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RevelaesMagna Veritas um livro novo para a saga Anjo/Demnio, totalmente nico no sentido de no se tratar de um suplemento de RPG, mas sim de um romance, que ir trazer revelaes surpreendentes para praticamente todos os mistrios que permeiam Anjo/Demnio. Porm, pode a revelao trazer o pior? Originalmente, Magna Veritas foi uma aventura, Narrada por mim a meu grupo de jogadores e, na minha opinio, a melhor aventura que j mestrei em toda a vida. A histria deveria ter sido revelada em Underground Haven em meados do ano passado (2002), mas infelizmente um monte de problemas me atrapalharam e no pude seguir o plano. Agora, porm, Magna Veritas aparece como um romance, dando ainda mais profundidade histria original. Cerca de meia dzia de pessoas que me conhecem pessoalmente devem saber a histria, mas s os trs jogadores que participaram dela a conhecem a fundo.

O Fim est PrximoH dois mil anos, um Grande Lorde foi destrudo. Graas descoberta de um Arcanjo, o lar do inimigo pde ser encontrado e o Drago foi confrontado. O Drago tombou, seus gritos de angstia nos momentos finais atravessaram a criao, ecoando nas mentes de todo o mundo. A maior das guerra teve fim, mas a que preo? O que foi sacrificado para que houvesse paz? E se Leviathan no estiver morto? H 600 anos, o Inferno invadiu o den. Guerra uma vez mais, novas mortes e horror se seguiram. Novamente, o Arcanjo ergueu-se sobre os demais e trouxe nova luz. Um selo foi criado, as tropas infernais foram expulsas. O portal que unia os dois mundos foi trancado. O que os Infernais desejavam no Paraso? Qual o preo que foi pago para que este selo fosse forjado? H 150 anos, mais uma vez uma invaso ocorre. Novo sangue derramado, um Primus destrudo, seu grito mortal ressoa como a mais amarga derrota celeste. O campo de batalha subtamente se torna vazio conforme os demnios recuam, tendo sua misso fracassada aps poucos dias. Por que o selo erguido no protegeu o den? Quais foram os motivos por trs desta guerra? E onde estava o Arcanjo quando tudo terminou. H dois anos, pesadelos mais uma vez atormentaram milhares na Terra e nos mundos alm. Um urro, um tigre, um novo mistrio forma-se na Terra. Um outro Arcanjo sente a presena de seu mestre. Para encontra-lo, desaparece. Qual a ligao destes fatos? O ano agora 2002. Nas primeiras horas deste novo ano, um novo pesadelo surge para atormentar alguns poucos escolhidos...

Hora de Encontrar a VerdadePor muito tempo, estivemos no escuro. No sabamos nada, ramos apenas meros pees num gigantesco jogo de xadrez. Desde a morte de Leviathan, as regras deste jogo foram reescritas por algum. Algum que conhecia as regras, algum que tinha o conhecimento, a ousadia e a capacidade de inovar. Mas outro jogador pde compreender as novas regras e jogou de acordo. Magna Veritas a concluso deste jogo.

O Que Ler?Para compreender Magna Veritas, voc precisa compreender bem Anjo: A Salvao e Demnio: O Preo do Poder. Mais do que isso, porm, voc precisa ter as pistas. Precisa buscar os mistrios, fazer-se as perguntas corretas. Se voc precisa refrescar sua memria, sugerimos que leia: Em Anjo: Captulos 2, 3 (extremamente importante), Apndice 4 e a Carta de Asphael (no final do livro). Em Demnio: Captulos 2, 3 e Apndices 3 e 4. Em Livro dos Feudos: Captulo 3 e a parte sobre os Luciferite. uma pena que eu no tenha sido capaz de fazer Cados, pois mais pistas estariam presentes naquele livro. Se uma edio de Cados algum dia puder ser feita, ela se passar APS os eventos de Magna, e no antes como eu originalmente desejava. Uma vez que voc esteja familiarizado, pelo menos um pouco, com Anjo e Demnio, prepare-se para ler Magna Veritas...

MAGNA VERITAS Captulo 1: Ecos do PassadoDatas como esta realmente provocam alegria e esperana em muitos. o smbolo da passagem, o comeo do novo, o fim do velho, a chance de evitar repetir os erros do passado e buscar um novo e melhor futuro. Embora o mundo seja divergente em tudo, h uma grande quantidade de pessoas que, sem dvida, esto comemorando hoje, nas mais diferentes culturas e fusos horrios. Posso imaginar os fogos de artifcio iluminando as metrpoles da Terra quando o relgio local atingir a meia-noite. O ano de 2001, o primeiro deste milnio, ter acabado, e as esperanas por um ano melhor e mais farto iro se acender. Faz parte da natureza humana ter esperana e expressa-la com alegria. Isso bom, algo louvvel. Embora em pocas passadas eu tambm me contagiasse com essa alegria, a idade me tornou diferente. Ainda fico alegre pelas pessoas, mas de certa forma... quando se v o passar de um sculo diante de seus olhos, como se um ano fosse algo to... irrelevante. Por isso, eu me mantive aqui, empenhado em meus estudos. Tenho certeza que milhares danam e cantam nas avenidas de Libertatis, rezam e festejam ao som dos sinos de Prstina ou se admiram com o cu iluminado por fogos em Tiaohe Damen. Mesmo entre os celestes e as almas dos mortos h essa fasca de esperana, de comemorao, provocada pela passagem de um ano e o comeo de um novo ciclo. Eles devem se perguntar. Ser 2002 melhor que seu antecessor? Mas por mais contagiante e vibrante que seja essa alegria, eu prefiro me manter no silncio esta noite. Mesmo nos dias mais tranqilos, a biblioteca de Sans Vidya, meu lar nas profundezas de Libraria, ecoa vozes e passos, vindos da atividade constante de meus companheiros Perquiratores e de outros estudiosos, tanto imortais como mortos, que tm o acesso a este centro de conhecimento. Hoje, porm, h um silncio ainda mais profundo que o normal, tornando minha percepo mais aguada e minha concentrao mais recompensadora. Hoje, as profundezas de Libraria esto esquecidas. O imenso conhecimento guardado nesta e em outras bibliotecas tornou-se, por hora, suprfluo. A alegria contagiante mais importante neste momento de mudana. O silncio no absoluto, porm, pois h pequenos sons que o perturbam. Os sons que vm do folhear de pginas e de ps cautelosos e calmos que percorrem os vastos corredores de minha biblioteca. Conforme folheio as pginas deste livro, noto quanto conhecimento pude adquirir em meu sculo de vida. Embora dos mais de dez mil livros, pergaminhos, tomos, documentos e cartas guardados neste templo de conhecimento eu no tenha lido nem um dcimo, a cada novo livro que me disponho a estudar, j conheo pelo menos o bsico sobre seu assunto. Alguns me consideram um sbio, mas fico a imaginar o quanto podem conhecer aqueles que me superam em idade e experincia. Se para mim o mundo parece claro, como os olhos de um Arcanjo milenar podem observar os acontecimentos? Se para mim, com um sculo, fcil prever o que uma pessoa pensa ou como reagir a cada situao, o que podem predizer os senhores de meu Clero, que dedicam-se eternamente busca do conhecimento? em meio a essas indagaes que os tmidos ps que percorrem Sans Vidya chegam a mim. Ergo o rosto e recebo com um sorriso um de meus ajudantes. Nicholas foi um cientista canadense em vida e, como eu, dedicou-se ao conhecimento por toda a vida e at mesmo aps ela. Ele no se tornou Celestial, porm, mas contentemente se disps a estudar todo o conhecimento que pudesse ter em mos. Foi por isso que aceitei que se tornasse um dos bibliotecrios de Sans Vidya. Senhor Nicodemus, no vai comemorar o ano-novo? Estou velho para isso, Nick, velho demais, respondo enquanto fecho o livro, devidamente marcando a pgina na qual parei. Fico alegre pela data e estou comemorando minha maneira, porm. Levanto-me da cadeira, ainda sorridente, enquanto coo meu queixo e meus dedos encontram minha barba curta, porm grossa. Pego o livro que lia em mos e me aproximo de Nicholas, tocando seu ombro e continuando a conversa. E voc? jovem, tem bastante a comemorar. Por que no subiu a Prstina ou Libertatis e se uniu multido festiva?. Eu no acho que esteja velho para isso, Philipe. Ele sorri, sabendo que estou sendo sarcstico. Minha aparncia de meia idade sim, mas tambm emana vigor. Ainda tem vigor e muita fora... Mas eu... Bem, eu no sei. meu primeiro ano-novo depois do acidente. Ainda ... estranho... pensar em comemorao. Fico pensando em minha esposa e meu filho, sabe? Ainda sinto muita, muita saudade.... Meu sorriso logo desaparece, meu rosto assume uma feio mais sria, porm compreensiva. No tem sonhado com eles? No tem orado por eles, Nicholas?. Sim, eu tenho. Ento confie em seus sonhos, acredite em suas oraes. Enquanto voc os amar voc saber se esto bem. E se algo acontecer, lembre-se de onde voc est. Sempre haver algum a quem pedir ajuda. Nicholas sorri de leve, meio envergonhado. verdade, desculpe-me pela choradeira. Novamente sorrio, um pouco mais entusiasmado: Desculpar-se por se preocupar com algum que ficou para trs? No se culpe por isso. Venha, j que est aqui em busca de conhecimento, vamos conversar e fazer nosso prprio anonovo! Incrvel como uma simples conversa pode melhorar nossos nimos. Mesmo com misses to rduas e deveres to gigantescos, ainda podemos sorrir simplesmente por termos companhia. Puxo uma cadeira para Nicholas e, mesmo

