recidos por dia, tambm

    possvel colocar as prprias intenes

    para que outros rezem com voc. Des-

    sa forma, as pessoas encontram um

    objetivo para rezar, viver e edificar o

    mundo. H muita gente que usa dia-

    riamente o aplicativo. Segundo padre

    Eliomar, o feedback est sendo muito

    positivo. Muitas pessoas, principal-

    mente do Apostolado da Orao e do

    MEJ, comentam que a ferramenta vem

    ajudando nos momentos dirios de

    orao. uma proposta simples de

    orao que requer pouco tempo. Cla-

    ro que os que querem podem ampliar

    seu tempo com Deus. Do ponto de vis-

    ta de utilizao e dos cliques, uma

    multido que est conectada, afirma

    o diretor da Rede Mundial de Orao

    do Papa no Brasil.

    Lanado primeiro em Portugal, em

    novembro de 2014, atualmente, o apli-cativo est disponvel em cinco idio-

    ApLiCAtivo CLiCk to pRAY CompLetA um ANo No BRAsiL

    mas (ingls, francs, espanhol, portu-

    gus e alemo), com perspectivas de

    ser adaptado para mais trs ou quatro

    no futuro. A verso em portugus

    produzida pela Sede Nacional do Apos-

    tolado da Orao e do MEJ no Brasil,

    em conjunto com a sede de Portugal.

    Para padre Eliomar, a ferramenta

    uma resposta ao chamado do Papa Fran-

    cisco para que todos participem da mis-

    so de Cristo, no caso do Click To Pray,

    por meio da orao. No possvel estar

    verdadeiramente bem sem preocupar-se

    com o bem do outro. O convite do Papa

    para sairmos, irmos s fronteiras e pe-

    riferias do mundo nos impele a sair ao

    encontro dos outros, sobretudo de quem

    mais sofre, acredita.

    O jesuta ressalta tambm outra

    iniciativa da Rede Mundial de Ora-

    o do Papa, que atende ao chamado

    de Francisco, a srie O Vdeo do Papa.

    Esse projeto um forte apelo mensal

    para que toda a humanidade se mo-

    bilize internamente, preocupando-se

    com os grandes desafios da humani-

    dade. Divulgado nos dias prximos

    da primeira sexta-feira de cada ms

    dia de Orao e Mobilizao pelas

    Intenes de Orao do Papa, o vdeo,

    gravado em espanhol, legendado em

    mais de 10 idiomas e pode ser acessa-do pelo YouTube, finaliza.

    Como utiLiZAR

    Para utilizar o app Click to Pray, necessrio fazer download da ferra-menta na App Store e no Google Play. depois, s criar um perfil e estabe-lecer os horrios para orao, que so divididos em trs perodos: orao da manh (para comear o dia), da tarde (para receber uma frase ou pensamento inspirador) e da noite (para a reviso diria). O aplicativo tambm envia uma newsletter sobre a rede Mundial de Orao para as pessoas cadastradas.

  • 20 21Em Em

    A CompANhiA de jesus No muNdo dilOgO culturAl e religiOsO

    LANAmeNto de oBRA CompLetA de mANueL dA NBRegA

    Os primeiros jesutas desem-barcaram no Brasil, em 1549, nove anos aps a Compa-nhia de Jesus ser aprovada pelo Papa

    Paulo III. Vindos com Tom de Sousa,

    primeiro governador-geral do Brasil Co-

    lnia, os religiosos foram liderados pelo

    padre Manuel da Nbrega, umas das fi-

    guras mais importantes na fundao de

    cidades e no trabalho de educao dos

    descendentes de portugueses e nativos.

    Em 18 de outubro, comemoramos os 500 anos de nascimento de Nbrega e, em homenagem a esse importante per-

    sonagem da histria brasileira, foi lan-

    ado o livro Obra completa de Manuel da

    Nbrega, publicao editada pelas Edi-

    es Loyola e pela Editora PUC-Rio (2017) e organizada por Paulo Roberto Pereira.

