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Faculdade São Bento

Curso Metodologia e Didática do Ensino Superior

Antonio Carlos Carneiro Barroso

A relação entre a evasão escolar e a merenda escolar na

Rede pública do Brasil

Salvador- 2007

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Antonio Carlos Carneiro Barroso

A Merenda Escolar na Rede Pública do Brasil

Monografia apresentada como trabalho de conclusão do

curso de Metodologia e Didática do Ensino Superior, na

Faculdade São Bento.

Orientador

Salvador-2007

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Dedico aos meus pais,

Francelino e Elisabeth

Com todo amor de filho.

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Agradecimentos

- Aos meus pais pelo carinho, atenção e estimulo para os estudos.

- Ao professor--------------------------------------------------- meu orientador pela

disponibilidade e apoio constante.

Ao professor --------------------------------------------------------------- pela força e

revisão gramatical.

Ao --------------------------,------------------------------,----------------------------------- e

demais colegas de curso pela convivência sadia.

A Faculdade São Bento pela oportunidade de aprender e produzir o presente

trabalho.

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Feliz aquele que ensina o que sabe e aprende o que

ensina.

( Cora Coralina)

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Sumário

Resumo

1. Introdução ----------------------------------------------------Nº. 8

2. Capitulo I: A merenda Escolar e a Desnutrição

2.1 O Agente da Desnutrição

3. Capitulo II : A Merenda Escolar numa ordem de racionalidade.

3.1 A proteção do Aluno nas Escolas Públicas

3.2 O capital alimentar

4. Capitulo III Raízes da Fome

4.1 Desnutrição e a manutenção da Evasão e da Repetência Escolar

5. conclusão

6. Referencias Bibliográficas:

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Resumo

O presente trabalho descreve sobre o tema “merenda escolar” problematizado

elementos constitutivos (palavra) da sua açao discursiva, identificados no

desdobramento do processo de institucionalização das Política de Alimentação

e Nutrição no Brasil. Ensaiando uma abordagem teórico-metodológica em

analise de discurso, o percurso perseguido para construí-lo aponta para uma

reflexão sobre as condições de produção do dito em “merenda escolar”, dos

anos 30 aos anos atuais a partir da palavra fome e racionalidade pronunciada

pelos principais protagonistas a merenda escolar no histórico-social da

“politização” da questão alimentar na sociedade brasileira.

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1 – Introdução:

A relação entre a evasão escolar e merenda escolar na rede pública do Brasil

Diante dos conhecimentos adquiridos na nossa formação acadêmica e no

exercício da profissão em sala de aula nos tornou inquietos e nos fez refletir

para um questionamento sobre a relação entre a desnutrição. A evasão e a

repetência escolar no Brasil. Analisamos a relação entre o discurso da

merenda escolar na educação. Queremos entender o papel das políticas de

alimentação e refeição no Brasil em especial a “merenda escolar” observa que

nada foi feito para combater a desnutrição das crianças, vista que a distribuição

de alimentos aos alunos das escolas públicas brasileira não reduziu os altos

índices de evasão e repetência escolar.

Tendo em vista que a merenda escolar e um elemento motivador da freqüência

na escola, pois por falta de alimentação em casa, uma boa parte dos alunos

freqüenta quase que religiosamente a escola. Em busca de saciarem a fome

através da merenda na escola que é fornecida pela mesma. Faz-se então

necessário avaliar a qualidade dessa merenda já que ela se formou

praticamente a alimentação diária mais importante que alguns consumiram.

• Segundo. Nobre (1999, p 15) “o acesso á alimentação é um direito

humano básico que esta acima de qualquer outra razão que possa

justificar sua negação. Seja de ordem econômica ou política. Mas que

não adianta apenas ter acesso aos alimentos é fundamental que os

mesmos sejam de qualidade e nas quantidades e proporções

adequadas. Á proporção e a conservação da saúde”.

E justamente nesses fatos que nós questionamos a eficiência da merenda

escolar. As primeiras experiências emocionais do ser humano estão

inteiramente relacionadas com a alimentação e a medida que o tempo vai

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passando outros significados serão associados á alimentação e a criança terá

que aprender muitas coisas sobre esse assunto e em pouco tempo seus

hábitos alimentares estarão formados e influenciarão seu estado de nutrição e

saúde por toda a vida. Formados por condicionamento e imitação. Muitas

vezes com uma grande dose de erros alimentares. Mas será que esses hábitos

não podem ser mudados com a introdução da alimentação de melhor qualidade

e com a composição nutricional necessárias nas escolas.

O programa nacional de alimentação escolar ou merenda escolar.

É o mais antigo programa social do Governo Federal na área de Educação.

Vem sendo desenvolvido a quase oito décadas .

A prioridade do programa de merenda escolar é nortear a busca pela qualidade

contribuindo para o bom estado nutricional e desenvolvimento intelectual das

crianças brasileiras de 7 á 14 anos matriculadas na rede pública de ensino, no

primeiro momento do aprendizado sobre a vida em coletividade motivando o

despertar sensorial e a socialização .

O Programa Nacional de alimentação escolar, visa suprir 15% das

necessidades protéicas, calóricas diárias dos alunos, oferecendo 350Kcal e

09g de proteínas por merenda, dentro dos valores nutricionais mínimos e dos

padrões de qualidade estabelecidos pelo fundo nacional de desenvolvimento

da educação (FNDE).

Como deve ser a merenda escolar?

Deve ser planejadas, desde a seleção de gêneros, quantidades necessárias e

valor nutritivo até o preparo e distribuição cada etapa precisa ser

cuidadosamente planejada, a fim de que os alunos possam receber uma

merenda de qualidade.

A merenda deve ser:

De boa aceitação, saudável, colorida, variada, balanceada, equilibrada e

saborosa.

A saúde depende em grande parte de uma boa alimentação. Uma pessoa mal

alimentada enfraquece e ficam sensíveis ao aparecimento de doenças.

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E de fundamental importância para o homem o consumo diário de alimentos

que contenham substancias capazes de: promover o crescimento,

fortalecimento e energia para o trabalho regular e manter o bom funcionamento

dos órgãos, aumentando assim as resistências a doenças. Essas substancias

são encontradas nos alimentos.

Municipalização da merenda escolar

Lei nº 8.913, de 12 de Julho de 1994.

Dispõe sobre a municipalização da merenda escolar

O Presidente da República - Faço saber que o Congresso Nacional decreta e

eu sanciono a seguinte lei.

Art.1º Os recursos consignados no orçamento da União, destinados ao

programa de alimentação escolar em estabelecimento de educação pré-escolar

e de ensino fundamental, serão repassados, em parcelas mensais, aos

Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.

• 1º O montante dos recursos passados a cada estado, ao distrito Federal

e a cada Município será diretamente proporcional ao numero de

matriculas nos sistemas de ensino por eles mantidos.

• 2º Os recursos destinados a programa de alimentação escolar em

estabelecimentos mantidos pela União serão diretamente por elas

administrados.

Art. 2º Os recursos só serão repassados aos Estados, ao Distrito Federal e

aos Município que tenham, em funcionamento, Conselho de alimentação

escolar, constituídos de representantes da administração publica local,

responsável pela área da educação; dos professores; dos pais de alunos; e de

trabalhadores rurais .

Art. 3º Cabe ao Conselho de Alimentação Escolar, entre outras, e a elaboração

de seu regimento interno.

Art. 4º A elaboração dos cardápios dos programas de alimentação escolar, sob

a responsabilidade dos Estados e Municípios, através de nutricionistas

capacitados, será desenvolvida em acordo com o Conselho de Alimentação

Escolar, e respeitará os hábitos alimentares de cada localidade, sua vocação

agrícola e a preferência pelos produtos in natural.

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Art. 5º Na aquisição de insumos serão priorizadas os produtos de cada região,

visando à redução dos custos.

Art. 6º A União e os Estados prestarão assistência técnica aos Municípios, em

especial na área da pesquisa em alimentação e nutrição, elaboração de

cardápios e na execução de programas relativos á aplicação de recursos de

que trata esta lei.

Art. 7º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 8º Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 12 de julho de 1994; 173º da Independência e 106º da

república.

Itamar Franco

Rubens Ricupero, Antonio José Barbosa.

Na tentativa de identificar o nosso objetivo de estudo, encontramos na

referencia bibliográfica produzida por Marcos Coimbra, 1982 comer e estudar

no Brasil uma rica abordagem história do processo de institucionalização de

“merenda escolar” no Brasil. Neste livro são identificados os principais

protagonistas da história da política de alimentação escolar no Brasil

descrevendo, principalmente, sua participação no processo político

administrativo da institucionalização da alimentação do aluno.

Tanto do ponto de vista cientifico quanto ao ponto de vista político é importante

destacar nosso desejo de problematizar a representação que tais protagonistas

fizeram dos sujeitos da “merenda escolar” seguinte populacional.

O programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) repassa recursos

financeiros para garantir a oferta da alimentação escolar, de forma a supri, no

mínimo, 15% das necessidades nutricionais dos alunos, durante o período de

permanência na escola.

Dessa forma, o programa contribui para a melhoria da capacidade de

aprendizagem, para a formação de bons hábitos alimentares, além de

contribuir para a redução de evasão escolar.

Com o PNAE, o Governo Federal vem cumprindo um importante papel social

no País, uma vez que reconhece o direito á alimentação dos alunos da rede

pública, conforme determina a Constituição Federal, garantindo o atendimento

universal, sem qualquer discriminação.

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Beneficiados são atendidos pelo PNAE todos os alunos da Educação Infantil

( creche e pré-escola ) e do Ensino Fundamental matriculados em escolas

públicas r filantrópicas cadastradas no censo escolar do Conselho de

Alimentação Escolar (CAE) – Colegiado deliberativo e autônomo, composto por

representantes civil, professores e pais de alunos, com mandato de dois anos .

O principal objetivo do CAE consiste em zelar pela qualidade dos produtos,

desde a compra até as distribuições nas escolas, prestando sempre atenção ás

boas práticas de higiene sanitárias, além de fiscalizar a aplicação dos recursos

transferidos.

Tribunal de contas da União, Secretaria Federal de Controle e Sistema de

controle de Internos do Poder Executivo da União – Atuam como órgãos

fiscalizadores.

Secretaria de Saúde dos Estados do Distrito Federal e dos Municípios ou

Órgãos similares – Responsáveis pela inspeção sanitária dos alimentos.

Ministério Público da União – Responsável pela apuração de denuncias, em

parceria com o FNDE.

Conselho Federal de Nutrição – Responsável pela apuração de denuncias, em

parceria com o FNDE.

Elaboração do cardápio.

O cardápio das escolas deve ser elaborado por nutricionistas habilitados, com

a participação do Conselho de Alimentação Escolar (CAE). Devem respeitar os

hábitos alimentares e a vocação agrícola de cada lugar, dando preferência aos

produtos.

Além disso, as escolas filantrópicas devem ter o número de registro e

certificado do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS).

O repasse dos recursos é feito com base no censo escolar, realizado no

anterior ao do atendimento.

Inovações em 2003

Logo no inicio de 2003, o Programa Nacional de Alimentação Escolar igualou o

valor per capita da pré-escola com ensino fundamental-O valor passou de R$

0,06 para R$ 0,13.

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As cidades que investiram na educação pré-escolar receberam aumentos

significativos.

Desde junho do ano passado, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação repassa as creches públicas e filantrópicas R$ 0,18 por crianças

atendidas. Quase 870 mil alunos de zero a três anos foram contemplados. A

cobertura do PNAE - Creches é de 250 dias

Em outubro, o PNAE passou a atender todos os alunos das comunidades

indígenas, graças a parceria firmada MEC com o Ministério Extraordinário de

Segurança Alimentar e combate á fome (Mesa). O valor diário per capita para

115 mil alunos foi alterado de R$ 0,13 para R$ 0,34. O atendimento passou de

200 para 250 dias letivos.

No mês de novembro, o MEC repassou R$ 1,2 milhão ao projeto segundo

tempo, do Ministério do Esporte, para garantir reforço alimentar a 108,6 mil

alunos de 543 escolas públicas do ensino fundamental. Tiveram prioridade

escolas localizadas em áreas urbanas de risco social que oferecem atividade

física aos estudantes.

A importância

O PNAE possibilita uma melhor qualidade de vida para 22% da população

brasileira ao desenvolver políticas de qualidade alimentar e nutricional. Alem de

contribuir para uma boa aprendizagem, o programa significa incentivo ao

combate á fome e melhoria na alimentação dos alunos localizados nas regiões.

Mais carentes.

Outro ponto alto do programa é a participação da sociedade civil como agente

co-responsável no processo. Por meio dos Conselhos de alimentação Escolar

(CAE), o cidadão exerce sua responsabilidade social, fiscalizando e avaliando

o desempenho do programa, fator indispensável para fazer da Alimentação

Escolar uma referencia brasileira na área da educação.

Histórico da Alimentação Escolar

O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é um dos mais antigos

programas sociais do Governo Federal. Tem origem na década de 40, com

uma primeira proposta do Instituto de Nutrição, cuja concentração foi impedida

por interesses políticos e escassez de recursos financeiros.

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Nos anos 50, foi elaborado um abrangente Plano Nacional de Alimentação e

Nutrição no Brasil, uma proposta que, pela primeira vez, concebia e estruturava

um programa de alimentação escolar em âmbito nacional, sob

responsabilidade pública.

Quando foi criado em 1954, no final do Governo Vargas, ninguém poderia

imaginar que assumisse as dimensões atuais. Em 1955, a Comissão Nacional

de Alimentos regulamentou a campanha da Merenda Escolar, dando um novo

impulso e abrangência nacional ao programa.

Uma década depois, a campanha da Merenda Escolar sofreu reformulações,

ao ser crida a Campanha Nacional de Alimentação Escolar. De 1954 até 1979,

a campanha recebeu varias denominações, quando passou a se chamar

Programa Nacional de Alimentação Escolar, como hoje são conhecidas.

Em 1981, passou a ser gerido pelo Instituto Nacional de Assistência ao

Estudante. Em 1983, a Fundação de Assistência ao estudante-resultado da

fusão do Instituto Nacional de Material Escolar – assumiu a gestão do

Programa.

O direito á alimentação escolar para todos os alunos do ensino fundamental foi

assegurado em 1988, com a promulgação da nova Constituição Nacional

Federal. Este ano, foram integrados ao PNAE os alunos da pré-escola das

creches.

Funcionamento

O FNDE transfere os recursos financeiros ás Entidades Executoras (EE), em

contas correntes especificas abertas pelo próprio fundo, sem a necessidade de

celebração de convênio, ajuste, acordo, contrato ou qualquer outro

instrumento.

Esses recursos são transferidos em dez parcelas mensais, a partir do mês de

fevereiro, para a cobertura de 200 dias letivos, com exceção das creches e

escolas indígenas que ficam com 250 dias.

Os recursos provêm do Tesouro Nacional e estão assegurados no Orçamento

da União. As prefeituras, secretarias estaduais e do Distrito Federal têm

autonomia para administrar os recursos; portanto, a complementação

financeira fica a cargo dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios

beneficiados, conforme estabelece a Constituição Federal.

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Do total, 70% do dinheiro devem ser aplicados em produtos básicos. Após a

elaboração, a Entidade Executora deve complementar o recurso enviado pelo

FNDE para a execução de um cardápio adequado.

O valor a ser repassado para a Entidade Executora é calculado da seguinte

forma:

TR= Número de alunos X Número de dias X Valor per capita

Onde TR = total de recurso a serem recebidos

Prestação de contas

Os municípios e as Secretarias Estaduais de Educação devem prestar contas

anuais ao FNDE dos recursos que recebem do Programa Nacional de

Alimentação Escolar.

A prestação de contas é realizada até o dia 28 de fevereiro do ano seguinte ao

do atendimento, por meio do Demonstrativo Sintético Anual da Execução

Físico-Financeira, que deve conter o parecer conclusivo do Conselho de

Alimentação Escolar (CAE).

A falta da prestação de implica a suspensão de repasse dos recursos

financeiros e instauração de Tomada de Conta Especial.

Fiscalização

A fiscalização é de competência do FNDE e do CAE, além dos demais órgãos

de controle interno e externo, e do tribunal de contas da União (TCU) e

Secretaria Federal de Controle (SFC), incluindo-se o Ministério Público, que

apura denuncias de irregularidades na execução do programa.

Agentes envolvidos na execução do PNAE:

A partir da reedição dessa Medida Provisória, em 2 de junho de 2000,sob o

número 1979-19, o Conselho de Alimentação Escolar (CAE) passou a ter, além

de uma nova composição, a atribuição de fiscalizar e analisar as prestações de

contas das Entidades Executoras. Assim, os CÃES passaram a ser formados

por membros da comunidade, professores, pais de alunos e representantes

dos poderes dos Poderes Executivo e Legislativo.

Descentralização

Quando era executado de forma centralizada, o órgão gerenciador do PNAE

comprava e distribuía os alimentos.

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A fórmula não deu certa, uma vez que o controle de qualidade, armazenamento

e transporte dos produtos eram atividades de custos altíssimos.

Somam-se a isso os entraves nos procedimentos licitatórios, bem como os

extravios dos produtos, que acarretavam a falta da merenda nas escolas, e o

reduzido número de dias de atendimento.

