Coimbra 2012
Envelhecimento e
Dinâmicas Sociais ou
“o Envelhecimento demográfico” Como
Factor de insustentabilidade da
Segurança Social?
Fontes de Investigação Sociológica
Manuel Filipe Figueiredo
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
Manuel Filipe Figueiredo Aluno nº 2012119555 Página 1
Envelhecimento e
Dinâmicas Sociais Ou
“o Envelhecimento demográfico” como
Factor de insustentabilidade da
Segurança Social?
Fontes de Investigação Sociológica Ano lectivo de 2012 -2013
Coimbra 2012
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tbnid=lsNlsrnQdwU8pM:&imgrefurl=http://www.hotfrog.pt/Empresas/Idosos-2011&docid=e2O
Docente: Professor Doutor Paulo Peixoto
Discente: Manuel Filipe Figueiredo
Aluno nº 2012119555
“O futuro não pertencerá unicamente às pessoas idosas, o que seria contrário à própria ideia de integração das gerações. Mas também não se fará sem elas, o que é
uma oportunidade a não negligenciar (…)”.
Michel Loriaux
Índice
1. Introdução ............................................................................................... 1 2. O idoso no futuro e o estádio dessa consciência .................................. 3
2.1 Envelhecimento e Dinâmicas Sociais ..........................................................3 2.1.1 Envelhecimento demográfico – CONCEITOS .......................................4
2.1.2 Os direitos do idoso ........................................................................................5
2.2 A Segurança Social..................................................................................................8
2.2.1 O Contrato social providencialista ................................................................9
2.2.2 Para onde vai a Segurança Social Portuguesa? ....................................... 10
2.3 O financiamento da Segurança Social ............................................................. 13
2.3.1 Sustentabilidade do sistema financeiro da segurança Social ................. 13
2.4 Distribuição de Responsabilidades ................................................................... 17
3. Descrição detalhada de pesquisa..................................................................19
4. Avaliação de um Web Site.............................................................................20
5. Ficha de Leitura................................................................................................21 Notas sobre o autor ................................................................................................. 21 Resumo ...................................................................................................................... 22 Desenvolvimento...................................................................................................... 22 Envelhecimento: Conceitos ...............................................................................23 Envelhecimento: Como e por quê? ..................................................................24 Envelhecimento demográfico: Receios ................................................................. 26 O envelhecimento demográfico e efeitos: Segurança Social e nas reformas ....26 Os Ciclos de Vida: e o Idadismo .......................................................................27 Conclusão: o envelhecimento da população portuguesa ...................................29 Pontos fracos e fortes do documento ..........................................................30
- Pontos fracos ...............................................................................................30 - Pontos fortes................................................................................................31 - Anotações finais ..........................................................................................33
6. Conclusão ............................................................................................................33
7. Referências bibliográficas
Anexo I – Web Site: http://www.seg-social.pt
Anexo II – Texto de apoio à ficha de leitura
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1. Introdução
Queiramos ou não, a verdade é que começamos a envelhecer a partir do primeiro
segundo da nossa concepção.
Sendo certo que, particularmente a partir da primeira dezena de anos, ansiamos
por uma grande velocidade no processo da passagem do tempo, é também verdade que,
todos nós, a partir do primeiro quarto de século, tentamos ignorar o continuum do
desgaste e a consequente fragilidade que o avanço da idade nos vai provocando.
Na verdade, as ciências: médica e farmacêutica, acompanhadas por melhores
práticas de alimentação, higiene e condições sanitárias, fizeram e continuam a fazer
crescer a esperança de vida humana para patamares impensáveis há poucas décadas.
Sendo um bem, na verdade, este aumento da esperança de vida traz alguns
problemas sobre os quais, todos, temos de reflectir num primeiro tempo, para depois
podermos, também todos, contribuir para uma boa solução.
Este trabalho, desenvolvido no âmbito da disciplina de Fontes de Informação
Sociológica, sobre o tema Envelhecimento e dinâmicas sociais, ou, (problematizando)
sobre “o envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança
Social?” foi por mim escolhido com total liberdade numa tentativa de ensaio reflexivo
sobre esta problemática.
Ao escolher esta temática, tenho a clara consciência de que, a minha condição de
“pré-idoso”- a caminho dos 64 anos de vida – com alguns deles dedicados, em
cidadania, à tentativa de solução, de alguns problemas daquelas pessoas que, no espaço
geográfico das minhas origens, se encontram nesse patamar de grande fragilidade, me
obrigam a um duplo esforço, de despojo e ruptura do conhecimento empírico adquirido
e do senso comum interiorizado.
Para iniciar a pesquisa sobre o tema: Envelhecimento e dinâmicas sociais - tive,
antes de mais, de elaborar uma pergunta de partida.
O tema “envelhecimento” é vasto e, só por si, encheria volumosos compêndios
com as imensas hipóteses de trabalho que proporia. Sendo certo que “dinâmicas
sociais”, associadas ao envelhecimento, já reduz um tanto o foco de investigação e
análise, a verdade é que ainda se mantinha como um campo de espectro bastante largo.
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Tenho a convicção de que a sociedade portuguesa e provavelmente também a de
outros países europeus, têm uma “bomba relógio” activada que, se não for desarmada,
poderá potenciar um verdadeiro conflito intergeracional.
O aumento da esperança de vida, por um lado, e a quebra de fecundidade, da
geração em idade procriadora, por outro, poderão vir a criar uma situação
Intergeracional delicada se houver ruptura e insustentabilidade na segurança social.
Feita esta observação, a minha pergunta de partida tornou-se mais evidente. “o
envelhecimento demográfico poderá ser factor de insustentabilidade da Segurança
Social”?
Depois de ter definido a pergunta de partida, precisava tentar perceber qual a
metodologia de pesquisa a utilizar, que caminho percorrer e quais as etapas a
“palmilhar”, para chegar a uma possível resposta à pergunta de partida.
Só então precisei as palavras-chave que me permitissem a pesquisa adequada de
quem, como e onde, tivesse produzido, academicamente falando, pensamento científico
sobre o tema.
Como palavras-chave adoptei: envelhecimento; envelhecimento demográfico;
segurança social; financiamento da Segurança social, (In) sustentabilidade da
Segurança Social.
Só depois passei à pesquisa e investigação. Para tanto, usei os meios à disposição:
livros próprios (pessoais) e da biblioteca, catálogos, internet e algumas das bases de
dados sugeridas ao longo da aprendizagem, com os instrumentos adequados.
Feita a pesquisa, passei, finalmente à compilação e redacção do trabalho que será
dividido em três partes fundamentais.
Na primeira parte situarei o Estado das Artes que dará corpo ao resultado das
pesquisas realizadas, sobre o idoso e seus direitos, enquanto pessoa, reconhecidos em
instâncias diversas e, sobre o pensamento académico produzido sobre a pergunta de
partida que, acabará por ter alguma reflexão pessoal.
Na segunda parte exporei a metodologia de trabalho desenvolvida, a ficha de
leitura do livro recomendado e a minha apreciação de uma página de internet1.
1 Nota: Para a formatação das fontes bibliográficas foi utilizada a modalidade do Word, para inclusão das fontes ao longo do texto, bem como para construir as referências bibliográficas. O estilo utilizado foi o APA 5ª edição Word 2010.
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Na terceira parte, apresento as considerações finais que se constituirão, elas próprias, como os pontos da reflexão produzida e que, de algum modo, envolvendo-me pessoalmente, tentam deixar espaço para outros desenvolvimentos.
2. O idoso no futuro e o estádio dessa consciência
2.1. Envelhecimento e Dinâmicas Sociais
O Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia proclamaram o ano de
2012 como o “Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre as
Gerações”. (Parlamento Europeu, 2011).
Provavelmente, esta proclamação resulta da consciência duma realidade que se
manifesta como uma das grandes preocupações de momento. De facto, o
desenvolvimento da ciência e os resultados positivos atingidos no campo da
investigação científica, particularmente nos campos da medicina e das ciências
farmacêuticas, por um lado, e a melhoria dos cuidados de saúde prestados, das
condições socioeconómicas e também dos cuidados higio-sanitários, por outro, têm
vindo a contribuir para o prolongamento da duração da vida humana.
O aumento da esperança de vida deveria ser considerado como um bem, devendo
até ser celebrado com alegria. E, no entanto, ele está a ser observado com a preocupação
suficiente para que os dirigentes europeus lhe dediquem um ano, período em que a
focalização dos holofotes, sobre esta problemática, permitirá uma maior observação e
potenciará a reflexão necessária, ao mesmo tempo em que lançará um apelo à
solidariedade entre gerações.
A vida é o bem maior da humanidade, no entanto se, conjuntamente com o
aumento da esperança de vida, não existirem solidariedades intergeracionais, aquilo que
é um bem pode transformar-se num autêntico drama. O drama da possível ruptura entre
cidadãos idosos e activos, pela insustentabilidade social que este facto poderá provocar,
tendo em conta o envelhecimento demográfico das sociedades.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde “Em quase todos os países, a
proporção de pessoas idosas com mais de 60 anos está a crescer mais rápido que
qualquer outro grupo etário, como consequência do aumento da esperança média de
vida e do declínio dos índices de fertilidade” (Direcção Geral de Saúde). (OMS, 2002)
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No “Sítio” da Direcção Geral de Saúde, ao fazer-se referência ao “Ano Europeu
do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações”, refere-se que, ao
vivermos muito mais tempo e com mais saúde, deve também ser considerada a
oportunidade de um envelhecimento activo que permita aos cidadãos idosos, transcrevo:
• Permanecerem no mercado do trabalho e partilharem a sua experiência,
• Continuarem a desempenhar um papel activo na sociedade,
• Viverem uma vida o mais saudável e gratificante possível.
