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LITERACIAS EM COMUNICAÇÃO NO MUNDO CONECTADO: UMA PROPOSTA DE

MÍDIA-EDUCAÇÃO A PARTIR DAS DICAS DE PERSONALIDADES NAS MÍDIAS SOCIAIS5

COMMUNICATION LITERACIES IN A CONNECTED WORLD: A PROPOSAL FOR MEDIA EDUCATION FROM

PERSONALITIES TIPS ON SOCIAL MEDIA

Christiane Delmondes Versuti1 Mariana Carareto Alves2

Mariane Frascareli Lelis3 Mayra Fernanda Ferreira4

VERSUTI, Christiane Delmondes; ALVES, Mariana Carareto; LE-LIS, Mariane Frascareli; FERREIRA, Mayra Fernanda. Literacias em comunicação no mundo conectado: uma proposta de mídia-edu-cação a partir das dicas de personalidades nas mídias sociais. Mi-mesis, Bauru, v. 37, n. 2, p. 201-218, 2016.

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo destacar a importância da alfa-betização midiática e informacional – as literacias – para os jovens, através de atividades de mídia-educação que desenvolvam compe-tências de busca, avaliação, utilização e produção de informações em mídias sociais. Para tal, realizou-se uma revisão bibliográfica de temas relacionados e desenvolveu-se a proposta de uma atividade prática para demonstrar como seria a apropriação, utilização e pro-dução de informações referentes às dicas e às informações que per-

Recebido em: 13/07/2016Aceito em: 28/10/2016

1. Mestre em Comunicação pela Unesp Bauru e Bacharel em

Comunicação Social - Relações Públicas pela mesma instituição.

Agente Local de Inovação no projeto ALI CNPq/SEBRAE. E-mail: christianedversuti@

hotmail.com

2. Mestranda em Comunicação pela Unesp Bauru, especialis-ta em Gestão Estratégica em

Comunicação Organizacional e Relações Públicas (ECA/ USP) e

graduada em Relações Públicas (Unesp – Bauru). E-mail: maria-

[email protected]

5 Trabalho originalmente apresentado no GP Comunicação e Educação do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado na Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP) em setembro de 2016.

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sonalidades das mídias sociais postam e compartilham. Desse modo, é possível pontuar a necessidade de desenvolver a competência in-formacional para que os jovens possam saber avaliar tais informa-ções com mais criticidade.

Palavras-chave: Alfabetização midiática. Alfabetização informa-cional. Mídia-educação. Jovens. Mídias Sociais.

ABSTRACT

This article intends to highlight the importance of media and informa-tion literacy - the literacies - for young people, through media educa-tion activites that develop search, evaluation, usage and information production in social media. For this, we carried out a bibliographic revision about related topics and developed a pratical proposal to show how this appropriation, use and production of information re-ferring to the tips and informations that social media personalities post and share could be. Therefore, we can point the need to develop informational literacy so that young people can know how to make an assessment of this informations with more critical sense.

Keywords: Media Literacy. Information Literacy. Media Education. Young people. Social Media.

INTRODUÇÃO

A sociedade atual é midiatizada na qual inúmeras são as in-formações recebidas diariamente, seja através dos meios de comu-nicação, das salas de aula, do ambiente de trabalho, de amigos, de pessoas consideradas celebridades que falam em suas redes sociais digitais etc. As informações rodeam as pessoas em todos os lugares, porém, é preciso refletir se é sabido assimilar tais informações e fazer apropriações adequadas em relação a elas. Tal questionamento pode ser desvendado através do conceito de competência informacional.

De acordo com Coneglian, Santos e Casarin (2010, p. 257), o termo “competência” está relacionado à habilidade de um indivíduo em utilizar seu conhecimento para alcançar determinado objetivo, sendo que tais habilidades “são atributos relacionados não apenas

3. Mestranda em Comunicação pela Unesp Bauru. Graduada em Comunicação Social: Relações Públicas, pela mesma instituição. É membro do grupo de estudos audiovisuais GEA-UNESP, sob orientação da Profª Drª Ana Sil-via Lopes Davi Médola. Também é membro do Núcleo de Comuni-cação, Inovação e Gestão (CIG), sob orientação da Profª Drª Maria Eugênia Porém. E-mail: [email protected]