De 1993 a 1998, o programa foi descentralizado com a celebração de

convênios com Estados, Distrito Federal e Municípios para otimização da

aplicação dos recursos.

A partir de 1999, promove-se a ampla redefinição de papeis de cada órgão

envolvido no programa.

A descentralização significou a transferência da execução do PNAE do nível

federal para os níveis estadual, distrital e municipal. Esses passaram a receber

os recursos diretamente do FNDE para a execução do programa.

A aquisição dos produtos e a elaboração dos cardápios passaram para os

Estados e Municípios, que, com a orientação de nutricionistas habilitados e sob

a supervisão do Conselho de Alimentação Escolar (CAE), passaram a respeitar

a respeitar os hábitos alimentares locais, a vocação agrícola de cada região, o

que possibilitou a utilização de produtos in natura.

Merenda Escolar Orgânica: Uma mudança de hábito saudável

Iniciativas pioneiras no Brasil vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de

introduzir e ampliar o espaço da agricultura orgânica como fornecedora de

alimento para a merenda escolar. Este é um mercado interessante para

viabilização dos produtores orgânicos, pois a merenda escolar é distribuída

para cerca de 35,4 milhões de estudantes em todo pais.

Alimentação mais saudável e nutritiva para as crianças,introdução de novos

hábitos alimentares, educação e proteção ambiental, permanecia dos

agricultores no campo, valorização da produção regional e resgate da cultura

do meio rural são algumas das vantagens de programas que priorizam o

alimento orgânico na merenda escolar.

Experiências Pioneiras

Os estados do Sul do Brasil já apresentam experiências que mostram que

introduzir a alimentação orgânica na merenda escolar pode ser uma excelente

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Alternativa de mercado institucional, fortalecendo a economia local, com

aumento de arrecadação, maiores quantidade de dinheiro circulando na

comunidade, criação de novos empregos e viabilização da produção familiar.

Em Santa Catarina, um convênio entre a Secretaria Estadual de Educação e a

Associação dos Agricultores Ecológicos da Encosta da Serra Geral- Agrego

permitiu a operacionalização do programa “sabor é saber” que está

beneficiando 41 escolas básicas de Florianópolis e Criciúma e atendendo cerca

de 30 mil crianças com a merenda orgânica. Segundo o professor Wilson

Schmidt, coordenador geral da Agreco, este programa envolve diferentes

dimensões no âmbito da educação das crianças, resgate da cultural e do meio

rural, respeito ao meio ambiente, melhoria de renda e qualidade de vida para

os gricultores. O sucesso do programa é reforçado por um projeto de lei

aprovado em 18 de junho de 2002, de autoria do Deputado Afrânio Bofe, que

dispõe sobre o fornecimento de alimentos orgânicos na merenda escolar nas

unidades educacionais do Estado de Santa Catarina. Outros projetos de lei

importante para uma alimentação saudável foram promulgados em 18 de

dezembro de 2001 e dispõe sobre critério de concessão de serviços de lanches

e bebidas nas unidades educacionais, localizadas no Estado de Santa

Catarina. Este programa proíbe nas escolas a comercialização de bebidas

alcoólicas; balas, pirulitos, gomas de mascar; refrigerantes e sucos artificiais;

salgadinhos e pipocas industrializadas.

No Paraná experiência semelhante vem sendo desenvolvida no município de

Palmeiras. A cidade de Palmeiras, situada a cerca de 70 km de Curitiba, foi

uma das pioneiras no Programa de Merenda Escolar Orgânica. Diferentemente

do que acontece na maioria dos municípios do Brasil, quase metade da

população do município (47,3%) ainda permanece no meio rural. A maior parte

das propriedades (87%) apresenta características familiares.

O Programa de Merenda Orgânica

A experiência da Prefeitura de Palmeira - PR, iniciada em 1996, mostra que é

necessário um trabalho de parceria entre a secretaria de Municipais da

Educação e da Agricultura. Luis Alfredo Slusarz, Secretario. Da Agricultura do

município, conta que nos últimos anos a agricultura familiar do município

estava sem perspectivas econômicas e sociais,

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Que se refletia em agricultores com problemas de stress e depressão. A

alternativa surgiu por meio de uma serie de projetos baseados em princípios da

agroecologia. Entre eles foi criado um programa da Merenda Escolar

Ecológica. De acordo com Slusarz “além de melhorar o valor nutricional da

alimentação, a idéia do programa é fazer com que as crianças valorizem o

meio rural da sua localidade, convencendo as famílias e comunidades da

importância de permanecer no campo de forma saudável”.

Segundo a diretora Nilda Rigoní, no município são 32 escolas (17 municipais e

15 estaduais) que recebem merenda escolar.

Contrato de compra / fornecimento de alimento com os produtores visando á

aquisição de produtos necessários para fornecimento da merenda orgânica

para todas as escolas públicas instaladas no município.

Cabe destacar que já existe orientação do Fundo Nacional de Desenvolvimento

da Educação (FNDE), gerenciador dos recursos da merenda escolar, para que,

no ato da compra, realizada pelos conselhos de Alimentação Escolar, sejam

respeitados os hábitos alimentares e a vocação agrícola de cada localidade,

dando preferência aos produtos semi-elaborados e in natura.

Com o recurso de merenda escolar descentralizado a partir de 1999, os

recursos do FNDE são repassados diretamente aos estados e município. No

caso de Palmeira o Departamento de Educação do município recebe o recurso

e fica responsável por efetuar pagamento aos produtores mediante

apresentação de nota de produtor rural, de acordo com acerto prévio. Segundo

a coordenadora de Merenda Marina da Luz, dos R$ 15.325,00 repassados ao

município para merenda escolar, cerca de 30 a 40% é destinado ao pagamento

dos produtores orgânicos. Cada produtor tem recebido em média R$ 400,00

mensais.

A tabela de preços é elaborada em conjunto e definida em Assembléia de

produtores, baseada em preço de mercado e da Associação de agricultura

Orgânica do Paraná (AOPA). Segundo os organizadores, para a maioria das

hortaliças, os preços acabam ficando em media 20% abaixo do praticado no

mercado convencional. Segundo o produtor Ariginaldo Riffert, um dos

participantes do programa, Os valores recebidos são superiores aos que

receberiam em ouros canais de comercialização.

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As entregas ocorrem de acordo com um planejamento prévio entre escolas e

produtores. Normalmente, a entrega é realizada uma vez por semana. As

escolas fornecem com antecedência a relação de produtos que fazem parte do

cardápio, o que facilita o planejamento de produção.

O cardápio orgânico já conta com cerca de 40 itens, basicamente legumes,

verduras, cereais, frutas da época, geléia e derivados, sempre privilegiando

produtos regionais e considerando as estações do ano. A Mudança do pão de

milho ou de mandioca é uma das alternativas ecologicamente saudáveis.

Segundo os organizadores, ainda existe dificuldade para introdução de alguns

produtos processados com suco de frutas, leite e derivados de carne, por

problemas de adequação á legislação.

Treinamento e capacitação de Merendeiras

Outro ponto importante para operacionalização do programa é a capacitação

das pessoas envolvidas no processo. O Departamento de Educação de

Palmeira promove a capacitação de merendeira buscando receitas e

estratégias para acostumar as crianças a comerem hortaliças. A alimentar é um

trabalho difícil, porem tem dado bons resultados.

Paralelamente, professores são orientados pelos técnicos na organização de

hortas orgânicas e visitas a propriedades orgânicas produtoras.

Mudança de Hábitos Alimentares: O papel da escola e dos pais

Não custa recordar que a alimentação humana sempre foi marcada por

refeições em horários bem definidos, almoço em família, pela sazonalidade e

regionalidade. Estes hábitos solitários vêm sendo descaracterizados. Com os “

fast foods”, o almoço em família esta sendo substituído pelo lanche solitário em

frete á televisão ou computador em horário fragmentados. Os alimentos não

têm mais tanto sabor e aroma, não importa o contexto social, desconsiderando-

se o meio ambiente. Com uma diversidade enorme de produtos, passiveis de

serem produzidos nuns pais tropicais, nosso cardápio atual foi reduzido para 4

ou 5 espécie. Quem não come alface, tomate, batata e cenoura, quase todos

os dias? Pois estas são as culturas campeãs no uso de agrotóxico. A

diversidade, uma palavra chave quando falamos em meio ambiente, está

sendo desconsiderada.

Na maioria das escolas particulares, que não servem à merenda tradicional.

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Das escolas publica, as cantinas vendem produtos industrializados que

colaboram, para uma alimentação artificial e de baixo valor nutricional.

Paralelamente, os pais com pouco tempo para organizar o lanche das crianças,

optam por produtos industrializados. Dessa forma, o lanche caseiro ficou “fora

de moda”, uma questão cultural que faz com que as crianças sintam vergonha

de comer alimentos naturais.