Acrescentando ainda: […] O ano de 2012 deverá ir além do debate e começar a
produzir resultados palpáveis. (Direcção Geral de Saúde, p. 15/12/12)
De facto, a manifestação de preocupação da DGS de que o idoso não pode ser
visto como um encargo para a sociedade, é outra forma de reconhecer ao idoso um esta-
tuto que pode passar pela atribuição dum papel mais activo e participativo na sociedade
da qual é uma parte com plenos direitos e obrigações, ainda que, dadas as circunstâncias
da condição, sejam mais aqueles que estas.
Há já muitos trabalhos académicos efectuados onde é reconhecido o acelerado
envelhecimento da sociedade portuguesa. A nossa estrutura demográfica apresenta
variações rápidas e surpreendentes “A demografia de Portugal está, assim, a bater
alguns recordes populacionais históricos, quer no que diz respeito ao seu perfil etário,
quer quando se pensa nos comportamentos demográficos que estão na base dessas
alterações de perfil, como a mortalidade e a fecundidade”. (Rosa, 2012, p. 79).
Segundo o INE – Instituto Nacional de Estatística, em menos de 20 anos, um em
cada cinco portugueses terá mais de 65 anos e em meados do século XXI essa
proporção será de um para três (INE, 2011)
2.1.1 Envelhecimento demográfico – CONCEITOS
O envelhecimento demográfico da sociedade portuguesa não é, contudo, resultado
exclusivo, e nem sequer principal, do assinalável aumento da esperança de vida e
longevidade dos cidadãos que, aos 65 anos, passou a esperar viver mais “17 anos para
os homens e 20 para as mulheres” (Rosa, 2012, p. 30).
O envelhecimento demográfico deve-se, em grande parte, à actual baixa fecundidade da
população portuguesa.
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Para que a renovação de gerações estivesse assegurada, seria necessário que cada
mulher tivesse pelo menos, em média, 2,1 filhos e, mesmo assim, que, dessa média, um
filho fosse mulher. “Portugal, no início da década de 1960, apresentava uma média de
filhos por mulher superior a três, um dos valores de fecundidade mais elevados entre os
países do actual conjunto da UE27. Hoje, com um valor inferior a 1,4 filhos por mulher,
já não assegura a substituição de gerações” (Rosa, 2012, pp. 31-32).
O envelhecimento da sociedade portuguesa deve ser entendido como
consequência das bem-sucedidas políticas de saúde pública, do desenvolvimento
socioeconómico e até do efeito do retardamento da maternidade motivada pela
integração, por direito próprio, da mulher na vida activa e da sua luta por uma carreira:
académica, política ou empresarial.
2.1.2 Os direitos do idoso
Os direitos do idoso, sendo uma questão de sempre, só recentemente concitaram
direito a uma observação mais cuidada.
A nova realidade, consubstanciada no aumento da esperança de vida e, por via
disso, da dificuldade em definir o conceito - “idoso” - e o papel que lhe deva estar
reservado em sociedade, por um lado, e pela necessidade de uma intervenção legislativa
global, em função da fragilidade das pessoas mais velhas e dos eventuais desafios
específicos aos direitos humanos que poderiam suscitar, por outro, levaram a que a
ONU lhe dedicasse uma Resolução. A Assembleia Geral das Nações Unidas de
16/12/1991 estipula, para o mundo, a Resolução 46/91 como o:
Princípio das Nações Unidas para o Idoso: 1. Ter acesso à alimentação, à água, à habitação, ao vestuário, à saúde, a apoio
familiar e comunitário.
2. Ter oportunidade de trabalhar ou ter acesso a outras formas de geração de
rendimentos.
3. Poder determinar em que momento se deve afastar do mercado de trabalho.
4. Ter acesso à educação permanente e a programas de qualificação e
requalificação profissional.
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5. Poder viver em ambientes seguros adaptáveis à sua preferência pessoal, que
sejam passíveis de mudanças.
6. Poder viver em sua casa pelo tempo que for viável.
7. Permanecer integrado na sociedade, participar activamente na formulação e
implementação de políticas que afectam directamente o seu bem-estar e
transmitir aos mais jovens conhecimentos e habilidades.
8. Aproveitar as oportunidades para prestar serviços à comunidade, trabalhando
como voluntário, de acordo com seus interesses e capacidades.
9. Poder formar movimentos ou associações de idosos.
10. Beneficiar da assistência e protecção da família e da comunidade, de acordo com
os seus valores culturais.
11. Ter acesso à assistência médica para manter ou adquirir o bem-estar físico,
mental e emocional, prevenindo a incidência de doenças.
12. Ter acesso a meios apropriados de atenção institucional que lhe proporcionem
protecção, reabilitação, estimulação mental e desenvolvimento social, num
ambiente humano e seguro.
13. Ter acesso a serviços sociais e jurídicos que lhe assegurem melhores níveis de
autonomia, protecção e assistência.
14. Desfrutar os direitos e liberdades fundamentais, quando residente em
instituições que lhe proporcionem os cuidados necessários, respeitando-o na sua
dignidade, crença e intimidade. Deve desfrutar ainda do direito de tomar
decisões quanto à assistência prestada pela instituição e à qualidade da sua vida.
15. Aproveitar as oportunidades para o total desenvolvimento das suas
potencialidades.
16. Ter acesso aos recursos educacionais, culturais, espirituais e de lazer da
sociedade.
17. Poder viver com dignidade e segurança, sem ser objecto de exploração e maus-
tratos físicos e/ou mentais.
18. Ser tratado com justiça, independentemente da idade, sexo, raça, etnia,
deficiências, condições económicas ou outros factores.
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Do mesmo modo, a Constituição da República Portuguesa consagra, no Capítulo II,
relativo a Direitos e Deveres Sociais, a esta temática:
Artigo 63º (Segurança social e solidariedade):
1. Todos têm direito à segurança social.
2. Incumbe ao Estado organizar, coordenar e subsidiar um sistema de segurança
social unificado e descentralizado, com a participação das associações sindicais,
de outras organizações representativas dos trabalhadores e de associações
representativas dos demais beneficiários.
3. O sistema de segurança social protege os cidadãos na doença, velhice, invalidez,
viuvez e orfandade, bem como no desemprego e em todas as outras situações de
falta ou diminuição de meios de subsistência ou de capacidade para o trabalho.
4. Todo o tempo de trabalho contribui, nos termos da lei, para o cálculo das
pensões de velhice e invalidez, independentemente do sector de actividade em
que tiver sido prestado.
5. O Estado apoia e fiscaliza, nos termos da lei, a actividade e o funcionamento das
instituições particulares de solidariedade social e, de outras, de reconhecido
interesse público, sem carácter lucrativo, com vista à prossecução de objectivos
de solidariedade social consignados, nomeadamente, neste artigo, na alínea b) do
n.º 2 do artigo 67.º, no artigo 69.º, na alínea e) do n.º 1 do artigo 70.º e nos
artigos 71.º e 72.º.
Artigo 72.º (Terceira idade):
1. As pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação
e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e
evitem e superem o isolamento ou a marginalização social.
2. A política de terceira idade engloba medidas de carácter económico, social e
cultural tendentes a proporcionar às pessoas idosas oportunidades de realização
pessoal, através de uma participação activa na vida da comunidade.
No contexto europeu destaca-se a promulgação, em 1992, da:
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- “Carta Europeia dos Idosos” que define os direitos específicos desta faixa
etária.
Também, em 1995, foi publicado em Portugal o:
- “Livro Verde dos Idosos” onde se expõem numerosas questões relacionadas
com o futuro das políticas sociais e com o papel económico e social das pessoas idosas,
nomeadamente: o direito de acesso a rendimentos mínimos garantidos; o direito a
escolher o local de residência e o dever, por parte da sociedade, de garantir os serviços
sociais necessários para o exercício desse direito; O direito à saúde mental e física, a
medidas de reabilitação, de prevenção e protecção legal em caso de tratamento; o direito
a um modo de vida adequado e a um sistema de transportes públicos adaptados às suas
necessidades; o direito a um meio ambiente que lhes assegure a saúde e a segurança; o
direito ao lazer, ao acesso à cultura, à formação e à prática de actividade física; o direito
à informação; e, o direito à participação cívica e a uma cidadania responsável no
financiamento das reformas para os idosos activos (hoje a partir dos 65 anos) da saúde
para um substancial aumento de idosos num patamar de 4ª idade (a partir dos 80 anos)
cada vez com maiores necessidades de apoios na saúde, na assistência médica e
medicamentosa e, finalmente, na capacidade funcional dos idosos em família ou na
criação de ambientes de instalação parcial e activa ou residencial.
2.2. A Segurança Social
A Segurança Social Portuguesa é um organismo, criado pelo Estado, com o
objectivo de prover às situações de desemprego, reformas, pensões, rendimento social
de inserção, prestações familiares, cuidados de saúde e outras regalias sociais.
Este organismo de apoio social desenvolve-se através de um fundo comunitário
que recebe prestações de todos os rendimentos do trabalho (por conta própria ou de
outrem).
No caso concreto dos trabalhadores por conta de outrem (regime geral), o
contributo para este fundo é composto por: 11% do salário que a entidade patronal está
obrigada a retirar directamente do salário do trabalhador, a reter, conjuntamente com
outra “tranche” igual a 23,75% desse salário, resultante dessa mesma prestação de
trabalho que a entidade patronal está obrigada a entregar ao Instituto de Gestão
Financeira da segurança Social, Lei nº. 110/2009, de 16 de Setembro, (Assembleia da
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República, 2009), mais tarde alterada pela Lei nº. 119/2009, de 30 de Dezembro, pela
Lei nº. 55-A//2010, de 31 de Dezembro e pelo Decreto Regulamentar n.º 1-A/2011, de 3
de Janeiro.
