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  • INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM1

    Gil Miguel de Sousa Cmara2

    1. INTRODUO

    A cultura do amendoim feita visando a obteno de gros, destinados

    principalmente alimentao humana. Os gros podem ser consumidos na forma

    in natura, torrados ou empregados na arte culinria da confeco de doces.

    Industrialmente, o gro processado para a extrao do leo, sendo este de

    qualidade nobre e rico em cido olico, tambm utilizado na indstria de conservas

    (alimentos enlatados) e de produtos medicinais. Presta-se ainda, para fins

    carburantes, tendo sido includo em proposta de um programa de leos vegetais

    para fins energticos no Pas (Pr-Diesel), no incio dos anos oitenta.

    Na nutrio animal, as ramas das plantas (hastes + folhas) em culturas bem

    conduzidas, representa excelente alimento para ser usado como forragem na forma

    de feno. A torta ou farelo, subproduto da extrao do leo, possui elevado valor

    comercial. Devido a sua riqueza em protena indicada para a alimentao animal,

    principalmente bovinos de corte, sob a forma de farelo. Entretanto, devido ao

    problema da aflatoxina, tem sido mais comum a sua utilizao como adubo

    orgnico em culturas perenes, principalmente em caf e citros.

    De 1996 a 2005 a cultura do amendoim passou por uma nova fase de

    evoluo tecnolgica, efetivando a transio de uma tecnologia de produo

    semimecanizada para totalmente mecanizada. Essa transio tecnolgica surgiu da

    necessidade de adaptao da cultura aos atuais moldes de gerenciamento tcnico e

    empresarial da produo vegetal, voltada conquista de novos mercados, tanto

    internos como externos. Mercados estes, cada vez mais exigentes em qualidade do

    produto obtido.

    1.1. Origem e Difuso Geogrfica

    O amendoim cultivado planta originria do continente sul americano.

    Justifica-se esta origem pelo fato de no mundo, espcies selvagens serem

    encontradas em abundncia, apenas na regio compreendida entre o sul do estado

    1 Texto bsico da disciplina optativa LPV 506: Plantas Oleaginosas, do curso de graduao em Engenharia Agronmica da USP/ESALQ.

    2 Professor Associado do Departamento de Produo Vegetal da USP/ESALQ e Professor Responsvel pela disciplina LPV 506: Plantas Oleaginosas.

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    do Amazonas, no Brasil, e o norte da Argentina, aproximadamente entre as

    latitudes de 10 e 30 Sul. Atualmente, admite-se que o local referente regio dos

    vales dos rios Paran e Paraguai (antigo lago do Gran Chaco), seja o principal

    centro de origem gentica do amendoim (Gillier & Silvestre, 1970).

    Os indgenas foram os responsveis pela difuso inicial do amendoim s

    diversas regies da Amrica do Sul, sendo levado s ilhas do mar das Antilhas e,

    possivelmente, Amrica Central e Mxico. Sua introduo na Europa ocorreu no

    sculo XVIII, sendo cultivado inicialmente no Jardim Botnico de Montpellier e, ao

    final deste sculo, proveniente da Amrica, foi introduzido em Valena na Espanha,

    onde sua cultura se propagou (Peixoto, 1972).

    A primeira referncia escrita sobre o amendoim data de 1578 e foi registrada

    por Jean De Lery, a partir de relatos de viagens de franceses pelo Nordeste do

    Brasil, compilados no texto Voyage au Brsio.

    Existiram duas rotas de distribuio da cultura do amendoim pelo mundo. No

    incio do sculo XIX, os portugueses levaram o amendoim do Brasil para a costa

    ocidental da frica. Ao mesmo tempo, os espanhis o disseminaram do Peru para

    as costas do Oceano Pacfico, chegando posteriormente s Filipinas, de onde foi

    transportado para a China, Japo e ndia. A sua entrada nos Estados Unidos

    corresponde ao perodo de escravatura, quando do comrcio de escravos negros a

    partir da costa ocidental africana.

    1.2. Importncia da Cultura

    O gro de amendoim, seja in natura, seja semi ou totalmente processado

    industrialmente, proporciona uma srie de produtos e subprodutos que atendem a

    mercados especficos, gerando empregos e rentabilidade econmica, desde os

    pequenos grupos familiares, que manufaturam os gros nas chamadas fabriquetas

    de fundo de quintal, at as grandes agroindstrias nacionais e multinacionais.

    A importncia scio-econmica da cultura reside na comercializao e

    utilizao dos produtos e subprodutos descritos a seguir.

    1.2.1. Produtos derivados dos gros de amendoim

    O gro de amendoim pode ser consumido in natura (cru) ou,

    preferencialmente, torrado. Inicialmente de produo caseira, cada vez mais tem

    sido industrializado, devido ao seu largo consumo como aperitivo. So

    comercializados em diferentes embalagens por vrias empresas, na forma de gros

    despeliculados e salgados, amendoim japons, pralins e outros. Os gros devem

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    sofrer uma torrao parcial para liberar a pelcula que os recobre, sendo destinados

    a amendoim torrado sem pelcula. Tambm podem ser utilizados no recheio de

    bolos, bombons, chocolates, sorvetes e em inmeras outras formas.

    A utilizao do gro em confeitos rotineira no Brasil, principalmente para a

    confeco das paocas e ps-de-moleque, tradicionais doces brasileiros de paladar

    e aroma agradveis. Estes produtos so obtidos tanto em grandes empresas do

    ramo alimentcio, como em micro empresas caseiras, gerando renda para

    considervel segmento da economia informal. As diferenas entre os produtos

    residem nos padres de qualidade que cada estrutura capaz de estabelecer e

    manter. Alm do amendoim torrado e modo, os seguintes ingredientes entram na

    composio das paocas: sal, acar, mel, xarope de glicose, gua e aditivos

    conservadores.

    Pastas e cremes de amendoim so produtos derivados dos gros

    desintegrados e finamente divididos, de textura suave, podendo ou no ser

    adicionados de outros ingredientes como: sal, acar, mel, gordura e aditivos. Os

    cremes so elaborados para consumo direto no po, por exemplo, ou para uso em

    confeitarias. As pastas so mais usadas em bolos, biscoitos, sorvetes, bolachas,

    produtos de confeitaria e em batidas de aguardente.