Não podemos esquecer que alimentação está diretamente ligada ás questões

ambientais. Portanto, as escolas que desejam inserir a Educação Ambiental em

seus estabelecimentos devem priorizar a questão da merenda escolar.

Privilegiar a Merenda Orgânica é incentivar o movimento orgânico, participando

desta difícil tarefa de melhorar tarefa de melhorar os hábitos alimentares e

introduzir a criança como parte integrante do meio ambiente.

Importância de um projeto de lei

Para assegurar a continuidade do programa foi assinado em 24de agosto de

2001 o decreto nº. 3.710 pelo Prefeito Municipal Mussolini Mansani, criando o

Programa da Merenda Escolar Ecológica, com a finalidade de elaborar

cardápios compostos de produtos hortigranjeiros produzidos no município,

seguindo procedimentos baseado em normas orgânicas.

O reconhecimento do produto agro ecológico se dá mediante cadastro junto ao

Departamento de agricultura e atestado da associação dos Produtores

Ecológicos de Palmeira (APEP) que certifica que os alimentos estão sendo

produzidos sem o uso de agrotóxico, adubos químicos e tecnologias não

poluentes e contaminastes ao meio ambiente.

Na ocasião em que ocorre algum problema no fornecimento de produtos

orgânicos, estas faltas são supridas por produtos oriundos de propriedades em

conversão que estejam cadastradas pela Associação. Excepcionalmente, em

caso de falta destes produtos podem ser adquiridos alimentos de origem

convencional, seguindo a orientação de nutricionista e técnicos do

Departamento de Agricultura.

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Page 21: Manografia merenda escolar

Capitulo l

2 – A Merenda Escolar e a Desnutrição

A nossa pesquisa Bibliográfica sobre a merenda escolar nos sugere que o

processo da legitimação da ciência de nutrição é afirmado no paralelo do jogo

de força política para a conquista do projeto de desenvolvimento social,

defendido nos anos 30 para o povo brasileiro.

Neste momento político, parece-nos que o voto pela ciência se postulava

como sendo a fé no progresso do país. Isto no particular da “merenda escola”

estava sendo dito na busca de verdades para legitimar o conceito de que,

manter a criança brasileira, seria necessário para garantir um bom rendimento

escolar.

Também nos parece que, os médicos quando tomam a palavra de salvação

dos famintos representam-na como sendo os emissários protetores do

equilíbrio biológico da nação brasileira; a fome uma entidade que estaria

predestinada os famintos a uma extinção ou talvez o país á vergonha perante

as nações.

Na seqüência dos dois próximos subcapitulo tentaremos problematiza sobre o

ser da desnutrição constituído pelos nutrólogos no discurso que legitima a

necessidade de alimentar a criança nas escolas publica brasileiras.

2. 1. O agente da desnutrição.

A produção cientifica em nutrição no Brasil são iniciados nos anos 30 movidos

supostamente pelo entusiasmo que movia os intelectuais da educação.

A formação escolar estava eleita no discurso pronunciado pelos representantes

dos poderes públicos.

A Escola Novista fundava os seus princípios na gratuidade e obrigatoriedade

do ensino de 1º grau a todos os brasileiros. A sua proposta era qualificar

intelectualmente e outro, o que seguramente garantiria a inserção do país no

processo modernização.

E fundamentada cientificamente a necessidade social de alimentar a criança no

período em que ela permanece na escola pública de primeiro grau para garantir

a equidade em educação.

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Page 22: Manografia merenda escolar

A alimentação de acordo com o que nós pesquisamos deveria ser equilibrada

nos seus nutrientes: proteínas, glicose, lipídios, vitaminas e sais minerais;

numa seleção alimentar de proteínas, por exemplo, deveríamos priorizar a

ingestão daqueles provenientes de alimentos de alto valor biológico (leite, ovos

carnes).

Portanto falar da alimentação buscando compreender as condições de

produção da política de alimentação é seguramente cruzar no caminho com os

estudos sociais da fome do renomado Josué de Castro.

Como afirma Coimbra,

“E lê que fornece a identidade e singularidade a essa matriz. Foi

Josué de Castro que criou quase como obra pessoal, um conjunto

amplo de instituições da política de alimentação sendo impossível

compreende-las sem referencia a sua inspiração”.

1 Coimbra, Marcos 1982, p. 194

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Page 23: Manografia merenda escolar

Quem seria o faminto que os nutricionistas, tomam para, em sua representação

institui a palavra política em alimentação do aluno do 1º grau?

Josué de Castro sinalizava para a necessidade de moralizar a nação brasileira

uma missão para ele; um apaixonado pelos estudos da fome. Como ele mesmo

cita num dos seus livros.

“O diagnostico desses estados de fome constitui mesmo um dos

capítulos mais fascinantes da medicina moderna, que maior

sagacidade tem exigido dos seus pesquisadores - os desbravadores

da fome oculta”. 2

O tom da palavra dita por Josué de Castro sobre a fome nos faz crer que saber

mais e mais sobre ela era seguramente deter poderes.

Como marco deste estudo, na década de 50 se institucionalizaria a “campanha

de merenda escolar”; fortalecendo o dever fazer. E, ainda, seria pouco para a

missão social destinada ao auxilio de gente pobre. A gente pobre para eles o

povo brasileiro, seria ignorante e incapaz para o aprendizado escolar; para

decidir sobre as rumos do desenvolvimento econômico e social do pais.

Assim, a fome, um mal maior da sociedade brasileira, possivelmente teria seus

dias contados. Deter a sua fúria era uma questão “moral e cívica”. Talvez, uma

fúria que teve a sua gênese no imaginário de herança escravocrata no Brasil;

uma “mancha” na nação brasileira.

Acreditamos que Castro partilharia com outros intelectuais brasileiros a patente

de um projeto social explicando as causas do seu atraso econômico e social.

Parece-nos que para Castro, o atraso já não poderia ser explicado por um

racismo biológico. Esta posição correntes de outros estudiosos, como Thales

de Azevedo, Gilberto Freyre, os quais buscavam afirmar uma nova ordem para

a discussão entre as desigualdades das raças e povos.

2Castro, Josué. Geopolítico da Fome. 1952, p.62

23

Page 24: Manografia merenda escolar

Afirmamos que para ele a fome, em si, assumia-se como modelo explicativo

para a inferioridade entre os povos.

“Não é mal da raça, nem do clima. É mal da fome. A

fome tem sido através dos tempos, a peia que entrava

sempre o progresso latino americano”.

Dada a ênfase do autor na crença desta tese, percebem os que deterem um

conhecimento sobre ela, era instrumentalizar-se para enfrentá-la a fome em

combate a fome; agenda-la na política do mundo.

Neste sentido, a tese castriana nos sugere querer competir com a tese cultural

de Freyre, na busca por explicação para superioridade vs. Inferioridade dos

povos. Castro toma por causa da fome. Numa alusão tal que nele a miséria e a

pobreza parecem determinadas pela fome; como se tivesse nela (na fome) a

sua causa principal. Seria a fome a causa que inferiorizava o pobre e o reduzia

a uma condição privativa, - um faminto. Embora se reconhecesse o “fator

econômico” como de importância para o progresso social, percebemos que a

ênfase explicativa indicava ser a pobreza o mal maior que emperrava o

progresso do país. Ou seja, a fome em Castro ganhava uma personalidade

tanto social como existencial.

Tomando como referencia de Guimarães, diríamos que este imaginário

descende da.

“... doutrina liberal do século XIX, segundo a qual os

pobres eram pobres porque eram inferiores. Essa

doutrina encontrava no Brasil sua aparência de

legitimidade no aniquilamento cultural dos costumes

africanos e na condição de pobreza e de exclusão

política, social e cultural da grande massa de pretos e

mestiços. A condição de pobreza era tomada como

marca de inferioridade.”

24

Page 25: Manografia merenda escolar

Na tese castriana, tomada aqui linearmente, os pobres eram pobres porque era

faminta, a fome seria também o sintoma de miséria e pobreza.

“É a fome – a fome crônica e endêmica em escala

universal – o traço mais típico da miséria reinante em

nosso mundo. A sua revelação substitui sem duvida a

grande descoberta – trágica e promissora descoberta –

da ciência e da cultura do séculoXX.”

Buscando traçar um paralelo com os estudos de Freyre, enfatizamos que este

autor posiciona-se contrário á crença de que a superioridade e inferioridade

entre as raças pudessem ser aplicadas, por um lado, pelo tamanho do crânio,

por outro, pelas questões de adaptação climáticas dos povos que migraram

para outras regiões de climas diferentes do nativo. “Ele, entretanto, alicerça a

sua tese na antropologia cultural, no processo que ele chamaria de

“aculturação” do negro a sua condição de escravo.” Neste sentido, a

“degeneração do negro” ia condicionada pela sua condição de escravo e não

pelas relações sociais estabelecidos no sistema escravocrata brasileiro.

