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    FOLHA 1:

    -DEFINIO DE ARTE: A arte muitas coisas. Uma das coisas que a arte , parece, uma transformao simblica domundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro mais bonito ou mais intenso ou mais significativo ou mais ordenado porcima da realidade imediata. Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de suaexperincia de vida, das idias que ele tem na cabea, enfim, de sua viso de mundo. (Ferreira Gullar).

    -GNEROS:>lrico: predomnio da emoo, eu-lrico fala de seus

    sentimentos, soneto o grande representante>pico: conta os feitos hericos de um povo, impessoal eem terceira pessoa>dramtico: teatro>narrativo: romance, novela, conto, fbula, crnica

    -O QUE O QUE:>narrador: aquele que conta a histria

    >enredo: a histria contada>ambiente: onde se desenrola o enredo>verso: linha do poema>estrofe: agrupamento de versos>mtrica: medida dos versos>rima: semelhana sonora no final ou no meio dos versos

    -EXERCCIO:> Classifique a que gneros pertencem os textos abaixo:(a) soneto (b) poesia em verso livre (c) teatro (d) narrativa (e) epopia

    No rimarei a palavra sonocom a incorrespondente palavra outono.Rimarei com a palavra carne

    ou qualquer outra, que todas me convm.As palavras no nascem amarradas,elas saltam, sem beijam, se dissolvem,no cu livre por vezes um desenho,so puras, largas, autnticas, indevassveis. ( )

    De tudo, meu amor serei atentoAntes, e com tal zelo, e sempre, e tantoQue mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento.

    Quero viv-lo em cada vo momentoE em seu louvor hei de espalhar meu canto

    E rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento.

    E assim, quando mais tarde me procureQuem sabe a morte, angstia de quem viveQuem sabe a solido, fim de quem ama

    Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :Que no seja imortal, posto que chamaMas que seja infinito enquanto dure. ( )

    CENA IX

    Jlio e Joo.JLIO Se quisesse ter a bondade de ouvir-me por algunsinstantes com ateno...JOO, impaciente O que tens agora a dizer-me, homem?V danar.JLIO Pensamentos muito srios ocupam-se nestemomento para eu poder danar.

    JOO Ento o que ?JLIO Desculpe a minha franqueza...JOO Avie-se, que tenho pressa.

    JLIO Eu amo sua filha.JOO E que tenho eu com isso?( )

    O doutor Lopes Matoso no foi precisamente o que se podechamar um homem feliz. Aos dezoito anos de sua vida,quando apenas tinha completado o seu curso depreparatrios, perdeu pai e me com poucos meses deintervalo. Ficou-lhe como tutor um amigo da famlia, ocoronel Barbosa, que o fez continuar com os estudos eformara-se em direito. No dia seguinte ao da formatura, ohonesto tutor passou-lhe a gerncia da avultada fortuna quelhe coubera, dizendo:

    - Est rico, menino, est formado, tem um bonito futurodiante de si. Agora tratar de casar, de ter filhos, de galgarposio. Se eu tivesse filha voc j tinha noiva; no tenho,procure-a voc mesmo.

    Lopes Matoso no gastou muito tempo em procurar: casou-se logo com uma prima de quem sempre gostara e junto qual viveu felicssimo por espao de dois anos. Ao comearo terceiro, morreu a esposa, de parto, deixando-lhe umafilhinha. ( )

    Cessem do sbio Grego e do TroianoAs navegaes grandes que fizeram;Cale-se de Alexandre e de TrajanoA fama das vitrias que tiveram;Que eu canto o peito ilustre Lusitano,A quem Neptuno e Marte obedeceram.Cesse tudo o que a Musa antiga canta,Que outro valor mais alto se alevanta. ( )

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    FOLHA 2:

    * Reviso:

    a) Narradores:

    primeira pessoa- Algum tempo hesitei se devia abrir estas memrias pelo princpio ou pelo fim, isto , se porem primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja comear pelo nascimento, duaconsideraes me levaram a adotar diferente mtodo: a primeira que eu no sou propriamente um autor defuntmas um defunto autor, para quem a campa foi outro bero; a segunda que o escrito ficaria assim mais galante mais novo. Moiss, que tambm contou a sua morte, no a ps no intrito, mas no cabo; diferena radical entre eslivro e o Pentateuco. Dito isto, expirei s duas horas da tarde de uma sexta-feira do ms de agosto de 1869, nminha bela chcara de Catumbi.- Cap.1, Memrias Pstumas de Brs Cubas, Machado de Assis.

    terceira pessoa- Bravo! exclamou Filipe, entrando e despindo a casaca, que pendurou em um cabide velhBravo!... interessante cena! mas certo que desonrosa fora para casa de um estudante de Medicina e j no sexto ana no valer-lhe o adgio antigo: - o hbito no faz o monge.- Cap.1, A Moreninha, Joaquim Manuel de Macedo.

    onisciente- Por algum tempo julgou-se vtima de uma alucinao. Custava-lhe a convencer-se que tivesrealmente diante de si a mulher de quem se julgava eternamente separado. A comoo foi to forte que desvanecequase de seu esprito a lembrana do motivo que o trouxera quela casa, e a posio falsa em que se achava. Umsatisfao ntima o absorveu completamente, e no deixou presa s amargas preocupaes que pouco antes dominavam. Tambm Aurlia de sua parte havia recobrado a calma, pois voltou-se sem o mnimo acanhamentpara o moo e perguntou-lhe: Esteve ultimamente no Norte, Sr. Seixas? Senhora, Jos de Alencar.

    b) Enredo (nem sempre seguido dessa forma): apresentao, complicao, clmax e desfecho.

    c) pica (narrador em terceira pessoa, verbos - geralmente - no pretrito, narra a histria de um feito hericforma objetiva e impessoal, em verso) X Lrica (narrador em primeira pessoa eu-lrico predomnio dosentimentos, em verso).

    d) Soneto: versos decasslabos (10 slabas) ou alexandrinos (12) em 14 versos divididos em 4 estrofes (2 quartetoe 2 tercetos)

    *Quinhentismo: sculo XVI (poca do descobrimento do Brasil), os escritos relacionados so de cronistas viajantes descrevendo a terra e o povo recm-achados ( chamada de literatura informativa, voltada para riquezas materiais), no h inteno literria, no uma produo brasileira, a poesia e a dramaturgia eracultivadas pelos jesutas (principalmente o Padre Jos de Anchieta) para catequisar os ndios (chamada de literatudos jesutas).

    Trechos da Carta de Caminha:E assim seguimos nosso caminho por este mar, de longo at tera-feira doitavas de Pscoa, que foram 1 di

    dAbril, que topamos alguns sinais de terra. (...) E quarta-feira seguinte, pela manh, topamos aves, a quchamam fura-buxos. E neste dia, a horas de vspera, houvemos vista de terra, isto , primeiramente dum grandmonte, mui alto e redondo, e doutras serras mais baixas a sul dele e de terra ch com grandes arvoredos, ao qumonte alto o capito ps o nome o Monte Pascoal e terra a Terra de Vera Cruz. (...) Nela at agora npudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem de ferro; nem lho vimos. A terrporm, em si, de muito bons ares. (...) A feio deles serem pardos, quase avermelhados, de rostos regulare narizes bem feitos; andam nus sem nenhuma cobertura; nem se importam de cobrir nenhuma coisa, nem mostrsuas vergonhas. E sobre isto so to inocentes, como em mostrar o rosto. (...) Mas o melhor fruto que nela pode fazer me parece que ser salvar esta gente.