A Segurança Social em Portugal é composta, ainda, por dois sistemas: o Sistema
Previdencial e o Sistema de Protecção Social e Cidadania que, por sua vez, é composto
por três subsistemas: Acção Social; Solidariedade e Protecção Familiar.
Esta é a base do chamado Estado-providência português e do dito contrato social
providencialista.
2.2.1. O Contrato social providencialista
Por Contrato Social entende-se a resposta à avaliação das instituições sociais que
terão a virtude de serem justas (Rawls, 1993).
Ou seja, para o filósofo norte-americano, uma sociedade bem ordenada
compartilha de uma concepção pública de justiça que regula a estrutura básica da
sociedade. Com base nesta preocupação, Rawls formulou a teoria da justiça como
equidade, questionando: “mas, como podemos chegar a um entendimento comum sobre
o que é justo”?
Entretanto, de outras origens e em reflexões diversas chegam-nos algumas
preocupações de investigadores/cientistas sociais e sociólogos:
“Nas últimas décadas, sobretudo desde os meados dos anos oitenta, assistiu-se ao
esgotamento da velha relação salarial fordista, o Estado-providência entrou em crise e o
chamado modelo social europeu está em risco de colapsar” (Estanque, 2006).
No mesmo tom, “Este colapso de expectativas es el colapso de la sociedad misma,
el colapso del contrato social, es el contrato de las poblaciones desechables, son
procesos de exclusión irreversibles. La gente deja de ser ciudadana, y es el paso de la
sociedad civil a los que llamo sociedad incivil: tanta gente que vive con desigualdad y
donde hay un colapso total de expectativas porque dependen totalmente de fuerzas
poderosas sobre las cuales no tienen ningún control. El obrero está contratado hoy, pero
si no hay un contrato colectivo o una ley laboral, mañana puede no tener empleo, y no
tiene ninguna posibilidad de reaccionar” (Santos, 2003).
A verdade é que neste tempo de crise, já pouco de “túnel”, mas cada vez mais de
“buraco negro”, parece que aos idosos está reservado um papel de descartabilidade
como, a outro propósito, mas relativamente a idosos franceses nos diz José Manuel
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Mendes: “Esses limites evidenciam-se na abordagem convencional a acontecimentos
extremos, em que as pessoas e os grupos descartáveis são remetidos ao silêncio e à
invisibilidade” (Mendes J. M., 2010).
2.2.2. Para onde vai a Segurança Social Portuguesa?
“O Estado assegura aos cidadãos a segurança social, baseada no conceito de
garantia de recursos, que inclui nos seus mecanismos quer o previdencialismo do seguro
social, quer a solidariedade nacional assistencialista” (Mendes F. R., 1995, p. 406)
Contudo o debate associado às propostas e estratégias de reforma do Estado-
providência, em Portugal, parece pôr em evidência o aparente esgotamento do contrato
social em que ele assentou originariamente.
“Os últimos vinte anos testemunharam a crise dos diversos modelos de Estado-
providência do após-guerra e o desenvolvimento de diferentes estratégias de
resposta a tal crise nas principais economias do mundo. Em Portugal e no mesmo
período assistimos, em contraciclo, à transição da previdência social corporativa
para um modelo de protecção social pública similar ao que entrara em crise nos
países mais desenvolvidos” (Mendes F. R., 1995, p. 405)
[…]
“O desenvolvimento do Estado-providência em Portugal pôde então iniciar-se,
com a organização subsequente de dois grandes pilares em que assenta: o sistema
nacional de saúde e a segurança social.
A ampliação dos riscos sociais a cobrir pela protecção social pública foi sendo
realizada ao longo das décadas de 70 e 80, com a atribuição de novas prestações
sociais contingentes de determinadas eventualidades — licença de parto de 90
dias, pensão social, subsídio de desemprego, etc. —, que consagraram novos
direitos subjectivos no domínio da segurança social. Em 1984, o parlamento
aprovou, finalmente, uma lei de bases da segurança social, a Lei n.º 28/84, de 14
de Agosto, que enquadrou todos os regimes e todas as prestações de segurança
social, configurando em definitivo o sistema, e que permanece em vigor até hoje”.
(Mendes F. R., 1995, p. 411)
[…]
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“Até 1991 houve financiamento solidário quase pleno entre os regimes
contributivos e os não contributivos e a acção social, em resultado do expediente
orçamental de fazer suportar parte dos custos da solidariedade nacional aos
activos empregados e às empresas empregadoras. Paralelamente, acumularam-se
as situações de reduzida contribuição dentro do regime geral contributivo.
Criou-se, deste modo, uma opacidade (indesejável) no financiamento do
sistema que ameaça a sustentabilidade social e intergeracional do modelo de
segurança social no futuro próximo.
Em domínios tão importantes como seja o modelo de financiamento, a
definição da gama de riscos sociais cobertos, a universalidade da sua cobertura
pelos regimes de segurança social ou a gestão do sistema estão em aberto as
resposta possíveis à questão “por aonde vai à segurança social portuguesa?”, na
perspectiva da reforma do Estado-providência tardiamente implantada entre nós.
[…] Com efeito, enquanto a carreira contributiva média dos pensionistas de
velhice do regime geral da segurança social foi de apenas 13,5 anos e mais de
50% dos pensionistas de invalidez e de velhice do regime geral tinham tido menos
de dez anos de esforço contributivo (o que sucedia em 1991), os encargos das
pensões dos regimes contributivos eram relativamente modestos” (Mendes F. R.,
1995, p. 422).
Também Graça Carapinheiro, em “A globalização do risco social”, e Boaventura
de Sousa Santos, reflectindo sobre este tema dizem-nos:
“O projecto de um sistema integrado de segurança social composto por serviços
sociais públicos universais acende-se, apaga-se e reacende-se à medida que se desenrola
o processo de normalização democrática e à medida que a expansão dos direitos sociais,
mas sob o efeito cruzado das pressões contraditórias, que tanto apressavam a adopção
de modelos europeus de segurança social que viabilizassem a adesão de Portugal à
Comunidade Económica Europeia como colocavam essa opção sob reserva” […]
(Carapinheiro, 2005)
“Nas últimas décadas, acumularam-se os argumentos contra a sustentabilidade
deste modelo de Estado e, portanto, das políticas sociais que ele funda. Falou-se da crise
financeira do Estado, das mudanças demográficas de que supostamente decorre a
inevitabilidade da privatização da segurança social, da necessidade de promover a
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autonomia dos cidadãos, tornando-os responsáveis pelo seu bem-estar presente
(emprego, saúde, reinserção social) e futuro (reforma). Estes argumentos traduziram-se
em mudanças nas políticas públicas que, em geral, contribuíram para quebrar o vínculo
de confiança e lealdade que se criara entre o Estado e os cidadãos”. (Santos, 2006)
Segundo os diversos autores, os programas de Segurança Social têm contribuído
para a diminuição da participação no mercado de trabalho de pessoas mais velhas, uma
vez que em muitos casos existem incentivos para estas pessoas se reformarem mais
cedo. Com efeito, durante alguns anos, e na vigência de alguns governos, estimularam-
se as ditas reestruturações de empresas, acordadas tacitamente com o Governo, com
negociações de saída de trabalhadores para uma situação de desemprego subsidiado,
durante três anos, seguido de uma situação de reforma antecipada, com o único
objectivo de embaratecer a produção com a entrada de trabalhadores mais jovens, mais
qualificados do ponto de vista académico e particularmente muito mais baratos.
“Inicialmente, a protecção social em Portugal traduzia-se em previdência e
em assistência social. Estes esquemas caracterizavam-se pela concessão de
prestações a um leque reduzido de beneficiários, dos quais se excluíam os
trabalhadores rurais e todos aqueles que não contribuíam financeiramente
para o sistema. No início do século XX surgiram as primeiras caixas de
pensões, e posteriormente outras instituições sociais, contribuindo assim
para a evolução da protecção social. Em 1984 foi publicada a primeira lei
de bases da Segurança Social, que visa proteger os trabalhadores e as suas
famílias de situações de perda de capacidade de trabalho e de situações de
carência económica. Desde então, muito mudou, mas o indicador mais
expressivo talvez seja o crescimento observado no número de pensionistas,
que passou de 1.898.085 beneficiários em 1984 para 2.859.882 em 2009”.
(Aleixo, 2011)
2.3. O financiamento da Segurança Social
Já em ponto anterior apresentámos o Regulamento contributivo da Segurança
Social no regime geral. No entanto, e segundo Maria Sofia Calado Aleixo,
“O sistema actual português, à semelhança de muitos outros Sistemas de
Segurança Social de diferentes países, assenta num regime de repartição,
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
Manuel Filipe Figueiredo Aluno nº 2012119555 Página 13
financiado através de contribuições pagas pelos trabalhadores e entidades
patronais, que não são mais do que percentagens sobre os rendimentos dos
actuais activos e futuros beneficiários das pensões. Neste regime, as
contribuições de um período são utilizadas para pagar as prestações desse
mesmo período. No caso do valor das contribuições excederem o valor das
prestações do período, como se tem verificado nos últimos anos, esse valor
é aplicado num fundo colectivo de capitalização, para ser utilizado numa
situação em que a diferença entre os fluxos seja negativa”. (Aleixo, 2011,
p. 17).