Entretanto, se o lastro da tese de Freyre é a antropologia cultural, pensamos

que em Castros, é a ciência da nutrição. O destaque que ele atribuiu á

necessidade do aprofundamento cientifico da questão da fome nos chega com

uma devoção. A ciência da nutrição uma redenção para salvar o país deste mal

que “manchava” a nação brasileira; a questão da fome seria, por certo, um mal

maior dessa nação.

“... as chamadas “raças inferiores” são apenas raças

famintas, capazes de se apresentar quando bem

alimentadas, em igualdade de caracteres com as suposta

“raças superiores.”

Para Castro, a fome estava numa ordem social fisiológica. Ela representava o

desequilíbrio do organismo social, onde.

25

Page 26: Manografia merenda escolar

“... não existe superioridade ou inferioridade social á luz

dos modernos conhecimentos antropólogos. O que existe

são diferenciações biológicas condicionadas pelo meio.”

Saber dizer em nome do meio, tê-lo como variável, nos soa como se fosse

comprometer-se moralmente com o progresso do país; cura-lo da desordem

social (fome). Aos médicos, - a sua cura. Diagnosticá-la, trata-la.

26

Page 27: Manografia merenda escolar

3. Capitulo II

A “Merenda Escolar”, Numa ordem de Racionalidade.

O dizer racionalidade, aqui, está significando as razões que estariam

alimentando o movimento político dos arautos pela “politização” da questão

alimentar no Brasil.

Ou seja, quais elementos ditos racionais estariam inscritos no dever/ saber/

fazer dos ideólogos da nutrição?

Identificarmos neles o saber, dito numa posição de classe dominante,

comprometida com a modernização do país. A largada fora dada com a

“descoberta da fome”, este mal sinistro que envergonha a imagem da prospera

nação brasileira.

“... aquelas manchas negras que representam núcleo de

populações subnutridas e famintas, populações que

exibem, em suas características de inferioridade

antropológica, em seus alarmantes índices de

mortalidade e em seus quadros nosológicos de carências

alimentares – beribéri, pelagra, escorbuto, xeroftalmia,

raquitismo, osteomalácia, bócios endêmicos, anemias

etc. – A penúria orgânica, a fome global ou específica de

um, vários e, ás vezes, de todos os elementos

indispensáveis á natureza humana.”

A ciência seria o instrumento credor do diálogo dos arautos com os poderes

públicos: os conhecimentos científicos da nutrição, um saber, um poder

ideológico capaz em si, de dimensionar o dever fazer na “politização” da

questão da alimentação e nutrição.

“Portanto, alimentação ou nutrição, será a chave da

sociologia da política, da moral. Será a chave da saúde

física e mental da humanidade. Será a da felicidade ou

do sofrimento. E escolher.”

27

Page 28: Manografia merenda escolar

A escolha pertenceria aos poderes públicos. Caberia ao Estado brasileiro

assumir o “combate a fome”. A política de alimentação a segurança do

progresso, a ciência a certeza da ordem. Para os arautos da nutrição, por

certo, a ciência da nutrição traduzia-se, na urgência de se “estudar o regime

alimentar do povo brasileiro” – a preocupação maior na palavra dita dos

ideólogos da nutrição.

“Para ser estabelecida uma alimentação” racional

fundada sobre princípios rigorosos científicos,

alimentação que constitui a necessidade mais premente

da vida e condição essencial para uma eficaz atividade

produtiva de um povo, numa determinada região, é.

Precisos [“...] estudos aprofundados da fisiologia da

nutrição, dos caracteres físicos e morais do povo dessa

região, de sua evolução demográfica...”

Segundo Coimbra,

“Os “alimentos racionais” eram principalmente farinhas

enriquecidas de cereais e leguminosas, como o milho, o

trigo, o arroz e a soja”.

“Dava-se preferência áquela ás quais eram adicionados

minerais e vitaminas e que estivessem prontas para o

uso, de cozimento rápido.”

O compromisso dito na confirmação da ciência da nutrição, afirmava a

necessidade de “educar para alimentar”. Esse slogan tomaria o sentido da

aspiração do progresso econômico, político e social do país. Educar para

alimentar, “pela palavra e pelo exemplo.”

O popular em alimentação e nutrição deveria ser banido dos cardápios do povo

brasileiro?. A farinha de mandioca, um exemplo? Possivelmente... Na ordem da

racionalidade nutricional, o trigo apresentava-se como um “alimento superior”.

Tomando por referencia década de 50, a instituição jurídica “merenda escolar”.

28

Page 29: Manografia merenda escolar

“Ressalta no Decreto lei n° 37.104 de 31 de março de 1955, Art.2°, alínea b, a

prioridade aos estudos destinados á melhoria do valor nutritivo da merenda

escolar e ao barateamento dos produtos alimentares destinados ao seu

preparo.”

Possivelmente um saber fazer na razão de proteger ou cuidar da alimentação e

nutrição escolar.

A ênfase discursiva na criação de instituição indicam que elas serviram ao

principio de educar o povo a comer; tira-lo, portanto, da condição inferior, (de

não saber se alimentar), uma ação que necessitava de muita campanha:

“Uma” campanha educacional alimentar foi empreendida

nestes últimos anos, graças aos esforços isolados de

nome de escol: Helian Povoa, Roquette Pinto, Moura

campos, Souza Lopes, Afrânio Peixoto, Austregésilo,

Alexandre Moscoso, Castro Barreto, Dante Costa,

Pompeu do Amaral, Josué de Castro e muitos outros.

Havia na palavra dos arautos um apelo ao Estado, o chefe da família brasileira,

o qual deveria proteger com ações político-governamentais a alimentação e

nutrição do “povo brasileiro”. Não obstante o planejamento político das ações

em alimentação e nutrição estava sendo afirmado pelos médicos/nutrólogos

durante toda a construção da legitimidade dos conhecimentos científicos da

ciência da nutrição no Brasil.

“... Todos aqueles que se interessavam pelos

verdadeiros problemas brasileiros para uma intensa e

tenaz ação social, de transformação de juízos errôneos e

arraigados, de luta contra a indiferença ou

incompreensão dos que tem a responsabilidade de zelar

pela saúde e bem – estar do nosso povo.”

Todo esforço estava sendo necessário para o fortalecimento de um conceito

político para a questão da alimentação e nutrição, na ordem da palavra

enunciada pelos médicos/nutrólogos, autoridades no assunto...

29

Page 30: Manografia merenda escolar

“Alimentação: uma Política”...

“O processo de construção de tal objeto segue um

caminho básico: investiga quais alimentos consome e

como as compõe em “rações” e refeições a população;

demonstra as suas “deficiências” e “inadequações” ao

padrão que a ciência prescreve como necessário, para

finalmente propor medidas favoráveis á “alimentação

racional”, incidindo diretamente sobre a população , pela

pedagogia da palavra e do exemplo, e sobre o aparelho

produtor e distribuidor de alimentos, ajustando sua oferta

ás necessidades percebidas ou imputadas.”

Mas, quais ditas necessidades alimentariam a “politização” da questão

alimentação escolares nas escolas públicas brasileiras?

Tentaremos mostrar estas questões analisando, nos três subcapítulos

seguintes, as condições de produção do discurso de “merenda escolar” nos

anos 50. O primeiro, identificará elementos da proposta de educar para

alimentar. Ela vem com toda a seriedade de quem deseja moralizar (sinônimo

de racionalizar) as relações sociais no processo de civilização do país.

No segundo, tentaremos também problematizar elementos discursivos da

proteção escolar. A “campanha de merenda escolar”, representaria o exercício

político do ato de planejar. Aqui racionalizar seria planejar.

O outro aspecto do desdobramento da ação discursiva, neste particular, é o

que chamamos de – capital alimentar. É dizer, a crença no fortalecimento da

indústria brasileira de alimentos para “combater a fome”.

“Há quatro séculos que se procura extinguir a população

brasileira pela sub”. “Ou má nutrição, mas o povo tem

sabido resistir nesta luta desigual, heroicamente, á

espera de melhores dias no porvir.”

Da palavra instruída na agenda política dos poderes públicos em alimentação e

nutrição teríamos aquela, dita em campanha de “merenda escolar”, como.

30

Page 31: Manografia merenda escolar

Sendo a mais promissora. Ela conseguiu sensibilizar e aglomerar vários

segmentos da sociedade brasileira.

“A escola era um lugar privilegiado para a reforma dos

hábitos e costumes alimentares nocivos, para promover a

educação alimentar, tanto pelo ensino, quanto pelo

exemplo [...] uma boa merenda, assim, é muito mais do

que um complemento alimentar, tornando-se um meio

para educar a criança e, através dela, a sociedade.”