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    * Barroco: Marco inicial publicao de Prosopopia de Bento Teixeira em 1601.

    a) caractersticas:-da linguagem: requinte formal, figurao, conflito espiritual, temas contraditrios, efemeridade do tempo (carpdiem), cultismo, conceptismo, jogo de claro/escuro-da forma: vocabulrio selecionado, inverses sintticas, figurao excessiva, sugestes sonoras e cromticaconstrues complexas e raras-do contedo: conflito espiritual, oposio entre mundo material e espiritual, carpe-diem, morbidez, gosto praciocnios complexos e intrincados

    b) autores:-Padre Antnio Vieira (sermes)-Gregrio de Matos (poesias lricas amorosa, religiosa ou filosfica e poesias satricas)

    c) Sermo da Sexagsima, Padre Antnio Vieira:

    Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de trs princpios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvintou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermo, h-de haver trs concursos: h-de concorrer o pregador comdoutrina, persuadindo; h-de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; h-de concorrer Deus com a graa, alumiando. Pa

    um homem se ver a si mesmo, so necessrias trs coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e cego, no se pode ver por falta dolhos; se tem espelho e olhos, e de noite, no se pode ver por falta de luz. Logo, h mister luz, h mister espelho e h mister olhos. Qucoisa a converso de uma alma, seno entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista so necessrios olhos,necessria luz e necessrio espelho. O pregador concorre com o espelho, que a doutrina; Deus concorre com a luz, que a graa; homem concorre com os olhos, que o conhecimento. Ora suposto que a converso das almas por meio da pregao depende destes trconcursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregadoou por parte de Deus? (...) Primeiramente, por parte de Deus, no falta nem pode faltar. Esta proposio de f, definida no ConcTridentino, e no nosso Evangelho a temos.(...) Sendo, pois, certo que a palavra divina no deixa de frutificar por parte de Deus, segue-que ou por falta do pregador ou por falta dos ouvintes. Por qual ser? Os pregadores deitam a culpa aos ouvintes, mas no assim. fora por parte dos ouvintes, no fizera a palavra de Deus muito grande fruto, mas no fazer nenhum fruto e nenhum efeito, no por pardos ouvintes. Provo.(...) Quando o semeador do Cu deixou o campo, saindo deste Mundo, as pedras se quebraram para lhe fazereaclamaes, e os espinhos se teceram para lhe fazerem coroa. E se a palavra de Deus at dos espinhos e das pedras triunfa; se a palavra Deus at nas pedras, at nos espinhos nasce; no triunfar dos alvedrios hoje a palavra de Deus, nem nascer nos coraes, no por culpnem por indisposio dos ouvintes. Supostas estas duas demonstraes; suposto que o fruto e efeitos da palavra de Deus, no fica, nepor parte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue-se por consequncia clara, que fica por parte do pregador. E assim . Sabecristos, porque no faz fruto a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, porque no faz fruto a palavra de Deus?Por culpa nossa.

    d) PoemaBuscando a Cristo, Gregrio de Matos:

    A vs correndo vou, braos sagrados,Nessa cruz sacrossanta descobertos,Que, para receber-me, estais abertos,E, por no castigar-me, estais cravados.

    A vs, divinos olhos, eclipsadosDe tanto sangue e lagrimas abertos,Pois, para perdoar-me, estais despertos,E, por no condenar-me, estais fechados,

    A vs, pregados ps, por no deixar-me,A vs, sangue vertido, para ungir-me,A vs, cabea baixa, p'ra chamar-me.

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    A vs, lado patente, quero unir-me,A vs, cravos preciosos, quero atar-me,Para ficar unido, atado e firme.

    FOLHA 3:

    *Reviso:a) O que foi o Quinhentismo? E podemos dizer que h uma literatura quinhentista brasileira? Por qu____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    b) Encontre as caractersticas do Barroco no trecho abaixo:

    Perguntaram ao Batista (figura bblica) quem era? Respondeu ele: Ego vox clamantis in deserto. Eu sou a voque anda bradando neste deserto. Desta maneira se definiu o Batista. A definio do pregador cuidava eu que ervoz que arrazoa e no voz que brada. Pois por que se definiu o Batista pelo bradar e no pelo arrazoar; no pelrazo seno pelos brados? Porque h muita gente neste Mundo com quem podem mais os brados que a razo, e taeram aqueles a quem Batista pregava. (Pde. Antnio Vieira, Sermo da Sexagsima).____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    *Barroco II:a) Padre Antnio Vieira:-colocava os sermes disposio das causas polticas que defendia-defende o ndio e os judeus perseguidos pela Inquisio-orador impecvel-escreveu sermes, cartas e profecias-utiliza recursos do conceptismo

    b) Gregrio de Matos:

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    -stira: crtica a sociedade baiana, irreverncia, obscenidades, termos brasileiros para chocar valores de falsa morauso de vocabulrio de baixo calo e grias, Boca do Inferno, foge dos padres barrocos.-lrica: desejo de perdo, temas e palavras que expressem contradio, estilo cultista, abuso de figuras dlinguagem.-lrica amorosa: dualismo entre carne/ esprito, sentimento de culpa e a mulher o pecado.-lrica filosfica: referncia ao desconcerto do mundo, s frustraes humanas e transitoriedade da vida.-lrica religiosa: amor a Deus, culpa, pecados, referncias bblicas, uso de inverso e linguagem culta.

    c) exemplo de uma poesia satrica de Gregrio de Matos:Eplogos

    Que falta nesta cidade?................VerdadeQue mais por sua desonra?...........HonraFalta mais que se lhe ponha..........Vergonha.

    O demo a viver se exponha,Por mais que a fama a exalta,numa cidade, onde faltaVerdade, Honra, Vergonha.(...)

    E que justia a resguarda?.............Bastarda grtis distribuda?......................VendidaQue tem, que a todos assusta?.......Injusta.

    Valha-nos Deus, o que custa,o que El-Rei nos d de graa,que anda a justia na praaBastarda, Vendida, Injusta.

    Que vai pela clerezia?..................SimoniaE pelos membros da Igreja?..........InvejaCuidei, que mais se lhe punha?.....Unha.

    Sazonada caramunha!enfim que na Santa So que se pratica, Simonia, Inveja, Unha.

    E nos frades h manqueiras?.........FreirasEm que ocupam os seres?............SermesNo se ocupam em disputas?.........Putas.

    Com palavras dissolutasme conclus na verdade,que as lidas todas de um Fradeso Freiras, Sermes, e Putas.(...)

    *Exerccio:

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    1- Encontre nos poemas de Gregrio de Matos caractersticas barrocas. Depois faa um texto que relacione o temapresentado nas poesias. Sobre o que elas falam? Qual a viso de mundo do homem barroco representado no textoE como a mulher representada?

    SUA MULHER ANTES DE CASAR

    Discreta, e formosssima Maria,Enquanto estamos vendo a qualquer horaEm tuas faces a rosada Aurora,Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

    Enquanto com gentil descortesiaO ar, que fresco Adnis te namora,Te espalha a rica trana voadora,Quando vem passear-te pela fria:

    Goza, goza da flor da mocidade,Que o tempo trota a toda ligeireza,E imprime em toda a flor sua pisada.

    Oh, no aguardes, que a madura idadeTe converta em flor, essa belezaEm terra, em cinza, em p, em sobra, em nada.