4Doutoranda em Comunicação pela Unesp em Bauru. Mestre em Comunicação pela mesma instituição. Coordenadora e professora do curso de Jornalis-mo da Universidade do Sagrado Coração. Membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Mídia e Sociedade. Jornalista da TV Universitária Unesp. E-mail: [email protected]

Contato:Christiane Delmondes Versuti

[email protected]

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ao saber-fazer, mas aos saberes (conhecimentos), ao saber - ser (atitudes) e ao saber-agir (práticas no mercado de trabalho e tra-balhos acadêmicos)”. Dessa forma, no que tange o aspecto social, a competência informacional desempenha papel relevante, pois se relaciona a saberes e habilidades de diversas predominâncias, in-tervindo de forma prática na realidade, além de permitir uma visão crítica com maiores possibilidades de ações concretas que emergem no contexto social.

No cenário midiático, em especial com a predominância das redes sociais digitais se convertendo em verdadeiras mídias sociais (FERRARI, 2010), tal competência surge não apenas na investiga-ção sobre o acesso e ao uso de informações, mas da própria mídia. Diante disso, emerge o conceito, proposto pela Organização das Na-ções Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco (WIL-SON et al, 2013) de alfabetização midiática e informacional (Media and Information literacy - AMI), de modo a proporcionar que os cidadãos tenham “um conhecimento básico sobre as funções das mí-dias e de outros provedores de informação e de como acessá-los. [...] Esse conhecimento, por sua vez, deveria permitir que os usuários se engajassem junto às mídias e aos canais de informação de maneira significativa.” (WILSON; et al, 2013, p. 16).

Nesse sentido, na sociedade em rede (CASTELLS, 1999), com a proliferação de artefatos midiáticos com um potencial de circula-ção e produção de informações por diferentes emissores a diversos receptores, em uma relação de prosumidores (TOFFLER, 1980), é necessário que esses atores nessas mídias tenham domínio crítico e criativo diante das informações, sendo este um dos postulados da AMI, na defesa da Unesco. Elegendo, portanto, os jovens de 15 á 24 anos como um dos atores de maior presença nas mídias digitais, como indicam as pesquisas do Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI, 2015). Este trabalho apresenta uma proposta de leitura crítica de informações em mídias sociais, no caso a plataforma Instagram6, por meio de atividades de mídia-educação, como uma das etapas para garantir a literacia em mídia e informação pelos jovens de 15 anos.

Considerando, portanto, que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) são utilizadas pelos jovens para a apropriação de informações sobre diversos assuntos a todo momento, é preci-

6 Desde 2010, o Instagram é uma plataforma gratuita para compartilhar, em perfis pessoais, “sua vida de modo divertido e peculiar com seus amigos” (INSTAGRAM, 2016) [tradução nossa]. A plataforma permite a postagem de vídeos e fotos e, atu-almente, tem mais de 500 milhões de usuários e compartilhamento de 95 milhões de fotos diariamente.

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so que eles desenvolvam a competência informacional para buscar fontes que trabalhem com seriedade e que veiculem informações confiáveis. Diante disso, destaca-se, principalmente, a importância dessa competência quando as informações buscadas tratam de ques-tões inerentes à saúde, alimentação, padrões de beleza e até mesmo padrões culturais.

Tendo em vista o uso que os jovens fazem das mídias sociais - 25% dos jovens de 15 á 17 anos têm perfil no Instagram7 (CGI, 2015) -, é importante pensar de quais formas é possível orientá-los sobre a busca e o consumo de informações relacionados aos assuntos apontados. O objetivo é ajudá-los a compreender: 1) como funciona a divulgação de conteúdos nas mídias sociais, considerando que mui-tas vezes são publicidades pagas; 2)como essas informações podem interferir em suas vidas; 3) como podem avaliar o que é transmitido de maneira criteriosa e crítica; 4) como desenvolver consciência e conhecimento para escolherem as fontes que irão seguir.

