MEMÓRIAS DO TURISMO EM NATAL/RN: DESCARTE, DESVALORIZAÇÃO,
ESQUECIMENTO
Andrea de Albuquerque Vianna1
A cidade do Natal/RN, segundo a historiografia local, não foi vila e já nasceu cidade.
Ao longo do tempo recebeu diversos epítetos: Noiva do Sol, ar mais puro das Américas,
Cidade do Sol, “Caes da Europa”, e figura hoje como destino turístico de destaque no
mercado nacional e internacional. Tendo como comportamento habitual a busca pela
modernidade, Natal desconsidera o passado como riqueza, abrindo mão destes elementos
como atrativos diferenciados. Em sua trajetória figuram momentos memoráveis à espera de
serem resgatados.
Ao priorizar atividades direcionadas aos atrativos naturais, passa ao largo de eventos e
monumentos significativos da sua história, como é o caso da sua relação com o Hotel
Internacional dos Reis Magos, marco do desenvolvimento urbano e turístico do estado, que,
destituído de sua importância histórica pelo trade turístico, pelas elites locais, e, por
consequência, por grande parte da população, encontra-se abandonado e ameaçado de
demolição.
Trabalha-se, então, a partir do conceito de dialética da memória, presente nas relações
de preservação seletiva, ressaltando-se a existência de três valores significativos: valor de uso,
de troca e valor simbólico. Os dois primeiros procedem da teoria marxista e representam: a
utilidade que um objeto ou bem venha a ter; e o poder de compra que este bem detenha ou
represente. O terceiro valor é o simbólico e nos remete à relação daquele bem com a
identidade e a memória coletiva ou individual.
Percebe-se que valorização simbólica interfere na produção do espaço e cria, por meio
da relação uso/troca, novos produtos, o que promove a desvalorização e o esquecimento de
locais que não atendam aos interesses do mercado. Assim, pode-se aferir que valorização e
esquecimento também se aplicam a momentos, monumentos, pessoas, etc.
1 Andrea de Albuquerque Vianna – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Bolsista CAPES. E-mail: [email protected]
2
Toma-se como exemplo o Hotel Copacabana Palace (ver figuras 1 e 2), ícone do
turismo e da arquitetura do Rio de Janeiro, inaugurado na década de 1920, a partir da qual se
tornou uma referência não apenas para o referido bairro, mas para toda a cidade do Rio de
Janeiro e, posteriormente, para a atividade turística no Brasil. No entanto, nem mesmo todo
seu histórico, sua imponência arquitetônica ou sua importância para o desenvolvimento do
bairro e da própria cidade do Rio de Janeiro enquanto destino turístico foram suficientes para
impedir que se aventasse tal possibilidade. Na década de 1980, o hotel, marco de uma época
ficou sob risco de demolição.
Com projeto do arquiteto francês Joseph Gire, inspirado nos hotéis da Riviera
Francesa, o Copacabana Palace, concebido para atender à demanda da Exposição do
Centenário da Independência do Brasil, evento de grande porte a ser realizado em 1922,
tomou forma contando sempre com o que havia de melhor em material construtivo,
importado, como cimento da Alemanha, mármores de Carrara, e cristais da Boêmia, o que
inviabilizaria sua finalização dentro do tempo estimado. O hotel só foi inaugurado no ano
seguinte, em 1923. (MAURÍCIO, 2012).
