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B8 Economia SEGUNDA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

● É o primeiro sistema de autenticação no Brasil que valida o acesso do usuário a diversos serviços de governo eletrônico

RECEITA FEDERAL SAÚDE

TRANSPORTESPREVIDÊNCIABANCOS

DETRANEDUCAÇÃO

CULTURA

LOGIN CIDADÃO

Como funciona

1 O usuário se cadastra usando seus dados pessoais

3 Com sua ‘identidade digital’, o usuário pode acessar serviços públicos

NÚMERO TELEFONE

E-MAIL

NOME

2 Criado o perfil, o usuário pode inserir outros dados, como CPF e título de eleitor

● EMISSÃO DE DOCUMENTOS

● SOLICITAÇÃO DE INFORMAÇÕES

● CONSULTA POPULAR

● OUVIDORIA

GOVERNO ELETRÔNICO

POR SER UM SOFTWARE LIVRE (GRATUITO, CÓDIGO ABERTO E REPLICÁVEL), PROMOVE TRANSPARÊNCIA E PODE SER ADAPTADO POR QUALQUER GOVERNO

UM SISTEMA DE IDENTIDADE DIGITAL DARIA ACESSO A SERVIÇOS PÚBLICOS DE DIVERSAS ÁREAS

No futuro

Durante o desenvolvimento doLogin Cidadão pelo governo doRio Grande do Sul, foi organiza-da uma viagem para a Estônia,com o apoio do Banco Mundial,Há duas décadas, o país do lesteeuropeu é tido como um dosmaiores exemplos – ao lado deoutros como Reino Unido, Is-rael, Nova Zelândia – quando oassunto é governo eletrônico.

Entre os seletos membros daviagem, estava o analista de sis-temas da Procergs, RicardoFritsch, que lembra da surpresade se deparar com um país“montado sobre tecnologia”. Adigitalização do governo e aoferta de serviços, segundo ele,só foi possível por existir um sis-tema integrado, no qual o cida-dão tem uma identidade que o

autentica no meio online ou fo-ra dele. “É um sistema de vidabaseado no digital.”

“Cada um deles tem um car-tão com um chip que serve co-mo identificação, passaporte,carteirinha de estudante, his-tórico médico, ou qualquer ou-tra coisa necessária frente a umserviço público”, diz.

Mais do que um sistema dearmazenamento de informa-ções, a solução utilizada autenti-ca processos. Ele dá o exemplode um sujeito que vai ao médicoe recebe um receituário. “Na far-mácia, ele apresenta o seu e-ID(cartão de identidade eletrôni-ca), que autoriza a sua compra.”

O complexo sistema, batiza-do de X-Road, permite aindaque o cidadão use a mesma iden-tidade para serviços no bancoou na compra de um imóvel.

O sistema foi consolidado detal maneira que possibilita cida-dãos participarem de eleiçõesremotamente.Apesar ter estrea-do em 2005, o modelo chegou acontar com 24% dos votos emiti-

dos online nas eleições parla-mentares de 2011 (inclusive decidadãos fora do País).

A Estônia dá ainda outra li-ção, esta voltada para a garantiade controle dos dados pessoaispelos cidadãos. O sistema regis-tra os indivíduos que, por algu-ma razão, acessarem o perfil deum estoniano. Se, por exemplo,um policial checar dados priva-dos de um cidadão sem motivorazoável, ele poderá responderna Justiça caso o dono dos da-dos se sinta invadido.

“Eles também adotam umapolítica muito transparentepor conta do digital. Por exem-plo, todos os softwares que ogoverno usa são livres. O X-

Road roda em Linux (núcleo desistemas operacionais livres), osistema de votação roda em Li-nux e o código do software usa-do na votação está publicado noGitHub (popular biblioteca on-line de softwares de código aber-to)”, diz o analista.

