O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAO DAS EMPRESAS
ANGOLANAS E O SEU IMPACTO NO CRESCIMENTO E
DESENVOLVIMENTO ECONMICO:
O CASO DA SONANGOL
LEONILDO JOS PEREIRA MACHADO
Dissertao de Mestrado
Mestrado em Empreendedorismo e Internacionalizao
PORTO 2014
INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAO DO PORTO
INSTITUTO POLITCNICO DO PORTO
O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAO DAS EMPRESAS
ANGOLANAS E O SEU IMPACTO NO CRESCIMENTO E
DESENVOLVIMENTO ECONMICO:
O CASO DA SONANGOL
LEONILDO JOS PEREIRA MACHADO
Dissertao de Mestrado apresentado ao Instituto Superior de Contabilidade e
Administrao do Porto para a obteno do grau de Mestre em
Empreendedorismo e Internacionalizao.
Os orientadores:
Prof. Doutor Jos de Freitas Santos
Prof. Doutora Maria Clara Dias Pinto Ribeiro
PORTO 2014
INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAO DO PORTO
INSTITUTO POLITCNICO DO PORTO
DEDICATRIA
A todos que acreditaram em mim.
III
AGRADECIMENTOS
Aos meus orientadores Prof. Doutor J. Freitas Santos e Prof. Doutora Maria
Clara Ribeiro, por todas as sugestes e contributos, assim como pela abertura,
disponibilidade e boa disposio constante.
Aos meus professores de mestrado, em especial Prof. Doutora Celsa Machado
e ao Prof. Doutor Orlando Lima Rua, pela pacincia, compreenso e apoio prestados.
Aos responsveis e funcionrios da Sonangol que se disponibilizaram em
colaborar com informaes precisas para o xito deste trabalho.
Dra. Rute David, pela disponibilidade demonstrada.
toda minha familia, especialmente a minha esposa e filhos pela compreenso,
pacincia e incentivo e por todos os sacrificios consentidos.
Aos meus amigos e colegas, em especial ao Dr. Manuel Loureno.
IV
RESUMO
O fenmeno da globalizao econmica est a crescer de forma exponencial e j
atingiu os quatro cantos do mundo, o que tem obrigado as grandes empresas e at
mesmo as PMEs de vrios pases a tornarem-se globais face competitividade e s
polticas e prticas agressivas das multinacionais, transnacionais e das empresas
internacionalizadas.
Assim, o estudo do processo de internacionalizao das empresas reveste-se de
grande importncia para os pases em desenvolvimento, como o caso de Angola, sob
duas perspetivas: a cientfica, na medida em que existe ainda uma insuficiente
investigao sobre o assunto no crculo acadmico angolano; a empresarial, no sentido
de constituir uma ferramenta para apoiar as empresas a desenvolver as suas estratgias
para a expanso internacional.
O objetivo desta dissertao foi elaborar um estudo que permitisse perceber as
diferentes estratgias usadas pelas empresas para se expandirem internacionalmente, as
razes ou motivaes da sua internacionalizao e as vantagens e/ou desvantagens que
elas podem enfrentar na abordagem dos mercados externos. Assim, selecionou-se como
objeto de estudo a maior empresa pblica angolana, a Sonangol, que iniciou a sua
incurso internacional h mais de 30 anos, e que se encontra num estgio muito
avanado do seu processo de internacionalizao, com presena nos continentes
africano, europeu, americano e asitico.
Os resultados deste trabalho indicam que a empresa Sonangol contribuiu
bastante para a projeo internacional de Angola e da sua economia, estimulando o IDE
em Angola e a credibilidade do pas diante das grandes instituies financeiras
mundiais.
Os xitos alcanados podero ser teis quer para investidores quer para o
governo e outras instituies que podero levar a cabo aes que promovam a presena
das empresas angolanas no exterior.
Palavras-Chave: Processo de Internacionalizao das Empresas, Crescimento
Econmico, Diversificao da Economia, Estudo de Caso, Sonangol.