A transferência da capital federal para Brasília, nos anos 1960, impactou
significativamente o hotel, contribuindo para sua entrada num período de decadência. A
década seguinte agravou esse quadro, com a construção de hotéis mais modernos e de capital
internacional, projetados para outro tipo de público, que já não dispunha das mesmas
condições de disponibilidade de tempo e financeira necessárias para se hospedar no
Copacabana Palace. Ainda assim, a população, por meio da AMAC – Associação dos amigos
e moradores de Copacabana, apropriando-se de sua história, reagiu, protestou e entrou com
ações judiciais para suspender o projeto de demolição, evitando, assim, a perda deste
patrimônio. Não é possível, porém, afirmar que, sem a pressão popular, este tivesse sido
poupado pela especulação imobiliária. O governador do Rio de Janeiro à época, Antônio de
Pádua Chagas Freitas, cuja gestão se deu de 1979 a 1983, deu entrada no pedido de
tombamento do imóvel em nível federal (IPHAN), estadual (INEPAC) e municipal
(SEDREPAHC), o que impediu que o referido hotel viesse a ser demolido. A partir destas
medidas, a família Guinle, proprietária do hotel, sem condições de mantê-lo como empresa
competitiva no novo mercado turístico que se estruturava naquele momento, vendeu-o ao
3
empresário americano James Blair Sherwood, que o reformou, de acordo com orientações dos
órgãos responsáveis pela preservação do patrimônio, restituindo ao hotel o luxo e o glamour
pelo qual sempre fora conhecido (ver Figura 3). (MAURÍCIO, 2012)
Figura 1 – O recém-inaugurado Hotel Copacabana Palace e seu entorno.
Fonte: https://umpostalpordia.files.wordpress.com/2012/08/copa-1a.jpg
Figura 2 – Hotel Copacabana Palace em 1923
Fonte: http://oriodeantigamente.blogspot.com.br/2011/12/copacabana.html?spref=pi
Figura 3 – Hotel Copacabana Palace - 2010
4
Fonte: https://i.yomyomf.com/wp-content/uploads/2010/11/copacabana-palace11.jpg
O caso de Natal/RN, até então, tem sido diferente. Desvalorização e esquecimento
integram a cultura natalense quanto a seus lugares de memória, o que se evidencia ao se
observar o conceito da dialética da construção destrutiva (COSTA, 2010), referente à
contradição entre mercantilização e preservação. Este indicativo nos conduz à desconstrução
da história dos lugares, desconstrução congruente com os movimentos do capital e que
apresenta um vislumbre das ações que norteiam as questões de valorização-esquecimento na
cidade. Busca-se, a partir disto, compreender de que maneira memória e história se
estabelecem na relação entre a cidade e seu passado.
Le Goff (1990, p. 63) aponta que, desde a Grécia Antiga, estes dois conceitos
(memória e história) se aliam a questões políticas. E ao se tratar de memória, trata-se também
da ‘não-memória’, ou do esquecimento, lembrando que esta “nasce do interesse das famílias
nobres”, e que a história é arma política.
O autor aponta o assenhoramento da memória pelas classes dominantes, e salienta que
a história só existe devido aos documentos – o que sobrevive do passado não é o que existiu,
mas o que os historiadores escolheram estudar. Esta afirmação nos remete à sua observação
sobre memória, definida como elemento essencial do que se costuma chamar de identidade,
individual ou coletiva. E que a memória coletiva, muito mais que uma conquista, é um
instrumento de poder.
5
Costa (2015) chama a atenção para a dialética da memória, explícita nas relações de
preservação seletiva. Ressalta a existência de três valores relevantes e que regem este
processo: valor de uso, valor de troca e o valor simbólico.
Considerando que esta relação dialética (uso e troca) tem na valorização simbólica um
meio de intervir na produção do espaço, propiciando a criação de novos produtos a partir da
distinção de lugares, assim também o faz ao promover a desvalorização e o esquecimento de
locais que já não atendam aos novos interesses econômicos.
Esta relação de desvalorização e esquecimento tão presente na cultura natalense
quanto aos seus lugares de memória, fica mais clara quando se observa o conceito da dialética
da construção destrutiva. Esta se refere à contradição existente entre preservação e
mercantilização – “a busca da democratização e da ‘elitização’ do patrimônio urbano, de
forma ampla, e das destinações turísticas, particularmente” (COSTA, 2015, p.47).
Este vislumbre nos coloca diante da desconstrução da história dos lugares, relacionada
aos movimentos do capital. De certa forma, justificam-se, então, os movimentos de
valorização-esquecimento que permeiam a história da cidade do Natal, reconhecida e
verbalizada nas expressões populares: Natal, a cidade do ‘já teve’. Natal, cidade sem
memória. Natal, cidade do esquecimento.