    O uso mais tradicional dos gros tem sido a extrao do leo, originando,

    como subproduto, o farelo ou torta de amendoim. Entretanto, o maior destino

    comercial dos gros de amendoim tem sido a agroindstria alimentcia,

    especificamente a de confeitaria, seja na linha doce ou salgada. Atualmente, a

    produo de leo est condicionada ao que exceder para uso como alimento, ou

    sobra de gros inapropriados para consumo humano.

    1.2.2. Produtos derivados do leo de amendoim

    O leo de amendoim refinado possui as propriedades exigidas pelo

    consumidor, sendo utilizado tanto para alimentao, quanto para usos

    farmacuticos e medicinais. um leo de belo aspecto, sabor agradvel, aroma

    suave, fluido, pouco solvel em lcool e pouco suscetvel ao rano. Do leo podem-

    se obter os seguintes produtos derivados:

    Maionese: emulso cremosa obtida com ovos e leo vegetal, adicionada de

    condimentos e outras substncias comestveis. No pode ser adicionada de

    corantes e deve ter, no mnimo, duas gemas de ovo por litro de leo e 65% de leo

    vegetal comestvel em sua composio. No mximo, pode ter 0,5% de amido e

    conter alguns aditivos das classes dos acidulantes, conservadores e acidificantes,

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    de acordo com a legislao brasileira.

    Gordura hidrogenada: elaborada a partir da hidrogenao parcial do leo,

    sob condies controladas e especficas, para originar um produto com plasticidade

    desejada que atenda as mais variadas necessidades da indstria de panificao,

    confeitaria e para frituras.

    Margarina: emulso de gua em leo, onde a fase gordurosa uma mistura de

    leos e gorduras vegetais, s vezes, animais, em quantidade e proporo suficientes

    para assegurar sua solidificao em temperaturas ambientes normais. A fase

    aquosa constituda por leite magro, ou gua, ou uma mistura de ambos.

    Como todo leo vegetal, o leo de amendoim possui elevado valor energtico

    para fins carburantes, visando a substituio total ou parcial do leo diesel. Foi o

    prprio Rudolph Diesel, na Alemanha, quem props o uso de leos vegetais como

    combustveis de motores, ao usar leo de amendoim in natura para funcionar, com

    sucesso, um motor Elko. Entretanto, ainda existem alguns obstculos a serem

    considerados, como: alta viscosidade, ausncia de volatilidade nas temperaturas

    normais de trabalho dos motores e tendncia deposio de gomas e vernizes.

    Atualmente, poucas agroindstrias processam amendoim visando a extrao e

    exportao de leo bruto, cujos principais compradores so os Estados Unidos e a

    Unio Europeia. Alm dos usos apresentados, o leo de amendoim pode,

    potencialmente, ser utilizado como substituto do silicone em prteses mamrias.

    1.2.3. Produtos derivados do farelo de amendoim

    Aps a extrao do leo, sobra uma massa parcialmente desengordurada

    denominada de torta (leo residual > 1%) ou farelo (leo residual < 1%) de

    amendoim. O farelo de amendoim foi muito utilizado at 1961/62, quando se

    constatou o problema da presena da aflatoxina em raes para animais. Nessa

    poca, houve significativa mortalidade de perus ingleses, cujo fato foi atribudo

    rao elaborada a partir de farelo de amendoim importado do Brasil. Desde ento, o

    farelo de amendoim brasileiro sofre com esse estigma e foi, gradativamente,

    substitudo pelo farelo de soja.

    A torta, resduo da extrao do leo por prensagem, contm de 7 a 12% de

    leo. No utilizada em raes e nem em outras finalidades, pois o teor de leo

    deve ser recuperado, possuindo maior valor econmico que o farelo. O uso do farelo

    com torta desaconselhvel, pois o leo pode ranar, originando sabor

    desagradvel e rejeio pelos animais.

    O farelo, com teor de leo de 0,5 a 0,8%, comercializado de acordo com o

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    seu valor protico, exigindo-se no mnimo, 45% de protena em sua composio.

    A qualidade do farelo funo direta do processo de obteno e da qualidade

    do amendoim processado. Podem-se encontrar dois tipos de farelo: a) farelo

    proveniente do processamento do amendoim descascado: neste caso, de melhor

    qualidade, contendo 45% de protena, mdia de 8,5% de matria graxa e no

    mximo 9,5% de celulose; b) farelo obtido a partir do processamento de amendoim

    em vagem: neste caso de qualidade inferior (Tasso Junior et al., 2004).

    Farelos de qualidade inferior, com presena de areia e com risco de aflatoxina,

    devem ser direcionados ao mercado de fertilizantes orgnicos, onde so utilizados

    na adubao de caf e citros.

    1.2.4. Subprodutos derivados do processamento do amendoim

    Borra: no processo de extrao do leo, resta um subproduto constitudo por

    gua, leo residual e pequena quantidade de glicerdeos, denominado de borra.

    Esta tem aplicao direta na confeco de sabes, aps sofrer um processo de

    saponificao e lavagem.

    Cascas: o amendoim vem do campo em vagens, que so debulhadas para a

    retirada dos gros, sobrando assim as cascas. Estas so lignificadas e ricas em

    carboidratos, normalmente encontrando-se as seguintes utilizaes: a)

    combustvel sendo queimadas nas caldeiras da prpria indstria extratora de

    leo; b) rao animal onde, aps triturao, as cascas so misturadas em raes

    para ruminantes, embora os valores energtico e nutritivo sejam baixos;

    entretanto, este uso no comum, devido ao problema da aflatoxina; c)

    fertilizante, isolada, ou em mistura (compostagem) com outros produtos

    orgnicos, inclusive o farelo, destinada adubao orgnica de culturas perenes.

    1.3. Conjuntura Atual: Brasil e Mundo

    O continente asitico o que mais produz amendoim no mundo. A produo

    de amendoim em vagem se concentra em 10 pases, que representam mais de 80%

    da produo mundial. A China o principal pas produtor, com cerca de 41% do

    volume produzido. Juntos, China e ndia produzem 55% do volume mundial de

    amendoim (tabela 1). Os maiores importadores mundiais de amendoim so

    Holanda, Reino Unido, Canad, Japo e Singapura.

    Com relao produo nacional de amendoim em casca, dez estados da

    federao so produtores, destacando-se o estado de So Paulo como o maior

    produtor, respondendo por cerca de 90% da produo brasileira (tabela 2).