Na viagem, ficou evidente adistância da realidade brasilei-ra em relação a do país báltico.Fritsch aponta ainda o fato denão existir aqui uma identidadeúnica (hoje, é possível ter umRG em cada Estado brasileiro)e termos só 48% da populaçãocom acesso à internet em casacomo grandes barreiras. “Se qui-sermos chegar lá, essa evoluçãoa gente vai ter que fazer.”/M.R

Modelo brasileirotem forte inspiraçãoem país da Europa

Perfil único. Projeto gaúcho promete maior controle do cidadão sobre utilização de seus dados por órgãos públicos e já serviupara autenticar eleitores em consultas públicas; técnicos do governo federal avaliam trazer tecnologia para o âmbito nacional

Sistema cria ‘identidade digital’ paraacesso a serviços públicos na internet

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LINK ONLINE

Murilo Roncolato

Na última semana, mais de121 mil gaúchos votaram so-bre quais temas deveriam re-ceber maior atenção no orça-mento estadual do ano quevem sem sair de casa, pela in-ternet. Desses cidadãos onli-ne, uma fração se destaca: pa-ra garantir que eram quem di-ziam ser, pouco mais de milvotantes usaram um sistemachamado Login Cidadão, oprimeiro no Brasil a atuar co-mo uma “identidade digital”e que deve servir, a partirde agora, de base paraum sistema ainda emdiscussão, que podevir a cobrir todo o País.

A plataforma surgiuno ano passado com a in-tenção de resolver umproblema: permitir que ocidadão pudesse ter contro-le de qual órgão tem suas infor-mações na hora de se identificardigitalmente para usar serviçospúblicos na rede. A solução foidesenvolvida pelo órgão de TIdo Estado, a Procergs, contandocom a consultoria do BancoMundiale doInstituto deTecno-logia e Sociedade do Rio (ITS-Rio),e ainda uma viagem de pes-quisa para a Estônia, país tidocomo exemplo máximo do quese chama de “governança digi-tal” (mais informações abaixo).

Discretamente, o recursoconseguiu a adesão de ao menoscinco importantes serviços lo-cais: o Mapa da Cultura (que exi-be as atividades culturais basea-do em sua localização), Ouvido-ria, Consulta Popular (responsá-vel pelo citada eleição de priori-dades do orçamento anual doEstado), a Pró-Cultura (que di-vulga editais para projetos naárea) e a Nota Fiscal Gaúcha. Aperspectiva, no entanto, é de au-mentar esse número.

“Temos demandas imediataspara usar o sistema para identifi-carservidor público, algumas se-cretarias no governo e de ou-tros órgãos como o Instituto Ge-ral de Perícias, que poderia usaro sistema para identificar víti-mas a partir das suas informa-ções biométricas, por exem-plo”, diz Antônio Ramos Go-

mes, presidente da Procergs.A solução, útil para autenti-

car pessoas na internet – o pro-cesso é idêntico ao que passaum usuário quando entra emsua conta no Google, Facebookou Twitter para validar um aces-so a outros aplicativos ou servi-ços –, chamou atenção por iralém da mera validação de umusuário. Sua ideia é se tornarum sistema de identidade digi-tal, formada por documentos einformações fornecidas pelopróprio cidadão – como títulode eleitor, CPF, RG etc. – queserão utilizados somente apóssua explícita autorização.

“Nós usamos o conceito deque é o cidadão que forma a re-de do Estado, ele diz o que quertornar disponível da sua identi-dade. Ele fornece os documen-tos que quiser e isso permiteque ele tenha acesso a servi-

ços”, explica Gomes.Para entender a ideia de uma

identidade na internet, uma re-lação poderia ser feita com omundo fora dela. Quem explicaé o pesquisador especializadoem gestão de identidade, Cláu-dio Machado.

Para andar na rua, ninguémprecisa portar seu CPF ou umdocumento que te identifique,diz ele. “Mas para usar um servi-ço público ou ir no banco, sim.Na internet é a mesma coisa: pa-ra navegar, é possível ser anôni-mo, mas para usar um serviçopúblico, é preciso se identifi-car.”

“Agora, se o governo quer ofe-recer serviço eletrônico paraque as pessoas possam fazer ma-trículas, pedir a emissão de do-cumentos, checar dados na Re-ceita etc, tudo de forma remota,seria possível fazer isso sem aidentificação da pessoa? Claroque não”, diz.

Para Cláudio Machado, o sur-gimento do Login Cidadão ace-lera o debate sobre a “identida-de digital cidadã”, conceito fun-damental para o futuro da rela-ção entre governo e cidadão nomeio digital, que evolui de ape-nas uma página online com in-formações dispersas para a cria-ção de plataformas nas quais ocidadão se identifica, resolveproblemas (como emitir a se-gunda via de um documento) re-motamente, fiscaliza e até votapela eleição de representantes.

