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22 | janeiro de 2011 |

:: DOENÇAS AUTOIMUNES

"Se Deus me trouxe essa doença, é por-que eu tenho condições de vencer e convi-ver bem com ela. Não me sinto uma 'coita-dinha'". É com esse pensamento que a au-xiliar administrativa Luciane Maria Oliveiraleva sua vida depois da chegada de um novocompanheiro: o lúpus. A doença, que semanifestou em 2009, acompanhará Lucia-ne por toda a sua vida, mas isso não é moti-vo para ela se abater. Fazendo o tratamen-to e tomando alguns cuidados, hoje a auxili-ar administrativa leva uma vida normal eencara esse momento de forma muito po-sitiva. Algumas celebridades como a canto-ra estadunidense Lady Gaga e o cantor bri-tânico Seal, também convivem com o lú-pus, doença ainda pouco conhecida por gran-de parte das pessoas e que não tem cura.

O lúpus é uma doença autoimune dotecido conjuntivo que pode afetar qualquer

parte do corpo. Nesse tipo de doença, osistema de defesa do organismo ataca aspróprias células e tecidos, resultando eminflamação e dano tecidual. De acordo coma reumatologista Laura Souto (CRM026715), o lúpus pode afetar qualquer pes-soa e iniciar em qualquer idade, sendo maiscomum nas mulheres jovens, entre 15 e 45anos. As pessoas do sexo feminino são asmais afetadas, respondendo por 90% doscasos. Indivíduos com histórico familiar delúpus também têm maior chance de de-senvolver a doença. "Vários órgãos podemser afetados, mas nem todos desenvolvema doença da mesma forma. Nos casos leves,apenas a pele e as articulações são atingi-das. Em outros pacientes, a enfermidadetorna-se mais grave, podendo afetar o san-gue, os pulmões, os rins ou até mesmo osistema nervoso", explica Laura. No casode Luciane, o lúpus trouxe outros proble-

mas, como o hipotiroidismo e a nefrite lúpi-ca III (problema no rim). "As pessoas ficamcom receio quando falo da minha doença eme tratam como 'coitadinha', mas eu reagie estou seguindo em frente. Eu seria 'coita-dinha' se tivesse desistido e baixado a cabe-ça", afirma. A evolução da doença é impre-visível, com crises e remissões a qualquermomento.

A reumatologista conta ainda que hásuspeita de lúpus quando a pessoa apresen-ta manchas vermelhas no rosto, que costu-mam piorar com a exposição ao sol, aftasfrequentes na boca, queda de cabelo, febrepersistente, dores articulares (nas juntas),anemia, episódios repetidos de pleurite (lí-quido na pleura, camada que envolve o pul-mão), alterações no exame de urina, redu-ção das células brancas (leucócitos ou linfó-citos), redução das plaquetas (células da co-

Lúpus: umcompanheiro para a

VIDA TODAPor Camila SchäferJornalista (MTB 15120)[email protected]

O lúpus se manifestou em Luciane noano de 2009 e a acompanhará por todaa sua vida, mas isso não é motivo paraela se abater. Algumas celebridadescomo a cantora estadunidense LadyGaga e o cantor britânico Seal, tambémconvivem com a doença, poucoconhecida por grande parte das pessoas

Carine Schäfer

22 | janeiro de 2011 |

:: DOENÇAS AUTOIMUNES

"Se Deus me trouxe essa doença, é por-que eu tenho condições de vencer e convi-ver bem com ela. Não me sinto uma 'coita-dinha'". É com esse pensamento que a au-xiliar administrativa Luciane Maria Oliveiraleva sua vida depois da chegada de um novocompanheiro: o lúpus. A doença, que semanifestou em 2009, acompanhará Lucia-ne por toda a sua vida, mas isso não é moti-vo para ela se abater. Fazendo o tratamen-to e tomando alguns cuidados, hoje a auxili-ar administrativa leva uma vida normal eencara esse momento de forma muito po-sitiva. Algumas celebridades como a canto-ra estadunidense Lady Gaga e o cantor bri-tânico Seal, também convivem com o lú-pus, doença ainda pouco conhecida por gran-de parte das pessoas e que não tem cura.

O lúpus é uma doença autoimune dotecido conjuntivo que pode afetar qualquer

parte do corpo. Nesse tipo de doença, osistema de defesa do organismo ataca aspróprias células e tecidos, resultando eminflamação e dano tecidual. De acordo coma reumatologista Laura Souto (CRM026715), o lúpus pode afetar qualquer pes-soa e iniciar em qualquer idade, sendo maiscomum nas mulheres jovens, entre 15 e 45anos. As pessoas do sexo feminino são asmais afetadas, respondendo por 90% doscasos. Indivíduos com histórico familiar delúpus também têm maior chance de de-senvolver a doença. "Vários órgãos podemser afetados, mas nem todos desenvolvema doença da mesma forma. Nos casos leves,apenas a pele e as articulações são atingi-das. Em outros pacientes, a enfermidadetorna-se mais grave, podendo afetar o san-gue, os pulmões, os rins ou até mesmo osistema nervoso", explica Laura. No casode Luciane, o lúpus trouxe outros proble-

mas, como o hipotiroidismo e a nefrite lúpi-ca III (problema no rim). "As pessoas ficamcom receio quando falo da minha doença eme tratam como 'coitadinha', mas eu reagie estou seguindo em frente. Eu seria 'coita-dinha' se tivesse desistido e baixado a cabe-ça", afirma. A evolução da doença é impre-visível, com crises e remissões a qualquermomento.