Segundo a CGTP: “as contribuições de trabalhadores e empregadores são a
principal fonte de receita do sistema previdencial, o qual tem por base uma relação
sinalagmática directa entre a obrigação legal de contribuir e o direito às prestações”.
(Intersindical, 25/11/12).
2.3.1. Sustentabilidade do sistema financeiro da segurança Social
O sistema de pensões vigente é, neste momento, fracamente sustentável, pois o
número de contribuintes para a segurança social encontra-se progressivamente a
diminuir, enquanto o número de beneficiários está gradualmente a aumentar.
“Raramente falamos de envelhecimento da população sem o associar de
forma directa ao agravamento das despesas sociais, nomeadamente com
a protecção social e em particular com as pensões de velhice. Esta
questão remete-nos para a «famosa» incerteza de insustentabilidade do
sistema de insegurança social, para o agravamento das pensões de
velhice ou de reforma e para o aumento progressivo do esforço
contributivo”. (Rosa, 2012, p. 45)
No Site da CGTP – Intersindical, pode ler-se:
“Não podemos deixar de salientar que o Programa de Governo inclui
um conjunto de medidas que traduzem um forte ataque ao sistema
público de segurança social e, em particular, ao sistema previdencial de
base contributiva. Além disso, apesar de afirmar reiteradamente a
necessidade de garantir a sustentabilidade financeira do sistema de
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
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segurança social, a verdade é que preconiza também várias medidas que
vão no sentido de reduzir as receitas do sistema, designadamente
através de várias situações de redução das taxas contributivas, que
acrescem à chamada política de desvalorização fiscal”.
E:
“Se se viesse a concretizar a descida da TSU, a perda de receita por
cada ponto percentual reduzido seria de 400 milhões de euros, tendo em
conta as receitas de contribuições, para a segurança social, previstas
para 2011 no Orçamento de Estado”. (Intersindical, 25/11/12)
A CGTP-IN contrapõe que, ao mesmo tempo em que transformam a TSU no
bode expiatório dos males da competitividade da economia, são ignorados outros
factores essenciais para a produtividade e a competitividade, como a responsabilidade
das políticas macroeconómicas, a responsabilidades dos patrões e gestores, as razões da
baixa produtividade, a falta de organização e de opacidade de gestão das empresas,
entre outros.
A central sindical considera também que a forma de financiamento, do fundo da
segurança social, não pode ser arbitrariamente alterada pelo Governo sem que aqueles
que financiam esse “fundo comunitário social” sejam ouvidos e seja considerada a sua
opinião.
“Isto significa que estamos perante um seguro social – que visa
compensar os seus beneficiários por determinadas eventualidades, entre
as quais a reforma e o desemprego – e não um imposto. Significa
também que antes de qualquer mudança no sistema, os beneficiários –
neste caso os trabalhadores – têm que ser ouvidos e a sua opinião tida
em conta”. (Intersindical, 25/11/12)
Contudo, com a aprovação da Lei das Bases da Segurança Social, em 1984, e
como a aprovação “do princípio da coesão geracional implica um ajustado equilíbrio e
equidade geracionais na assunção das responsabilidades do sistema”, art.14º da Lei de
Bases, passou a existir um princípio de solidariedade geracional em que a fórmula
distributiva estabelece que as gerações activas (trabalhadores e empregadores)
financiem, com os descontos resultantes do seu trabalho, as reformas dos reformados
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
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actuais, aceitando as actuais gerações activas que, quando chegar a sua idade de
reforma, terão outras gerações a financiar as suas reformas (Rosa, 2012, p. 45).
Ora, é exactamente aqui que reside o problema.
“Com efeito, a evolução do número de pensionistas da segurança Social
em Portugal (por velhice, invalidez ou sobrevivência – ou seja, por
morte de alguém) tem sido impressionante: de cerca de 56 mil, em 1960
(e de cerca de 187 mil, em 1970), passa-se para um milhão, em 1976, e
para dois milhões, em 1987. Actualmente, o total de pensionistas já está
muito próximo dos três milhões de indivíduos, valor que atinge os três
milhões e meio de pensionistas se acrescentarmos os pensionistas da
Caixa Geral de Aposentações (CGA). Em contrapartida, o número de
activos (empregados e desempregados) não está a aumentar na mesma
proporção: passou de quatro milhões, em 1976, para pouco mais de
cinco milhões e meio, em 2010 2.
Por outro lado, para além do número de pensionistas por activo
aumentar, há ainda a considerar o aumento dos montantes envolvidos
com as pensões de reforma, devido, no essencial, a três factores.
Em primeiro lugar, dilatou-se o período de reforma (a esperança de vida
aumentou 4 anos - de 14 para 18).
Em segundo lugar, as remunerações referência para a determinação do
montante de pensões de reforma aumentaram. De 1985 a 2009, as
remunerações médias do trabalho praticamente duplicaram se
considerarmos a evolução desses montantes a preços constantes de
2006 (ou seja, se se retirar a inflação): passaram de 484€ para 839€.
Em terceiro lugar, devido à maturação do sistema de segurança social,
chegam à idade de reforma mais pessoas com carreiras contributivas
completas, com mais tempo de descontos”. (Rosa, 2012, pp. 46-47)
2 Anote-‐se que o desemprego, registado nos Centros de Emprego, atingiu em Outubro de 2010 a fasquia de mais de 16% equivalente a cerca de 1.000.000 de activos a que terá de se juntar mais cerca de 465.000 que, já tendo perdido o subsídio de desemprego e a esperança de encontrar emprego através destes centros, não se encontra contabilizada nestes números.
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Independentemente de a observação empírica poder indiciar que algumas medidas
de governação poderiam conduzir a uma boa administração do “fundo comunitário e
social”, na condição de Segurança social, a verdade é que se vai dizendo que, a prazo, e
nas actuais condições, a Segurança Social é insustentável.
O enquadramento geral subjacente à formulação das presentes projecções da
Conta do Subsistema Previdencial é particularmente negativo.
Fruto da conjugação de um conjunto de factores negativos, como de um fraco
crescimento económico, do crescimento do desemprego, da maturação do sistema e da
consolidação de esquemas de antecipação/flexibilização da idade de acesso à pensão,
assistiu-se nos últimos cinco anos a uma acentuada deterioração do equilíbrio financeiro
do Sistema de Segurança Social, particularmente evidente pelo crescimento explosivo
verificado desde 2000 nas despesas com pensões e com prestações associadas ao
desemprego.
“O ritmo de crescimento destas despesas foi, como se pode constatar pela
leitura do Quadro I, muito superior ao verificado para as contribuições e
quotizações, principal fonte de financiamento do Subsistema Previdencial
e de toda a Segurança Social.
Assim, constata-se que entre 2000 e 2005 as despesas com o subsídio de
desemprego cresceram cerca de 150%, o que corresponde a uma taxa
média anual de 20%, as pensões de velhice do Subsistema Previdencial a
uma taxa média de 10.5%, os complementos sociais de pensão, fruto em
parte do esforço de convergência das pensões mínimas do Regime Geral
com o SMN, cerca de 22.5% ao ano, enquanto as contribuições cresceram
apenas a uma média de 4.6% ao ano” (UGT, 2006).
Quadro I – Contas da Segurança Social - 2000, 2004 e.2005
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
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Fonte: CSS in Relatório UGT
2.4. Distribuição de Responsabilidades
Num estudo recente da OCDE, estima-se que, a não se verificarem quaisquer
alterações, os países ricos tenham que aumentar os recursos afectos ao pagamento de
pensões num montante equivalente a 3% do PIB, enquanto que, Portugal, para o mesmo
efeito, terá de fazer um aumento de 5,1%.
A redefinição do modelo do Estado-Providência e o futuro da Segurança Social
são duas questões que têm ocupado o debate público em Portugal e na Europa nos
últimos anos. Afinal, existem ou não condições para a sustentabilidade deste modelo
social e para assegurar as pensões de reforma das próximas gerações?
Com a aprovação da Lei de Bases da Segurança Social e do acordo com os
parceiros sociais sobre Modernização da Protecção Social, o governo afirma ter
conseguido aumentar o financiamento e reforçado o Fundo de Reserva da Segurança
Social, - “havendo agora perspectivas de que este subsector será sustentável nas
próximas três décadas”.
Boaventura de Sousa Santos, Professor da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra e director do Centro de Estudos Sociais afirma: A viabilidade
do Estado-Providência não é uma questão técnica é uma questão política. (Santos, Bento,
Gonelha, & Costa, 1998, p. 37). De acordo com Alfredo Bruto da Costa, professor e investigador universitário na
área da pobreza, exclusão e política social, a sustentabilidade da Segurança Social em
Portugal é, antes de mais, “uma concepção de filosofia política” e não um problema
exclusivamente “financeiro ou económico”. Para este especialista, os meios financeiros
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
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para garantir a sua sustentabilidade dependem em parte do contexto económico mas,
sobretudo, do “grau de solidariedade que cada sociedade está disposta a dar” (Costa,
2006, p. 36).
Entretanto, o Governo actual passou para o domínio e responsabilidade da
Segurança Social os fundos de pensões da banca. O Ministro da Solidariedade e da
Segurança Social apresentou o Programa de Emergência Social, afirmando que «o mais
importante hoje é promover direitos e apresentar medidas que possam minorar o
impacto social da crise, que possam constituir uma «almofada social» que amortece,
para muitos, as dificuldades que agora atravessam».