A BUSCA PELA MODERNIDADE
A cidade do Natal do início do século XX já se apresentava como uma cidade em
busca pela renovação: o sentimento e a visão futurista dos intelectuais da época e das décadas
anteriores refletiam os anseios das classes dominantes, que buscavam uma alternativa para a
vida morna e monótona de então. Era preciso se distanciar do passado, do velho, do
tradicional. Era preciso reinventar. Havia, então, a cidade antiga e a nova cidade, a Natal
progressista, na qual intelectuais do início do século se empenhavam para implantar as
novidades trazidas pela modernidade, nos costumes, na arquitetura, no uso do automóvel, da
aviação comercial, enfim, o que fosse possível para que a cidade perdesse o aspecto de
província e se assemelhasse aos centros culturais adotados como referência na época –
Europa, Rio de Janeiro e Recife. (CASCUDO, 2011)
6
Essa disposição pelo novo, pelo moderno, deixa à mostra um desejo de ruptura com o
passado, porém, Le Goff (1990, p.166) alerta que há que se considerar que “o passado só é
rejeitado quando a inovação é considerada inevitável e socialmente desejável. E questiona:
quando e como as palavras “novo” e “revolucionário” se tornaram sinônimas de “melhor” e
“mais desejável”? (op. Cit., p.203)
Costa (2015, p.116), citando Hennig (2007) destaca que: [...]se o patrimônio serve
como instrumento para rememoração de determinada cultura ou momento histórico, a sua
ausência deliberada contribui também para a amnésia coletiva, num procedimento (...) de
proscrição do que não se quer perpetuar. ”
Será esta a realidade que se apresenta em Natal? A justificativa para desvalorização de
elementos significativos para a história local? A desvalorização de monumentos, escolas,
residências, fatos históricos, e até bairros? Muitos são os exemplos, mas vamos nos deter
naqueles estreitamente relacionados à atividade turística e, como não poderia deixar de ser, à
aviação comercial que propiciou o desenvolvimento do turismo no Rio Grande do Norte.
Nessa perspectiva, é importante destacar a construção dos aeródromos – desde a
década de 1920 - para voos comerciais, por empresas alemãs, francesas e italianas, antes da
Segunda Guerra e da chegada dos soldados norte-americanos, cujas estruturas existentes
foram desapropriadas pelo Governo brasileiro e adaptadas para atender às necessidades de
defesa durante o conflito.
AVIAÇÃO COMERCIAL E HOTÉIS EM NATAL: RETRATOS DO
DESENVOLVIMENTO
Aviões e hidroaviões começaram a fazer parte da vida da cidade do Natal desde o
início do século XX. Cascudo (2010, p. 537) aponta para a frequência dos pousos na cidade
(de americanos, portugueses, franceses, alemães e italianos), desmistificando, inclusive, a
ideia de que a cidade só começou a se desenvolver após se tornar base militar durante a
Segunda Guerra Mundial. Os ares de modernidade já sopravam pela capital potiguar antes
desse período, prevalecendo aqui a influência europeia, o que se constata, tanto pela
quantidade de voos, considerando a época quanto por sua origem (ver tabela 1).
Tabela 1: Aviação comercial em Natal/RN
7
DATA AERONAVE COMANDANTE/TRIPULAÇÃO
21/12/1922 Sampaio Correia II Euclides Pinto Martins
11/07/1926 Buenos Aires Bernardo Duggan
24/02/1927 Santa Maria Francesco Pinedo
18/03/1924 Argos Sarmento de Beires, Jorge de Castilhos, Manuel
Antônio Gouveia.
20/03/1924 03 biplanos
americanos
Herbert A. Dargue
14/05/1924 Jaú Ribeiro Barros, Newton Braga, João Negrão, Vasco
Cinquini
18/07/1924 Breguete da
Latécoère
Paul Vachet, Deley e Fayard
14/10/1924 Nungesser-et-Coli Costes, Le Brix
20/11/1927 Laté-25 Pivot, Pichard e Gaffe
14/06/1928 Potiguar (Sindicato
Condor)
Putz, Paschen
05/07/1928 Savoia-64 Arturo Ferrarin, e Carlo del Prete
Fonte: CASCUDO, 2010. Organização: Andrea Vianna, 2016
Juvenal Lamartine, então governador, contribuiu para trazer a aviação comercial para
o Estado – fundou, em 1928, juntamente com Fernando Pedroza o Aero Clube do Rio Grande
do Norte, com escola de pilotagem. Construiu, ainda, 25 campos de pouso no RN.
