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MATURAÇÃO E PRODUTIVIDADE DO CAFEEIRO CONILON SUBMETIDO Á

DIFERENTES ÉPOCAS DE IRRIGAÇÃO – 2º ANO AGRÍCOLA

J.M. Correa¹; G.H.S. Vieira ²; J.B.Loss³; R. Birchler4; G. Peterle4

RESUMO: A qualidade do café é estimada pelo tamanho dos grãos (peneira) e pela qualidade

da bebida. Esta segunda característica é muito influenciada pela uniformidade de maturação

dos frutos, que depende inicialmente da uniformização da floração do cafeeiro e,

posteriormente, de um adequado manejo da água que evite o estresse hídrico em fases

importantes da formação do grão. O objetivo do trabalho foi definir o momento mais

apropriado de se irrigar o cafeeiro conilon, avaliar a uniformidade de maturação dos frutos do

cafeeiro conilon e determinar o número de dias de déficit hídrico, no período pós-colheita,

ideal para se obter maior uniformidade de maturação dos frutos do cafeeiro, sem reduzir sua

produtividade. O experimento foi conduzido no período de agosto de 2014 a julho de 2015,

em uma lavoura de cafeeiros conilon, cultivar Vitória. Na aplicação dos tratamentos foram

impostos diferentes níveis de déficit hídrico à cultura, sendo disposto em blocos casualizados

(DBC) com quatro tratamentos e dez repetições, totalizando 40 parcelas experimentais. Os

tratamentos consistiram em diferentes níveis de déficit hídrico, sendo: T1: Testemunha -

irrigação contínua com umidade sempre próxima à capacidade de campo; T2: déficit hídrico

de 20 dias; T3: déficit hídrico de 40 dias; T4: déficit hídrico de 60 dias. A aplicação dos

tratamentos teve início no período pós-colheita, em julho, na fase de dormência. Evidenciou-

se o tratamento que ficou o maior tempo sob estresse hídrico no período pós-colheita

(tratamento 4), apresentou um grau maior de uniformidade de maturação, quando comparado

aos demais tratamentos. A porcentagem de grãos maduros (cerejas) foi superior, evidenciando

o efeito do déficit hídrico sobre a maturação dos grãos de café.

PALAVRAS-CHAVE: manejo de irrigação, qualidade, café

1Graduando em Agronomia, IFES Campus Santa Teresa, CEP 29660-000, Santa Teresa, ES.

Fone (27) 997714740. Email: [email protected]. Doutor, Engenharia Agrícola, Irrigação e Drenagem, IFES Campus Santa Teresa, ES.3Mestranda em Produção Vegetal, UFES, Alegre, ES.4Graduando em Agronomia, IFES Campus Santa Teresa, ES.

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INTRODUÇÃO

A cafeicultura é atividade econômica de destaque para o Brasil. No Estado do Espírito Santo

destaca-se o cultivo do cafeeiro conilon (Coffeea canephora), sendo o maior produtor

nacional. Atualmente, tem-se dado atenção à qualidade do café conilon, devido ao maior valor

de mercado alcançado por produtos de nível superior e pela equiparação de preços com o café

arábica, tradicionalmente mais valorizado.

A qualidade do café é estimada pelo tamanho dos grãos (peneira) e pela qualidade da bebida.

Esta segunda característica é muito influenciada pela uniformidade de maturação dos frutos,

que depende inicialmente da uniformização da floração do cafeeiro e, posteriormente, de um

adequado manejo da água que evite o estresse hídrico em fases importantes da formação do

grão.

Após a colheita, o cafeeiro passa por um período de repouso fisiológico, mantendo seu

metabolismo reduzido. Essa época coincide com o período frio e seco na maioria das regiões

produtoras, o que favorece o controle do fornecimento de água à cultura. Nesse estádio a

cultura é sensível aos elementos climáticos, especialmente hidratação e, ou, queda de

temperatura, que conduzem à recuperação do crescimento e eventualmente a abertura da flor.

Em condições normais de cultivo, a cultura não só resiste satisfatoriamente, como também se

recupera muito rapidamente, após o fim de um período seco. Assim, o controle da época de

irrigação afeta sensivelmente a maturação do café, visto que, a água é o estímulo à emissão

dos botões florais.