De tempo a tempo, os portugueses são confrontados com discussões sobre a
sustentabilidade do Sistema de Segurança Social. Apesar de este ser, de acordo com a
Lei Portuguesa, constituída por vários subsistemas, a grande preocupação da
esmagadora maioria dos portugueses que, como empregadores ou como empregados,
financiam o Sistema, concentra-se nas pensões de reforma e, arrisco dizer que, quando
assistem ao reacender destas discussões, a pergunta que surge de imediato ao cidadão é:
– “Será que, quando me reformar, existirá dinheiro para me pagarem a pensão de
reforma?”.
Esta é uma forma natural de, no instante em que somos confrontados com a
questão, reflectirmos sobre o modo como poderemos vir a ser afectados no futuro.
Portugal foi dos países que mais evoluiu na esperança média de vida à nascença, e
este é um excelente indicador de desenvolvimento social, mas, esta bondade vem
acompanhada de alguns desafios, para os quais tem de ser encontrada resposta.
Somos um país relativamente envelhecido e as projecções demográficas dizem-
nos que, se nada for feito para o contrariar, deveremos envelhecer mais rapidamente no
futuro. Esta combinação faz com que a percentagem de pessoas em idade activa,
relativamente ao número total de reformados, diminua rapidamente. Em 2008 tínhamos
3,5 pessoas em idade activa por cada pessoa com mais de 65 anos, prevendo-se que em
2050 se passe para 1,6.
“Em síntese, o futuro da sociedade, face ao envelhecimento demográfico,
dependerá do modo como o programarmos. O mundo que nos espera, certamente com
muito mais pessoas idosas, conseguirá ser produtivo, e feliz, se o pensarmos de novo, e
com todos os intervenientes envolvidos, que são os indivíduos enquanto tal,
independentemente do seu, sexo, idade ou nacionalidade”. (Rosa, 2012, pp. 83-84).
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
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3. Descrição detalhada da pesquisa
Como metodologia de pesquisa e depois de ter lido Maria João Valente Rosa, no
seu Ensaio “Sobre o envelhecimento da sociedade portuguesa” Iniciei uma pesquisa
simples, através do catálogo da Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade
de Coimbra, em toda a colecção, com o descritor <envelhecimento demográfico>.
Realizei uma pesquisa booleana com os descritores <Envelhecimento> and <dinâmicas
sociais> and <envelhecimento demográfico> onde percebi a possibilidade de novos
descritores de pesquisa: <os idosos>, <vulnerabilidade do idoso>, <reformas e
descontos>, <solidão>, <duplo envelhecimento – baixa natalidade>. O caminho
apontava para trabalhos desenvolvidos no Centro de Estudos Sociais.
Para a elaboração do “Estado das Artes”, a construção do enquadramento teórico
foi bem mais complexa, porque, apesar de ter uma estratégia mais ou menos clara,
pareceu-me necessário apresentar o que de mais significativo encontrei sobre a questão
de partida, tendo em conta o idoso, o envelhecimento demográfico e a sustentabilidade
da Segurança Social. A minha condição de sénior com uma relação de proximidade,
durante alguns anos, com a problemática, tanto ajudava como problematizava. Se, por
um lado entendia e entendo que a situação - idosos -, enquanto realidade social, precisa
de decisões e acções imediatas, por outro lado, também pretendia potenciar um caminho
que ultrapassasse a observação empírica, sem queimar etapas de fundamentação que,
porventura, viessem a prejudicar a reflexão. Comecei por desenvolver um índice com os
objectivos de construção do trabalho que me mapeasse o caminho, mas tive de fazer
vários reajustes em função da constatação da minha ignorância e da quantidade de
reflexões encontradas, em investigações, teses de mestrado e doutoramento, publicações
e documentos electrónicos.
Relativamente às fontes electrónicas, investiguei a temática em reflexão, com o
critério que a minha habilitação de conhecimento, já assimilado, me permite. Anoto,
contudo que, neste patamar de aprendizagem, ainda sinto bastante fragilidade no uso de
muitos dos instrumentos postos à disposição nas aulas de “Fontes” e tenho a consciência
da necessidade de grande investimento de tempo, para obter melhores resultados. Para
obter informação credível, centrei a investigação nos sites oficiais de estruturas
políticas: governamentais e não-governamentais, nacionais ou internacionais e
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académicas. O site escolhido para análise crítica de página de internet foi
http://www.seg-social.pt.
4. Avaliação de uma Web Site O site da Segurança Social - http://www.seg-social.pt, em função da
multiplicidade de vezes que tive de o consultar, e pela preocupação que, nesta reflexão,
suscita, acabou por ser a página WEB eleita para a avaliação crítica.
O link de acesso a esta página, particularmente na área do idoso é: www4.seg-
social.pt/programa-de-apoio-integrado-a-idosos-paii. Neste site, cada uma das áreas
temáticas apresenta um separador independente, sendo o separador “apoios sociais e
programas” o escolhido pela relevância de interesse para a temática em estudo –
“Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança
Social?”.
Trata-se de um site oficial que confirma, no final de cada página do site, as suas
credenciais:
• http://www4.seg-social.pt/descricao-do-simbolo-de-acessibilidade-a-web;
• http://www.w3.org/WAI/WCAG1A-‐ Conformance.html.en;
• http://digg.com/submit?url=http%3A//www.seg-social.pt;
• http://delicious.com/save.
Em qualquer página podemos encontrar, ainda, o mapa do sítio e ajuda técnica de
grande importância para quem careça de aceder. Apesar das informações serem dadas
somente em Português, a verdade é que parecem cobrir a maior parte das necessidades
de qualquer utente da Segurança Social. Naturalmente a informação veiculada é a
oficial. Todas as páginas apresentam também janelas de busca interna, tanto de texto
como de título que, podendo ir para lá dos itens, pode facilitar uma pesquisa mais
especializada em formato simples.
Sendo um site extenso pela imensa informação que veicula, não deixa de ser
bastante simples e até amigo do utilizador. No que diz respeito ao grafismo, é de leitura
fácil e abrangente. Contudo, embora tenha uma apresentação agradável, talvez ganhasse
mais vida, em meu entender, se fosse menos monocolor.
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
Manuel Filipe Figueiredo Aluno nº 2012119555 Página 21
As datas das últimas actualizações, por tema ou página, estão sempre visíveis e,
ainda que, por vezes, sejam referidas actualizações com um mês e mais, a verdade é
que, como deve ser, a informação é actual.
Em suma, no site em análise, o único óbice verdadeiro que me parece existir, tem
que ver com uma eventual consulta de imigrantes interessados que não dominem a
língua Portuguesa. Anoto, como referência final, que uma consulta a alguma legislação
de trabalho também pode ser feita no Site.
5. FICHA DE LEITURA
Título da obra: “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”
Autor: Maria João Valente Rosa.
Editora: Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Edição: 1ª
Local de edição: Lisboa.
Data de publicação: 2012.
Tipo de publicação: Livro.
Data de leitura: Outubro de 2012
Páginas: 1 a 84.
Assunto: O envelhecimento demográfico em Portugal e a sustentabilidade da Seg.
Social.
Palavras-chave: envelhecimento em Portugal; a sustentabilidade da segurança social;
idoso ou velho? O envelhecimento activo em Portugal.
Observações: A ficha de leitura deste livro é um elemento objectivo, clarificador,
mas perturbador da consciência do cidadão jovem ou menos jovem, adulto ou pré-idoso,
que ao ser posto perante uma realidade que lhe escapa, na maior parte das vezes, pelo
facto da análise objectiva da condição se sustentar mais sobre os direitos, supostamente,
adquiridos e menos sobre novas realidades que vão mudando sem que, muitas vezes,
disso se aperceba.
Notas sobre o autor: Maria João Valente Rosa, é professora da Universidade
Nova de Lisboa, nasceu em Lisboa, em 1961. Licenciada em Sociologia e doutorada em
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
Manuel Filipe Figueiredo Aluno nº 2012119555 Página 22
Sociologia (especialidade Demografia). Autora e coordenadora de inúmeros estudos
publicados sobre a demografia portuguesa, relacionados com a temática do
envelhecimento. Está, desde 2009, a dirigir a Pordata – Base de dados Portugal
Contemporâneo, projecto da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Resumo: “O principal problema das sociedades modernas não é o futuro, é o
passado” (Rosa, 2012). - Esta parece ser a grande síntese da própria autora que,
abordando neste livro a realidade social do envelhecimento da sociedade portuguesa,
tanto do ponto de vista individual como do ponto de vista colectivo, anota os traços e
factores do envelhecimento demográfico, ao mesmo tempo em que, reflectindo sobre o
facto “de as sociedades não mudarem desde que começaram a envelhecer” (Rosa,
2012), analisa os dados de sustentabilidade do sistema de Segurança Social e teoriza
sobre eventuais saídas da situação, sempre com a preocupação de dignificação daqueles
que sendo o testemunho vivo da nossa história recente, são base a de reflexão e de
projecto tanto para o presente como para o próximo futuro.
Desenvolvimento: O aumento da esperança de vida e o consequente aumento da
população idosa, por um lado, e um considerável abaixamento da natalidade, por outro,
tem colocado as sociedades desenvolvidas perante uma notável mudança etária. Não
pretendendo a autora reflectir, neste ensaio, sobre as razões do abaixamento da
natalidade, a verdade é que, não as ignorando de todo, considera que as regras de
competição das pessoas no mercado global, particularmente com a entrada das mulheres
na economia, no ensino, na investigação, etc. associada a uma perspectiva de carreira e
ao usufruto natural daquilo que a vida, através da exigência e do esforço, oferece como
excelência e contrapartida, são algumas dessas razões. Na verdade, estes, serão os
ingredientes mais notáveis que tem vindo a pôr Portugal, considerado, há poucos anos
(30) como dos países mais jovens da C.E., perante uma das mais delicadas questões
sociais que, os organizadores duma sociedade moderna, estavam longe de imaginar – o
envelhecimento demográfico - galopante. Com efeito, a soma da população jovem, em
caminhada de formação para aquisição de competências com vista à sua entrada na vida
produtiva, com a população activa, começa a atingir níveis perigosamente baixos para
suportar, com dignidade, um tão acentuado crescimento da população idosa
(reformada), situação que coloca em causa, nesta área, o actual Estado-social.