V
ABSTRACT
The phenomenon of economic globalization is growing exponentially and has
reached the four corners of the world, which has forced large companies and even
SMEs from different countries to become the face of global competitiveness and the
policies and practices of aggressive multinational, transnational and internationalized
companies.
Thus, the study of the internationalization process of companies is of great
importance for developing countries, as is the case of Angola, from two perspectives:
scientific, in that there is still insufficient research on the subject in the Angolan
academic circle; business, in order to create a tool supports businesses to develop their
strategies for international expansion.
The aim of this thesis was to develop a study that would allow realizing the
different strategies used by companies to expand internationally, the reasons or
motivations of its internationalization and the advantages and/or disadvantages they
may face in addressing foreign markets. So, was selected as the study object the largest
Angolan state company Sonangol, which started its international foray for over 30 years
and is in a very advanced stage of its internationalization process, with a presence in the
African continent, European, American and Asian.
The results of this study indicate that the company Sonangol contributed greatly
to the international projection of Angola and its economy, stimulating FDI in Angola
and the country's credibility in the face of major global financial institutions.
The achievements can be useful both for investors and for the government and
other institutions that may take actions that promote the presence of Angolan companies
abroad.
Keywords: Enterprise Internationalization Process, Economic Growth, Economic
Diversification, Case Study, Sonangol.
VI
INDICE
Dedicatria --------------------------------------------------------------------------------------- III
Agradecimento ----------------------------------------------------------------------------------- IV
Resumo -------------------------------------------------------------------------------------------- V
Abstract ------------------------------------------------------------------------------------------- VI
Lista de quadros --------------------------------------------------------------------------------- IX
Introduo ------------------------------------------------------------------------------------------ 1
Captulo I- Internacionalizao: Breve recenso da literatura
1.1- A Internacionalizao -------------------------------------------------------- 5
1.2- Razes da Internacionalizao das Empresas ----------------------------- 7
1.3- Barreiras e Estmulos Internacionalizao ------------------------------ 9
1.4- Teorias Clssicas da Internacionalizao ------------------------------ - 11
1.5- Teorias Explicativas do IDE ------------------------------------------------ 12
1.5.1- Teoria do Ciclo de Vida do Produto ------------------------------- 13
1.5.2- Teoria da Vantagem Competitiva --------------------------------- 15
1.5.3- Teoria do Custo de Transao e da Internalizao------ ------ 17
1.5.4- O Paradigma cltico ------------------------------------------------ 20
1.6- Teorias Comportamentais ------------------------------------------------ 22
1.6.1- O Modelo de Uppsala ---------------------------------------------- 23
1.6.2- As Redes de Relacioamentos (Networks) ---------------- ------ 25
Captulo II- Formas de Entrada nos Mercados Internacionais
2.1- Escolha das Formas de Acesso aos Mercados Externos ----------------- 27
2.2- Fatores Determinantes na Deciso de Entrada nos Mercados Externos 28
2.3- Estratgias de Internacionalizao ----------------------------------------- 31
2.3.1- Exportao------------------------------------------------------------ 31
2.3.2- Licenciamento--------------------------------------------------------- 33
2.3.3- Franchising ----------------------------------------------------------- 34
2.3.4- Joint Ventures -------------------------------------------------------- 35
2.3.5- Investimento Direto Estrangeiro ----------------------------------- 37
2.4- Estratgia de Marketing Internacional--------------------------------------- 39
2.4.1- Segmentao e Posicionmento do Mercado no Contexto
Internacional------------------------------------------------------------------------------ 40
2.5- O Marketing-Mix no Contexto Internacional ---------------------------- 42