    SONETOS A D.ANGELA DE SOUSA PAREDES

    No vi em minha vida a formosura,Ouvia falar nela cada dia,E ouvida me incitava, e me moviaA querer ver to bela arquitetura.

    Ontem a vi por minha desventuraNa cara, no bom ar, na galhardiaDe uma Mulher, que em Anjo se mentia,De um Sol, que se trajava em criatura.

    Me matem (disse ento vendo abrasar-me)Se esta a cousa no , que encarecer-me.Sabia o mundo, e tanto exagerar-me.

    Olhos meus (disse ento por defender-me)Se a beleza hei de ver para matar-me,Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.

    A JESUS CRISTO NOSSO SENHORPequei, Senhor, mas no porque hei pecadoDa vossa alta clemncia me despido,

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    Porque quanto mais tenho delinqido,Vos tenho a perdoar mais empenhado.

    Se basta a vos irar tanto pecado,A abrandar-vos sobeja um s gemido:Que a mesma culpa, que vos h ofendido,Vos tem para o perdo lisonjeado.

    Se uma ovelha perdida e j cobradaGlria tal e prazer to repentinoVos deu, como afirmais na sacra histria,

    Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,Cobrai-a, e no queirais, pastor divino,Perder na vossa ovelha a vossa glria.

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    FOLHAS 4 -5:

    Arcadismo: (sculo XVIII)

    O ano de 1768 considerado a data inicial do Arcadismo no Brasil, pois nesse ano foi fundada a ArcdUltramarina em Vila Rica, por Cludio Manuel da Costa, e a publicao de Obras.

    a) principais autores:

    -Cludio Manuel da Costa-Toms Antnio Gonzaga-Silva Alvarenga-Alvarenga Peixoto-Baslio da Gama-Frei de Santa Rita Duro

    b) caractersticas:

    -inutilia truncat

    -locus amoenus-aurea mediocritas-fugere urbem-carpe diem-poesia buclica, pastoril-racionalismo-fingimento potico-mitologia pag (elementos da cultura greco-latina)-idia do bom selvagem de Rousseau e outras idias iluministas-convencionalismo amoroso (idealizao amorosa)-aspecto formal: uso de formas clssicas (sonetos, versos decasslabos, poesia pica), vocabulrio simples, frasem ordem direta, ausncia quase total de figuras de linguagem

    c) exemplos de poesia lrica:

    1) Eu, Marlia, no sou algum vaqueiro,Que viva de guardar alheio gado;De tosco trato, d expresses grosseiro,Dos frios gelos, e dos sis queimado.Tenho prprio casal, e nele assisto;D-me vinho, legume, fruta, azeite;Das brancas ovelhinhas tiro o leite,E mais as finas ls, de que me visto.Graas, Marlia bela,Graas minha Estrela!(...)Mas tendo tantos dotes da ventura,S apreo lhes dou, gentil Pastora,Depois que teu afeto me segura,Que queres do que tenho ser senhora.(...)

    (Toms Antnio Gonzaga)

    2) Para cantar de amor tenros cuidados,Tomo entre vs, montes, o instrumento;Ouvi pois o meu fnebre lamento;Se , que de compaixo sois animados:

    J vs vistes, que aos ecos magoadosDo trcio Orfeu parava o mesmo vento;Da lira de Anfio ao doce acentoSe viram os rochedos abalados.

    Bem sei, que de outros gnios o Destino,Para cingir de Apolo a verde rama,Lhes influiu na lira estro divino:

    O canto, pois, que a minha voz derrama,Porque ao menos o entoa um peregrino,Se faz digno entre vs tambm de fama.

    (Cludio Manuel da Costa)

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    3) Brbara bela,Do norte estrela,Que o meu destinoSabes guiar,De ti ausente,Triste, somente

    As horas passoA suspirar.(...)

    (Alvarenga Peixoto)

    d) exemplos de poesia pica:

    CANTO IIDe um varo em mil casos agitados,Que as praias discorrendo do Ocidente,Descobriu recncavo afamadoDa capital braslica potente;Do Filho do Trovo denominado,Que o peito domar soube fera gente,O valor cantarei na adversa sorte,Pois s conheo heri quem nela forte.IISanto Esplendor, que do Gro Padre manasAo seio intacto de uma Virgem bela,Se da enchente de luzes soberanasTudo dispensas pela Me donzela;Rompendo as sombras de iluses humanas,Tudo do gro caso a pura luz revela;Faze que em ti comece e em ti concluaEsta grande obra, que por fim foi tua.(...)

    (Caramuru, Frei de Santa Rita Duro)

    CANTO PRIMEIRO

    Fumam ainda nas desertas praiasLagos de sangue tpidos e impurosEm que ondeiam cadveres despidos,Pasto de corvos. Dura inda nos valesO rouco som da irada artilheria.MUSA, honremos o Heri que o povo rudeSubjugou do Uraguai, e no seu sangueDos decretos reais lavou a afronta.Ai tanto custas, ambio de imprio!E Vs, por quem o Maranho pendura (...)

    (Uraguai, Baslio da Gama)

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    2) Compare os estilos literrios presentes nas poesias abaixo e assinale as diferenas e as igualdades e explique otemas abordados de acordo com a poca em que foram escritos:

    a) a vaidade, Fbio, nesta vida,Rosa, que da manh lisonjeada,Prpuras mil, com ambio dourada,Airosa rompe, arrasta presumida.

    planta, que de abril favorecida,Por mares de soberba desatada,Florida galeota empavesada,Sulca ufana, navega destemida.

    nau enfim, que em breve ligeireza,Com a presuno de Fnix generosa,Galhardias apresta, alentos preza:

    Mas ser planta, ser rosa, nau vistosaDe que importa, se aguarda sem defesaPenha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?

    b)Torno a ver-vos, montes; o destinoAqui me torna a pr nestes oiteiros;Onde um tempo os gabes deixei grosseirosPelo traje da Corte rico, e fino.

    Aqui estou entre Almeandro, entre Corino,Os meus fiis, meus doces companheiros,Vendo correr os mseros vaqueirosAtrs de seu cansado desatino.

    Se o bem desta choupana pode tanto,Que chega a ter mais preo, e mais valia,Que da cidade o lisonjeiro encanto;

    Aqui descanse a louca fantasia; o que t agora se tornava em pranto,

    Se converta em afetos de alegria.

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    FOLHA 6:

    ROMANTISMO: sculo XIX

    LEDE(Prefcio aos Suspiros Poticos e Saudades, Gonalves de Magalhes)

    (...) um Livro de Poesias escritas segundo as impresses dos lugares; ora assentado entre as runas da antigRoma, meditando sobre a sorte dos imprios; ora no cimo dos Alpes, a imaginao vagando no infinito como utomo no espao, ora na gtica catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodgios do Cristianismo; ora entos ciprestes que espalham sua sombra sobre tmulos; ora enfim refletindo sobre a sorte da Ptria, sobre as paixdos homens, sobre o nada da vida. So poesias de um peregrino, variadas como as cenas da Natureza, diverscomo as fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento, e se ligam como os anis de umcadeia; poesias d'alma, e do corao, e que s pela alma e o corao devem ser julgadas.

