LETRAMENTO e PRÁTICA DOCENTE
“Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”
Mário Quintana
Autora: Aparecida Ramazotti de Camargo1
Orientadora: Rosana Figueiredo de Salvi2
Resumo
Este artigo pretende abordar a importância do letramento como intencionalidade na ação educativa e sua vinculação com a interdisciplinaridade. Embora trate mais especificamente, devido à brevidade do trabalho, do letramento relacionado à alfabetização linguística, aborda também o letramento em relação às outras áreas do currículo e a relação entre os discursos praticados e a prática docente. Parte da análise de dados oficiais acerca do analfabetismo funcional, de constatações observadas como professora desde 1990 e mais especificamente durante o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, do qual fiz parte em 2011 e 2012. Busca aprofundar o tema em pesquisa bibliográfica. Encerra-se com algumas reflexões acerca do fazer educativo ancorado em práticas de letramento interdisciplinar.
Palavras-chave: Letramento; Analfabetismo funcional; Interdisciplinaridade; Prática Docente.
1 Mestrado em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade Estadual de Londrina-UEL,
graduação em Letras Anglo-Brasileira pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí-FAFIPA e Pedagogia pela Universidade Luterana do Brasil-ULBRA, com lotação no Colégio Estadual “Olavo Bilac” – EFMNP – Cambé, Núcleo Regional de Londrina. 2 Doutorado em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo-UNESP, Mestrado
em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo-UNESP, Graduação em Geografia - Bacharelado e Licenciatura - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente é docente do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina.
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1 Considerações Iniciais
Na década de 90 ao assumir um padrão como professora no Estado do
Paraná recebi o desafio de uma turma do Ciclo Básico de AIfabetização. Apenas
com o magistério e nenhuma relação social com as demais professoras do Colégio,
pois acabara de chegar à cidade. Depois de passado o desespero inicial, resolvi
fazer aquilo que sabia de melhor, ler para as crianças. Era época de inovações,
implantação de um novo currículo e do Ciclo Básico de Alfabetização. Muitas idas e
voltas, muitos erros e acertos. Percebo que, o que salvou a minha turma, que
obteve quase 100% de sucesso, lendo e escrevendo textos no final do 1º ano foram
as leituras muito diversas e as histórias que lhes contei. Essa prática me
acompanhou nos meus 15 anos de alfabetizadora.
O letramento para nossas crianças de classes populares é uma saída para o
impasse da alfabetização. Os pais, que podem ser analfabetos, mas ter um certo
grau de letramento, esperam da escola a ampliação de horizontes para seus filhos e
acreditam que ali, através daquilo que eles não tiveram, suas crianças adquiram
conhecimentos técnicos e científicos, mas também conhecimento de mundo. Como
diria Paulo Freire (1997, p.11), que possam ler a “palavramundo”.
É também o caminho na formação dos nossos professores alfabetizadores
com deficiência neste quesito graças à prática corrente ainda hoje, 25 anos depois,
de privilégio da forma em detrimento do sentido. Afirmo isso respaldada nos
números acerca do analfabetismo funcional em nosso país:
INAF / BRASIL – Evolução do Indicador de Alfabetismo
População de 15 a 64 anos (%)
2001-2002 2002-2003 2003-2004 2004-2005 2007 2009
Analfabeto 12 13 12 11 9 7
Rudimentar 27 26 26 26 25 21
Básica 35 36 37 38 38 47
Pleno 26 25 25 26 28 25
Fonte: Instituto Paulo Montenegro/Ação Educativa - 2009
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Entre os jovens, especificamente a situação não é muito diferente.