antes que precise pedir, ele senta-se. Enquanto volto cadeira na qual estava originalmente sentado, ele se dispe a perguntar: Se no for me intrometer, senhor, posso perguntar que livro este que est lendo?. um velho manuscrito, respondo. Fiquei extremamente surpreso ao encontra-lo. um dirio antigo escrito por um dos combatentes da Primeira Grande Guerra, um Anjo chamado Neb-seshet, na poca um Trono dos Veritatis Perquiratores. J me explicaram sobre essas guerras, as Quatro Grandes Guerras. Mas no as compreendo. Fico imaginando a viso de anjos e demnios lutando, mas simplesmente no consigo visualizar algo assim. Como poderiam guerrear? So como as guerras humanas?. Eu infelizmente posso me apoiar apenas nos relatos, Nicholas, pois sou jovem demais para ter participado de qualquer uma delas... Mas tais batalhas mais pareceriam gigantescas guerras medievais. Os relatos de Neb-seshet so impressionantes, suas descries so vvidas... Estar numa destas batalhas como estar em um turbilho de caos. Nebseshet participou da guerra por mais de 700 anos. No comeo, eram pequenas guerrilhas, depois foram crescendo, at o clmax, a grande batalha que ps fim a tudo. A morte de Leviathan. Sim, este foi o marco que finalizou a guerra. Estou no momento lendo as passagens que precedem a batalha de Dur Sharrukin, onde tudo terminou. Neb-seshet descreve vividamente... Penso naqueles momentos. Como seria saber que, em 30 dias, voc estaria arriscando sua vida para eliminar um mal ancestral?. Leviathan era to poderoso assim? Eu no entendo ao certo o que significa esse poder. Fito os olhos de Nicholas por um breve instante... De fato, a palavra poder parece to efmera. As pessoas pensam em poder e imaginam dinheiro e influncia. Para algum que nunca viu um milagre ou uma manifestao de poder celeste, a idia do poder mstico, da centelha divina, pode parecer inacreditvel. Estendo a mo sobre a mesa, abro-a com a palma voltada para cima, e luzes e imagens comeam a se formar, mostrando tempestades e tormentas. Ento, fechando meus olhos, respondo a Nicholas: verdade, voc nunca viu uma demonstrao real do poder que mesmo o menor dos Celestiais pode possuir. Imagine as grandes lendas, Gabriel, Rafael, Fanuel... Imagine cada conto bblico em que fogo caiu dos cus ou os mares se abriram. Imagine tempestades torrenciais, terremotos e batalhas que podem nivelar montanhas. Esse o poder que possumos. Cada poder divino das mais diversas lendas de certa forma possudo por ns, em menor ou maior grau. Agora pense nos Primi, que possuem esse poder, essa centelha de divindade, to imensa que ofusca qualquer um de ns. Sequer podemos compreender as capacidades de um Primus. Leviathan, o Lorde do Sangue, Senhor da Guerra, o Grande Drago... Ele era como um Primus para o Inferno. Voc pode imaginar quanta destruio um nico ser destes pode causar? Ao abrir os olhos, noto Nicholas impressionado e pensativo. E como enfrentaram tal ser?. Ele mal conseguiu gaguejar a perguntar. Imagine a poca, Nicholas. Era cerca de 330 antes de Cristo. Roma mal engatinhava, os Persas dominavam o Egito e a Mesopotmia. As antigas glrias do passado haviam decado. Estvamos em guerra h 1500 anos, o mundo estava coberto de sangue, tanto celeste como demonaco. Ns fizemos a Babilnia decair para destruir os cultos infernais, os demnios contaminavam a Prsia e corrompiam nossa influncia sobre as grandes religies. Geraes aps geraes de Celestiais renasceram neste tempo, e nunca tinham conhecido nada alm de guerra, caos, morte. Numa tentativa de trazer nova luz ao mundo, o den influenciou e fortaleceu os Macednios, que ento, atravs da conquista, trouxeram um pouco de unio e paz no mundo. Nicholas nada falou, continuou apenas a ouvir minha histria. Eu puxo as palavras da memria, tentando lembrar da lio que meu prprio mentor me deu h cerca de um sculo. Estranhamente, as palavras so claras na memria, e meus lbios no tm dificuldades em emiti-las: Foi nesta poca que Uriel-chamado-Veritatis retornou de uma de suas longas viagens, trazendo uma vez mais seu conhecimento para ns. Foi ele quem desvendou os mistrios acerca dos pesadelos que todos tiveram sculos antes. Foi ento revelado que Leviathan, Lorde do Sangue, estava no reino dos mortais e ocupava o corpo de Nabucodonosor. Ele estava escondido nos subterrneos mais profundos de Dur Sharrukin, na antiga Assria, e ali reunia um exrcito de demnios, servos mortais e magos, para realizar um rito que abriria as portas da Terra para o Inferno. Paro por um instante. Novamente observo a expresso de Nicholas, cuja ateno est voltada inteiramente para mim. Continue, ele pede. Um plano ento se formou. Eu pego o livro e abro algumas pginas antes de onde parei de l-lo e, ento, repito as palavras do Anjo Neb-seshet, ento Trono dos Veritatis Perquiratores: Desde que surgi no den, esta loucura tem acontecido. Guerra, batalhas, luta, sangue, morte, dor... Eles dizem que isso perdura por 1500 anos, quando os infernais comearam a tomar toda a regio entre o Tigre e o Eufrates. Em vida, sempre disseram que minha nova vida seria de paz, mas no . Eu tenho lutado h 700 anos contra cultos demonacos e imperadores guiados pelas mos infernais. Por isso, acima de meus desejos pessoais, de meu sonho em saber e descobrir mais sobre o mundo, tive de aprender a lutar e desenvolver habilidades em combate, pois nunca saberia quando precisaria delas. Os mais antigos, aqueles que respeito por demonstrarem estar acima de tudo, pela fasca de esperana que tm em seus olhos, pela sua sabedoria e seu imenso poder, dizem que nem sempre foi assim. Houve uma poca de relativa paz, em que as disputas entre Paraso e Submundo eram poucas, quando o objetivo no era matar o inimigo,

mas guiar os homens. Os Antigos sonham com o retorno desses tempos, com o fim desta guerra insana que ocorre nas sombras do mundo. Alguns se recordam dos pesadelos. Eu mesmo no consigo esquece-los. Pesadelos que nos atormentaram h tanto tempo atrs, mas nunca deixaram minha memria. Sonhos de sangue e dor e gritos. Diziam que algo estava caminhando entre os homens. Algo antigo e maligno, terrivelmente poderoso, algo que nunca tnhamos enfrentado antes. A guerra j ocorria naquela poca, mas se intensificou, conforme Trevas cobriram o mundo. Os cultos infernais proliferaram por Babel. E houve ainda mais sangue derramado. Muitos anos se passaram. Quantos? Duzentos? Trezentos anos? No consigo me lembrar. O fim de Babel no havia tambm terminado com os cultos? Por que as guerras continuaram? E tudo tem sido assim. Sangue, morte, dor, num ciclo interminvel. Precisamos eliminar o Grande Mal que caminha entre os homens. H pouco mais de um ms, porm, ele retornou, ou assim dizem. O dcimo Primus, Grande Uriel guiado pelas asas da sabedoria, senhor dAqueles que Procuram a Verdade, finalmente voltou, trazendo consigo ventos de esperana e sussurros de paz. Ele trouxe o nome deste mal que contamina o mundo e inspira guerra. O nome deste mal, deste Senhor do Sangue, Leviathan, e ele se esconde nas catacumbas de Dur Sharrukin, onde antes o povo de Ashur tentou criar sua capital. Pulo algumas passagens, para ir mais diretamente ao assunto: Ento, finalmente, as notcias comearam a chegar a nossos ouvidos. Seja em Prstina, em Tiaohe Damen, em Sancta Turrim ou nas incontveis vilas e vilarejos, a grande notcia se espalha. Haver 30 dias de silncio, e ento as Trombetas tocaro. Nestes 30 dias, cada um que se voluntariar deve se preparar. Em breve, despedirei-me de meus entes queridos e resolverei minhas questes pendentes, pois talvez eu jamais retorne. O Portal est sendo criado, os preparativos esto sendo feitos. Dizem que todos os Primi se reuniram, algo que s ocorreu quando o den foi formado e quando o Amaldioado Decaiu. Sero 30 longos dias. Ao fim deles, as Trombetas tocaro. E quando isso acontecer, vir uma grande chuva, uma tempestade de gua e troves, sangue e o som do choque de metal contra metal, lavando Dur Sharrukin e o mal que est l. Esta ser a batalha que terminar com todas as guerras. E, para os sobreviventes, comear uma nova era de paz. H um silncio prolongado, incmodo, assim que termino de ler. Nicholas quer saber mais, enquanto eu fico pensativo... Como se imagens do passado inundassem minha imaginao e tomassem todos os meus pensamentos. O que seria saber que, em trinta dias, tudo mudaria? Eu me viro para Nicholas, voltando a conversar: O plano celeste consistia num ataque repentino, ao mesmo tempo em que a Macednia atacaria Perspolis, capital da Prsia, assim dividindo as foras infernais e pegando seu lder de surpresa. E como foi a batalha? Ningum foi obrigado a ir, Nicholas. Mas, segundo Neb-seshet, dezenas de milhares compareceram ao final dos 30 dias. Eles se reuniram em Prstina, na Cpula Sancti, e ali foi aberto, ao som das sete trombetas, um portal para os cus sobre Dur Sharrukin. Segundo o relato, uma grande tempestade encobriu o portal, dando passagem livre para que o exrcito divino o atravessasse. Logo em seguida, o exrcito descendeu dos cus, em meio tempestade... Nas palavras dele: como se chovesse luz, fria e gritos de guerra, ns descemos em direo a uma grande montanha. Uma montanha? Mas Dur Sharrukin no era uma cidade?. Parece que a entrada para as catacumbas sob a cidade estava no sop desta montanha. Pelo menos o que indica a passagem... Nicholas parece entusiasmado, impressionado, como se ouvisse um conto pico. No se contendo, ele me apressa em continuar: E o que ocorreu depois?. Eu ainda no terminei de ler o relato, respondo, folheando as pginas que faltam do livro, cerca de um quarto do mesmo. Mas sei que eles confrontaram um exrcito demonaco nas profundezas e, enquanto as foras do den e do Inferno chocavam-se, Gabriel confrontou o drago, Leviathan, num embate que fez a terra tremer. O drago foi decapitado e seu grito ecoou... Dizem que, por semanas, pesadelos a respeito do ocorrido se repetiram, atormentando mortais e imortais, mortos e vivos. Os urros do Leviathan morto demoraram a cessar, mas no fim, o den prevaleceu. Nicholas leva mo ao rosto, um tanto descrente. Isso inacreditvel... Parece... to irreal. Conte isso queles que lutaram. Voc ainda pensa como um mortal, ainda quer respostas e solues racionais para tudo. A idia de um exrcito se mobilizando e descendo dos cus para confrontar monstros nos subterrneos da Terra pode parecer absurda, mas para mim assustadora. Eu no sei se teria coragem de lutar numa guerra como esta. Nicholas se levanta, lentamente. Voc tem razo... assustador. Ser que, aps voc ler esse livro, eu poderia toma-lo emprestado?. Com um leve sorriso, respondo-o: Esse o tipo de livro que abre muitas perspectivas novas. Ser um prazer empresta-lo!. Obrigado, senhor. Com licena, irei procurar algo para ler. Sabe, por um momento, tinha me esquecido que ano-novo.... verdade! Eu tambm tinha me esquecido! Rio um pouco. Bem, v l... voltarei minha leitura.

Nicholas se afasta, enquanto meus olhos voltam a percorrer as pginas do livro, buscando o ponto em que parei. Reinicio minha leitura, atentamente acompanhando as passagens que narram o vasto salo subterrneo em que o primeiro choque entre Cu e Inferno se deu naquele dia. Fico a imaginar dezenas de milhares lutando nas profundezas da terra, num salo to gigantesco. Prossigo lentamente, leio os relatos das hordas de mortos, demnios e monstros, chocando-se contra a tropa celeste, a queda de companheiros e o avano das tropas pela escurido. Ento, aps algumas pginas de leitura, finalmente as tropas alcanam os limites do salo, o imenso porto que leva a nveis ainda mais profundos da imensido negra de Dur Sharrukin. Ali, as tropas encontram mais uma horda inimiga e Neb-seshet descreve como um nico demnio, um cavaleiro negro, montado sobre uma besta de olhos de fogo, chama-lhe a ateno. Atrs da coluna adversria, meus olhos encontraram um nico infernal, apenas observando o grande conflito. Um cavaleiro de armadura negra, armado com uma poderosa espada to comprida quanto a altura de poderoso Gabriel, e portando um imenso escudo coberto por espinhos pontiagudos, seu rosto escondido por um pesado elmo de osso e metal, montado sobre um cavalo baio to escuro quanto a noite, cujos olhos emanam fogos que s podem vir do Inferno. Porm, mal a batalha comea, ele recua, atravessando os grandes portes adiante. Ningum o segue, mas a horda sob seu comando avana urrando furiosamente. Mal termino essa passagem, sinto um cansao repentino. Tento ler adiante, mas minha concentrao some por um instante. Os olhos piscam e de repente, sinto-me chamado por algum. Minha conscincia some e ento noto que, mesmo estando consciente, no h mais corpo. Estou sonhando? Ento, na escurido, eu tenho uma revelao. Um raio atrai minha ateno, eu olho e vejo uma grande tempestade. Seus raios iluminam um deserto rido. Uma voz de trovo ecoa: Olhe o passado e o futuro. Ento, diante de meus olhos, as nuvens da tempestade se abrem, e o exrcito celeste desce rumo montanha adiante, como uma chuva de luz que ilumina a noite e afasta as trevas. Ouo tambores invisveis de batalha e vejo, no topo da montanha, o Cavaleiro Negro montado na besta de olhos de fogo, observando silenciosamente o avano do exrcito de luz. Mas ento, ouo gemidos de dor e gritos de dio. Olho em outra direo e vejo dois anjos aprisionados num deserto. Um acorrentado pelas mos, sua corrente prendendo-o a um teto invisvel. Ele no tem foras para sequer manter-se em p, sendo mantido erguido apenas pela corrente que o segura. Suas asas esto dilaceradas, seu corpo inteiro sangra por grandes marcas de tortura. Seu rosto cabisbaixo fita o solo, sem foras para erguer-se, embora ele deseje falar algo. Ento olho o outro anjo, e o deserto sob seus ps agora alto como uma montanha. Suas asas negras e ptridas abrem-se e ele debate-se contra as vrias correntes que prendem sua cintura, braos e pernas ao cho. Ele grita de raiva e frustrao, mas ouo apenas urros animalescos. Ento, por fim, blasfmias ecoam, trazidas pelo vento. Volto minha viso para uma nova pessoa, um homem velho e cansado, vestindo trapos, gritando em desespero. Eu no pedi por isso, ele repete. Trevas o cercam, mas vejo-o claramente como se ele emanasse luz. Ouo ento um novo rugido e viro-me uma vez mais. Sobre uma montanha, um tigre urra furiosamente, trazendo consigo nuvens e troves. Ele fita o velho indefeso, que se contorce no cho, gritando novas blasfmias. O tigre ento avana, pronto para devorar o velho. Eu grito para impedi-lo, mas no tenho corpo. No tenho braos para segura-lo, nem pernas para correr em auxlio do homem indefeso. Nada posso fazer a no ser gritar... Gritos que se perdem em meio aos troves da tempestade. Em desespero, vejo finalmente a ltima revelao. Em meio a fogo e dor, anjos e demnios lutando, o sangue divino e profano caindo e lavando a terra. E, neste momento, ouo mais um urro. Um urro de drago, que faz a Terra tremer e meu sangue ferver. um urro de agonia e dor, clamando por vingana, pedindo por guerra. O urro do Leviathan. Acordo gritando. Noto que estou cado no cho, dezenas de livros sobre mim. Luto para sair dali, removendo os livros com toda a fora que posso reunir. Levanto-me ofegante. Sinto agonia, desespero, como nunca senti antes. Olho ao redor, as luzes emanadas pelas rochas de Sans Vidya ajudam a minha viso. As prateleiras esto cadas, os livros espalhados, as paredes esto rachadas. Estou sonhando? Ouo Nicholas pedir por auxlio e corro em sua direo. Ele est soterrado por livros, preso por uma estante que caiu. Mesmo no tendo as habilidades fsicas de Celestiais mais guerreiros, esforo-me para erguer a estante tempo o suficiente para que Nicholas saia. Felizmente, ele no est ferido. Nicholas, o que aconteceu aqui?. Eu no sei, senhor... Ouvi um urro e ento o cho tremeu. Tudo comeou a desabar de repente. Quando menos percebi, estava cado. O que pode ter acontecido? Seria o livro? No, no h magia alguma nele. Eu teria percebido. O livro apenas uma coincidncia. Alguma coisa despertou. Sinto que h alguma coisa... em Libraria.