A reumatologista conta ainda que hásuspeita de lúpus quando a pessoa apresen-ta manchas vermelhas no rosto, que costu-mam piorar com a exposição ao sol, aftasfrequentes na boca, queda de cabelo, febrepersistente, dores articulares (nas juntas),anemia, episódios repetidos de pleurite (lí-quido na pleura, camada que envolve o pul-mão), alterações no exame de urina, redu-ção das células brancas (leucócitos ou linfó-citos), redução das plaquetas (células da co-

Lúpus: umcompanheiro para a

VIDA TODAPor Camila SchäferJornalista (MTB 15120)[email protected]

O lúpus se manifestou em Luciane noano de 2009 e a acompanhará por todaa sua vida, mas isso não é motivo paraela se abater. Algumas celebridadescomo a cantora estadunidense LadyGaga e o cantor britânico Seal, tambémconvivem com a doença, poucoconhecida por grande parte das pessoas

Carine Schäfer

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palmente nos doentes mais graves, geran-do muitas vezes um quadro depressivo as-sociado. A redução da imunidade causadanão apenas pelo lúpus, mas também pelosmedicamentos utilizados durante o trata-mento aumenta o risco de infecções e tam-bém sua gravidade. Com esses novos cuida-dos, a vida de Luciane também mudou. Ago-ra ela precisa evitar a exposição ao sol ediminuir o consumo de sal e carne verme-lha, por exemplo.

"A partir de agora vou conviver comesse parceiro pelo resto da vida. Eu sei quenão tem cura, mas tenho fé e aprendi a con-viver bem com o lúpus", finaliza Luciane.

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"Os médicos ficamadmirados com minhaatitude e afirmam quegrande parte da minhamelhora é graças à formacomo lido com a doença.Hoje em dia, aconcentração dosmedicamentos é menorporque estou reagindomelhor e o lúpus há temponão se manifesta"Luciane Maria Oliveira

"Vários órgãos podem serafetados, mas nem todos

desenvolvem a doença damesma forma. Nos casosleves, apenas a pele e as

articulações são atingidas.Em outros pacientes a

enfermidade torna-se maisgrave, podendo afetar o

sangue, os pulmões, os rinsou até mesmo o sistema

nervoso"Laura Souto

Reumatologista

agulação) entre outros. Antes de des-cobrir a doença, Luciane teve vários dessessintomas e consultou diversos especialistas."Tinha dores nas juntas há três anos e acha-va que era só uma tendinite, mas os exa-mes mostraram que não. O médico me ori-entou e explicou que eu poderia ter lúpuse aí eu já comecei a me preparar. Quando odiagnóstico mostrou que era mesmo, euestava esperando, contudo, tremi na basee até chorei, mas continuei mantendo opensamento positivo", conta.

Como o lúpus pode se manifestar de mui-tas maneiras diferentes, deve-se prestaratenção em sintomas que não curam ao lon-go do tempo ou que retornam após o trata-mento. "Muitas pessoas solicitam ao clínico'exames para reumatismo' e com frequên-cia se assustam ao ver resultados fora dafaixa de referência. Gostaria de lembrar atodos que isto não é motivo para pânico,como já escutei algumas vezes. Nestes ca-sos, o ideal é consultar um reumatologistae fazer os exames necessários (sangue, uri-na, RX), que poderão auxiliar no diagnósti-co, seja de lúpus ou outra doença", disse amédica.

Embora o lúpus não tenha cura, existetratamento que varia de acordo com os ór-gãos afetados, com o grau de atividade dadoença e com as características de cada pa-ciente. De acordo com Laura, os medica-mentos utilizados atuam bloqueando ascélulas que produzem a inflamação nos di-ferentes locais. Uma vez combatida a infla-

mação, mantém-se um tratamento especí-fico, que é uma medicação que previne asrecaídas da doença. O lúpus pode ter com-plicações fatais, no entanto, as fatalidadestêm-se tornado cada vez mais raras. A do-ença não é transmissível e suas manifesta-ções variam muito de pessoa para pessoa.

Segundo Laura, a maioria dos pacientesconvive bem com a doença, realizando osexames periódicos e tomando os cuidadosbásicos de não se expor ao sol, usar filtrosolar, fazer exercícios físicos regulares paramanter um bom condicionamento físico,evitar a osteoporose e o ganho de peso."Como podemos perceber são orientaçõesindicadas a qualquer pessoa, mesmo àque-las saudáveis", conta. A orientação ao paci-ente com lúpus em relação à sua doença,ao tratamento e aos sintomas que possamsugerir uma recaída é de grande importân-cia no tratamento e na manutenção da qua-lidade de vida. Para entender melhor a do-ença, Luciane pesquisa e procura semprepor novidades na área. Manter o pensamen-to positivo também faz parte de seu trata-mento, que nunca deverá ser interrompi-do. Essa forma de encarar a doença já refle-tiu nos exames, que aos poucos vão mos-trando melhores resultados. "Os médicosficam admirados com minha atitude e afir-mam que grande parte da minha melhoraé graças à forma como lido com a doença.Hoje em dia, a concentração dos medica-mentos é menor porque estou reagindomelhor e o lúpus há tempo não se manifes-ta", afirma.

A gravidez também é um assunto deli-cado para as pacientes com lúpus. Algunsmédicos defendem que a mulher não podeengravidar, mas, segundo Laura é impor-tante lembrar que o lúpus não reduz a fer-tilidade, mas costuma piorar durante a ges-tação, levando a complicações não apenaspara a futura mãe, mas também para o feto."Apesar do risco, a gravidez não é proibida,porém deve ser planejada, aguardando omomento em que o lúpus esteja fora deatividade por um longo período", afirma.

De acordo com a reumatologista Laura,os exames frequentes, o fato de receber odiagnóstico de uma doença crônica aindapouco conhecida, os próprios sintomas dadoença e as altas doses de medicação cos-tumam reduzir a qualidade de vida princi- Asa de borboleta é uma das manifestações do lúpus

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