O objetivo do projeto foi definir o momento mais apropriado de se irrigar o cafeeiro conilon,

avaliando a uniformidade de maturação dos frutos do cafeeiro e determinar o número de dias

de déficit hídrico, no período pós-colheita, ideal para se obter maior uniformidade de

maturação dos frutos do cafeeiro, sem reduzir sua produtividade.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no período de agosto de 2014 a julho de 2015, em uma lavoura

de cafeeiros conilon Vitória, com aproximadamente 3 anos de idade, instalada no campus

Santa Teresa do IFES, a uma altitude de 130 m. O sistema de irrigação implantado foi o gote-

jamento e a irrigação foi conduzida com turno de rega variável, o que permitiu a adequação da

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irrigação às diferentes fases de desenvolvimento vegetativo da cultura, bem como à variação

da demanda evapotranspirométrica ao longo do ciclo anual da cultura.

O manejo da irrigação foi realizado com o programa IRRIPLUS, utilizando-se de coeficien-

tes de ajustes sobre a evapotranspiração de referência (ETo) e a lâmina de irrigação em função

da diferença entre demanda hídrica e precipitação efetiva (MANTOVANI et al., 2009).

Para aplicação dos tratamentos foram impostos diferentes níveis de déficit hídrico à cultura

(BONFIM NETO, 2007; CRISOSTO et al., 1992). O experimento foi disposto em blocos ca-

sualizados (DBC) com quatro tratamentos e dez repetições, totalizando 40 parcelas experi-

mentais. Na Figura 1 é apresentado o esquema de instalação do experimento. Os tratamentos

consistiram em diferentes níveis de déficit hídrico, sendo:

T1: Testemunha - irrigação contínua com umidade sempre próxima à capacidade de campo;

T2: déficit hídrico de 20 dias; T3: déficit hídrico de 40 dias; T4: déficit hídrico de 60 dias.

A aplicação dos tratamentos teve início no período pós-colheita, em julho de 2014, na fase de

dormência.

Figura 1. Esquema de instalação do experimento, sendo cada linha plantada, os blocos.

Até atingir a fase desejada, as plantas de cada tratamento foram irrigadas, mantendo-se o solo

sempre próximo à capacidade de campo. A produtividade foi determinada colhendo-se

individualmente todas as plantas úteis de cada tratamento. Os resultados, em litros de frutos

de café colhidos, foram convertidos em produtividade (sacas de 60 kg de café beneficiado por

hectare), utilizando o fator de correção de 6,43 sacos (80 litros cada) de café colhido para

cada uma saca (60 kg) de café beneficiado. Para avaliar a uniformidade de maturação, foram

tomados 100 frutos, aleatoriamente, de cada parcela colhida, para se determinar a

porcentagem de grãos verdes, médios, cereja e secos.

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A umidade do solo foi aferida semanalmente, como apresentado na Figura 2.

Figura 2. Variação de umidade do solo no período de agosto de 2014 a julho de 2015.

O Ponto de Murcha Permanente (PM, apresentado pela linha vermelha) e a Capacidade de

Campo (CC, apresentado pela linha verde) é de 16,28 e 28 respectivamente. Foi mantido a

umidade do solo sempre entre o PM e a CC, garantindo assim que as plantas não sofressem

nenhum tipo de estresse, podendo então expressar todo o seu potencial produtivo. A partir do

momento em que a umidade do solo atinge o PM, as plantas possuem uma maior dificuldade

de absorção de água do solo, diminuindo assim o seu metabolismo, tendo consequências na

produtividade final da lavoura.

Nas figuras abaixo seguem os percentuais de maturação nos tratamentos, de grãos verdes,

amarelos, maduros (cerejas) e pretos (secos).

Figura 5. Percentuais de maturação do Cafeeiro Conilon Vitória para os tratamentos.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Observa-se que o tratamento que ficou o maior tempo sob estresse hídrico no período pós-

colheita (T4), apresentou um grau maior de uniformidade de maturação, quando comparado

aos demais tratamentos. A porcentagem de grãos maduros (cerejas) foi superior, evidenciando

o efeito do déficit hídrico sobre a maturação dos grãos de café.

