PITANGUEIRA
José Severino de Lira Júnior
João Emmanoel Fernandes Bezerra
Ildo Eliezer Lederman
Josué Francisco da Silva Junior
Recife, PE
2007
Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária - IPA
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:
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Comitê Editorial:Rita de Cássia Araújo Pereira Galindo (Presidente), Luiz Gonzaga Bione Ferraz, Maria Bernadete Costa e Silva, Elizabeth Araújo de Albuquerque Maranhão, Maria Marieta Andrade da Cunha Coutinho (Secretária)
Supervisão Editorial: Almira Almeida de Souza Galdino
Normalização Bibliográfica: Quitéria Sônia Cordeiro dos Santos
Revisão Lingüística: Gilberto Lobato de Medeiros
Diagramação e Arte: Ângela dos Anjos Vilela
1ª Edição1ª Impressão (2007): 1.500 exemplares
Todos os direitos reservados.A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação
dos direitos autorais (Lei nº 9.610)Dados Internacionais de catalogação na Publicação - CIP
IPA
P681 Pitangueira. Recife : Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária-IPA, 2007. 87p.
ISBN 978-85-60827-00-8
1.Pitanga – Cultivo. I. Lira Júnior, José Severino de. II. Bezerra, João Emmanoel Fernandes. III. Lederman, Ildo Eliezer. IV. Silva Junior, Josué Francisco da.
CDD: 634.23_____________________________________________________________________
© IPA 2007
Não és fruta que o tempo
ou copo de água
lava de nossa boca
como se nada.
Jamais PITANGA,
que lava a língua e a sede
de todo estanca.
João Cabral de Melo Neto, “Jogos Frutais”
José Severino de Lira Júnior
Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Pesquisador da Empresa Pernambucana de Pesquisa
Agropecuária-IPA
Estação Experimental de Itambé, PE 82, Km 32
55920-000 - Itambé, PE
E-mail:
João Emmanoel Fernandes Bezerra
Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Pesquisador da Empresa Pernambucana de Pesquisa
Agropecuária-IPA, Bolsista CNPq
Avenida General San Martin, 1371, Bonji - Caixa Postal, 1022
50761-000 - Recife, PE
E-mail:
Ildo Eliezer Lederman
Engenheiro Agrônomo, Ph.D. Pesquisador da Embrapa/IPA, Bolsista do CNPq
Avenida General San Martin, 1371, Bonji - Caixa Postal, 1022
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E-mail:
Josué Francisco da Silva Junior
Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros
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49025-040 - Aracaju, SE
E-mail:
AUTORESAUTORES
Os autores expressam o seu agradecimento ao Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco - Promata, à
Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco-
SARA e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID.
APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO
Uma das características da flora brasileira é a ampla diversidade
genética, entre outros fatores, provocada pelas diferentes condições edafo-
climáticas presentes em nosso país.
As espécies frutíferas nativas, na sua maioria, continuam sem
estudos agronômicos que permitam o seu cultivo. Há algumas iniciativas de
exploração extrativista em formações vegetais naturais, impulsionada por
nova tendência do mercado de frutas, especialmente aquelas ricas em
vitaminas e outras substâncias que tenham características benéficas à
saúde.
A Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária-IPA participa
desse esforço, com o objetivo de disponibilizar à sociedade, de forma
sistematizada, o conhecimento acumulado com a pesquisa da pitangueira
(Eugenia uniflora L.), que foi iniciada há vários anos, com a implantação de
um banco ativo de germoplasma, onde foram observados aspectos
fenológicos, agronômicos e a seleção de clones.
Este livro reúne conhecimentos obtidos com os estudos e as
pesquisas realizados com a pitangueira nas áreas de genética, propagação,
manejo, fitossanidade, colheita, pós-colheita e industrialização. Tais
conhecimentos foram sistematizados pela equipe de pesquisadores de
fruticultura do IPA, em parceria com pesquisadores de outras instituições
que formam o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, visando a
oferecer à sociedade – pesquisadores, técnicos, estudantes e produtores -
uma publicação que contribua com o desenvolvimento da fruticultura de
Pernambuco e do Brasil.
Júlio Zoé de BritoDiretor Presidente
A pitangueira é uma fruteira nativa do Brasil e encontra-se
disseminada, praticamente, por todo o território nacional. A exploração da
planta, em diversas regiões brasileiras, ainda caracteriza-se como
extrativista, com os frutos sendo comercializados em feiras livres para
consumo ao natural e/ou utilizada na indústria. Seu cultivo comercial
restringe-se aos Estados de Pernambuco e da Bahia, detentores das
maiores áreas cultivadas.
Em função da adaptação às diferentes condições de solo e clima, a
pitangueira é encontrada em diversas partes do mundo. Há registros de
cultivos em outros países da América do Sul e Central, do Caribe, nos
Estados Unidos (Flórida, Califórnia, Havaí), China, Índia, Sri Lanka, México,
Madagascar, África do Sul, Israel e vários países do Mediterrâneo (Popenoe,
1920; Moreuil, 1971; Campbell, 1977; Correa, 1978; Sturrock, 1980; Fouqué,
1981; Lahav & Slor, 1997).
O valor comercial da pitanga resulta do seu elevado rendimento de
polpa, valor nutritivo, sabor e aroma exóticos, atraindo, principalmente, os
consumidores exigentes por produtos naturais e saudáveis (Donadio, 1983;
Ferreira et al., 1987; Lederman et al., 1992; Bezerra et al., 2000).
Deve-se ressaltar que os trabalhos de pesquisa pioneiros da Empresa
Pernambucana de Pesquisa Agropecuária-IPA com a cultura da pitangueira
nas áreas de melhoramento genético, propagação e manejo fitotécnico
foram responsáveis por diversas tecnologias geradas, bem como por grande
parte das informações existentes atualmente no Brasil sobre a cultura e que
agora são disponibilizadas nesta obra.
Esta publicação destina-se aos profissionais da área de Fruticultura
Tropical, estudantes, fruticultores e demais interessados que buscam
informações técnicas sobre o cultivo da pitangueira.
PREFÁCIOPREFÁCIO
SUMÁRIOSUMÁRIO
ASPECTOS BOTÂNICOS
MANEJO CULTURAL
PRAGAS E DOENÇAS
ESCOLHA E PREPARO DA ÁREAESPAÇAMENTOPLANTIOCALAGEM E ADUBAÇÃOCAPINAS E ROÇAGENSPODASIRRIGAÇÃO
PROPAGAÇÃO POR SEMENTEPROPAGAÇÃO VEGETATIVAENXERTIAGARFAGEM NO TOPO EM FENDA CHEIAGARFAGEM À INGLESA SIMPLESBORBULHIAESTAQUIA
DISPONIBILIDADE DE RECURSOS GENÉTICOSFORMAS DE UTILIZAÇÃOCOMPOSIÇÃO E VALOR NUTRICIONALCULTIVARESPROPAGAÇÃO
TAXONOMIADESCRIÇÃO DA PLANTAFENOLOGIAECOLOGIA
PRAGASDOENÇAS
COLHEITA E PÓS-COLHEITAINDUSTRIALIZAÇÃOIMPORTÂNCIA ECONÔMICACOEFICIENTES TÉCNICOSREFERÊNCIAS
15
16162122
2329333741
42434444464747
49
59
6063
6569737781
50515153545557
Aspectos BotânicosAspectos Botânicos
Taxonomia
Segundo classificação de Cronquist (1988) a pitangueira pertence à
classe Magnoliopsida, subclasse Rosidae, ordem Myrtales, família
Myrtaceae, gênero Eugenia e espécie Eugenia uniflora L.
A denominação de pitangueira, pitanga ou pitanga-vermelha é
derivada do vocábulo tupi “pi'tãg”, que significa vermelho, em referência à
coloração de seus frutos. Outras espécies do gênero Eugenia também
recebem a denominação de pitanga, como E. pitanga Kiaersk, do Pantanal,
e E. calycina Camb., do Cerrado, todavia essas não apresentam a mesma
importância econômica da E. uniflora.