    O ltimo livro que trazia os textos do

    jesuta era de 1955 e foi feito por Serafim Leite, ou seja, no estava atualizado para

    a ortografia atual. Segundo o organiza-

    dor da nova publicao, s especialis-

    tas conseguiam ler, pois sua linguagem

    era mais complexa. Na transcrio dos

    textos, uniformizamos o uso de letras

    maisculas e minsculas, atualizamos a

    pontuao, fixamos a verso quinhentis-

    ta de acordo com as normas ortogrficas

    atuais do portugus do Brasil e acrescen-

    tamos notas esclarecedoras sobre per-

    sonagens e acontecimentos histricos

    relevantes. Os textos em latim emprega-

    dos por Nbrega, oriundos do Velho e do

    Novo Testamento e dos doutores da Igre-

    ja Catlica, foram traduzidos e colocados

    ao p de pgina. , explica Paulo Roberto.

    Para ele, Nbrega uma das princi-

    pais figuras fundadoras do Brasil e, por

    isso, importante tornar acessvel seus

    escritos. Ao chegar Bahia, no sculo

    XVI, ele desenvolveu um extraordin-

    rio trabalho religioso e laico. A partir

    da fundao da cidade de Salvador, o

    jesuta fez um intenso trabalho apos-

    tlico de missionao, atraindo, para a

    Igreja Catlica, os habitantes originais

    do Brasil. Com o passar do tempo, co-

    nhecendo melhor os ndios brasileiros,

    ele assentou as bases da evangelizao

    empreendida pela Companhia de Jesus,

    focada em abolir a antropofagia e a po-

    ligamia e, simultaneamente, defender

    os indgenas dos colonos que deseja-

    vam escraviz-los, afirma.

    Doutor em Letras pela UFRJ (Univer-

    sidade Federal do Rio de Janeiro) e pro-

    fessor na Universidade Federal Flumi-

    nense (UFF), Paulo Roberto explica que

    a atividade laica de Nbrega foi funda-

    mental na expanso geogrfica do Brasil

    quinhentista. Isso se deve criao de

    escolas e orfanatos para crianas aban-

    donadas vindas de Portugal e tambm

    para os prprios curumins aqui encon-

    trados, que eram oferecidos pelos pais

    para serem educados pelos jesutas. Por

    isso, seu pioneirismo como educador e

    criador das primeiras escolas do Brasil

    no pode ser esquecido, ressalta.

    O livro traz cartas, documentos e a li-

    teratura dramtica do jesuta. Um exem-

    plo da importncia de seus escritos para

    o Brasil a pea teatral Dilogo sobre a

    converso do gentio, escrita por Nbrega

    na Bahia, entre 1556-1557. Esse o pri-meiro texto literrio produzido em nos-

    so pas. Mas o valor dessa obra dramtica

    muito maior do que ser a iniciadora da

    Literatura Brasileira, pois suas qualida-

    des dramatrgicas no envelheceram e

    poderia ser montada hoje em qualquer

    teatro do Brasil, diz Paulo Roberto.

    Pelo trabalho de divulgao da f

    crist, Paulo Roberto acredita que o pri-

    meiro provincial da Companhia de Jesus

    no Brasil foi uma das principais figuras

    jesuticas do sculo XVI, ao lado de In-

    cio de Loyola, Francisco Xavier e Jos de

    Anchieta. A primeira contribuio de

    Nbrega para a Companhia de Jesus foi

    estabelecer as bases slidas dessa insti-

    tuio no Brasil, por meio da solicitao,

    aos mandatrios portugueses, de doao

    de terras, de gado e de penso vital-

    cia para a criao de colgios. Ele tinha

    conscincia de que os recursos na nas-

    cente ptria brasileira eram escassos e a

    populao formada de colonos pobres e

    ndios no tinha condio de contribuir

    para a construo de escolas pblicas

    para o povo. Da sua luta para que os

    governantes doassem aos colgios je-

    suticos contribuio permanente, que

    inclua alimentao e roupa, ficando os

    padres jesutas vivendo de esmola e ves-

    tindo, durante anos, farrapos das roupas

    trazidas de Portugal, conforme lembra

    ele incisivamente, conta.