SILVA, E.A. et al (2003a), avaliando a uniformidade de maturação em café arábica (Coffea

arabica L. cv. Obatã enxertados sobre Apoatã), também encontraram resultados parecidos. A

uniformidade da produção apresentou grande variabilidade entre os tratamentos com 94, 51,

78,3 e 89% de frutos no estádio cereja nos tratamentos 1. Não irrigados, 2. Irrigados

Constantemente, 3. Irrigados com Suspensão de 30 dias e 4. Irrigados com Suspensão de 60

dias no mês de julho, respectivamente. RENA, A.B et al, 1986, descreve que a

desuniformidade de maturação é consequência das floradas sucessivas.

Abaixo segue os dados de produtividade analisados.

Figura 6. Sacas beneficiadas por hectare apresentadas nos tratamentos.

Observa-se que o tratamento 2 apresentou uma maior produtividade média com cerca de 89

sc/ha, entre os tratamentos. Tal tratamento aplicou-se um déficit hídrico de 20 dias,

apresentando uma lâmina total aplicada de 261,8 mm ao longo do ciclo da cultura.

O tratamento 4, que obteve uma maior uniformidade de maturação apresentou uma

produtividade menor quando comparado ao tratamento 2 com maior produtividade, porém

apresentou uma produtividade maior que a testemunha (tratamento 1). Além de apresentar

uma produtividade maior, também apresentou uma maior uniformidade de maturação dos

grãos, influenciando diretamente na qualidade da bebida, e no preço da saca beneficiada,

justificando a aplicação do déficit hídrico de 60 dias no período pós-colheita.

SILVA, E.A. et al (2003b), observaram grande diferença entre cafeeiro arábica irrigado e não

irrigado com valores de 400, 4376, 4332 e 4348 kg ha -1 nos tratamentos Não Irrigados,

Irrigados Constantemente, Irrigados com Suspensão de 30 dias e Irrigados com Suspensão de

60 dias, respectivamente.

Com os resultados, indica-se que podemos aplicar um déficit hídrico no cafeeiro conilon de

até 60 dias, para as condições climáticas citadas, sem que haja perdas de produtividade. Esse

déficit hídrico nesse período, também irá reduzir custos com energia elétrica, economia de

água e redução de gastos com mão-de-obra, gerando assim um aumento de ganho na receita

liquida total.

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CONCLUSÕES

O tratamento 4 (déficit hídrico de 60 dias) obteve maior uniformidade de maturação dos

grãos, sem haver perdas na produtividade, comparado à testemunha, o que afeta diretamente

na qualidade final da bebida.

O tratamento 2 (déficit hídrico de 40 dias) obteve maior produtividade entre os analisados.

AGRADECIMENTOS

Ao IFES Campus Santa Teresa, por ceder a área experimental.

Ao CNPq pela concessão de bolsa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOMFIM NETO, H. Avaliação do uso do déficit hídrico na floração do cafeeiro arabica,

monitorado por meio do desenvolvimento do botão floral e do potencial hídrico da planta.

Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola). Viçosa: UFV. 2007. 49 p.

CRISOSTO, C.H.; GRANTZ, D.A; MEINZER, F.C. Effects of water deficit on flower

opening in coffee. (Coffea arabica L.). Tree Physiology, v.10, p.127-139, 1992.

MANTOVANI, E.C.; BERNARDO, S.; PALARETTI, L.F. Irrigação: princípios e métodos. 3

ed. Viçosa: UFV. 2009. 355 p.

RENA, A.B.; MAESTRI, M. Fisiologia do cafeeiro. In: RENA, A.B.; MALAVOLTA, E.;

ROCHA, M.; YAMADA, T. (Ed.) Cultura do cafeeiro: fatores que afetam a produtividade.

Piracicaba: POTAFOS, 1986. Cap. 2. p. 13-85.

SILVA, E.A. et al. Efeito de variáveis edafoclimáticas e da intensidade/duração do défice

hídrico na uniformidade de produção e produtividade do cafeeiro arábica na localidade de

Mococa, SP. Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil (Porto Seguro, BA). Resumos.

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