Em outros países, a espécie E. uniflora recebe várias denominações,
como: arrayán e nangapiri, na Argentina; Brazil cherry, Surinam cherry,
Cayenne cherry, Florida cherry e pitanga, nos países de língua inglesa;
cereza de Surinam, grosella de México e pitanga, em países de língua
espanhola; cerisier de Cayenne e cerisier de Surinam, em países de língua
francesa (Fouqué, 1981; Villachica et al., 1996).
Descrição da planta
A pitangueira é descrita como um arbusto denso, com altura entre 2 e
4 m, podendo atingir de 6 a 9 m, ramificada, copa apresentando de 3 a 6 m de
diâmetro, com formato arredondado (Figura 1), folhagem persistente ou
semidecídua, sistema radicular profundo, com raiz pivotante e grande
volume de raízes secundárias e terciárias (Sanchotene, 1985; Lorenzi,
1998).
ASPECTOS BOTÂNICOSASPECTOS BOTÂNICOS
16
Figura 1. Pitangueira, Itambé, PE, 2006.
As folhas são classificadas como opostas, simples, com pecíolo
medindo aproximadamente 2 mm. As folhas jovens apresentam coloração
verde-amarronzada e a consistência membranácea (Figura 2A); entretanto
as folhas adultas apresentam coloração verde escura e consistência
subcoriácea (Figura 2B). O limbo oval ou oval-lanceolado apresentam
dimensões de 2,5 a 7,0 cm de comprimento, e de 1,2 a 3,5 cm de largura,
ápice acuminado-atenuado ou obtuso, base arredondada ou obtusa, glabro,
brilhante e nervura central saliente na parte inferior (Fouqué, 1981; Lorenzi,
1998).
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Figura 2. Folhas nos estádios jovem (A) e adulto (B).
A B
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As flores se formam sobre a base dos ramos com idade de
aproximadamente, um ano (Figura 3A), composta de 4 a 8 flores
hermafroditas, solitárias ou fasciculadas que surgem na axila das brácteas
florais (Figura 3B).
Figura 3. Botões florais (A) e fases anterior e posterior à antese (B).
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Figura 4. Botões florais e flor após a antese.
De acordo com Morton (1987), o fruto de pitanga é classificado como
uma baga globosa, achatada nos pólos, com 7 a 10 sulcos no sentido
longitudinal e coroado com sépalas persistentes. O epicarpo muda de
coloração a partir do início do processo de maturação, avançando do verde
para o amarelo, passando pelo alaranjado, vermelho, até vermelho-escuro,
podendo atingir a coloração quase negra (Figura 5). A espessura do
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As flores são suavemente perfumadas e melíferas, porém produzem
pouco ou nenhum néctar. Apresentam pedicelo filiforme medindo de 1 a 3 cm
de comprimento, o cálice é composto por 4 sépalas oblongo-elípticas de 2,5
a 4,0 mm de comprimento, a corola é formada por 4 pétalas, livres, de
coloração branco-creme, caducas, obovaladas, medindo de 6 a 8 mm de
comprimento (Figura 4). Elas possuem dezenas de estames, sendo as
anteras de coloração amarelada, abundantes em pólen, e os estiletes
brancos. O ovário é bilocular, glabro, com 8 saliências. O estilete é filiforme e
mede 6,0 mm de comprimento com estigma capitado (Sanchotene, 1985).
Figura 5. Frutos em diferentes estádios de maturação.
Figura 6. Sementes depois de despolpadas e secas à sombra.
endocarpo varia de 3 a 5 mm e sua coloração de rósea a vermelho. O sabor
da polpa é doce e ácido, com aroma intenso e característico. Geralmente,
uma semente é formada no interior de cada fruto, entretanto pode haver o
desenvolvimento de duas ou três sementes, proporcionalmente menores,
globosas e achatadas (Figura 6).
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Fenologia
As épocas de florescimento e frutificação da pitangueira são
influenciadas pelas variações das condições climáticas das diferentes
regiões de cultivo.
De acordo com Lederman et al. (1992) e Bezerra et al. (1995; 1997a),
a floração (Figura 7A) e a frutificação (Figura 7B) da pitangueira ocorre duas
vezes, anualmente, no Estado de Pernambuco, sendo a primeira entre os
meses de março e maio, verificando-se pico em abril, e a segunda, se não
houver déficit hídrico, entre os meses de agosto e dezembro, com pico em
outubro.
Figura 7. Floração (A) e frutificação (B), Itambé, PE, 2005.
Nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil a floração e a frutificação podem
ocorrer duas ou até mais vezes durante o mesmo ano (Sanchotene, 1985;
Mattos, 1993; Demattê, 1997). Nessas Regiões, a floração ocorre,
normalmente, de agosto a dezembro, podendo ocorrer, novamente, de
fevereiro a julho. Já a frutificação comumente acontece entre agosto e
fevereiro, podendo também ocorrer entre abril e julho.
A B
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Ecologia
Apesar de se adaptar ao cultivo em regiões de climas temperado e
subtropical e em diferentes altitudes, o crescimento e desenvolvimento da
pitangueira são ideais em regiões de clima tropical quente e úmido. Tolera 0
diferentes níveis de geada, ventos fortes e temperaturas abaixo de 0 C, sem
desenvolver sintomas característicos de danos. Apresenta-se tolerante à
seca quando cultivada sob condições de déficit hídrico; no entanto a
frutificação é prejudicada, culminando com a queda de frutos. Desenvolve-se
bem em condições semi-áridas, desde que haja condições mínimas de
umidade no solo.
A pitangueira apresenta adequado crescimento nos mais variados
tipos de solo, como os arenosos, areno-argilosos, argilo-arenosos e
pedregosos (Morton, 1987; Sanchotene, 1985; Villlachica et al., 1996;
Demattê, 1997), contudo, apresenta-se suscetível à salinidade.
22
Disponibilidade de Recursos Genéticos
Disponibilidade de Recursos Genéticos
A pitangueira é uma frutífera de ampla distribuição geográfica. É
originária da região que se estende desde o Brasil Central até o Norte da
Argentina (Fouqué, 1981). Segundo Giacometti (1993), ela está presente em
muitos centros brasileiros de diversidade e domesticação, os quais
abrangem diferentes ecossistemas tropicais, subtropicais e temperados.
Entretanto essa espécie apresenta sua mais ampla variabilidade nos
Centros de Diversidade classificados como centros Nordeste/Caatinga, Sul-
Sudeste, Brasil Central/Cerrado, e em todos os setores do centro Mata
Atlântica, que engloba as regiões costeiras da Paraíba ao Rio Grande do Sul.
Há uma ampla diversidade genética manifestada na cor do fruto
maduro, variando do vermelho-claro até o quase negro. Mattos (1993)
registrou a existência de uma variedade botânica denominada pitanga-preta
(E. uniflora var. rubra Mattos), cujos frutos são de coloração atropurpúrea,
ocorrendo nas mesmas regiões que a pitanga típica. Outros caracteres
bastante variáveis são o tamanho do fruto (entre 1,5 e 5,0 cm de diâmetro),
presença e ausência de sulcos, acidez, teor de sólidos solúveis totais e
número de sementes (1 a 6), como encontrado em Pernambuco, ou até
mesmo ausência, como foi detectado em uma planta no interior do Rio
Grande do Sul, por Mattos (1993). Além desses, há diferenças na tolerância
às geadas e à seca. Alguns genótipos selecionados pela Empresa
Pernambucana de Pesquisa Agropecuária-IPA são mais tolerantes ao
estresse hídrico que outros (Nogueira et al., 2000).
O Brasil detém o maior germoplasma de pitangueira conservado ex
situ (Tabela 1), embora nem todos os acessos estejam sendo caracterizados
ou avaliados. Além disso, o país possui enorme variabilidade in situ ainda
não coletada nos vários centros de diversidade e domesticação.