(CASCUDO, 2010), (OLIVEIRA, 2014)
Em 1930, as empresas CGA (Compaigne Generale Aeropostale) cuja rota pode ser
observada na figura 3; a NYRBA S.A. do Brasil (New York-Rio-Buenos Aires)2,; Sindicato
Condor Ltda; CAB – Companhia Aeronáutica Brasileira atuavam regularmente nos campos
de pouso de Natal. (CASCUDO, 2010), (OLIVEIRA, 2014)
Havia, ainda: a Hidrobase do Refoles no Alecrim, as oficinas de montagem na Praia
Limpa (Rocas), e o atracadouro de hidroaviões no Passo da Pátria. E a infraestrutura do
campo de pouso de Parnamirim,onde posteriormente viria a se instalar a base aérea americana
2 A NYRBA S.A. do Brasil foi incorporada pela PAN AM e se transformou na Panair do Brasil, que funcionou de 1930 a 1965, quando teve a concessão de suas linhas suspensa pelo presidente Castelo Branco.
8
durante a Segunda Guerra, construída pela francesa Latecoére, (Air France) e pela italiana Ala
Litoria (LATI), (OLIVEIRA, 2014, P.81)
Figura 3: Rota da Compagnie Générale Aéropostale (CGA)
Fonte: http://tokdehistoria.com.br/tag/latecoere-28/
A história da aviação em Natal caminha lado a lado com o crescimento da atividade
hoteleira na cidade. A intensa movimentação vivenciada durante aquele período, faz surgir,
primeiro a insatisfação com os inúmeros hotéis existentes na cidade, considerados
ultrapassados; e a premência da construção de um hotel mais moderno, solicitação das elites
locais e encampada pelo poder público, resultando na construção do Grande Hotel em 1939
(Figura 4), centro das atividades sociais e políticas mais importantes.
9
Figura 4: Grande Hotel
Fonte: Acervo do HCURB-PPGAU/UFRN
Figura 5: Soldados americanos no terraço do Grande Hotel
Fonte: http://potiguarte.blogspot.com.br/2014_02_01_archive.html
Durante o período que antecede a construção do Grande Hotel, registra-se a existência de
muitos outros hotéis classificados como de alto nível, situados no bairro da Ribeira, local da
elite natalense, no período em que as ruas deste bairro representavam o que havia de melhor e
mais elegante na sociedade local, e que também foram relegados ao esquecimento. A
existência destes hotéis foi verificada a partir de publicações de anúncios em jornais do
Estado, e de citações em artigos e livros.
Arrais (2008), cita que, de acordo com crônicas publicadas no jornal A República, no ano
de 1906, a cidade havia crescido consideravelmente, alcançando o número de 18.000
10
habitantes, e já contava com iluminação pública a gás e também com jardins e “ótimos
hotéis”. Era uma cidade com os olhos voltados para o futuro, e em clara expansão.
Compartilhando desse espírito, o Governador Alberto Maranhão (1900 a 1904) partiu para
ações que concretizassem o sonho das elites locais. Assim, nesse período, houve a construção
do teatro Carlos Gomes, a reforma do porto, calçamento das ruas e a construção do primeiro
bairro planejado da cidade, a Cidade Nova (MARINHO, 2009).
Destacam-se os seguintes hotéis, jornais e datas de publicação (Figuras 6 e 7): Hotel
Londres (O Nortista, 1892), Hotel Viterbino (Diário de Natal, 1895), Hotel Brazil (Diário de
Natal, 1896), Hotel do Commercio (Diário de Natal, 1897), Hotel Tyrol (A República, 1916).
Foram encontradas também referências aos hotéis Internacional, dos Leões e Avenida, “todos
na Ribeira como sendo os melhores e mais luxuosos da cidade” (LYRA, 2009),
(NASCIMENTO, 2015).
Figura 6: Hotel Brazil
Fonte: Diário de Natal,1 de janeiro de 1896
Figura 7: Hotel Viterbino
Fonte: Diário do Natal, 07 de setembro de 1895.