2.5.1- O Produto-------------------------------------------------------------- 43
2.5.2- O Preo---------------------------------------------------------------- 44
2.5.3- A Promoo/Comunicao------------------------------------------ 46
2.5.4- A Distribuio--------------------------------------------------------- 47
VII
Captulo III- Metodologia da Pesquisa
3.1 O Mtodo -------------------------------------------------------------------- 50
3.2- Identificao do Caso em Estudo ----------------------------------------- 51
3.3- Procedimentos da Recolha de Dados ------------------------------------- 53
3.4- Populao e Desenho da Pesquisa ---------------------------------------- 56
Captulo IV- Estudo de Caso: O Processo de Internacionalizao da Sonangol
4.1- Caraterizao da Empresa----------------------------------------------- 58
4.1.1- Evoluo da Empresa-------------------------------------------- 59
4.1.2- Objetivos e Metas Estratgica da Empresa ------------------- 61
4.1.3- Principais Empresas Subsidirias e Participadas------------- 62
4.2- A Intenacionalizao da Sonangol---------------------------------------- 65
4.2.1- reas de Atuao Internacional da Sonangol----------------- 69
4.2.2- Estratgias de Entrada da Sonangol nos Mercados Externos-- 70
4.2.3- Escolha dos Mercados-Alvo e dos Canais de Distribuio--- 74
4.2.4- Anlise do Processo de Internacionalizao da Sonangol com
base nas Teorias Comportamentais ----------------------------------------------------------- 77
4.3- O Impacto da Internacionalizao da Sonangol no Crescimento
Econmico de Angola--------------------------------------------------------------------------- 79
Concluso ----------------------------------------------------------------------------------------- 81
Referncias bibliogrficas ---------------------------------------------------------------------- 84
Anexos -------------------------------------------------------------------------------------------- 88
VIII
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Resumo das fase do ciclo de vida do produto ---------------------------------- 14
Quadro 2: Posicionamento do produto levando em conta a qualidade e preo -------- 45
Quadro 3: Resumo das principais subsidirias e respetivas participaes -------------- 64
Quadro 4: Participao da Sonangol no setor bancrio ----------------------------------- 65
Quadro 5: Destino das exportaes do petrleo bruto angolano no perodo 2008-2012
(em milhes de dlares) ----------------------------------------------------------------------- 71
Quadro 6: Ilustrativo dos canais de distribuio e dos mercados-alvo ------------------ 77
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Presena global da Sonangol ------------------------------------------------------ 69
IX
1
INTRODUO
A internacionalizao empresarial est diretamente associada ao fenmeno da
globalizao, que atingiu as empresas e fez com que elas buscassem a
internacionalizao como um meio de se expandirem e sobreviverem face
competitividade do mundo globalizado. Em Angola, poucas empresas arrancaram com o
processo de internacionalizao ou poucas esto presente no mercado internacional.
Segundo Martins (2008), a internacionalizao de empresas um instrumento
fundamental para o fortalecimento das empresas e aumento da competitividade dos
pases, num ambiente de grande concorrncia internacional.
Desta forma, a deciso de se internacionalizar est ligada, de uma maneira geral,
preocupao da empresa em manter, fortalecer e ampliar a sua penetrao nos
mercados-alvo e ganhar experincia de gesto e operacional no mbito internacional,
posto que, muitas empresas esto organizadas satisfatoriamente para o mercado interno,
mas no para o externo.
As empresas possuem diversas razes para se internacionalizarem, como a
aquisio de novas tecnologias, a necessidade de estar mais prximas do cliente, a
superao de barreiras protecionistas, a antecipao da concorrncia ou o acesso a
linhas de crdito para poder captar fontes de recursos financeiros.
Neste contexto competitivo, as empresas angolanas esto obrigadas a ampliar os
seus horizontes empresariais para fora do seu mercado domstico, pois a
competitividade das empresas exige, segundo Martins (2011), flexibilidade e
adaptabilidade perante a evoluo do mercado e a participao em networks. Deste
modo, elas precisam de crescer em dimenso, seja por via das exportaes,
licenciamento, joint-ventures, investimento direto ou outras formas de
internacionalizao de bens/servio.