    O livro tambm traz cartas de Nbre-

    ga endereadas aos padres de Coimbra,

    ao rei D. Joo III e a Incio de Loyola, fun-

    dador da Companhia de Jesus. Segundo

    Paulo Roberto, hoje, s conhecemos duas

    cartas endereadas por Nbrega Nessas

    mensagens de Nbrega a Santo Incio,

    existe um fator preponderante revelador

    do seu carter: a humildade e o prazer de

    servir ao outro. A defesa do indgena do

    Brasil o que mais o preocupa nas car-

    tas. Nbrega no pede nada para si, no

    almeja cargos nem dignidades e se consi-

    dera o menos preparado para levar adian-

    te uma obra sem exemplo na histria,

    no dizer de Capistrano de Abreu, sobre o

    trabalho missionrio da Companhia de

    Jesus no Brasil, finaliza.

  • 22 23Em Em

    CompANhiA de jesus PrOMOO dA JustiA sOciOAMbieNtAl

    Querido em Jesus Cristo, Reverendo

    Padre Visitador:

    Que lhe parece? 130 sacerdotes e re-

    ligiosos, com Monsenhor Boza frente,

    rumo Espanha pela vontade paternal e

    democrtica do Dr. Fidel Castro Ruiz. Da

    Companhia de Jesus somos 26, com o R. P.

    Vice Provincial frente. E, como foi? [...]

    Assim comea a longa carta envia-

    da pelo jesuta Fernando de Arango

    a Manuel Foyaca, seu companheiro

    de ordem religiosa e ento Visitador

    Social da Companhia de Jesus para a

    Amrica Latina. A data: 23 de setem-bro de 1961. O lugar: o navio Cova-donga, responsvel por conduzi-los

    ao seu destino final no outro lado do

    Atlntico. O grupo, capitaneado pelo

    bispo auxiliar de Havana (Cuba), dom

    Eduardo Boza Masvidal, havia sido

    expulso do pas dias antes sob o argu-

    mento de colaborao na fracassada

    tentativa de derrubar o governo revo-

    lucionrio, em abril. Tinha incio ali

    um longo, doloroso e definitivo exlio

    para aquele grupo de padres e religio-

    sos. O prprio Fernando de Arango ja-

    mais voltaria a pisar em solo cubano

    novamente. Assim como ele, alguns

    dos jesutas proscritos trabalhavam

    no Centro Social de Havana, o primei-

    s Centros Sociais da Companhia de Jesus na Amrica Latina tm uma rica histria e, para ajudar a compartilhar esse co-

    nhecimento, a pesquisa tem papel fundamental. Pensando nisso, Iraneidson Santos Costa, professor do Departamento de

    Histria e do Programa de Ps-Graduao em Histria da UFBA (Universidade Federal da Bahia), est desenvolvendo uma

    pesquisa sobre a histria dos CIAS latino-americanos (Centros de Investigao e Ao Social).

    Doutor em Histria pela UFBA e ps-doutor pela FAJE (Faculdade Jesuta de Filosofia e Teologia), Iran, como conhecido,

    membro do Comit Editorial dos Cadernos do CEAS, dos quais foi redator entre 2001 e 2007. Nos ltimos anos, tem ministrado as disciplinas de Histria da Amrica e Histria das Religies. Alm disso, realiza pesquisas na rea de Religio, Poltica e Movimentos

    Sociais na Amrica Latina e no Nordeste brasileiro, e desenvolve atividades de Extenso no campo da Histria e Memria das Lutas

    Populares na Bahia. Leia abaixo o artigo produzido pelo professor:

    umA histRiA pARA No esqueCeR: os CeNtRos soCiAis dA CompANhiA de jesus NA AmRiCA LAtiNA

    ro do gnero criado em terras latino-

    -americanas, ainda em 1950, e que se expandiria consideravelmente ao lon-

    go das duas dcadas seguintes, a pon-

    to de alcanar um total de 18 em 1970. essa histria dos Centros de Investi-

    gao e Ao Social (CIAS) da Companhia

    de Jesus na Amrica Latina que estamos

    pesquisando atualmente, com a consulta

    a dezenas de arquivos, bibliotecas e cen-

    tros de documentao espalhados pelos

    continentes latino-americano e euro-

    peu. Neles repousam milhares de cartas,

    telegramas, fotografias, cartazes, atas,

    anotaes pessoais, relatrios, processos

    criminais, folhetos, cartilhas, boletins,

    jornais, revistas e livros que ajudam a

    contar a histria da ao social jesuti-

    ca na segunda metade do sculo XX. A

    correspondncia que abre esse texto,

    por exemplo, se encontra no Arquivo de

    Espanha da Companhia de Jesus, em Al-

    cal de Henares (Espanha), e revela como

    a atuao junto s classes populares, no

    caso especfico o movimento operrio

    cubano, implicou em graves conflitos de

    ordem ideolgica.

