LUCIA BURZYNSKI
LiNGUA OU GRAMATICA?o CONFLITO GERADO NO ENSINO
Monografia apresentada como avaJia((30 parcial doCursD de P6s-Gradua<;ao em Lingua Portuguesa daUniversidade Tuiuti do Parana, para obten<;:c1odotitulo de especialista.Orientadora: Prof! Vera Lucia de A. S. Ferronato.
Curitiba2000
SUMARIO
1. INTRODUC;Ao . 4
2. FALANDO SOBRE A GRAMATICA .
2.1 A questao do certa e do errado ...
o papel da escola e do professor no ensino
13
16
22
26
29
34
38
41
2.2
3.
4.
4.1
A VARIAC;Ao LlNGOiSTICA ..
A QUESTAO DA GRAMATICA
o que defendem lingliistas e gramaticos.
4.2 Relac;ao en sino x aprendizagem.
CONCLUsAo ..
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ...
INTRODUc;:Ao
Uma questao que 8Sta sendo multo discutida par universitarios e professores
e 0 ensina da lingua Portuguesa. A duvida gira em torna do ensina da gramatica,
porque os professores tern duvidas em relac;:ao a como ensinar e ao que ensinar. A
preocupay8o deles esta baseada na forma como as escolas propoem que a
gramatica seja ensinada. As propostas pedagogicas que defendem 0 estimulo a
produc;:ao de texto nao sao aceitas. Na realidade, alguns docentes nao querem ver
que 0 ensina da escrita va; muito alem das "decorebas" de regras gramaticais,
conjuga<;:6es de verbos, repetiyao de listas e mais listas de exercicios dissociados da
realidade e da necessidade da vida do aluno.
Esse estudo visa a analise de como a gramatica vern sendo ensinada nas
escolas, quais os metodos utillzados, 0 poder de influencia que a escola tem e 0 que
defendem IingOistas e gramaticos, no tocante ao ensino da Lingua Portuguesa. Sera
avaliado por que e tao forie a intenyao de fazer com que os alunos aprendam a
dominar uma gramatica e nao a tentar entender e dominar uma lingua.
Ensinar a ler e escrever e "ensinar a ler e escrever" coisas uteis para 0 aluno,
com textos que propiciem prazer e diversao, mas tambem que atendarn as
necessidades de comunicayao exigidas pela vida modema: ter um manual, aprender
a localizar 0 nome de uma rua num mapa ou procurar um numero numa lista
telef6nica. Aprender a escrever inclui saber usar corretamente a lingua para se
comunicar em uma carta ou em um cariao. Aprender a ler e buscar, por prazer, uma
poesia, um conto, urn romance. Aprender a escrever e fazer suas proprias tentativas
de redigir um texto, ou dar seu ponto de vista sabre determinado assunto. Enfim, e
usar a palavra falada e esc rita de forma natural.
Serao mencionadas aqui sugestoes para que a gramatica pass a ser ensinada
em etapas mensuraveis, sem infringir os pad roes considerados pela escola como
"corretos" Serao analisadas novas tecnicas que podem ajudar no estlmulo ao
aprendizado, sem que este se torne um "penoso" aprender. A questao e estabelecer
uma comunicayao mais efetiva com os alunos. Para tanto, torna-se fundamental nao
usar somente a linguagem escrita, ficando-se "preso" aos manuais de ensino. E
imprescindlvel incentivar reflex6es, a partir de recursos que atraiam a atenyao e
despertem a interesse.
Novas perspectivas serao mostradas em relayao aos padr6es de en sino que
ainda sao muito rigid os e arcaicos e formas de como eles podem ser modernizados.
E preciso analisar a grande conflito entre aquilo que se pretende impor como
Wportugues correto" e 0 que 0 povo efetivamente usa. Procurar-se-a avaliar a
situayao do professor que se ve perdido, pOis, de um lado, tem em mente aquila que
estudou na universidade e 0 que e esperado que transmita a seus alunos, e, de
outro, percebe que a realidade linguistica e bem diferente.
As praticas pedag6gicas nas escolas tem se dissociado de suas
determinayoes socia is. E indispensavel que uma pratica de ensino seja real mente
competente e comprometida com a luta contra as desigualdades socia is.
o objetivo maior e demonstrar que 0 aprendizado da linguagem oral ou
escrita deve ocorrer no contexto, no convivio com outros falantes da linguagem
dentro de uma dinamica natural. Em outras palavras, tenta-se mostrar que ha urn
processo de interayao que nao precisa ser sistematizado: nao e preciso que os
alunos fa9am exercicios "mecanizados" para aprender gramatica.
Em geral, sera analisado por que a escola nao deve ensinar 0 portugues
padrao baseado somente naquilo que sao consideradas "regras". Na verdade, ha
contradic;:oes nos proprios manuais e, por isso, e mais importante refletir sobre uma
lingua, reorganizar discuss6es. Enfim, sera demonstrado como e importante
ressaltar que, para se analisar fatos de uma lingua, existem inumeras condic;:6es
diferentes dos muitos metodos utilizados pelas gramaticas e manuais indicados nas
escolas.
2. FALANDO SOBRE A GRAMATICA
Aqui sera discutido 0 ensina da gramatica, mais precisamente 0 ensina da
gramatica normativa. Mas, para se falar em gramatica normativa, pareee necessaria
esclarecer 0 que seja essa gramatica.
A primeira defini930 de gramatica - conjunlo de regras que devem ser seguidas - e a rna isconhecida do professor de primeiro e segundo graus, porque e em geral a definic;:ao que seadola nas gramatica pedag6gicas enos livros didaticos. Com efeila, como se pade ler combastanle freqUencia nas apresenta<;:Oes feilas por seus autores, esses compendios sedestinam a fazer com que seus leitores aprendam a "falar e escrever carretamenle" Paralanto, apresentam urn conjunlo de regras, relativamente explicilas e reJativamente coerentes,que, se dominadas, poderao produzir como efeito 0 emprego da variedade padrao (escritae/ou oral). Um exemplo de regra deste tipo e a que diz que a verba deve concordar com asujeilo, por um lado, e, por oulro, que existe uma forma determinada e (mica para cadatempo, modo e pessoa do verbo: a forma de "por" que concorda com Reles" no preteritoperfeito do indicativo e "puseram", e nao "pusero", "pbs", "ponharam", "ponharo" ou "ponhou"Gramaticas desse tipo sao conhecidas como normativas au prescn·Uvas. Na supasi~ao de queesle lipo de gramatica e suficientemente conhecido, nao explicitarei mais suas caracteristicas(POSSENTI, 1996, p. 65).
Ouve~se falar muito em novas experiencias relativas ao ensino da lingua
materna, porem, se essas experiencias fossem levadas a serio e expressassem
verdades, have ria uma melhoria considen3vel no ensino,
Quando se fala no ensino da lingua materna, nao se discute se ele deve
continuar ou nao. Apenas deve-se avaliar como 0 aprendizado de uma lingua ou de
urn dialeto e uma tarefa dificil para certos grupos ou para certas pessoas.
A escola muitas vezes e responsavel pelo fracasso no ensino e as razoes
variam entre a metodologia utilizada e 0 comprometimento da escola com 0 esHmulo
a leitura e a escrita.
Ao analisar-se uma crian~a de tres anos, por exemplo, que ja se comunica,
pode-se perceber que ela e capaz de formar frases completas e compreensiveis,
mas como isse se justifica? Essa crianc;a nao foi ensinada para isso, apenas sua
capacidade e criatividade permitem-Ihe comunicar-se. Em "Par Que (Nao) Ensinar
Gramatica na Escola", S. POSSENTI (1996) faz uma analise do aprendizado da
lingua e diz que naD ha linguas simples ou complexas, primitivas au desenvolvidas.
o que ha sao linguas diferentes. A apropriac;ao da lingua escrita pel a Criany8 e fruto
de urn longo e trabalhoso processo evolutivo, que nao S8 determina pelo ensina
gramatical formal da escrita, embora possa dele reeeber influencias. A crian<;a
constr6i suas proprias hip6teses sabre a escrita, mesma antes de entrar para a
escola e, com base nessas hip6teses, assimila a que Ihe for ensinado. Por iSSQ, nem
sempre sua resposta coincide com aquila que S8 espera dela quando S8 toma 0
ensina como unico ponto de referencia para avaliar a aprendizagem da escrita pela
crianC;8.