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    O Brasil j foi um grande produtor de amendoim. Na segunda metade do

    sculo XX, a cultura se expandiu a partir dos anos 50, quando as gorduras animais

    comearam a ser substitudas pelos leos vegetais, especialmente de amendoim e

    algodo, em decorrncia do processo crescente de urbanizao do pas. Em funo

    disso, a produo aumentou ano a ano, at atingir o volume de 1,7 milhes de

    toneladas em 1972. Porm, com o crescimento da cultura da soja, mais barata e

    abundante, as reas de cultivo e a produo foram diminuindo gradativamente,

    estabilizando-se na faixa atual de 85 mil a 95 mil hectares cultivados, com volume

    de produo entre 300 mil e 350 mil toneladas por ano.

    Tabela 1. Produo obtida, rea colhida e produtividade agrcola de amendoim em

    vagem dos principais pases produtores em 2012

    Pases 1 Produo

    (t)

    Relao (%)

    rea Colhida

    (ha)

    P. A. 4

    (kg ha-1) P/M 2 A/M 3

    01 China 16.800.000 40,8 - 4.700.000 3.574

    02 ndia 5.779.000 14,0 54,8 4.900.000 1.179

    03 Nigria 3.070.000 7,5 62,3 2.420.000 1.269

    04 EUA 3.057.850 7,4 69,7 650.740 4.699

    05 Myanmar 1.371.500 3,3 73,0 880.000 1.559

    06 Sudo 1.032.000 2,5 75,5 1.619.520 637

    07 Tanznia 810.000 2,0 77,5 839.631 965

    08 Indonsia 712.874 1,7 79,2 559.532 1.274

    09 Argentina 685.722 1,7 80,9 307.166 2.232

    10 Senegal 672.803 1,6 82,5 708.986 949

    Sub-Total 33.991.749 - - 17.585.575 -

    Outros 7.194.184 17,5 100,0 - -

    17 Brasil 334.224 0,8 - 110.366 3.028

    Mundo 41.185.933 - 100,0 24.709.458 1.667 1 Pases classificados por volume de produo. 2 P/M = participao percentual do pas em relao ao Mundo. 3 A/M = participao percentual acumulada dos pases em relao ao Mundo. 4 P.A. = produtividade agrcola. Fonte: FAOSTAT (2014).

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    Tabela 2. Produo obtida, rea colhida e produtividade agrcola de amendoim em

    vagem (total duas safras) dos principais estados brasileiros produtores.

    Safra 2012/2013

    Estados 1 Produo

    (t)

    Relao (%)

    rea

    (ha)

    P.A. 4

    (kg ha-1) E/P 2 A/P 3

    01 SP 293.000 89,8 - 80.500 3.640

    02 MG 9.800 3,0 92,8 2.900 3.379

    03 PR 6.800 2,1 94,9 2.400 2.833

    04 TO 6.000 1,8 96,7 1.500 4.000

    05 RS 5.200 1,6 98,3 3.400 1.529

    06 BA 3.100 1,0 99,3 3.000 1.033

    07 SE 1.400 0,4 99,7 1.100 1.273

    08 PB 400 0,1 99,8 500 800

    09 CE 300 0,1 99,9 1.100 273

    10 MT 300 0,1 100,0 200 1.500

    Brasil 326.300 100,0 - 96.600 3.378 1 Estados classificados por volume de produo. 2 E/P = participao percentual do estado em relao ao Brasil. 3 A/P = participao percentual acumulada dos estados em relao ao Brasil. 4 P.A. = produtividade agrcola. Fonte: CONAB (2014).

    Historicamente, os principais fatores que explicam a reduo da atividade

    econmica com amendoim no Brasil so:

    a) a concorrncia crescente da soja, cujo processo de produo sempre foi

    totalmente mecanizado, desde a semeadura at a colheita;

    b) a baixa produtividade por rea em alguns anos, devido a adversidades

    climticas e ou ocorrncia de doenas foliares para as quais h carncia de

    gentipos resistentes;

    c) baixa qualidade do produto quanto aos nveis permitidos de ocorrncia de

    aflatoxina nos gros;

    d) variao sensvel nos preos, principalmente quando da comercializao;

    e) escassez, em alguns anos, de sementes de boa qualidade, refletindo-se na

    elevao dos preos das sementes, e consequentemente, encarecendo o custo de

    produo;

    f) custo elevado do arrendamento da terra, variando de 15 a 20%, conforme a

    regio produtora;

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    g) dificuldade de captao de crdito em virtude de ser considerada cultura de

    alto risco e de produo incerta pelos agentes financiadores;

    h) desvalorizao cambial da moeda nacional, encarecendo os insumos,

    aumentando os custos de produo e a descapitalizao dos produtores de

    amendoim.

    Tradicionalmente, o amendoim em vagem sempre foi beneficiado e os gros,

    debulhados, destinados indstria extratora de leo bruto e ou pequenas

    indstrias, geralmente caseiras, para a fabricao de confeitos. Entretanto, a partir

    de meados da dcada de oitenta, uma nova linha de processamento industrial

    cresceu no estado de So Paulo, caracterizada pela utilizao de gros grados de

    amendoim na fabricao de diversos produtos alimentcios, tanto na linha de doces

    como na de salgados. Mais exigente em qualidade, este novo tipo de produto gerou

    forte competitividade na rea agrcola e do pr-processamento. Em conseqncia,

    forou a seleo de produtores, de maneira que, os mais cuidadosos com a

    tecnologia da produo e com a qualidade do produto colhido, permaneceram no

    mercado.

    Atualmente, no estado de So Paulo, a produo ocorre em duas regies

    distintas: a regio Norte, antigamente conhecida como Alta Mogiana,

    representada, pelos municpios de Ribeiro Preto, Jaboticabal, Sertozinho e

    Dumont e a regio Sudoeste, antigamente conhecida como Alta Paulista,

    representada pelos municpios de Marlia, Tup, Lins, Pompia e Oswaldo Cruz.

    A primeira caracteriza-se pelo predomnio de solos mais argilosos, com

    fertilidade varivel de mdia a alta, onde predomina o cultivo do amendoim das

    guas em reas de reforma de canaviais. Nesta regio, as reas cultivadas variam

    de 90 a 1.450 hectares (40 a 600 alq.), com maior diversificao de cultivares.

    tambm, nesta regio, que se observam maiores esforos no sentido de evoluir a

    tecnologia da produo de amendoim. Na tabela 3 so apresentados os principais

    estados da federao, responsveis pela produo da 1 safra de amendoim, mais

    conhecida como amendoim das guas.