    Mas no apenas em relao a gover-

    nos de esquerda. No Arquivo da Provn-

    cia Chilena da Companhia de Jesus, de

    Santiago (Chile), um outro documento

    traz o avesso desse desafio. Trata-se de

    um folheto, datado de outubro de 1968, no qual a organizao catlica Tradio,

    Famlia e Propriedade (TFP) acusa os

    jesutas do Centro Bellarmino (o nome

    oficial do CIAS chileno) de comunistas

    por conta sua defesa (vejam que iro-

    nia...) da Revoluo Cubana de 1959. Datado de 1972, se encontra guar-

    dado do Arquivo Nacional do Rio de

    Janeiro um dos milhares de registros

    produzidos pela odiosa ditatura civil-

    -militar brasileira. Estamos falando

    do Processo de n 9.659/69 que visava expulsar o jesuta espanhol Manuel

  • 22 23Em Em

    Andrs Mato. Padre Andrs, como era

    conhecido, trabalhou em dois impor-

    tantes CIAS brasileiros (o Centro Joo

    XXIII, do Rio de Janeiro, e o Centro de

    Estudos e Ao Social/CEAS, de Salva-

    dor), e a tentativa de deportao (essa

    ameaa frequente no cotidiano do

    apostolado social...) decorreu de sua

    atuao como professor do Instituto

    Brasileiro de Desenvolvimento (Ibra-

    des), rgo vinculado ao CIAS cario-

    ca que dava cursos sobre a realidade

    brasileira para agentes de pastoral de

    diversos recantos do Brasil.

    Estvamos na dcada de 1970, do-lorosa no apenas em nosso pas, mas

    em boa parte do continente, assolado

    por um sistema econmico excluden-

    te e por regimes polticos autoritrios.

    Alguns bispos da poca foram fiis a sua

    misso proftica, denunciando de manei-

    ra corajosa a opresso que se abatia sobre

    o povo latino-americano. Este boletim do

    Arcebispado de San Salvador, consul-

    tado no Arquivo Histrico da Companhia

    de Jesus na Repblica Dominicana, narra

    o assassinato, em maro de 1977, do jesu-ta Rutlio Grande, em razo de seu apoio

    luta dos camponeses de El Salvador.

    Comprometida com estudantes, cam-

    poneses, operrios, indgenas ou os pobres

    em geral, expressa por meio de cartas, fo-

    lhetos, processos-criminais, recortes de

    jornal ou quaisquer outras formas, a atu-

    ao dos CIAS latino-americanos consis-

    te numa dimenso crucial do apostolado

    cristo contemporneo. Sua histria per-

    manece pouco conhecida at hoje.

    A propsito, ao publicar, no sculo XVI,

    a biografia de Incio de Loyola, o jesuta

    Pedro de Ribadeneyra chamava a ateno

    para a importncia da memria. Segun-

    do ele, era fundamental que a histria do

    fundador da Companhia de Jesus fosse re-

    gistrada, de tal maneira que nem o esque-

    cimento a sepulte, nem o descuido a escu-

    rea, nem se perca por falta de escritor. Do

    mesmo modo a histria dos CIAS...

    [...] a atuaO dOs cias latinO-amEricanOs cOnsistE numa dimEnsO crucial dO apOstOladO cristO cOntEmpOrnEO.

  • 24 25Em Em

    CompANhiA de jesus educAO

    uNisiNos toRNA-se guARdi do ACeRvo de Luis FeRNANdo veRissimo

    Em setembro, a Unisinos celebrou o recebimento da guarda do acervo do escritor, jornalista e msico Luis Fernando Verissimo. A solenidade, que

    aconteceu no dia 12, no campus Unisinos Porto Alegre (RS), contou com a presena

    do escritor gacho e de seus familiares.