Em curso. O tal debate já acon-tece no Planalto Central, ondeórgãos oficiais trabalham no de-senvolvimento de um sistemaque torne a identidade digitalpossível. Marcos Martins Melo,coordenador Estratégico deAções Governamentais do Ser-pro, o órgão de TI do executivofederal, diz que está tudo “cami-nhando” e atualmente buscamaprender com soluções já exis-tentes, como a gaúcha.

“Não adotaremos o Login Ci-dadão exatamente, mas nos alia-mos para montar, sem ter quereinventar a roda, um modeloque órgãos de todo o País pos-

sam usar”, explica. “A gente es-tá falando de uma coisa que vaiinterferir na vida de 200 mi-lhões de cidadãos. Não pode seruma coisa com pouca discus-são.”

Melo explica que se trata deuma preocupação antiga, masque só agora surgiram mecanis-mos que tornaram a criação deuma solução possível. Buscan-do inspiração em modelos deoutros países, o técnico diz quea principal preocupação é criaruma solução tecnológica quepasse confiança.

“É uma solução que vai garan-tir prestação de serviço para ocidadão. Não podemos criaruma identidade semelhante àdo Facebook. Quando falamosde serviços públicos é importan-te que a geração de identidadeseja algo forte”, diz.

Ele lembra do caso do siste-ma da Estônia, que permite àpopulação um maior gerencia-mento de seus dados e eficiên-cia no acesso a serviços. “Quan-do você pensa em identidade, énecessário considerar que o ci-dadão deve estar no controle detudo. Não podemos simples-mente integrar bases de dadosdiferentes e dizer: ‘A partir dehoje, todas as informações des-se cidadão estão acessíveis des-te único lugar’. Ele é quem deve

agregar as informações que qui-ser, se quiser e para quem elequiser.”

Apesar do trabalho em anda-mento, o técnico da Serpro dizque atualmente não é possívelespecular sobre uma data deconclusão do projeto.

Riscos. Para o pesquisador eprofessor da faculdade de Direi-to da UERJ, Danilo Doneda, umsistema como esse poderá tra-zer “uma vantagem ilustrati-va”, voltada principalmente pa-ra a economia de recursos. Masseu sucesso, depende do modoque for implementado, diz.

“O Login Cidadão, por exem-plo, hoje é só para governo ele-trônico, mas uma solução des-sas pode servir para dar transpa-rência para os dados do cida-dão, garantindo que ele saiba oque cada órgão está fazendocom seus dados”, diz.

Mas também há riscos. Paraele, qualquer sistema de identi-ficação pode concentrar maisinformações sobre uma pessoaem um único local do que deve-ria e, assim, poderia facilitar a“coleta de dados indiscrimina-da”. “São problemas clássicos,inclusive a identificação civil. Apartir do momento que se evo-lui, aumentam-se os riscos deque essa solução seja mal utiliza-da.”

Ele lembra que outros paíseschegaram a lutar contra siste-mas de identificação semelhan-tes por receio em relação à suaprivacidade. “Por outro lado, es-ses dados já existem, os órgãospúblicos já os possuem. Se forpermitido um maior controlepelo cidadão, apesar de acarre-tar em um acesso maior aos da-dos pessoais, melhora-se o usoque se faz deles, melhora a vidado governo, moderniza suaprestação de serviço, além decolocar o cidadão como gestordas suas informações.”

INTS KALNINS/REUTERS

Criadores do projetoLogin Cidadão foram àEstônia entender como opaís conseguiu se criarsobre plataforma digital

l Dados na rede“O cidadão é que forma arede do Estado. Ele diz oque quer tornar disponívelda sua identidade, elefornece os documentos quequiser e isso permite queele tenha acesso a serviços.”Antônio Ramos GomesPRESIDENTE DA PROCERGS

“Na internet é a mesmacoisa: para navegar, épossível ser anônimo, maspara usar um serviçopúblico, é preciso seidentificar.”Cláudio MachadoESPECIALISTA EM GESTÃO DE

IDENTIDADE

Fama. Paísé conhecidopor serviçosdigitais euso desoftwarelivre

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