Saber falar significa saber uma lingua e saber uma lingua significa saber uma
gramatica. E claro que saber uma gramatica nao quer dizer dominar as regras que
se aprendem nas escolas, mas sim saber entender 0 que Ihe e dito ou que se 113e
fazer frases que possam ser entendidas por quem as Ie au por quem as ouve.
Se for analisado a fato de que todos VaG a escola sabendo falar, e certo dizer
que a escola nao ensina a lingua materna. A escola s6 da condivoes para
desenvolve-Ia e sao essas condic;oes que estao sendo colocadas em discussao.
Para verificar 0 quanta ensinamos caisas que os alunos js sabem, poderiamos fazer 0seguinte teste: ouvir 0 que os alunos do primeiro ana dizem nos recreios (ou durante nossasaulas). para verificar se ja sabem ou nao fazer frases completas (e entao naa precisariamosfazer exercicios de completar), se ja dizem ou nao periodos compostos (e nao precisariamosmais imaginar que temos que comelfar a ensina-Ios a ler apenas com frases curtas e idiotas).se eles sabem brincar na lingua do "pe"(tatvez entao nao seja necessario fazer tan losexercicios de divisao silabica), se je'l fazem perguntas. afirmalfOes, negalfoes e exclamalfoes(entao, nao precisamos mais ensinar isso a eles), e assim quase ao infinito. Sobrariamapenas coisas inteligentes para fazer na aula, como ler, escrever. discutir e reescrever, reter ereescrever mais, para escrever e ler de forma sempre mais sofisticada etc. ( POSSENTI,1996, p. 32,33).
Essa questao comentada apresenta-se como urn fato real. Quantas vezes
deparamo-nos com professores em aulas de Portugues fazendo com os alunos
exercicios de separavao de silabas ou "decorebas" de lista de verbos e c6pias? A
questao e fazer com que 0 aluno consiga ler e interpretar, e, com lsso, use sua
capacidade para entender as regras.
Parece realmente estranho querer cobrar sempre 0 uso padrao de uma
lingua, porque nem mesmo os estudiosos dessa lingua conseguem usa-Ia nas
normas 0 tempo inteiro. Mesmo por que, em determinados grupos, nao ha condiyoes
para falar "politicamente correto", caso contrario, esse determinado grupo naa
compreenderia 0 porque de falar-se assim e talvez ate nao haja urn dialago passive1.
A comunicay3o ocorre porque todos falam de forma simples, porque todos
aprenderam a falar assim. Ate mesmo as pessoas cultas preferem comunicar-se
usanda uma linguagem acessivel a todos e nao apenas usar um discurso para um
grupo limitado de pessoas.
Conforme ja citado anteriormente, uma crian9a de tres anos aprende a
comunicar-se, e a ela nao foram dados exercicios para que aprendesse a falar. Foi a
pratica de ouvir e falar que Ihe permitiu a comunicayao. Talvez baseadas nessa
analise e que as escolas devessem aproximar 0 ensino com a lingOistica, au seja,
"imitar" na escola aquilo que se fala em casa e nas ruas, lendo e escrevendo.
Aprende-se a falar ouvindo e falando, logo, aprende-se a escrever lendo e
escrevendo, errando e sendo corrigido.
A tarefa de ler e escrever nas escolas nao deve ser vista apenas como "li9ao
de casa", ou como forma de avalia9.3o. A escola necessita de urn projeto de ensino
interessante, para que 0 aluno, em contato com a leitura, tenha mais intimidade com
a lingua escrita.
Para se dizer que alguem "domina" uma lingua, nao precisa necessaria mente
que essa pes so a saiba as regras dessa lingua. E perfeitamente claro que saber uma
lingua e diferente de saber analisa-Ia. Se fosse verdade que s6 quem conhece as
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regras de uma determinada lingua "sabe a lingua", como justificar a fata da
existencia das sociedades agrafas, nas quais nao ha escrita e nem mesma
gramaticas?
A concepc;ao popular e a de que 0 dialeto e uma forma corrompida de lingua
culta. Essa corrup<;ao au altera<;ao existe, mas e mais propria das diferenciac;6es
socioletais que das dialetais, pois 0 dialeto tambem apresenta variedade de cunha
social. Referindo-se a lingua pode-s8 dizer que ela e 0 Falar de uma comunidade,
reconhecida pelo Estado como forma de comunic8<;ao; em contrapartida, seria
dialeto 0 Falar de uma comunidade, com afinidades estruturais, praticado geralmente
sob a forma oral e nao reconhecida pelo Estado. EllA (1998) faz uma rela,ao entre
lingua e dialeto.
Essa rel8(fao lingua x dialeto e muito importante para a caracterizac;:ao do dialeto em sentidomodema. Se suprimirmos um dos termos, lingua, par exemplo, entao ja nao se podera falarem dialeto: sera tudo lingua. Assim. par exemplo. dos falares africanos dizemos serem todoslinguas: iaca, quimbundo, songo, ginga, cacongo, cabinda, duala, limbamba, nago, luamba,djambo, bombaqa, miqanga, catanga, zulu etc. etc .. linguas agrafas. (EllA, 1998, p. 14).
Os dialetos SaO modos diferentes de falar. Poram, eles sao deixados de lado
quando a que se discute a a ensino da lingua culta e a cobranya da gramatica. 0
maior problema e talvez a grande "revoluyao" quando se fala em abolir as aulas de
gramatica gira em tarno das vestibulares, concursos e testes em geral. nos quais
esta sempre presente a "cabranya" da gramatica. Poram, sempre ha autras
soluyoes; primeiro, deve-se analisar quem elabora esses questoes senaa
professares de Portugues; segundo, analisar que muitos testes, hoje, "cobram" a
gramatica em forma de leitura e interpretayao. E nessa hora entao que aparece a
maior problema. Bastaria saber regras e regras de gramatica e nao saber interpretar
um texto? E par esse caminho que deve ser analisada a questao do ensino da
II
gramatica. Naa S8 propoe apenas e simplesmente nao ensinar gramatica, mas
aceitar novos metod os para que ela possa ser ensinada.
Todas as mudan<;as que poderiam ser possiveis dependem exclusivamente
de interesse dos professores. Porem, e tato que, para muitos, ensinar gramatica e
ensinar uma lingua e a mesma caisa.
Para analisar 0 desenvolvimento de uma crianc;a e 0 nivel de aprendizado
dela, 0 professor precisa mudar seu papel tradicional: de narrador, deve passar a ser
urn questionador. Em Qutras palavras, nao S8 trata de repetir a crianc;a urn
conhecimento acabado, mas faze-Ia refletir sabre os conhecimentos que ja passui,
embora faya isso de forma inconsciente, acrescentando informac;6es na medida de
suas necessidades. 0 professor precisa compreender as dificuldades que as
crianc;:as enfrentam durante 0 processo de aquisic;:ao da lingua escrita e, entao, pode
avaliar todo 0 processo e nao somente os resultados. Oessa maneira, facilitara 0
desenvolvimento da crianc;:a, devolvendo-Ihe a confianya em sua pr6pria capacidade
de aprender.
Se forem analisadas duas linguas diferentes - a lingua portuguesa e a lingua
inglesa, par exemplo - percebe-se como 0 en sino delas e divergente. Uma crianc;:a,
quando inicia os estudos, vai a escola e comec;a a aprender a lingua portuguesa
desde as primeiras vogais, e assim par diante. Mas. se ela ja chega na escola
sabendo falar e falar frases coerentes, mesmo sem saber se esta fazendo uma
concordancia ou nao, por que comec;ar par ensinar aquilo que ja faz parte do dia-a-
dia dessa crianc;:a? Em compensaC;ao, uma crianc;a que fala ingles, val a escola e
nao comec;a a aprender a soletrar naquele idioma. Ela passa a fazer frases e, muitas
vezes, ja comec;a ate lendo textos.
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Par todas essas raz6es, pode-s8 verificar 0 quanta e arcaica a forma como
ainda S8 ensina a gramatica na escola e como S8 torna importante rever certos
conceitos de ensino.
2.1 A QUESTAO DO CERTO E DO ERRADO
Em 58 falando de certo au errado, na verdade naD existem textes certos au
errados, mas sim textos mais au menos adequados para cad a situa<;ao. Certo
tambem esta que a pro posta que S8 sugere e que 0 ensina da gramatica deixe de
ser visto puramente como a transmissao de conteudos prontos, mas que passe a ser
urn exercicio de leitura, interpreta9ao e constru9ao de conhecimento.