    Na regio norte do estado de So Paulo, o amendoim cultivado nas reas de

    reforma de canaviais. Feito o ltimo corte econmico da cana-de-acar, o solo

    preparado e corrigido quimicamente para receber um novo ciclo canavieiro.

    Normalmente, a rea de reforma liberada pelas usinas e destilarias em setembro

    ou outubro, para o cultivo do amendoim das guas. Este deve ser colhido

    preferencialmente, at meados de fevereiro, ou no mais tardar, at a primeira

    semana de maro, quando feito o plantio da cana-de-ano-e-meio.

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    Tabela 3. Produo obtida, rea colhida e produtividade agrcola de amendoim em

    vagem, primeira safra (amendoim das guas), nos principais estados

    brasileiros produtores. Safra 2012/2013

    Estados 1 Produo

    (t)

    Relao (%)

    rea

    (ha)

    P.A. 4

    (kg ha-1) E/P 2 A/P 3

    01 SP 284.900 92,9 - 77.600 3.671

    02 MG 9.800 3,2 96,1 2.900 3.379

    03 PR 6.800 2,2 98,3 2.400 2.833

    04 RS 5.200 1,7 100,0 3.400 1.529

    Brasil 306.700 100,0 - 86.300 3.554 1 Estados classificados por volume de produo. 2 E/P = participao percentual do estado em relao ao Brasil. 3 A/P = participao percentual acumulada dos estados em relao ao Brasil. 4 P.A. = produtividade agrcola. Fonte: CONAB (2014).

    Na regio Sudoeste, predomina solos mais arenosos, com fertilidade varivel

    de mdia a baixa, onde era mais freqente o cultivo do amendoim das guas

    seguido pela cultura do amendoim da seca, principalmente nas antigas fazendas

    de caf com problemas de nematides formadores de galhas. Tambm era comum o

    arrendamento de terras de pastagens degradadas para produtores de amendoim.

    Neste caso, o produtor de amendoim assumia os custos das operaes de calagem

    e adubao da cultura. O tempo mnimo de arrendamento era de dois anos, aps o

    qual, o proprietrio recebia a terra de volta com resduos minerais e orgnicos

    provenientes das duas safras de amendoim, podendo reinstalar a pastagem.

    Hoje, a regio Sudoeste se caracteriza pela consolidao da expanso da

    atividade canavieira, iniciada a partir de meados dos anos noventa. Tambm se

    observa maior participao do amendoim das guas em relao ao amendoim da

    seca, em reas cultivadas que variam de 25 a 1.200 hectares (10 a 500 alqueires).

    Das guas e da seca so terminologias de mercado, prprias da cultura do

    amendoim, e referem-se s pocas de colheita das vagens. Assim, quando a

    colheita do produto se concentra nos meses de janeiro e fevereiro, tem-se a colheita

    do amendoim das guas, devido a maior freqncia das chuvas nesses meses.

    Quando a colheita do amendoim ocorre nos meses de junho a julho, tem-se a safra

    do amendoim da seca, devido ao predomnio de ambiente mais seco nessa poca do

    ano. Atualmente, veem sendo adotadas as terminologias amendoim primeira safra

  • INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 10

    e amendoim segunda safra em substituio aos termos amendoim das guas e

    amendoim da seca, respectivamente.

    Em ambas as regies, a produo agrcola realizada por produtores que

    cultivam o amendoim em terras prprias e ou arrendadas, sendo o arrendamento

    mais comum.

    1.4. A Rede Agroindustrial do Amendoim

    Independente da regio de produo, a unidade bsica de comercializao no

    mercado a saca de 25 kg de amendoim em vagem. Normalmente, o amendoim

    avaliado pelo comprador, denominado cerealista, que d preferncia ao produto

    que no tenha tomado chuva (amendoim chuvado), livre de aflatoxina (micotoxina

    causada por Aspergillus flavus) e que apresente, no mximo, 12% de umidade na

    vagem e renda mnima de 16 a 17 kg de gros para os cultivares de porte ereto e

    de 18 a 19 kg de gros para os de hbito rasteiro.

    Renda a terminologia prpria do comrcio de amendoim utilizada pelos

    cerealistas e se refere relao percentual, em massa, de sementes para frutos,

    para designar a quantidade de gros que todas as vagens rendem ou produzem.

    Em mdia, os cultivares nacionais apresentam uma renda de 70%, isto , de

    cada 100 kg de amendoim em vagem, retiram-se 70 kg de gros, ou, trs sacas de

    25 kg de amendoim em vagem rendem, aproximadamente, uma saca de 50 kg de

    gros HPS. Com estas caractersticas, o produtor recebe o melhor preo pelo

    produto.

    Como cerealista ou maquinista compreende-se a pessoa jurdica

    (particular, agroindstria, cooperativa, etc.) ou seu representante comercial, que

    possui a infraestrutura de beneficiamento. Ele recebe o produto em vagens

    ensacadas ou a granel, armazenando-o em pilhas ou a granel, enquanto no

    encaminhado para a pr-limpeza (ventilao).

    A seqncia bsica de beneficiamento para produo de sementes :

    a) recepo das vagens (em sacas ou a granel);

    b) ventilao das vagens a granel (ou aps a abertura das sacas);

    c) separao das impurezas (tocos de cana-de-acar, torres de solo, pedras,

    pedaos da prpria planta, alm de outras);

    d) debulha das vagens (abertura da vagem e retirada das sementes);

    e) classificao das sementes por tamanho em peneiras de crivos circulares e

    em mesas densimtricas;

    f) tratamento qumico das sementes com fungicida e inseticida;

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    11

    g) acondicionamento em sacas com capacidade para 40 kg, seguido do

    armazenamento.

    A seqncia bsica de beneficiamento para produo de gros HPS :

    a) recepo das vagens (em sacas ou a granel);

    b) ventilao das vagens a granel (ou aps a abertura das sacas);

    c) separao das impurezas (tocos de cana-de-acar, torres de solo, pedras,

    pedaos da prpria planta, alm de outras);

    d) debulha das vagens (abertura da vagem e retirada dos gros);

    e) classificao dos gros por tamanho em peneiras de crivos circulares e em

    mesas densimtricas;

    f) seleo eletrnica dos gros com descarte automtico daqueles que se

    encontram fora de padro (despeliculados, ardidos, manchados, quebrados);

    g) seleo manual dos gros para retirada daqueles que ainda se encontram

    fora de padro, aps passagem pela seleo eletrnica.

    h) acondicionamento em sacas com capacidade para 50 kg, seguido de

    armazenamento.

