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Guia Prático de Fotografia Pinhole
Luciano de Sampaio Soares
Apresentação
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bailarina
Antes de mais nada, obrigado!
Este material que está agora aberto na sua frente – seja numa tela de computador ou impresso a partir do arquivo – é o fruto de alguns anos (3, para ser preciso) de pesqui-sa, muita experimentação e muitos olhares de “o quê esse doido está fazendo?” recebidos na rua. E isso é algo que você, ao sair com sua câmera de orifício pela rua talvez também tenha que enfrentar. Normalmente, quando isso me acontece, eu falo “cara, é uma câmera fotográfica!”, o que é mais do que suficiente para de vez em quando uma pessoa se interessar pela técnica. Talvez até o seu interesse
tenha surgido de uma ocasião dessas, quem sabe?
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Sobre o AutorGraduando de Tecnologia em Artes Gráficas pela UTFPR – agora
falta pouco! – eu pesquiso e desenvolvo trabalhos em fotografia de
orifício desde 2005.
Durante esse tempo, ministrei oficinas sobre a técnica na própria
UTFPR e na Casa da Videira (em conjunto com a ONG Nós na Tela) e,
desde 2008, faço parte da equipe de divulgação do Dia Mundial da Fo-
tografia Pinhole.
Com lentes, fui assistente de estúdio de André Sade (Fundo Infinito)
e atualmente atuo principalmente como free-lancer, com retratos e even-
tos, além de manter uma produção autoral.Autorretrato construindo uma câmera
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Sumário1 Guia Prático de Fotografia Pinhole
1 Apresentação2 Antes de mais nada, obrigado! 3 Sobre o Autor
5 Introdução
7 Camera Obscura9 Como transformar um quarto numa Camera Obscura 10 A Camera Obscura Portátil
12 Câmeras com Papel14 A câmera de Lata de Leite17 A câmera de lata de leite
19 Câmera 35mm
25 Orifício26 Método Tradicional26 Método Le Combe27 O método high-tech28 O tamanho do orifício29 Medição eletrônica
30 Exposição32 Mas qual a função dessevalor ƒ? Para quê ele serve?
34 Composiçãobatendo papo
Introdução
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Neste material você encontrará uma grande quantidade de informa-
ção, e ainda bem que a maioria é de natureza prática, sobre fotografia
de orifício. É essa a função de um Manual Prático como este pretende
ser, afinal de contas.
As seções que você encontra no Índice foram pensadas de forma a
permitir um avanço gradual dentro da técnica, passando pela Camera
Obscura, que não é exatamente um aparelho fotográfico, mas é o prin-
cípio original de todas as câmeras fotográficas - com ou sem o uso de
lentes; e por vários tipos de câmeras de orifício.
Depois de mostrar as câmeras e como construí-las a partir de di-
versos materiais, passamos para a “alma” da técnica: o orifício. Como
existem várias maneiras de se fazer um furo, apresentamos alguns pro-
cessos de obtenção do orifício já utilizados por fotógrafos e cientistas
para a obtenção de imagens.
A idéia de separar a construção do corpo da câmera e do orifício pre-
tende motivar você a utilizar a combinação que lhe trouxer melhores
resultados com o menor gasto de tempo, esforço e material, de acordo
com o que você já tiver disponível.
Assim que você tiver conhecido as câmeras e os orifícios – quem
sabe até já tenha construído sua primeira câmera utilizando as infor-
mações das duas seções anteriores – começamos a pensar especifica-
mente em fotografia. Os dois principais fatores a serem considerados
quando se fotografa com câmeras de orifício serão explorados nesse
capítulo. Exposição é a definição da quantidade de luz que deve atingir
o papel ou filme da sua câmera para que você obtenha uma imagem,
e Composição irá trabalhar com que elementos serão expostos, ou seja,
o tema de cada foto.
A partir desse ponto, você já tem em suas mãos todos os elemen-
tos necessários para sair e fotografar, e caso já tenha construído uma
câmera, recomendamos que o faça! Por outro lado, se ainda não tiver
colocado a “mão na massa”, pode começar construindo a câmera que
você encontra no final deste manual. É só imprimir a planificação colo-
cada na última página deste manual, e acompanhar as instruções de
montagem.
Espalhadas pelos capítulos você encontrará pequenas anotações
históricas, exemplificando as maneiras com que a técnica da fotografia
de orifício – ou em alguns casos, das imagens não-fotográficas forma-
das pelos furos – foi importante para que chegássemos onde nos en-
contramos hoje.
É isso. Não parece difícil, concorda?
Camera Obscura
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Ainda que não seja uma câmera fotográfica, a Camera Obscura (ou câmera escura, para aqueles que não gosta-rem do Latim) é a mãe, avó, tia-avó e todos os outros an-tepassados das nossas máquinas. O seu funcionamento é muito simples: a luz passa por uma abertura (seja um orifí-cio ou uma lente) e projeta uma imagem em um anteparo.
modelo 3D – camera obscura em um quarto. foto ©2008 luciano de sampaio
Um dos primeiros sábios a falar sobre essa imagem pro-jetada foi um chinês, chamado Mo Ti, por volta de 5000 a.C. No Ocidente, o grego Aristóteles escreveu sobre o mesmo tema em seu livro Problemas nos idos de 330a.C., assim
como o egípcio Alhazen usou orifícios como ferramentas para o estudo da ótica na segunda década do século IX. A estes muitos se seguiram, e tantos que seria tedioso citá-los todos.
Além do caráter lúdico de se ver pessoas andando de cabeça para baixo, ou pulando “em dire-ção ao chão”, a camera obscura é um excelente artifício didático para se mostrar como a ima-gem se forma dentro da câme-ra fotográfica, e uma curiosida-de interessante, especialmente para quem fotografar em preto-e-branco, pois permite que se verifique a cor da imagem em sua projeção. Agora, pensando pela praticidade, quem usou (e alguns ainda usam) muito a câ-mera escura foram os pintores e desenhistas, afinal é bem mais fácil passar o lápis por cima de uma imagem projetada do que desenhar “de olho” sobre papel branco, não é?