    Na ocasio, o reitor da Unisinos, pa-

    dre Marcelo Fernandes de Aquino, e Luis

    Fernando Verissimo assinaram o Contra-

    to de Comodato que torna a instituio

    responsvel pela conservao, disponi-

    bilizao e divulgao da obra do escritor

    para fins acadmicos e culturais e para

    promoo da pesquisa. So 1.159 ttulos de peridicos e 382 livros, como ttulos do autor, antologias e edies estrangeiras.

    Tambm fazem parte do acervo trofus,

    publicaes na imprensa, documentos

    audiovisuais, manuscritos, memorabilia,

    comprovantes de crtica, edio e adapta-

    o, quadros, esculturas, entre outras ho-

    menagens recebidas pelo escritor.

    da esq. p/ dir., padre marcelo e verissimo assinam o Contrato de Comodato

    Todo esse patrimnio ficar dispo-

    nvel no campus Unisinos Porto Alegre.

    No acervo, vemos o saxofonista, escritor,

    cidado e escutamos teu silncio, que,

    muitas vezes, barulhento, declarou

    padre Marcelo a Verissimo. Teu acervo

    algo to precioso que guarda a tua vida.

    Vida to honrada que conseguiu um feito

    raro aqui no Brasil, que viver de sua ca-

    neta, concluiu o reitor.

    Luis Fernando Verissimo um escri-

    tor gacho conhecido por suas crnicas e

    contos de humor e j escreveu para diver-

    sos jornais e revistas do pas. Filho do es-

    critor rico Verissimo e de Mafalda Halfen

    Volpe, nasceu em 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre (RS). Em 1973, lanou sua

    tEu acErvO algO tO prEciOsO quE guarda a tua vida. vida tO hOnrada quE cOnsEguiu um fEitO rarO aqui nO Brasil, quE vivEr dEsua canEta

    pe. marcelo Fernandes de Aquino

    Acervo de verissimo

    Ttulos de peridicos

    Livros

    A gerente administrativa da Biblio-

    teca Unisinos, Luciana Curra, caracte-

    rizou a obra de Verissimo como ampla

    em diversidade de atuao e rica em

    fonte de informao, fico feliz e emo-

    cionada e agradeo por ter confiado na

    Unisinos, declarou.

    Na oportunidade, a Unisinos inau-

    gurou o Espao Luis Fernando Verissi-

    mo, uma homenagem a um dos mais ex-

    pressivos intelectuais gachos. O espao

    foi idealizado para acolher eventos cul-

    turais, institucionais e acadmicos da

    universidade e comunidade. O local fica

    no andar trreo da Torre Educacional.

    1.159

    382

    esCRitoR, joRNAListA e msiCo primeira obra, chamada O Popular, uma coletnea de textos bem-humorados

    j publicados em jornais em que havia

    trabalhado. Em 1981, na Feira do Livro de Porto Alegre, lanou o livro de crni-

    cas O Analista de Bag, que se esgotou

    em dois dias. Atualmente, escreve

    para os jornais O Globo, O Estado de S.

    Paulo e Zero Hora.

  • 24 25Em Em

    cOlgiOs PrOMOveM bAte-PAPO sObre iguAldAde

    Os colgios Loyola e So Lus, localizados, respectiva-mente, em Belo Horizonte (MG) e em So Paulo (SP), promoveram rodas de conversa com os alunos sobre igualdade de gnero. A proposta das iniciativas foi ampliar o

    debate sobre a desigualdade ainda persistente entre homens e

    mulheres, principalmente no mercado de trabalho.

    No Loyola, o bate-papo reuniu alunos do 2 ano do Ensino Fundamental que, ao lerem uma histria em quadrinhos so-

    bre cientistas brasileiros, estranharam a presena de poucas

    mulheres na rea. Aps os questionamentos que surgiram, o

    colgio convidou sete mulheres, que alcanaram funes de

    destaque em suas reas de atuao, para conversar com os es-

    tudantes sobre igualdade de gnero.

    Diante de uma plateia muito curiosa e atenta, elas explica-

    ram que a mulher pode ocupar os espaos que desejar e mostra-

    ram a importncia de homens e mulheres trabalharem juntos

    pela ampliao da igualdade de direitos e deveres. Como re-

    sumiu Cludia Romualdo, uma das convidadas, s com mui-

    to amor e respeito, a gente vai conseguir melhorar o mundo.