    Paralelamente ao beneficiamento, o cerealista determina o grau de umidade

    do amendoim e a presena ou no de aflatoxina. Para tanto, possui laboratrio

    prprio com tcnico devidamente treinado, ou contrata servios de terceiros.

    Grandes cerealistas possuem o seu prprio laboratrio de avaliao de aflatoxina

    em amendoim.

    A classificao por qualidade para o mercado mais exigente da agroindstria

    alimentcia feita em duas seqncias bsicas de seleo: eletrnica e manual.

    Nesta ltima, os gros maiores so encaminhados por meio de esteiras rolantes at

    as mquinas de ensacamento. Em ambos os lados das esteiras, funcionrias

    devidamente treinadas, retiram, literalmente com as mos, todos os gros fora de

    padro. Este produto conhecido como amendoim HPS (Hand Picked up

    Selected). Atualmente, todo processo de beneficiamento e classificao

    mecanizado e informatizado.

    O amendoim do tipo HPS o que recebe maior remunerao, pois vendido

    s grandes indstrias de alimentos nacionais e multinacionais. Estas avaliam em

    laboratrio prprio os nveis de aflatoxina nos gros. Se no estiverem de acordo

    com o padro nacional e ou internacional (tipo exportao) de toxicidade, o lote do

    produto devolvido ao cerealista. Uma vez aprovado, o produto encaminhado

    para a torrao com despeliculamento simultneo. Em seguida, entra nas linhas de

    produo de confeitos doces e salgados, que sero adquiridos pelo consumidor

  • INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 12

    final, normalmente mais exigente.

    Os gros menores, porm, de razovel qualidade, so vendidos aos pequenos

    empresrios que produzem as paoquinhas e ps-de-moleque de fundo de

    quintal, enquanto os ardidos, despeliculados e quebrados, muito pequenos, so

    vendidos para a indstria extratora de leo bruto. Nesta, o rendimento industrial

    da ordem de 41% para a extrao de leo e de 57% para a produo de farelo, ou

    seja, de cada 100 kg de gros, obtm-se 41 kg de leo e 57 kg de farelo.

    A semente de amendoim representa um insumo relativamente oneroso para o

    produtor de amendoim. Na figura 1 encontra-se, de maneira sumarizada, a rede

    agroindustrial do amendoim.

    1.5. Fatores que Influenciam o Preo do Amendoim

    Basicamente, so quatro os fatores que interferem no preo do amendoim no

    campo:

    1.5.1. Clima

    As chuvas constituem o principal componente do clima que determina o preo

    do amendoim. A gua disponvel no solo e a umidade no ambiente so importantes

    durante todo o ciclo da cultura. A falta no incio determina a perda ou o atraso na

    semeadura do amendoim das guas, reduzindo a produo e sugerindo a

    elevao do preo no mercado. A seca durante os estdios da granao da vagem

    resulta no chochamento destas, dando origem ao amendoim bombinha, isto , ao

    ser pressionado pelos dedos da mo estoura, produzindo um som caracterstico de

    vagem vazia. Isto se reflete em frustrao de safra e elevao de preos. Por outro

    lado, chuvas na poca da colheita, seja amendoim das guas ou da seca,

    acarretam em perda de qualidade do produto, risco de aflatoxina e com certeza,

    reduo do preo pago ao produtor.

    1.5.2. Preo da cana-de-acar

    Se o preo da cana-de-acar diminui, a tendncia do fornecedor que sabe

    cultivar amendoim aumentar o cultivo desta espcie nas reas de reforma e

    buscar a compensao na venda do amendoim em vagem. O mesmo raciocnio

    adotado pelas usinas, ofertando mais terras para arrendamento.

    Conseqentemente aumenta a oferta do produto com a inevitvel reduo de preo.

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    13

    Figura 1. Resumo da rede nacional do agronegcio amendoim.

    1.5.3. Poltica de exportao

    No momento no interfere tanto, pois o amendoim produzido no Brasil

    consumido internamente, sendo muito pouca a quantidade exportada. Entretanto,

    se for pensada uma poltica de produo visando o mercado externo, h que se

    tomar cuidado sob trs aspectos bsicos: a) a Argentina, mais agressiva no

    mercado internacional, possui maior quantidade de terras em cultivo com

    amendoim, com volumes de produo, conforme o ano safra, duas a trs vezes

    maiores que a produo brasileira; alm disso, o custo de produo do amendoim

    argentino tem sido menor que o do correspondente brasileiro; b) no se pode abrir

    total e repentinamente o mercado de exportao, sem antes preparar o nosso

  • INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 14

    produtor para enfrent-lo; caso contrrio, corre-se o risco de alijar bons

    agricultores do sistema produtivo; c) estimular a estruturao e ou reestruturao

    de todo o setor produtivo, de maneira a estabelecer anualmente, um fluxo contnuo

    e de grande escala, para atender a demanda do mercado internacional liderada

    pelos pases asiticos, especialmente China.

    1.5.4. Taxa de cmbio

    A taxa de cmbio influencia diretamente nos preos dos insumos utilizados na

    instalao e conduo da cultura, aumentando as relaes de troca, o custo de

    produo e reduzindo a margem de lucro do produtor. Portanto, atua mais nos

    custos de produo do que propriamente no preo do produto.

    2. O INCENTIVO DA COPLANA CULTURA DO AMENDOIM

    2.1. Introduo

    Localizada no municpio de Jaboticabal, SP, a Cooperativa dos Produtores de

    Cana da Regio de Guariba (COPLANA), possui toda a infraestrutura necessria

    recepo, beneficiamento, armazenamento e comercializao do amendoim

    produzido nas reas de reforma de cana-de-acar e provenientes de todas as

    regies abrangidas pela cooperativa.