Dessa forma, o objetivo deste estudo é propor um método para orientar esse jovem, consumidor, disseminador de informações e muitas vezes produtor de conteúdos, para que ele seja capaz de buscar informações que permitam maior conhecimento sobre o pro-cesso de comunicação de personalidades nas mídias sociais e que o ajude a avaliar a veracidade das dicas e dos conteúdos disseminados a partir de informações complementares e de especialistas antes de compartilhar e de colocar em prática na rotina o que lhes é passado on-line, principalmente quando os temas estão diretamente ligados à questões de saúde e bem-estar, que podem desencadear doenças, transtornos alimentares, problemas relacionados à baixa autoestima, entre outros.

Para alcançar esse objetivo, foi realizado um estudo teórico--prático que colaborou para verificar fatores relacionados à infor-mação e à educação de jovens a partir do conceito de literacias, e, a partir disso, foram desenvolvidas atividades para jovens de 15 anos, embasadas na “matriz de seis estágios para alfabetização informa-cional e a solução de problemas informacionais” (WILSON et al.; 2013, p. 143).

7 A pesquisa do Comitê Gestor na Internet no Brasil foi realizada de outubro de 2014 a fevereiro de 2015 e contou com a participação de 2.105 crianças e jovens de 9 a 17 anos.

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Literacias para uma juventude conectada

Passarelli, Junqueira e Angeluci (2014), assim como Tapscott (2010), apresentam o conceito de uma juventude que se apropria das tecnologias de modo a propiciar oportunidades on-line da educação ao lazer. O contato instantâneo e interdependente dos jovens, que estão no grupo dos conectados e com habilidades digitais que, em muitos casos, são inatas, revela um campo de estudo fértil, uma vez que as ressignificações diante das novidades e das apropriações que as tecnologias proporcionam contemplam um grupo de cidadãos que se tornam protagonistas de suas ações on e off-line.

Nessa perspectiva, os atores sociais que dialogam com esses jovens, em ambientes formais, informais e não-formais de ensino, podem ser potencialmente educadores e mediadores da relação des-sa juventude conectada com as mídias digitais. Diante do acesso à Internet e dos usos que fazem da rede, conforme aponta a pesquisa do GCI (2015), é importante que estejam cientes de um consumo ético, responsável e crítico, além das oportunidades de produção que podem ter no ambiente e, como consequência, exercerem um papel de influenciadores, não em um sentido negativo, mas no sentido de terem e serem seguidores, como indicam as potencialidades das mí-dias sociais (FERRARI, 2010).

Então, como garantir que tais potencialidades possam ser uti-lizadas de maneira eficiente e democrática de modo a assegurar o direito à informação no que se refere à liberdade de expressão e ao acesso a informações em meios de livre escolha dos cidadãos? Ten-do como ponto de partida os jovens cidadãos e o meio Internet, em especial as mídias sociais como a rede Instagram, a proposta de al-fabetização midiática e informacional da Unesco é uma alternativa para dotar os cidadãos de ferramentas e reflexões para utilizar as in-formações e as mídias de acordo com seus interesses, sem negligen-ciar os direitos informacionais dos outros (WILSON, et al, 2013).

As literacias, enquanto competências em informação e mídia, conforme indicam Wilson et al (2013), possibilitam um engajamento e um empoderamento cujo impacto é sentido na promoção de uma sociedade democrática garantindo uma cidadania alfabetizada em mídia e informação. Devido a isso, saber e poder utilizar eficiente-mente as informações tanto na produção quanto no consumo é um exercício que deve ser estimulado em uma integração entre a mídia e a educação enquanto formação e desenvolvimento de competências, como apresenta a proposta de atividade a seguir.

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Proposta de mídia-educação em mídias sociais

Considerando que a informação é insumo à ação, a alfabeti-zação midiática e informacional deve ser desenvolvida por meio de atividades que colaborem para reconhecer a necessidade da informa-ção, a forma como deve-se acessá-la e verificar sua qualidade, utili-zá-la eficazmente e gerar novas informações úteis para a sociedade, de modo a corresponder com as três áreas temáticas do Currículo de AMI para Formação de Professores da Unesco8:

1. O conhecimento e a compreensão das mídias e da informa-ção para os discursos democráticos e para a participação social;

2. A avaliação dos textos de mídias e das fontes de informação;3. A produção e o usos das mídias e da informação. (WILSON;

et al, 2013, p. 22)