Moça com Brinco de Pérola
Este filme, lançado em 2003 e in-dicado a 3 Oscar, retrata um perío-do na vida do grande mestre holan-dês Johannes Vermeer, no qual ele pinta uma de suas obras-primas, o quadro do título. Numa das cenas do filme, Vermeer apresenta para a criada responsável pela limpeza de seu atelier uma camera obscura, e a moça se encanta e assusta ao ver a imagem projetada. O diretor Pe-ter Webber coloca como fato uma especulação de que muitos artis-tas da Renascença usavam camera obscuras para facilitar a pintura de detalhes. Essa discussão ainda não chegou à conclusão alguma, e pro-vavelmente não chegará tão cedo.
“Moça com Brinco de Pérola”, 2003.
Archer Street Productions . dirigido por Peter Webber.
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E exatamente por facilitar o desenho que muitos pinto-res, entre eles Leonardo da Vinci, usaram camera obscuras para pesquisar novas maneiras de representar o mundo. Leonardo, inclusive, se utilizou de uma técnica semelhante (mas que não dependia da caixa preta) para estudar pers-pectiva, o que originou a “Perspectiva Artificial”, tão famo-sa em seus quadros.
Agora, para a parte prática, são duas as experiências mais simples de se fazer. A primeira é especialmente inte-ressante para quem leciona fotografia ou física para crian-ças e adolescentes, uma vez que envolve a todos de uma só vez.
Como transformar um quarto numa Camera Obscura
Exato! Por que não transformar um quarto inteiro em uma câmera escura? é bem simples! Para isso, o material ne-cessário é:
•uma cortina opaca (do tipo black-out) ou uma lona preta pesada;
•uma tesoura ou estilete;
•fita adesiva (fita isolante ou outras fitas adesivas opacas são ideais);
•uma folha de cartão preto.
Ah, sim, e uma sala que possa ser facilmente impermea-bilizada à luz (preferencialmente uma sala com apenas uma janela, e que não tenha muitos móveis em seu interior).
Para fazer esse isolamento da luz, cubra a janela com a cortina black-out ou com a lona preta, de maneira que nenhuma luz entre pela janela. Preste atenção para as fres-tas nas laterais da cortina e, se possível, aplique fita adesiva para impedir essas frestas. No meio da cortina, recorte um pequeno quadrado, formando um espaço por onde a luz possa entrar.
camera obscura – wikipedia
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No papel-cartão, faça um furo pequeno e redondo (você pode usar uma moeda de 1 centavo como guia. Se a distância entre a janela e a parede oposta for muito pe-quena, você pode ter que fazer um orifício ainda menor), e novamente com a fita adesiva, coloque esse cartão sobre a cortina, alinhando o quadrado feito anteriormente com o pequeno orifício no cartão.
Em pouco tempo seus olhos se acostumarão com a iluminação fraca no interior do quarto, e se o dia estiver claro, em pouco tempo você - e quem mais estiver com você dentro do quarto - poderá observar tudo o que esti-ver do lado de fora da janela projetado na parede oposta! Se você tiver mais pessoas com você, peça que algumas se mexam, pulem e andem em frente à janela. Como isso só é divertido para quem está dentro da câmera escura, depois de um tempo peça pra quem estava lá fora entrar, e fique você se mexendo em frente à janela.
Era esse tipo de construção que muitos dos sábios de antigamente usavam para estudar a luz e a formação de imagens.
A Camera Obscura Portátil
Esse dispositivo é semelhante ao que os artistas da Renascença usavam para pintar paisagens e retratos.
Com algumas alterações nas instruções a seguir, você mesmo poderá construir uma câmera escura
com essa função. Entretanto, o objetivo aqui é ape-nas fornecer um ponto de partida, e a construção desse equipamento é bem mais simples do que a
daquele usado para desenho. O material necessário é barato e fácil de conseguir:
•2 folhas de papel-cartão com pelo menos uma face preta;
•tesoura ou estilete;
•cola bastão ou fita adesiva.
esquema de dobras e cortes – folha #1 esquema de dobras – folha #2
70mm 70mm 70mm 70mm 17mm
297mm
210m
m
176m
m34
mm
69mm 69mm 69mm 69mm 21mm
297mm
210m
m
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no interior do tubo #1, com a tela de papel vegetal colocada para dentro do tubo.
Essa é uma câmera escura com “Zoom”! Direcione a mon-tagem para alguma cena bem iluminada, e faça o tubo #2 cor-rer por dentro do tubo #1. Você verá que quanto mais distante do orifício a tela estiver, mais es-cura a imagem projetada, e mais próximo o objeto projetado.
E pronto. Isso é o que queríamos mostrar sobre esses instru-mentos que precederam nossas câme-ras fotográfi-cas atuais.
Para construir as duas partes do corpo da câmera escura, do-bre as folhas até conseguir um tubo.
Após a dobra, pegue a fo-lha #1 e faça cortes numa das pontas, seguindo as dobras, por 3,4cm. Dobre as abas for-madas pelos cortes para den-tro, de maneira que, no cen-tro da construção se forme um pequeno quadrado vazio. Cole as abas frontais e lateral no lugar, mantendo o tubo cria-do no formato, que deve ser parecido com o desenho ao lado.
Agora, pegue a folha #2 e a folha de papel vegetal. Mon-te o tubo com a folha #2 e cole a aba lateral, para manter a forma. Para obter o anteparo onde a imagem será projeta-da, recorte um quadrado de 7,5cm de lado, faça pequenos cortes quadrados nas pontas (cada quadrado com 0,5cm de lado), para que você consiga abas que serão coladas numa das extremidades do tubo #2.
Depois de ter os dois tubos montados, encaixe o tubo #2
Folha #1 dobrada e fixa com fita adesiva Folha#2 e tela de papel vegetal
Camera obscura montada
Câmeras com Papel
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As câmeras para papel fotográfico (ou para filme em folhas) são
muito simples na sua construção. A clássica câmera de lata de leite é o
exemplo mais comum, e além dela, vamos construir aqui uma câmera
de caixa de sapato também. O conceito básico de ambas é o mesmo da
camera obscura vista no capítulo anterior, e ambas as construções são
igualmente simples, ainda que envolvam mais passos e mais material.