Este trabalho tenta perceber como a principal empresa pblica angolana
procurou expandir-se nos mercados internacionais, as formas de entrada nos mesmos, as
reais motivaes, a escolha dos mercados, bem como as estratgias de marketing usadas
nestes mercados para que se tornasse competitiva e, a partir dessa anlise contribuir para
que o processo de internacionalizao das empresas angolanas seja uma realidade e se
torne mais abrangente para outras empresas.
Procura-se ainda com este estudo avaliar o impacto da internacionalizao da
Sonangol na economia angolana, bem como o apoio que o Estado presta s empresas
2
para a entrada nos mercados externos, j que as empresas angolanas tm estado a
defrontar-se com inmeras dificuldades no que concerne sua expanso para outros
mercados, assim como para garantir o mercado interno. Este problema decorre dos
desafios impostos pela globalizao, com a entrada de empresas internacionais,
multinacionais e transnacionais no mercado angolano, o que as obriga procura de
novos mercados tanto como uma forma de sobrevivncia da empresa, como tambm
uma forma de aumentar a sua rentabilidade.
JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA DO ESTUDO
A internacionalizao da economia angolana passa necessariamente pelo
processo de internacionalizao das suas empresas. Este processo deve ser analisado
no s pelas empresas que pretendem se internacionalizar, mas tambm pelo governo
por via de polticas de apoio internacionalizao e/ou outros agentes econmicos
como investidores, associaes empresariais e acadmicos.
O crescimento da economia angolana impulsionado pelo crescente processo de
abertura ao exterior e a consequente internacionalizao maioritariamente dependente
das exportaes de matrias-primas, bem como por um crescente aumento da
concorrncia e competitividade internacionais, a par do desenvolvimento acelerado da
inovao tecnolgica e das transformaes polticas que tm ocorrido no mundo, tm
contribudo para que as empresas angolanas procurem diversificar o risco, investindo
parte do seu capital nos mercados internacionais.
Sendo a internacionalizao das empresas angolanas fundamental para o
desenvolvimento da sua economia nacional, esta problemtica assume um papel de
destaque crescente. Entretanto, apesar de existir vrias teorias sobre o processo de
internacionalizao de empresas e uma vasta literatura sobre o mesmo, a verdade que
pouco ou nada se investiga a respeito deste processo em Angola.
Por esta razo, escolhemos o tema O Processo de Internacionalizao das
Empresas Angolanas e o seu Impacto no Crescimento e Desenvolvimento Econmico:
O Caso da Sonangol, de forma a estimular o debate acadmico sobre o assunto e
incentivar outros estudos, qui para outras empresas, j que para este estudo nos
focamos essencialmente na Sonangol, o que no constitui uma amostra representativa e
no pretende traduzir a realidade das outras empresas angolanas. Entende-se que,
somente com a discusso desta realidade, se poder buscar alternativas viveis e,
3
sobretudo possveis, para elevarmos os padres de comercializao com outros pases,
atravs da internacionalizao das nossas empresas.
O atual estgio de crescimento econmico em Angola exige uma insero mais
efetiva da sua economia no mercado internacional atravs da internacionalizao das
suas empresas. A perceo dos processos que envolvem a internacionalizao das
empresas pode contribuir para a adaptao s mudanas exigidas pelo contexto atual.
Por isso, atravs de um Estudo de Caso, procurou-se analisar a maior empresa angolana,
desde os primrdios da sua internacionalizao, os passos dados durante o seu processo
at a sua consolidao como empresa internacional, que poder servir de modelo para
outras empresas, a julgar pelos xitos alcanados na sua abordagem aos mercados
externos.
Nesta medida, o trabalho poder ser til tanto para as empresas que desejam
internacionalizar-se, como tambm para aquelas que j comearam com o seu processo
de internacionalizao, pois ajudar a perceber as diversas estratgias de entrada nos
mercados internacionais e os mecanismos de ajustamento ao mercado alvo.