Assim como o desejo pela modernização da cidade alcançou os hotéis da época, a
história se repete em relação ao Grande Hotel: no pós-guerra, em 1946 tem-se a reivindicação
11
de empresas aéreas internacionais para a construção de um hotel que atendesse às novas
demandas do mercado, sendo o governo interpelado pelas companhias British South
American Airways e KLM Royal Dutch Airlines que apresentavam propostas de voos entre
Europa, África, América do Sul e Caribe. Tal hotel veio a ser construído em 1965, no governo
Aluísio Alves, tendo como cenário político a ditadura militar, sendo o primeiro equipamento
hoteleiro internacional local, voltado para o mar, um marco para o turismo, além de gerador
de mudanças significativas no uso e expansão da cidade.
Segundo Farias e Ferreira (2006),
O ano de 1965 anunciou o começo do fim para o Grande Hotel. Em
setembro daquele ano, inaugurava-se o Hotel dos Reis Magos, símbolo de
uma nova tendência da hotelaria na cidade: o movimento em direção ao
litoral. O governo do Rio Grande do Norte, estado carente de
industrialização, viu no turismo a fonte de recursos necessária para garantir
sua prosperidade econômica. Com o incentivo à produção de
empreendimentos turísticos que aproveitavam-se da paisagem natural das
praias como o maior ponto de atração para visitantes de outras partes do país
e do mundo, o Grande Hotel tornava-se, obsoleto enquanto equipamento de
turismo. (FARIAS, FERREIRA, 2006 s/p).
Construção de estilo modernista o HIRM é responsável pela projeção de Natal no
cenário turístico internacional, contexto estimulado pelas políticas de desenvolvimento
implementadas no período. Mais que isso, impulsionou o fluxo de pessoas e o comércio na
orla, melhorou o acesso ao aeroporto de Parnamirim, o que gerou melhorias na infraestrutura
urbana, valorização do solo, além de um incremento à economia do estado (VELOSO;
BENTES SOBRINHA,2002). Projetado pelo arquiteto francês George Munier, o mesmo que
projetou o Grande Hotel, o HIRM foi um marco para a cidade, o primeiro hotel da orla, foi
referência de tempos de beleza à beira-mar, sucesso e hospitalidade. A despeito disso, Natal
se voltou para o turismo desenvolvido a partir da implantação do parque hoteleiro da Via
Costeira, desde os anos de 1980, abandonando não só o antigo hotel, mas toda uma área da
cidade que foi seu maior atrativo e reconhecido cartão-postal.
12
Figura 9: Hotel Internacional Reis Magos
Fonte:abandonada.blogspot.com.br/2013/11/hotel-reis-magos-natal.html
Figura 10: Hotel Reis Magos em estado de abandono.
Fonte: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/pesquisa-sobre-hotel-reis-magos-e-entregue-ao-
ministerio-publico/277554
O resgate da história da aviação em Natal tem muitas promessas, porém, pouca ação
efetiva. Dos antigos hotéis citados neste artigo pouco se sabe. Apenas o Grande Hotel se
mantém de pé, com outro uso e diversas alterações em sua construção. O Hotel Internacional
Reis Magos, que assim como o Copacabana Palace, contribuiu para o desenvolvimento da
atividade turística e da urbanização local, ainda resiste, apesar de sem uso, e sob ameaça
constante de demolição. A luta pela sua preservação e tombamento enquanto exemplar da
arquitetura modernista e de singular importância para a cidade é encampada por poucos e
ainda está em curso. É a história que se perde em meio a interesses diversos.
13
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitas histórias, espaços de convivência e lazer, dias de progresso e modernização
que sucumbiram ao abandono, negligência e negação. Como se explica que momentos
importantes se percam no tempo e no espaço? O que faz de Natal uma cidade sem apego, sem
envolvimento ao seu passado, suas memórias? Será suficiente lançar mão da dialética da
construção destrutiva para compreender o que permeia a relação do natalense com seu espaço,
sua identidade? Voltemos, então, à discussão acerca de valorização e esquecimento,
lembrando que, como sugere Costa (op. cit) esta vem acompanhada de elementos
contraditórios que ordenam os territórios, como preservação e mercantilização, valorização e
precarização, uso e troca. Em Natal não foi e não é diferente: todo esse movimento está na
base das frequentes substituições e abandono de seus referenciais históricos, transformando-a
em uma cidade que pouco preserva e cuja identidade pouco se dá a conhecer.