Como o jeito mais fácil para fotografar com latas/caixas desse tipo é
usando o papel, um quarto escuro se torna necessário para carregar a
câmera, e os químicos de laboratório para obter as imagens. Para filme
em folhas, o laboratório é ainda mais importante, mas não entraremos
em detalhes aqui por ser algo um tanto mais complicado, sem contar
que BEM mais caro.
Como o laboratório será necessário tanto para se fotografar com a
lata de leite quanto com a caixa de sapato, vamos antes de mais nada
passar uma instrução rápida a respeito. O ideal é alguém que tenha al-
guma familiaridade com o processo de revelação se responsabilizar por
essa parte, mas não é tão complicado que um iniciante seja incapaz de
fazer tudo direitinho.
Você vai precisar de:
•1 sala (ou, idealmente, um banheiro) que possa ser impermeabilizada à luz
• lona preta, blackout ou similar (para isolar a luz)
•revelador para papel fotográfico
•fixador para papel fotográfico
•4 bacias plásticas (que não deverão ser usadas para alimentos de-pois de usadas no laboratório)
•1 luminária para lâmpada incandescente
•1 lâmpada incandescente fraca
•papel celofane vermelho
•fita isolante
•1 folha de papel-cartão preto
Para montar o laboratório, comece isolando uma sala (ou banheiro,
preferencialmente) cobrindo as janelas e frestas das portas com lona
preta, até que nenhuma luz exterior consiga entrar. Feche a porta, des-
ligue a luz da sala e veja se existem pontos de entrada de luz. Se estes
forem pequenos, feche-os com fita isolante, ou se forem frestas maio-
res, tente manejar a lona de forma a cobri-los.
Isolamento do quarto escuro
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dos químicos pre-
pare as soluções,
intercalando com
água, de acordo
com o esquema
ao lado.
As soluções
devem ser orde-
nadas em cadeia.
(1) Revelador, (2)
Banho de água+vinagre, (3) Fixador, (4) Banho de água.
Pronto! agora você tem um laboratório fotográfico improvisado
que pode ser usado para revelar imagens em papel fotográfico preto e
branco. Vamos para as câmeras que irão fazer essas imagens então!
A câmera de lata de leite
Bom, se você já teve algum contato com a fotografia de orifício an-
tes, é grande a possibilidade que tenha sido com uma câmera desse
tipo. Como é uma das mais difundidas nos ambientes didáticos da fo-
Como o papel
fotográfico não é
muito sensível ao
espectro verme-
lho da luz, a lumi-
nária servirá como
luz segura, per-
mitindo que você
não fique em es-
curo absoluto dentro do laboratório enquanto trabalha.
Para montar, faça um cone com o papel-cartão,
de modo que a parte mais larga fique um pouco
afastada da lâmpada e a parte mais fina envolva o
soquete. Ligue a lâmpada e passe fita isolante em
qualquer ponto em que a luz escape do cone. De-
pois, dobre a folha de celofane vermelho algumas
vezes para que este filtre melhor a luz, e com fita
adesiva ou elástico, fixe o celofane ao cone de car-
tão.
Para a parte química, coloque as 4 bacias lado a lado (se você esti-
ver montando o laboratório em um banheiro, pode substituir uma das
bacias pela pia do banheiro), e seguindo as instruções nas embalagens
Quarto escuro com lâmpada de segurança
Lâmpada de segurança
Layout do laboratório
1234
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tografia, existem algumas maneiras di-
ferentes de construí-la, e uma delas é a
que segue.
Para a câmera você precisará de:
•1 lata de leite em pó, achocolatado ou similar, vazia e limpa, com tam-pa plástica.
•2 folhas A4 de papel-cartão preto
•estilete/tesoura
•fita isolante
•agulha de costura (fina)
•papel fotográfico preto e branco
•martelo
•1 prego comum
Verifique se a lata que você transformará em câmera está bem lim-
pa, sem resquícios de pó no seu interior. Com martelo e prego, faça um
furo na lateral da lata, um pouco para o lado da solda.
Depois disso, recorte uma faixa de papel-cartão suficiente para dar
a volta no interior da lata, junto à lateral, cobrindo de alto a baixo. Na
outra folha, recorte um círculo um pouco menor que o diâmetro da lata.
Coloque a faixa de papel dentro da lata, e fixe a ponta com fita isolante.
Depois pegue o círculo recortado e coloque dentro da lata, para tampar
o fundo. Se o metal ficar aparecendo em algum ponto, cubra com fita
isolante.
Para fazer a tampa da câmera, pe-
gue a segunda folha e recorte um círcu-
lo que seja grande o suficiente para co-
brir toda a parte de cima da lata e cole
na parte interna da tampa plástica.
Furação da lata
Colocação do forro de papel na lata
Furação do papel
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Agora você já tem um recipiente impermeável à luz, só faltando trans-
formá-lo em uma câmera de fato. Para isso, pegue a agulha de costura e a
lata já isolada. No ponto onde o metal foi furado com o prego, você pode
notar que o papel-cartão cobre o buraco. Com a agulha faça um pequeno
orifício do papel-cartão.
Agora a sua câmera está quase pronta. Só faltam duas pequenas
coisas a fazer.
A primeira delas é fazer um obtu-
rador, que permitirá que você esco-
lha quando, e por quanto tempo, irá
expôr suas fotografias (iremos falar
mais sobre exposição mais pra frente,
fique tranquilo). Para fazer um obtu-
rador, o meio mais simples é pegar
uma pequena tira de fita isolante e
colá-la na lata, tampando o orifício da agulha e o buraco do prego. Para
facilitar a abertura, eu recomendaria fazer uma pequena dobra na pon-
ta dessa tira, para que você tenha um lugar por onde puxar a fita para
fazer a exposição da foto.