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
Manuel Filipe Figueiredo Aluno nº 2012119555 Página 23
Envelhecimento: Conceitos - o envelhecimento pode dividir-se em individual e
colectivo, sendo que, o envelhecimento individual, pode ainda ser fraccionado em
“cronológico”, aquele que resulta directamente da idade enquanto processo contínuo do
nosso desenvolvimento humano e que tem início imediatamente após a concepção da
vida. E “biopsicológico” que é pouco mais do que o reflexo do cronológico uma vez
que é dependente de vários factores, próprios da vida de cada indivíduo, como (hábitos,
estilos de vida, género e condicionantes genéticas). Por outro lado, o envelhecimento
colectivo também se divide em dois: o envelhecimento demográfico e o envelhecimento
social.
O envelhecimento demográfico separa a população em activa e idosa. Separação
que, embora arbitrária, define os ciclos da vida: a 1ª idade, que vai até aos 15 anos
(agora, na sociedade portuguesa, com a obrigatoriedade escolar até ao 12º ano, pode ir
até aos 18 anos); a 2ª idade, ou idade activa que vai desde os 15 até aos 65 anos; a 3ª
idade a partir dos 65 anos, idade em que, em normalidade, o cidadão atinge o direito à
reforma por inteiro (se, por qualquer razão, não tiver usado esse direito por
antecipação); e a 4ª idade que, se começa a convencionar, depois dos 80 anos. O
envelhecimento demográfico depende das variáveis da população, nestas idades. Quanto
maior for o total da população jovem somada à população em idade activa, por
contraponto com a população sénior (3ª e 4ª idades), menor é o envelhecimento
demográfico. Ao contrário, se a população sénior for aumentando e a população jovem
e activa somadas for diminuindo, então as sociedades entram em processo de
envelhecimento.
O envelhecimento social, apesar de ter uma relação directa com o envelhecimento
demográfico, tem mais que ver com o estado psicológico – positivo ou negativo – do
conjunto duma sociedade determinada e desencadeia-se a partir de variáveis diversas,
como as situações – políticas, económicas e sociais -, podendo uma sociedade
demograficamente envelhecida ter capacidade e ânimo para assumir/encarar e reagir,
enquanto uma sociedade menos envelhecida pode estar psicologicamente incapacitada
de fazê-lo. Em Portugal, baixaram, quer os níveis de mortalidade, o que é um bem, quer
os níveis de natalidade, o que, não sendo um mal, contribui para o envelhecimento da
sociedade.
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
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No ano 2000, pela primeira vez na história colectiva portuguesa, o número de
idosos com mais de 65 anos suplantou o número de jovens, enquanto aqueles que, na 4ª
idade, tinham superado a fasquia dos 80 anos, ultrapassaram o meio milhão, com a
curiosidade deste número de idosos ter quadruplicado desde inícios da década de 70 do
século XX.
Envelhecimento: Como e por quê? A relação entre a idade activa, também se
alterou, tendo a faixa dos 15 aos 24 anos perdido cerca de dez pontos percentuais, entre
1960 e a actualidade, ao mesmo tempo em que a idade activa perdeu um peso
considerável, uma vez que, no início dos anos 60, existiam oito pessoas em idade activa
por idoso e duas por cada jovem, e hoje existem: três pessoas em idade activa, por cada
idoso, e quatro por cada jovem.
O INE, para quem possa ter algumas ilusões de reversão desta tendência nos anos
próximos, apresenta números avassaladores: a tendência relativamente ao índice
sintético de fecundidade é de, em 2060, 1,6 filhos, por mulher, enquanto a esperança de
vida é de 82,3 anos para os homens e de 87,9 anos para as mulheres. Sendo verdade que
a população portuguesa poderá manter-se estável (próxima dos 10 milhões de pessoas),
verdade é, também, que as pessoas com 65 e mais anos poderão, nessa altura, ser quase
o triplo do número de jovens, e, cerca de um, em cada 3 residentes em Portugal, poderá
ter 65 anos ou mais, e destes, cerca de um milhão e meio terá atingido o estatuto de 4ª
idade (80 ou mais anos) com uma acentuada necessidade de cuidados de saúde. Hoje,
este valor é de um em cada cinco. Entretanto, a relação de pessoas activas para pessoas
idosas, sendo hoje, ainda, um pouco superior a três para cada idoso, pode, em 2060, ser
inferior a dois, enquanto a população com idade activa com menos de 40 anos deverá
diminuir por aumento dos que terão mais de 55anos.
E, no entanto, a mortalidade infantil, em Portugal, é hoje e desde alguns anos,
uma das mais baixas do mundo. No início dos anos 60, morriam cerca de oitenta
crianças, com idades inferiores a um ano, em cada mil, enquanto hoje, o valor é de três
em mil.
Outro factor de envelhecimento demográfico, responsável por esta tão profunda
alteração, reside na enorme redução dos níveis de fecundidade que provocou a
diminuição do número de nascimentos. No início da década de 60 cada mulher tinha,
em média, um número de filhos superior a três, sendo esse um dos rácios mais elevados
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
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da UE27. Hoje, com um número de filhos inferior a 1,4 por mulher, rácio
particularmente notável a partir do 8º ano da revolução de Abril, Portugal passou a
pertencer aos países com o índice de fecundidade mais baixos da Europa.
Quais os factos que tornaram esta situação possível? Foram seguramente vários e
diversos, problematizamos alguns: a mudança de regime e o desenvolvimento da
sociedade portuguesa? A grande conquista das mulheres a participarem na vida activa
em pé de igualdade com os homens numa luta desigual por uma carreira? A perda de
alguns valores e da noção da finitude humana, neste processo acelerado de mudança?
Entretanto, os fluxos migratórios mudaram e também deram o seu contributo. A
partir dos primeiros oito anos da revolução de Abril, começaram a regressar a Portugal
aqueles e aquelas que, desde os finais da década de 50 e particularmente durante a
década de 60, tinham “embarcado” na imigração legal ou clandestina. Regressaram, mas
vieram quase sós, isto é, já não trouxeram os filhos maiores que, tendo acompanhado os
pais, uns, outros pelo facto de terem nascido nos países de acolhimento, aí se radicaram.
Se antes saíam os novos e ficavam os idosos, a verdade é que, quando voltaram já
vinham idosos e reformados dos países de acolhimento, e, no seu contributo para a
economia, ainda vieram recuperar, uma 2ª reforma, de Portugal.
É também verdade que, durante alguns anos, Portugal passou a ser um país de
acolhimento para uma vaga de emigração vinda das ex-colónias e, mais tarde, depois da
implosão do bloco soviético, para muitos emigrantes de leste, seguida ainda de uma
vaga vinda do Brasil. Eram imigrantes, na sua maioria jovens, com formação superior,
os de leste, que juntamente com os oriundos das ex-colónias se “envolveram
economicamente” na construção civil, enquanto os brasileiros se dedicaram mais aos
serviços, mas, uns e outros, trouxeram algum equilíbrio, estatístico, ao envelhecimento
demográfico.
Em contrapartida a emigração portuguesa acentuou-se, particularmente nos
últimos anos, agora já não de comboio ou a “salto” como a cantada por Manuel Freire -
“velhos e novos […] de saca às costas” - mas só de novos, de avião e de carrinhos de
rodas cheios de diplomas e “canudos”, duma formação paga pela população, idosa e
quase idosa, portuguesa, na expectativa da grande mudança. Apesar disso, e segundo o
INE, a relação entre imigração e emigração ainda é positiva, isto é, ainda há mais gente
a entrar do que jovens a sair. Por enquanto. É também verdade que, graças à qualidade
Envelhecimento e dinâmicas sociais Ou “O Envelhecimento demográfico como factor de insustentabilidade da Segurança Social?”
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do clima ameno português, muitos cidadãos, seniores reformados, oriundos da Europa
Comunitária e outros, vieram “ajudar” ao envelhecimento demográfico português.
Envelhecimento Demográfico: Receios - a desestruturação da economia, o
aumento do desemprego, o preconceito de que as pessoas mais velhas, pelo facto de o
serem e, também, pela sua menor preparação escolar - rendem menos do que as mais
novas - faz com que, as próprias pessoas, na condição de activas, mas em situação de
desemprego, digam e sintam, porque é isso que ouvem na sua demanda por um posto de
trabalho, que são demasiado velhas para um novo emprego e demasiado novas para a
reforma.
É do senso comum que as pessoas mais velhas, ainda que em idade activa, são
claramente discriminadas em paridade com outros mais novos, particularmente em
períodos de altos níveis de desemprego. E são-no, primeiro pelos empregadores que,
quantas vezes, com o acordo tácito dos organismos oficiais, fazem despedimentos
colectivos para as ditas reestruturações empresariais, mas cujo objectivo último é o de
recrutarem trabalhadores jovens por metade do salário pago aos despedidos. Entretanto,
esta discriminação também acontece por parte dos jovens que, não tendo emprego,
entende que os mais velhos deveriam ser reformados, para que os lugares na economia
pudessem ser ocupados por eles próprios.