INAF Jovens (%)
Analfabeto 3
Rudimentar 19
Básico 38
Pleno 40
Analfabetos Funcional 22
Alfabetizados Funcionalmente 78
Fonte: Instituto Paulo Montenegro/Ação Educativa - INAF Jovens 2009
2 Teoria e Prática: Olhares sobre o Cotidiano.
Embora tenha diminuído o número de analfabetismo total ainda temos uma
parcela muito grande da população, que frequentou a escola, nos níveis rudimentar
e básico. O que consequentemente resulta em um número muito baixo da plena
alfabetização, ou seja, da alfabetização letrada. Os números tornam-se bastante
significativos quando junta-se à sua análise a experiência em sala de aula. Percebo
claramente a realidade dos números nas turmas de Ensino Médio nas quais atuo ou
tenho atuado nos últimos anos. A dificuldade para ler e escrever é muito grande. A
maioria não consegue ler e compreender textos bastante simples. Quando a questão
é escrever o quadro piora: textos sem parágrafos, sem pontuação, escrita não-
ortográfica, incoerentes e desconexos.
A percepção de que vivemos num mundo de letras e que os alunos têm o
direito a elas é essencial para o professor que pretende atingir objetivos
educacionais satisfatórios. É fundamental para que a escola cumpra a sua função
social o que, no contexto pós-moderno, está vinculada ao uso também das novas
tecnologias.
O letramento é necessário para a concretização de uma alfabetização
efetiva e está intrinsecamente relacionado à concepção que o professor tem sobre
leitura e escrita. Não se concebe uma prática educacional que esteja alheia aos
textos em situações reais de circulação social, que ainda se paute por “textos
pedagógicos” especialmente montados para ensinar.
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Entretanto o que é o letramento? Para Costa Val,
[...] pode ser definido como o processo de inserção e participação na cultura escrita. Trata-se de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade (placas, rótulos, embalagens comerciais, revistas etc.) e se prolonga por toda a vida, (grifo nosso) com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, como a leitura e redação de contratos, de livros científicos, de obras literárias, por exemplo. (COSTA VAL, 2004, p.19).
Atuando como coordenadora pedagógica no ensino fundamental percebi que
a grande barreira na alfabetização ainda é a dificuldade de colocar a criança em
contato real com textos significativos e fazê-la agente de seu processo de
construção, a tônica ainda é a transmissão controlada de lições definidas pela
professora que não acredita que seus alunos sejam capazes de trabalhar com
textos, aos quais chamo de verdadeiros.
E se os professores não realizam sua prática letrando é porque, de certa
forma, também eles não são letrados, e sua relação com os textos é apenas
profissional. Em muitas situações em que solicitei a professores a escrita ou leitura
de textos alguns apresentaram as mesmas dificuldades de seus alunos.
A realização das etapas anteriores do programa PDE e a convivência em
escolas permitiram-me elaborar algumas hipóteses acerca destas situações. Três
delas são as que nortearam esta pesquisa:
a) O letramento não é fato em nossas escolas porque os professores não têm
construída uma concepção de leitura como atribuição de significados permeados por
todas as vozes que perpassam o texto, inclusive a do próprio leitor;
b) Uma proposta de letramento interdisciplinar passa necessariamente pela
construção de uma concepção de leitura e escrita e do ensino como produto de
construção histórica e não puramente de transmissão por parte dos professores.
c) A interdisciplinaridade é discurso instituído, mas não praticado. Nem o governo
garante as condições e nem os professores/gestores locais estão preparados para
vivenciá-la.
Essas hipóteses baseiam-se ainda na percepção de que embora em
situações formais os professores elaborem falas em consonância com os
referenciais teóricos sociointeracionistas e interdisciplinares, informalmente
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verbalizam uma concepção diferente. Ao analisar as atividades e procedimentos
metodológicos dos mesmos percebemos que é esta segunda que sustenta suas
práticas. A titulo de exemplo insiro a seguir algumas concepções que recolhi de
conversas e observações:
- Escola não é lugar de falar/conversar é lugar de estudar.
- O bom professor é aquele que mantém sua sala quieta.
- Textos no início da alfabetização é loucura. As crianças não sabem ler e se
apavoram com eles.
- Histórias (leituras) devem ser bem curtas e simples para que eles possam
entender.
- Muita coisa no caderno da criança é sinal de que a escola é um sucesso.