A segunda (e última) coisa que falta para você sair fotografando é
colocar o papel fotográfico dentro da câmera. Até agora, tudo o que
você fez poderia (e espero que tenha sido) ser feito à luz aberta, sem
problemas. Para carregar a câmera você precisa entrar no laboratório,
e deixar apenas a luz segura ligada. Abra o envelope de papel, tire uma
folha e corte-a num tamanho que julgue apropriado. Aqui vale comen-
tar, você pode fazer desde pequenas imagens, cortando pequenos re-
tângulos de papel e colocando um de cada vez dentro da lata, fixando-
os com fita isolante ao revestimento interno, ou então recortar faixas
grandes do papel fotográfico e usando a própria forma do papel para
mantê-lo no lugar. A primeira opção é mais econômica mas pode fa-
zer com que você se veja obrigado a trocar o revestimento da câmera
ocasionalmente, pois a fita prejudica o papel, enquanto a segunda gera
imagens maiores e gasta uma quantidade maior de papel. A escolha é
sua, ambas as opções são perfeitamente aceitáveis. Cuide sempre para
colocar a face fotossensível do papel voltada para o orifício!
E assim você tem uma câmera fotográfica pronta. Você pode deco-
rá-la com tinta, adesivos, etc se quiser, mas o principal já está pronto.
Saia do laboratório e fotografe! Como linha geral, em dias claros, com
céu aberto e sem nuvens, em 15 segundos você já tem uma imagem
exposta na sua lata. Aí é voltar ao laboratório e revelar o papel (siga as
instruções na ficha do papel e dos químicos para os tempos de trata-
mento em cada banho), deixá-lo secar (um “truque” é, depois de algum
tempo no último banho de água, tire a foto e grude-a na parede de
Fita isolante como obturador
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azulejos ou num espelho. Ela ficará ali até secar bem) e continuar foto-
grafando enquanto isso.
A câmera de caixa de sapato
Diferente da câmera de Lata de Leite em mais do que se imagina, a
câmera de Caixa de Sapato é bem fácil de construir também, e retorna
um resultado bem diverso.
Você precisará de:
•1 Caixa de Sapato (ou algo similar) em bom estado, com tampa
•Tinta preta opaca
•Fita isolante
•Papel-alumínio
•estilete/tesoura
•régua
•agulha de costura fina
•elásticos grandes
Para construir a câmera, o primeiro passo é pintar todo o interior da
caixa e da tampa com tinta preta opaca.
Depois que a tinta secar, faça um pequeno quadrado de aproxima-
damente 1cm de lado no
centro da tampa com o
estilete, e guarde o peda-
ço retirado.
Nesse espaço encai-
xaremos o nosso orifício.
Recorte um quadrado de
mais ou menos 2cm de
lado de papel alumínio
e cole-o com fita isolan-
te por dentro da tampa,
de modo que seu centro não tenha fita isolante, e fique alinhado com
o centro do quadrado recortado na tampa. Com a agulha, perfure o
papel-alumínio.
Para o obturador, pegue o quadra-
do de papelão que foi recortado da
tampa, e tente encaixá-lo novamen-
te no buraco de onde ele saiu. Com a
fita isolante, cole-o de volta no lugar,
deixando uma quantidade de fita em
cada lado do quadrado para fixá-lo à
Caixa de sapato e tampa com o interior pintado de preto opaco
Papel alumínio sendo furado
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tampa. Em um desses lados, faça uma pequena dobra na fita para ter
uma aba com que facilmente puxar o obturador.
Pronto! A câmera já pode ser usada. Use os elásticos grandes para
manter a tampa presa ao corpo da câmera e evitar acidentes que velem
o papel sem que você tenha fotografado (ou ainda pior, que sobrepo-
nham uma foto feita antes de revelá-la!!!).
Para carregar a câmera, entre no laboratório com a luz segura, abra o
envelope de papel fotográfico e recorte a folha num tamanho que você
considere suficiente. O tamanho da caixa de sapato permite que você
faça imagens de tamanhos muito variados, talvez até mesmo usando
uma folha inteira (ou bem próximo disso)! Caso você decida usar tama-
nhos que sejam muito próximos do tamanho interno da caixa, colo-
que uma pequena aba de fita adesiva numa das laterais do papel, para
conseguir retirá-lo facilmente. Ah! Uma boa idéia é usar fita adesiva na
parte de trás do papel, para que ele fique bem colocado dentro da câ-
mera, mesmo que ela balance muito no transporte do laboratório até
onde você for fotografar.
Para expor, como a caixa de sapato é mais longa (mais detalhes nos
próximos capítulos) do que a lata de leite, em dias claros, sem nuvens e sol
brilhante, você conseguirá imagens após 25 a 30 segundos de exposição.
Depois de fotografar, é só seguir o mesmo processo usado na câ-
mera de Lata de Leite. E então? O quê está esperando? Vá fotografar!!!!
Câmera de caixa de sapato completa, presa com elásticos e o obturador na tampa.
Esquema do obturador: (1) obturador) (2) papel-alumínio, (3) fita isolante. (4) tampa da caixa
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4
Câmera 35mm
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Neste capítulo, abordaremos câmeras que utilizam filmes em rolo,
e especificamente o rolo 35mm. Existem outros formatos de filme em
rolo, como o 120, mas estes são de difícil obtenção – sem falar em pre-
ços altos – no Brasil.
Ao contrário dos capítulos anteriores onde você encontrou dois
projetos, iremos abordar uma única construção. Para justificar isso, é só
você dar uma olhada rápida na quantidade de páginas deste capítulo.
Ainda que a montagem dessa câmera não seja assim tão difícil, ela é
muito mais trabalhosa do que qualquer uma das anteriores, mas não se
preocupe, os resultados valem o esforço!
Para a montagem você precisará de:
•1 impressão do projeto•1 folha de papel-cartão preto•1 rolo de filme 35mm (preferencialmente ISO 200)•1 rolo de filme 35mm vazio•1 clipe para papel médio•1 cartão de telefone usado•abridor de garrafas•tesoura/estilete•cola spray ou bastão•fita isolante•régua•2 elásticos
O primeiro passo para fazer a câmera é imprimir o projeto que você
encontra na última página deste material. Para imprimir, desabilite - nas
suas opções de impressão – a opção de reduzir/ampliar ou de encaixar
para o papel.
Windows XP Mac OS X
Assim que a impressão terminar, meça a linha de proporção (1cm/1cm
ou 1in/1in), para garantiar que a impressão está no tamanho certo.