O envelhecimento demográfico e os seus efeitos: na Segurança Social e nas
reformas – A Constituição da República Portuguesa, consagra no seu articulado, a
organização do sistema de segurança social que, em 1984, teve a sua aprovação através
da Lei de Bases da Segurança Social, consagrado como “o princípio da Coesão
Geracional” implicando um ajustado equilíbrio e equidade geracionais na assunção das
responsabilidades do sistema.
O envelhecimento da população remete-nos para a questão do agravamento das
despesas sociais, particularmente com as reformas, ou pensões de velhice e o outro lado
da Sustentabilidade da Segurança Social. A questão é que a realidade actual está
desequilibrada e esse desequilíbrio continuará a agravar-se, de forma acelerada. Por
outro lado, a população activa empregada e a activa desempregada não está a aumentar
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na mesma proporção, uma vez que passou dos quatro milhões em 1976 para pouco mais
de cinco milhões e meio em 2010.3
“Com efeito, a evolução do número de pensionistas da Segurança Social
em Portugal (por velhice, invalidez ou sobrevivência - ou seja, por morte
de alguém) tem sido impressionante: de cerca de 56 mil, em 1960, (e de
187 mil, em 1970), passa-se para um milhão, em 1976 e para dois
milhões em 1987. Actualmente, o total de pensionistas já está muito
próximo dos três milhões de indivíduos, valor que atinge os três milhões
e meio de pensionistas se acrescentarmos os pensionistas da Caixa Geral
de Aposentações (CGA)”. (Rosa, 2012, p. 46).
Os Ciclos de Vida: e o Idadismo – Idadismo é um estereótipo de discriminação
negativa, das pessoas, com base na idade. Nos ciclos de vida, quando pensamos em
idosos pensamos em pessoas: frágeis, inactivas, reformadas (com baixas reformas),
pobres, pouco instruídas, e em estado de isolamento ou solidão. Contudo, o ciclo de
vida, é estabelecido na relação directa de as variáveis: idade, o processo de
envelhecimento, o relacionamento cultural e a situação no trabalho.
É absolutamente visível que, a única coisa que nunca muda, é a própria mudança.
Na verdade, tendo mudado o corpo populacional, seria necessário que mudassem
também os modelos que o organizam e enquadram ou, pelo menos, algumas das suas
variáveis. Não tendo havido tempo, vontades (política, social), ou até, não tendo os
modelos atingido o grau de maturidade suficiente para a mudança necessária, o
problema não pode ser imputado à alteração do “corpo”, mas sim à falta de reflexão e
de acções necessárias para que as mudanças pudessem acontecer de forma mais
equilibrada. Com efeito, o modelo de organização da sociedade, tendo como base a
acentuada separação entre as três ou (4) idades, em função das novas realidades do
envelhecimento demográfico português, carece de ser repensado.
3 O número de desempregados registados no IEFP, no final do primeiro trimestre de 2012, era superior a 800.000 indivíduos a que terão de ser acrescidas mais de duas centenas de milhares de pessoas, quer porque tivessem perdido o subsídio de desemprego, quer porque já tivessem perdido a esperança de encontrar emprego/trabalho.
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A partição, por um lado, e a estanquicidade entre ciclos, por outro, parecem dar
provas de não resistirem quadros de profunda crise, como a que vivemos, e a deixar
provada a inviabilidade presente/futura do modelo vigente.
É necessário transformar (ou pelo menos seriamente tentar) as ameaças de
ruptura, em oportunidades de mudança e solução.
Provavelmente será na formação ao longo da vida, conjugada com a possível
mudança para uma “segunda” actividade mais conforme com essa formação e com a
evolução: física, mental ou outra dentro dum quadro de vida activa, que possa ir para lá
da fasquia dos 65 anos, hoje tida como, de abandono necessário e aconselhável de
actividade, mesmo que possa ser acompanhado de uma percentagem de reforma. Ou
seja: teremos que repensar a partição e a estanquicidade dos ciclos de vida, de forma a
criar mecanismos de estímulo para o usufruto da vida, em sociedade, em economia, na
cultura e até na disponibilidade com alegria.
A questão é: como começar a pensar hoje, sobre o amanhã, tendo em conta o
cenário actual do idoso, do envelhecimento demográfico e da sustentabilidade ou
insustentabilidade da Segurança Social com este ritmo de envelhecimento demográfico?
Como poderemos fazer os equilíbrios e os ajustes para uma vida, na globalidade, com
um “continuum” mais equilibrado, com menos insatisfações, frustrações e nostalgias
naquilo que melhor temos – VIVER?
Apesar de a regra do senso comum ser a de perda de valor consoante a idade vai
avançando, a verdade é que há profissões que não confirmam esta regra. Advogados,
arquitectos, professores, “designers”, investigadores e até cineastas, teimam em
demonstrar o contrário. Mais, idade, em normalidade, deveria ser tida como sinónimo
de maturação de qualidade, e de maior sabedoria que, obrigatoriamente, deverá estar
para lá da condição física. Um sábio pode sê-lo, em alto nível, e estar fisicamente
diminuído. Mais, um sábio pode sê-lo mesmo sem saber ler ou escrever, embora, neste
caso, esteja diminuído da condição do conhecimento. O conhecimento, além do seu
significado emocional, não sendo concorrencial, não é esgotável e recria-se
permanentemente, podendo ser aumentado sistematicamente.
Nos primórdios da revolução industrial, a capacidade física era condição
indispensável para o trabalho, a verdade é que, com a revolução tecnológica, a
capacidade física deixou de ter essa indispensabilidade.
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Talvez nós, que nos vamos preocupando com os ciclos da vida, possamos dizer
que, em função da forma como organizámos a saída do ciclo da idade activa para as 3ª e
4ª idades ou, até, para os estados de esgotamento e invalidez, possamos encontrar razões
para considerarmos que, há situações em que a velhice chega primeiro que a sabedoria.
Que fazer com os idosos do hoje e do amanhã? Que “obrigações” têm as actuais
gerações, com aqueles que, sendo presente com pouco futuro, tentaram construir, com
os parcos meios disponíveis, o melhor presente? Será que temos consciência de que
teremos aquilo que lhes devemos? Ou, e ainda, o que mais podem fazer aqueles que
fizeram o presente de ontem - idosos de hoje -, para a projecção de um melhor futuro?
O Parlamento Europeu, associando-se a esta preocupação de envelhecimento
demográfico dos países que compõem a E.U., decretou o ano de 2012, como o ano de
Envelhecimento Activo. Podem ser feitas várias leituras deste envelhecimento activo,
contudo, e chegados à conclusão resultante da leitura dos dados estatísticos, de que as 3ª
e 4ª idades atingiram números, perigosamente, próximos da paridade da idade activa
empregada, Há urgência duma profunda reflexão sobre esta problemática.
Provavelmente as idades, de produção/trabalho e descanso/lazer, possam ser
enquadradas para que, ambas, com as suas diferenças, possam ser interactivas e
interligadas e com uma formação continuada, que só deveria terminar quando a
absorção de conhecimento fosse dada como esgotada (pelos vários factores possíveis).
A autora apresenta uma sugestão de enquadramento desta aprendizagem ao longo da
vida com a sugestão de uma actividade, em função do trabalho/descanso/lazer, com
várias carreiras adequadas à idade e à capacidade de cada um, na linha de participação
em actividades de utilidade social.
“As sociedades não mudam por decreto. As sociedades são compostas por pessoas
que nascem, crescem e aprendem em contextos particulares, baseados em pressupostos
que o tempo se encarrega de tornar resistentes à mudança” (Rosa, 2012, p. 78).
Conclusão: o envelhecimento da população portuguesa, por paradoxal que
pareça, é um processo demográfico pelo qual temos de estar satisfeitos.
Se a população envelhece é porque a humanidade cresceu em saber e em
conhecimento técnico – científico e as condições das populações melhoraram de forma
assinalável. A sociedade portuguesa também continua a envelhecer porque o índice de
natalidade continua a baixar. Neste ensaio a autora deixa-nos mais um paradoxo, ao
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dizer que o problema da sociedade portuguesa não é demográfico. Poderá ser um
problema cariz sociológico, ideológico ou filosófico ou um pouco de todos, mas é um
problema que não se resolve com paliativos demográficos.
“O problema da sociedade portuguesa não é o do envelhecimento da sua
população, mas antes o da incapacidade de pensarmos de forma diferente perante uma
estrutura populacional que tem outros contornos, porque envelhece” (Rosa, 2012, p.
81).
Contudo, o envelhecimento e a grave situação da Segurança Social, por força das
circunstâncias, acabaram por “dar visibilidade ao que, apesar de tudo, ainda tem
resistido à mudança: a organização da sociedade”. (Rosa, 2012, p. 81).
E rematando, diz-nos Maria João Valente Rosa:
“Em síntese, o futuro da sociedade, face ao envelhecimento demográfico,
dependerá do modo como o programarmos. O mundo que nos espera,
certamente com muito mais pessoas idosas, conseguirá ser produtivo, e
feliz, se o pensarmos de novo, e com todos os intervenientes envolvidos,
que são os indivíduos enquanto tal, independentemente do seu, sexo,
idade ou nacionalidade” (Rosa, 2012, pp. 83-84)
Pontos fracos e fortes do documento
1. Pontos fracos:
Sendo verdade que isto é um processo, é também verdade que as variáveis deste
processo têm vindo a alterar-se significativamente nas últimas décadas.