E. realmente diflcil falar da gramatic8. Primeiro porque muitos acreditam que
ela seja tao complexa que "fecham" suas mentes e hesitam em querer aprende-Ia.
Para Qutros, par/3m, a gramatica pareee tao Simples quando comparada com Qutras
ciencias como a Matematica. a Quimica ou a Fisica. PERINI (1997) faz uma
considerac;:ao interessante quanta a gramatiC8.
Eu diria que 0 ensino de gramatica lem Ir~s defeitos, que 0 inulilizam enquanto disciplina:primeiro, seus objetivos eslao mal colocados; segundo, a metodologia adotada e seriamenteinadequada; e, terceiro, a propria materia carece de organizac;:ao logica. 0 leitor perguntara,provavelmente, 0 que e que sobra de bom, se a disciplina esta lorla sob esses Ires pontos devista lao fundamentais. A resposta e: sobra aquela disciplina da qual lodos nos lembramoscom arrepios de horror. (PERINI, 1997, p. 49).
Com base no comentario acima, pode-se depreender que real mente quando
se fala em gramatica, percebe-se que algo esta errado em relac;ao a seu en sino.
Para muitos, a gramatica oferece a instrumento que levara 0 aluno a ler e escrever
melhor. Como se explica en tao a fata de alunos farmados em Jornalismo
escreverem bem? Sera que eles escrevem bem porque dominam plenamente a
gramatica? Mas eles se formaram em Jornalisma e naa em Letras. Mas, sera que
quem se forma em Letras tambem sa be tudo da gramatica e escreve como um
escritor? 0 saber escrever pode nao estar tao ligado assim ao ensina da gramatica
como acreditam muitos professores.
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Outr~ fator que deve ser considerado e a metodologia utilizada. Nenhum
professor de gramatica consegue explicar 0 porque de S8 Falar "quando eu te vir" e
naD "quando eu te ver", Se urn aluno perguntasse-Ihe porque nao usa a forma como
todos falam, 0 professor certamente diria que a primeira frase esta correta porque e
assim que as gramaticas prescrevem.
Em terceiro lugar surge uma nova reflexao. Sera que lodas as regras na
gramatica lem 16gica? Basta analisar as mas exemplific890es que sao dadas pelos
autores a fim de S8 perceber que existem muitas contradiyoes quanta as narmas,
como no exemple abaixo:
Encontramos nas gramaticas a afirma(fao de que um verba como comer e transitivo porque"exige um objelo que the complete 0 significado~. Por isso, podemos dizer·(1) Sonia ja comeu as empadinhas.Onde as empadinhas e 0 objelo e completa 0 significado de comeu. Ja 0 verbo morrer seriaintransitivo, porque nao exige nenhum objeto a completar seu significado. Pode-se dizer,entao, algo como:(2) Meu avo ja morreuBem, ate ai tudo e muito facil de entender. Mas aconlece que eu, pelo menos, achoperfeitamenle normal a frase:(3) Sonia ja comeu.E tambem aceilo sem lorcer 0 nariz a frase:(4) Meu avo morreu uma morle IranqQila. (PERINI, p. 20).
Apos analisar esse exemplo, percebe-se que real mente as regras divergem
entre si, muitas vezes sem logica alguma, causanda um efeito contraditorio na
cabec;a daqueles que tentam estuda-Ias. Em "Oa Necessidade de uma Gramatica-
Padrao da Lingua Portuguesa", A. B. HAUY (1994) faz urn cornentario a respeito
desse assunta e diz que par rna exemplifica9ao entende-se um canjunta
consideravel de exemplos errados, divergentes e contradit6rios, alem das
exemplificac;oes muitas vezes confusas que os precedem. Comenta, tambem, que
ha contradi90es de autares na mesma obra ou em outra de sua autoria e uma
grande displicencia na revisao das varias edi90es e reedi90es dos compendios
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gramaticais. muitas vezes compilados de autores do passado, sem nenhuma
preocupac;ao critica.
Pareee 6bvio dizer que issa ocorre porque as gramaticas trazem conteudos
prontos e ninguem S8 arrisca a discuti-Ios. Muito mais facil fica aceitar que aquila
esta certo porque alguem ja disse que deve ser daquela maneira. Oessa forma, 0
ensina da gramatica torna-S8 cada vez mais uma "decoreba". NaG ha interesse em
questionar ou discordar daquil0 que a gramatica preconiza.
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2.2 0 PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR NO EN SINO
Ao S8 falar em ensina, logo vern a mente a escala, sendo a responsavel por
todo 0 processo de aprendizagem da crian~a. Porem a escola defronta-se com
crises, como a escassez de recursos, 0 desinteresse das autoridades e 0 proprio
problema com 0 despreparo do corpo docente, problema este que S8 estende
tambem as universidades.
Ve-se a ensina publico, muitas vezes, como fator democratizante da
sociedade a medida que oportuniza a todos igualmente 0 acesso ao conhecimento,
possibilitando 0 desenvolvimento pessoal. a ascensao social e 0 poder econ6mico
aos individuos desprivilegiados. Assim sendo, 0 fracasso escalar (repetencia,
eva sao etc.) deve-s8 exclusivamente as caracteristicas do individuo (imaturidade,
desinteresse, problemas emocionais, estrutura familiar, entre outros), vista que todos
sao iguais perante a sistema escolar.
Falando nas insuficiencias da escola, volta-se ao ponto principal da
discussao: 0 ensino da gramatica.
A rigida disciplina, a relayao autoritaria estabelecida entre a professor e seus
alunos e 0 trabalho da sal a de aula, baseado na reproduyao de modelos, impedem
que a maiaria das crianyas escreva suas proprias palavras. A avaliay80 institucional
da aprendizagem, em geral, feita de forma autoritaria e arbitraria, ignora os
progressos cognitivos dos alunos e visa, sobretudo, a classificayao e a seleyao dos
mais aptos. 0 professor que na sala de aula aparece como responsavel par esse
tipo de ensino, na verdade esta submetido a hierarquia do sistema educacional e
espera-se dele que cumpra as determinayoes superiores.
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o ensina hoje para as alunos torna-S8 0 saber analisar as termos corretas de
uma gramatica, au seja, analisar S8 aquilo que esta escrito condiz com as regras.
Mas, na verdade, muitos alunos naD sabem ler nem entender 0 que leem e muito
menDS sabem escrever corretamente. Analisando a considerac;c3o (eita por
BECHARA (1999), referente ao papel da escola, pode-se perceber como ela tern
sido vista par muitos estudiosos da lingua, que S8 preocupam com 0 nivel de
aproveitamento dos alunos em sala de aula.
Atraves dos anos veio a escola procurando ensinar a lingua materna e as estrangeirasatraves do aprendizado dessa gramalica escolaslica sem que ficassem bem definidos aslimiles da eficacia de metoda. Esse en sino acabava dan do frutos entre as alunos, muito maispela participac;ao consciente e adesao a um sistema linguistico diferente daqueles a quepoderfamos chamar natural, do que pela manipulac;ao das regras e conceitos aprendidos naaula de gramalica. Mais valiam aos alunos, para aquisiC;ao des recursos idiematicos que Ihespermilissem desenvolver e aperfeic;oar as formas de expressao mais elevadas, 0 conviviocom os textos escritos e 0 contacto com as pessoas que, falando ou escrevendo, manejavamcabalmenle 0 idioma, do que a lic;ao de gramatica ou 0 exemplo vivo do gramatico, em geralmau escritor por ter embotada a espontaneidade de expressao pelo permanenle policiamentode obedil§ncia as regras por ele ensinadas. (BECHARA, 1999, p. 35).
Com base no comentario acima, e certo afirmar que a concep<;ao de ensino
que rege a escola esta um pouco distante da realidade. Ao contrario do que se
pensa, a escola nao promove conhecimento, mas acaba fazendo com que os alunos
fiquem muito limitados quanto ao aprendizado. Como nao tolera que seus alunos
falem, perguntem, duvidem, "errem", sabe pouco sobre eles, propondo, entao,
conteudos e metodos absurdos. Esse "nao-saber" assume dimensoes diferenciadas
nas diversas classes sociais. Nas camadas populares (a maiaria da populayao
brasileira), ele se torna mais aguda, porque a escola aplica a todos um modele de
educa<;80 que serve somente a uma determinada classe e atribui os maus
resultados que obtem as condi<;oes psicossocioeconomicas de seus alunos. Assim,
as crianyas das classes papulares, apes repetirem uma au outra vez a mesma serie,
saem da escola analfabetas (ou quase), com 0 retulo de incapazes, problematicas,
preguiyosas au ignorantes.