ORGANIZAO DO ESTUDO
O trabalho est estruturado em quatro captulos, precedidos da introduo geral
que aborda questes como o enquadramento da pesquisa, o problema da investigao, a
justificativa e a relevncia do estudo.
No primeiro captulo apresentamos a reviso da literatura em que destacamos o
quadro terico referente aos estudos j realizados relacionados com o processo de
internacionalizao das empresas, as razes da internacionalizao, as barreiras e
estmulos, assim como as teorias explicativas da internacionalizao das empresas, de
modo a criarmos as bases para uma pesquisa mais aprofundada.
O segundo captulo trata das estratgias para a entrada nos mercados
internacionais, destacando o processo a ser levado em conta quando as empresas
pretendem se internacionalizar, as formas pelas quais podem usar, a anlise do mercado
onde desejam expandir o seu negcio, as oportunidades e ameaas, bem como as
estratgias de marketing internacional e de marketing-mix.
No terceiro captulo apresentamos a metodologia usada para a realizao do
trabalho, destacando aqui o mtodo escolhido, os procedimentos da recolha dos dados, a
problemtica e os objetivos da investigao, bem como a populao e o desenho da
investigao.
4
No quarto captulo destacamos o caso em estudo com a anlise dos resultados da
pesquisa. Neste captulo procuramos apresentar a caraterizao da empresa com os
objetivos, metas e reas de atuao internacional, as diversas estratgias de entrada
usada pela empresa, assim como analisar o impacto da internacionalizao com base nas
teorias comportamentais de internacionalizao de empresas.
A completar esta dissertao so apresentadas as concluses principais que
podem ser construdas sobre o processo de internacionalizao tendo por base um
grande grupo angolano, anotando-se as limitaes do presente estudo bem como
sugerindo-se algumas linhas de investigao futuras.
5
CAPITULO I
INTERNACIONALIZAO: BREVE RECENSO DA LITERATURA
Neste captulo, procuramos apresentar as linhas gerais do processo de
internacionalizao das empresas, ressaltando as principais teorias explicativas, bem
como as vantagens e limitaes das diferentes opes de internacionalizao. Porm,
antes de iniciarmos a abordagem sobre as teorias fundamental compreendermos a
internacionalizao como uma prtica contnua que envolve qualquer operao
internacional, seja pela via bsica da exportao, seja por formas mais complexas e
sofisticadas de implantao nos mercados externos, como o estabelecimento de alianas
estratgicas com parceiros internacionais, a associao entre empresas, a aquisio de
empresas em outros pases ou a instalao de subsidirias para produo local.
1.1- A INTERNACIONALIZAO
A internacionalizao das empresas apesar de ser um tema muito discutido na
atualidade, no constitui por si s um fenmeno novo. Para Sarli (2002), a
internacionalizao das empresas no pode ser dissociada do fenmeno da globalizao,
pois, j no incio do sculo XX, existiam vrias empresas, sobretudo de origem inglesa,
que atuavam em mercados externos e possuam filiais internacionais.
A globalizao econmica tem acelerado o processo de internacionalizao de
muitas empresas. At pouco tempo atrs o processo de internacionalizao era limitado
s grandes empresas ou multinacionais. S a partir da dcada de 1990 que o processo
de internacionalizao das pequenas e mdias empresas (PMEs) tornou-se uma
realidade e comeou a ser objeto de estudo.
Na viso de Lacerda (apud Martins, 2008), a globalizao econmica abrange a
internacionalizao dos produtos, a melhoria do comrcio e a entrada da tecnologia,
sendo um processo que tem provocado acesos debates nos crculos acadmicos e nas
empresas. Trata-se da extenso do processo de internacionalizao do capital, onde
comeou a expanso do comrcio de mercadorias e servios, passando pela extenso de
financiamentos. Desta forma, a internacionalizao deve ser vista como um meio
essencial para o aumento da competitividade internacional das empresas, promovendo o
desenvolvimento dos pases e facilitando o acesso aos recursos e mercados
internacionais.