A missão, ante de tudo, civiliza-lo; o faminto no caminho de encontro á escola.

Tira-lo da condição de homem primitivo para integrá-lo na nação brasileira,

criando uma “mentalidade” alimentar numa linguagem racional.

“Em primeiro lugar, é preciso exortar, pedir, obrigar o

homem do interior a elevar o seu padrão de vida,

sobretudo de alimentação”.

Para isso, é necessário que plante mais e crie mais, a fim

de não viver quase da miséria, sentindo fome,

principalmente devido á sua incúria, á sua incapacidade,

á sua ignorância.

Será que os pressupostos dessa pedagogia, seu significado, assumiriam o

lugar da moral e dos bons costumes, do tipo: nada de monotonia no cardápio;

sentar-se á mesa usando de garfo e faca, reconhecer a superioridade do trigo

sobre a mandioca?

Ou será que deveríamos ressaltar que as frutas importadas no sul do país,

seriam as “frutas nobres”? O exemplo da maçã, uva?!!! Será que uma

classificação neste porte explicaria o constrangimento dos escolares para

comer uma banana, ou chupar uma laranja como merenda na escola? Será

que estas questões teriam pertinência na realidade escolar?

31

Page 32: Manografia merenda escolar

Não obstante, o dito em “merenda escolar” acena, para considerar sempre que

possível os hábitos alimentares dos escolares, entretanto o seu fornecimento

tem priorizado historicamente a distribuição efetiva de alimentos

industrializados...

3.1 - A proteção do aluno das Escolas Publica Brasileira

Os arautos da nutrição não se furtariam um só minuto da responsabilidade do

dever fazer para alimentar o povo brasileiro. Se a educação era uma questão

moral, a alimentação, uma questão política.

Mas,

“O drama atual do Brasil, que é promover o seu

desenvolvimento, com sua escassa disponibilidade, em

ritmo acelerado e sem sacrificar as aspirações de

melhoria social do seu povo, constitui a pedra de toque

da acuidade política dos nossos dirigentes. A consciência

nacional desperta acompanha alerta o desenrolar da

odisséia de nossa emancipação econômica, com os seus

avanços e recuos, e dela participa de corpo e alma.”

Os arautos da nutrição não titubeavam em despertar o substantivo da questão:

o problema seria da planificação das ações alimentares, ou nas suas próprias

palavras.

“A falta de um adequado plano de política alimentar e o

defeituoso sistema econômico que há muitos nos regem

são as principais causas, não só da atual, mas de todas

as crises que temos atravessado.”

O verbo proteger credenciaria a palavra dos ideólogos da nutrição no processo

de institucionalização da “merenda escolar”: um passo decisivo na

modernização do país:

32

Page 33: Manografia merenda escolar

“...que se esteja a nutrição das crianças em idade escolar

mediante o desenvolvimento, em todos os paises latino-

americanos, de programa de alimentação escolar

baseados em princípios sólidos de nutrição.”

Emissários dessa tarefa, eles se postulam co-responsáveis, no poder dizer e

saber fazer pela promoção do bem-estar social da nação brasileira. O cuidar da

alimentação do outro deveria ser bem planejado, de acordo com a conivência

do chefe da família brasileira: o Estado, cérebro da nação.

“Influenciado pela função social da ciência e baseados nos depoimentos dos

inquéritos sociais; os poderes públicos compreenderam a necessidade de

cuidar seriamente do problema e de buscar-lhe soluções adequadas”. Deste

modo, surgiram sucessivas medidas e iniciativas públicas realizadas em

diferentes setores administrativos, visando a melhoria do estado de nutrição do

nosso povo. “É claro que estas medidas por mais oportunas que sejam estão

longe de obter a completa racionalização do problema.”

47 Idem 14, p.48

48 idem 5 toma 8, p. 35

33

Page 34: Manografia merenda escolar

A “concretização” da planificação do bem-estar social na área de alimentação e

nutrição é anunciada nos anos 40 quando foi criado o serviço de alimentação

da Previdência Social, o SAPS.

Na leitura dos dados discursivos produzidos na palavra de Josué de Castro,

identificamos uma dita racionalidade como sendo sinônimo do planejamento.

Nela, a instituição pública emergiria como um forte, um porto seguro. Citando

Frank Boudreau, Castro diz acreditar que:

“Para que o progresso da ciência seja benéfico e não

maléfico para a humanidade, precisamos pensar em

termos universais e construir para o nosso mundo,

instituições econômicas e políticas capazes de levar a

humanidade ao caminho da libertação da miséria, da

necessidade, das doenças e da morte prematura, males

que vem acompanhando o homem durante séculos.”

_____________________________________________________________

49 idem toma 16, p. 154

50 idem toma 1, p. 4

34

Page 35: Manografia merenda escolar

3.2 O capital alimento

O capital - alimento intitula a tentativa de inserirmos a palavra dos ideólogos da

nutrição no dito pelo poder público para a política econômica

desenvolvimentista do país. Nele a indústria era a possibilidade da sua

sobrevivência, no sentido de que:

“Luta contra a industrialização tornava-se, portanto, crime

contra a nação, pois essas posições apontavam para

destruição do organismo nacional”.

Fortalecer esse organismo – o Estado significava falar a linguagem da

racionalidade. Se a “alimentação racional” significou num primeiro momento

uma alimentação equilibrada, na qualidade dos seus nutrientes, a ênfase no

seu controle per capita parecia indicar como solução dos alimentos.

Por exemplo, na década de 40 tivemos a campanha das vitaminas. As

vitaminas eram denominadas de alimentos medicamentosos, uma poderosa

arma contra a fome dos micros nutrientes: vitaminas e minerais. Tais alimentos

deveriam ser consumidos pela população pobre como sendo um paliativo sua

carência alimentar. Até os dias atuais, circulam nas prateleiras das farmácias

brasileiras o triangulo alimentar medicamentoso indispensável a casa do pobre,

reconhecido sob o nome de fantasia – a Emulsão Scott, o calcigenol irradiado e

o Biotômico Fontoura,este ultimo o mais difundido comercialmente; composto

dos nutrientes minerais ferro (para o sangue) e fósforo (para a memória) numa

medida certa á cura do Jeca Tatu.

Antonio Mello, 1961, se mostrava enfaticamente contrario ao consumo de

vitaminas, numa briga pública contundente com os nutrólogos, mas, entretanto

se pronunciava como um árduo defensor da indústria dos alimentos, a qual

processaria a soja. Para ele, a soja iria ser o “caviar do pobre”:

“O nosso povo comera soja com facilidade,

provavelmente com prazer, com satisfação”.

35

Page 36: Manografia merenda escolar

Ele sequer escondia no seu modo de falar o entusiasmo com a produção

industrial do leite em pó desnatado; com as possibilidades da industrialização

da soja, como potencial alimento para o povo pobre brasileiro.

Algumas frases soltas se pronunciavam na fala dos ideólogos da nutrição no

sentido de afirmar o consumo de alimentos, diretamente da produção agrícola,

conforme recomenda a terceira conferencia sobre problemas de nutrição na

América Latina,

“... que os programas de alimentação escolar utilizem

sempre que possíveis alimentos locais e sejam feito

energéticos esforços para aumentar a produção de

alimentos adequados a estes programas.”

O “sempre que possível”, sinalizar a seqüência do texto no “dever ser dada

especial ênfase á fabricação de alimentos e misturas alimentares baratas”.

O principal alimento distribuído nos primeiros nove anos da campanha nacional

de alimentação escolar foi o leite em pó, fornecido a partir dos anos 60 pelos

Estados Unidos, através da Aliança para o progresso.

Acredita-se, porem, que esses alimentos recebidos como “doação ou em

condições muito vantajosas” pelos Estados Unidos corresponderia a fase

transitória onde o Brasil se estabeleceria. Mesmo porque estaria beneficiado

dele, não somente a produção leiteira recebendo incremento estatal para seu

desenvolvimento como também o cultivo da soja, e a sua transformação

industrial para consumo interno através dos programas sociais de alimentação

onde na década de 70 representaria o marco desta utilização.

Um outro argumento, para o consumo de alimentos industrializados, dizia

respeito aos países latinos que apresentam uma dita escassez de “alimentos

protetores” e que não estavam.

“...em condições de produzi-los em qualidade suficiente

dentro de um prazo razoável, poderiam se interessar pela

introdução de novos tipos de alimentos de origem

vegetal.

36

Page 37: Manografia merenda escolar

Particularmente ricos em princípios alimentares, para

cobrir as necessidades de seus grupos vulneráveis,

especialmente das crianças em idade escolar. É assim

que vários paises tem feito experiências no cultivo da

soja, com o fim de utiliza-la para melhorar a dieta

protéica da população e aproveita-la nos programas de

ajuda internacional.”