- Esse pessoal (referindo-se à equipe pedagógica nos seus diversos níveis) não está
em sala e não sabe do que está falando, o que funciona mesmo é fazer a criança
repetir e copiar muito. É por isso que hoje os alunos saem da escola sem saber ler e
escrever.
Dessa forma o objetivo deste artigo é confrontar teoria e prática à luz dos
resultados obtidos e da necessidade de melhorá-los. Finalmente apresento algumas
reflexões e encaminhamentos que acredito podem contribuir para o enfrentamento
dos problemas apresentados.
3 Alfabetização e Letramento: Aproximações e Estranhamentos
O termo alfabetização é bastante antigo e conhecido nos círculos escolares
e até em contextos não formais. Uma das razões para isso é que se cunhou em
contrapartida ao seu antônimo: analfabeto. Assim, na transição da sociedade
medieval para a burguesa a escola tornou-se mais que o local de acesso às letras
para os que não tiveram berço, é sinal de prestígio social. Logo, alfabetizado era o
rico, aquele que frequentava a escola, em contrapartida ao analfabeto que não tinha
berço e nem dinheiro para estudar. Atualmente em decorrência das políticas
públicas de inclusão graças ao clamor social das minorias por seus direitos, pela
constituição de 1988, e pela Lei de Diretrizes e Base para a Educação –LDBEN
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9394/96, o direito à educação tornou-se universal, bem como a permanência do
aluno na escola com sucesso.
É neste entorno das reflexões acerca do novo papel da instituição escolar
que as questões colocadas pela qualidade da educação oferecida fazem surgir
novos conceitos ou mesmo retomada de outros como analfabetismo funcional e o
termo letramento, e a preocupação interdisciplinar.
Letramento é um conceito recente surgido do inglês literacy e conforme
Soares (2003): é “o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, o
estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como
consequência de ter-se apropriado da escrita".
Alfabetização historicamente tem significado o acesso ao mundo das letras
pelo domínio do ABC (código escrito). Conquanto a escola não tenha conseguido
garantir que seus alunos sejam inseridos nos contextos letrados pela prática da
alfabetização sentiu-se a necessidade de um novo termo que diferenciasse a prática
de alfabetização pretendida, nas palavras de Soares:
Entretanto, provavelmente devido ao fato de o conceito de letramento ter sua origem numa ampliação do conceito de alfabetização, esses dois processos têm sido freqüentemente confundidos e até mesmo fundidos. Pode-se admitir que, no plano conceitual, talvez a distinção entre a alfabetização e letramento não fosse necessária, bastando que se ressignificasse o conceito de alfabetização (como sugeriu Emilia Ferreiro em recente entrevista concedida à revista Nova Escola, n. 162, maio 2003); no plano pedagógico, porém, a distinção torna-se conveniente, embora seja também imperativamente conveniente que, ainda que distintos, os dois processos sejam reconhecidos como indissociáveis e interdependentes. Assim, por um lado, é necessário reconhecer que alfabetização – entendida como a aquisição do sistema convencional de escrita – distingue-se de letramento – entendido como o desenvolvimento de comportamentos e habilidades de uso competente da leitura e da escrita em práticas sociais: distinguem-se tanto em relação aos objetos de conhecimento quanto em relação aos processos cognitivos e lingüísticos de aprendizagem e, portanto, também de ensino desses diferentes objetos – isso explica por que é conveniente a distinção entre os dois processos. Por outro lado, é necessário também reconhecer que, embora distintos, alfabetização e letramento são interdependentes e indissociáveis: a alfabetização só tem sentido quando desenvolvida no contexto de práticas sociais de leitura e de escrita e por meio dessas práticas, ou seja: em um contexto de letramento e por meio de atividades de letramento; este, por sua vez, só pode desenvolver-se na dependência da e por meio da aprendizagem do sistema de escrita. (SOARES, 2004, p.97).