6
Por sua vez Schneider (2002), salienta que a internacionalizao de uma
empresa pode ser observada como um processo, um resultado final, ou uma forma de
pensar. Formalmente, pode-se definir a internacionalizao como o passo a passo de um
processo de desenvolvimento de negcios internacionais onde as empresas tornam-se
comprometidas em operaes internacionais para produtos especficos em determinados
mercados.
Nesta vertente, o processo de internacionalizao consiste na atividade crescente
e sucessiva de envolvimento de uma empresa nas operaes com outros pases, durante
o qual a empresa muda gradualmente em resposta competio internacional,
saturao do mercado domstico, ao desejo de expanso, exposio a novos mercados
e diversificao do risco (Sarli, 2002).
No sentido macroeconmico, a internacionalizao vista como o conjunto dos
fluxos de trocas de matrias-primas, produtos acabados, semiacabados e servios
efetuadas entre dois pases. Para Martins (2008), a internacionalizao de uma empresa
pode ser explicada como a sua atuao em um ou mais pases com exceo do seu pas
de origem, sendo um processo contnuo e crescente.
O processo de internacionalizao quase sempre se inicia com atividades de
exportao, que evolui para a formao de alianas estratgicas entre empresas at
mais avanada etapa que seria a instalao de unidades da empresa no exterior, a
aquisio de outras empresas em outros pases ou a fuso com outras empresas no
exterior. Do ponto de vista empresarial, a internacionalizao compreende todo o tipo
de interveno qualitativamente avanada nos mercados externos abrangendo todas as
fases desde a exportao at ao investimento direto no estrangeiro.
A fim de contribuir para o entendimento do processo de internacionalizao das
empresas, Arruda, Goulart e Brasil (1996) apresentam cinco estratgias utilizadas na
insero internacional:
a) A internacionalizao como evoluo da capacidade de exportao, estratgia
largamente utilizada pelas empresas brasileiras, dividido em trs estgios principais: o
envolvimento experimental, o envolvimento ativo e o envolvimento comprometido;
b) A internacionalizao como busca de competitividade tecnolgica, sendo uma
caraterstica predominante nos pases da sia Oriental;
c) A internacionalizao como consequncia da capacidade de agregar parceiros,
estratgia que carateriza as empresas italianas;
7
d) A internacionalizao como consequncia das vantagens competitivas obtidas
no mercado domstico, caraterstico de algumas empresas australianas;
e) A internacionalizao como consequncia da exposio internacional,
estratgia seguida pelas empresas suecas.
1.2- RAZES DA INTERNACIONALIZAO DAS EMPRESAS
A internacionalizao das empresas um processo gradual que comea
geralmente com a exportao. No entanto, a deciso da empresa se internacionalizar
pode ser o resultado racional de uma pesquisa, uma reao a uma oportunidade ou
abordagem externa. De um modo geral, podemos afirmar que existem vrias razes que
levam as empresas a se expandirem internacionalmente, como o acesso a recursos mais
baratos e/ou abundantes, encontrar fornecedores mais baratos e/ou eficientes, conseguir
um certo posicionamento da marca e dos produtos, servir um mercado maior, seguir os
clientes na sua internacionalizao ou apenas reagir s movimentaes dos concorrentes
(Serra, Ferreira, Torres & Torres, 2010).
Neste sentido, no conjunto de motivaes ou razes da internacionalizao das
empresas, devemos ter em conta os fatores internos e externos empresa que podem
conduzir procura de mercados externos. Os fatores internos prendem-se
fundamentalmente com os fatores produtivos, desde as capacidades e competncias dos
recursos humanos at aos recursos financeiros para investir e prpria imagem e
reputao da empresa no mercado; ao passo que os fatores externos tem que ver com a
vontade dos gestores ou com a necessidade de dar resposta a movimentaes e
agressividade dos concorrentes.