Diante desta proposta, este estudo utiliza como foco a área temática 2 na proposta de uma atividade sobre as publicações de personalidades do Instagram e a maneira como essas informações são utilizadas em curtidas, compartilhamentos em perfis pessoais e na tomada de posições e ações na vida off-line. A elaboração dessa atividade tem como norteadora a matriz dos seis estágios para a al-fabetização informacional e a solução de problemas informacionais (WILSON; et al.; 2013, p. 143):

a) Estágio 1: definição de necessidades e problemas informa-cionais – é a etapa que contempla a natureza do que está sendo inves-tigado e os conhecimentos prévios sobre a temática;

b) Estágio 2: estratégias de busca de informações – é o mo-mento em que se indicam as fontes de busca de informações e quem pode auxiliar nesse processo;

c) Estágio 3: localização e acesso às informações – é a etapa articulada com o estágio 2 de modo a proporcionar o contato com as fontes de informações;

d) Estágio 4: avaliação crítica – é a investigação da confiabili-dade das fontes encontradas;

8 Embora a proposta deste documento seja voltada à formação de professores, con-sidera-se pertinente a adaptação para a formação de jovens, tendo em vista seu contato com as mídias sociais. Além disso, reconhece-se o papel central, como mediador de informações, que um educador em ambiente formal e informal de educação tem junto aos estudantes, sendo um interventor no contato dos mesmos com as mídias.

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e) Estágio 5: síntese sobre as informações obtidas e como apresentá-las – é a etapa que elabora uma síntese relacionando o tema com o objetivo da investigação e a forma como as descobertas podem ser socializadas, como ponto de partida para o último estágio;

f) Estágio 6: uso, compartilhamento e distribuição da informa-ção – é a fase que permite a aplicabilidade prática das descobertas e a socialização da temática de modo a cooperar com os demais cida-dãos que tenham o mesmo problema informacional.

A partir dessa organização teórica-metodológica, a atividade aqui proposta conta com seis etapas que objetivaram a conscienti-zação de jovens sobre o consumo a partir de informações recebidas sobre saúde, beleza, alimentação, estética, etc., o desenvolvimento de habilidade para a busca de informações confiáveis a partir de uma orientação prévia de identificação de fontes, a localização e o acesso a informações sobre o assunto a partir das fontes consideradas mais confiáveis, a utilização da informação avaliando se ela foi transfor-mada em conhecimento por meio da produção de novas informações e, posteriormente, sua socialização.

Atividade de mídia-educação para literacias em informação e comunicação

A partir dos conceitos apresentados anteriormente, apresenta--se o percurso didático para a atividade de mídia-educação com jo-vens:

Proposta: A partir de postagens de personalidades no Insta-gram, analisar quando são transmitidas informações e quando está sendo realizada uma campanha publicitária.

Objetivo: Conscientizar os jovens sobre o consumo a partir de informações que receberá sobre saúde, beleza e estética de persona-lidades no Instagram.

Metodologia: Será desenvolvido um debate dividido em qua-tro etapas para discutir como jovens de 15 anos recebem as infor-mações e como as utilizam. Além disso, a discussão terá o intuito de refletir sobre a influência das informações presentes nas mídias. As postagens analisadas serão sobre os principais assuntos que persona-

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lidades abordam: moda, maquiagem, dieta e alimentação, exercícios físicos, cosméticos etc.

Etapa 1: O uso do Instagram

Essa etapa tem como embasamento teórico a teoria dos Usos e Gratificações de modo a entender o uso que as pessoas fazem da mídia, expondo-a como instrumento de satisfação das necessidades sociais ou psicológicas dos indivíduos.

O efeito da comunicação de massa é entendido como consequência das satisfações às necessidades experimentadas pelo receptor: os mass media são eficazes se e na medida em que o receptor lhes atribui tal eficácia, base-ando-se precisamente na satisfação das necessidades. Por outras palavras, a influência das comunicações de massa permanecerá incompreensível se não se considerar a sua importância relativamente aos critérios de experi-ência e aos contextos situacionais do público: as mensagens são captadas, interpretadas e adaptadas ao contexto subjetivo das experiências, conheci-mentos e motivações (WOLF, 1999, p. 71)

Tal teoria se torna balizadora ao considerar as experiências dos jovens com a plataforma digital e os conteúdos ali postados e compartilhados. Para tanto, têm-se como objetivo e abordagem:

a) Objetivo: Verificar como os jovens utilizam o Instagram, quem seguem e como consomem as informações que encontram.

b) Abordagem: Os jovens irão responder perguntas para mos-trar o uso que fazem dessa plataforma midiática:

• Que tipo de conteúdo você compartilha e curte no Instagram?• Que tipo de personalidades você segue?• Em busca de que tipo de informação?• O que você lê te satisfaz ou não? Por quê?• Você compartilha o conteúdo produzido pela personalidade?• Você costuma colocar em prática dicas e informações trans-

mitidas?

