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LFG – PROCESSO CIVIL – AULA 5

JURISDIÇÃO (CONTINUAÇÃO)

Conceito – função atribuída a terceiro imparcial, para mediante um

processo, reconhecer, efetivar ou proteger situações jurídicas concretamente

deduzidas, de modo imperativo e criativo, em decisão insuscetível de controle

externo e com aptidão para a coisa julgada.

É fundamental entender que a jurisdição sempre atua diante de

um caso, de um problema. Alguém leva ao juiz um problema a ser resolvido.

O caso será a situação jurídica concretamente deduzida.

O julgador decide problemas concretos e não abstrações.

Tradicionalmente, os doutrinadores identificavam que o

caso, o problema, a situação concreta deduzida seria um litígio (um conflito),

que costuma ser o problema a ser levado ao judiciário. Entretanto, costuma ser

uma lide, mas nem sempre será uma lide (ex – a pessoa quer mudar o nome,

indo ao judiciário para tanto, em tal situação não há lide).

Resolver o caso deduzido será reconhecer, efetivar ou proteger

tais situações jurídicas.

Tudo que o juiz faz será de modo imperativo (exerce um poder).

Pratica um ato de império.

O juiz ao julgar ele cria, pois ele reconstrói o sistema jurídico a

partir de um caso concreto, criando a solução do caso.

Lembrando que o juiz não cria do nada, ele fica entre o

caso e os parâmetros legislativos – cabendo a ele encontrar a solução entre os

dois limites (o caso concreto e os parâmetros legislativos).

Aspectos da criatividade jurisdicional.

1 – o juiz cria a norma jurídica do caso concreto –

define qual norma jurídica irá regulamentar o caso concreto.

2 – o juiz também cria uma norma jurídica geral que

serve como padrão para a solução de casos futuros semelhantes aquele.

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A jurisdição não sofre controle de nenhum outro poder, sendo

assim, uma lei ou ato administrativo não pode alterar a coisa julgada.

Sendo isso uma exclusividade a jurisdição.

Na verdade o controle dos atos jurisdicionais só ocorrem

pela própria jurisdição (ex – juiz decide mal, pode recorrer).

Só a jurisdição produz decisões definitivas, com a estabilidade

que se chama coisa julgada.

A chamada coisa julgada administrativa, nada mais é que

uma preclusão no âmbito administrativo, mas pode recorrer ao judiciário.

A coisa julgada é uma estabilidade exclusiva da atividade

jurisdicional.

B – EQUIVALENTES JURISDICIONAIS.

Método de solução de conflito que não é jurisdicional.

1 – autotutela.

Um dos conflitantes impõe ao outro a solução do conflito.

Solução do conflito – é a força de um perante o outro.

Não há o terceiro e sim os conflitantes.

Em regra é proibida, modo bárbaro de solução de conflito.

Crime – exercício arbitrário das próprias razões (é a

vedação da autotutela)

Exceções – a greve (autotutela permitida), legítima

defesa, desforço incontinenti (imediato), a guerra (ela é lícita em algumas

situações) e o poder da administração de executar os próprios atos

administrativos.

2 – autocomposição.

A solução do conflito é construída pelos conflitantes de

modo negocial.

Ela é estimulada pelo Estado.

Sigla em inglês ADR (alternative dispute resolution) –

gênero que serve para designar tudo que sai do modelo básico de solução do

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conflito pela jurisdição. Sendo assim, o principal exemplo de ADR é a

autocomposição.

Pode se dar:

Em juízo

Fora do juízo

Pode ser por transação, esta seria uma forma de

autocomposição, sendo assim, a transação seria uma espécie de

autocomposição, em que ambas as partes cedem um pouco dos seus

interesses para que o conflito seja resolvido.

A submissão voluntária também seria uma outra espécie de

automposição, nesta espécie,uma parte aceita e abjudica em nome da outra o

interesse, tem que ser de forma voluntária (ex – perdão seria um exemplo)

A submissão, quando feita em juízo, se chamará

renúncia (quando o autor se submete ao réu) ou reconhecimento (quando o réu

se submete ao autor).

3 – Mediação.

Um terceiro, normalmente escolhido pelas partes, se coloca

entre as partes para ajudá-las a resolver o problema por autocomposição.

Mediador é a terceira pessoa.

Ajuda com técnicas e modo de conduzir – ajuda que as

partes cheguem a uma solução.

Ele não resolve o conflito, mas ele é treinado para facilitar a

negociação entre os litigantes.

A racionalidade se preserva, mas as partes podem não

querer se ver.

Ex – os conflitos de família, em muitas vezes passam por

grupos de mediadores que antecedem o juiz (mas isso não é obrigado, as

partes podem querer ir diretamente ao juiz e pular os mediadores).

Obs – a doutrina distingue mediador de conciliador,

argumentando que o mediador não poderia fazer propostas para de acordo e o

conciliador poderia fazer as respectivas propostas de acordo.

4 – decisão de tribunal administrativo.

Forma de solução de conflitos por heterocomposição, pois

é um terceiro que decide, e este é imparcial.

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Parece jurisdição, mas não é, pois a decisão não faz coisa

julgada e pode ser submetida ao controle do judiciário.

C – ARBITRAGEM.

Não é equivalente jurisdicional.

Ela é uma jurisdição.

Pois possui tudo que tem na jurisdição.

É uma jurisdição privada, não estatal.

O arbitro é um juiz não estatal.

É uma jurisdição consensual.

As partes escolhem o juiz da causa.

As partes não solucionam o litígio amigavelmente, elas

estão em conflito.

Existe processo arbitral, contraditório...

As regras são estipuladas pelas partes, como prazos e

demais questões processuais.

Fonte da arbitragem – é a autonomia privada, o poder de

autoregramento.