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Interdisciplinaridade no documento oficial como as Diretrizes Curriculares da
Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná (DCE) de Geografia,
configura-se como,
[...] uma questão epistemológica e está na abordagem teórica e conceitual dada ao conteúdo em estudo, concretizando-se na articulação das disciplinas cujos conceitos, teorias e praticas enriquecem a compreensão desse conteúdo. No ensino dos conteúdos escolares, as relações interdisciplinares evidenciam, por um lado, as limitações e as insuficiências das disciplinas em suas abordagens isoladas e individuais e, por outro, as especificidades próprias de cada disciplina para a compreensão de um objeto qualquer. (PARANÁ, 2008, p.27)
Como já indiquei anteriormente, percebo que está instalada uma prática
calcada no ideário fragmentado de que teoria e prática são coisas diferentes. Não é
comum a percepção de que nenhuma prática é neutra e que todas as ações por
mais simples que sejam veiculam uma ideologia e uma escala de valores que
contribuem ou não para a manutenção do „status quo‟ estabelecido. Portanto para a
superação do impasse atual vivido pela escola algumas ações são necessárias:
primeiro, a tomada de consciência da necessidade da mudança; segundo, a
investigação dos pressupostos que alicerçam nossas práticas relacionando-os às
suas implicações; e terceiro, o compromisso ético de educar para a transformação.
Essas três atitudes nos colocam em um lugar diferente em relação ao conhecimento
e aos alunos. A tomada de consciência do processo histórico da educação permite
um olhar aprofundado das intencionalidades que permearam as políticas públicas
para a educação e que se firmaram graças ao descompromisso daqueles que no
chão da escola pensavam estar cumprindo com o seu papel de educadores.
Ensinar letrando retoma o papel político da educação que é o de educar
para a participação cidadã. Alfabetizar letrando ancora-se no entendimento de que,
nas palavras de Weschenfelder:
O ato de ler, portanto, não consiste apenas na decifração dos caracteres linguísticos, mas também pressupõe a compreensão dos códigos não-linguísticos constantes noutros suportes e contextos que não o texto impresso, mas muito presentes no ambiente em que se vive. Ler é entender o mundo para além das palavras: “palavramundo”. Ler a “palavramundo” é decifrar o choro do bebê, a dinâmica da politica e da economia, compreender as estruturas textuais das entrelinhas escondidas nos textos
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verbais, interpretar as formas e as cores da fachada de um prédio e a expressão facial gestual das criaturas humanas. (WESCHENFELDER, 2005, p.?).
Percebe-se assim que ler é muito mais que decodificar as letras e estende-
se por diversas áreas. Deixa de ser tarefa solitária do professor de língua portuguesa
a tarefa de letrar já que a abordagem metodológica na perspectiva do letramento
perpassa toda a ação escolar.
A estreita relação entre os cursos de formação de docentes, as licenciaturas
e as situações aqui debatidas situam-se no fato de que também nestes cursos a
fragmentação e dicotomia teoria/prática é um desafio a ser vencido.
4 Interdisciplinaridade
Muitos são os que têm apontado a interdisciplinaridade como o caminho
para a educação: Doll Jr (1977), Fazenda (1994), Santomé (1998), Lück (2000),
Demo (2004). A interdisciplinaridade depende de um sólido conhecimento de si e
somente será possível a partir de alguns requisitos básicos:
1- O professor com profundo conhecimento de seu objeto particular de estudo e
ensino. Este item relaciona-se diretamente com o âmbito da formação do
professor. É o que Daniel (2002) chama de rigor intelectual.
2- A abertura ao diálogo. A interdisciplinaridade é antes de tudo a quebra do
individualismo e a instalação do diálogo entre pessoas, objetos de
conhecimentos e métodos de ensino. Relaciona-se com a postura pessoal do
professor e trata da humanização da educação.
3- Reorganização do currículo, dos tempos e dos espaços escolares. Relaciona-se
com o sistema.
O diálogo entre professores, conteúdos e disciplinas, condição básica para
o ensino interdisciplinar, pressupõe que cada professor tenha segurança acerca de
sua prática, conteúdos e metodologias, e compromisso com a educação.