    2.2. Histrico

    A tecnologia adotada pelos cooperados no era diferente daquilo que

    tradicionalmente se fazia ao longo dos anos 60, 70 e at 80, ou seja, predomnio do

    cultivar Tatu, que apresenta hbito de crescimento indeterminado, limitando a

    produo devido aos problemas que ocorrem nas operaes manuais de arranquio

    e chacoalhamento das plantas e vagens de amendoim arrancadas e no subsequente

    enleiramento manual das plantas, para secagem no campo e posterior

    recolhimento mecanizado. Havendo descuido nas operaes relacionadas

    colheita, principalmente o chacoalhamento e enleiramento, ocorria o contato

    indesejvel do solo com as vagens midas, possibilitando assim, o desenvolvimento

    do fungo Aspergillus flavus e a ocorrncia de aflatoxina em nveis totalmente fora

    do admissvel pelo mercado consumidor. Face situao crtica a que chegou a

    atividade durante os anos 90, agravada ainda mais pela reduo na oferta de mo-

    de-obra qualificada para as operaes manuais de colheita e perante a importncia

    econmica do amendoim para os produtores da regio, a COPLANA assumiu a

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    15

    posio pioneira de programar estudos avanados e aplicados na cultura do

    amendoim para que a atividade adquirisse um novo conceito profissional e

    competitivo, de acordo com os atuais padres da economia globalizada.

    2.3. Pesquisa

    Por meio de convnios e parcerias com pessoas e instituies afins, a partir de

    meados dos anos noventa a COPLANA deu incio busca de conhecimentos sobre

    os sistemas de produo de amendoim em uso nos Estados Unidos da Amrica e

    na Argentina, para, a partir de uma viso mais ampla, direcionar os estudos

    bsicos que possibilitassem a aplicao de uma nova tecnologia de produo de

    amendoim no Brasil, porm, acessvel tcnica e economicamente ao produtor

    brasileiro. Paralelamente, em reas de produo sob sua influncia, a COPLANA

    passou a avaliar novos cultivares de hbito prostrado (argentinos e brasileiros, com

    destaque ao IAC-Caiap), de ciclo mais longo e com dormncia de sementes, de

    maneira que pequenos atrasos de colheita no resultassem em germinao de

    sementes nas vagens dentro da terra como acontece normalmente com o cultivar

    Tatu. Da mesma forma, passou a estudar, por meio da utilizao de mquinas e

    implementos agrcolas importadas dos EUA e da Argentina, a mecanizao total da

    cultura, principalmente das operaes de colheita, o que facilitado pelo porte

    prostrado dos desses novos cultivares. Alm disso, avaliou e continua avaliando a

    tolerncia e a resistncia gentica dos cultivares s principais doenas do

    amendoim, resultando na confirmao do cultivar IAC-Caiap como resistente

    verrugose e tolerante s cercosporioses.

    2.4. Mecanizao Total do Sistema de Colheita de Amendoim

    Em reas de reforma de canaviais, o amendoim cultivado quase que

    exclusivamente sem adubao, semeando-se, preferencialmente para mecanizao

    total, um cultivar que apresente porte mais decumbente (prostrado), em linhas

    espaadas entre si de 90 cm, com densidade de semeadura de 14 sementes/m.

    Cultivares argentinos e o prprio IAC Caiap foram avaliados nessas condies,

    obtendo-se inicialmente, rendimentos comerciais da ordem de 100 sacas de 25 kg

    por hectare ou 2.500 kg de amendoim em vagem por hectare. Lagartas e larva

    alfinete so as principais pragas que demandam vigilncia e controle. As principais

    doenas so as tradicionais manchas preta e parda, a verrugose e a ferrugem.

    Devido significativa crise de deficincia de mo-de-obra no ano agrcola

    1997/98, a COPLANA importou quatro implementos arrancadores dos EUA,

  • INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 16

    provenientes da Gergia, maior estado norte americano produtor de amendoim.

    O implemento denominado no Brasil de Arrancador Invertedor de

    Amendoim ou Arrancador Enleirador de Amendoim oferecido,

    predominantemente, no modelo de duas linhas. Trata-se de implemento com

    massa bruta varivel de 950 a 1050 kg, tracionado por trator traado de 80 a 90 HP

    de potncia recomendada (engate de trs pontos), cuja TDP trabalhando entre 540

    e 1000 rpm aciona os componentes ativos que promovem, em uma nica passada

    sobre fileiras duplas de amendoim, o corte da raiz, arranquio e enleiramento das

    plantas (Figuras 2 e 3). Em plena operao, esse implemento arranca e enleira 7 ha

    de amendoim por dia de 8 horas de trabalho, o que equivale a substituir 120

    homens-dia no campo.

    Esse implemento utilizado h mais de quarenta anos nos EUA e o princpio

    de funcionamento reside nos seguintes aspectos: a) sistema de corte da raiz

    principal do amendoim; b) sistema de elevao e chacoalhamento das plantas; c)

    sistema de inverso e enleiramento das plantas.

    O sistema de corte da raiz principal constitudo de duas lminas, que podem

    trabalhar em profundidades variveis de acordo com o tipo de solo e cultivar.

    Assim, para cultivares que frutificam mais superficialmente ou para solos arenosos

    ou pouco argilosos a profundidade de corte de 10 cm; j para cultivares cuja

    frutificao seja mais profunda ou para solos mais argilosos as facas aprofundam a

    15 cm no solo.

    O sistema de elevao e chacoalhamento das plantas constitudo de uma

    esteira metlica vibratria que capta as plantas arrancadas, elevando-as e

    chacoalhando-as de maneira a retirar o excesso de terra e promover uma rpida

    secagem no campo.

    O sistema de inverso e enleiramento constitudo por duplo jogo de discos

    (tambores) giratrios e aletas (varetas) metlicas. Ao atingirem o topo da esteira

    elevatria, as plantas caem por gravidade sobre os discos giratrios e as varetas

    metlicas dispostas lateralmente na parte posterior do implemento, promovem a

    inverso das plantas e a sua deposio de cabea para baixo ou com as vagens

    para cima em leiras uniformes sobre o solo (Figuras 4 e 5).

    Cultivares com porte prostrado e frutificao mais superficial permite melhor

    eficincia do sistema mecanizado de arranquio e enleiramento, de maneira que as

    leiras formadas so uniformes em altura e largura. Quando se trabalha com o

    cultivar Tatu ou outro que apresente porte mais ereto, h necessidade de se roar

    parcialmente a parte area para que o implemento promova uma boa inverso e

  • USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas Oleaginosas (2014)

    17

    enleiramento das plantas. Apesar da vantagem dos cultivares de porte decumbente,

    imprescindvel o acompanhamento e monitoramento da fase de maturao do

    amendoim, para que no se perca o ponto de colheita, pois, caso contrrio, poder

    ocorrer a germinao de sementes na vagem (cv. Tatu) ou desenvolvimento dos

    fungos Sclerotinia minor ou Sclerotinia sclerotiorum causadores da doena Mofo

    Branco, que causar perdas de vagens, independente do cultivar (Figura 6). Essa

    doena favorecida por baixas temperaturas (18C), umidade relativa do ar elevada

    (95% a 100%) e solo mido (Barreto, 1997).