    Quem ao menos uma vez separou-se de seus pais, chorou sobre a campa de um amigo, e armado com basto de peregrino, errou de cidade em cidade, de runa em runa, como repudiado pelos seus; quem no silncio noite, cansado de fadiga, elevou at Deus uma alma piedosa, e verteu lgrimas amargas pela injustia, e misridos homens; quem meditou sobre a instabilidade das coisas da vida, e sobre a ordem providencial que reina n

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    histria da Humanidade, como nossa alma em todas as nossas aes; esse achar um eco de sua alma nestas folhaque lanamos hoje a seus ps, e um suspiro que se harmonize com o seu suspiro.

    Para bem se avaliar esta obra, trs coisas releva notar: o fim, o gnero, e a forma.O fim deste Livro, ao menos aquele a que nos propusemos, que ignoramos se o atingimos, o de elevar

    Poesia sublime fonte donde ela emana, como o eflvio d'gua, que da rocha se precipita, e ao seu cume remontou como a reflexo da luz ao corpo luminoso; vingar ao mesmo tempo a Poesia das profanaes do vulgindicando apenas no Brasil uma nova estrada aos futuros engenhos.

    A Poesia, este aroma d'alma, deve de contnuo subir ao Senhor; som acorde da inteligncia deve santificar virtudes, e amaldioar os vcios. O poeta, empunhando a lira da Razo, cumpre-lhe vibrar as cordas eternas dSanto, do Justo, e do Belo.

    (...)Seja qual for o lugar em que se ache o poeta, ou apunhalado pelas dores, ou ao lado de sua bela, embalad

    pelos prazeres; no crcere, como no palcio; na paz, como sobre o campo da batalha, se ele verdadeiro poet jamais deve esquecer-se de sua misso, e acha sempre o segredo de encantar os sentidos, vibrar as cordas dcorao, e elevar o pensamento nas asas da harmonia at s idias arqutipas.

    O poeta sem religio, e sem moral, como o veneno derramado na fonte, onde morrem quantos a procuraaplacar a sede.

    Ora, nossa religio, nossa moral aquela que nos ensinou o Filho de Deus, aquela que civilizou o mundmoderno, aquela que ilumina a Europa, e a Amrica e s este blsamo sagrado devem verter os cnticos dos poetbrasileiros.

    Uma vez determinado e conhecido o fim, o gnero se apresenta naturalmente. At aqui, como s se procurafazer uma obra segundo a Arte, imitar era o meio indicado: fingida era a inspirao, e artificial o entusiasmDesprezavam os poetas a considerao se a Mitologia podia, ou no, influir sobre ns. Contanto que dissessem quas Musas do Hlicon os inspiravam, que Febo guiava seu carro puxado pela quadriga, que a Aurora abria as portdo Oriente com seus dedos de rosas, e outras tais e quejandas imagens to usadas, cuidavam que tudo tinham feite que com Homero emparelhavam; como se pudesse parecer belo quem achasse algum velho manto grego, e coele se cobrisse. Antigos e safados ornamentos, de que todos se servem, a ningum honram!

    Quanto forma, isto , a construo, por assim dizer, material das estrofes, e de cada cntico em particulanenhuma ordem seguimos; exprimindo as idias como elas se apresentaram, para no destruir o acento dinspirao; alm de que, a igualdade dos versos, a regularidade das rimas, e a simetria das estncias produz uma tmonotonia, e d certa feio de concertado artificio que jamais podem agradar. Ora, no se compe uma orquests com sons doces e flautados; cada paixo requer sua linguagem prpria, seus sons imitativos, e perodoexplicativos.

    (...)Algumas palavras acharo neste Livro que nos Dicionrios Portugueses se no encontram; mas as lngu

    vivas se enriquecem com o progresso da civilizao, e das cincias, e uma nova idia pede um novo termo.(...) um novo tributo que pagamos Ptria, enquanto lhe no oferecemos coisa de maior valia; o resultado d

    algumas horas de repouso, em que a imaginao se dilata, e a ateno descansa, fatigada pela seriedade da cinciaTu vais, oh Livro, ao meio do turbilho em que se debate nossa Ptria; onde a trombeta da mediocridad

    abala todos os ossos, e desperta todas as ambies; onde tudo est gelado, exceto o egosmo: tu vais, como umfolha no meio da floresta batida pelos ventos do inverno, e talvez tenhas de perder-te antes de ser ouvido, como u

    grito no meio da tempestade.Vai; ns te enviamos, cheio de amor pela Ptria, de entusiasmo por tudo o que grande, e de esperanas e

    Deus, e no futuro.Adeus!Paris, julho de 1836.

    DIVISES DO ROMANTISMO:

    A) POESIA

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    -indianista (Gonalves Dias)-ultraromntica (lvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire)-condoreirista (Castro Alves e Sousndrade)

    B) PROSA-romance indianista (Jos de Alencar)-romance regional (Jos de Alencar, Visconde de Taunay e Franklin Tvora)-romance urbano (Manuel Antnio de Almeida, Jos de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo)

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    FOLHA 7:

    Caractersticas do Romantismo:-subjetivismo e egocentrismo-sentimentalismo e saudosismo-idealizao amorosa-medievalismo (historicismo)-indianismo (bom selvagem) e nacionalismo-religiosidade-byronismo-condoreirismo-vocabulrio e sintaxe simples-mtricas populares e irregularidades estrficas e liberdade formal

    Primeira gerao romntica:-caractersticas: nacionalista, indianista e religiosa-autores: Gonalves Dias e Gonalves de Magalhes-Gonalves Dias: poesias voltadas para o ndio e natureza brasileira em linguagem simples e acessvel e coversos meldicos (ex: I-JUCA-PIRAMA). Fundo pantesta (Deus associado natureza) nas poesias de cartreligioso, e o ndio substitui a imagem do heri medieval na pica. Temas comuns na lrica: ptria, natureza, Deundio, amor no correspondido, solido.

    Poemas de Gonalves Dias:

    Cano do ExlioMinha terra tem palmeiras,Onde canta o sabi;As aves, que aqui gorjeiam,No gorjeiam como l.

    Nosso cu tem mais estrelas,Nossas vrzeas tem mais flores,Nossos bosques tem mais vida,Nossa vida mais amores.

    Em cismar, sozinho, noite,Mais prazer encontro eu l;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o sabi.

    Minha terra tem primores,Que tais no encontro eu c;

    Em cismar - sozinho, noite -Mais prazer encontro eu l;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabi.

    No permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para l;Sem que desfrute os primoresQue no encontro por c;Sem qu'inda aviste as palmeiras,Onde canta o Sabi.

    IV (I-Juca-Pirama)

    Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi:Sou filho das selvas,Nas selvas cresci;Guerreiros, descendo

    Da tribo tupi.

    Da tribo pujante,Que agora anda errantePor fado inconstante,Guerreiros, nasci;Sou bravo, sou forte,Sou filho do Norte;Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi.

    J vi cruas brigas,De tribos imigas,E as duras fadigasDa guerra provei;Nas ondas mendacesSenti pelas facesOs silvos fugacesDos ventos que amei.(...)

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    FOLHA 8:

    *Segunda gerao romntica (ultra-romnticos):

    -experincia da sondagem interior: acentuado subjetivismo, egocentrismo, sentimentalismo-viso dualista: atrao x medo, desejo x culpa-ideal feminino: imagens incorpreas, assexuadas (anjos, crianas, virgens)-supervalorizao do amor e medo de amar-mal-do-sculo (homem desajustado e imperfeito)-byronismo (negativismo, pessimismo, dvida, tdio constante, melancolia, fuga da realidade, angstia)

    *Autores:-lvares de Azevedo: spleen, autodestruio, amor e morte, donzelas ingnuas e misteriosas, ironia na hora decriticar a realidade, Ariel x Caliban, dualismos, sonhos motivados pelo fumo e lcool

    Se Eu Morresse Amanh!Se eu morresse amanh, viria ao menosFechar meus olhos minha triste irm;Minha me de saudades morreriaSe eu morresse amanh!Quanta glria pressinto em meu futuro!