Encontramos dados que explicitam a partir dos anos 60, uma veemente defesa

futurista da indústria de alimentos.

“Os alimentos tenderão a ser pré-cozido, novos métodos

de conservação e de refrigeração surgirão para atender

ás exigências da coletividade.”

Em 1965, o General Walter Santos faz o seu pronunciamento também neste

periódico, publicando o artigo: “O papel das indústrias de Alimentação no

Desenvolvimento da Agricultura Nacional”, onde reivindica dos poderes

públicos a prioridade para atender o fomento á indústria de alimentos. Neste

mesmo ano é estimulado o desenvolvimento de produtos alimentícios no Brasil

a partir do Decreto lei Nº56. 551 de 9 de abril de 1965.

Já em 1969, a principal protagonista mulher do processo de “politização” de

questão alimentar Lisolette Ornellas defende a indústria alimentar no combate

á fome, acreditando que ela teria um papel importante no controle da “fome dos

nordestinos”:

“As condições adversas de clima no Brasil e as

distancias tornam um imperativo recorrer a recursos

artificiais para prolongar a vida de alimentos perecíveis,

que tenham de deslocar de um lugar para outro.”

A despeito do estabelecimento da indústria de alimentos no Brasil, a

distribuição de alimentos para a “merenda escolar” tem até os nossos dias

priorizados o fornecimento de alimentos industrializados.

37

Page 38: Manografia merenda escolar

Seriam as gestantes, nutrizes, crianças de 0 a 6 anos, escolares de 7 a 14

anos e trabalhadores de “baixa renda”.

O programa de Merenda Escolar seria destinado a atender á população de 7 a

14 anos de idade. A implantação deste programa continuaria sob a

responsabilidade do Ministério de Educação.

A intenção deste programa, explicitada no Decreto nº 77.116 de 06/02/76, é de

“proporcionar suplementação e educação a escolares de 1º grau matriculados

em estabelecimentos de ensino oficinas e filantrópicos.” Ele traz como objetivo

principal “melhorar as condições da nutricional e a capacidade de

aprendizagem e reduzir o índice de obsenteísmo, repetência e evasão

escolar...”

A “merenda escolar” é definida como aquela refeição que cobrirá 15% das

necessidades nutricionais diárias dos alunos das escolas públicas do ensino

fundamental brasileira.

Retomando a discussão sobre o dito em necessidades nutricionais, Bosi (88)

faz uma reflexão da relação orgânica entre o discurso da “nutrição”,

(reproduzido historicamente, em particular na formação do profissional

(nutricionalista), e a concepção das políticas de alimentação e nutrição no

Brasil). Sua reflexão está circunscrita na análise dos pressupostos

epistemológicos que fundamentam os estudos de nutrição. Ela identifica que as

fontes de dados bibliográficos utilizadas durante os cursos da graduação em

Nutrição no Brasil, os livros técnicos são de publicações predominantemente

norte-americanos. Ela analisa a produção cientifica em nutrição, sua

reprodução nos cursos de nutrição no Brasil, ou seja, destinado a formação de

profissionais nutricionistas.

E, sobre o debate das necessidades nutricionais da população brasileira nos

anos 70 e 80 teríamos uma preocupação dos principais estudiosos da nutrição

com o estado nutricional das populações pobre, em particular do norte e

nordeste brasileiro a qual suscita a tese de uma “raça de anões”. A tese que

movia o imaginário, dos sucessores ideólogos da nutrição, indicava para o

perigo iminente de uma desqualificação da espécie humana, uma sub-raça.

38

Page 39: Manografia merenda escolar

“O prof. Nelson Chaves, grande estudioso dos problemas

alimentares e nutricionais, chamava a atenção para o

surgimento, no nordeste brasileiro, de uma geração de

nanicos uma sub-raça, com manifestações fenotípicas

das carências nutricionais crônicas”. Josué de Castro

utilizava uma imagem bem sugestiva, classificando essa

gente biologicamente inferiorizada de “pôneis humanos”.

Capitulo III

4 “Raízes da Fome”

Percebemos que estudos produzidos sobre o tema fome, nas ultimas duas

décadas, enfocam-no numa abordagem predominantemente economista; em

diagnósticos das condições de nutrição de populações brasileiras, guardando,

entretanto, em si mesmo a herança biologicista da definição do conceito;

sentimos na sua tessitura elementos da palavra dos ideólogos da nutrição no

período de 30 a 60.

Uma publicação, que intitula este subcapitulo, o livro Raízes da fome, publicado

em 1985. Ele traz uma coletânea de textos do Simpósio realizado no ano de

1983, em homenagem a Josué de Castro no 10º aniversário de sua morte.

Nossa percepção na leitura desta publicação identifica um caráter

discriminatório na palavra dos intelectuais em relação ao sujeito da fome.

“Não é somente agindo sobre o corpo dos flagelados,

roendo-lhe as vísceras e abrindo chagas e buracos na

sua pele, que a fome aniquila a vida do sertanejo, mas,

também, atuando sobre o seu espírito, sobre sua

estrutura mental, sobre sua conduta social”.

Nenhuma calamidade é capaz de desagregar tão

profundamente.

39

Page 40: Manografia merenda escolar

E num sentido tão nocivo a personalidade humana como

a fome, quando alcança os limites da verdade inanição.

“Fustigados pela imperiosa necessidade de se alimentar,

os instintos primários exaltam-se e o homem, como

qualquer animal esfomeado, apresenta uma conduta

mental que pode parecer a mais desconcertante.”

Ouvir novamente esta enunciação, produzida por Josué de Castro em 1946,

agora reproduzida literalmente nos anos 80, nos leva a questionar sobre o

conhecimento das condições de produção do discurso de fome /desnutrição em

nosso país.

Quais reflexões teóricas têm sido produzidas sobre o tom desta palavra que

nos soa autoritária e discriminatória?

Tomando ainda o conteúdo do livro Raízes da Fome, arriscaríamos dizer que

seguimos tratando a discussão de fome, alimentando um conceito para o

sujeito (ser) da fome que, na nossa compreensão, toma o outro, o popular,

como inferior e incapaz de pensar os rumos políticos da sua condição humana.

“Há uma evidencia inferiorizarão biológica dessas

populações famintas.”

“A FOME é um fenômeno histórico que povos e nações

conseguiram erradicar e que outros povos e nações

vêem-na aprofundar-se como um mal que se alastra e

assola a sua gente, torna-a frágil e dependente.”

Também no sentido de compreender o significado da reprodução dos

conhecimentos em alimentação e nutrição, Bosi (88) busca estabelecer uma

relação entre a Ciência da Nutrição e a Política de Alimentação e Nutrição

contextualizada na década de 70.

A causalidade da fome /desnutrição estaria sendo explicada fortemente através

dos “Hábitos e preconceitos dietéticos”; da pobreza “ignorância”, infecções

parasitária ““...

40

Page 41: Manografia merenda escolar

Partindo do pressuposto de que a neutralidade cientifica não existe, ao

contrário, ou seja, a ciência tem um caráter fundamentalmente ideológico, ela

interpreta que os problemas nutricionais no Brasil. Abordados em particular na

formação do nutricionista, seguem sendo explicados a partir de um “esquema

positivista”, onde se estabelece uma linguagem técnica circular na ordem do

equilíbrio entre o agente etiológico (fome) como o hospedeiro (homem)

susceptível, num ambiente favorável (a sociedade brasileira).

Outro aspecto do dizer cientifica em alimentação e nutrição está

contextualizada nos anos70. Possivelmente no pânico do definir de uma nova

“desgraça da fome”: “Uma raça de anões”. Este é um título das matérias

apresentadas pela revista Retratos do Brasil, quando discute o tema fome e

política econômica.

Uma raça de anões

Em 1983, 70% das crianças do Nordeste são mais baixas

que o normal causa: subalimentação.

Em 1983, o médico e professor da Universidade Federal

de Pernambuco Malaquias Batista apontava a tendência

de surgimento de uma “raça de anões” nos paises do

terceiro mundo, inclusive no Brasil, em conseqüência da

subnutrição. Em seu trabalho, Batista utilizou critérios

internacionais de antropometria. Onde confrotam-se as

diferenças de peso e altura das crianças examinadas

com uma criança considerada padrão normal. Assim,

uma criança que tiver uma diferença que ultrapasse de

10% a menos do padrão. A subnutrição é considerada de

1º grau. Além de 20% segundo grau; e mais de 30%

terceiro.

Por esses critérios, apenas 30% das crianças do

nordeste tem crescimento normal; 50% estão no primeiro

grau da subalimentação; 17% no segundo e 3% no

terceiro.