    Uma vez enleiradas as plantas de amendoim, finaliza-se a primeira etapa da

    colheita mecanizada. No momento do arranquio das plantas, o amendoim colhido

    com cerca de 45% de umidade nos gros. No havendo chuvas, o amendoim

    enleirado seca no campo, reduzindo a umidade para cerca de 16% a 10% em 2 a 6

    dias, conforme as condies de insolao, temperatura e ventilao do ambiente.

    Aps a secagem do amendoim no campo, realizada a segunda etapa da

    colheita mecanizada, conhecida como recolhimento. No sistema tradicional, o

    recolhimento das leiras secas (11% a 10% de umidade no gro) feito por

    implementos recolhedores que tambm so tracionados por tratores de mdia

    potncia (engate de trs pontos) e cuja TDP aciona o molinete captador ou

    recolhedor de plantas na leira, elevador de correia que conduz as plantas at o

    cilindro batedor, onde as vagens sofrem o despencamento mecnico, isto ,

    separao fsica das vagens em relao planta me. Esta picada e direcionada

    ao saca palhas, retornando na forma de palha ao solo agrcola. Nos implementos

    antigos, as vagens eram encaminhadas para o sistema de ensacamento e

    acondicionadas em sacos de polietileno de malha grossa com capacidade para 25

    kg. Atualmente, aps o despencamento, as vagens so encaminhadas ao tanque

    graneleiro de tela metlica do implemento. Atingida a plena carga, o conjunto trator

    + implemento desloca-se para fora do talho, onde por meio de bscula lateral,

    abastece um veculo de transporte, que conduz as vagens a granel para o sistema

    de beneficiamento.

    No sistema COPLANA, as leiras de amendoim so recolhidas quando a

    umidade nos gros encontra-se em 16%. Desta forma, reduz-se o tempo de

    secagem de 5 a 6 dias, quando se quer 11% a 10% no campo, para 2 a 3 dias

    apenas. Posteriormente as vagens sofrem duas pr-limpezas, retirando-se as

    impurezas grosseiras. Em seguida, as vagens so encaminhadas para a secagem

    artificial.

  • INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 18

    2.5. Determinao da Renda e do Teor de gua

    Quando o amendoim mido chega do campo, retirada uma amostra

    homognea desse material para ser analisado em laboratrio. A amostra

    constituda por 500 gramas de vagens onde retirado e calculado o percentual de

    impurezas. Em seguida, as vagens so debulhadas, isto , abertas para a retirada

    dos gros. Estes so separados em bons, brocados e ardidos, calculando-se o

    percentual em peso de cada categoria. Por exemplo: se 500 g de vagens

    corresponderam a 375 g de gros de boa qualidade, isto significa que a amostra

    revelou renda de 75% ou seja, o lote de amendoim representada pela amostra de

    500 g rende 17,5, isto , 25 kg de amendoim em vagem do campo rendero 17,5

    kg de gros no beneficiamento.

    Para determinao da umidade, utilizado o mtodo de Brow Duwel, que

    consiste na retirada de 100 g de gros provenientes da mesma amostra. Estes so

    colocados em um erlenmeyer, no qual se adiciona leo at cobrir o nvel dos gros

    de amendoim. Em seguida, o sistema aquecido a 180C, de maneira que o vapor

    dgua a 100C volatiliza e passa por um condensador. Aps 10 minutos a gua

    condensada coletada e seu volume medido. Por exemplo: se a mesma amostra

    considerada anteriormente resultou em 17 ml de gua, isto significa que o lote de

    amendoim amostrado contem 17% de umidade no gro. Como a umidade desejada

    de 8%, aplica-se um valor de correo, que reverter em certa penalizao ao

    produtor daquele amendoim. Lembrar que o produto remunerado com base na

    sua renda e umidade no gro.

    2.6. Secagem

    Aps as duas operaes de pr-limpeza, as vagens so depositadas em

    carretas secadoras, isto , carretas que possuem sistema de captao de ar quente.

    O ar aquecido em pressurizadores que a cada 15 segundos queimam gs

    liquefeito de petrleo (GLP) e injetam ar quente no interior da carreta. Esta

    secagem deve ser feita a baixa temperatura (41C), para que no haja quebra dos

    gros durante o beneficiamento posterior secagem. O ar quente insuflado na

    parte inferior da carreta, onde passa de maneira ascendente pela massa de vagens

    e gros. Cada carreta comporta cerca de 250 sacas de 25 kg de amendoim em

    vagem, cuja umidade inicial nos gros situa-se entre 18% e 16%. Aps 16 a 20

    horas de secagem, a umidade nos gros diminui para 8%. Neste nvel de umidade e

    aps ser beneficiado, o amendoim pode ser armazenado sem risco de ser

    contaminado pelo fungo Aspergillus flavus, cujo desenvolvimento favorecido por

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    19

    umidade no gro acima de 8% (Figuras 7 e 8).

    2.7. Beneficiamento e Classificao

    Na COPLANA e em muitas outras beneficiadoras, o beneficiamento do

    amendoim era ou ainda feito por mquinas adaptados do caf. Primeiramente o

    amendoim proveniente do campo passa por um processo de pr-limpeza e secagem

    (item anterior).

    A pr-limpeza retira os pedaos de colmos e de touceiras de cana-de-acar e

    funciona com base em trs princpios: vibrao, peneiramento e ventilao. Aps a

    pr-limpeza, o amendoim passa por um catador de impurezas grosseiras,

    separando pedras, torres, etc. Em seguida, as vagens so encaminhadas ao

    debulhador, que consiste em um sistema de quatro facas que promovem a

    abertura da vagem e a retirada dos gros. Na prxima etapa, os gros passam por

    uma coluna de ar que separa os gros inteiros dos cotildones ou amendoim

    banda e das impurezas mais leves (casquinha ou pelcula, pedacinhos de gros e

    embrio). Em seguida, o amendoim passa por um classificador com peneiras

    vibratrias, que os separam em diferentes classes de tamanho, conforme o

    dimetro dos orifcios padronizados em dcimos de avos de polegadas. Por exemplo,

    peneira 20 representa o dimetro dos gros de lotes de amendoins, que passaram

    pela peneira 21, porm, foram retidos pela peneira 20, cujos orifcios possuem o

    dimetro de 20/64 avos de polegada.