Captulo 2: Os SeteEla entrou timidamente, olhando ao redor minha procura. Ao invs de me encontrar, porm, seus olhos apenas viam a confuso causada pelos tremores horas antes. Meus assistentes, chamados no ltimo minuto, tinham

acabado de deixar as festividades de Ano Novo, e j estavam aqui, reerguendo as estantes cadas e tentando organizar as centenas de livros espalhados pelos corredores de Sans Vidya. Acenei, da passarela que leva a meu escritrio, um nvel acima dos corredores, onde costumo ficar para observar o movimento na biblioteca. Os olhos verdes de Karina perceberam rapidamente, e ela acenou em resposta, com um sorriso. Ela apressou o passo, percorrendo o mais rpido possvel os corredores, em direo ao escritrio. Ao mesmo tempo, desci as escadas que levam passarela, para encontra-la ainda no corredor. Philipe, ela disse, assim que estava prxima a mim, o que aconteceu aqui? Novamente, seus olhos voltamse para as pilhas de livros cados, as paredes rachadas e estantes quebradas. Tremores de terra, respondo, enquanto pego em sua mo e vou subindo novamente a escada, fazendo-a vir comigo. Seis tremores, para dizer a verdade. O primeiro foi o mais violento e nos pegou desprevenidos. Pelo que andei vendo, a situao est parecida em toda a regio inferior de Libraria... Mas as pores superiores e a superfcie nada sofreram. Mas no isso que voc veio fazer aqui, no ?. . Aconteceu algo muito estranho esta noite. Um sonho. Olhei-a seriamente. Eu sabia o que ela falaria em seguida, ento preferi tomar a iniciativa: Os anjos invadindo a montanha, os dois Celestiais aprisionados, o tigre e o velho louco. O urro do drago. Eu tive o mesmo sonho, Karina, apenas o final foi diferente. Karina assustou-se. Como sabia que eu tinha sonhado a mesma coisa, Philipe?. Voc no a primeira a me procurar hoje. Assim que chegamos passarela, abro a porta para o escritrio, onde um homem espera sentado mesa, lendo um livro. Assim que entramos, o homem fita silenciosamente Karina. Karina, este o Anjo Lo Wang, Virtuoso dos Kage. Wang, esta a Anjo Karina Ariel, Ofanim Supervivente. Wang levantou-se, ainda silencioso, e aproximou-se. Seu olhar era frio, sua expresso, um tanto sria. Ele um homem baixo, no mais alto do que Karina, e de constituio gil. Seus cabelos e olhos negros combinam com a roupa negra que veste: trajes de cores escuras, um misto de quimono e capuz. Ento, abaixou a cabea, em sinal de cumprimento recm-chegada. um prazer conhece-la, srta. Ariel. Karina retribuiu com um sorriso. Pedi que os dois se sentassem, e ento virei-me para Karina: Wang chegou h algumas horas, relatou o mesmo sonho que eu e voc tivemos, mas o sonho dele terminava diferente do meu. Aps o urro do drago, Metatron apareceu num cu escuro, diante da imagem de Cristo de braos abertos. E o Guardio pediu que Wang me procurasse. Karina balanou positivamente a cabea enquanto se sentava. Sim, isso mesmo. Era um Guardio diferente dos outros. Tinha asas de fogo e uma coroa sobre a cabea, e sua voz era indescritvel. Acho que era Metatron. No sei com certeza, pois s tinha ouvido falar dele, nunca o tinha visto. Wang, j sentado, abaixou a cabea. Apoiando os cotovelos na mesa, colocou as mos unidas diante do rosto, sussurrando. Eu tambm jamais vira Ele em meus sonhos. Mas pude reconhece-lo como o Rei dos Cheng-huang. Eu sabia que precisava procurar Philipe Nicodemus. Demorei a chegar aqui, pois nunca tinha ouvido o seu nome antes, Arcanjo. E nisso h algo interessante, respondi. Voc diz que demorou a me encontrar, mas chegou aqui menos de meia hora aps eu ter o sonho. Karina provavelmente veio imediatamente, mas chegou uma hora aps voc. Karina no parecia entender meu raciocnio. Bem, sim, eu vim imediatamente. Apenas arrumei minhas coisas, pus tudo na mochila e vim correndo para c. Eu estava numa vila prxima a Nairbi, no Qunia. Acabei caindo no sono, acordei meia-noite por causa do sonho. Imagino que outros viro me procurar, disse. Os sonhos esto ocorrendo na passagem do ano, mas isso est acontecendo em momentos diferentes, de acordo com os vrios fusos horrios. Acredito que Wang teve o sonho antes mesmo de mim. Wang, sem me fitar diretamente, perguntou, novamente falando baixo e friamente: O que acha que isso significa?. Algo grande. O qu exatamente, ns temos que descobrir. Mas estes tremores de terra no so coincidncia. Karina tirou a mochila das costas e a colocou sobre a mesa. J sabe o que faremos agora?. melhor esperarmos que outros cheguem. Tenho certeza de que viro mais. Eu acho que deveramos encontrar a fonte dos tremores, Wang murmurou, ainda de cabea baixa. Prefiro esperar que pelo menos mais dois ou trs cheguem, respondi. Se no Qunia o ano novo acabou de ocorrer, ento faltam cerca de 14 horas para que ano novo ocorra em todo o mundo. Vamos esperar 18 horas para que os outros tenham tempo de me encontrar. Faam o que quiserem neste perodo e ento retornem aqui. Assim que todos estiverem reunidos, vamos procurar a origem dos tremores. D-me algo para ler, disse Lo Wang, levantando-se. No tenho nada a fazer neste tempo. Karina tambm se levantou. Tambm no tenho muito o que fazer. Queria tomar um banho e trocar minhas roupas, depois devo ficar aqui na biblioteca, talvez dormir um pouco... Apontei para a porta dos fundos do escritrio. Ali ficam meus aposentos, mas acho que voc j conhece bem o lugar, no? Sinta-se em casa, Karina. Karina sorriu e se afastou, enquanto Lo Wang se afastou, descendo de volta biblioteca. Eu mesmo me sentei, tentando juntar as peas deste quebra-cabeas, mas a verdade que sequer tinha pistas suficientes para monta-lo. Algo tinha causado os sonhos. Algo perigoso o suficiente para fazer Metatron, Rei dos Guardies, se manifestar nos sonhos

de muitos, para que me procurassem. Por que eu? Serei eu o centro disso tudo? E aquilo que causou os sonhos... Seria a mesma presena que senti em Libraria, no momento do tremor? As horas foram passando e novas faces adentraram minha biblioteca, todas trazidas pelo sonho. Alguns eram antigos conhecidos, como a doce e cheia de vida Karina, outros eram desconhecidos, que chegaram a mim graas minha fama entre os Perquiratores. O primeiro surgiu menos de uma hora aps Karina me procurar. Um homem forte e vigoroso, de barba grossa e cabelos negros como a noite. Seus olhos brilhavam com sabedoria e suas roupas, num claro estilo rabe, denunciavam sua filiao aos Malaki. Malaki Adb Al-Malik, Hashmal Bin BaytNamus Allah, como ele se apresentou, ou Anjo Abd Al-Malik, Trono dos Cuique Suum, como ns o chamaramos na Corte Ocidental. Um homem de f, no qual pude sentir uma fora que ia alm de seu poder fsico. Al-Malik descreveu seu sonho, idntico aos dos demais, e sua certeza de que uma grande tragdia se aproximava. Oferecendo sua sabedoria e fora, ele concordou em esperar que outros viessem at mim antes que agssemos. Horas mais tarde, um homem jovem, saudvel, de cabelos louros e olhos azuis, adentrou Sans Vidya, vestindo roupas ocidentais. Anjo Achille Absolon, Abenoado entre os Princeps, foi como ele se apresentou. Notei certo receio nele, talvez devido a ser to jovem, mas tambm pude perceber o desejo de desvendar aquele mistrio. Como os que vieram antes dele, Achille ofereceu sua ajuda incondicional. Ele revelou seus medos e sua incerteza quanto a seu papel, mas disse que precisava saber o que estava acontecendo, e me seguiria aonde quer que fosse preciso. Ento, um velho conhecido adentrou. Mestre Nicodemus, uma vez nos encontramos, disse meu velho amigo, ajoelhando-se em posio de respeito. O Anjo Armin Ansgar, Elohim dos Venatores, ento ergueu-se, empunhando sua espada, e oferecendo-a a mim para a jornada que iramos percorrer juntos. O imenso lutador, de cabelos ruivos de tonalidade escura e barba, ento ps-se a esperar, como os demais. Por fim, uma mulher de aparncia jovem, bela como Karina, mas com cabelos negros e pele morena, vestindo roupas simples ocidentais, adentrou Sans Vidya, quase no fim do prazo. Fabrizia, Filha Virtuosa de Ilyapa. Logo reconheci o nome como sendo uma das muitas alcunhas que os Xams carregam. Apesar de jovem, notei uma determinao fora do normal naquela moa. Por mais algumas horas esperamos. Ningum mais veio e, por fim, determinamos que era hora de comear a fazer as perguntas e procurar respostas. Os sete se reuniram em meu lar em Sans Vidya, em torno de uma grande mesa. Ali buscamos finalmente um sentido para tudo aquilo. Caros amigos, eu disse, j com todos reunidos mesa. J conversei individualmente com cada um de vocs, conforme vieram me procurar. fato que todos tivemos o mesmo pesadelo, as mesmas vises. A diferena que Metatron, a Voz do Lorde Sbio, pediu a vocs para me procurar. Sei que muitos vieram aqui para me pedir respostas, mas infelizmente no as tenho. Acredito que isso uma busca a que estamos destinados. Eles se entreolharam. Tanto o jovem Absolon como a silencioso Lo Wang permaneceram calados e pensativos, enquanto os demais se arriscaram a falar. Ansgar, o Venator, ergueu a voz para se destacar: Ser que fomos apenas ns sete que realmente tivemos esse sonho?. Talvez no, mas no podemos esperar mais. Enquanto espervamos, procurei alguns amigos em Libraria. Parece que muitos outros tiveram sonhos esta noite, pedaos das vises que tivemos, mas aparentemente s ns tivemos todas as vises. Somente vocs foram avisados para me procurar. Talvez haja outros, mas no chegaram ainda e no podemos esperar mais. Karina baixou a cabea, pensou um pouco, ento fitou-me: O que voc acha que pode ser tudo isso? Voltando-se para Karina, Al-Malik respondeu por mim: Segundo os Antigos, sonhos ocorreram antes de cada grande evento. Al envia sua voz, porm, apenas quando algo terrvel est por acontecer. As vises possuem significados que ns devemos desvendar para nos prepararmos para o pior. Temos uma misso. Eu complementei: Se outros tiveram fragmentos do sonho, significa que isso afetar a todos. Porm, ns estaremos no centro de tudo. Karina pareceu assustada. Ela nunca foi uma guerreira, dedicou seus dez anos como Celestial apenas a viajar e a ajudar as pessoas de forma pacfica. Ela baixa a cabea, murmurando: No devamos procurar os Primi e os Arcanjos?. Eles tambm devem ter sido avisados de alguma forma, respondi. Alm do mais, no sou eu um Arcanjo? Sei que sou jovem demais para ter tal Coro e tanto destaque, e temo que minhas decises venham a pesar tanto, mas no podemos procurar os Primi ou os grandes Arcanjos, sem antes termos pelo menos algo a mostrar a eles. No sabemos o que vir daqui em diante. Precisamos descobrir, e s ento buscar ajuda. Al-Malik mais uma vez falou: Se fomos escolhidos por Al, ento porque nossas habilidades sero as mais indicadas. Tambm tenho medo, mas Al estar conosco e ir nos proteger nesta busca. Provavelmente, cada um foi escolhido por ter um papel nesta misso, refletiu Ansgar. Minha espada e minha fora estar a sua disposio, pois lutar o que sei fazer melhor. E temos uma guia na forma de voc, Supervivente, disse, pela primeira vez em voz alta, Lo Wang, erguendo a cabea e fitando Karina. por isso que voc est aqui. Provavelmente, seu papel ser fundamental, como o de cada um aqui reunido.