Nossa história como fruto do colonialismo eurocêntrico burguês apresenta
contornos bastante problemáticos em relação aos requisitos acima apresentados. O
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professor cujo objeto de trabalho é o conhecimento, também é fruto desta educação
com a qual precisa romper. Para tanto o que está em jogo é sua própria identidade
de educador. É preciso um olhar apurado para perceber onde, em sua trajetória de
aluno e professor, ocorreram pontos de avanço em relação à fragmentação do
conhecimento e onde esta mesma fragmentação se instalou deixando lacunas que
agora se refletem em seu trabalho.
Esta escola que segue a cartilha colonialista neoliberal tem se visto em
apuros, pressionada por segmentos que não perderam de vista sua luta e
atualmente fazem ouvir suas vozes. Entre eles citamos os afrodescendentes e os
homossexuais. Mas, na escola, o que há é muito mais um discurso por força do
aparato legal que fruto de reconhecimento e consciência.
O que tem a interdisciplinaridade a ver com tudo isso? Tem a ver com as
novas relações pretendidas entre as pessoas e os conhecimentos. Pautadas na
igualdade de direitos, diversidade de expressão, respeito à dignidade pessoal e
individualidade. Tem a ver com a visão de mundo, de homem e de conhecimento
que permeiam a prática cotidiana de cada professor e de cada escola. Tem a ver
com o rompimento da fragmentação que começa nas instâncias maiores da
educação e vai se refletindo até a sala de aula com a separação entre teoria e
prática. Isto curiosamente tem ocorrido da seguinte forma no que concerne à
educação: as classes dominantes/dirigentes, responsáveis pelo discurso praticam-no
através de uma fala que atende e aplaca os anseios populares; a classe
trabalhadora- professores e pedagogos, responsáveis pela prática, agem em
conformidade com os anseios da classe dominante/dirigente. Um discurso em
direção ao popular e uma ação em direção às elites. Embora praticados por agentes
diferentes.
Verificamos então que a interdisciplinaridade é um anseio que não tem, até o
momento, muitos exemplos práticos. O que temos é um percurso em direção a ela.
Fazem parte deste percurso experiências da educação popular, da
multidisciplinaridade, da transversalidade e da transdisciplinaridade. Estas
experiências de uma forma ou de outra, instauram processos que rompem com a
barreira das disciplinas, do tempo e do espaço.
Pois, como afirma Lampert:
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A interdisciplinaridade é uma perspectiva para a superação do caos educacional, pois descortina o ensino memorístico, fragmentado, especializado, com visão restrita e limitada da realidade. Possibilita um novo olhar para o entendimento e a compreensão da realidade circundante no que concerne à política, à economia, à educação, à cultura, ao relacionamento homem/homem, à relação homem com o ambiente. Será uma porta aberta para criticar o capitalismo selvagem imposto pelo imperialismo, em detrimento do bem-estar social. Ajudará a entender por que o físico, a beleza, a praticidade, o lucro, o imediatismo, o consumismo, a publicidade, o lazer, a tecnologia, a superficialidade, a informática são tão bem aceitos na sociedade pós-moderna. A interdisciplinaridade é uma perspectiva de tornar a sociedade, cuja economia é globalizada, mais humana, crítica, responsável, colaborativa, idealizada e ancorada em valores morais e éticos. (LAMPERT, 2007, p.24).
Tendo em vista que um dos objetivos deste artigo é contribuir com a reflexão
acerca de caminhos para a docência, a título de conclusão sugerimos alguns vídeos
para aprofundamento do tema, todos podem contribuir para o enriquecimento das
reflexões e da formação de docentes, e ser encontrados no endereço eletrônico
http://entretexto.blogspot.com/search/label/letramento.
Atividade é só uma atividade;
Crianças: protagonistas da produção cultural;
Escrita também é coisa de criança;
Infância, cultura e educação;
Junto se aprende melhor;
Leitura também é coisa de criança;
O planejamento na prática pedagógica;
Para aprender a escrever;
Para ser cidadão da cultura letrada;
Saberes que produzem saberes.