    Que aurora de porvir e que manh!Eu perdera chorando essas coroasSe eu morresse amanh!Que sol! que cu azul! que dove n'alvaAcorda a natureza mais louc!No me batera tanto amor no peitoSe eu morresse amanh!Mas essa dor da vida que devoraA nsia de glria, o dolorido af...A dor no peito emudecera ao menosSe eu morresse amanh!

    Amor

    Amemos! Quero de amorViver no teu corao!Sofrer e amar essa dorQue desmaia de paixo!Na tualma, em teus encantosE na tua palidezE nos teus ardentes prantosSuspirar de languidez!

    Quero em teus lbio beberOs teus amores do cu,Quero em teu seio morrerNo enlevo do seio teu!

    Quero viver desperana,Quero tremer e sentir!Na tua cheirosa tranaQuero sonhar e dormir!

    Vem, anjo, minha donzela,Minhaalma, meu corao!Que noite, que noite bela!Como doce a virao!E entre os suspiros do ventoDa noite ao mole frescor,Quero viver um momento,Morrer contigo de amor!

    Plida luz

    Plida luz da lmpada sombria,Sobre o leito de flores reclinada,Como a lua por noite embalsamada,Entre as nuvens do amor ela dormia!

    Era a virgem do mar, na escuma friaPela mar das guas embalada!Era um anjo entre nuvens d'alvoradaQue em sonhos se banhava e se esquecia!

    Era mais bela! o seio palpitandoNegros olhos as plpebras abrindoFormas nuas no leito resvalando

    No te rias de mim, meu anjo lindo!

    Por ti - as noites eu velei chorando,Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

    Idias ntimas

    I

    Ossian o bardo triste como a sombraQue seus cantos povoa. O LamartineE' montono e belo como a noite,Como a lua no mar e o som da ondas...Mas pranteia uma eterna monodia,Tem na lira do gnio uma s corda,

    Fibra de amor e Deus que um sopro agita:Se desmaia de amor a Deus se volta,Se pranteia por Deus de amor suspira.

    (...)

    XIVParece que chorei... Sinto na faceUma perdida lgrima rolando...Sat leve a tristeza! Ol, meu pagem,Derrama no meu copo as gotas ltimasDessa garrafa negra...Eia! bebamos!

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    s o sangue do gnio, o puro nctarQue as almas de poeta diviniza,O condo que abre o mundo das magias!Vem, fogoso Cognac! s contigoQue sinto-me viver. Inda palpito,Quando os eflvios dessas gotas ureasFiltram no sangue meu correndo a vida,Vibram-me os nervos e as artrias queimam,Os meus olhos ardentes se escurecem

    E no crebro passam delirososAssomos de poesia... Dentre a sombraVejo num leito douro a imagem delaPalpitante, que dorme e que suspira,Que seus braos me estende...

    Eu me esquecia:Faz-se noite; traz fogo e dois charutosE na mesa do estudo acende a lmpada...

    ela! ela! ela! ela!

    ela! ela! - murmurei tremendo,E o eco ao longe murmurou - ela!Eu a vi... minha fada area e pura -A minha lavadeira na janela!Dessas guas-furtadas onde eu moroEu a vejo estendendo no telhadoOs vestidos de chita, as saias brancas;Eu a vejo e suspiro enamorado!

    Esta noite eu ousei mais atrevidoNas telhas que estalavam nos meus passosIr espiar seu venturoso sono,V-la mais bela de Morfeu nos braos!Como dormia! Que profundo sono!...Tinha na mo o ferro do engomado...Como roncava maviosa e pura!...Quase ca na rua desmaiado!

    -Casimiro de Abreu: amor associado sensualidade e vida, saudosismo

    Meus oito anos

    Oh! que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infncia queridaQue os anos no trazem mais!Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueiras sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais!

    Como so belos os diasDo despontar da existncia!

    Respira a alma inocnciaComo perfumes a flor;O mar lago sereno,O cu um manto azulado,O mundo um sonho dourado,A vida um hino d'amor!

    (...)

    Livre filho das montanhas,Eu ia bem satisfeito,Da camisa aberta o peito, Ps descalos, braos nus Correndo pelas campinasA roda das cachoeiras,Atrs das asas ligeirasDas borboletas azuis!

    Naqueles tempos ditososIa colher as pitangas,Trepava a tirar as mangas,Brincava beira do mar;Rezava s Ave-Marias,Achava o cu sempre lindo.Adormecia sorrindoE despertava a cantar!(...)

    Segredos

    Eu tenho uns amores - quem que os no tinhaNos tempos antigos ? - Amar no faz mal;As almas que sentem paixo como a minha,Que digam, que falem em regra geral.

    - A flor dos meus sonhos moa bonitaQual flor entreaberta do dia ao raiar;Mas onde ela mora, que casa ela habita,No quero, no posso, no devo contar!

    Oh! Ontem no baile, com ela valsandoSenti as delicias dos anjos do cu!Na dana ligeira, qual silfo voandoCaiu-lhe do rosto o seu cndido vu!

    - Que noite e que baile! Seu hlito virgemQueimava-lhe as faces no louco valsar,As falas sentidas que os olhos falavam,No quero, no posso, no devo contar!

    (...)- Que noite e que festa ! e que lnguido rostoBanhado ao reflexo do branco luar !A neve do colo e as ondas dos seiosNo quero, no posso, no devo contar !

    A noite sublime! Tem longos queixumes,Mistrios profundos que eu mesmo no sei:Do mar os gemidos, do prado os perfumes,De amor me mataram, de amor suspirei!

    Agora eu vos juro... Palavra!- No minto!Ouvi a formosa tambm suspirar:Os doces suspiros que os ecos ouviramNo quero, no posso, no devo contar!

    (...)

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    Trememos de medo... A boca emudeceMas sentem-se os pulos do meu coraoSeu seio nevado de amor se entumeceE os lbios se tocam no ardor da paixo.

    Depois... mas j vejo que vs, meus senhores,Com fina malcia quereis me enganar;Aqui fao ponto; - segredos de amoresNo quero, no posso, no devo contar!

    -Fagundes Varela: preocupao espiritual (pantesmo), pessimismo e solido e morte, poesia voltada paraproblemas sociais e polticos, tom grandiloqente e abundncia de imagens

    Cntico do Calvrio

    Memria de Meu FilhoMorto a l l de Dezembrode 1863.

    Eras na vida a pomba prediletaQue sobre um mar de angstias conduziaO ramo da esperana. Eras a estrelaQue entre as nvoas do inverno cintilavaApontando o caminho ao pegureiro.Eras a messe de um dourado estio.Eras o idlio de um amor sublime.

    Eras a glria, a inspirao, a ptria,O porvir de teu pai! Ah! no entanto,Pomba, varou-te a flecha do destino!Astro, engoliu-te o temporal do norte!Teto, caste! Crena, j no vives!