Karina engoliu em seco, ento calou-se. Mas o que pode significar o sonho? A pergunta veio de Absolon. Temos que pensar nos fragmentos. Cada um deve ter um sentido, respondi. Lembro-me de ver um exrcito de anjos descendo rumo a uma grande montanha, em um dia tempestuoso. A tempestade no era natural, mas criada para protege-los, disse Fabrizia, a Xam. Todos a olharam. Sei disso porque pude sentir. Era to real, que pude perceber isso. Um exrcito de Celestiais..., murmurou Al-Malik. A primeira Grande Guerra. A batalha de Dur Sharrukin, eu disse. Quando o den desceu das nuvens tempestuosas, rumo ao templo subterrneo onde Leviathan, Lorde do Sangue, se encontrava. Li nos livros, vi dirios de guerreiros do passado e pude compreender claramente quando vi a cena. A voz que anunciou o sonho disse que iramos ver o passado e o futuro, lembrou Achille Absolon, falando baixo. Provavelmente, voc est certo, Nicodemus. Ainda cedo para dizer, interrompeu Al-Malik, Mas nossa melhor pista. E tambm tinha um cavaleiro, todo em negro, montado sobre um cavalo cujos olhos eram fogo, disse Ansgar. Quem poderia ser ele?. Nenhum de ns soube responder. Ainda cedo para dizer, respondi. Vamos nos concentrar naquilo que sabemos. E depois os dois anjos acorrentados, murmurou Karina, baixando a cabea, e cobrindo os olhos com a mo direita. A dor e o desespero eram to reais que eu quase pude sentir. Foi assustador. Lembro-me que o segundo urrava como um animal e se debatia, como se estivesse furioso, fora de controle, e no ferido, Lo Wang acrescentou. As asas dele no eram asas de Tenshi, mas de Gakido. Ele no era um anjo. A cena foi rpida, mas pude perceber claramente. Isso me lembra Azazel, eu disse. Todos me olharam. Fabrizia pediu que eu explicasse, ento eu continuei: um lenda. O primeiro entre os Luciferite. Foi um traidor que tentou matar o Arcanjo Rafael, mas foi aprisionado no Inferno por sua afronta. Se tivssemos um Sancti entre ns, ele poderia explicar melhor. Mais uma vez, isso apenas uma suposio, interrompeu Al-Malik. E no explica sobre o primeiro aprisionado. E havia um velho depois. E ele gritava coisas sem sentido, Ansgar disse, sendo complementado por Karina: Ele estava desesperado, fora de si. Tive d dele. Era como se sofresse. Lo Wang me fitou, dizendo: Lembro claramente: tudo ficou escuro de repente, mas era como se ele prprio se destacasse nas trevas. Talvez ele seja um Abdal, revelou Al-Malik. Um homem santo, e o objetivo de nosso inimigo encontralo. Um tigre veio busca-lo, quando caa uma tempestade. O tigre no era um tigre, disse Karina, falando muito baixo, como se sentisse medo. E a tempestade no era natural, era algo maligno, completou Fabrizia, observando Karina. Nos entreolhamos. Alguns Perquiratores, eu inclusive, sonharam, em meados de 1999, com um tigre. Havia uma tempestade de fogo. O tigre surgiu das chamas. Foi um pesadelo proftico, mas jamais encontramos um sentido para ele. E, por fim, houve guerra, respondeu Ansgar. Eu lutei na Quarta Grande Guerra, e aquele conflito no sonho me lembra as batalhas pelas quais passei. Foi o nico momento do sonho em que tive medo. Para mim, nada me assustou mais do que o urro, Absolon. Lo Wang, eu e Fabrizia concordamos com Absolon. Ento, eu disse: Esse no foi um urro qualquer. Eu tenho certeza... era o urro de um drago. O urro de Leviathan. Todos me observaram. Al-Malik perguntou: Como pode ter certeza?. Mesma forma que Fabrizia pde sentir algo na tempestade e Karina soube que o tigre no era um tigre. Eu simplesmente sei. Para vocs, o urro pode ter ecoado no sonho, mas para mim como se Leviathan estivesse ao meu lado enquanto eu dormia. Imagens da primeira guerra, imagens de sangue derramado e o uivo. Tudo nos leva a Leviathan. Ansgar perguntou: E a imagem de Cristo?. No sei, respondi, apenas vocs tiveram essa viso, eu no. Talvez seja outra pista que ainda tenhamos que encontrar. Mas no momento, acho que precisamos investigar Libraria. Al-Malik me interrompeu novamente. Por que acha isso?. No ouviu o que eu disse? Para mim, era como se o urro viesse de algo ao meu lado, algo to prximo que eu pude sentir sua respirao. E, quando aquilo urrou, Libraria tremeu. Todos novamente me olharam. Eu completei meu discurso: Conversei com outros Perquiratores. As profundezas de Libraria sofreram mais com os tremores. E eu pude sentir, por um instante, enquanto dormia. H algo l. Algo vivo e pulsante, urrando com tanta fora que fez o cho tremer. Ento, o que faremos?, perguntou Absolon, um tanto preocupado. Vamos descer s profundezas de Libraria, respondi. Vamos encontrar a fonte dos nossos pesadelos.

Captulo 3: As Entranhas de LibrariaTalvez fosse a primeira vez em sculos que o som de tantos passos ecoava por aqueles corredores. Ao contrrio das passagens superiores, as profundezas de Libraria possuem corredores mais estreitos e grosseiros, pouco iluminados e mal ventilados. Ns sete descamos aquelas profundezas, que pouco a pouco pareciam mais cavernosas. A luminosidade tornava-se mnima. No demorou para que Karina pegasse uma lanterna, enquanto os olhos dos demais, com exceo de Fabrizia e Absolon, brilhavam sutilmente, demonstrando que viam perfeitamente mesmo na escurido. Voc pode ver na escurido, Karina, disso eu sei. Por que usar uma lanterna?, perguntei. No me sinto confortvel, no natural. Prefiro uma luz de verdade. Confio mais assim. Fabrizia, ouvindo aquilo, imediatamente concordou. Ainda que a lanterna pudesse nos denunciar para o que quer que pudesse habitar aquelas profundezas, resolvi no contraria-la. Sua pureza de alguma forma me era confortvel. Lo Wang ia frente, alguns metros adiante do resto do grupo. O resto do grupo mantinha-se unido, mas na frente iam Ansgar e Al-Malik. Eu, Karina e Fabrizia estvamos no meio, enquanto Absolon permaneceu atrs. Seus olhos sem brilho indicavam que era o que menos percebia as coisas na escurido, tendo que se guiar pela lanterna de Karina. Por isso, ele manteve-se sempre prximo a ela. Tem certeza que aqui que devemos comear a busca?, perguntou Al-Malik. Libraria um reino gigantesco, cujas profundezas no devem ter fim. Por que comear por aqui?. Instinto, meu caro Malaki, respondi, Pois o urro estava prximo de mim, e apenas atravs da biblioteca de Sans Vidya poderamos chegar a esta parte das catacumbas. Se vocs todos foram enviados a mim, ento imaginei que a soluo seria o caminho ao qual leva Sans Vidya. Um pensamento perspicaz, murmurou Al-Malik. Pude notar que ele estava um tanto ansioso. Quase uma hora tinha se passado desde que deixamos meu lar para trs. No sabia o quanto tnhamos descido nas profundezas de Libraria, mas finalmente chegvamos s pores mais grosseiras da Cidade de Rocha. Os ladrilhos e corredores bem talhados tinham ficado para trs, o que estava nossa frente era apenas um vasto complexo de cavernas e tneis escuros. E, naquele ambiente, eu pude sentir algo pulsar. Algo fraco, distante, mas que trazia calafrios minha espinha. Eu no gosto deste lugar, murmurou Absolon, cruzando seus braos, nervoso, isto faz mesmo parte de Libraria?. Tecnicamente no, respondi, Sans Vidya uma das bibliotecas mais profundas. Os corredores que atravessamos so considerados o fim de Libraria. Estas cavernas, dizem, espalham-se pelas profundezas de toda Libraria, mas no fazem parte dela. Ansgar, com sua espada em mos, riscou a parede, talvez para aliviar um pouco a tenso distraindo-se com algo. Por que Veritatis criaria este lugar?, ele perguntou. Talvez estas cavernas sejam os restos de Libraria que jamais foram aproveitados. Ou talvez elas sustentem toda a cidade., respondeu Ansgar. Ou talvez estas cavernas tenham sido construdas para abrigar algo, disse Fabrizia, alertando para uma possibilidade que eu mesmo no gostaria de considerar. Ela olhava ao redor, seus olhos comearam a brilhar num tmido tom azulado, para tambm ver na escurido. H algo aqui embaixo. No sei o que, mas me sinto... desconfortvel. Olhvamos ao redor, caminhando lentamente. Os caminhos se dividiam, tornando mais difcil a busca. Volteime para Karina: Voc pode indicar o caminho?. Eu nem sei o que estamos procurando, Ela me fitou por um instante, incerta de sua habilidade. Mas acho que por ali, disse, apontando uma das muitas cavernas. Por ali prosseguimos. Lo Wang prosseguiu na frente. Estvamos em silncio, pude sentir minhas mos frias devido tenso. Caminhamos por um longo corredor de rocha que descia ainda mais nas entranhas da terra quando, por um instante, pude ouvir o eco de um rosnado, um som muito baixo, mas inconfundvel. Naquele instante, Wang, frente de todos sacou a espada, uma lmina negra e curva que carregava em sua cintura, abaixou-se e olhou ao redor, murmurando: Ouvi o som de passos. Ansgar tambm ergueu sua espada, incendiando-a em Chamas Celestiais. A forte luz azulada inundou o tnel em seguida. Al-Malik puxou sua arma, uma cimitarra, mas se contentou em permanecer atrs do Venator. Karina e Absolon estavam nervosos e assustados, permanecendo prximos a mim. Eu mesmo estava hesitante. Fabrizia, tambm nervosa, parecia concentrar sua energia celestial. Permanecemos parados, silenciosos, esperando que algo surgisse nossa frente. O rosnado repetiu-se. Como antes, era um som extremamente baixo, abafado como se tivesse sido emitido a quilmetros de distncia. Mas ento, ouvimos em seguida passos tmidos e calmos. Sons de sapatos tocando o cho de pedra, ecoando pelos tneis subterrneos. Ento, adiante, vimos uma luz, inicialmente tmida, mas cuja intensidade aumentava pouco a pouco, conforme os passos pareciam mais prximos. Vindo da escurido e portando um lampio, notamos um homem. Ele vestia um manto cinzento, de barba curta e cabelos lisos e compridos, totalmente brancos. O rosto, ofuscado pelas sombras do formadas da luz do lampio, me era familiar, mas no pude reconhece-lo de imediato. Quem voc?, Ansgar, o