Tais perguntas são importantes para saber quais informações são buscadas por esses jovens, quais são de seu interesse, se são suficientes ou se necessitam de complemento, além disso para per-mitir identificar qual o discurso é praticado pelas personalidades e se passam credibilidade ao ponto de promover o compartilhamento das

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informações para a rede de amigos e, sobretudo, se há evidências do uso prático das informações em alguma esfera da vida desses jovens.

Essa atividade está relacionada aos três primeiros estágios para a alfabetização informacional e a solução de problemas infor-macionais da Unesco (WILSON; et al, 2013), uma vez que permite a identificação das fontes e informações consultadas pelos jovens no Instagram.

Etapa 2: Informação e consumo

A partir do conhecimento prévio sobre o que os jovens veem no Instagram, a etapa 2 visa compreender quais as responsabilidades das mídias na mudança do comportamento do jovem e como é pos-sível analisar a maneira como eles são influenciados por elas com relação ao consumo. Tais questionamentos têm como embasamento os Estudos Culturais, corrente teórica da comunicação que apresen-ta uma perspectiva do processo social para entender os fenômenos comunicacionais, assim, a cultura é um elemento primordial para comunicação e vice-versa, um interferindo direta e indiretamente no outro, construindo novos significados e valores para a socieda-de contemporânea (WOLF, 1999). Além disso, há um olhar sobre o consumo da comunicação de massa “enquanto espaço de negociação entre práticas comunicativas extremamente diferenciadas” (WOLF, 1999, p. 109). Nesse campo do consumo, estão as postagem com conteúdos e valores a serem compartilhados entre os usuários do Instagram, o que leva a propor esta segunda etapa da atividade:

a) Objetivo: Verificar se as informações que os jovens recebem pelas personalidades no Instagram influenciam no consumo de pro-dutos e serviços de beleza, estética, saúde, dieta e alimentação, etc.

b) Abordagem: A partir da apresentação de algumas posta-gens sobre as temáticas de saúde e bem-estar no Instagram, os jovens irão responder perguntas para mostrar como eles consomem tais in-formações

• Conhecem a personalidade?• Qual a imagem possuem dela?• Principal informação que ela passa?• Você confia na informação? Por quê?• Você consumiria o que ela diz? Por quê?

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Na sequência, os jovens serão incentivados a refletir e debater sobre:

• Qual sua primeira impressão sobre essa publicação? • Quais informações passa? • Está em pauta na mídia, em novelas, filmes, séries? • Quais são os comentários da publicação? • Ela incentiva algum comportamento? • Ela pode ser uma publicidade?

As figuras de 1 á 5 ilustram a proposta desta etapa da atividade de mídia-educação, elucidando algumas questões que perpassam a experiência e o consumo, além de identificarem a relação do mundo on-line com o off-line, a qual deve estar presente durante as discus-sões e mediações entre os jovens.

Figura 1 – Postagem do perfil da Gabriela PugliesiFonte: Instagram @gabrielapugliesi em 06 de julho de 2016.

Nesta postagem da blogueira fitness, Gabriela Pugliesi, com alta popularidade no Instagram (mais de 2,5 milhões de seguidores) há um forte apelo, tanto de exposição dos corpos musculosos e ma-gros, como também de divulgação de produtos importados que po-dem ser adquiridos por uma loja virtual (que patrocina a blogueira).

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Segundo Jacob (2014), a relação entre corpos esculturais e alimen-tação/suplementação sustentam o mundo fitness que vem ganhando destaque a cada dia, pois salienta a importância do emagrecimento e da busca por ganho de músculos.