Linhas de Proporção (cm e polegada)
Confirmando as dimensões, cole o projeto no papel-cartão. Eu cos-
tumo usar cola bastão por ser mais barata e funcionar muito bem. É
importante tomar cuidado para não deixar massas muito grandes de
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cola, pois elas podem atrapalhar
nas dobras.A cola spray é bem mais
fácil de aplicar, mas exige mais cui-
dados. Caso utilize essa opção, siga
as instruções do produto.
Depois de aplicar o adesivo, en-
quanto espera curar completamente, deixe o “sanduíche” das folhas
sob algum livro pesado, como uma lista telefônica, para manter as duas
folhas bem planas.
Quando a cola curar (em torno de 5 a 10 min para a cola bastão;
para o spray, cheque a embalagem), recorte o projeto nas linhas bran-
cas cheias com uma tesoura ou estilete.
Depois de recortar a parte principal da câmera, preferencialmente
com o estilete, recorte as abas e janelas. A pequena janela quadrada é
onde você irá colocar o orifício da câmera, e a janela maior servirá de
quadro para o filme, e deixará os fu-
ros do filme à mostra, para que você
consiga uma imagem ainda mais
diferente do que você conseguiria
com uma câmera comum. [foto re-
corte de janelas/abas]Peças da câmera separadas da impressão
Impressão e prancha de cartão
As duas janelas redondas que
parecem rodas de bicicleta serão
por onde você ira controlar o avan-
ço e o retorno do filme. Para abri-
las, ao invés de recortar o círculo,
faça cortes retos nos raios. Isso deixará pequenos triângulos separados,
que servirão para dar tensão aos rolos de filme.
Quando o layout estiver parecido com
a imagem acima, pegue o clipe de papel e
marque as linhas de dobra. Isso irá facilitar
na hora de fechar a câmera, e ajudará a
colagem a não soltar, como mostra a foto
ao lado.
Aí é so fazer as dobras. Todas elas, com
exceção das dobras triangulares do corpo da câmera e da caixa do filme
são para dentro. As dobras triangulares são responsáveis por manter o
interior da câmera à prova de luz, então é importante que sejam feitas
com muito cuidado.
Depois de dobrar a caixa do filme, fe-
che a parte de cima e a de baixo com fita
isolante.
Janelas do orifício e do filme recortadas
Dobras “V”
Dobras da caixa de imagem
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Agora é a hora de juntar todos esses pedaços para termos uma câ-
mera! Primeiro alinhe a montagem do obturador com a janela menor
da câmera (para isso, puxe o obturador até deixar toda a janela do ca-
nal aberta) e com a fita isolante fixe a montagem.
Com a cola ou com fita – você escolhe – coloque a tabela de expo-
sição na parte de trás da câmera (oposta à montagem do obturador), e
as guias de composição nas laterais e no topo da câmera. Para ajustar
as guias, alinhe a janela do obturador com a janela do orifício no corpo
da câmera.
A próxima coisa a fazer é preparar o rolo de filme que servirá para
proteger as fotos que você bater. Para isso, pegue um cartucho de filme
35mm vazio e o abridor de garrafas.
Neste ponto, o corpo da câme-
ra deve parecer com o esquema da
próxima página, e isso significa que
ela está quase pronta!
Deixe o corpo da câmera de lado
um pouco, e pegue os outros pedaços do projeto impresso que até ago-
ra desconsideramos. Recorte a tabela de exposição e as guias superior e
laterais, deixando-as junto com o corpo da câmera para depois colocar
tudo junto.
Agora pegue o canal do obturador, recortando a janela e as abas, e
separe o obturador, tomando cuidado com as duas aletas laterais, que
impedirão que o obturador saia da câmera durante o uso. Para montar,
encaixe as aletas do obturador nas abas do canal, e cole apenas as abas
com fita isolante, conforme a imagem abaixo.
Vincos nas linhas de dobra
Obturador e canal, tabela de exposição e guias Montagem do obturador e do canal
Colocação das guias e tabela de exposiçãoColocação do obturador
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Com um pouco de cuidado para não entortar o metal, retire a tam-
pa do cartucho e retire o eixo de dentro da carcaça. Note bem a posi-
ção do eixo.
Veja se o eixo tem um resto de filme ainda anexo a ele. Se tiver,
ótimo, mas caso contrário, tire um pedaço longo de fita isolante e faça
uma “língua” partindo do eixo.
Depois, inverta o eixo e recoloque-o na carcaça, tomando cuidado
para que o resto de filme ou a língua de fita fiquem para fora da carcaça
e recoloque a tampa. Esse é um cartucho invertido, que vai receber o
filme que você já tiver fotografado e protegê-lo, no caso de acidentes
com a câmera.
Roteiro de inversão do cartucho 35mm
Com o cartucho vazio já invertido, vamos carregar a câmera para
que possamos fotografar. Para isso, pegue o cartucho invertido, um rolo
de filme novo, um pouco e o corpo da câmera. No esquema abaixo, o
cartucho invertido será marcado por um “I” e pela cor cinza, enquanto
o rolo de filme virgem será marcado com um “N” e pela cor vermelha.
Posição dos cartuchos de filme dentro da câmera
IN
Com fita adesiva, junte as duas abas de filme, com o filme novo “por
dentro”, para que fique bem preso quando você começar a fotografar.
Agora deixe a câmera de lado um pouquinho, e pule para o próximo
capítulo, para colocar o orifício que permitirá que você fotografe. Depois
disso, volte aqui para que os últimos detalhes a serem adicionados à câme-
ra, um contador que permite que se saiba quando o filme rodou uma posi-
ção inteira, a segurança que impedirá que o corpo se abra acidentalmente,
e a alavanca de retorno do filme sejam colocados.
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O contador é uma pequena aleta plástica, recortada do cartão de te-
lefone e colocada dentro da câmera com fita adesiva. É importante ali-
nhar o contador com os furos do filme, pois é o número de “estalos” que
você ouvirá quando girar o filme. No caso, cada fotograma (ou posição
do filme) equivale a 9 estalos.
Corte do contador Colocação do contador na câmera
Para proteger a câmera, depois de carregá-la com filme, pegue os
dois elásticos e amarre a câmera fechada. Depos disso, é só encaixar o
clipe de papel na ponta do rolo de filme vazio. Com a frente da câmera,
onde está o obturador, voltada para você, é o rolo da direita, como na
figura ao lado.