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Existem maneiras diversas para que urn professor possa, numa aula de
Portugues, analisar 0 nivel de entendimento de seus alunos. Pode, par exemplo,
fazer urn exerclcio de leitura e posteriormente pedir a urn aluno que Ihe explique 0
texte, fazendo inversoes de frases, trocando vocabulos par sinonimos, apontando a
significa~ao de cad a palavra. E assim e par meio de Qutros recursos, que S8 pode
observar 0 grau de compreensao de uma classe e nao utilizando exaustivos e
arcaicos exercicios de c6pia.
o professor deve ter em mente que 0 seu papsl dentro de uma sala de aula ede urn estimulador, mas que nao deve perder. porem, a sua missao "corretiva".
Essa missao corretiva naG S8 restringe somente a corre98o de erras
gramaticais. Pelo contra rio, professor e aluno devem interagir e encontrar as
respostas para quaisquer duvidas geradas em sala. 0 habito de falar condiciona a
traca de conhecimentos com a assimila<;ao.
Quando se fala em gramatica ou em nova gramatica da Lingua Portuguesa,
uma substituta para a gramatica hoje usada, pergunta-se entao 0 que se deve
colocar em seu lugar. Hoje e real que nao existe uma outra mais apropriada que
possa ser utilizada.
A criayao de uma nova gramatica nao deve, porem, cair sob a
responsabilidade dos professores de Lingua Portuguesa ou dos pesquisadores das
universidades, que se dedicam ao estudo da LingOistica e da Lingua Portuguesa,
mas de todos aqueles que de alguma forma estao ligados a pratica de ensino da
lingua.
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Mas, que tipo de gramatica esta sendo procurada afinal? A res posta e muito
simples: uma gramatica sistematica, consistente et principal mente, sem
contradi90es.
Nao que naD haja descontentamenlo em todas as areas interessadas: as professores sentemque a doulrina gramatical e ullrapassada. incoerenle e muitas vezes simplista ate aingenuidade; as alunos tendem a desencantar-se de uma disciplina que 56 lem a oferecer-Ihes urn conjunto de afirma~6es aparenlemente gratuitas e sem grande rela<;aocom falosobservaveis. Na sala de aula, as vezes 0 unice refUgio sao as atiludes auloritarias, quando 0professor naD se senle em condic;:6es de liderar discussoes verdadeiramente racionais sabregramatica. (PERINI, 1995, p. 5).
Analisando a menC;ao feita, percebewse que apontar os defeitos e as falhas
mostrawse como uma tarefa que nao requer muitas habilidades, mas achar as
soluc;6es praticas para esses defeitos tambem nao parece uma tarefa facil. Se nao
se pode mudar 100%, ja bastaria que pelo menos os professores de Lingua
Portuguesa se propusessem a analisar a forma como vem ensinando e que
pudessem abrir seus horizontes para novas perspectivas de ensino.
Produzir bans leitores apresentawse como um desafio para as escolas.
Professores de todas as categorias queixam-se de que a maioria dos alunos Ie mal e
nao sabe usar os livros para estudar. Todos lamentam que 0 gosto pela leitura esteja
cada vez mais desaparecendo. Milhares de livros e gramaticas sao consumidas
anualmente, mas isso nao significa que aS alunos tornamwse bans leitores.
o maior problema esta no fato de que os alunos nao sabem sequer
diferenciar 0 que estao lendo, quanto mais compreender 0 significado de urn texto.
"Aprender a ler como se a leitura fosse urn ato mecanico, separado da
compreensao, e um desastre que acontece todos as dias. Estudar palavras soltas,
silabas isoladas, ler textos idiotas e repetir sem fim exercicios de copia, resulta em
desinteresse e rejei<;ao em rela<;ao a escrita". (CARVALHO, 1995, p. 11).
Baseado no cornentario acirna, nota-se ser rnuito facil para urn professor
entrar numa sala de aula e nao precisar estimular seus alunos com tarefas que
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chamem a atentyao. E mais comado "jogar" centeudos e copias, enganando que 8Sta
ensinando e as alunos enganando que estao aprendendo. Sao admirados aqueles
professores que ainda abrem mao de tempo para preparar aulas criativas e
estimulantes para que 0 aprendizado seja mais proveitoso.
Quando S8 pensa na educatyao e nos problemas da aprendizagem, nao S8
pode deixar de pensar nos problemas advindos da distribuiy<3o de rendas, e como as
diferen.y8s de classes socia is determinam 0 nivel de aprendizado e a contribuiyao
para a evasao escolar, alem da remunera9ao dos professores, que aeaba
contribuindo para que nao haja estimulo em relac;ao aD ensina.
A discrimina980 das crianlf8s das camadas populares na escala, indicada
pelos altos niveis de repetencia e evasao, aparece como uma ameaya ao principio
basico do ideal, que seria a igualdade de oportunidades. Esse principio basico ve-se
negado quando se evidencia que a escola nao serve igualmente a todos: crianyas
das classes favorecidas obtem sucesso, enquanto crianyas das camadas populares
enfrentam dificuldades de aprendizagem, fracassam e abandonam 0 sistema de
ensino ainda no inicio do periodo de escolarizayao obrigat6ria.
As falhas sao da crianya, da familia e de seu contexto cultural e nao da
sociedade nem da escola. 0 que nao pode ser negado e que a escola repudia os
estilos cognitivos e lingOisticos das crianyas das camadas populares, porque as
julga, erroneamente, em funyao de uma norma - comportamento das classes
socioeconomicamente privilegiadas. A escola deveria passar por transformayoes e
aceitar as caracteristicas culturais e lingi.iisticas das crianyas das camadas
populares, sem entretanto, pretender que elas abandon em sua identidade e heranya
cultural. "( ... ) a escola leva os alunos pertencentes as camadas populares a
reconhecer que existe uma maneira de falar e escrever considerada "Iegitima",
e escrever, isto e, a saber produzi-Ia e consumi-Ia" (SOARES 1999, p. 63).
Parece notavel que, para que todos usemalingUagem[culta.primeiro deveria
haver uma melhor distribuiyc30 de rend as, ou seja, aeabar com a miseria do pava. A
lingua torna-S8 0 reflexo da sociedade em que e usada. S8 esta for rica, a lingua
sera mais complexa e sofisticada. S8 for pobre, de subnutridos, sera simples,
embora isso nao signifique que esteja "errada", deformada e que precise ser
endireitada. A lingua de urn determinado grupo e a lingua usada par ele,
independente dos padr6es estipulados pelos gramaticos e considerados como
"corretes" .
Quando se leva a norma Gulta a qualquer custo desde as primeiros estagios do aprendizado 0que aconlece e que as mhos das classes oprimidas, desfavorecidas economicamente,fracassam. Logo. conclui-se, eles sao menos inteligentes do que os outros, sao burros, naotem criatividade, Assim, 0 maniqueismo esta estabelecido: os filhos dos ricos sao "genios" eos dos pobres sao "burros" (COUTO, 1986, p. 93,94).
A questao social e marcante no processo de ensino-aprendizagem, basta
observar 0 comentario feito com rela9ao as diferen9as de classes. Alunos
pertencentes a classes socia is diferentes recebem educa9ao distinta, de acordo com
a posi9ao que ocupam na sociedade. Essa educa9ao distinta resulta em alunos
oprimidos, que se acostumam a ouvir que fazem tudo errado, levando-os muitas
vezes a acreditar em sua propria incapacidade. Enquanto isso, a classe social mais
desenvolvida ira obter sucesso progressivamente, e 0 problema da educayao
sempre girara em torno das mesmas quest5es.
22
3. A VARIACAO LlNGUiSTICA
Foram tratados ate aqui varios aspectos relacionados aD ensina da Lingua
Portuguesa. NaD S8 pode deixar de mencionar, tambem, urna Dutra questao
importante: a variac;:ao lingOistica. Qual a relac;:eo entre 0 ensina da gramatica e a
variac;:ao IingOistica?
Sabe-s8 que as IInguas transformam-se com 0 passar do tempo. Elas nao S8
degeneram, naG S8 estragam, mas adquirem novos valores sociolingOisticos, ligados
as novas perspectivas da sociedade, que tambem muda. Nessas transformac;:6es,
nao existe certa OU errado, 0 que existe e 0 diferente. Certo e errado indicam
conceitos que a sociedade usa para marcar as individuos e classes socia is pelos
mod os de falar e para mostrar as posi90es ocupadas par esses individuos.