Para Ferreira, Reis e Serra (2011a), os diferentes motivos para a
internacionalizao podem conduzir a diferentes estratgias de atuao, objetivos de
desempenho e mesmo modos de entrada. Neste sentido, Martins (2011), apresenta dois
tipos de motivaes para as empresas se internacionalizarem: i) motivaes pr-ativas,
como vantagem de lucros, produtos nicos, vantagem tecnolgica, informao
exclusiva, compromisso diretivo, benefcios de impostos e economias de escala; ii)
motivaes reativas, como presses competitivas, superproduo, declnio das vendas
domsticas, excesso de capacidade produtiva, mercados domsticos saturados e
proximidade dos clientes.
Portanto, o investimento no estrangeiro pode ser guiado por seis fatores
essenciais: i) aprendizagem em mercados mais sofisticados; ii) economias de escala; iii)
8
reao concorrncia; iv) economias de localizao; v) efeitos de experincia; e vi)
competncias centrais.
Viana e Hortinha (2009) apresentam seis razes genricas que esto na base do
incremento da procura pelos mercados externos:
a) Aumentar as vendas, para maximizar os lucros da organizao e melhor
satisfazer os seus acionistas;
b) O efeito das sinergias ao nvel da estrutura de custos, de forma a permitir um
aumento considervel das vendas, podendo provocar um melhor aproveitamento
da capacidade produtiva instalada e produzindo vantagens ao nvel de economias
de escala;
c) Partilha de risco, pois quando uma determinada empresa se encontra presente em
vrios mercados, h uma maior diversificao do risco do negcio;
d) Necessidade de colaborao com empresas e instituies pblicas de vrios
pases, j que o poder poltico um dos maiores clientes a nvel mundial;
e) O domnio dos mercados, procurando estar presente num maior nmero possvel
de mercados;
f) Vantagens absolutas relacionadas com o controlo de recursos nicos, como
jazidas de petrleo ou de minrios.
As empresas que se internacionalizam procuram adquirir vantagens com vista a
aumentar o mercado que servem e explorar oportunidades de crescimento, explorar
competncias ou vantagens especficas da empresa, sendo estas potenciais geradoras de
rendimento nos mercados externos, a diversificao dos riscos do negcio, de modo a
garantir o fornecimento e reduzir os efeitos da sazonalidade das vendas, o acesso a
inputs nas quantidades, qualidade e/ou custos procurados, bem como a reduo dos
custos de produo.
No entanto, as empresas que procuram expandir-se em mercados externos podem
enfrentar dificuldades que obstaculizam a sua atuao internacional com maior
complexidade na interao entre a empresa e os governos dos pases de destino, as
distncias geogrficas e culturais que dificultam o controlo sobre as operaes
estrangeiras, dificuldades no acesso informao sobre o mercado e sobre a
concorrncia e variaes nas polticas governamentais que podem tornar difcil a anlise
da evoluo do mercado e da concorrncia (Ferreira, et al., 2011a).
9
1.3- BARREIRAS E ESTMULOS INTERNACIONALIZAO
Ao longo do processo de internacionalizao, as empresas encontram inmeras
dificuldades no relacionamento internacional. Estas dificuldades podem ser chamadas
de barreiras internacionalizao. Alguns autores consideram a existncia de trs
principais barreiras no mercado exterior: barreiras alfandegrias, barreiras culturais e
barreiras polticas.
No entanto fatores governamentais como o excesso de burocracia e a dificuldade
de encontrar, interpretar e compilar as regulaes governamentais relevantes, bem como
as dificuldades para identificar oportunidades em mercados exteriores, os problemas na
seleo de distribuidores confiveis, a adaptao e provimento de produtos exportveis,
a existncia de fortes competidores estrangeiros e a competio dos novos pases
industrializados, afiguram-se como barreiras genricas que as empresas procuram
contornar durante a sua insero no mercado exterior.