    (...)Mas no! Tu dormes no infinito seioDo Criador dos seres! Tu me falasNa voz dos ventos, no chorar das aves,Talvez das ondas no respiro flbil!Tu me contemplas l do cu, quem sabe,No vulto solitrio de uma estrela,

    E so teus raios que meu estro aquecem!Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!Brilha e fulgura no azulado manto,Mas no te arrojes, lgrima da noite,Nas ondas nebulosas do ocidente!Brilha e fulgura! Quando a morte friaSobre mim sacudir o p das asas,Escada de Jac sero teus raiosPor onde asinha subir minh'alma.

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    FOLHA 9:

    *Terceira gerao romntica:-condoreirismo-poesia social (movimentos abolicionista e republicano)-tom grandiloquente, oratria, para convencer leitor-ouvinte-compromisso com o homem-foge da individualidade-questiona sociedade

    *Castro Alves: mulher de carne-osso e individualizada, sensualismo adulto convive com jeito adolescente, buscaideal democrtico, poeta dos escravos, arte engajada, tratamento crtico e realista

    O Navio Negreiro(Tragdia no mar)'Stamos em pleno mar... Doudo no espaoBrinca o luar dourada borboleta;E as vagas aps ele correm... cansamComo turba de infantes inquieta.(...)

    Por que foges assim, barco ligeiro?

    Por que foges do pvido poeta?Oh! quem me dera acompanhar-te a esteiraQue semelha no mar doudo cometa!Albatroz! Albatroz! guia do oceano,Tu que dormes das nuvens entre as gazas,Sacode as penas, Leviathan do espao,Albatroz! Albatroz! d-me estas asas.(...)Desce do espao imenso, guia do oceano!Desce mais ... inda mais... no pode olhar humanoComo o teu mergulhar no brigue voador!Mas que vejo eu a... Que quadro d'amarguras! canto funeral! ... Que ttricas figuras! ...

    Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!(...)Era um sonho dantesco... o tombadilhoQue das luzernas avermelha o brilho.Em sangue a se banhar.Tinir de ferros... estalar de aoite...Legies de homens negros como a noite,Horrendos a danar...Negras mulheres, suspendendo s tetasMagras crianas, cujas bocas pretasRega o sangue das mes:Outras moas, mas nuas e espantadas,No turbilho de espectros arrastadas,Em nsia e mgoa vs!E ri-se a orquestra irnica, estridente...E da ronda fantstica a serpenteFaz doudas espirais ...Se o velho arqueja, se no cho resvala,Ouvem-se gritos... o chicote estala.E voam mais e mais...Presa nos elos de uma s cadeia,A multido faminta cambaleia,E chora e dana ali!Um de raiva delira, outro enlouquece,Outro, que martrios embrutece,Cantando, geme e ri!No entanto o capito manda a manobra,

    E aps fitando o cu que se desdobra,To puro sobre o mar,Diz do fumo entre os densos nevoeiros:"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!Fazei-os mais danar!..."(...)Senhor Deus dos desgraados!Dizei-me vs, Senhor Deus!

    Se loucura... se verdadeTanto horror perante os cus?! mar, por que no apagasCo'a esponja de tuas vagasDe teu manto este borro?...Astros! noites! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufo!(...)Ontem plena liberdade,A vontade por poder...Hoje... cm'lo de maldade,Nem so livres p'ra morrer. .

    Prende-os a mesma corrente Frrea, lgubre serpente Nas roscas da escravido.E assim zombando da morte,Dana a lgubre coorteAo som do aoute... Irriso!...Senhor Deus dos desgraados!Dizei-me vs, Senhor Deus,Se eu deliro... ou se verdadeTanto horror perante os cus?!... mar, por que no apagasCo'a esponja de tuas vagas

    Do teu manto este borro?Astros! noites! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufo!...Existe um povo que a bandeira emprestaP'ra cobrir tanta infmia e cobardia!...E deixa-a transformar-se nessa festaEm manto impuro de bacante fria!...Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira esta,Que impudente na gvea tripudia?Silncio. Musa... chora, e chora tantoQue o pavilho se lave no teu pranto!...

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    Auriverde pendo de minha terra,Que a brisa do Brasil beija e balana,Estandarte que a luz do sol encerraE as promessas divinas da esperana...Tu que, da liberdade aps a guerra,Foste hasteado dos heris na lanaAntes te houvessem roto na batalha,Que servires a um povo de mortalha!...Fatalidade atroz que a mente esmaga!

    Extingue nesta hora o brigue imundoO trilho que Colombo abriu nas vagas,Como um ris no plago profundo!Mas infmia demais! ... Da etrea plagaLevantai-vos, heris do Novo Mundo!Andrada! arranca esse pendo dos ares!Colombo! fecha a porta dos teus mares!

    Boa noiteBoa noite, Maria! Eu vou,me embora.A lua nas janelas bate em cheio.Boa noite, Maria! tarde... tarde. .No me apertes assim contra teu seio.Boa noite! ... E tu dizes - Boa noite.Mas no digas assim por entre beijos...

    Mas no mo digas descobrindo o peito, Mar de amor onde vagam meus desejos!Julieta do cu! Ouve... a calhandraj rumoreja o canto da matina.Tu dizes que eu menti? ... pois foi mentira...Quem cantou foi teu hlito, divina!(...)A frouxa luz da alabastrina lmpadaLambe voluptuosa os teus contornos...Oh! Deixa-me aquecer teus ps divinos

    Ao doudo afago de meus lbios mornos.Mulher do meu amor! Quando aos meus beijosTreme tua alma, como a lira ao vento,Das teclas de teu seio que harmonias,Que escalas de suspiros, bebo atento!Ai! Canta a cavatina do delrio,Ri, suspira, solua, anseia e chora. . .Marion! Marion!... noite ainda.Que importa os raios de uma nova aurora?!...Como um negro e sombrio firmamento,Sobre mim desenrola teu cabelo...E deixa-me dormir balbuciando: Boa noite! formosa Consuelo.

    *Sousndrade: teor abolicionista e republicano, rompe com padres romnticos atravs da renovao da linguagem

    O Guesa / Canto TerceiroAs balseiras na luz resplandeciam oh! que formoso dia de vero!Drago dos mares, na asa lhe rugiamVagas, no bojo indmito vulco!

    Sombrio, no convs, o Guesa erranteDe um para outro lado passeavaMudo, inquieto, rpido, inconstante,E em desalinho o manto que trajava.A fronte mais que nunca aflita, brancaE plida, os cabelos em desordem,Qual o que sonhos alta noite espanca,"Acordem, olhos meus, dizia, acordem!"E de travs, espavorido olhandoCom olhos chamejantes da loucura,Propendia p'ra as bordas, se alegrandoAnte a espuma que rindo-se murmura:Sorrindo, qual quem da onda cristalina

    Pressentia surgirem louras filhas;Fitando olhos no sol, que j s'inclina,E rindo, rindo ao perpassar das ilhas. Est ele assombrado?... Porm, certoDentro lhe idia vria tumultua:

    Fala de aparies que h no deserto,Sobre as lagoas ao claro da lua.

    Imagens do ar, suaves, flutuantes,Ou deliradas, do alcantil sonoro,Cria nossa alma; imagens arrogantes,Ou qual aquela, que h de riso e choro:Uma imagem fatal (para o ocidente,Para os campos formosos d'ureas gemas,O sol, cingida a fronte de diademas,ndio e belo atravessa lentamente):Estrela de carvo, astro apagadoPrende-se mal seguro, vivo e cego,Na abbada dos cus, negro morcegoEstende as asas no ar equilibrado.