    Os gros de tamanho inferior ao da peneira 16 vo para a indstria de leo.

    Os gros de peneiras 16 e 17 so destinados para as indstrias de confeito. Os de

    peneiras 18, 19 e 20 so os preferidos para semente, pois tm maior rendimento na

    semeadura; por exemplo, usando amendoim da peneira 18, os produtores gastam

    cerca de 200 kg de sementes por alqueire ou 83 kg/ha. Os cultivares de porte

    rasteiro, do grupo Virgnia, como por exemplo, os cultivares Runner e IAC 886

    apresentam mais de 60% dos gros classificados na peneira 24 ou acima.

    Alm do classificador, o amendoim passa pelas mesas densimtricas, que

    separam o amendoim com base no peso especfico dos gros. Nessas mesas

    identificam-se os gros mais pesados que ficam na parte superior da mesa

    densimtrica (cabea) e que so encaminhados ao seletor eletrnico para separao

    de amendoins de melhor padro de qualidade para atender o mercado mais

    exigente; a poro intermediria que destinada aos mercados menos exigentes e a

    parte inferior (calda) que fica na parte mais baixa da mesa densimtrica e

    constituda pelos gros mais leves e que so destinados s indstrias de leo. Os

  • INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 20

    gros quebrados correspondentes aos cotildones separados so denominados de

    amendoim banda e so destinados a confeitaria mais caseira que produz as

    famosas paoquinhas e ps-de-moleque.

    O termo HPS (Hand Picked up Selected) significa em portugus o

    amendoim catado e selecionado mo (Figura 9), correspondente ao amendoim

    da peneira 18 e que, antigamente, era selecionado por mo-de-obra feminina.

    Devido ao custo dessa mo-de-obra especializada, atualmente essa operao feita

    atravs de uma mquina denominada seletora eletrnica, tambm adaptada do

    produto caf, que substitui, aproximadamente, 20 funcionrias seletoras.

    2.8. Seletora Eletrnica

    Trata-se de um equipamento que classifica eletronicamente os gros de

    amendoim com base em sua colorao. Nesse equipamento, os gros de amendoim

    caem em forma de bica corrida, deslizando por dois roletes de metal. Em um

    determinado ponto do trajeto, passam por um feixe de fibra tica, que promove um

    reflexo da tonalidade da cor dos gros. O sistema reconhece quatro cores, a saber:

    a) branco para os cotildones (banda); b) amarelo para os gros imaturos ou de

    cultivares de colorao creme; c) preto para os gros ardidos e batatinhas de

    tiririca; d) vermelho para os gros inteiros e desejveis. O seletor ajustado de

    acordo com a cor do tegumento dos gros do cultivar em classificao. Por exemplo,

    se este for vermelho como o cv. Tatu, o ajuste ser feito para a retirada dos gros

    de outra cor; para isto, o ajuste da cor vermelha fica no nvel zero, enquanto os

    demais nveis so determinados de acordo com o rigor da seleo. A capacidade da

    mquina de 600 gros/segundo. O gro descartado recebe um jato de ar,

    desviando-o para outra bica. Os gros descartados ou rejeitados so encaminhados

    para outra mquina seletora eletrnica, de maneira a retirar somente os gros

    ardidos. Estes vo para as indstrias de leo. Os demais, quebrados, bandas e

    inteiros passam novamente por uma mesa densimtrica para separ-los.

    A seleo eletrnica determina os defeitos dos gros e os classificam de

    acordo com as especificaes que constam em uma tabela de padres de

    amendoim, definidos pelo Ministrio da Agricultura. Segundo essa tabela os

    amendoins classificam-se em HPS 1, HPS 2 e HPS 3. Aps a seleo eletrnica os

    gros so acondicionados em sacas com capacidade de 50 kg ou em big bags com

    capacidade para 1.000 kg. De cada 2 toneladas de amendoim ensacado retirada

    uma amostra para anlise de aflatoxina.

  • USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas Oleaginosas (2014)

    21

    2.9. Anlise de Aflatoxina

    Na prpria COPLANA existem laboratrio e tcnicos qualificados para

    realizao da anlise de aflatoxina nos gros. Essa anlise consiste em

    cromatografia de camada delgada. O Ministrio da Sade permite at 20 ppb de

    aflatoxina, com exceo do tipo B1 que se for o nico presente no gro, no pode

    ultrapassar o limite de 5 ppb. A amostra composta de vrias subamostras de 20 g

    coletadas de sacas de 50 kg. Aps o preparo da amostra, esta comparada com o

    padro, sob luz ultravioleta; o reflexo dessa luz identifica o nvel e o tipo de

    aflatoxina.

    Figura 2. Vista posterior do arrancador enleirador de

    amendoim estacionado.

    Figura 3. Vista posterior do arrancador enleirador de

    amendoim, em operao.

  • INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 22

    Figura 4. Vista posterior dos componentes de

    chacoalhamento, elevao e inverso das plantas de amendoim.

    Figura 5. Leiras de amendoim distribudas mecanicamente pelo implemento

    arrancador enleirador de amendoim.

  • USP/ESALQ - Departamento de Produo Vegetal - LPV 0506: Plantas Oleaginosas (2014)

    23

    Figura 6. Doena mofo branco em plantas enleiradas

    de amendoim, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum.

    Figura 7. Pilhas de amendoim em vagem a espera da

    pr-limpeza.

    Figura 8. Carretas secadoras de amendoim em vagem.

  • INTRODUO AO AGRONEGCIO AMENDOIM 24

    Figura 9. Seleo de gros de amendoim pelo mtodo da

    catao manual.

    BIBLIOGRAFIA

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    Nakagawa, Ciro Antonio Rosolem. Botucatu: FEPAF, 2011. 325 p. SANTOS, R.C. O agronegcio do amendoim no Brasil. / editor tcnico, Roseane

    Cavalcanti dos Santos. Campina Grande: Embrapa Algodo, 2005. 451 p.


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