O IPA possui a maior coleção com 117 acessos, no entanto outras
instituições, como a Embrapa Clima Temperado e a Unesp-FCAV têm
DISPONIBILIDADE DE RECURSOS GENÉTICOSDISPONIBILIDADE DE RECURSOS GENÉTICOS
24
12
enviado esforços para preservar e caracterizar o germoplasma de
pitangueira, nas regiões Sul e Sudeste, respectivamente.
A maior parte das coleções no exterior possui reduzido número de
acessos, sendo que vários deles são provenientes do Brasil, como é o caso
de todo o germoplasma do Cirad, em Guadeloupe (Bettencourt et al., 1992).
O banco de germoplasma do IPA (Figura 8) foi instalado em 1988, a
partir de prospecção realizada na Zona da Mata, no Agreste e no Sertão de
Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte, e de introduções da
Bahia e de São Paulo (Bezerra et al., 1990). Todos os acessos foram
propagados via semente e por isso apresentam grande variabilidade. A partir
de avaliações realizadas durante dez anos, foram selecionadas as dez
matrizes mais promissoras, como IPA-1.1, IPA-1.3, IPA-2.2, IPA-3.2, IPA-4.3,
IPA-6.3, IPA-7.3, IPA-11.3, IPA-14.3 e IPA-15.1 (Bezerra et al., 1995, 1997b).
Tabela 1. Acessos de Eugenia uniflora L. em bancos de germoplasma.
Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária – IPA
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Universidade Federal de Viçosa – UFV
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA
Universidade Estadual Paulista – UNESP
Embrapa Clima Temperado
Universidade Federal da Bahia – UFBA
Instituto Agronômico de Campinas – IAC
Itambé, PE, Brasil
Manaus, AM, Brasil
Viçosa, MG, Brasil
Conceição do Almeida, BA, Brasil
Jaboticabal, SP, Brasil
Pelotas, RS, Brasil
Cruz das Almas, BA, Brasil
Campinas, SP, Brasil
117
2
6
4
23
42
12
-
“Continua...”
25
Instituição Local Nº de Acesso
1326
New South Wales, Australia
Njombe, Camarões
Turrialba, Costa Rica
Havana, Cuba
Guadeloupe, Antilhas Francesas
Ghana
Kikuyu, Quênia
Chia-Yi, Taiwan
Arusha, Tanzania
Hilo, Havaí, Estados Unidos
Miami, Florida, Estados Unidos
Iquitos, Peru
1
1
3
2
3
1
1
1
1
2
-
5
Fontes: Luna, 1988; Bettencourt et al., 1992; Veiga, 1993; Villachica et al., 1996; Bezerra et al., 2000.
Tabela 1. “Continuação”
Department of Agriculture - Tropical Fruit Research Station
Institute de Recherches Agricoles
CATIE
Dirección de Investigaciones de Citros y Otros Frutales
CIRAD – Station de Neufchateau- Sainte Marie
Crop Research Institute - Plant Genetic Unit
National Genebank of Kenya
TARI - Chia-Yi Agricultural Experiment Station
Tropical Pesticides Research Institute
USDA - ARS- National Clonal Germplasm Repository
USDA- ARS- Subtropical Reserch Station
INIA
Figura 8. Banco de germoplasma de pitangueira do IPA, Itambé, PE, 2006.
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Formas de UtilizaçãoFormas de Utilização
FORMAS DE UTILIZAÇÃOFORMAS DE UTILIZAÇÃO
No Nordeste Brasileiro, a pitanga, geralmente, é consumida ao
natural ou utilizada no preparo de sucos (Lederman et al., 1992). O principal
potencial de exploração agroindustrial da pitangueira é a produção de frutos
para obtenção da polpa integral congelada e suco engarrafado, além da
utilização da polpa na fabricação de sorvete, picolé, licor, geléia, vinho e
cosméticos (Donadio, 1983; Ferreira et al., 1987; Lederman et al., 1992).
Outras perspectivas de aproveitamento da polpa são: a mistura entre
sucos de pitanga com outras frutas de espécies nativas e exóticas; adicioná-
la a bebidas lácteas; e processá-la como refresco em pó e néctar (Bezerra et
al., 2000).
A pitangueira pode ser usada como cerca viva e planta ornamental,
pois além de crescer lentamente, essa espécie apresenta copa densa e
compacta (Correa, 1978; Villachica et al., 1996).
Países como Suriname e Nigéria extraem das folhas e frutos verdes
óleos essenciais contendo acetato de geranil, citronela, terpenos,
sesquiterpenos e politerpenos, substâncias utilizadas contra febre,
resfriados, reumatismo, gota, hipertensão e no tratamento de desordens
gastrointestinais (Sanchotene, 1985; Morton, 1987; Agbedahunsi &
Aladesanmi, 1993; Balbach & Boarim, 1993; Adebajo et al., 1989).
Adebayo & Globalate (1994) demonstraram na Nigéria que o pó das
folhas e óleos essenciais da pitangueira são eficientes na proteção de
sementes armazenadas de feijão caupi contra o ataque de insetos da família
Bruchidae (bruquídeos).
De acordo com Morton (1987), a casca da pitangueira contém de 20 a
28,5% de tanino, substância que pode ser utilizada no tratamento de couro.
Folhas da pitangueira são usadas na medicina popular na forma de chá para
controlar diarréia e, segundo Rizzo et al. (1990), são usadas para combater a
tosse.
30
O aumento do consumo de pitanga pode ser estimulado pela
divulgação do seu valor nutritivo através de campanhas de educação
alimentar, pois os frutos são ricos, principalmente, em vitamina A e sais
minerais.
31
Composição e Valor NutricionalComposição e Valor Nutricional
COMPOSIÇÃO E VALOR NUTRICIONALCOMPOSIÇÃO E VALOR NUTRICIONAL
O valor comercial do fruto de pitanga destaca-se pelo seu elevado
rendimento de polpa, alto teor de vitamina A, sabor e aroma exóticos (Bezerra
et al., 2000).
De acordo com Villachica et al. (1996), o fruto de pitanga é formado,
aproximadamente, de 66% de polpa e cerca de 34% de semente. No entanto
esses valores e outras características físico-químicas dos frutos podem ser
alterados (Tabela 2) de acordo com a variabilidade genética entre
pitangueiras e suas interações com as diferentes regiões de cultivo, bem
como o manejo dispensado à plantação.
Tabela 2. Características físicas, químicas e físico-químicas do fruto de pitangueiracultivada em diferentes regiões do Brasil.
Peso do fruto (g)% Polpa% Semente
oSST ( Brix)ATT (%)SST/ATTVitamina C (mg/100g)
4,00——
8,301,87
——
3,00 88,40 11,608,601,80 4,80
—
4,8074,6025,4011,601,756,62
22,87
Característica Selvíria, MS Itambé, PE Jaboticabal, SP
Fontes: Nascimento et al.,1995; Bezerra et al.,1997a; Donadio, 1997.
O peso médio de frutos é uma característica importante para o
mercado de frutas frescas, uma vez que os frutos mais pesados são também
os de maiores tamanhos, tornando-se mais atrativos para os consumidores.
Entretanto os parâmetros físico-químicos relacionados à acidez total titulável
e ao teor de sólidos solúveis totais da polpa são mais relevantes no que se
refere à elaboração de sucos, doces, picolés e sorvetes, mesmo porque a
pitanga é uma fruta essencialmente voltada para a industrialização (Araujo,
1995).
34
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL,
1999), através da Instrução Normativa de nº 136, de 31 de março de 1999,
estabeleceu os seguintes valores padrões referentes às características
físico-químicas à industrialização da polpa de pitanga: sólidos solúveis totais
de 6°Brix (mínimo); acidez total de 0,92% de ácido cítrico (mínimo); açúcares
totais naturais de 9,5 g/100 g (máximo); pH entre 2,5 e 3,4; polpa de cor
vermelha; sabor e aroma próprios.
Na Tabela 3 encontram-se os valores referentes à composição média
de 100g de polpa de pitanga. O fruto destaca-se como fonte de vitamina A em
função dos elevados teores encontrados na polpa. De acordo com Franco
(1989), a vitamina A, também chamada de retinol, exerce várias funções de
grande importância para o ser humano, como ação protetora na pele e
mucosas, além de papel essencial na função da retina e da capacidade
funcional dos órgãos de reprodução. Sua deficiência prejudica a visão,
ocasionando a cegueira noturna.