Qualquer pessoa capaz pode optar pela arbitragem.

Entes públicos podem optar pela arbitragem, como previsto

na lei de parceria público e privado.

A arbitragem só pode dizer respeito a direitos disponíveis.

Não é ofensa ao juiz natural, pois ambas as partes escolhem e o

juiz será investido do modo previsto em lei.

O árbitro, para a lei de arbitragem, seria investido como juiz de

fato e de direito, sendo assim, cabe os dispositivos legais para atitudes

irregulares do juiz (responde como se fosse servidor).

Para ser árbitro – qualquer pessoa capaz.

Dificilmente a arbitragem será feita por um árbitro só,

normalmente serão 3 árbitros, cada parte escolhe um e os dois árbitros

escolhem o terceiro, que será o presidente, e a decisão será um acórdão.

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A decisão do árbitro é chamada de sentença arbitral, que é um

título executivo judicial.

A sentença arbitral ao sair poderá ser executada como se

fosse uma sentença estatal.

Com tal sentença, um juiz estatal poderá executar a

sentença, pois o árbitro não pode executar as respectivas decisões (ele pode

decidir, mas não pode executar, esse deverá ser executado pelo juiz estatal).

Não poderá o juiz estatal rever a decisão arbitral.

Não pode controlar o mérito das decisões

arbitrais.

Obs – a arbitragem em cláusula de adesão é

abusiva, pois obsta a voluntariedade.

A sentença arbitral é definitiva, não existe

recurso.

O único recurso previsto em lei para a

arbitragem é o embargo de declaração (para esclarecimento).

O juiz não tem que homologar a decisão arbitral,

pois esta é definitiva.

O juiz apenas executa a decisão arbitral.

Exceção – existe um instrumento de controle da

sentença arbitral, que será a sentença anulatória da sentença arbitral (não é

revisão e sim invalidação) – tem que demonstrar que a sentença arbitral é nula,

possui defeito, falta motivação, o árbitro é corrupto, não se respeitou o

contraditório e demais questões anulatórias – vai ao judiciário estatal e pede a

anulação da sentença arbitral – para outra sentença ser proferida pelo árbitro-

sendo problema formal e não do mérito.

O executado poderá impugnar a sentença arbitral,

apenas discutindo a validade, não entra com embargos de execução.

Sai a sentença arbitral – as partes são intimadas

para que em 90 dias se possa adentrar com ação anulatório – se torna estável

após o prazo, como sentença estatal.

Tal ação só pode ser para invalidar e não pela

questão de justiça da sentença arbitral.

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O árbitro pode se negar a decidir quando tem

questões que estão fora do âmbito da arbitragem, dessa forma, tais questões

deverão ser decididas no judiciário.

O árbitro pode determinar questões cautelares, mas

não poderá executar.

Para alguns doutrinadores, o árbitro não teria

jurisdição, mas é posição minoritária.

Convenção de arbitragem – é o negócio jurídico pelo o qual

as partes se comprometem a acatar a arbitragem. É a essência da arbitragem.

Espécies de convenção de arbitragem:

1 – cláusula compromissória – uma cláusula

existente no contrato que determina que qualquer litígio que decorra do

contrato será resolvido por arbitragem. É uma cláusula genérica e para o

futuro.

2 - compromisso arbitral – é uma convenção

de arbitragem relativo a um conflito já existente.

Obs – são tais instrumentos que o arbitro irá

definir a respectiva competência.

Importante mencionar que a parte não precisa esperar 90

dias para executar e o respectivo prazo não pode ser prorrogado pelas partes,

pois o prazo é legal.

Em regra a arbitragem é sigilosa.

Pode um arbitro pedir ajuda para um juiz estatal, o nome é

carta arbitral.

Se a sentença arbitral tiver um defeito, isto não

compromete a convenção de arbitragem, agora se anular a convenção de

arbitragem, tudo que foi feito será considerado nulo (ex – convenção por partes

incapazes).

D – PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO.

1 – princípio da investidura.

A jurisdição deve ser exercida por quem tenha sido

investido devidamente na função jurisdicional.

2 – princípio da inevitabilidade.

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Significa que a jurisdição é inevitável, pois não se pode

escapar dela, sendo assim, o que o juiz decide inevitavelmente submete a

parte.

3 – princípio indelegabilidade.

A jurisdição é indelegável, não pode ser transferida para

outro órgão. O juiz não pode delegar as suas funções para outras pessoas.

O juiz pode exercer 4 tipos de poderes:

Ordinatório – poder de conduzir o processo – colocar

o processo para andar. Tal tipo de poder pode ser delegado, por exemplo,

pode delegar ao escrivão o poder de citar o réu, ouvir a outra parte...(Art 93,

XIV da CF)

Instrutório – pode que o juiz possui de determinar a

produção de provas. Tal poder pode ser delegado, a exemplo do que os

Tribunais fazem para os juízes – eles delegam poderes instrutórios para os

juízes.

Decisório – o poder decisório não pode ser delegado

nunca.

Executivo – o poder de executar as decisões pode

ser delegado também.

4 – princípio da territorialidade.

Toda a jurisdição se exerce sobre um dado território,

haverá sempre uma limitação territorial para o exercício da jurisdição.

Foro – nome técnico para o território da jurisdição.

Na justiça estadual o foro é chamado de comarca

(abrange uma cidade ou um grupo de cidades, quando for um grupo de cidade,

a comarca terá o nome da cidade maior) e distrito (subdivisão da comarca,

pode ser uma cidade ou um bairro ou grupo de bairros).

Na justiça federal, o foro é chamado de seção

judiciária (sempre é um estado) e sub-seção judiciária (uma subdivisão da

seção pode ser uma cidade ou grupo de cidades).


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