Venator, interrogou gritando, enquanto Lo Wang apenas permanecia imvel, empunhando a arma como um animal prximo a dar seu bote. Eu mal pude notar devido a meu prprio nervosismo, mas o homem era um Celestial, maior do que qualquer um de ns ali presentes. Al-Malik, porm, notou o Coro do recm-chegado e, imediatamente, ajoelhou-se no cho, guardando sua arma. Senhor, pedimos desculpas por termos erguidos nossas armas a voc. No se preocupem, vocs tm razo por estarem to assustados, ele disse enquanto se aproximava. Sua voz era calma e at mesmo reconfortante. Eu mesmo estou assustado, ele completou. Quando se aproximou o suficiente, passando por Lo Wang, que ainda o olhava desconfiadamente, pude finalmente ter a certeza de quem era. No contendo minha surpresa, apenas deixei escapar seu nome: Senhor Urias!. Todos se voltaram a mim, mas foi Absolon quem primeiro indagou: Voc o conhece, Senhor Nicodemus?. Sim, eu o conheo. Ele um Antigo que vive prximo a Sans Vidya, mas ainda mais profundamente em Libraria do que minha prpria biblioteca. Seu lar tambm pode ser usado para chegar a estes tneis. Eu sou o Arcanjo Urias, Serafim Primordial, e amigo pessoal de alguns dos membros do Conselho Veritas. Conheo o Arcanjo Nicodemus h alguns anos. Meu lar est nos limites de Libraria, prximo a estas cavernas. Depois dos tremores, no pude deixar de tentar descobrir o que houve. Perdoem-me, no era meu desejo assusta-los. No h problema algum, disse Karina. Sinto-me mais tranqila com mais um Arcanjo nos acompanhando. Absolon e Ansgar concordaram. Lo Wang aproximou-se, guardando sua espada, e abaixando a cabea em sinal de respeito, perguntou: Com todo o perdo, honrado ancestral, mas h algo que tenha encontrado nestas profundezas?. Venham comigo, disse Urias, tomando a frente do grupo. Seu lampio iluminando o caminho, continuamos a percorrer as cavernas. Conforme a presena e a sensao de medo aumentavam, Urias falava: Tenho sentido isto h anos, at mesmo relatei isto a um amigo entre os Veritas. Sempre houve algo oculto nas profundezas de Libraria... mas nunca foi to forte. Tem idia do que seja?, perguntei. No, respondeu Urias, mas s vezes ouvia seus rosnados ou urros distantes, atormentando meus momentos de sono ou meditao. Mas sempre foram sons distantes demais. Um dos motivos pelos quais permaneci nessas profundezas foi para vigia-las. Sempre tive medo do dia em que isto poderia escapar. Escapar?, perguntei. No nota? Os urros so de frustrao, desespero. O que quer que exista nessas profundezas est sofrendo muito. Eu notei isso tambm, disse Karina, timidamente. Mas ainda assim tenho medo. No algo natural. No, no . Venham, aqui, Urias disse, quando chegamos a uma cmara um pouco mais espaosa, com paredes de rocha slida, na mais absoluta escurido. As luzes da lanterna e do lampio criavam sombras assustadoras e eram um alvio neste lugar de trevas. Ali, diante de ns, a parede estava rachada, revelando uma abertura. Diversas rochas espalhavam-se pelo cho, como se algo tivesse explodido, abrindo a rachadura e expelindo pedaos de rocha para a cmara. Urias continuou: Por muitos anos, eu percorri essas cavernas, sei me guiar perfeitamente por elas. Mas esta cmara nova. A presena mais forte ali. Tentei adentrar mais, mas labirntico, temi me perder. Estava retornando, quando os encontrei. Karina, ainda que assustada, tomou um passo frente. Eu acho que posso guiar-nos. Ela me olhou, insegura, mas Absolon ento tocou seu ombro, dizendo: No se preocupe, voc ir conseguir. Aonde disser que precisamos ir, ns iremos. Ansgar e Al-Malik confirmaram. Ela sorriu agradecida, mas sem esconder seu nervosismo. Ansgar, AlMalik e Wang uma vez mais desembainharam suas armas. Novamente, Fogo Celestial iluminou a lmina do Venator, adicionando uma luz pura ao local. Timidamente, Karina adentrou a fenda, seguida de perto pelos trs guerreiros, enquanto os demais foram logo em seguida, junto comigo. Passo a passo, caminhvamos agora por terreno totalmente desconhecido, passagens apertadas que, muitas vezes, permitiam que apenas um passasse por vez. O terreno era ainda mais irregular, descendo constantemente, dando voltas. Agora, at mesmo Urias permanecia silencioso. E, ao conforme descamos ainda mais nas profundezas, eu podia sentir aquilo se tornar mais forte. O ar tornava-se mais seco e mais denso. Sentamos oprimidos, como se as paredes e o prprio ar nos pressionassem. Minha respirao parecia mais pesada, e a viso era obscurecida, como se as trevas se recusassem a recuar diante das luzes. Mesmo meus poderes no podiam penetrar profundamente na escurido. O som de nossos passos ecoava, mas ento foi abruptamente interrompido por um rosnado baixo mas duradouro. Por um instante, podamos ouvir o som de respirao. Eu suava frio, notei que Karina tremia e Absolon olhava nervosamente para tudo ao redor. Al-Malik murmurava oraes de proteo, enquanto Lo Wang permanecia sempre prximo a Karina, empunhando a arma para protege-la como se a qualquer momento algo pudesse ataca-los. Fabrizia permanecia prxima a mim, como se buscasse proteo, e Urias constante e lentamente mudava a posio do lampio, para que a luz pudesse alcanar todos os pontos ao redor. Ento ocorreu um leve tremor. Sentimos p cair do teto, mas era como se ele desabasse. Karina gritou naquele instante, quando, junto ao tremor, ouvimos o urro, mais alto do que jamais tnhamos ouvido-o antes. E um calor anormal, junto a uma presena claramente infernal, inundou os tneis. O ar que veio das profundezas, impulsionado pelo urro, apagou as chamas celestes. Me sentia apavorado, pude sentir meu corao disparar, uma sensao que h dcadas no experimentava.

Karina olhou para trs. Estava quase ao ponto do desespero, seus olhos lacrimejavam. Fabrizia correu at ela e a abraou. Calma, ela disse, tenha calma. Absolon tambm se aproximou delas. Melhor vocs ficarem atrs da coluna, junto a Urias e Nicodemus. Ele tambm estava amedrontado, mas esforava-se para manter o controle. Ansgar tomou a dianteira, reacendendo as chamas celestes. Se me atacarem e for algo grande demais para que possamos parar, no hesitem em me abandonar aqui. Ele estava ofegante, mas sua bravura vencia o medo. Ele continuou o caminho. Al-Malik no hesitou em segui-lo de perto, mas tambm sussurrou: Que Al nos proteja. Lo Wang chamou-nos para prosseguirmos. Com os trs bravos guerreiros nossa frente, sabamos que deveramos continuar. E, a cada passo, o ar opressivo parecia tornar-se mais forte. Pude ouvir novamente aquela respirao. Olhei ento para o lado espiritual, e notei uma nvoa densa e negra nos cercando. Trevas espirituais, que se dissipavam nas proximidades da espada flamejante de Ansgar. Ento, o estreito corredor de rocha encontrou uma cmara, menor do que a anterior, mas grande o suficiente para que o grupo pudesse adentra-la. Karina, Absolon e Fabrizia permaneceram na entrada da cmara, enquanto os demais comearam a observa-la. As luzes da lanterna, das chamas e do lampio iluminaram suas paredes e pudemos escritos fabulricos. No centro do cmara, um pequeno altar, sobre o mesmo um antigo jarro de barro, um pouco rachado. E aquela presena inconfundvel se tornava mais forte do que nunca. No havia mais caminho algum a seguir, mas podamos sentir aquela respirao, aquele rosnar. Um rosnar no fsico, mas espiritual, emanado do jarro. Intrigados, caminhamos pela cmara. Eu observei as paredes, preenchidas por palavras fabulricas de poder, formando um cntico: um rito de aprisionamento. Urias parecia espantado. Ento, Al-Malik se aproximou do jarro, lendo uma inscrio no altar em que ele se encontrava: Aquele que aqui chegar, peo humildemente que no mova esta jarra, pois as essncias do sangue, da guerra e da morte nela esto guardadas. Observei o reino dos espritos, e vi a nvoa negra escapar pelas rachaduras do jarro. Nas proximidades do mesmo, a nvoa s vezes tomava formas e se retorcia, s vezes formando bocas e olhos. Olhos que nos observavam. Bocas que respiravam e rosnavam. To perturbadora era a viso, que decidi voltar a ver apenas a regio fsica do local. Aproximei-me do jarro, corajosamente tocando-o. Ouvi Urias tentar me impedir, mas era tarde. Algo invadiu meus pensamentos. Gritei. Frustrao, dor, urros. Senti minha pele queimar por um instante e afastei imediatamente minha mo daquele objeto profano. E todos ouvimos o urro ecoar novamente. Ca de joelhos, respirando ofegante, e abri os olhos, apavorado. Urias e Al-Malik correram at mim. Todos os demais voltaram suas atenes para mim. O que houve?, perguntou Urias. ele, respondi, tendo respostas inundarem minha mente. Ele quem?, perguntou Al-Malik, enquanto Urias calou-se imediatamente, como se soubesse de quem eu falava. Sempre me disseram que Libraria foi inspirada em Alexandria, na grande biblioteca. Isto uma mentira, respondi. No estou entendendo, Al-Malik disse. Explique isso melhor, pediu Ansgar. Urias foi quem respondeu: Libraria foi criada aps a Primeira Grande Guerra. Ento, completei: Libraria foi criada para ser uma priso, disse, levantando-me e fitando aquele jarro. A priso de Leviathan.

Captulo 4:O Conselho VeritasRetornar aos corredores iluminados de Libraria era como uma beno, aps aqueles momentos na escurido. Ainda abalados pela experincia, ns agora buscvamos o conforto de Sans Vidya. As faces de todos demonstravam preocupao. At mesmo o sempre calmo olhar do Arcanjo Urias estava diferente, distante. Estvamos silenciosos, cada um perdido em seus prprios pensamentos. Eu mesmo me perguntava o que fazer a seguir. Gostaria que permanecessem em Sans Vidya um pouco mais, meus amigos, eu disse, assim que chegamos biblioteca. Eu preciso conversar com meus superiores. As descobertas que fizemos hoje foram graves. Por favor, descansem e tentem relaxar. Vai conversar com o Conselho Veritas, Nicodemus?, perguntou Urias. Eu balancei a cabea positivamente. Ento, esperarei aqui, pois quero muito saber qual ser a deciso deles, continuou. Karina sentou-se numa cadeira assim que chegamos a meu escritrio. Olhando-me, ainda abalada pelo medo que sentira nas entranhas de Libraria, perguntou-me: O que esse Conselho Veritas, Philipe?. So os lderes dos Veritatis Perquiratores, moa, respondeu Ansgar, que tambm parecia um tanto abalado. Eu continuei a explicao de Ansgar: So quatro dos aprendizes de Grande Veritatis em pessoa. Cada um representa uma estao do ano, e so os homens e mulheres mais sbios que conheci em toda a minha vida. Eles sabero nos guiar. Ento, voltando-me a todos, disse: Por isso, esperem-me aqui. Sintam-se em casa, tentem relaxar. Devo demorar um pouco para voltar. Adentrei meus aposentos em Sans Vidya, caminhando pelos sales subterrneos, ricamente adornados e amplamente iluminados. Em comparao claustrofbica escurido das profundezas, estar aqui era como estar seguro e protegido. As rachaduras e objetos quebrados pelos tremores, porm, eram um anncio de que talvez essa escurido possa vir a engolir at mesmo meu refgio.