Há muitos desafios e percalços para o professor, mas concordamos com
Daniel (2002) quando disse que viver na pós-modernidade não é fácil também para
os jovens que se veem sem referenciais claros e sem explicações para o sentido da
vida. Pais e professores têm o importante papel de infundir-lhes confiança e
motivação para a busca de suas próprias respostas.
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5 Considerações Finais
Durante a implementação da proposta pedagógica e do desenvolvimento do
Grupo de Trabalho em Rede (GTR) a maior dificuldade apontada pelos professores
participantes e sentida por mim foi em relação às condições necessárias à
interdisciplinaridade. A necessidade de uma leitura mais abrangente superando a
formação disciplinar específica é, para muitos professores um verdadeiro entrave.
Aos professores de língua portuguesa é até mais fácil por estarem familiarizados
com todos os tipos de texto. Percebe-se então uma lacuna em relação ao letramento
na formação dos professores. O PDE, como um programa de formação em serviço é
uma grande oportunidade para a superação dessa dificuldade uma vez que
possibilita de forma consistente que os professores assumam uma postura
investigativa e científica face ao saber que precisam dominar como educadores.
É por isso que, este artigo, ao invés de abordar de forma genérica o trabalho
desenvolvido buscou aprofundar a temática mais relevante, emergida dos trabalhos
desenvolvidos durante o PDE no sentido de contribuir também como uma sugestão
de enfrentamento do problema percebido.
A escola como lócus de produção e acesso ao conhecimento tem em si
algumas inerências: uma delas é que aquele que ensina detém um conhecimento
mais avançado que aquele que aprende, e, além de saber ele precisa saber ensinar.
Neste artigo minha intenção foi a de colaborar para que os professores tenham
consciência de que necessitam dominar um saber e um como fazer. A partir dessa
consciência aliada à percepção de que somos seres que aprendem sempre,
perceber que o letramento perpassa todo o processo imprimindo-lhe qualidade.
Portanto queremos ressaltar a indissociabilidade entre ensino e letramento.
São dois processos constituintes da ação educativa e complementares. Enquanto a
alfabetização no plano ideal deve estar circunscrita aos primeiros anos da
escolaridade o letramento começa antes e não termina jamais.
A perspectiva do letramento confere à educação e aos educadores um
status qualitativo. Faz dos educadores agentes de formação humana quando
contribuem para o alargamento do horizonte da vida de seus alunos capacitando-os
para se inserirem no contexto social como indivíduos com um agir competente,
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sustentável e ético, além de terem um conhecimento técnico e científico que
somente a escola pode lhes proporcionar.
Na atual configuração social o papel da escola tem sido muito mais
abrangente que outrora. Alunos vêm à escola desde muito pequenos e é ali que
recebem a educação que em outros tempos vinha da base familiar.
A capacidade de ler o mundo e dar respostas competentes aos desafios
precisa ser continuamente aprendida por alunos e professores. Por isso, defendo o
letramento como postura a ser instaurada e mantida pela escola como um dos seus
pilares.
Referências
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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1997.
INAF BRASIL 2009. Indicador de Analfabetismo Funcional. Principais resultados. Disponível em: http://www.ibope.com.br/ipm/relatorios/relatorio_inaf_2009.pdf. Acesso em: 20 fev. 2012.
LAMPERT, Ernani. Pós-modernidade e a educação. Linhas, Florianópolis, v. 8, n. 2, p. 04 n. 32, jul. / dez. 2007.
PARANÁ. DCE. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná. Geografia. Curitiba: SEED, 2008.
SOARES. Magda. Alfabetização e letramento: caminhos e descaminhos. Revista Pátio, n. 29, fevereiro de 2004.
_______. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica. 2003.
VAL, Maria G. C. O que é ser alfabetizado e letrado? In: Carvalho, Maria A. F. & Mendonça, Rosa H. (org.). Práticas de leitura e escrita. Brasília: Ministério da Educação, 2006.
WESCHENFELDER, Eládio V. A Leitura da “Palavramundo” no Brasil. Disponível em: <http://cariebookgratis.com/a-leitura-da----palavramundo----no-brasil> Acesso em: 15 fev. 2012.