    Apesar da pouca idade, os alunos manifestaram o desejo de

    contribuir por um mundo melhor, apontando a admirao que

    tm pelas mes, avs, tias, professoras e outras mulheres que

    conhecem. Eles trouxeram para o bate-papo uma preocupao

    genuna com as estatsticas que demonstram diferena salarial,

    desproporo de carga de trabalho em casa e tambm situaes

    de vulnerabilidade enfrentadas diariamente pelas mulheres.

    No Colgio So Lus, por meio do Projeto de Vida, todas

    as sries desenvolvem um trabalho em torno dos eixos Vida

    Saudvel que abrange temas como autoconhecimento,

    espiritualidade, sexualidade, sade, boas escolhas e Vida

    em Sociedade que aborda tica, meio ambiente, consumo,

    bullying, entre outros. Nessa perspectiva, a 2 srie do Ensino Mdio participou de uma roda de conversas com quatro mu-

    lheres que trouxeram contribuies complementares ques-

    to da ocupao feminina do espao pblico.

    Alessandra Almeida, uma das convidadas, falou sobre o

    tema que estuda violncia contra mulheres e observou a

    interseco de gnero, raa e renda em suas anlises. Veridiana

    Campos tambm trouxe uma viso acadmica, focada na pre-

    sena feminina em espaos de poder e na vida profissional.

    A artista plstica Ana Teixeira contou sobre como ficar ex-

    posta num lugar pblico para ter a participao das pessoas em

    intervenes artsticas, como na ao Troco sonhos, em que dava

    um doce ao escutar uma revelao. J Mag Tonhon luta pela acei-

    tao das mulheres transexuais e provocou os alunos a observa-

    rem os espaos pblicos em seu bairro: por que frequentam (ou

    no) tais lugares? Segundo ela, vivemos numa cidade de muros.

    So atividades como essa e conversas com pessoas di-

    ferentes que fazem com que a gente fique mais atenta para

    identificar atitudes de preconceito, diz a aluna Marina Ce-

    lani, que tem uma viso otimista: Minha gerao est mais

    aberta, consciente e se respeita mais.

    Alexandra Gazzinelli, assessora pedaggica da Diretoria

    Acadmica do Colgio Loyola.

    Maria de Lourdes Castelo Branco, professora e pesquisa-

    dora aposentada do curso de Farmcia da UFMG (Universi-

    dade Federal de Minas Gerais).

    Aristhea de Souza Totti e Silva Castelo Branco de Alencar,

    advogada da Unio.

    Krin Emmerich, desembargadora da 1 Cmara Criminal do

    Tribunal de Justia de Minas Gerais e superintendente da Co-

    ordenadoria da Mulher em Situao de Violncia Domstica.

    Cludia Romualdo, coronel reformada da PMMG (Polcia

    Militar de Minas Gerais), atual Secretria de Defesa Social de

    Vespasiano e primeira mulher a ocupar cargo de Comandan-

    te de Policiamento da capital mineira.

    Mnica Castelo Branco Savernini, tenente-coronel da PM,

    integrante do quadro de oficiais de sade, especialista em

    odontopediatria.

    Marisa de Oliveira Costa, delegada da Delegacia Especiali-

    zada de Atendimento Mulher.Colgio so Lus (sp)

    Colgio Loyola (mg)

  • 26 27Em Em

    CompANhiA de jesus JuveNtudes e vOcAes

    No eram nem 9 horas da manh, mas o sol estava escaldante, a temperatura j atingia cerca de 30 graus e o cansao era inevitvel. Mas, ape-

    sar das bolhas nos ps e das dores nas cos-

    tas, os 13 peregrinos, que percorreram 75 Km e cruzaram quatro cidades do interior

    de So Paulo, no demostravam desnimo.

    Pelo contrrio, eles estavam empolgados,

    pois tinham a certeza de que cada passo

    dado os aproximava ainda mais da casa

    da me. Chegar Baslica de Nossa Se-

    nhora Aparecida foi emocionante, me

    senti envolvida pelo amor da Me como

    nunca havia sentido antes e me reconhe-

    ci como uma filha que estava entrando

    em casa, relembra Bruna Frana Silva, 21 anos, uma das jovens que participou da

    Experincia MAGIS: Peregrinao 300 anos de Aparecida, promovida pelo Centro MA-

    GIS Anchietanum e pelo Programa MAGIS

    Brasil, entre os dias 7 e 10 de setembro.