É verdade que, ao longo dos anos, as pessoas que são hoje idosas, foram
obrigadas a contribuir com 33% do seu salário (um terço descontado directamente da
sua folha de salário e retidos pela entidade patronal e os outros dois terços que a
entidade patronal estava obrigada, ela própria, a entregar directamente, como parte de
rendimento salarial do trabalhador) para descontos para a Caixa de Previdência, com os
objectivos de prover às falhas na saúde, aos abonos para os trabalhadores com filhos
menores e à reforma, quando, e se, a ela, o tempo de vida lhe permitisse chegar. Só
uma imensa generosidade colectiva permitiria a uma sociedade produtiva e com
descontos para a sua Caixa de Previdência, disponibilizar-se para entregar ao colectivo
da sociedade, aquilo que sendo um fundo de caixa para as suas fragilidades, na
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proporção dos seus descontos, pudesse ser distribuído por todos, mesmo por aqueles
que nunca o puderam fazer.
Por isso, a um idoso do presente, quando atinge, a sua idade de reforma, não se
lhe pode dizer que todos os seus descontos mensais, de dezenas de anos a fio, foram mal
administrados: pelos gestores, pelos políticos, pelos governos. Esta preocupação deverá
ser responsabilidade daqueles que, por força da dinâmica da vida, dentro de pouco
tempo também serão velhos.
Heróis ou vilões? Um idoso, sendo, num primeiro tempo, um lutador, não deixa
de ser um resistente e chegado a este patamar de vida tem que ser considerado também
um herói-vencedor. Qualquer que fosse o lugar em que tivesse contribuído para a
economia do país, a verdade é que ele foi trabalhador, militar/guerreiro, resistente
politico e construtor pontífice. Resistiu à pobreza, à miséria, à opressão política,
sujeitou-se sofridamente, às guerras coloniais (das quais, ainda hoje, paga um preço
elevado quer física, quer psicologicamente), sem apoios nem subsídios, mas foi capaz
de construir uma sociedade democrática, tolerante, doseando sabiamente os limites dos
extremos e criando pontes para o futuro. Só quem conheceu o antes, podendo ser
acusado de senso comum, será capaz de perceber a diferença do aqui e agora.
Estes idosos, heróis do ontem, que ganharam o direito à sua reforma, sofreram por
si e lutaram pela formação da geração dos activos de hoje, e correm o risco de serem
transformados, pelas mesmas gerações (filhos e netos), hoje semi à rasca, que já nem
sabem o que fazer aos “verdadeiramente enrascados”, que são o precariado de hoje, nos
vilões-derrotados.
Portugal tem graves problemas económicos e sociais. Os portugueses, gente séria
e trabalhadora, têm sérios problemas, porque sempre confiou. Hoje paga o preço da sua
boa-fé, nas P.P.P.s, no desemprego, nos malabarismos, numa economia desregulada.
Mais sacrifícios, para aqueles que já com tanto contribuíram? Têm a palavra, hoje,
aqueles que, ontem, foram motivo de preocupação e de luta.
2. Pontos fortes
A autora é lúcida e ousada, pois, na sua condição de socióloga, deixa-nos, neste
ensaio, perguntas, dados e hipóteses de reflexão de grande significado. A única verdade
que nunca muda, é que tudo está em mudança permanente. E, contudo, Maria João
Valente Rosa afirma: “o verdadeiro problema das sociedades envelhecidas não está
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tanto no envelhecimento da sua população, mas no que as sociedades não mudaram
desde que começaram a envelhecer”. (Rosa, 2012, p. 14)
Autores citados no livro:
1. Alfred Sauvy, La vieillesse des nations, ed. Gallimard, 2001.
2. George Minois, História da velhice no Ocidente, Lisboa, ed.Teorema,1999
(trad. Serafim Ferreira).
3. John Bond, Peter Coleman, Sheila Peace, Ageing in Society: an introduction to
social gerontology, Londres, sage Publication, 1998 (2ª edição).
4. M.J. Valente Rosa e C. Vieira, A população portuguesa no século XX: análise
dos censos de 1990 a 2001, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2003.
5. Michel Loriaux (coord), Populations âgées et révolution grise: les hommes et
les sociétés face à leurs vieillissements, Louvain – la – Neuve, Ciaco, 1990.
6. OCDE, Seminar on the life risks, life course and social policy,
DELSA/ELSA/WI1 (2007)
7. Phil Mullan, The imaginary time: why an ageing population is not a social
problem, Londres, I.B. Tauris Publishers, 2002 (2ª ed).
8. Todd D. Nelson (ed.), Ageism: Stereotyping and prejudice against older
persons, MIT Press, A Bradford BOOK, 2002.
Websites (Estatísticas)
www.pordata.pt
www.ine.pt
http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/eurostat/home/
Referências: A autora esclarece: para não pesar excessivamente o texto com
referência às fontes, esclarece-se aqui que os dados estatísticos utilizados no texto são
da responsabilidade de entidades oficiais com competência nas referidas áreas, com
destaque para o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Eurostat. De referir ainda que
uma larga parte da informação estatística apresentada pode ser encontrada em Pordata -
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Base de Dados de Portugal Contemporâneo (www.pordata.pt), projecto da Fundação
Francisco Manuel dos Santos.
CONCEITOS (temas, problemáticas)
O Envelhecimento: Conceitos, causas, receios/consequências e teorização de
caminhos de solução.
Anotações finais: A leitura deste livro é perturbadora pela crueza da realidade dos
números, mas sendo-o, pela urgência de ser lançado na opinião pública para debate,
consciencialização e solução, é ainda mais perturbadora pelas dificuldades resultantes
da reestruturação das contas públicas, pelas fragilidades, em crescendo, da economia, do
volume de desemprego que há e, se admite, venha a haver, da fome escondida, das
qualificações que deixarão de se fazer, das desestruturações familiares e o aumento da
criminalidade e do eventual recuo social (senão político) que se advinha.
Penso que seria pacífico, para o idoso de hoje, e objecto de uma reacção generosa
e pró-activa, se a economia estivesse a absorver a mão-de-obra disponível e se ele se
sentisse necessário para ajudar. Foi isso, de resto, o que sempre fez durante toda a sua
vida: dar muito, para pouco receber.
Sendo a realidade social, diametralmente oposta, tem que ser através do social que
temos de encontrar a hipótese para uma porta de saída. “O que apenas depende da
capacidade de os homens, face ao envelhecimento demográfico, criarem uma sociedade
mais inteligente”. (Rosa, 2012, p. 84).
6. Conclusão Ao escolher este tema, tinha, por experiência vivida, a convicção de que o
processo de envelhecimento é como que caminhar por uma zona minada e mal
sinalizada. Num campo minado, sem sinalização, corre-se sempre o risco de activar uma
mina sem sequer se saber se, no caso de correr mal, se terá a hipótese de evitar a
contaminação por simpatia.
De todo o modo, não havendo alternativa à caminhada, e porque a ciência ainda
só encontrou respostas para o prolongamento da vida, não tendo o mesmo êxito para o
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prolongamento da juventude, facto que seria muito mais interessante, então, teremos de
viver a oportunidade da vida possível, com toda a dignidade e qualidade.
Houve um tempo em que as classes desfavorecidas precisavam de mais filhos para
a sustentabilidade da família. Faço parte desse tempo e dessas classes. Conforme fomos
“enriquecendo”, tanto do ponto de vista laboral e económico, como social ou cultural,
fomos também diminuindo a fecundidade e a consequente natalidade. Hoje, os jovens
com capacidade procriadora, em virtude do seu calendário de afirmação: pessoal,
académica, profissional e social, vão atrasando a vinda dos filhos.
Em condições normais deveríamos ter os filhos a cuidarem (?) dos pais,
descontando para a sua reforma e a cuidarem dos próprios filhos com o apoio do
Estado, na saúde, na educação, etc... tendo havido grandes alterações na esperança de
vida, poder-se-ia perguntar: e quem se preocupará com os avós? E com os bisavós?
Pior, se a geração melhor formada da história portuguesa, é convidada a emigrar;
se o Estado-Providência ameaça colapsar; se para educar os filhos é preciso pagar; se
com a pesada factura da saúde dos avós é preciso contar, como é que isto vai acabar?
Percebi, no desenvolvimento deste trabalho, e pela investigação que desenvolvi,
que há muita gente em Portugal, também no CES, a reflectir sobre esta problemática. É
muito bom e, para além de necessário, parece-me muito urgente.
Este é um primeiro passo investigatório e reflexivo que, com as características
que tem, gostei muito de dar. Desse ponto de vista, este trabalho, acaba de começar. Eu
próprio me surpreendo pela urgência de o continuar.
As perguntas que carecem de resposta satisfatória são muitas. As hipóteses, sendo
algumas, não são excessivas. Os conceitos, são alguns; as dimensões são várias, mas, os
indicadores, sendo muitos, não são nada animadores.
Foi muito exigente fazer este trabalho, mas só da exigência nasce a excelência.
Esta aprendizagem, exigente, permitiu a aquisição de um conjunto de conhecimentos,
tanto na forma, como no modo, particularmente no desenvolvimento das competências
de pesquisa, e na referenciação das fontes bibliográficas. Tenho consciência que ainda
muito terei de aprender. Não me parece que haja, nisto, qualquer problemática, já que,
na verdade, estou conscientemente receptivo e disponível. Tenho só de investir na
aprendizagem, mais tempo, mais estudo e mais prática.
7. Referências bibliográficas
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Anexos Anexo I Web Site http://www.seg-social.pt Página de internet: www4.seg-social.pt/programa-de-apoio-integrado-a-idosos-paii
• Apresentada em suporte de papel
Anexo II Texto de apoio à Ficha de Leitura
- O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa
Maria João Valente Rosa