Tabela 3. Valor nutricional de 100 g de polpa de frutos de pitangueira.
Valor energéticoUmidadeProteínaGorduraCarboidratosFibraCinzaVitamina ATiaminaRiboflavinaNiacinaÁcido ascórbicoCálcioFósforoFerro
calgggggg
mgmgmgmgmgmgmgmg
51,0085,80 0,80 0,4012,50 0,60 0,50
635,000,300,60
0,3014,00
9,0011,000,20
Componente Unidade Valor
Fonte: Villachica et al.,1996.
35
13
Com relação à concentração de macronutrientes, o fruto da
pitangueira contém: 0,88% de nitrogênio; 0,09% de fósforo; 0,84% de
potássio; 0,25% de cálcio; 0,06% de magnésio e 0,06% de enxofre
(Nascimento et al., 1995).
Estudos realizados por Lima et al.(2002), revelaram que, quando
madura, a pitanga roxa apresenta maiores teores de compostos fenólicos e
carotenóides totais do que a pitanga vermelha (Tabela 4). Os carotenóides,
antocianinas e flavonóis encontram-se mais concentrados na película do que
na polpa do fruto maduro. Nas pitangas semimaduras, os teores desses
fitoquímicos não apresentaram diferenças significativas. Esses compostos
possuem propriedades antioxidantes, que podem estar relacionadas com o
retardamento do envelhecimento celular e a prevenção de algumas doenças
(Wang et al., 1996; Velioglu et al., 1998).
Tabela 4. Teores de compostos fenólicos e carotenóides totais em duas seleções de pitanga.
Fenólicos totais (mg/100 g)*Carotenóides totais (µg/g)**
325±24111±2
257±1298±1
257±3104±0
252±4 79±1
DeterminaçãoPitanga roxa Pitanga vermelha
Madura Semi-madura Madura Semi-madura
*mg em equivalente de catequina/100 g; **µg em equivalente de β-caroteno/gFonte: Lima et al., 2002.
36
CultivaresCultivares
CULTIVARESCULTIVARES
Levando-se em consideração os altos custos de investimentos para
implantação de um pomar, cuja maioria é formada por mudas do tipo “pé-
franco” ou que, quando enxertadas, as mudas são originadas de matrizes
não identificadas, cuidados especiais devem ser tomados na escolha da
cultivar a ser plantada, a fim de evitar sérios prejuízos na formação dos
pomares.
A única cultivar conhecida no Brasil é a “Tropicana” (Figura 9), lançada
pela Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária-IPA e
recomendada para plantio na Zona da Mata de Pernambuco. Essa cultivar
originou-se de uma população coletada em Bonito, PE, e selecionada na
coleção de germoplasma dessa Empresa (IPA-2.2). A planta é um arbusto
com altura variando de 2,0 a 2,5 m, de copa arredondada e diâmetro em torno
de 3,9 m. O rendimento médio anual de plantas cultivadas sob condições de
sequeiro é de 7.038 frutos/planta, o que corresponde a uma produção de
20,8 kg.
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Figura 9 - Pitangueira cultivar Tropicana em produção.
38
O fruto da Tropicana quando maduro, apresenta película de coloração
vermelho-escuro brilhosa, peso médio variando de 3,0 a 4,5 g, com duas a
três sementes. A polpa é avermelhada, com teor de sólidos solúveis totais de
9°Brix, acidez de 2,2% e relação °Brix/acidez de 4,1. As colheitas geralmente
ocorrem em duas épocas - março a abril e agosto a outubro (IPA, 2000;
Bezerra et al., 2002b).
Na Flórida (EUA), duas formas distintas de pitanga são conhecidas,
sendo uma com frutos vermelhos brilhantes e outra com frutos quase negros
(Campbell, 1977). Em Israel, Lahav & Slor (1997) citam quatro cultivares
comerciais: 'Gitit', 'Necha', 'Lolita' e '404'. A primeira, apresenta o fruto
piriforme, pesando de 5 a 12 g, sabor doce, polpa vermelho-clara, com vida
de prateleira de três dias, podendo ser armazenada por duas semanas em
refrigerador doméstico, enquanto as demais não apresentam características
desejáveis.
39
PropagaçãoPropagação
PROPAGAÇÃOPROPAGAÇÃO
A pitangueira pode ser propagada por semente, enxertia (garfagem e
borbulhia) e/ou estaquia (Argles, 1985; Demattê, 1997; Bezerra et al., 2000).
Propagação por Semente
A maioria dos pomares de pitangueira é formada a partir de mudas do
tipo pé-franco (Figura 10), ou seja, resultantes da propagação por sementes.
É oportuno destacar, contudo, que as mudas do tipo pé-franco não são
recomendadas para formação de pomares comerciais, pois, além de retardar
o início da produção de frutos, permitem o desenvolvimento de plantas de
baixa produtividade e desuniformes quanto ao crescimento, floração e
frutificação, dificultando as atividades de manejo da cultura, inclusive a
própria colheita. Elas devem ser utilizadas na formação de porta-enxertos
para propagação vegetativa de cultivares de alto rendimento agrícola e
industrial, adaptadas às condições de solo e clima da região de cultivo
(Simão, 1998).
Para esse tipo de propagação deve-se colher frutos maduros,
despolpar as sementes, lavá-las em água corrente, colocá-las para secar à
sombra e semeá-las o mais rapidamente possível, visando a garantir o seu
potencial germinativo. Semeiam-se duas sementes por saco plástico preto,
de polietileno, medindo 12 cm x 16 cm, contendo substrato resultante da
mistura de terra e esterco bovino ou de ave, curtido, na proporção 6:1 e 3:1
respectivamente. Os sacos contendo substrato devem ser irrigados e
cobertos com capim seco, objetivando conservar teor adequado de umidade
no substrato e garantir a germinação das sementes, o que deve ocorrer em,
aproximadamente, 22 dias. Após a germinação, o capim seco deve ser
retirado e as plântulas protegidas por uma cobertura de 1,0 m de altura na
direção do nascente e 0,6 m de altura na direção do poente, visando a evitar
exposição das plântulas ao sol nas horas mais quentes do dia. O desbaste
42
13
deve ser realizado quando as plântulas atingirem cerca de 5 cm de altura,
cortando-se a menos vigorosa rente à superfície do substrato. Quando as
mudas atingirem cerca de 25 cm de altura, normalmente aos seis meses após
a semeadura, realiza-se o transplantio para o local definitivo (Lederman et al.,
1992).
Figura 10. Mudas do tipo pé-franco, Itambé, PE, 2006.
Propagação Vegetativa
Considerando-se a expansão e o elevado potencial de cultivo
agroindustrial da pitangueira, recomenda-se a substituição de pés-francos
por mudas propagadas vegetativamente (Bezerra et al., 2000).
A propagação vegetativa possibilita a produção de mudas com
características idênticas da planta matriz, permitindo a formação de pomares
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homogêneos quanto à produtividade, qualidade do fruto, precocidade e
tolerância às pragas e doenças, além da antecipação do início da produção
comercial, a partir da redução da fase juvenil da planta.
Enxertia
De acordo com Bezerra et al. (1999), os tipos de enxertias de
garfagem no topo em fenda cheia e à inglesa simples são os mais eficientes
na propagação da pitangueira. Com essas técnicas pode-se obter até 77,5%
de pegamento dos enxertos, em porta-enxertos com 9 meses de idade. Para
ambos os tipos de enxertia recomendam-se garfos de 10 cm de comprimento
e diâmetro semelhante ao do porta-enxerto a ser enxertado. Os garfos
devem ser coletados na porção mediana de ramos anuais lignificados.
Bezerra et al. (2002a), avaliaram o pegamento da enxertia pelo
processo de garfagem no topo em fenda cheia, em porta-enxertos com nove
meses de idade, de dez genótipos de pitangueira usados como copa. Os
genótipos comportaram-se diferentemente quanto à capacidade de
pegamento de enxertia. Os maiores porcentuais de pegamento para as
combinações enxertos x porta-enxertos variaram de 53,5 a 81,5%.