    Foram quatro dias de caminhada e

    cada quilmetro percorrido representa-

    va a certeza de que os jovens estavam no

    caminho certo. O maior desafio vencer

    a si mesmo, porque, durante o percurso,

    o corpo sente o cansao e, se a cabea

    deixa ser levada pelo corpo, fica muito

    mais difcil a caminhada. importan-

    te, ao caminhar, deixar a cabea guiar o

    peRegRiNANdo ComNossA seNhoRA ApAReCidA

    corpo. Mesmo quando estive sentindo

    dores, confiei em Deus e segui o cami-

    nho, sem dar importncia para as dores.

    Nos momentos mais difceis, a vivncia

    comunitria foi fundamental. Um pere-

    grino ajudando o outro. Fortalecendo,

    incentivando, partilhando, afirma Jefer-

    son Albuquerque Spindola, 27 anos.Bruna concorda com o colega e diz

    que o maior desafio foi no ter deixado

    o psicolgico ser abalado durante o per-

    curso. Para mim, a parte mais difcil foi o

    trecho entre o bairro de Ribeiro Grande,

    em Pindamonhangaba, e o municpio de

    Potim, cidade vizinha de Aparecida. Nes-

    se trecho, em uma parte do caminho, a

    estrada tinha muita poeira e estava mui-

    to calor, o ar seco, sem opes de parada

    durante o trajeto e, como agravante, o

    cansao dos dias anteriores comeou a

    se manifestar. Nesse dia, senti o quanto

    importante caminhar entre amigos que

    nos do fora para continuar andando,

    compartilha a estudante de Medicina.

    E por que, apesar de todo o cansao,

    peregrinar continua sendo to significati-

    vo para os cristos? Segundo padre Jonas

    Caprini, secretrio nacional para Juven-

    tude e Vocaes da Provncia dos Jesutas

    do Brasil (BRA) e atual coordenador do

    Programa MAGIS Brasil, a peregrinao

    uma herana crist. O Povo de Deus

    peregrinava e todos ns somos tambm

    peregrinos seguindo os passos de Jesus

    e de seu programa de vida. Santo Incio

    ressaltou essa caracterstica crist reali-

    zando a experincia de peregrinar no pro-

    cesso de converso e no desejo de realizar

    os apelos do Pai, que o chamava a servir o

    Reino, ele mesmo era chamado de o pere-

    grino, conta.

    Para o jesuta, a peregrinao mais

    do que uma experincia fsica, uma

    experincia humana e espiritual que

    ajuda as pessoas a despojarem-se do

    que no necessrio e ir ao encontro

    do eu verdadeiro. A peregrinao ma-

    riana, realizada pelo Centro MAGIS An-

    chietanum para celebrar os 300 anos de Aparecida, foi a oportunidade que ofe-

    recemos aos jovens, luz da vocao de

    Maria, de nos colocar a caminho, apro-

    fundando a vida de orao e reflexo

    acerca do projeto de vida e do servio

    ao Reino. A Experincia encerrou nosso

    ano Mariano, nos animando na f e pro-

    vocando sempre mais peregrinar em

    busca de justia, liberdade e vida para

    todos!, ressalta padre Jonas.

    Depois de tantos dias caminhando,

    chegar Baslica de Nossa Senhora Apa-

    recida foi um momento nico na vida

    desses jovens, conforme o relato de Bru-

    na no incio do texto. Porm, mais im-

    portante do que chegar, foi a vivncia de

    todo o caminho. Durante a peregrinao,

    eu no imaginava sentir o amor de Deus

    da maneira como senti. Quando inicia-

    peregrinos13

    percorridos75 km

    do interior de So Paulocruzaram cidades4

  • 26 27Em Em

    mos a caminhada, no segundo dia, logo

    durante o tero que rezvamos, os moto-

    ristas e caminhoneiros que passavam por

    ns buzinavam e alguns at gritavam, in-

    centivando a caminhada. Aquilo mexeu

    comigo de uma maneira que minha voz

    embargou, no conseguia falar as pala-

    vras da orao e, ali, eu chorei. Naquelas

    buzinas, eu senti o cuidado de Deus por

    ns. E, mais frente, no mesmo dia, en-

    quanto subamos uma ladeira, aconteceu

    a mesma coisa: carros e carros passando e

    buzinando. Eu sentia como se fosse Deus

    falando: Continuem, coragem, vai dar

    tudo certo, fora, falta pouco, partilha

    Jeferson, que professor de Sociologia na

    rede pblica de ensino.