A escola, incorporando esse comportamento preconceituoso da sociedade,
em geral, tambem rotula seus alunos pelos modos diferenles como falam. Um
demonstra ser capaz de aprender, e culto, dotado de capacidade; a outro qualifica-
se como ignorante, incapaz para assimilar conceitos e desprovido da habilidade de
executar determinadas tarefas.
Em outras palavras, um se torna a aluno "certinho" porque fala a linguagem
culta, e 0 outr~, um aluno carente, passa a ser taxado como "burro", porque fala um
dialeto "nao-padrao".
A escola tern urn papel fundamental e precisa mudar a visao de valores
educacionais. E preciso que as alunos tenham contato com as diversos dialetos,
porque eles sao diferentes. e percebam a porque do preconceito e a conseqOencia
que is so tern na vida de cad a urn e na sociedade.
23
E no ponto do aprendizado de uma lingua que se pretende chegar. Nao
consiste 56 em aprencter como uma lingua funciona, nao basta 56 aprender a ler e
escrever, inclui sim a formalfao para aprender e usar variedades linguisticas
diferentes. Torna-s8 necessaria mostrar ao aluno 0 respeito pela linguagem usada
por cad a comunidade. Nao S8 deve deixar que eles pensem que alguns colegas de
sal a sao mais wburros" porque falam errado au que sao incapazes e que 56 tern
cultur8 aqueles que falam 0 dialeto padrao.
Esses preconceitos enraizam-se na escola e cabe a ela tentar mudar esse
comportamento e nao dar mais subsidios para que eles S8 fortale9am cad a vez
mais. Falando em varia930 lingOistica, analisa-s8 a comentario abaixo:
( ... ) A varia<;:ao lingOfstica provem nao apenas da evolut;flo hisl6rica das Hnguas e de suasraizes localS, geograficamente delimitada, nem s6 aparece na sociedade estralificada amane ira das classes sociais e grupos etnicos. E encontrada tambem no comportamentoIingOistico de uma (mica pessoa, em diferentes circunslancias de sua vida,independenlemenle da classe social ou regiao a que perlen~a. Uma pessoa fala comdiferent;as as vezes notaveis quando numa conversa informal oul em publico, representandoum cerlo status social. Uma pessoa que Ie procura uma pronuncia que nem semprecorresponde a pronuncia de sua fala coloquial. Essa e a varia':(ao esti!istica, segundo anomenclatura dos lingOislas. Todos n6s, na verdade, somos de certa forma falantes de maisde um dialeto, os quais usamos de acordo com as circunstancias. tAGUARl, 1997, p. 86)
Complementando a ideia referida, nao se pode esquecer que essa variaC;ao
estilistica, mencionada pelo autor, e aceita nas escolas e a ela nao ha muitas
obje<;oes. 0 que se repudia sao as varia90es dialetais, que "fog em" das chamadas
"regras impostas".
Falando em varia9ao lingOistica, pode-se perceber que ela depende de varios
fatores operantes numa comunidade: grau de instruc;ao das pessoas, idade, sexo e
outras circunstancias de fala. Os individuos mais escolarizados nao se nivelam com
as camadas culturalmente mais carentes, cuja linguagem caracteriza-se por uma
gramatica extrema mente simplificada, de vocabulario pauperrimo, limitado as
situa90es da vida cotidiana. As pessoas mais velhas tern urn Iinguajar pr6prio, talvez
24
mais conservador, assim como as jovens tern uma fala mais irreverente, marcada
normal mente par estere6tipos. Urn professor em sala de aula evidentemente nao
fala como S8 estivesse conversando com urn grupo de amigos au familiares. Com
base em todas essas variact6es, percebe-se como as modalidades sociais de usa
IingOistico graduam-se desde uma forma mais tensa ate as formas mais grosseiras e
elementares da atividade verbal nos diversos grupos sociais.
A norma culta e usada em ocasi6es especiais, como em palestras, aulas e
situ896es formais da vida social. A linguagem informal e usada nas relac;oes comuns
da vida diaria e e essencialmente oral, mas isso naD quer dizer que nac possa
aparecer escrita. Tudo depende da ocasiao.
A variac;ao, porem. nao provoca desagregac;ao nem abala os alicerces nacionais, uma vezque. se um mesmo individuo pode pertencer a mais de uma comunidade lingOislica ouaprender a falar e entender mais de uma lingua, entao tambem pode dominar varios registros,mesmo que nao as utilize. Alias, lodos nos lemos uma especie de norma individual: h8:formas de dizer (certas realizac;6es fonelicas, certas construc;6es e certas palavras) quenunca usamos. embora as aceilemos ou loleremos em nossos parceiros. do mesmo modocomo nao escapa ao nosso julgamenlo a maneira de falar de oulras pessoas: uns saoeleganles e refinados (raro hOjel), oulros pedanles ou grosseiros, oulros confusos eclaudicanles. Tudo isso pode ale influir na nossa alitude com relac;ao a elas: simpalia,anlipalia, agressividade. indiferen~a, etc. (BORBA, 1998, p. 61).
Concordando com a ideia do autor no que diz respeito a influencia que as
farmas de comunicayao adquirem entre as pessoas, nota-se que os alunos sao
"rotulados" par essas varia<;:oes lingO[sticas, ou seja, pelos modos diferentes com
que cad a um fala. Se um aluno faz uso de um dialeto que e censurado pel a
sociedade, passa a ser discriminado entre as demais pessoas e e desta mane ira que
as varia90es lingOisticas e 0 ensino da gramatica acabam se interligando.
Toda essa discussao em torno do estudo da gramatica tern urn fundamento.
Para come9ar a escrever, as pessoas nao precisam estudar a gramatica, pois ja
dominam a Lingua Portuguesa na sua modalidade oral. Ao tentar impar 0 uso da
gramatica e suas regras, as alunas acabam sentinda-se impedidas de escrever a
25
que pensam e da forma como gostariam de expor suas ideias, chegando ao ponto
de criar barreiras na produc;ao de textos escritos.
Essa produyao envolve problemas especificos de estruiuraC;80, de coesao, de
escolha de palavras e de organizac;c3o das ideias. Escrever urn bilhete e diferente de
escrever uma carta, uma noticia au uma propaganda. Cada texto tern uma funC;8o, e
todas devem e precisam ser trabalhadas na escola.
o aluno precisa, a principio, sentir-se incentivado a produzir textos da
maneira que aehar melhor, usanda espontaneamente a lingua que sabe. 1550 vai
estimula-Io a escrever do modo que Ihe pareee fad1 e, 56 ap6s essas tentativas, e
que seus textos podem ser reestruturados e adaptados a cada situ8yao.
Algumas atitudes da escola relativas ao ensino apresentam-se real mente
Icontrovertidas. Para a escola, um texto bem escrito ainda continua a ser considerado
como aquele que nao tem erro ortogratico.
Oeixar que as alunos escrevam suas redac;:6es, apostando na capacidade
deles de escreverem mostra-se como um fator de estfmulo e um desafio para eles.
Assim, com a ajuda do professor, que aponta as dificuldades deles, ha um trabalho
de reescrita e, conseqOentemente, 0 aprendizado da gramatica torna-se fator de
valorizac;:ao das atividades desenvolvidas por eles.
Nao e por meio de copias de palavras e frases ou de alividades dirigidas que
a professor levantara as dificuldades do aluno. Torna-se necessaria deixar que eles
cdem e que haja um espac;:o maior para a criac;:ao de textos nas aulas de Portugues.
As atividades de contar historias e escrever espontaneamente demonstrarao as
reais dificuldades e facilidades dos alunos no aprendizado.
26
4, A QUESTAO DA GRAMATICA
Com base nas tantas discussoes que a ensina da gramatica gera, enecessaria fazer uma reflexao sabre a escrita.
As duvidas que normal mente as professores de Lingua Portuguesa tern sao
sabre como ensinar e a que ensinar.
Na escala, assim como as crianyas sao impostas normas pelos professores,
tambem estes seguem ordens superiores: do supervisor escolar, da direc;clo, da
Secreta ria de Estado de Educac;ao. Para mudar a forma do alual ensina da lingua
escrita nas escolas, nao basta que as professores mOdifiquem sua postura em frente
dos alunos. E preciso mudar sua func;ao na escola: de lxecutores de ordens
superiores passar a autores de sua pratica.