Garfagem no Topo em Fenda Cheia
Na técnica de garfagem no topo em fenda cheia, utiliza-se um canivete
de enxertia para cortar a parte apical do porta-enxerto a 20 cm de altura do
colo da planta (Figura 11A). Em seguida, abre-se uma fenda longitudinal
com 2,5 cm de comprimento, a partir da área central do corte apical (Figura
11B), que permitirá o encaixe do garfo. Na extremidade inferior do garfo a ser
enxertado, realiza-se um corte em forma de cunha, com dimensões que
44
permitam o seu perfeito encaixe na fenda aberta no porta-enxerto (Figura
11C). Após encaixar o garfo no porta-enxerto (Figura 11D), deve-se amarrar
uma fita plástica na região de união entre essas partes (Figura 11E), visando
a promover maior contato entre os tecidos do câmbio vascular. Cobre-se o
garfo com saco plástico transparente, amarrando-o abaixo do ponto de
enxertia (Figura 11F), evitando o ressecamento dos tecidos. Após o
pegamento do enxerto, cerca de 45 dias após a enxertia, devem ser retirados
a fita e o saco plástico. A muda enxertada estará pronta para plantio no
campo em torno de 60 dias após a enxertia.
Figura 11.cm de altura (A); abertura da fenda longitudinal no topo do porta-enxerto (B); corte da base do enxerto em forma de cunha (C); enxerto encaixado no porta-enxerto (D); amarrio das partes com fita plástica (E); proteção da enxertia com saco plástico transparente (F).
Garfagem no topo em fenda cheia: corte do porta-enxerto aos 20
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Garfagem à Inglesa Simples
Na técnica de garfagem à inglesa simples, corta-se o topo do porta-
enxerto em bisel a uma altura de 20 cm do colo da planta (Figura 12A). A
extremidade inferior do enxerto deve ser cortada, também, em bisel, na
mesma dimensão do porta-enxerto (Figura 12B). Em seguida, realiza-se a
união entre as superfícies em bisel do enxerto e do porta-enxerto (Figura
12C). No local da enxertia, amarra-se o fitilho, de baixo para cima (Figura
12D), e cobre-se o garfo com saco plástico transparente, amarrando-o
abaixo do ponto da enxertia (Figura 12E) para evitar o ressecamento dos
tecidos.
Figura 12.bisel (A); base do enxerto cortado em bisel (B); união entre enxerto e porta-enxerto (C); amarrio das partes com fita plástica (D); proteção da enxertia com saco plástico transparente (E).
Garfagem à inglesa simples: porta-enxerto cortado em
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Borbulhia
A enxertia do tipo borbulhia de placa em janela aberta pode também
ser utilizada na produção de mudas de pitangueira. Nesse procedimento
devem ser utilizados porta-enxertos com 12 meses de idade. De acordo com
Bezerra et al. (2000), em condições de viveiro, esse tipo de enxertia
apresenta um razoável percentual de pegamento dos enxertos de 56,7%.
Estaquia
A pitangueira pode ainda ser propagada por estacas semilenhosas de
ramos anuais de aproximadamente 15 cm de comprimento. No entanto essa
forma de propagação não é usual e exige cuidados especiais no manejo das
estacas, tipo e composição do substrato, doses de fito-hormônio e uso de
sistema de irrigação por nebulização intermitente.
47
Manejo CulturalManejo Cultural
MANEJO CULTURALMANEJO CULTURAL
Escolha e Preparo da Área
Apesar de a pitangueira se adaptar às diferentes condições de solo e
clima, deve-se levar em consideração as características edafoclimáticas
favoráveis ao seu cultivo. Deve-se dar preferência aos solos férteis,
profundos, permeáveis, bem drenados e de topografia favorável à
mecanização. Deve-se apresentar boas vias de acesso para permitir o
tráfego de veículos durante todo o ano (Chandler, 1962; Gomes, 1975;
Morton, 1987). Recomenda-se que antes do preparo da área, sejam
coletadas amostras de solo para análise de fertilidade, visando a avaliar se
há necessidade de aplicação de corretivos e fertilizantes e suas quantidades.
O preparo de solo adequadamente realizado permite o aumento da
aeração e infiltração de água, além da redução da resistência do solo ao
crescimento e desenvolvimento do sistema radicular das mudas.
A área escolhida para o cultivo de pitangueira, quando necessário,
deve ser desmatada, destocada e livre de raízes, principalmente nos locais
onde serão abertas as covas para plantio das mudas. Nesse caso, deve-se
evitar a movimentação excessiva da camada superficial do solo, evitando,
assim, a sua desestruturação e, conseqüentemente, sua compactação.
A área escolhida deve ser arada, gradeada e demarcada, levando-se
em consideração sua topografia, para que sejam realizados os trabalhos de
manejo e conservação do solo se necessário. Em seguida, realiza-se a
medição da área, e marcam-se com piquetes os locais de abertura das
covas, cujas dimensões são de 0,35 m x 0,35 m x 0,35 m. Logo depois,
cavam-se as covas, tendo-se o cuidado de separar a camada de solo
superior da inferior. À primeira camada, mistura-se o calcário e, após 30 dias,
adicionam-se os fertilizantes recomendados de acordo com análise de solo,
50
13
estando a cova pronta para o plantio em aproximadamente 60 dias (Bezerra
et al., 1997b).
Espaçamento
Para o plantio comercial da pitangueira recomendam-se os seguintes
espaçamentos: a) para áreas com declividades entre 10 e 40%, utilizar 4 m
x 4 m, em quincôncio (triangular), totalizando 721 plantas por hectare; b) para
declividades de 0 a 10%, utilizar 4 m x 5 m, em retângulo, ou o de 4 m x 4 m,
em quadrado, totalizando 500 e 625 plantas por hectare, respectivamente
(Bezerra et al., 2000). Uma outra opção, seria utilizar, inicialmente, o
espaçamento de 1 m x 1 m (10.000 plantas/ha), com desbastes
progressivos. Quando as copas começarem a se tocar, elimina-se,
alternadamente, uma linha no sentido norte-sul e uma no sentido leste-
oeste, resultando em um espaçamento de 2 m x 2 m (2.500 plantas/ha).
Novamente, quando as copas começarem a se entrelaçar, elimina-se,
alternadamente, uma linha no sentido norte-sul e uma no sentido leste-
oeste, ficando, assim, o espaçamento definitivo de 4 m x 4 m. Adotando-se
essa prática, a produtividade inicial e intermediária será bem maior, não
havendo nenhuma redução na população do pomar a ser formado.
Até o terceiro ano, após a implantação da cultura, recomendam-se os
consórcios com culturas temporárias ou mesmo com outras espécies
frutícolas, como mamoeiro e maracujazeiro (Bezerra et al., 1997b).
Plantio
Recomenda-se que o plantio seja realizado no início da estação
chuvosa, de preferência em dias nublados, para evitar a desidratação das
51
mudas, ou em qualquer época do ano sob irrigação.
As covas deverão ser reabertas apenas o suficiente para plantio das
mudas (Figura 13A). Retira-se o saco plástico (Figura 13B), com cuidado
para não danificar o torrão e nem prejudicar o crescimento e o
desenvolvimento do sistema radicular. A muda deve ser posicionada no
centro da cova, de maneira que o colo fique um pouco acima da superfície
solo. Em seguida deve-se firmar a muda com terra junto ao torrão,
pressionando-os levemente (Figura 13C). Logo após o plantio, recomenda-
se fazer uma rega com 10 litros de água e, se possível, fazer cobertura morta
com capim seco ou outro material disponível ao redor das mudas recém-
plantadas (Figura 13D), a fim de diminuir a evaporação no local.
Figura 13. Reabertura da cova de plantio (A); retirada do saco plástico (B); plantio da muda ( C ); cobertura morta ao redor da muda recém-plantada (D).