Este artigo buscou refletir sobre o desdém da população por sua história – seja por
desconhecimento ou depreciação -, curiosamente valorizada quando se trata dos atrativos
turísticos europeus. Natal, então, assume seu papel na história como cidade do esquecimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRAIS, Raimundo; ANDRADE, Alenuska e MARINHO, Márcia. O corpo e a alma da
cidade: Natal entre 1900 e 1930. Natal: EDUFRN, 2008.
CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. 4. Ed. Natal, RN: EDUFRN, 2010.
COSTA, Everaldo Batista. Cidades da patrimonialização global: simultaneidade totalidade
urbana – totalidade-mundo. São Paulo: Humanitas, FAPESP, 2015.
________. A dialética da construção destrutiva na consagração do patrimônio mundial. São
Paulo: Humanitas: FAPESP, 2010.
DIÁRIO DE NATAL. 07 de setembro de 1895, p.1.Disponível em:
http://www.bczm.ufrn.br/jornais/DI%C3%81RIO%20DO%20NATAL/1895/000002CD.001
%20-%20DI%C3%81RIO%20DO%20NATAL%2007set.1895,p.1.png. Acessado em: 19 jan
2016
DIÁRIO DE NATAL. 1 de janeiro de 1896, n.378, p.1. Disponível em:
http://www.bczm.ufrn.br/jornais/DI%C3%81RIO%20DO%20NATAL/1896/00002B8F.001%
14
20-%20DIARIO%20DO%20NATAL%20ano,%20n.378,%2001jan.1896,p.1.png. Acessado
em 20 jan 2016.
FARIAS, Hélio T. M.; FERREIRA, Angela Lúcia. Grande Hotel de Natal: ícone esquecido de
um tempo, de um pensamento de um lugar. In: 1º Seminário Docomomo Norte e Nordeste -
Arquitetura e Urbanismo Modernos no Norte e Nordeste do Brasil: universalidade e
diversidade, 2006, Recife, PE. Anais do Docomomo Norte e Nordeste. Recife, PE: DAE /
UNICAP, MDU/UFPE e CECI, 2006. p. 1-19.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução: Bernardo Leitão et al. 7 ed. Campinas,
SP: Editora da Unicamp, 2013.
LYRA, Anderson T. A praça Augusto Severo da Ribeira. Disponível em:
http://www.historiaegenealogia.com/2009/08/praca-augusto-severo-da-ribeira.html Acessado
em: 15 jan 2016
MARINHO, Márcia Maria Fonseca. A modernidade chegou para jogar bola: associações
esportivas e sociabilidades urbanas (Natal, 1920-1941).
ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009. Disponível em:
http://anais.anpuh.org/wp- content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.0628.pdf. Acessado em: 30
abril 2016
MAURICIO, Marjorie Martins. Hotelaria e memória social: um olhar sobre os hotéis signo.
Niterói: UFF, 2012.86p.Monografia (Graduação em Turismo)
NASCIMENTO, G.G. Ribeira: um estudo geohistórico do bairro da zona leste de Natal-RN.
GEOCONEXÕES, Ano 1, Vol. 2. Disponível em:
www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/geoconexoes/article/view/3690 Acessado em: 10 jan 2016
OLIVEIRA, Giovana Paiva de. Natal em guerra: as transformações da cidade na segunda
guerra mundial. Natal, RN: EDUFRN, 2014.
TRIBUNA DO NORTE. 24 de março 2014. Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/pesquisa-sobre-hotel-reis-magos-e-entregue-ao-
ministerio-publico/277554 . Acessado em:20 jan 2016.
VELOSO, Maísa; BENTES SOBRINHA, Dulce. Do Grande Hotel aos palaces e resorts: os
empreendimentos hoteleiros na transformação da estrutura e da paisagem urbana de Natal
(1940-2000). In: SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO, 7, 2002,
Salvador. Cadernos de Resumos do VII CHU, 2002, v.1. p. 48-49