As escolas e os professores preparam as alunos para reproduzir
mecanicamente sequemcias de palavras como as que costumam aparecer nas
atividades rotineiras. E extremamente dificil, ap6s essa memoriza<;ao de tarefas,
recuperar no aluno a capacidade de elaborar textos escritos, entendendo-se par
texto uma proposta de escrita significativa, coesa, que presele a voz do autar e 0
mundo com a qual tem de aprender a conviver. Esse trabalho de copia para
memoriza<;ao nao traz nenhum beneficia para a aluno e ha de se cancardar com a
que diz S, POSSENTI (1997) em "Par que (Nilo) Ensinar Gramatica na Escola", que
nao se aprende par repetitivos exercicios de capia, mas par praticas significativas.
A escola deveria propiciar aos alunos a emerge!ncia do texto escrito desde 0
inicio do processo de aquisi<;ao da escrita, quando as crian<;as, embora nao
conhec;:am e nao dominem ainda as instrumentos de escrita e leitura, ja manifestam
suas proprias "inten<;6es de escrita" e "inten<;6es de leitura", Dessa forma, eslaria
CEPP\permitindo que as aprendizes de esc rita e leitura S8 apropriassem de fato do ato
escrever e ler.
E de reconhecer-se que, no casa da escrita, a crianC;8 nao tern liberdade de
experimentar tao livremente 0 quanta Ihe e permitido na lingua falada. A escola
abomina os werros", nao prey€! espa((o e tempo para tentativas. 0 processo de
aprendizagem da linguagem esc rita torna-S8 extremamente "penoso",
principalmente, para aquelas criany8s que vivem em urn ambiente no qual a esc rita
praticamente nao e usada e que, portanto, tern seu cantata praticamente restrito as
atividades escolares.
Infelizmente, tem-S8 que admitir que, para a maieria das pessoas, Portugues
e confundido com gramatica.
Na verdade, existem duas linguas: 0 Portugues e a gramatica. E
absolutamente impassivel alguem conseguir falar 24 horas com pura gramatica.
Express6es como "ser-Ihe-a", "fa-Io-ei" sao dificeis de serem ouvidas no cotidiano,
porem, sao aquelas pregadas pel a gramatica e e isso que professores tentam
impingir a cabeya dos alunos. Os alunos tem suas cabeyas "afervilhadas" com
tantas "ginasticas" de regras e a consequencia disso e a pobreza de poder de
expressao e a limitayao de ideias.
Estudar Portugues nao se deveria restringir as regras. Ensinar Portugues teria
que ser um estimulo a comunicay80 e criay80.
Urn aluno fraco em leitura ou redayao iria melhorar seu desempenho
exclusivamente par meio de instruyao gramatical? 0 que normalmente acontece e
esse aluno ter dificuldades de aprender gramatica justa mente porque nao Ie bern e
tambem pelas diversas contradiyoes que existem entre gramaticas e os pr6prios
autares delas.
28
Talvez a afirmayao mais correta quanta ao aprendizado seja de que S8
aprende a escrever e ler, escrevendo e lenda. Ainda qJe S8 concorde que a
gramatica possa dar uma ajuda para a redac;ao em determinados pontcs, ha de S8
reconhecer ser ela uma disciplina dificil e abstrata e S8) estudo extremamente
exigente em termos de tempo. concentrac;:ao e preparo previa.
As aulas de gramatica, diferentes do que sao hoje, podem ser urn importante
8xercicio de raciocinio, observa9ao e construc;ao de hip6teses. 0 professor leva
. I . .seus alunos a descoberta de partes dessa complexa estrutura que e uma lingua e a
aluno sente que esta participando desse ato de descoberta por sua contribuiC;80 a
discussao, ao argumento, a procura de novos exemplos. Nesse sentido, a gramatica
tem imensas potencialidades como instrumento de forma9aO Intelectual.
o ensino da gramatica pode ser menos "pesado", depende, e claro, dos
professores, que usando um pouco de imagina9ao e uma orienta9ao te6rica segura
obtem resultados alta mente compensat6rios. Primeiramente 0 que se deve acabar
sao aqueles inumeros rabiscos vermelhos em reda90es, que inibem a capacidade de
cria9ao dos alunos. 0 professor deixa de ser um "ca9ador" de erros de portugues.
Cabe ao professor apenas incentivar 0 interesse e a curiosidade do aluno para que
ele mesmo possa descobrir a ortografia correta.
29
4.1 0 QUE DEFENDEM LlNGUISTAS E GRAMATICOS
Par que sao tao discutidas e questionadas entre lin90;sta5 e educadores a
natureza e a propria existencia de uma norma lingOistica?
A LingOistica com sua posi9ao antinormativa aprofundou a distancia entre as
lingOistas e os professores de lingua. Os 11ng015ta5 fica ram contra a visao enraizada
na sociedade de desigualdade entre lingua padrao de urn lado, e os falares au
"dialetos" do Dutro. Segundo as gramaticos, a norma presente nas gramaticas e urn
conjunto de opinioes sabre como a lingua deveria ser. Essa divergencia entre
IingOistas e gramaticos 56 dificulta a chegada a urn conJenso com relat;:ao as
mudanyas que 58 fazem necessarias nos estudos gramaticais.
A visao tradicional de lingua mostra-se muito restrita, com uma enfase forte
sobre as estruturas lingCJisticas. Por ser uma visao derivada da tradityao escrita, fatos
como "sotaque", pros6dia ou outras caracteristicas "menores'l nao sao consideradas
formalmente como parte da lingua, mas obviamente elas desernpenham urn papel
primordial na comunicatyao. "( ... ) a gramatica norm at iva e um c6digo incompleto,
que, como tal, abre espatyo para a arbitrariedade de urn jogo ja marcado: ganha
quem de saida disp6e dos instrumentas para ganhar. Temas assim pelo menas dais
niveis de discriminar;ao lingOistica: 0 dito ou explicito e 0 nao dito au implicito.( .. )"
(GNERRE. 1998, p. 31) IA grande discussao entre IingCJistas e educadores aparece exatamente em
torno da gramatica normativa escrita, que assume um papel de centralizadora do
poder, ou seja, sera um instrumento de mediyao das desigualdades socia is.
Um problema, que parece ser central na alfabetizatyaa e na aprendizagem em
geral, e 0 da ausencia ou reduyao extrema dos momentos e dos instrumentos
30
te6ricos e praticos para a media~ao entre oralidade e escrita. A medida que nao S8
de espayo a essa fase, complica-se de forma desnecessaria 0 momento dificil da
aprendizagem. Juslamenle essa lase de media<;aa precisa Iser lartalecida: devem
ser desenvolvidos 0 905tO e a confianC;:8 na oralidade; 0 prestigio da arte verbal; a
discussao sabre as hip6teses relativas ao que seria a escrita; a leitura oral em voz
alta de Ilvres escritos e a discussao de seus centeudes. Essas seriam as praticas
necessarias para fortalecer a fase de mediac;ao entre oralidade e escrita. A medida
que S8 va; dando um novo espa<;D a oralidade, recebe-S8 resultado na escrita, cujos
produtos podem circular e reproduzir mais criatividade e maior confianC;:8 dos
individuos na expressao de seus proprios pensamentos.
Quando se fala em norma IingOistica, logo se pensa em alguma coisa
marcada por trac;os como correC;8o, adequaC;8o au elega1ncia. Assim, a norma
aparece como uso que se aconselha au ate que se imp6e em determinadas
circunstancias. Como forma seletiva de usar a lingua, a norma fOrltosamente
rejeitara aqueles modos de falar que forem considerados como incorretos,
inadequadas, deseleganles. FreqOenlemenle, esses jUiZOSI de valar saa leilas a
partir de criterios nao-linguisticos e a norma, entao, fundamenta-se OU no falar das
classes cultas, escolarizadas e bern educadas, ou se a epoca for de prestigio da
lingua escrita, no usa dos escritores tidos como dominadores das formas mais
refinadas de escrever. Oessa ultima perspectiva, surgem as chamadas gramaticas
. .1. Inormatlvas encarregadas de flxar e perpetuar 0 born uso do Idloma: e as prescrevem
regras au normas de bem falar e de bern esc rever. E esse tipa de gramatica que tern
aplica'tao pedagogica porque esse usa esta ligado a tada uma tradiC;ao cultural que
a escala tenta preservar.