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Calagem e Adubação
De acordo com o resultado da análise de solo verificam-se as
necessidades de aplicações de calcário e fertilizantes minerais e orgânicos.
Caso haja necessidade da realização de calagem deve-se utilizar o calcário
dolomítico, visando à correção do solo e ao fornecimento de cálcio e
magnésio às plantas.
As quantidades de fertilizantes minerais a serem utilizadas nas
adubações de plantio, crescimento e produção devem ser calculadas de
acordo com a recomendação (Tabela 5), levando-se em consideração os
teores de nutrientes no solo.
Tabela 5. Adubação para pitangueira no Estado de Pernambuco.
Teores no solo
Implantação
Plantio Crescimento
Idade (ano)
2º 3º A partir do 4º
--------------------------------g/planta---------------------------------
Nitrogênio (N)
(não analisado)
-3--mg dm de P--< 99 – 15> 15
-3-cmol dm de K-c
< 0,080,08 - 0,15
> 0,15
-
604030
---
20
---
302020
150
1108060
200150120
240
150120100
310240200
60Fósforo (P 0 )2 5
403020
Potássio (K 0)2
806050
Fonte: Bezerra et al. (1998).
41 53
Na adubação de fundação, realizada de 30 a 60 dias antes do plantio,
deve-se misturar, com a camada de solo superior de cada cova, todo o fósforo
e 10 L de esterco bovino curtido, ou a quantidade equivalente de outro
fertilizante orgânico. Ainda no primeiro ano, na fase de crescimento das
mudas, as quantidades de nitrogênio e potássio devem ser parceladas em
duas vezes, durante a estação chuvosa. Em cultivos irrigados, as adubações
nitrogenada e potássica devem ser parceladas em três ou quatro aplicações
anuais.
A partir do segundo ano, após o plantio, as quantidades de nitrogênio e
potássio utilizadas nas adubações em cobertura devem ser parceladas em
três aplicações, durante o período das chuvas. Todo o fertilizante fosfatado
deve ser aplicado de uma só vez, juntamente com as primeiras doses de
nitrogênio e potássio.
Recomenda-se que as adubações posteriores ao plantio sejam
realizadas na área sob a projeção da copa das pitangueiras, numa faixa
circular afastada do caule cerca de 30 cm. A adubação orgânica deve ser
praticada anualmente, no início da estação chuvosa, com a mesma dosagem
aplicada no plantio. Ao final de cada adubação deve-se incorporar ao solo os
adubos numa profundidade de 5 a 10 cm, evitando-se a perda de nutrientes
por lixiviação.
Capinas e Roçagens
Desde o primeiro ano de cultivo deve-se manter a área limpa e livre de
plantas daninhas, as quais concorrem diretamente com a pitangueira por
nutrientes e umidade. O controle pode ser realizado por meio de capinas
manuais, com o coroamento da área sob a projeção da copa das plantas
(Figura 14). Nessa operação é necessário que haja bastante atenção na
profundidade de corte da enxada, visando a evitar danos mecânicos às raízes
54
e caule e, conseqüentemente, aberturas que favoreçam a entrada de
doenças. Durante a estação chuvosa, deve-se efetuar a roçagem das
plantas daninhas em toda área de cultivo.
Figura 14. Coroamento da área sob a projeção da copa, Itambé, PE, 2005.
Outra opção é a utilização de herbicidas no controle das plantas
daninhas, tanto nas operações de coroamento, quanto de limpeza da área
total do pomar. Recomenda-se que o controle químico seja utilizado após o
estabelecimento das plantas de pitangueira, tomando-se o cuidado de não
dirigir o jato de aplicação em direção às plantas, pois ainda não existem
herbicidas seletivos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Brasil, 1999).
Podas
Estabelecidas as mudas no campo, ainda no primeiro ano após o
plantio, deve-se executar uma poda de formação, assegurando o
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crescimento e desenvolvimento do caule e da copa com ramos bem
distribuídos e conduzir a planta em haste única. Para isso, deve-se retirar os
ramos laterais, desde a base do caule até à altura de 50 cm. A partir dessa
altura, a planta é “decapitada” e inicia-se a formação da copa com três a
quatro ramos principais ou pernadas, proporcionando um formato de taça
para facilitar as atividades de manejo e colheita. Daí em diante deve-se
permitir que as brotações das gemas laterais preencham os espaços vazios
da copa.
Quando necessária deverá ser realizada uma poda de limpeza (Figura
15A) e/ou rebaixamento de copa com a retirada de ramos doentes, atacados
por pragas, quebrados, mal formados ou em locais indesejáveis que
prejudiquem a adequada formação e crescimento da copa. As podas
deverão ser efetuadas após a colheita e, preferencialmente, no início do
período chuvoso nos casos da impossibilidade de irrigação. Após a poda, em
condições favoráveis de umidade no solo, ocorrerá a brotação (Figura 15B)
em torno de 20 dias.
Figura 15. Podas de limpeza e rebaixamento da copa (A) e brotação foliar (B), Itambé, PE, 2006.
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Irrigação
Apesar de a pitangueira apresentar tolerância ao estresse hídrico na
fase vegetativa, deve-se manter umidade no solo suficiente para permitir um
contínuo fluxo de água e nutrientes durante as diferentes fases fenológicas
da cultura, principalmente durante florescimento e frutificação.
A adoção da irrigação torna-se indispensável, principalmente nas
regiões onde a quantidade e a distribuição das chuvas não atendem às
necessidades hídricas da cultura durante o ano agrícola ou parte dele.
Nas condições de clima e solo do Nordeste Brasileiro, o uso da
irrigação permite o prolongamento do período de produção, aumento da
produtividade e de melhoria da qualidade dos frutos.
A escolha e a implantação de um sistema de irrigação, adequado para
a cultura crescer e se desenvolver, devem estar baseadas nas condições do
local de cultivo. Em primeiro lugar, dentre outros fatores, devem ser
consideradas as características do solo (textura, topografia, profundidade,
drenagem e infiltração e permeabilidade) e clima (temperatura, umidade
relativa do ar e luminosidade), disponibilidade dos recursos hídricos em
quantidade e qualidade.
Diversos sistemas para irrigar a pitangueira podem ser utilizados,
desde que o escolhido mantenha o nível de armazenamento de água no perfil
do solo próximo da capacidade de campo, evitando que a planta seja
submetida a estresses hídricos.
Dentre os sistemas de aplicação de água localizada, a irrigação por
microaspersão (Figura 16), gotejamento e xique-xique são as melhores
opções, em função do fornecimento de umidade diretamente na zona
radicular, promovendo maior economia de água e eficiência de irrigação.
Bezerra et al. (2004) estudaram o comportamento de dez seleções de
pitangueira sob irrigação, em Ibimirim, região semi-árida de Pernambuco, e
obtiveram produções superiores às encontradas na Zona da Mata desse
mesmo Estado com os mesmos genótipos. Foi utilizado o sistema de
57
irrigação localizada do tipo xique-xique, que consiste na aplicação de água
através de tubos perfurados, com diâmetro de furo de no máximo 1,6 mm,
com intervalos entre regas de dois a três dias, baseado em dados
meteorológicos.
Figura 16. Sistema de irrigação por microaspersão em pitangueira, Itambé, PE, 2006.
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Os sistemas por sulcos e bacias também são outras opções de
irrigação, porém apresentam as desvantagens de utilizarem maiores
quantidades de água, maior contingente de mão-de-obra e favorecer o
processo de erosão do solo.
Em condições irrigadas, Lederman et al. (1992) citam produções de
9 t/ha em plantios comerciais com idade acima de seis anos. Plantas de
pitanga não irrigadas com 11 anos de idade, selecionadas pelo IPA,
apresentaram variação no rendimento médio de produção de 15,0 a 20,8 kg
de frutos por ano.
58
Pragas e DoençasPragas e Doenças
PRAGAS E DOENÇASPRAGAS E DOENÇAS
Pragas
Broca-do-caule-e-dos-ramos
A broca-do-caule-e-dos-ramos ou broca-das-mirtáceas [Timocratica
palpalis (Zeller, 1839) (Lepidoptera: Stenomatidae)] é a principal praga da
pitangueira. O adulto é uma mariposa de coloração branca, medindo
aproximadamente 40 mm de comprimento. Os ovos são colocados nos
galhos e troncos (Bezerra et al., 2000).