Câmera completa, protegida por elásticos e com o clipe para puxar o filme
Orifício
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A confecção do orifício que substituirá a lente é uma tarefa impor-
tantíssima para se fazer fotografia “de orifício” (percebeu? como está
até no nome, dá para perceber quão importante é, não dá?). Ao longo
do tempo, algumas formas diferentes foram criadas para se obter esse
furinho tão essencial. Cada uma delas tem vantagens e desvantagens,
e não vamos analisar todos os métodos aqui, mas apenas três técnicas
que são práticas e fáceis de fazer. As duas primeiras técnicas inclusive
são também muito baratas, enquanto a terceira é a mais simples, e por-
tanto, a mais cara das três.
Método TradicionalO processo mais comum para se conseguir um orifício apropriado
para fotografia usa uma agulha fina, lixa e um quadrado de metal fino.
Normalmente usa-se latão, mas como é muito mais fácil encontrar latas
de refrigerante de alumínio, este é uma alternativa muito viável. Enquan-
to o alumínio é mais fácil de encontrar, é também mais fácil de furar, exi-
gindo um cuidado maior na hora de passar a agulha.
O orifício deve ser redondo e uniforme, e para consegui-lo você irá
“amassar” o metal com a ponta da agulha, cuidando para não atravessá-
la direto. Essa pressão irá levantar uma ponta no lado da folha de metal
oposto ao que você pressiona com a agulha. Com a lixa, fazendo movi-
mentos circulares, desgaste esse lado onde o metal está levantado, até
que o orifício apareça.
Método Le Combe
Processo de obtenção do orifício pelo método de Brewster
Processo de obtenção do orifício furando metal com agulha e lixa
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Brewster foi um físico inglês que estudou a fotografia de orifício e
a formação da imagem no século XIX. Em um de seus livros ele descre-
ve como conseguir um furo apropriado usando papel. Para seguir as
instruções de Brewster você precisará de uma tesoura ou estilete uma
folha de papel preto e opaco e fita adesiva.
Neste papel recorte dois “L”s, com cuidado para deixar a parte inter-
na do “L” sem cortes invasores.
Para conseguir o orifício, coloque os dois “L”s um sobre o outro, con-
forme o esquema abaixo, e vá aproximando os vértices internos até
conseguir um tamanho apropriado (Discutiremos maneiras de medir
esses orifícios ao final desse capítulo) e fixe as duas partes uma à outra
com fita adesiva.
O método high-tech
Na verdade, você não conseguirá orifícios propriamente ditos por este
método, pois você irá imprimi-los em uma base plástica. O que você pre-
cisa é de um computador e algum software de desenho vetorial, além de
alguma forma de imprimir fotolitos (bureaus de imagem e gráficas off-
set costumam ter esse processo, mas ele pode ser relativamente caro).
No programa de
desenho vetorial,
cubra a página com
um retângulo pre-
to, e faça pequenos
círculos no tama-
nho apropriado para
sua(s) câmera(s) em
branco. Dê a saída
para impressão nes-
te arquivo e mande para a fotoliteira. Quando tiver a folha com os orifí-
cios em mãos, é só recortá-los e colocá-los na câmera.
Com esse método você terá em mãos uma quantidade relativamen-
te grande de orifícios, fazendo com que ela seja especialmente válida
para quem já estiver mais sério em fotografar com esse tipo de câmera,
sem contar a grande precisão dos orifícios obtidos. Entretanto, o plásti-
co onde o fotolito é impresso não é
completamente inerte, e influencia
um pouco na imagem. Dessa forma,
cuidado quando for fotografar con-
tra o sol, pois a luz ao passar pelo
plástico pode gerar um padrão de
cores como este:
Arquivo vetorial com diversas aberturas
Arco-íris de difração
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O tamanho do orifícioO tamanho do orifício é até mais importante do que sua uniformi-
dade, já que um orifício meio oval, ou um pouco irregular vai alterar um
pouco a imagem, enquanto um orifício de tamanho errado pode não
ser capaz de formar a imagem, ou então deixá-la toda borrada (como
se estivesse desfocada).
Imagem “focada” (abertura ideal) Imagem “desfocada” (abertura não ideal)
Para descobrir qual o tamanho de orifício certo para cada câmera,
você precisa saber qual a distância entre a posição do orifício e a posi-
ção onde estará o papel ou filme fotográfico. Para simplificar, chama-
remos essa medida de distância focal, que apesar de impreciso, facilita
a compreensão daqueles que já têm alguma familiaridade com a foto-
grafia com lentes.
Existe uma fórmula matemática para determinar o diâmetro do orifício:
d = c . ( ƒ / λ )
Onde d é o diâmetro do orifício, ƒ é a distância focal, λ é o compri-
mento de onda da luz predominante (para a luz do dia, convenciona-
se usar 550nm) e c é uma constante. Para c eu prefiro um valor em
torno de 1,5 mas você pode usar constantes diferentes. Por exemplo,
Lord Rayleigh, físico inglês e o primeiro a determinar esta fórmula usa-
va uma constante de 1,9.
Não se preocupe com a matemática, pois pessoas caridosas já fa-
cilitaram o processo, desenvolvendo programas de computador que
fazem esse cálculo por você. Existem opções para sistemas Windows
e Mac OS X, bem como diversos websites que apresentam formulários
para determinar o diâmetro do orifício. Você encontra os endereços de
alguns destes na seção de referências.
Agora que você já descobriu o diâmetro ideal do orifício para a
sua câmera (no caso da câmera do capítulo anterior, essa medida é de
0,2mm), você precisa descobrir se o furo que você preparou no começo
do capítulo tem esse tamanho.
Para fazer essa medição, a maneira mais fácil
é usando um conta-fio de boa precisão. Você en-
contra um desses em lojas de material para artes
ou em lojas de material ótico.
Conta-fios e orifício
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Medição eletrônicaO outro método envolve um tanto de tecnologia a mais. Caso você
tenha acesso a um scanner, coloque o orifício que você fez e digitalize-
o na resolução mais alta possível (se possível, em torno de 1200 dpi).