31
Todo programa de educaC;8o deve estar centrado na lingua materna,
fundamental veiculo de qualquer programa pedag6gico. Ninguem desconhece que 0
desenvolvimento nacional em termos de civiliz8980 mede-s8 plelD grau de educ8y80
do pavo e esta inclui, em grande parte, a habilidade no usa adequado das formas de
expressao. Entao, 0 importante e formar professores que conJeyam bern a natureza
do sistema lingOislico que manejam e cujas formas tern que ensinar, 0 que esta bern
lange da simples memoriz8<;80 ou adestramento no usa de urn conjunto de regras
gramaticais.
A escola deve levar em considera<;:8o varies aSR8ctos em relay80 a
. . . . I . .aprendizagem. Pnmelro, 0 reconheclmento de que a lingua falada e rna IS constante
e, portanto, nao pode deixar de ser levada em considerac;ao. Segundo, deve ter
consciencia de que a lingua e uma entidade dinamica, quJ varia no tempo e no
espac;o, e que fornece a base para 0 ensino fundamental. IExistem inumeras ideias para serem colocadas em pratica com relaC;ao ao
ensino. Mas, e claro, que exige urn pouco rna is de trabalhb e isso muitas vezes
parece assustar alguns docentes, que nao estao preparados para inovac;oes.
Varios recursos podem ser utilizados: revistas de assurtos que interessam as
crianc;as, por exemplo, de esportes, com instruc;ao de procurar "caras conhecidas"
Ai ja se estaria trabalhando com a percepc;ao da crianc;a e posteriarmente seria feita
a "cac;a" dos names as figuras correspondentes. 0 mesmo pode ser feito com
. .. I .propagandas de produtas que fazem parte do dla-a-dla dessas cnanc;as, como
marcas conhecidas par elas e que veem normal mente na televisao. Existern varios
metodos de transmissao de conhecimentos par meio da produc;ao de textos. Ao
sugerir a redac;ao de urn convite aos pais, par exemplo, abre-se espac;o para a
32
discussao do conteudo e isso leva a geray030 de ideias, aD eSt'lmU10 a capacidade de
cria<;ao que, muitas vezes, esta "presa" na cabeC;8 dos alunos.
Produzir textos leva a pensar antes de escrever, a seleCionar 0 que vai ser
escrito, a rejeitar algumas ideias e a elaborar outras. 0 produto final desse processo
nao tern par que ser uma obra litera ria au urn relat6rio Cientific10 completo; mas sim 0
resultado de urn trabalho mental mente comprometido, quJ costuma reorganizar
nosso pr6prio conhecimento sabre 0 que estamos escrevlndo. 0 prop6sito de
prodUC;<30 literaria nem na necessidade de cada criany8 tornar-S8 urn escritor
chegar a escrever dessa au de Dutra forma naG consiste na eventualidade de uma
profissional. A ideia e que 0 processo de produc;ao de um texto, seja ele qualquer
. . - . . ... I .....texto, slrva como reorganlzac;ao das propnas Idelas e conheGlmentos Ilngulstlcos, e
nao s6 como disparador daquilo que pode produzir automaticlmente.
Tanto professores quanto alunos que procuram ape1JieiC;Oar-se em Lingua
Portuguesa concordam com a necessidade de que as cria~c;as, al8m de utilizar a
. d . .. I d ".Iinguagem, de apren er uma gramatlca, precisam ser capazes e relletlr sobre ela.
Embora nao tenha side provado que a reflexao sobre a IinJuagem melhora 0 seu
usc, sua influencia ou sua riqueza, supoe-se que ca1usa algum efeito na
aprendizagem. No entanto, 0 que acontece de verdade e Ique a necessidade de
refietir sobre a linguagem resolve-se quase inevitavelmente Ipar meio de exercicios
de gramatica, analise moJiol6gica ou sintatica. Quando se sorcita que um aluno diga
a mesma coisa que leu de maneira diferente, faz-se com que ele reflita e seja capaz
de reproduzir e, nesse caso, nao se trata de um exercicio de bramatica. 0 aluno esta
"fazendo" a gramatica, uma vez que deve substituir, organi~ar ideias, parafrasear,
porem nao esta resolvendo um exercicio de c6pia; esta Ifazendo um exercicio,
utilizando a linguagem de forma reflexiva para cumprir um prop6sito comunicativo.
33
"Parafrasear, reescrever, corrigir, citar, repetir a maneira dJ grandes autores sao
variantes de atividades de reproduy8o que sem duvida produzirao urn aumento na
. f - . I .In orma<;ao (textual) e uma melhora na qualldade dos textos produzldos"
(LANDSMANN, 1998, p. 61).
Em "Aprendizagem da Linguagem Escrita", L. LANDSMANN (1998)
complementa que a aula deve ser aberta a Qutros materiais de leitura e a Qutros
temas. Nao precisa deixar de cumprir com 0 detalhado trabaTO de correspondemcia
entre letras e sons au com a correyao de erros ortograficos, nem com 0 trayado au
organiz8yElO no espayo graficQ, mas fazer isso abrindo as partas a outros temas, a
Qutros estilos e a Qutros discursos.
34
4.2 RELA<;AO ENSINO x APRENDIZAGEM
Io processo de ensina e aprendizagem em uma instituiyao escolar envolve
tres elementos basicos: alguem que ensina, no casa, 0 professor; algo que e
ensinado, a disciplina; e alguem a quem S8 ensina, a aluno.
Se a ensina conta com esses tres elementos, pareee plausivel imaginar que,
quando naD ha aprendizagem, a causa pode encontrarwse iglUalmente em qualquer
um dos tres, ou mesmo na combina,ao entre esses fatores, el nao apenas naquele a
quem S8 ensina. E claro que nao havera aprendizado S8 a aluno naD deseja
aprender, mas tambem nao deixa de ser verdadeiro que 0 problema pode residir
fundamentalmente naquele que ensina ou no conteudo ensinado.
Quando os alunos nao aprendem, atribui-se 0 fracassola sua pregui,a, ao seu
despreparo, as suas condi<;:6es de vida e a tant05 Qutros (atares. Raramente, no
entanto, assume-se que aquilo que esla sendo ensinado pode ser inadequado e que
lalvez a forma escolhida para ensinar possa nao ser a mais adequada.
A questao do erro na sala de aula e 0 nao-aprendizado do aluno podem ser
associados a ideia de que a crian<;:a que nao se sai bJm na escola e exibe
diferen<;:as entre seu desempenho e aquele considerado adequado para sua idade
ou serie, estaria demonstrando algum tipo de deficiencia, pouca inteligencia e que
nao tern capacidade para aprender.
Quando 0 aluno nao aprende, na verdade, evidencia-se uma
incompatibilidade entre a pro posta da escola e as caracteristicas da crian<;:a, as
quais se devem ao seu estagio de desenvolvimento individual ou a peculiaridades de
sua cultura de origem. Caberia, entao, as escolas e aos educadores construirem
estrategias de ensino que contemplassem as diferenl'as individuais e grupais, no
35
sentido de permitir 0 desenvolvimento e a expressao de Ivarias potencialidades
humanas e das diferenyas culturais.
Para que haja urn ensina eficaz, a escola precisa chegar a defini980 da
diretriz que ela deve ter, do abjetivo geral que S8 pretende atil9ir. A escola pretende,
par exemplo, formar individuos passiv~s au atuantes na sociedade, cumpridores
obedientes das normas socia is au criticos de si mesmos e da sociedade em que
vivem?
A escola deveria ter uma "renova98o pedag6gica" que visasse ao
desenvolvimento dos individuos com capacidade de critica. J capacldade de criticar
a si proprio e a sociedade em que vive e 0 unico ponto de apoio para 0
desenvolvimento de homens criativos e livres. Porem, a capacidade de critica naD
pode ser diretamente ensinada. 0 processo de ensino de uma escola deve visar
sobretudo nao ao desenvolvimento de indiscutiveis habitos e atitudes, mas a
indispensavel transmissao de conhecimentos. Os habitos e atitudes de um individuo
crltico nao se desenvolvem formalmente, por isso sao indispens8veis 0 empenho do
professor ao ensinar e 0 esforyo do aluno para aprender. Nenhum metodo, tecnica
ou procedimento deve ser imposto ao professor, mas nenhum deve ser permitido
sem que ele seja capaz de justifica-Io, em termos da sJa importancia para a
formayao da educayao.