41

Page 42: Manografia merenda escolar

Segundo ainda o professor, a altura média de meninos

de 5 anos de idade era menor nos paises pobres e

mesmo nesses paises. Existiam diferenças entre as

crianças de família pobres e ricas. Nas regiões urbanas

do Estado de São Paulo, por exemplo, a altura das

crianças mais ricas podia ser equiparada com a das mais

ricas dos paises desenvolvidos. Mas as crianças

paulistas mais pobres eram menores que as mais pobres

dos paises ricos.

Mesmo entre as regiões brasileiras há diferenças. No

nordeste rural, as crianças mais ricas tinham

praticamente a mesma altura das mais pobres da região

urbana paulista.

Constatou-se também que a diferença de altura nas

crianças pobres e ricas aparece, no geral, em todos os

paises pesquisados, mas é maior nos paises pobres .

Para o professor Malaquias Batista, isso provaria que o

problema da fome não está relacionado com

disponibilidade de alimentos em cada país e, sim com a

capacidade de renda que a população dispõe para

adquiri-los.

4-1 A Desnutrição e a Manutenção da Evasão e da Repetência Escolar

A problemática que instigou inicialmente a nossa curiosidade cientifica para a

construção deste trabalho, estaria inscrita na nossa leitura das publicações

veiculadas, em particular, na área de educação, por Collares e Moysés e

referidas neste capítulo. Elas tomam quase que unanimente a relação causal

entre a desnutrição e a evasão e repetência escolar. Tão enfático é esse dito

denunciante que chegamos a indagar sobre a relação entre o discurso de

“merenda escolar” e a manutenção das desigualdades sociais em educação.

Tentamos inicialmente compreender como esta relação poderia ser

demonstrada...?

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Page 43: Manografia merenda escolar

Há, nessas publicações, uma tentativa de explicar o discurso de “merenda

escolar”, a partir de uma suposta responsabilidade (dele) pela manutenção dos

altos índices de evasão e de repetência escolar em nosso país; uma “merenda

escolar” que anunciava que vai chegar, é esperada na escola, mas está

sempre atrasada e quando chega deixa a desejar = chega requentada, e com

palatabilidade suspeita.

Segundo Collares e Moysés (85,86 e 92) a desnutrição do escolar seria um

álibi para o professor, quando o aliena a uma compreensão mais totalizante da

determinação do “fracasso escolar”. Elas demonstram uma preocupação em

desmascarar o discurso da merenda escolar, chamando atenção para o papel

que este discurso criou no imaginário dos professores, tornando-os inflexíveis á

compreensão do papel das pedagógicas e da instituição escolar em si, na

manutenção da evasão e repetência escolar.

Para Collares (86),

“Tais discursos escamoteiam a realidade em dois níveis”.

Um, quando omitem os determinantes econômicos da

desnutrição e a necessidade de transformações da

sociedade; outro, quando preconizam a merenda escolar

como medida capaz de resolver também o fracasso

escolar, isentando a escola da responsabilidade e

impossibilitando esta mesma de se autocrítica.

Brandão et. Al. Identificam, em revisão bibliográfica (70 até 82) sobre evasão e

repetência no Brasil, que se tornou lugar na literatura produzida no Brasil sobre

os estrangeiros da escola elementar, apontar a desnutrição infantil como um

dos fatores responsáveis pelo fracasso de boa parte dos alunos nas 1ª serie do

1º grau.

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Page 44: Manografia merenda escolar

Este trabalho identifica também, que.

“Os altos índices de evasão e repetência vêm

atravessando todos os planos e investimentos em

educação fundamental, desde os movimentos mais

efetivos de implantação de um sistema público de ensino

na decada de 20”. Até os dias de hoje, quando o

Ministério da Educação define explicitamente a educação

do 1º grau como sua meta prioritária.

As pesquisas sobre a distribuição quantitativa da evasão no Brasil, segundo

Lima (1994), indicam que a evasão estaria presente em todas as séries do 1º

grau; sendo que este percentual se eleva nas séries mais avançada (4ª e 5

séries), onde se observa a saída do aluno da escola para “entrada no mercado

informal de trabalho”.

Este fenômeno, ainda citado Lima (1994), torna-se mais expressivo nas regiões

centro-oeste urbano e nordeste rural. Esta autora também nos informa que a

repetência, ao contrário,estaria distribuída em todas as regiões do país.

“... repetência não se limita às regiões desfavorecidas, ou

ás diversas camadas pobres da população brasileira,

mas existe também no sudeste urbano, nas famílias de

renda mais elevadas...”.

Neste mesmo percurso, Ribeiro (1993) apresenta uma importante análise

estatística da variação dos dados de evasão e repetência neste país. Ele

argumenta que, diferente do que vem sendo postulado pelo dado estatístico, a

ineficiência de nossa escola elementar não se dá por falta de vagas ou por

evasão precoce de alunos, mas pelas altas taxas de repetência do sistema.

Outro dado importante que este autor apresenta é que os escolares das

primeiras séries do 1º grau,

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Page 45: Manografia merenda escolar

“Mesmo os evadidos, cursam, em media, 6,4 anos antes

de desistirem, o que demonstram a enorme disposição

das famílias brasileiras em educar seus filhos [...] e

quando se evadem do sistema escolar o fazem, em

media, com pelo menos 13 anos de idade.”

Este quadro nos leva a questionar qual tem sido o papel do Programa de

Merenda Escolar na “redução” da repetência escolar?

Moysés et. Al. (1996) defende que a merenda escolar deva ser encarada como

uma refeição da criança que deve mantê-la alimentada durante o período em

que está na escola.

Elas entendem que a ênfase dada a questão da desnutrição como causa

central do “fracasso escolar”, torna possível o raciocínio de que a melhoria do

ensino estaria tão somente “dependente de uma alimentação adequada”.

Estas questões apresentadas por estudiosos da área da educação tiveram uma

participação importante na nossa decisão de retomar as condições de

produção do discurso de “merenda escolar” em nosso país, no sentido de

realimentar a reflexão sobre o ser da desnutrição, a imagem de famintos e o

dito “racionalidade” reproduzido em “merenda escolar”.

Conclusão

O percurso perseguido para dissertar o tema “merenda escolar” no colocou,

deliberadamente, de encontro com o desejo de tomarmos a palavra do nosso

pertencimetro nesta questão temática. Uma tentativa de sistematizar, na

presente iniciação cientifica, por um lado o sentimento de emoção do

experimentar-se na condição de ser de “merenda escolar” e, por outro lado o

sentimento de razão do poder dizer/ saber fazer em alimentação e nutrição, na

sociedade brasileira.

A formação em Ciências Naturais nos autorizava falar uma dada palavra, -

técnica, sobre este tema.

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Page 46: Manografia merenda escolar

Não obstante, insatisfeito com a predominante abordagem no aqui e agora do

seu dever ser (fazer mais e melhor pela qualidade do programa), tentamos

mostrar a necessidade de refletirmos elementos (palavras) constitutivos da sua

ação discursiva produzidos, em particular, pelos intelectuais e técnicos que

lidam com esta temática.

Neste sentido e acreditando poder colaborar com a sua discussão, no espaço

acadêmico, optamos por exercitar um caminho metodológico em analise de

discurso. Nele retomamos e tentamos problematizar as condições de produção

dita em “merenda escolar”.

Neste itinerário, identificamos na construção das palavras fome e

racionalidade, pistas para problematizarmos o dito em “merenda escolar” e, por

conseguinte, o processo de “politização” da questão da alimentação e nutrição

na sociedade brasileira.

Tentamos mostrar que as palavras fome e racionalidade, ambas, constitutivas

do sentido discursivo de “merenda escolar”, encerram um significado de

negação do sujeito (ser da fome – dito, beneficiado por este programa)

reduzindo-o a uma condição política inferior; neste tom, ele também

negligencia o confronto das contradições raciais no Brasil e fortalece práticas

políticas autoritárias, corporativistas e paternalistas.

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Page 47: Manografia merenda escolar

Referencias Bibliográficas

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saúde pública RJ1985

Brandão, Zaía et.al. Evasão e repetência no Brasil RJ: Achamé, 1982

Castro Anna Maria de. Prefacio. Raízes da Fome.

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Castro C. de Moura (org) O problema alimentar no Brasil. São Paulo: Vnicamp/

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Castro Maria H. Guimarães: ciências sociais. RJ, nº. 25, pp. 56-82 1988

Coimbra M. et.Al. comer e aprender:A história da alimentação escolar no Brasil.

Belo Horizonte INAE. MEC, 1982

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Freire, Paulo. Pedagogia do oprimido 2 Ed. RJ: paz e terra 1975.

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De Decca, Edgar. O silêncio dos vencidos. 2 Ed. SP. Brasiliense, 1984.

Guimarães, A.S. A racismo e auti-racismo no Brasil, novos estudos Cebrap nº.

43, pp. 26-44. Nov. 1995.

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