A seguir, aproxime o zoom para 200%. Isso permitirá que você veja o
orifício num tamanho melhor sem perder a definição da borda. Com a
ferramenta régua meça o orifício de um lado a outro e pronto, verifique
se a medida que o programa dá é próxima daquela que você queria.
Com o orifício correto pra sua câmera feito, é só colocá-lo no corpo,
e sua câmera está pronta. Nos próximos capítulos vamos falar sobre as
técnicas importantes para utilizá-la.
Captura de tela do Adobe® Photoshop: Medição eletrônica do orifício
Exposição
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Agora que você já tem pelo menos uma câmera inteira, com orifí-
cio apropriado e carregada com papel ou filme, resta saber como fazer
para impressionar o material fotossensível corretamente. Isso é o que
se chama exposição, ou seja, por quanto tempo o material será exposto
à luz para formar uma imagem. Com lentes, esse tempo costuma ser
muito curto, em frações de segundo. Com orifícios, os tempos te expo-
sição variam desde frações de segundo (maiores que as obtidas com
lentes) até várias horas, dependendo da condição de iluminação.
A maneira mais fácil de acertar sempre a exposição com uma câ-
mera de orifício é preparar uma tabela de exposição, e para isso é ne-
cessário saber o valor de abertura da câmera – também chamado de
número ƒ. Esse valor existe também em lentes, e nesse caso costuma
variar entre ƒ/1.4 até ƒ/22, sendo determinada pelo diafragma.
Escala de aberturas
Nas câmeras de orifício, não existe essa mesma variação, pois como
o orifício não muda de tamanho como o diafragma das lentes, você –
ao construir a câmera – já tem uma idéia desse valor. Pegando como
exemplo a câmera 35mm construída anteriormente, sabemos que ela
tem um equivalente de distância focal de 25mm, e determinamos pela
fórmula de diâmetro ótimo de orifício o tamanho ideal para o furo:
Com aproximações e pequenas imprecisões que não prejudicam a
qualidade da imagem na câmera, pode-se considerar o orifício ótimo
para esta câmera como tendo diâmetro de 0,2 mm. Agora, a abertura
da câmera (ou seu número ƒ) é obtido dividindo-se a distância focal
pelo diâmetro do orifício:
Esta é a grande diferença entre uma câmera de orifício e uma câ-
mera com lentes, tecnicamente. Enquanto lentes costumam apresentar
aberturas até ƒ/22, uma câmera de orifício vai normalmente apresentar
valores ƒ acima de 100 (existem exceções, mas são câmeras bem mais
complicadas de construir).
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Mas qual a função desse valor ƒ? Para quê ele serve?
Bom, são dois fatores influenciados pela abertura. O primeiro deles (e o mais importante neste momento) é exatamente a exposição. Quanto maior o número ƒ, menor a quantidade de luz que a abertura deixa
chegar até o material foto sensível. Existem cálculos extremamente complexos para se determinar o tem-
po de exposição para determinado material (papel ou filme fotográfico, normalmente), e não vamos en-
trar nesse grau de detalhe neste manual. Então, como a câmera construída anteriormente já tem sua tabela de exposição calculada, sugerimos que a utili-
ze como referência.
Tabela de exposição
Guia de Exposição – Câmera de Orfício
Dia Claro
1s
ParcialmeteNublado
1s
MuitoNublado
6s
Nascer/Pôrdo Sol
14s
NaturalInterior
44s
Agora, como fazer isso para uma câmera que você mesmo tenha
construído, seguindo seu próprio projeto?
Bom, o jeito mais fácil é buscar na seção de referências algum dos
links que oferecem calculadoras exatamente
para esse propósito, ou se utilizar dos softwa-
res que também permitem esse cálculo. Se você
quiser fazer esses cálculos na mão, veja o quadro
A Regra “Sunny/16” e a fotografia de orifício.
O outro fator que a abertura influencia é a
profundidade de campo. Sabe aquelas fotos em
que o tema está todo em foco, bonitinho, e o
fundo parece um borrão amorfo? Então, esse é
o efeito da profundidade de campo. Apesar de
toda uma teoria que a física ótica determinou para explicar isso, pode-
mos resumir o fato como: quanto menor o número ƒ de uma câmera,
menor a sua profundidade de campo. Ou seja, as câmeras de orifício
(como a nossa), que têm um número
ƒ na casa das centenas nunca (repito:
NUNCA) vai conseguir fazer uma foto
de algo só com o fundo borrado.
Em compensação, aquelas lindas
paisagens com campos, montanhas e o
que seja lá longe, serão uma excelente
opção para as câmeras de orifício. Pela
Curta prof. de campo - foto c/ lente
Longa prof. de campo – pinhole
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lógica, se o menor número ƒ encurta o campo, um número ƒ muito
maior do que uma lente oferece também vai oferecer um campo muito
mais profundo. Isso significa que praticamente tudo, até onde a vista
alcança, estará em foco numa imagem formada por orifício.
Pronto. Agora você já sabe tudo o que precisa para sair e fotografar.
Mas o manual não acaba aqui, pois eu espero que você não saia ape-
nas fotografando alucinadamente, mas sim aproveite essa câmera que
construiu (seja um dos projetos que encontrou aqui ou uma câmera
que você mesmo desenhou) para fazer fotos acima de tudo bonitas. E
para uma foto ser bonita não basta apenas ela estar corretamente ex-
posta. A foto precisa também do que veremos no próximo capítulo.
A Regra Sunny/16 e a fotografia de orifícioPara uma aproximação do tempo de exposição, é comum alguns fotógrafos
mais experientes se valerem da regra conhecia como “Sunny/16”. Essa regri-nha diz que, quando você estiver numa condição de luz muito clara (Sol aberto, próximo ao meio dia, etc), você conseguirá uma boa exposição colocando a abertura da lente em f/16 e a velocidade de exposição para um valor numeri-camente igual a 1/ISO do filme. Então digamos que você carregou sua câmera com filme ISO 200. De acordo com a regra “Sunny/16”, se você pudesse mudar a sua abertura, era só colocar a câmera em f/16 e a velocidade seria de 1/200 .
Mas espera aí! Uma câmera de orifício não varia a abertura. E agora?