Em "Erro e Fracasso na Escola", J. G. AQUINO (1997) diz que nao se pode
ensinar alguem a ser crftico, mas a atitude crftica pode ser desenvolvida a medida
que 0 indivfduo se instrui, 0 que reforya a afirmayao sobre a funyao formativa da
escola.
MARTINO (1999) faz uma materia interessante relativa a pratica de ensino.
Nessa materia, relata que uma professora percebia que algo raVia de diferente com
36
suas aulas de Portugues, em uma escola na periferia de Sao Paulo. Em suas aulas,
os alunos naG faltavam; pelo contra rio, eles fugiam de Qutras aulas para assistir as
suas. As decis6es eram tamadas em conjunto, desde a materia a estudar ate 0
conserto de uma cadeira. A sala era, enfim, diferente das que estamos acostumados
a encontrar hoje nas escolas. NaG lembrava em nada a classe suja, com m6veis
velhos e destruidos encontrados no inieio do ano letiva. As mudan(jas deviam-se
unicamente a ap1iC89<30de urn determinado metoda escolar: alpedagogia Freinet.
Essa pedagogia consistia em tirar as alunos da sala de aula e fazer com que
eles participassem da vida social. A partir dai, sles escreviam seus textos com base
no que viam fora da escola, fugindo dos velhos manuais cheios de "Ivo viu a uva"
Esses textos eseritos nao podiam, porem, Fiear esquecidos. Entao Freinet,
professor de uma pequena cidade na Fran9a, construiu uma impressora e passou a
publiear os textos dos alunos. Naseia a imprensa escolar. Oesta maneira, as
crian9as se inteiravam das atividades e pereebiam sua importancia no trabalho.
Apesar das vantagens de sse metodo, ele ainda e poucb conhecido no Brasil e
quando utilizado em experiEmeias isoladas, e vitima de preeoneeitos. Uma aula em
que os alunos trabalham, dao opinioes, discutem e estao felizes causa a outras
pessoas a impressao de que os alunos nao estao aprendendo.
A educa9ao atual nao fornece subsidios para os jovens enfrentarem a vida.
Esta padronizada, meeanizada, subdividida. Os alunos precisam ter motiva9ao,
qualidade essa que nao se desenvolve num sistema que valoriza apenas a
memorizaC;ao de formulas ou 0 aprendizado de teenicas operacionais. 0 aluno
precisa ter confianc;a em si proprio para enfrentar os problemas.
Em geral, toda a discussao tem como foco a melhoria do ensino nas escolas.
Tem~se como objetivo, com as quest6es relacionadas ao ensina da gramatica,
37
formular urn projeto educativo adequado as necessidades da realidade escolar e que
indique,com clareza, a diretriz a ser seguida.
Com base em tude a que foi discutido aqui, pode-s8 dizer que a
aprendizagem da lingua Portuguesa e um longo e complexo processo que requer 0
trabalho de pessoas eficientes. Nao S8 trata apenas de desenvolver novas metod os
para que a Lingua seja ensinada. mas sim reformular algumas ideias e dar
continuidade na escala ao que as crianyas ja come9am a aprender fora dela.
. .. . I..Deve-s8 oportunlzar aulas partlclpatlvas, em que os alunos slntam-se !lvres
para expressar opinioes e desenvolver sua capacidade de COTunica<;80.
A concep<;ao de ter par base "velhos manuais" pode ser deixada urn pouco de
lado, pod end a ser dada prioridade a capacidade individual dos alunos. Desta
maneira, a aprendizagem da Lingua Portuguesa pode serl transformada em um
trabalho interativo. resultando na intensificayao do conhecimento.
38
CONCLusAo
Ap6s a analise feita relativa aD ensina da gramatic::a, pode-s8 chegar a
conclusao de que precisa haver mudanyas pedag6gicas sighificativas, para que 0
ensino mostre-se eficaz. I
Primeiro, pareee 6bvio que 0 espa<;o ocupado pela gramatica atualmente no
curricula mestra-S8 bern maior do que 0 necessario. A velha conceP9ao de que
"saber gramatica" pareee ser essencial para 0 born d8S81lil11 penho IingOfstico, em
especial para a leitura e redayao, nao condiz com a realidade,
o conhecimento da lingua torna-S8 uma condiy30 para 0 estudo da gramatica
e nao acreditar que par meio da gramatica nascem grandes escritores e
conhecedores da lingua.
o ensina da gramatica precisa ser reformulado q~,nto a forma, metodos
utilizados, objetivos e espa90 ocupado dentro do curriculo. E notavel que essa tarefa
de reformula9ao nao pare9a ser muito facil e que nem meJmo todos os docentes
ten ham interesse que as mudan9as ocorram, porque sabe-se, tambem, que precisa
haver muito esfor90 para reverter as "velhas" tradi96es do enLno.
Precisa-se admitir, tambem, que as gramaticas sao mJitas vezes incoerentes,
com contradi96es, que acabam transformando-se de "tirkdores de duvidas" a
"geradares de duvidas". I
o ensino da gramatica precisa ser renovado, mesmo que as mudan9as
ocorram de forma lenta. A gramatica nao pode continlar a ser vista como
transmissora absoluta de conhecimento, processo no qual 01 aluno assume 0 papel
apenas de receptor de conteudos prontos e indiscutiveis.
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A ideia e fazer com que 0 ensina de Lingua Portuguesa deixe de ser a
repassador de conteudos, mas transforme-s8 em uma tarefa de construyao de
conhecimentos por parte dos alunos, uma tarefa em que 0 professor deixa de ser 0
opressor e a (mica fonte de informayoes.
Para tanto, conctui-se que, para que 0 ensino de gra~atica torne-se eficaz,
precisa haver algumas alterac;:oes relevantes. Precisam I ser reformulados os
objetivDs que sao esperados com 0 ensina da gramatica e avaliado 0 espa90 que
esse ensina tern ocupado no curriculo, nao deixando de salientar que as praticas de
compreensao e interpretayao de taxlos sao lao ou ate m1iS importantes que as
"velhas decorebas" de regras. Uma Dutra sugestao e de que as gramaticas precisam
sofrer grandes alterayoes com relayao a sua elabora~ao. Precisa-se de gramaticas
mais coerentes, explicltas e adequadas para que dessa foJma seja conseguida a
eficacia do ensino.
E, talvez a mudan~a mais importante e significativa, seja na visao que se tern
hoje do estudo da gramatica, procurando fazer dele um en sino particlpativo, uma
disciplina viva, que possa contar com a participa9ao do aluno e do professor na
procura de respostas as quest6es.
A escola deve deixar de ser 0 centro de pressao e opressao, transformando-
se em um lugar de encontro, onde alunos, sob orienta9ao de professores
preparados e competentes, pesquisem, fa9am experimentos e construam seu
conhecimento, onde 0 mais experiente ensina e orienta 0 menos experiente.
A escola pode dar prioridade absoluta a leitura no ensino de Portugues, desde
a alfabetiza9ao. Parece ser essencial ensinar os alunos a ler nao 56 historias, mas
tambem tipos de textos que fazem parte de seu dia-a-dia. Se os metodos nao forem
rigidos demais, pretendendo dominar a maioria da atividades escolares, os alunos
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nao agirao mecanicamente, cometendo, as vezes, erras de distraC;8o, mas
Idesenvolverao uma grande tarefa de reflexao, arriscando hip6teses aeerca de tudo 0
. . . Ique reallzam. Delxar a cnanC;8 pensar torna-S8 fundameral: 0 erro pode ser
corrigido com 0 tempo, mas 0 que va; permanecer e 0 processo educativo.
Porem tudo isso naG S8 con segue assim de maneiri tao simples, porque
. . , . d f d . . IeXlstem resistenCI8S e pro essores e as escolas. A malona dos docentes sabe que
e preciso abrir mao de tempo e muito esforyo para que 0 proclsso de educ8yao seja
, , - . . I .alterado e nao sao todos que estao dlspostos a fazer IS50, flcando, mUltas vezes, de
"bral'os cruzados". I
Os educadores, que estao dispostos as mudanc;:as, naG podem fiear apenas
repassador de conhecimentos e que possa, de fato, construir, junto com 0 aluno, seu
sonhando com uma escola em que 0 professor deixa de ser apenas urn mera
conhecimento, utilizando a pesquisa, a experimenta98o, e que juntos possam
encontrar a plena realiza9ao pessoal e profissional.
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