Geralmente destaca-se não a preocupação com a saúde daqueles que se-guem esse modo de vida, mas sim com o efeito que tais alimentos provo-cam na estética corporal. Assim alimentam—e as obsessões com o cor-po, especialmente entre as mulheres. A capa de revista hoje é um perfil de Instagram, muitas vezes de um anônimo ou de um famoso que construiu a fama no mundo da Internet e nas redes sociais, mais especificamente. (JACOB, 2014, p. 93)

Diante dessa problematização, junto aos jovens, é preciso levantar perguntas sobre a formação e o conhecimento adquirido a respeito do assunto abordado pela personalidade e a imagem que ela possui, além de identificar o tipo de informação publicada, se é confiável e se haveria consumo próprio daquilo que está sendo di-vulgado. É importante que o jovem tenha conhecimento daquilo que vê para não ser influenciado e incentivado a comprar, por exemplo, um produto sem saber os reais efeitos que pode causar à saúde a ao bem-estar. A figura 2 indica a importância de verificar as dicas apre-sentadas antes de colocá-las em prática.

Figura 2 – Postagem do perfil da Patricia Davidson HaiatFonte: Instagram @patriciadavidsonhaiat em 06 de julho de 2016.

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Figura 3 – Postagem 1 do perfil da Bella FalconiFonte: Instagram @bellafalconi em 06 de julho de 2016.

Figura 4 – Postagem 2 do perfil da Bella FalconiFonte: Instagram @bellafalconi em 06 de julho de 2016.

Nas postagens das figuras 3 e 4, a outra blogueira fitness, Bella Falconi (atualmente com 2,5 milhões de seguidores), faz publicidade sobre dois produtos diferentes que a auxiliam em seus treinos. Seu corpo moldado por uma suposta alimentação correta e pela prática

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diária de exercícios físicos se transforma em linguagem de comuni-cação ao público que almeja um corpo tão “perfeito”.

Conforme aponta Jacob (2015, p. 5), “é na imagem das blo-gueiras fitness e dos perfis de Instagram de mulheres ora anônimas, ora famosas, que as marcas se inserem para vender os produtos recém-lançados, como barras de proteínas, biscoitos gluten free ou queijos sem lactose, entre tantos outros”. Sendo assim, ações como essas podem repercutir de modo muito perigoso para a saúde dos seguidores dessas personalidades, sobretudo quando trata-se de um público mais jovem que ainda não possui conhecimento adequado sobre os cuidados com a saúde e a prática de exercícios físicos.

Figura 5 – Postagem do perfil da Mimis FranzoniFonte: Instagram @mimisfranzoni em 06 de julho de 2016.

Diante das figuras aqui expostas, percebe-se que diversas são as maneiras de divulgação dos perfis de personalidades do Instagram e os recursos de imagens e postagens para atrair cada vez mais segui-dores. No caso dessa outra blogueira fitness conhecida como Mimis (Figura 5), na descrição do seu perfil, ela se diz fisioterapeuta com

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especializações na área de saúde. Sua fama foi proveniente de uma mudança significativa que alcançou ao emagrecer por meio de uma alimentação mais saudável associada à prática de exercícios físicos. Por isso, conforme mostra a figura 5, constantemente as postagens ensinam alguma dica de receita para os amantes do mundo fitness, sem qualquer tipo de restrição. Seguidores que confiam na persona-lidade e querem, assim como ela, alcançar um resultado físico sa-tisfatório acabam se sujeitando a fazer uso de alimentos com alto índice proteico, baixo carboidrato e inúmeras vitaminas, sem saber se realmente o consumo desses alimentos pode ser benéfico ao seu biotipo e consequentemente à sua saúde.

A partir das problematizações que a leitura crítica das postagens pode trazer, como postulado pelo estágio 4 de avaliação crítica das informações (WILSON; et al, 2013), parte-se para a próxima etapa.

Etapa 3: Por trás da informação

Esta etapa contempla os estágios 4 e 5 da matriz da alfabetiza-ção informacional e avaliação dos problemas informacionais a fim de sistematizar a competência em leitura crítica de mídia.

a) Objetivo: Apresentar informações que ajudem os jovens a

serem críticos antes de consumir aquilo que personalidades publi-cam por meio das mídias sociais.

b) Abordagem: Discutir com os jovens os seguintes conceitos que envolvem a informação recebida pelo Instagram:

• O que é publicidade?• Credibilidade: Por que consideramos as informações dessas

personalidades confiáveis?• Onde podemos buscar informações confiáveis?• Apresentação de um exemplo de reportagem e estudo sobre

estética e consumo.