Os danos à planta são causados pelas lagartas que apresentam
coloração violeta-amarelada e medem cerca de 30 mm. A presença da praga
é facilmente reconhecida pela ocorrência de pequenos orifícios nas áreas
lesionadas, formação de teias e excrementos em seu redor (Figura 17A).
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Figura 17. Teias e excrementos formados pela broca-do-caule- e dos-ramos [Timocratica palpalis (Zeller, 1839) (Lepidoptera: Stenomatidae)] (A) e lesões em função do seu ataque (B).
60
12
As lagartas brocam os ramos e o tronco, abrindo galerias que são
posteriormente fechadas com uma teia e excrementos de cor marrom,
destruindo a casca em volta da abertura da galeria. Quando o ataque se dá
nos ramos, observa-se o secamento progressivo do galho e quando ocorre
no caule (Figura 17B), a planta fica comprometida. Somente a identificação
em tempo hábil da presença do inseto pode evitar a morte da planta.
Para controlar a broca do caule e dos ramos recomenda-se podar os
ramos lesionados e, imediatamente, destruí-los com fogo, visando a
eliminar as fases de ovo, larva e pupa do inseto.
Atualmente, não existe nenhum produto registrado para o controle
desta praga (Brasil, 1999).
Uma outra alternativa é a utilização da Fosfina em pasta, na
quantidade de 1 cm do produto comercial por cada orifício, que, em seguida,
deve ser fechado com sabão (Luna, 1997).
Moscas-das-frutas
Pertencentes à ordem Diptera e família Tephritidae, as moscas das
frutas (Ceratitis capitata Wied. e Anastrepha spp.) são pragas comuns nos
pomares de pitangueira. Suas larvas, de coloração branca (Figura 18A) se
desenvolvem no interior dos frutos, alimentando-se da polpa, tornando-os
imprestáveis para o consumo (Bezerra et al., 2000).
Figura 18. Larva da mosca-das-frutas (A), Espécies Ceratitis capitata Wied. (B) eAnastrepha spp.(C).
61
Os adultos da espécie C. capitata medem de 4 a 5 mm de
comprimento, coloração branco-acinzentada com manchas pretas
brilhantes, asas transparentes com faixas amarelas e castanhas (Figura
18B). Já os adultos da espécie Anastrepha spp. são um pouco maiores do
que a C. capitata, apresentando coloração amarelada e asas transparentes
com manchas escuras no formato de letra S (Figura 18C).
Para controlar as moscas-das-frutas recomendam-se os seguintes
procedimentos:
a) detectar sua presença no pomar através do uso de frascos caça-
moscas usando o melaço a 7% como atrativo. Utilizar dois frascos por
hectare;
b) após a constatação da presença dos adultos no pomar, iniciar o
tratamento com iscas envenenadas; as iscas são preparadas
acrescentando-se em 100 L de água, 7 L de melaço ou 5 kg de açúcar e mais
um inseticida; em casos de registro são recomendados Triclorfon e Fention. A
aplicação deve ser feita em plantas alternadas, na periferia do pomar,
pulverizando-se cerca de 150 mL da solução sobre a folhagem da planta.
Repetir o tratamento a cada sete dias. Considerando que a maior atividade
de vôo das moscas-das-frutas se verifica no período da tarde, recomenda-se
fazer o tratamento pela manhã, aumentando assim a eficiência de controle.
Como medida complementar, não deixar os frutos apodrecerem sobre o solo
do pomar (Lederman et al., 1992; Bezerra et al., 1997b).
De acordo com Maia (1993), no Estado do Rio de Janeiro foram
constatadas as espécies Neolasioptera eugeniae Maia (Diptera,
Cecidomyiidae) causando danos aos frutos, e Eugeniamya dispar (Diptera,
Cecidomyiidae, Lasiopteri) causando galhas foliares.
62
Pragas de importância secundária
Outras pragas, como um microhimenóptero, cuja espécie não foi
ainda identificada, vêm provocando prejuízos à cultura. O inseto adulto
danifica os frutos provocando pontuações escuras na pele e perfurando a
polpa até as sementes. As larvas penetram no fruto fazendo pequenos furos
e completam o seu desenvolvimento no interior das sementes. Os adultos,
quando emergem, fazem um orifício que vai da semente até a periferia do
fruto, tornando-os imprestáveis para o consumo (Lederman et al., 1992).
Outros insetos de importância secundária, como pulgões e ácaros,
também foram identificados como pragas da pitangueira. O pulgão ataca as
folhas e os ramos, enquanto que os ácaros provocam danos nos frutos e
folhas.
Doenças
No Brasil não há registros de microorganismos responsáveis por
doenças de importância econômica atacando a pitangueira (Bezerra et al.,
2000).
De acordo com Morton (1987), na Flórida foram registrados casos de
antracnose (Colletotrichum gloeosporioides), podridão-das-raízes
(Rhizoctonia solani) e manchas foliares causadas por Cercospora eugeniae,
Helminthosporium sp. e Phyllostica eugeniae.
63
Colheita e Pós-colheitaColheita e Pós-colheita
COLHEITA E PÓS-COLHEITACOLHEITA E PÓS-COLHEITA
A produção de frutos de pitanga, geralmente, inicia-se a partir do
segundo ano após o plantio de mudas enxertadas. Porém a produção
comercial ocorre a partir do terceiro ano, aumentando gradativamente até o
sexto, quando se estabiliza.
Em condições favoráveis de cultivo, a colheita concentra-se em duas
épocas do ano, podendo haver alteração no período de produção em função
de plantas precoces ou tardias, condições climáticas e manejo cultural. A
maturação dos frutos ocorre cerca de 50 dias após a floração.
Os frutos devem ser colhidos ainda na planta, cuidadosa e
manualmente logo após adquirirem a coloração avermelhada (Figura 19A).
Recomenda-se acondicioná-los em caixas plásticas próprias para colheita,
revestidas com esponjas nas partes laterais internas, permitindo a formação
de uma coluna de frutos de 15 cm (Figura 19B). As colheitas devem ser
realizadas periodicamente, pois a queda do fruto maduro ocasiona a ruptura
da película e a polpa entra rapidamente em fermentação.
Figura 19. Colheita de pitanga madura na copa (A) ; acondicionamento dosfrutos em caixas plásticas sem aberturas laterais e protegidas por esponja (B), Itambé, PE.
Fo
to;
Jo
ão
Em
ma
no
el F
ern
an
de
s B
eze
rra
66
12
Após a colheita, as caixas com frutos devem ser transportadas para
um local sombreado e protegidas com lonas ou plástico, evitando que os
frutos sofram queimaduras pela exposição direta aos raios solares, lesões e
deposição de poeira (Lederman et al., 1992; Bezerra et al., 1995, 1997b). A
pitanga madura é altamente perecível, prejudicando sua conservação e
armazenamento ao natural, o que dificulta o seu transporte e
comercialização a grandes distâncias. Depois de colhidos, os frutos
maduros suportam no máximo 24 horas em temperatura ambiente.
67
IndustrializaçãoIndustrialização
INDUSTRIALIZAÇÃOINDUSTRIALIZAÇÃO
O alto rendimento, teores adequados de acidez e açúcares, além de
aroma agradável e sabor exótico, constituem atributos desejáveis que fazem
da pitanga uma fruta apropriada para processamento e industrialização.
As dificuldades no comércio da fruta ao natural, pela alta
perecibilidade e fragilidade ao transporte a longa distância, levaram as
agroindústrias regionais a comercializarem a polpa congelada, em sacos
plásticos ou na forma de suco integral engarrafado. A polpa congelada é um
produto de grande aceitação nesse segmento de mercado, com tendência de
expansão como matéria-prima para a fabricação de sucos, sorvetes, geléias
e licores.