    O jovem conta que esse sentimento

    de consolao o tocou bastante. H dias,

    eu j sentia uma necessidade de sair de

    mim mesmo para poder sair em misso.

    Evangelizar. E, recentemente, eu ouvi que

    uma pena haver pessoas to capazes

    dentro da igreja, mas que no saem em

    misso, isso um desperdcio. A pessoa

    no falou para mim, especificamente,

    mas eu senti como uma mensagem. Toda

    vez que me surgia uma oportunidade de

    misso, eu me privava, fugia, me sentia

    um desperdcio. E, durante a caminhada,

    eu acabei saindo de mim, ajudando meus

    irmos de maneira natural. Sem forar

    nada. Sem me sentir obrigado. Eu no me

    senti um desperdcio e me senti uma fer-

    ramenta na mo de Deus. Uma ferramen-

    ta que Deus usou para que, na partilha,

    nas brincadeiras, eu transmitisse e rece-

    besse fora para continuar a caminhada.

    Isso, para mim, foi maravilhoso, afirma.

    Sobre a peregrinao, Bruna relem-

    bra um momento de convivncia que foi

    muito especial para todos. Na sexta-fei-

    ra, dia 8, nos hospedamos em uma pou-sada muito prxima ao rio Paraba do Sul

    [onde a imagem de Nossa Senhora foi

    encontrada] e fomos tomar banho nes-

    se rio. Esse momento foi nico, pois, ao

    olhar o rosto to feliz de cada peregrino,

    foi como estar olhando o rosto de Deus.

    As guas do rio iam fluindo, como se es-

    tivessem nos massageando e levando as

    nossas dores musculares embora. Sentir

    a ternura dessas guas foi como sentir um

    abrao de Maria, compartilha.

    Osvaldo Meca, agente de Pastoral do

    Centro MAGIS Anchietanum, afirma que

    esse esprito de comunidade esteve pre-

    sente durante toda a peregrinao. Parti-

    cipar dessa experincia foi um exerccio

    concreto da escuta de Deus, da partilha,

    da prtica da solidariedade entre os pere-

    grinos. E esse esprito se manteve aceso

    pela pessoa de Maria, que rezamos em

    todos os momentos, desde os teros que

    fazamos pela manh at as partilhas no

    fim do dia. Poderia, talvez, sintetizar esse

    sentimento com a passagem das bodas

    de Can, texto que rezamos em uma cele-

    brao noturna: Fazei tudo o que ele vos

    disser (Jo 2, 5). Assim como Maria orien-ta os empregados no Evangelho, tambm

    nos orientou durante o caminho, fazendo

    com que nossas atitudes fossem de mise-

    ricrdia e liberdade, conclui.

    durantE a pErEgrinaO, Eu nO imaginava sEntir O amOr dE dEus da manEira cOmO sEnti

    jeferson spindola

  • 28 29Em Em

    CompANhiA de jesus JuveNtudes e vOcAes

    Novo espAo pARA A juveNtude NAsCe em RussAs (Ce)

    om cerca de 70 mil habitantes, a cidade de Russas est localizada

    na regio conhecida como Baixo

    Jaguaribe (CE). No local, o clima se-

    mirido e a vegetao predominante

    a da caatinga. A populao convive no

    apenas com a seca, mas tambm com os

    desafios nas reas educacional, social e

    de sade, to preocupantes quanto ela.

    Nossas polticas pblicas nas diversas

    reas ainda so escassas. Hoje, no te-

    mos projetos voltados para as juventu-

    des do campo ou da periferia, os raros

    que existem atingem uma pequena par-

    cela dos que moram no centro urbano,


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