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    FOLHA 10:

    Prosa Romntica X Prosa Realista/Naturalista: as duas aparecem no sculo XIX. A prosaromntica comea na dcada de 40 comA Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo evai at a de 80, quando publicado Memrias Pstumas de Brs Cubas, de Machado de

    Assis.Prosa Romntica:-veculo de expresso: o romance e o folhetim-temas: comicidade, namoro difcil ou impossvel, dvida entre dever e querer, identidaderevelada, peripcias estudantis-caractersticas: flash-back como recurso, amor a redeno, idealizao do heri e damulher, personagens planas, linguagem metafrica abundante assim como adjetivos,linguagem prxima ao coloquial, sentimentalismo, impasse amoroso (com final feliz ouno)-tipos de romances: indianista (ndio como o bom selvagem, o passado histrico e osmbolo de nacionalidade), regional (para valorizar e compreender as diferenas culturais) eurbano (dia-a-dia da burguesia)-principais autores: Joaquim Manuel de Macedo ( A Moreninha), Manuel Antnio deAlmeida ( Memrias de um sargento de milcias), Jos de Alencar ( Iracema, O Guarani,trilogia perfis de mulher,As minas de Prata, O gacho, O sertanejo, O tronco de ip)

    Prosa Realista:-temas: tirados da realidade-caractersticas: descrio, anlise e crtica da realidade de forma objetiva e sem distores,introspeco psicolgica, universalizao, narrativa lenta, exatido de tempo e espao,mulher no idealizada (com defeitos e qualidades), amor e outros sentimentos subordinadosaos interesses sociais, anti-heri-principal autor: Machado de Assis

    Prosa Naturalista:-temas (homem como objeto de estudo): de preferncia de patologia social-caractersticas: impessoalidade (s vezes, beirando a frieza), preciso cientfica, exatidodas descries, apelo pela mincia e linguagem simples, d voz s camadas desfavorecidas,determinismo, literatura engajada, linguagem simples, clareza, ser humano comcaractersticas animais e sensuais, despreocupao moral-principais autores: Alusio de Azevedo (O mulato, O cortio) e Raul Pompia (O Ateneu)

    Trechos dos textos:a) Alm, muito alm daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.Iracema, a virgem dos lbios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da grana, e mais longos queseu talhe de palmeira.O favo da jati no era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hlito perfumado.Mais rpida que a cora selvagem, a morena virgem corria o serto e as matas do Ipu, onde campeava suaguerreira tribo, da grande nao tabajara. O p grcil e nu, mal roando, alisava apenas a verde pelcia quevestia a terra com as primeiras guas.

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    Ora... o que podero ser seno demoninhas, como so todas as outras moas bonitas? Ento tuas primas so gentis?... perguntou Leopoldo a Filipe. A mais velha, respondeu este, tem dezessete anos, chama-se Joana, tem cabelos negros, belos olhos damesma cor, e plida. Hein?... exclamou Augusto, pondo-se de um pulo duas braas longe do canap onde estava deitado, entoela plida?... A mais moa tem um ano de menos: loura, de olhos azuis, faces cor-de-rosa... seio de alabastro... dentes... Como se chama? Joaquina. Ai, meus pecados!... disse Augusto. Vejam como Augusto j est enternecido... Mas, Filipe, tu j me disseste que tinhas uma irm. Sim, uma moreninha de quatorze anos. Moreninha? diabo!... exclamou outra vez Augusto, dando novo pulo. Est sabido... Augusto no relaxa a patuscada. que este ano j tenho pagodeado meu quantum satis, e, assim como vocs, tambm eu quero andar emdia com alguns senhores com quem nos muito preciso estar de contas justas no ms de novembro. Mas a plida?... a loura?... a moreninha?... Que interessante terceto! exclamou com tom teatral Augusto; que coleo de belos tipos!... uma jovem dedezessete anos, plida... romntica e, portanto, sublime; uma outra, loura... de olhos azuis... faces cor-de-

    rosa... e... no sei que mais: enfim, clssica e por isso bela. Por ltimo uma terceira de quatorze anos...moreninha, que, ou seja, romntica ou clssica, prosaica ou potica, ingnua ou misteriosa, h de, por fora,ser interessante, travessa e engraada; e por conseqncia qualquer das trs, ou todas ao mesmo tempo, muitocapazes de fazer de minha alma peteca, de meu corao pitorra!... Est tratado... no h remdio... Filipe, vouvisitar tua av. Sim, melhor passar os dois dias estudando alegremente nesses trs interessantes volumes dagrande obra da natureza do que gastar as horas, por exemplo, sobre um clebre Velpeau, que s ele faz porsua conta e risco mais citaes em cada pgina do que todos os meirinhos reunidos fizeram, fazem e ho defazer pelo mundo. Bela conseqncia! raciocnio o teu que faria inveja a um caloiro, disse Fabrcio. Bem raciocinado... no tem dvida, acudiu Filipe; ento, conto contigo, Augusto? Dou-te palavra... e mesmo porque eu devo visitar tua av. Sim... j sei... isso dirs tu a ela. Mas vocs no tm reparado que Fabrcio tornou-se amuado e pensativo, desde que se falou nas primas de

    Filipe?... Disseram-me que ele anda enrabichado com minha prima Joaninha. A plida?... pois eu j me vou dispondo a fazer meu p-de-alferes com a loura. E tu, Augusto, querers porventura reqestar minha irm?... possvel. E de que gostars mais, da plida, da loura ou da moreninha?... Creio que gostarei, principalmente, de todas. Ei-lo a com a sua mania. Augusto incorrigvel. No, romntico. Nem uma coisa nem outra... um grandssimo velhaco. No diz o que sente. No sente o que diz. Faz mais do que isso, pois diz o que no sente. O que quiserem... Serei incorrigvel, romntico ou velhaco, no digo o que sinto no sinto o que digo, oumesmo digo o que no sinto; sou, enfim, mau e perigoso e vocs inocentes e anjinhos. Todavia, eu a ningumescondo os sentimentos que ainda h pouco mostrei, e em toda a parte confesso que sou volvel, inconstante eincapaz de amar trs dias um mesmo objeto; verdade seja que nada h mais fcil do que me ouvirem um "euvos amo", mas tambm a nenhuma pedi ainda que me desse f; pelo contrrio, digo a todas o como sou e, se,apesar de tal, sua vaidade tanta que se suponham inesquecveis, a culpa, certo, que no minha. Eis o quefao. E vs, meus caros amigos, que blasonais de firmeza de rochedo, vs jurais amor eterno cem vezes porano a cem diversas belezas... vs sois tanto ou ainda mais inconstantes que eu!... mas entre ns h sempreuma grande diferena: - vs enganais e eu desengano; eu digo a verdade e vs, meus senhores, mentis...