Ento, ao chegar a meu quarto, abri a arca na qual guardo meus pertences mais valiosos. Ali, peguei uma tnica cinzenta, adornada com smbolos fabulricos de conhecimento e sabedoria. Vestindo-a e cobrindo-me tambm com uma capa e capuz negros, dirigi-me sala escura, que normalmente mantenho trancada. A sala de ritos. Fechando a porta atrs de mim, permaneci na escurido. Como uma beno divina, que afasta as trevas e invoca a luz, invoco a chama do conhecimento. Eterno e sagrado protetor, guiai-me os passos que me levaro divindade, proclamei, ento com o dedo indicador da mo direita, fiz o smbolo do fogo, para que as velas do crculo se acendessem, e foi o que fizeram. O crculo de transporte foi exposto nas trevas, revelando suas formas e smbolos. Cautelosamente, para que as chamas no tocassem a tnica, adentrei o crculo. Fechando meus olhos, proclamei: Leve-me queles que me mostraro o caminho. Ao abrir os olhos, vi-me novamente no crculo delimitado por chamas, mas este era maior, quatro ou cinco vezes maior do que aquele em meu lar. As chamas iluminavam grandes esttuas de anjos com suas asas abertas. Suas faces rochosas, obscurecidas por mantos pesados, fitavam o centro do crculo. Diante de mim, estava o caminho e o grande porto. Caminhei, passo a passo, rumo a ele, e ento, segurando a argola de metal na boca do grgula ali esculpido, bati na porta trs vezes. Os sons das batidas ecoaram. Apresente-se, disse a voz que ecoou. Sou o Arcanjo Philipe Nicodemus, Guardio e Administrador da Biblioteca do Conhecimento Cristalino de Sans Vidya, Querubim entre os Veritatis Perquiratores, respondi em voz alta e com firmeza. Os portes se abriram e, alm dos mesmos, um Arcanjo me esperava, vestindo uma tnica dourada e negra. O grande corredor adiante era iluminado por milhares de velas, presas s paredes e s grandes colunas. Pude notar as sombras de vrios outros encapuzados caminhando por aqueles corredores, alguns carregando pilhas de livros, entrando e saindo pelas vrias portas laterais. Eu sou o Arcanjo Evaniel Onsofos, Guardio da Biblioteca de Cristal, Serafim entre os Veritatis Perquiratores, apresentou-se o Arcanjo. O que desejas aqui, Philipe Nicodemus?, perguntou. Vim falar com o Conselho Veritas ou com pelo menos um dos Veritas, pois trago notcias das mais graves, respondi. Os Veritas esto de fato reunidos, prezado irmo, mas no desejam receber ningum. Diga-lhes, pois, que encontrei aquilo que fez Libraria tremer. Os olhos do Arcanjo Evaniel arregalaram-se. Venha, Philipe Nicodemus, ele disse, eles esto esperando voc. Dando as costas para mim, Evaniel prosseguiu pelo longo corredor. Eu o segui de perto e, pelo caminho, pude notar que projetvamos centenas de sombras, devido s mltiplas velas. Caminhvamos pelo corredor das trevas da dvida e da luz do conhecimento, at alcanarmos o portal cinzento. Dois guardas, trajando armaduras negras e grandes lanas, que se cruzavam nossa frente e barravam nosso caminho. Quem deseja encontrar o Conselho?, perguntou um dos guardas. Ele Philipe Nicodemus. Helammelak o espera, respondeu Evaniel. Os guardas ergueram suas lanas, permitindo a minha passagem. Assim que me aproximei do portal cinzento, o mesmo abriu-se. Evaniel permaneceu onde estava. Adentrei na sala obscurecida do Conselho. Ali, apenas duas velas eram fontes de luz. Permaneci entre as mesmas, tentando fitar, a olhos nus, os limites do aposento. Nada havia seno escurido eterna, representando todos os mistrios que precisam ser compreendidos. Ento, ouvi passos, e mais velas acenderam-se, iluminando um altar adiante, e sobre o altar uma bancada. A pouca luz fazia parecer que eu e o altar estvamos flutuando num vazio eterno de escurido. Sentados bancada, diante de mim, fitando-me, estavam os quatro conselheiros, em suas Formas Angelicais. Quatro seres de aparncia frgil e idosa, mas cujas Formas Angelicais emanavam luz com vigor e intensidade. Eles vestiam mantos brancos, e a luz que emitiam os destacava nas trevas. Primeira entre eles era Melkel, Arcanjo da Primavera e da Sabedoria, sorrindo gentilmente, seus olhos cheios de vida, contrastando com a aparncia idosa. O segundo dos Veritas era Helammelak, Arcanjo do Vero e das Profecias. Com as mos unidas, os cotovelos apoiados na bancada, e um olhar srio, que parecia analisar-me. Em terceiro, vi Meleyal, Arcanjo do Outono e das Lembranas. Em seus olhos, vi preocupao, e notei que se perdia em pensamentos distantes. Por ltimo, fitei Narel, Arcanjo do Inverno e da Comunho. A nica que no me fitava diretamente, Narel ao invs disso mantinha-se cabisbaixa. Helammelak levantou-se, abrindo suas asas. Arcanjo Philipe Nicodemus, ele disse, tu vieste a ns para trazer-nos uma notcia. Humildemente peo, por favor, que compartilhe seu conhecimento conosco. E assim comecei a descrever tudo: o sonho, o tremor, as sensaes de medo e angstia nas profundezas, o encontro com Urias e, finalmente, a cmara nas entranhas de Libraria e o mal que havamos encontrado ali. E, enquanto relatava tudo, os quatro Veritas fitavam-me e analisavam-me. Eu estou certo do que vi ali, quando toquei o jarro. O drago, Leviathan, est aprisionado l. Por algum motivo, Veritatis o trouxe para o den, e construiu Libraria para aprisiona-lo, revelei. ainda cedo para chegar a tal concluso, discordou Meleyal, continuando: O que voc sentiu no pode ser Leviathan. O Lorde do Sangue est morto. O demnio foi destrudo h dois milnios, vtima de Gabriel em pessoa. Eu tenho certeza do que senti, Senhor Meleyal, respondi.

E voc j viu Leviathan antes, Arcanjo Nicodemus?, perguntou Narel. Como pode ter certeza, se sequer conhece Leviathan, a no ser atravs de seus sonhos? Como pode afirmar algo que no sabe? ainda cedo para tirar concluses. Poderoso Gabriel afirma ter destrudo a essncia de Leviathan, como podemos negar a afirmao de um Primus?. Percebendo minha prpria tolice, abaixei minha cabea. Eles estavam certos: eu fui precipitado em minhas concluses. Pelos sonhos, liguei o rugido e a imagem do drago a Leviathan. Mas se no for ele? Ento, Helammelak uma vez mais falou: Acredito estarmos diante de um momento crucial de nossa histria, caro Nicodemus. Teus sonhos e teu destino podem vir a decidir o destino de todos ns. Por isso, tambm no sejas to rpido em abandonar suas afirmaes. Embora no possamos crer que seja Leviathan a presena que encontraste, no podemos afirmar que no haja uma ligao entre o Lorde do Sangue e este jarro. Isto algo que ainda precisamos investigar. Erguendo novamente minha face e fitando-os, vi Narel levantar-se. Nicodemus, precisamos de tempo para investigar os acontecimentos. D-nos sete dias. Dentro de sete dias, retorne aqui e traga todos os seus companheiros, pois apresentaremos uma concluso. Sim, minha senhora. Ficarei honrado se puderem nos revelar o que quer que descubram. Estamos todos ansiosos para compreender esses acontecimentos, respondi. Ateno, porm, Nicodemus, disse Narel, com uma voz preocupada, Talvez ns apenas no cheguemos verdade. Avise seus companheiros que, provavelmente, a misso de vocs ainda no chegou ao fim. E pea-lhes que mantenham segredo sobre tudo o que viram, por favor, pelo menos at que tenhamos chegado a uma concluso, acrescentou Meleyal. Sim, senhores. Que o conhecimento de Veritatis ilumine nossos caminhos, respondi, e pus-me a sair dali. Com a mente cheia de dvidas, agora tentando descobrir o que realmente estava aprisionado naquele jarro, retornei pelo corredor de luz e sombras, rumo ao crculo de transporte. Assim que retornei a Sans Vidya, trouxe aos demais o pedido dos Conselheiros. Pedi que nos reunssemos dali a sete dias. Urias, porm, disse que no poderia vir, pois no havia sido escolhido pelos Guardies. Ele disse que estaria conosco, mas que no visitaria o Conselho. Por outro lado, todos os demais concordaram em voltar em uma semana. E assim passaram-se os dias. Sem ver nenhum dos outros seis por este perodo, eu ainda tentava decifrar os sonhos e responder as questes. Procurei por livros que pudessem iluminar minhas idias, mas infelizmente nada pude encontrar. Nenhum sbio e nenhum tomo puderam elucidar essas questes. Nada jamais trazia a possibilidade de que algo estava aprisionado nas profundezas de Libraria. E, da mesma forma, nada poderia tirar de minha mente a idia de que Grande Veritatis em pessoa construiu essa cidade para ser uma priso. Ao fim do sexto dia, embora meu corpo celestial ainda estivesse cheio de vigor, minha mente estava cansada. Seis dias sem dormir, buscando respostas e convivendo com as lembranas dos sonhos que vivenciei e das sensaes que senti nas profundezas, haviam deixado-me exausto. Sabendo do importante encontro que se seguiria no dia seguinte, dei-me o luxo de descansar pela primeira vez desde que tudo isso comeou. Meus sonhos, porm, no me trouxeram conforto. No momento de inconscincia, uma vez mais senti algo tocar minha mente. Vi uma grande praa, em uma imensa cidade cheia de mesquitas e esplendor. E ecoaram, trazidos pelo vento, gritos de dor. Pessoas estavam sofrendo. Um rosnado inconfundvel se seguiu, um rosnar de tigre. E vi paredes de pedra manchadas com sangue. Um tigre feroz matando pessoas, uma a uma; suas garras e presas dilacerando carne e partindo ossos; gritos de morte e horror. Ento, o tigre correu por um imenso deserto, raios e troves o seguiam, e sua sombra projetava uma escurido ilimitada. A passos rpidos, o animal atravessou a vastido rida, rumo a uma grande montanha. Como se visse atravs dos olhos do animal, o vi escalar aquela montanha, sem que nenhum obstculo pudesse desacelerar seu progresso. E, do alto da montanha, contemplei uma cidade cujas glrias do passado j haviam se extinguido, em cujas ruas dois irmos atacavam-se com paus e pedras. E senti pulsar nos subterrneos daquela cidade um mal muito grande, que inspirava a violncia nas ruas. E vi ali uma via manchada com sangue. E vi sombras do passado percorrendo-a, homens carregando cruzes nas costas e espinhos na cabea, sob a viglia de oficiais romanos e diante de uma multido feroz, que se deliciava e se horrorizava com a viso dos condenados crucificao. Raios e troves seguiram-se, conforme a cidade de antigas glrias foi encoberta por nuvens escuras. E o tigre rugiu, fitando o horizonte. E vi, alm do horizonte, alm do mar, Cristo de braos abertos, sob seus ps um velho cado e fraco, o mesmo velho insano e desesperado de meu primeiro sonho. Ele gritava, pedia para que afastassem dele aquele animal. O tigre urrou novamente. O velho gritou em desespero. Ento, Cristo ardeu em chamas, das chamas nasceu Metatron, em sua forma dourada, com suas asas flamejantes abertas e seus braos estendidos como se desejasse proteger aquele homem. E sua voz ecoou em minha mente uma centena de vezes: Este homem possui todas as respostas. Este homem deve ser protegido. Despertei. Com a mensagem de Metatron ainda repetindo-se em minha mente, levantei-me da cama, ofegante. Eu conheo aquelas cidades. J estive em ambas. O que esse tigre? Quem ele? Porque ele procura o velho? E que respostas aquele velho pode nos dar?