Embora exista um forte mercado de sucos com aditivos químicos, as
exigências dos consumidores por produtos naturais e saudáveis, sem
conservantes, têm contribuído nos últimos anos para o crescimento do
comércio de polpa congelada e suco integral.
As etapas de beneficiamento da polpa e seu congelamento estão
apresentados no fluxograma a seguir (Figura 20), constituindo-se na
principal atividade de industrialização da pitanga.
RECEBIMENTO DAS FRUTAS
LAVAGEM
SELEÇÃO
DESPOLPAMENTO
ACONDICIONAMENTO
PESAGEM
SOLDAGEM
ROTULAGEM
CONGELAMENTO
Figura 20. Fluxograma da produção de polpa congelada.
70
Segundo Soler et al. (1991), no preparo da polpa devem ser utilizados
frutos limpos, isentos de doenças, parasitas, matéria ferrosa e detritos, além
de fragmentos de sementes do próprio fruto de pitanga. Nas etapas de
recepção, lavagem e seleção, não há necessidade da separação criteriosa
dos frutos quanto ao tamanho uniforme e regularidade na sua superfície.
No despolpamento do fruto de pitanga, deve-se separar a polpa da
semente, de material fibroso e restos da casca, visando à sua
homogeneização. Para o mercado interno, deve-se acondicionar a polpa em
sacos plásticos com capacidade para 100, 200 e 400 g. Como matéria-prima
para outros segmentos da industrialização, o acondicionamento da polpa é
realizado em tambores de 200 kg. Logo após qualquer processo de
acondicionamento, deve-se congelar e armazenar a polpa sob baixa
temperatura (-18°C).
Para o engarrafamento do suco integral com aditivos químicos, em
garrafas de 500 ml e em embalagens do tipo “Tetra Pak”, ocorrem mudanças
do fluxograma nos processos de enchimento e conservação, em relação ao
fluxograma de polpa congelada.
71
Importância EconômicaImportância Econômica
13
IMPORTÂNCIA ECONÔMICAIMPORTÂNCIA ECONÔMICA
No que concerne à produção e comercialização da pitanga, não se
dispõe de dados oficiais, indicando como se comportam tanto internamente
como no exterior. No entanto acredita-se que o Brasil seja o maior produtor
mundial da fruta. Os maiores plantios estão localizados em Pernambuco,
onde somente a região de Bonito e municípios vizinhos, como Barra de
Guabiraba, possui cerca de 300 ha cultivados, formando o maior pólo
produtor do Brasil. A maior área contínua plantada do país (50 ha) pertence à
Bonito Agrícola Ltda - Bonsuco (Bezerra et al., 2000).
Segundo Goud et al. (1997), praticamente não existia oferta de polpa
de pitanga antes de 1992. A produção se dá de forma isolada em várias áreas
da Zona da Mata, mas as indústrias de sucos e polpas do Município de Bonito
tiveram um papel central na difusão do seu plantio, distribuindo mudas (como
as Indústrias Maguary) ou plantando área própria, como na Bonsuco.
A Bahia, com áreas cultivadas no Extremo Sul, destaca-se pelos
plantios da Frutelli (36 ha), conforme citado por Silveira (1997), e da Fazenda
Esperança (16 ha), em Porto Seguro (Bezerra et al., 2000).
Com relação à comercialização no Brasil, apenas a Ceasa - Recife,
dispõe de dados sobre a fruta. Nesse entreposto, a quantidade média
ofertada no período de 1995-2004, foi de 26,6 t/ano, sendo que 91,2% dos
frutos foram provenientes de Pernambuco e o restante dos Estados da
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Os Municípios que mais ofertaram o
produto na Ceasa - Recife, naquele período, foram Bonito (188,9 t) e Barra de
Guabiraba (9 t), situados na região do Brejo pernambucano.
Essas quantidades não retratam a verdadeira produção de
Pernambuco, uma vez que a maior parte do volume produzido é
comercializado nas feiras livres ou diretamente com as fábricas de polpa,
sucos e sorvetes. A elevada perecibilidade da pitanga faz com que o mercado
da fruta in natura torne-se restrito aos centros próximos às regiões de plantio
74
12
e o seu comércio seja realizado apenas durante o período de colheita. Fora
dessa época, a polpa congelada é a principal forma de comercialização. De
uma maneira geral, segundo Goud et al. (1997), é considerada uma fruta que
não tem problema de comercialização, desde que seus plantios situem-se
próximos ao local de beneficiamento.
Com a demanda crescente dos mercados interno e externo por
produtos à base de frutas nativas e de sabor exótico, vislumbra-se a
possibilidade de crescimento do mercado interno em pelo menos 100%
sobre o volume atual. O mercado de exportação, que é completamente
inexplorado, pode vir a ser uma excelente alternativa, desde que se promova
o produto. Outras regiões produtoras, como a Florida e California, podem
tornar-se, futuramente, competidoras do Brasil na oferta da fruta no exterior
(Bezerra et al., 2000).
75
Coeficientes TécnicosCoeficientes Técnicos
COEFICIENTES TÉCNICOSCOEFICIENTES TÉCNICOS
O cultivo comercial da pitangueira deve ser bem planejado, pois o
investimento inicial é significativo e a amortização dos custos se dá em
médio prazo.
Os custos de produção estão diretamente relacionados com os
coeficientes técnicos da cultura, demonstrando a necessidade de insumos e
mão-de-obra para o preparo de solo, plantio, adubação, tratos culturais,
controle fitossanitário e colheita. O sucesso no planejamento do cultivo
comercial requer conhecimento detalhado dos coeficientes técnicos de
implantação e manutenção do pomar. Deve-se salientar que os dados
apresentados a seguir podem ser alterados conforme as recomendações
técnicas adotadas, como também os custos de produção em função da
variação dos valores dos insumos e serviços em cada região de cultivo. Nas
Tabelas 6 e 7, estão apresentadas as estimativas dos coeficientes técnicos.
Tabela 6. Coeficientes técnicos para implantação de 1 ha de pitangueira, adotando-se o espaçamento triangular de 4 m x 4 m (721 plantas).
Especificação Unidade Quantidade
1. Insumos
MudasAdubo orgânico (esterco bovino)Sulfato de amônio*Superfosfato triplo*Cloreto de potássio*Calcário dolomítico**Formicida2. Preparo de solo, plantio e adubaçãoRoçoDestocaEncoivaramentoAraçãoCalagemGradagem (2)Marcação das covasAbertura das covasMistura dos adubos na covaDistribuição e plantio das mudas
Mudas3m
KgKgKgKgKg
h/diah/diah/diah/trh/trh/trh/diah/diah/diah/dia
7503,5 80108
36 1500
2
151515
3244
10 8 8
“Continua....”
78
3.Tratos culturais e fitossanitáriosRoço (6 por ano)Coroamento (2 por ano)Adubação (2 por ano)Aplicação de formicida
h/diah/diah/diah/dia
12 7 21
Tabela 7. Coeficientes técnicos para manutenção de 1 ha de pitangueira, adotando-se o espaçamento triangular de 4 m x 4 m (721 plantas).
Especificação Quantidade por ano
1. Insumos unidade 2° 4° em diante3°
Esterco bovinoSulfato de amônioSuperfato triplo*Cloreto de potássio*InseticidaFormicida
2. Tratos culturais e fitossanitários
Roço (6 por ano)Coroamento (3 por ano)Adubação (3 por ano)Poda (2 por ano)Aplicação de inseticidaAplicação de formicida
3. Colheita
Colheita (serviços)
3mKgKgKg1
Kg
h/diah/diah/diah/diah/diah/dia
h/dia
3,5240 7296
-2
127
3-21
5
3,5600198240
12
12 7 3 92
1
30
3,5960270372
12
12 7 3 92
1
50
*Refere-se à recomendação máxima, podendo ser reduzida conforme os resultados da análise do solo.
79
Tabela 6. “Continuação”
*Refere-se à recomendação máxima, podendo ser reduzida conforme os resultados da análise do solo.**Refere-se à recomendação média, podendo ser alterada conforme os resultados da análise do solo.
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