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    Est romntico!... est romntico!... exclamaram os trs, rindo s gargalhadas.(A Moreninha, Joaquim Manuel de Macedo)

    c) Seriam nove horas do dia.Um sol ardente de maro esbate-se nas venezianas que vestem as sacadas de uma sala, nas Laranjeiras.A luz coada pelas verdes empanadas debuxa com a suavidade do nimbo o gracioso busto de Aurlia sobre o

    aveludado escarlate do papel que forra o gabinete.Reclinada na conversadeira com os olhos a vagar pelo crepsculo do aposento, a moa parece imersa emintensa cogitao. O recolho apaga-lhe no semblante, como no porte, a reverberao mordaz que de ordinrioela desfere de si, como a chama sulfrea de um relmpago.Mas a serenidade que se derrama por toda a sua pessoa, se de alguma sorte desmaia a cintilao de sua beleza,a embebe de um fluido inefvel de meiguice e carinho, que a torna irresistvel.Seus olhos j no tm aqueles fulvos lampejos, que despedem nos sales, e que, a igual do mormao crestam.Nos lbios, em vez do custico sorriso, borbulha agora a flor dalma a rever os ntimos enlevos.Sombreia o formoso semblante uma tinta de melancolia que no lhe habitual desde certo tempo, e que noobstante se diria o matiz mais prprio das feies delicadas. H mulheres assim, a quem um perfume detristeza idealiza. As mais violentas paixes so inspiradas por esses anjos de exlio.Aurlia concentra-se de todo dentro de si; ningum ao ver essa gentil menina, na aparncia to calma etranqila, acreditaria que nesse momento ela agita e resolve o problema de sua existncia; e prepara-se para

    sacrificar irremediavelmente todo o seu futuro.Algum que entrava no gabinete veio arrancar a formosa pensativa sua longa meditao. Era D. FirminaMascarenhas, a senhora que exercia junto de Aurlia o ofcio de guarda-moa.A viva aproximou-se da conversadeira para estalar um beijo na face da menina, que s nessa ocasioacordou da profunda distrao em que estava absorta.Aurlia correu a vista surpresa pelo aposento; e interrogou uma miniatura de relgio presa cintura por umacadeia de ouro fosco.Entretanto D. Firmina, acomodando a sua gordura semi-secular em uma das vastas cadeiras de braos queficavam ao lado da conversadeira, dispunha-se esperar pelo almoo.- Est fatigada de ontem? perguntou a viva com a expresso de afetada ternura que exigia o seu cargo.- Nem por isso; mas sinto-me lnguida; h de ser o calor - respondeu a moa para dar uma razo qualquer desua atitude pensativa.- Estes bailes que acabam to tarde no podem ser bons para a sade; por isso que no Rio de Janeiro h tantamoa magra e amarela. Ora, ontem, quando serviram a ceia pouco faltava para tocar matinas em Santa Teresa.Se a primeira quadrilha comeou com o toque do Arago!... Havia muita confuso; o servio no esteve mau,mas andou to atrapalhado!...(Senhora, Jos de Alencar)

    d) Com efeito, um dia de manh, estando a passear na chcara, pendurou-se-me uma idia no trapzio que eutinha no crebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas devolatim, que possvel crer. Eu deixei-me estar a contempl-la. Sbito, deu um grande salto, estendeu osbraos e as pernas, at tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.Essa idia era nada menos que a inveno de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondraco,destinado a aliviar a nossa melanclica humanidade. Na petio de privilgio que ento redigi, chamei aateno do governo para esse resultado, verdadeiramente cristo. Todavia, no neguei aos amigos asvantagens pecunirias que deviam resultar da distribuio de um produto de tamanhos e to profundos efeitos.

    Agora, porm, que estou c do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi ogosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do remdio, estastrs palavras: Emplasto Brs Cubas. Para que neg-lo? Eu tinha a paixo do arrudo, do cartaz, do foguete delgrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio, porm, que esse talento me ho de reconhecer oshbeis.(...)No durou muito a evocao; a realidade dominou logo; o presente expeliu o passado. Talvez eu exponha aoleitor, em algum canto deste livro, a minha teoria das edies humanas.O que por agora importa saber queVirglia chamava-se Virglia entrou na alcova, firme, com a gravidade que lhe davam as roupas e osanos, e veio at o meu leito. O estranho levantou-se e saiu. Era um sujeito, que me visitava todos os dias para

  • 8/14/2019 Literatura - Pr-Vestibular Vetor - Parte1

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    falar do cmbio, da colonizao e da necessidade de desenvolver a viao frrea; nada mais interessante paraum moribundo. Saiu; Virglia deixou-se estar de p; durante algum tempo ficamos a olhar um para o outro,sem articular palavra. Quem diria? De dois grandes namorados, de duas paixes sem freio, nada mais haviaali, vinte anos depois; havia apenas dois coraes murchos, devastados pela vida e saciados dela, no sei seem igual dose, mas enfim saciados.Virglia tinha agora a beleza da velhice, um ar austero e maternal; estavamenos magra do que quando a vi, pela ltima vez, numa festa de So Joo, na Tijuca; e porque era das queresistem muito, s agora comeavam os cabelos escuros a intercalar-se de alguns fios de prata. Anda visitando os defuntos? Disse-lhe eu. Ora, defuntos! respondeu Virglia com um muxoxo. E depoisde me apertar as mos: Ando a ver se ponho os vadios para a rua.No tinha a carcia lacrimosa de outro tempo; mas a voz era amiga e doce. Sentou-se. Eu estava s, em casa,com um simples enfermeiro; podamos falar um ao outro, sem perigo.Virglia deu-me longas notcias de fora,narrando-as com graa, com um certo travo de m lngua, que era o sal da palestra; eu, prestes a deixar omundo, sentia um prazer satnico em mofar dele, em persuadir-me que no deixava nada.(Memrias Pstumas de Brs Cubas, Machado de Assis)

    e) Eram cinco horas da manh e o cortio acordava, abrindo, no os olhos, mas a sua infinidade de portas ejanelas alinhadas.Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiamainda na indolncia de neblina as derradeiras notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.A roupa lavada, que ficara de vspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de saboordinrio. As pedras do cho, esbranquiadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil,mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulaes de espumas secas.Entretanto, das portas surgiam cabeas congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como omarulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; comeavam as xcaras a tilintar; o cheiro quente docaf aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas noite; a pequenada c fora traquinava j, e l dentro das casasvinham choros abafados de crianas que ainda no andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-serisos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar degalinhas. De alguns quartos saiam mulheres que vinham pendurar c fora, na parede, a gaiola do papagaio, eos louros, semelhana dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se luz nova do dia.Da a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomerao tumultuosa de machos e fmeas.Uns, aps outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de gua que escorria da altura de uns cinco

    palmos. O cho inundava-se. As mulheres precisavam j prender as saias entre as coxas para no as molhar;via-se-lhes a tostada nudez dos braos e do pescoo, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o altodo casco; os homens, esses no se preocupavam em no molhar o plo, ao contrrio metiam a cabea bemdebaixo da gua e esfregavam com fora as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mo.As portas das latrinas no descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem trguas.No se demoravam l dentro e vinham ainda amarrando as calas ou as saias; as crianas no se davam aotrabalho de l ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrs da estalagem ou no recantodas hortas.O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; j se no destacavam vozesdispersas, mas um s rudo compacto que enchia todo o cortio. Comeavam a fazer compras na venda;ensarilhavam-se discusses e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; j se no falava, gritava-se. Sentia-senaquela fermentao sangnea, naquela gula viosa de plantas rasteiras que mergulham os ps vigorosos nalama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfao de respirar sobre a terra.

    Da porta da venda que dava para o cortio iam e vinham como formigas; fazendo compras.Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a Isaura, que se dispunha a comear a limpeza da casa. Nh Dunga! gritou ela para baixo, a sacudir um pano de mesa; se voc tem cuscuz de milho hoje, bata naporta, ouviu?(O Cortio, Alusio de Azevedo)


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