Calma que tem como resolver. Para começar, temos que descobrir o fator de conversão entre a sua abertura e f/16. Para fazer isso, é só aplicar a fórmula a
seguir:
FC = ( fcamera
/ f16 )2
Na nossa câmera, isso vira:
FC = ( 125 / 16 )2
FC = 7,82
FC = 61Então, para descobrir a exposição para f/125, é só multiplicar a velocidade
original na regra pelo fator de conversão (FC).
FC = 61 . (1/200)FC = 61/200FC = 0,3
Esse valor 0,3 corresponde aproximadamente a 1/3 de segundo. As-sim, para situações de luz clara e sol aberto, esse é o tempo de exposição. O mesmo cálculo pode ser feito para diversas condições de luminosida-de, normalmente diminuindo o valor de f/16 (na sequência de números f:
f/11 - f/8 - f/5.6 - f/4) de acordo com a claridade.
Composição
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Tudo certo, a parte mais teórica já acabou. Vamos ver agora como
podemos fazer nossas imagens serem ainda mais bonitas, com um ape-
lo mais forte e significativo para todos que as virem, pode ser? Dentro
das artes (e entre elas a fotografia) existe uma disciplina chamada Com-
posição, que dá dicas de como colocar as coisas, figuras, pessoas no
espaço que será representado de maneira que o conjunto disso tudo,
na imagem, seja não só harmônico, mas também significativo. Cada
um tem seu processo para compor uma imagem, e aqui nós veremos o
que eu considero mais apropriado para a fotografia de orifício.
Lembra-se que você colou na parte externa da câmera 35mm uns
riscos chamados “guias de composição”? Pois então, elas foram mon-
tadas de maneira a permitir que você adivinhe (um “chute informado”)
– com alguma precisão – onde na sua foto cada elemento vai aparecer.
Note que não é algo totalmente preciso, pois alinhar o orifício com as
guias de composição não é tão fácil quanto parece. De qualquer ma-
neira, elas são de grande ajuda.
Para usar as guias, aponte a câmera em direção à cena que você
quer fotografar. Agora imagine uma linha que acompanha as guias de
linhas imaginárias
composição, mas que se estendem até o horizonte. Tudo aquilo que
estiver entre essas linhas imaginárias irá aparecer na foto.
Mas porquê existem 4 linhas, e não apenas 2, se elas só servem para
dizer aquilo que vai aparecer na foto? Você percebeu que as duas linhas
mais próximas do meio se estendem pela área delimitada pelas linhas
externas, correto?
linhas-guia para composição
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Pois bem, agora eu volto a falar sobre a tal disciplina de compo-
sição. Existe uma escola na fotografia (e na pintura também) que diz
que a composição ideal de uma imagem é baseada em terços. É essa a
função das linhas internas das guias de composição, delimitar os terços,
mesmo que aproximadamente. Então, quando for fotografar com essa
câmera, ou se utilizar guias semelhantes em câmeras que você mesmo
desenhe e construa, procure se aproveitar dessa pequena vantagem
que as linhas te oferecem. Perceba que, para a guia funcionar, um dos
extremos de cada linha deve ser alinhado com o orifício, enquanto o
outro extremo deve ser alinhado com a borda do filme ou papel (para
as linhas externas) ou com o terço do quadro (para as linhas internas).
Finalmente, acabou! Daqui para a frente você só encontrará – neste
manual – referências de onde buscar informação mais aprofundada.
São muitos endereços na internet, a maioria em inglês, e alguns livros
que, mesmo não necessariamente específicos sobre fotografia de ori-
fício podem trazer dados e idéias valiosas para esse tipo de fotografia
também.
Muito obrigado por ter chego até aqui, espero que você se divir-
ta tanto fotografando, construindo câmeras e apreciando fotografia
quanto eu me diverti pesquisando, fotografando, construindo câmeras
e finalmente, escrevendo este pequeno guia.
Regra de TerçosMais uma regrinha prática da fotografia –e de outras artes visu-
ais como a pintura– só que agora para resolver problemas de com-posição. Basicamente, a regra dos terços diz que, ao se dividir uma cena usando duas linhas horizontais e duas verticais equidistan-tes, criando nove áreas iguais, os quatro pontos de intersecção das linhas podem ser usados para alinhar os diversos elementos da imagem.
Na fotografia ao lado, você pode notar que as áreas principais da ima-gem se não estão exa-tamente alinhadas com as linhas equidistantes, estão pelo menos próxi-mas, e um ponto forte é a base da coluna, exata-mente em cima da inter-secção de duas linhas.
Composição pela regra de terços
Referências
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Aqui você vai encontrar algumas referências, em termos de livros,
e websites, e coisas assim. aproveite para se aprofundar mais, buscar
algumas outras idéias e projetos diferentes para você fazer.
LivrosAnsel Adams – A Câmera; O Negativo e A Cópia. Todos
publicados no Brasil pela editora SENAC-SP. A trilogia má-xima da fotografia, ainda que só fale rapidamente da foto-grafia de orifício
Eric Renner – Pinhole Photography: Rediscovering a his-toric technique. O grande livro da fotografia pinhole, sua história, teoria e prática, além de ser recheado de imagens fantásticas. Publicado apenas em inglês, pela Elsevier.
WebsitesWPPD: http://www.pinholeday.org – Dia Mundial da Fo-
tografia Pinhole
Nick Dvoracek: http://idea.uwosh.edu/nick/ – Uma das maiores referências online sobre fotografia de orifício, e casa da Populist, além de vários artigos históricos sobre a técnica.
Photography without lenses – site do Chris Patton, com muitas imagens e algumas dicas sobre fotografia pinhole.
f295 – fórum em inglês sobre fotografia alternativa, com grande imagens, projetos interessantes e uma comunida-de muito unida. me procure por lá como press_cwb.
1cm
1cm
1in
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tera
is
Guia de Exposição – Câmera de Orfíciodistância focal: 25mm diâmetro do orifício: 0,2mm
abertura: f/125 ISO do filme: 200
Dia Claro
1s
ParcialmeteNublado
1s
MuitoNublado
6s
LuzArtificial
1min
Nascer/Pôrdo Sol
14s
NaturalInterior
44s
gui
a su
per
ior