Foi com esses pensamentos em mente que passei as horas enquanto esperava que os demais chegassem. Lo Wang. Karina Ariel. Adb Al-Malik. Achille Absolon. Armin Ansgar. Fabrizia. Um a um, todos vieram. Nas faces de todos, pude notar o misto de curiosidade e medo, desejo de encontrar respostas e temor do que pode estar acontecendo. Nisso, as angstias e desejos deles se misturavam aos meus. Levei-os aos meus aposentos, onde lhes entreguei tnicas e mantos como os que eu usara para encontrar o Conselho. Vistam isso, por favor, eu pedi, os Veritas prezam formalidade. Fabrizia e Karina deixaram o quarto para vestirem-se em outro cmodo, enquanto o resto de trocou de roupa ali mesmo. Quando todos estvamos prontos, encaminhei-os sala escura, onde repeti todo o ritual para que fssemos levados ao Conselho. preciso mesmo isso tudo?, perguntou Fabrizia, enquanto eu recitava as palavras no crculo de transporte. No o desconcentre, pediu Absolon. No entendo nada de magia, mas se ele acha preciso, ento preciso. Fechem os olhos, pedi ao fim das palavras, e assim todos os fizeram. Abram-nos, pedi novamente, e, ao olharem em volta, todos estranharam surgir s portas da Biblioteca de Cristal, entre as esttuas encapuzadas, diante do grande porto. Pus-me frente do grupo e bati porta. Desta vez, esta abriu-se sem que fosse preciso me identificar. Arcanjo Evaniel Onsofos nos esperava. Caminhamos uma vez mais pelo corredor do conhecimento e da dvida, que estava estranhamente silencioso naquele dia. Guiados por Evaniel, ns sete caminhvamos silenciosamente. O silencio fora quebrado pelo sussurro de Ansgar: Que tipo de lugar esse?. Os corredores da dvida e do conhecimento, respondi. O centro da Grande Biblioteca de Cristal. Alm desses corredores, esto as maiores bibliotecas conhecidas. So centros de luz e conhecimento, mas os corredores que as envolvem representam a dvida. Pois pela dvida que se busca respostas. Aqueles do BaytUmma Al-Shabah sempre gostaram de simbologia, comentou Al-Malik, referindo-se faco Malaki dos Perquiratores. Eles acreditam que os smbolos so uma forma fcil de se compreender as criaes de Al. A escrita e a linguagem so formados por smbolos, acrescentou Evaniel, at ento calado, e da mesma forma, toda magia e toda crena se baseiam em smbolos. Nossa prpria viso simboliza a realidade de forma que possamos compreende-la. Por isso, Grande Veritatis valorizava o simbolismo. Tudo que no possui um significado no tem razo de existir, dizia ele, segundo os velhos escritos. Ento, diante do porto cinzento, Evaniel parou. aqui, ele disse aos demais. Os guardas j estavam preparados para nossa vinda e deram-nos passagem. Os portes cinzentos abriram-se conforme caminhamos em direo aos mesmos. Conforme entrvamos no salo de trevas do conselho, ouvi os comentrios de meus companheiros. Desta vez, j sentados nossa espera, estavam os quatro Veritas, em suas formas celestiais, adiante. Os portes cinzentos fecharam-se atrs de ns e nos posicionamos em meio a um conjunto de 14 velas. Frente a frente com o Conselho, tomei a iniciativa de apresenta-los a meus companheiros: Meus amigos, estes so o Conselho Veritas, aprendizes de Grande Veritatis e coordenadores dos esforos de meu Clero. um grande prazer e uma grande honra, disse Ansgar, ajoelhando-se. Al-Malik tambm se ps de joelhos, sussurrando: Agradeo a Al pela oportunidade de conhecer Arcanjos de to grande sabedoria. Lo Wang abaixou a cabea em sinal de respeito e tambm preparou-se para ajoelhar-se. Os demais se entreolharam e estavam prestes a repetir o ato, porm Meleyal os interrompeu: No precisam se ajoelhar, aqui, embora nos coloquemos num altar, apenas simbolizamos guias, no mestres ou senhores. Coloquem-se em p, e falem conosco de igual para igual. Imediatamente os trs se levantaram, e os demais passaram a fitar o Conselho de cabea erguida. Dei um passo frente, questionando os Veritas: Quais foram as descobertas que fizeram? Foi elucidada a natureza daquilo que est preso em Libraria?. Terrveis descobertas fizemos, caro Nicodemus, respondeu Helammelak, pois seus instintos mostraram-se verdadeiros, ao menos em parte. Senti um frio percorrendo minha espinha e fitei os demais. Todos demonstravam preocupao em suas faces. Voltando-me ao Conselho, perguntei: Ento, mesmo Leviathan que est aprisionado naquele jarro?. Nada se encontra aprisionado naquele jarro, Nicodemus, nem sequer trata-se de Leviathan, respondeu Helammelak, Como nossas suspeitas indicavam, Leviathan est morto, tendo encontrado a Obliterao nas mos do Arcanjo Gabriel. Por isso, torna-se ainda mais grave a nossa descoberta. No entendi, disse Al-Malik, a princpio timidamente, mas ento erguendo a voz para falar de igual para igual com os conselheiros: Se no Leviathan, ento o que ? O que foram os urros, idnticos aos que ouvimos em nossos sonhos? O que significa tudo isso?. A anci Melkel levantou-se, fitando Al-Malik. Assim como o sangue percorre a corpo e nutre a carne, a essncia percorre o esprito e nutre a alma. Narel completou o que sua companheira comeou a explicar: No se trata da alma de Leviathan, mas de parte de sua essncia. Como se o jarro tivesse coletado o sangue de sua alma. Esto ali lembranas e as ltimas sensaes de Leviathan. Todo o dio, angstia e dor que ele sentiu ao ser destrudo esto naquele jarro, mas ali tambm est uma grande parcela de seu poder. E isso pode ser uma ameaa?, perguntou Ansgar.

No, respondeu Narel, no h conscincia ou malcia naquela forma. Porm, algo de fato despertou a essncia dormente, fazendo-a reagir e explodir em fria, causando os tremores. Acreditamos que ela est reagindo a acontecimentos no reino dos vivos. Mas, se essa poro de Leviathan no pode fazer nada, porque est aprisionada no jarro?, perguntou Lo Wang. Porque aprisionar algo que no representa ameaa?. O jarro a morada dessa essncia, respondeu Melkel, continuando: a nica coisa que d unidade a ela. Sem o jarro, ela se dissiparia. Mas graas a ele, essa essncia se dissipa e retorna, emitindo partculas de alma que depois se reagrupam no jarro. O jarro a razo dessa essncia ainda existir, ao invs de tocar e contaminar formas no plano fsico. Mas eu h um rito de aprisionamento ali!, interrompi, Eu vi as inscries nas paredes. H algo aprisionado, no apenas mantido ali!, Sim, h, confirmou Helammelak, mas estudamos com afinco a natureza desse rito. E l dizia: que aqueles que ferem com o fogo sejam feridos com o fogo, que a arma de seu irmo seja voltada contra eles, que nesta cmara esteja a chave e o selo da priso, que os ossos de um morto sejam as armas pelos quais sero abatidos os reis das trevas. H de fato um rito, Nicodemus, mas este no afeta o jarro, nem nada que esteja naquela cmara. Ento, o jarro uma arma?, perguntou Karina. No, um selo, respondeu Helammelak. No compreendo, disse Fabrizia. Nem ns, acrescentou mais uma vez Helammelak. Mas algo compreendemos: durante a Quarta Guerra, as foras do Inferno tentaram invadir Libraria. At ento, jamais pudemos compreender a razo. Agora, estamos convencidos de que desejavam este jarro. O Arcanjo ento se virou para mim: Libraria no uma priso, caro Nicodemus, e sim um cofre. Ela foi erguida para proteger o contedo deste jarro e o selo que ele representa. Resta agora saber o sentido disso tudo: o significado do selo. E como saberemos?, perguntei. Vocs descobriro, disse Melkel. Nos entreolhamos, notei que Karina, Absolon e at mesmo Ansgar estranharam aquela resposta. Ento, Melkel continuou: hora de voltarmos origem de tudo. Tudo isso comeou nas profundezas de Dur Sharrukin, quando Gabriel, Veritatis e Miguel estiveram face a face com o Lorde do Sangue e o derrotaram. em Dur Sharrukin que encontraremos as respostas. l que vocs devem procura-las. Ns?, perguntou Al-Malik. Somos simples Celestiais, de todos ns apenas um um Arcanjo! O que somos ns para entrarmos naquele lugar?. Notei pavor em sua voz, nunca o vira to abalado, nem mesmo nas profundezas de Libraria. Eu no venho daquela regio, mas j ouvi as histrias das maldies e perigos que naquele lugar! No seria melhor que Arcanjos ou mesmo os Primi tomassem a dianteira?. Ansgar disse ento: Talvez possamos ir, mas precisamos de ajuda de algum maior, algum mais experiente, por favor!. Os quatro Veritas levantaram-se em conjunto, mas Helammelak foi o nico que falou algo: Ns Perquiratores acreditamos nos smbolos, nos sentidos ocultos em cada movimento da tapearia que forma a criao. Vocs foram escolhidos e, mesmo que no paream, so os mais adequados a esta misso. O que Dur Sharrukin exatamente?, perguntou Karina, assustada aps ver a reao dos demais membros do grupo. A fortaleza de Leviathan, aonde as tropas do den e do Inferno chocaram-se na Primeira Grande Guerra. H lendas que contam que algo ainda existe l, o fantasma de Leviathan, que ainda assombra aquelas runas subterrneas, respondi, tambm perturbado com a grandiosidade de nossa misso. As lendas sobre o fantasma podem ser mais do que lendas, revelou Meleyal. Embora suas aparies sejam contos exagerados, acreditamos que algo de fato sobrevive l. Se for verdade, o fantasma a chave do mistrio. Fabrizia e Lo Wang permaneceram calados, mas notei que tinham medo, muito medo. Mesmo o to frio Tenshi mostrava-se introspectivo demais, preocupado. Ele fitava o cho, como se tentasse reunir foras para aceitar seu destino. Absolon falou por eles: No acho que sejamos assim to capazes quanto vocs dizem. No?, perguntou Helammelak. No o que vejo. Vocs tm medo porque no conhecem o que h de grandioso dentro de vocs, disse Melkel, sorrindo e estendendo a mo na direo de Karina. Karina Ariel, por mais que tema se ferir e por mais que se julgue um peso para os demais, voc quem poder guia-los quando estiverem perdidos. Ento, voltando-se a Absolon, Melkel continuou: Achille Absolon, voc no se julga capaz de liderar ou mesmo acompanhar Celestiais mais velhos e poderosos do que voc, mas no final, sua coragem e seu senso de dever podero vir a destaca-lo sobre todos os do grupo. Quando o momento decisivo vier, voc vai descobrir sua verdadeira fora. Helammelak tomou a palavra, voltando-se para Al-Malik: Servo do Rei, tua capacidade em ver atravs das mentiras e iluses necessria nesta jornada. Busca a verdade, pois apenas ti pode v-la. Fitando Ansgar, Helammelak ento disse: Armin Ansgar, tu s movido pela tua honra e teu respeito pelos demais. Em ti estars a chama que ir fortalecer a todos ao seu redor. No o poder de um Primus que ir definir uma batalha, mas a coragem de um homem. Meleyal voltou-se para os demais: Fabrizia, Filha de Ilyapa, no o poder de criar tempestades ou manipular os ventos que ir leva-los vitria, mas sim aquilo que voc no acredita ter: a fora para mudar o mundo. Tem estado