De posse de um olhar crítico sobre as postagem do Instagram, os jovens se apropriam das funções de mídia e consequentemente de seus efeitos, de modo a se tornarem protagonistas da alfabetização midiática e informacional, como demonstra na última etapa da ati-vidade.

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Etapa 4: Produzindo a informação

Esta etapa possibilita que os jovens sistematizem as reflexões que realizaram e, em grupos, indiquem como o problema informa-cional se soluciona, como prevê o estágio 6 de uso, compartilhamen-to e distribuição da informação (WILSON; et al, 2013).

a) Objetivo: Mostrar para os jovens a diferença de informa-ções que são transmitidas em mídias sociais e das publicidades a fim de refletir sobre o que é consumido, além dos efeitos das postagens e da mídia.

b) Abordagem: Os jovens serão divididos em dois grupos. Um dos grupos irá produzir uma reportagem de cunho jornalístico sobre o assunto e o outro grupo uma publicidade. Para essa produ-ção, os jovens precisarão pesquisar diferentes fontes e desenvolver os trabalhos com formato e linguagem distintos, cujo conteúdo deve-rá ser apresentado em uma atividade paralela a esta proposta. Após o desenvolvimento, os trabalhos serão apresentados a todo grupo e será realizado um debate sobre as diferenças entre eles.

O compartilhamento das informações, sistematizadas em produtos, é a finalização desta atividade e da proposta de garantir a apropriação significativa, crítica e criativa diante da mídia e das informações publicadas em perfis em mídias sociais.

Considerações

A comunicação no cenário de mídias sociais merece um olhar crítico por parte de seus cidadãos tanto como produtores quanto como receptores de conteúdo. Como tais funções se entrelaçam na proposta de interação em rede dessas mídias, ser um alfabetizado em meio digital exige muito mais que acesso às plataformas e às infor-mações, por isso é necessário saber fazer um uso crítico e criativo das ferramentas e conteúdos à disposição. Essa é uma das propostas da Media and Information literacy – AMI: desenvolver competên-cias em informação e mídia para que os cidadãos estejam letrados para compreender os fenômenos comunicacionais e, ao mesmo tem-po, culturais da sociedade conectada.

Considerando o cenário em que os jovens são os mais ativos na mídia, eles se tornam protagonistas de ações de compartilhamento

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VERSUTI, Christiane Del-mondes; ALVES, Mariana Carareto; LELIS, Mariane Frascareli; FERREIRA, Mayra Fernanda. Literacias em comunicação no mundo conectado: uma proposta de mídia-educação a partir das dicas de personalidades nas mídias sociais. MIMESIS, Bauru, v. 37, n. 2, p. 201-218, 2016.

on e off-line dos conteúdos a que têm acesso por meio de fontes com as quaisquer estabelecem uma relação de confiança, seja ela por cau-sa de “modismos”, “celebrização dos perfis”, isolamento do “mundo real” e ausência de mediações que problematizem os usos que fazem das mídias. É neste ponto que, a proposta de uma atividade de mídia--educação para garantir as literacias midiáticas e informacionais por meio das postagens no Instagram, se justifica por desenvolver junto aos jovens um olhar crítico e criativo para questões de saúde e bem--estar que estão publicizadas em perfis anônimos ou não.

Cabe ressaltar que esta proposta é apenas uma dentre inú-meras oportunidades que o trabalho com a mídia-educação, ou seja, com as literacias, possibilita a quaisquer cidadãos em diversos am-bientes de vivência e educação. Acredita-se que seja fundamental, em meio às pluralidades de vozes em interação nas mídias, a inter-locução entre as habilidades e as competências em aquisição pelos indivíduos, como no caso apresentado com os jovens e a mídia di-gital, a fim de garantir como propõe a alfabetização informacional e midiática o exercício do direito à informação, acesso, expressão e opinião, independentemente das tecnologias utilizadas e as culturas presentes na sociedade. A AMI é multicultural, ética e democrática.

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