calada at agora, hora de agir. Ento, os olhos azuis de Meleyal se encontraram com os frios e negros olhos de Lo Wang: Lo Wang, voc sabe qual a fora que tem dentro de voc, e foi capaz de ensinar lies mesmo queles que estavam acima de voc. No subestime sua habilidade, lute com todas as foras, e isto ser suficiente. Por fim, Narel me observou, tambm sorrindo: Philipe Nicodemus, j no a primeira vez que vemos grandeza em voc. um dos mais jovens entre os aqui reunidos, e ainda assim, de todos os seus companheiros est em mais elevado Coro. No o tornamos Arcanjo e Querubim por compaixo ou simpatia, mas por sua capacidade. Confie em seus instintos e guie todos eles rumo verdade. No podemos obriga-los, disse Helammelak, por isso gostaramos que aceitassem sua misso. Dei um passo frente. Eu irei, disse, e chegarei s respostas para tudo isso. Karina tocou meu ombro. Acho melhor eu ir tambm, ou voc pode acabar se perdendo naquele lugar. Podem precisar de proteo, disse Ansgar, ento minha espada estar a seu servio. Se iro entrar na escurido, ento melhor que eu os acompanhe. No quero ter a conscincia pesada depois, disse Lo Wang, estranhamente sorrindo. No pensem que iro sem mim, murmurou Fabrizia. Al-Malik fechou seus punhos e falou em voz alta: E eu estarei l tambm. Al estar conosco. Ento, olhamos todos para Absolon, que ainda estava pensativo. Voc ir?, perguntei. Claro que irei, ele disse, ainda receoso, jamais abandonaria meus companheiros. Sentando-se, os Veritas sorriam. Voltem em duas horas, quando ser noite densa naquela regio. Venham vestidos para guerra, disse Helammelak. Enquanto saamos, Narel chamou-me. Paramos e nos viramos para os conselheiros, e ela me disse: Mas ouam, talvez Dur Sharrukin seja apenas o comeo. Por algum motivo, acreditamos que o tigre em seus sonhos tenha mais importncia do que Leviathan. Eu sonhei com o tigre esta noite, revelei, e vi duas cidades. Ento, Philipe Nicodemus, siga seus sonhos. Eu esperava que os Veritas me perguntassem mais sobre o sonho, mas ao invs disso levantaram-se e saram. Ento, eu e meus companheiros continuamos a andar, de volta ao corredor da dvida e do conhecimento. Apesar da sbita coragem que nos contagiou, estvamos novamente temerosos. Venham vestidos para guerra, Helammelak disse, indicando que no seria uma tarefa fcil ou inofensiva. Foi com este medo nos incomodando que retornamos a meus aposentos, em Sans Vidya. Assim que retornamos, nos despedimos novamente. Cada um partiu para se preparar, tanto fsica como psicologicamente, para o que estava por vir. Tomei um banho e, em seguida, apenas vesti roupas mortais: uma cala marrom, botas e uma camisa branca, de manga curta. Coloquei um sobretudo e um chapu, tambm marrons. O resultado pareceu uma roupa de detetive, bem diferente dos mantos que costumo vestir no den. Embora eu prefira minhas roupas celestes, achava que aquele traje mortal seria til, pois Dur Sharrukin seria apenas nossa primeira parada naquela noite. Ento, esperei pelos demais em meu escritrio. Karina foi a primeira a chegar. Estava de cabelo preso em um rabo de cavalo, vestindo calas jeans e camiseta branca, com uma jaqueta negra por cima, notei que surpreendentemente carregava uma pistola num coldre sob a jaqueta, e levava uma mochila nas costas. Nunca a vi armada antes, Karina, eu comentei. S sei usar armas de fogo, e sou muito ruim mesmo nisso. S usarei se achar que realmente preciso, ela disse. E o que tem na mochila?, perguntei. Roupas e outras coisas que sempre carrego. Sou uma eterna viajante, lembra?, ela respondeu, sentando-se ao meu lado. No vai se armar, Philipe?, perguntou, fitando-me nos olhos. Este velho no sabe usar armas, minha querida. Porm, os espritos obedecem meu chamado e os elementos erguem-se para me proteger. Nunca fui um combatente, ento eles sero minhas nicas armas, se que precisarei usalos. Espero que no precisemos, confessou. Eu tambm, Karina... eu tambm..., desabafei, murmurando. Ansgar chegou em seguida, silencioso e pensativo. Vestindo camiseta negra, botas e cala militar, ele carregava sua espada embainhada na cintura. Tambm carregava uma sacola nas costas. Absolon veio depois, vestindo-se de forma parecida com Karina, vestindo tnis, cala jeans e camiseta negra de alguma banda de heavy metal. Quando perguntei que armas trouxera, ele respondeu-me: Na mochila, tenho uma espingarda, uma bela calibre 12. No sei o que mais vou precisar. S sei que no sou guerreiro. Fabrizia, tambm de sobretudo, vestindo roupas negras por baixo, tinha prendido o longo cabelo escuro numa trana nica. Tambm usava uma bandana branca na cabea, portava uma longa faca de combate na cintura e uma espingarda nas costas, presa mochila que portava. Lo Wang veio em seguida, usando roupas totalmente negras, incluindo luvas e um capuz. Sua espada negra estava embainhada s suas costas. No cinto e pela roupa, notei vrios bolsos, quase imperceptveis, que sem dvida portariam mais armas. Por fim, sobre o brao direito, ele porta uma sacola, cuja ala passa pelo ombro esquerdo. Silenciosamente, ele une-se ao grupo.

Abd Al-Malik foi o ltimo. A cabea estava enfaixada em panos, formando um turbante branco, e ele vestia roupas pesadas rabes, em tom pastel, lembrando as figuras de bedunos, com o corpo todo, salvo mos e rosto, cobertos pela roupa. Uma cimitarra, maior e mais bela que a sua arma original, est em sua cintura, e s costas traz uma sacola. Estamos todos prontos?, perguntei. Todos disseram que sim. Ento, resolvi dar um ltimo alerta: Estamos indo a um lugar em que nenhum outro Celestial pisou em dois mil anos. H lendas e boatos sobre Dur Sharrukin, todos envolvendo sombras do passado. Grande Veritatis em pessoa proibiu que qualquer um voltasse quele lugar e as entradas conhecidas foram lacradas. Uma vez l, estaremos sozinhos. Esta a ltima chance, para quem quiser desistir. Nos entreolhamos, notei que alguns hesitavam. Ento, vinda da porta do escritrio, veio uma voz: No os assuste tanto, Nicodemus. Senhor Urias estava entrando, vestindo um manto branco. Apenas estou dizendo a verdade, Senhor Urias. Jamais iria querer que um deles me acompanhasse sem conscincia dos perigos que podemos encontrar. Ainda bem que os encontrei antes que forrem a Dur Sharrukin. Precisava falar algo a vocs, Urias disse. Absolon ento falou Ir conosco, senhor? Seria uma honra. Mas como sabia que amos a este lugar?. Eu conheo bem dois dos Veritas e ajudei-os a chegar cmara onde est o jarro. E no, caro Absolon, eu no irei com vocs, embora deposite minhas esperanas em sua busca. Infelizmente, permanecerei aqui. Com as descobertas feitas, sinto-me mais do que nunca na obrigao de vigiar os tneis, e preciso avisar alguns companheiros sobre os acontecimentos. Ao notarem que o Arcanjo recusara-se a nos acompanhar, notei que meus companheiros novamente perdiam a esperana e se entreolhavam, temerosos. Mas ento Urias pediu nossa ateno. Sei que esto com medo, disse o Arcanjo, sei o que sentem e o que pensam. Como podem os Arcanjos nos abandonar agora?, no ? Pois h algo que vim dizer a vocs. Urias aproximou-se antes de continuar. Vocs foram escolhidos para uma misso. E se um Guardio os escolheu, porque esta um peso que devem carregar por si mesmos. Por outro lado, saibam: assim que nascem os heris e as lendas. Vocs esto destinados a grandes feitos. Pensem bem... Um dia, cada grande Arcanjo foi como vocs. Eles se tornaram lendas enfrentando o desconhecido. No so os grandes Arcanjos que definem o rumo da histria, mas vocs. Os Primi no ganhariam nenhuma guerra se no houvesse milhares de Celestiais lutando por eles. Enquanto vocs relacionam poder a importncia, lembrem-se sobre quem est o verdadeiro peso das decises: os humanos. Ns apenas os guiamos. Da mesma forma, os Arcanjos apenas esto guiando vocs, mas sero vocs quem definiro os resultados de sua misso. No vou mentir: talvez vocs enfrentem situaes duras. Mas no pensem que esto sozinhos. Se vocs foram escolhidos, ento quem os escolheu estar olhando por vocs. Vocs, mais do que ningum, deveriam saber que milagres de fato acontecem. Por isso, eu irei passar apenas uma mensagem, e quero que a lembrem quando chegar o momento. Ento, Urias afastou-se um pouco, olhou cada um de ns, vendo todos os nossos medos, e disse: Quando chegar o mais desesperador dos momentos, acontecero maravilhas. E, neste momento, vocs vero que no esto sozinhos. Um silncio seguiu-se. Urias ento saiu, calmamente, da sala. Antes de fechar a porta, desejou-nos boa sorte. Ento, nos olhamos novamente. Era hora de encontrar o Conselho. Ele nos indicaria o caminho para Dur Sharrukin, e l espervamos encontrar todas as respostas.

Captulo 5: Sombras do PassadoQuando as lendas comeam? no momento em que seus protagonistas aceitaram sua misso? Se sim, nossa histria comeou naquele momento em que estvamos diante do Conselho Veritas pela ltima vez? Ali ns sete estvamos, ouvindo as palavras de Narel Veritas. Vocs iro agora para Dur Sharrukin, a Fortaleza de Sargon. Mas antes, precisam entender a localizao de seu destino. A verdadeira Dur Sharrukin foi uma cidade erguida pelos Assrios em tempos antigos. Dur Sharrukin se localiza na vila de Khorsabad, 20 quilmetros ao nordeste de Mossul, no Iraque. Porm, o templo de Dur Sharrukin, que foi o local da batalha final da Primeira Grande Guerra, se localiza sob a cidade assria. Suas nicas entradas conhecidas se davam pelas montanhas prximas, mas estas entradas foram fechadas. E como entraremos?, perguntei. Narel continuou: Apenas os mais poderosos ritos podem levar ao interior do templo, mas tais ritos so evitados, pois no se sabe quais efeitos colaterais podem causar naquele lugar. Por isso, vocs entraro por uma passagem h muito escondida. Em meados de 1850 da Era Crist, uma expedio francesa foi enviada s runas da cidade assria de Dur Sharrukin para realizar escavaes. Os Malaki no julgaram que a expedio fosse capaz de encontrar o templo subterrneo, visto que est a mais de cem metros sob o solo. Porm, para a nossa surpresa, haviam galerias de cavernas naturais no solo entre o templo e a cidade. Uma vez mais a interrompi com uma pergunta: Ento, os franceses encontraram uma passagem?.

Houve um desabamento nessas cavernas, abrindo uma passagem sob a cidade assria. Em 1855, investigaram essas cavernas. Para nosso desespero, abriram uma passagem para o templo. Nenhum dos exploradores que adentrou aquele lugar conseguiu retornar. Como medida de segurana, tomamos o cuidado de selar a entrada para as cavernas e enviamos Arcanjos, que se revezavam anualmente, para vigiar o local e impedir que a humanidade encontrasse aquele lugar infernal. Assim, mantivemos o templo de Dur Sharrukin oculto pelos ltimos 150 anos. Helammelak tomou a palavra ento, levantando-se: O Arcanjo guardio de Dur Sharrukin deste ano ir levarvos a esta passagem oculta. Porm, ele ir acompanhar-vos apenas at a entrada das cavernas. Uma vez l, vs estareis por sua prpria conta. As palavras de Helammelak no ajudavam a nos tranqilizar. Eu buscava no pensar muito nisso, tentava acreditar que tudo ficaria bem. Narel tomou novamente a palavra: Dur Sharrukin, o templo infernal, uma fortaleza subterrnea dividida em trs grandes nveis. Acreditem em mim quando lhes digo que aquele lugar uma vastido subterrnea como nenhum de vocs jamais viu. Construda com arquitetura e magia infernal, h uma escurido densa ali, e as dimenses


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