Verruck (2009) apresenta cinco principais barreiras no processo de
internacionalizao das empresas: barreiras de marketing que se consubstanciam nas
dificuldades de obter informaes sobre clientes e mercados externos sobretudo em
atividades de determinao de preos e comunicao no exterior; barreiras de
procedimentos relacionados com a burocracia, documentao e logstica; barreiras de
prticas e negcios internacionais compostas pelos obstculos impostos pelos
governos no relacionamento entre clientes internacionais e as prticas comerciais no
exterior; barreiras financeiras relacionadas com os riscos cambiais e o acesso a
financiamento das operaes no exterior, bem como as cobranas das vendas feitas
noutros pases; e barreiras tcnicas e de adaptao, referentes s necessidades de
adaptao de produtos para o mercado externo e a realizao de servios ps-venda.
Alm das barreiras internacionalizao das empresas, existem tambm os
estmulos que fazem com que este processo se torne realidade, vindos sobretudo dos
governos nacionais com o objetivo de alavancar as suas economias e, desta forma,
incrementar a sua riqueza. No caso das empresas angolanas, o principal estmulo
internacionalizao vem do governo atravs da ANIP (Agncia Nacional para o
Investimento Privado) que estabelece no seu Art.4 do seu Estatuto Orgnico a
obrigatoriedade de registar e acompanhar, em coordenao com o Banco Nacional de
Angola, nos termos da legislao cambial e demais legislao complementar em vigor e
que vier a ser aprovada, os investimentos de investidores nacionais no exterior, no
mbito da internacionalizao das empresas angolanas.
10
A avaliao do equilbrio entre os estmulos e as barreiras determinam a deciso
ou no da empresa se internacionalizar, pois quando esta considera que as barreiras so
maiores que os estmulos, a empresa procura atuar exclusivamente no mercado
domstico, ao passo que se os estmulos forem mais fortes do que as barreiras, a opo
mais provvel ser a da internacionalizao.
De um modo geral, os riscos associados atividade internacional so
caraterizados como barreiras legtimas internacionalizao empresarial. Assim, a
opo pela internacionalizao depender da anlise das foras e fraquezas internas da
empresa (anlise SWOT) que se impe no sentido de identificar se a capacidade
produtiva suficiente para suprir a procura internacional e se possui as competncias
necessrias para satisfazer as exigncias dos mercados internacionais, bem como
analisar se os custos decorrentes da atividade exportadora so compensados pelas
vendas (Verruck, 2009).
As empresas chinesas e indianas que at recentemente gozavam dos benefcios
do protecionismo poltico deparam-se agora com organizaes mais eficientes
competindo em termos de igualdade nos mercados que anteriormente eram do seu
domnio. A forma das empresas atuar a nvel internacional, tem sofrido constantes
alteraes, pois leva formao de redes de contactos internacionais e busca de novos
conhecimentos, o que favorece o desenvolvimento de uma mentalidade internacional.
Para evitar o risco de ter uma reduo no prprio mercado, as empresas buscam
mercados internacionais. Para Dias (2007), essa situao ocorre especialmente quando a
empresa fornece para um cliente que expande sua atuao para o exterior e v-se
obrigado a acompanh-lo, pois caso deixe de faz-lo pode estar abandonando uma
oportunidade de expanso e, principalmente, abrindo as portas para um concorrente
disposto a fornecer para esse cliente em ambos os mercados.
A internacionalizao pode tambm ocorrer quando o poder de compra ou
capacidade de absoro no mercado domstico est aqum da capacidade produtiva da
organizao, constituindo-se como mais um estmulo internacionalizao, obrigando a
empresa a escoar a produo vendendo para consumidores no estrangeiro.
Um outro estmulo internacionalizao da empresa que no est ligado ao
aumento ou manuteno das vendas, tem que ver com questes de custo e de
competitividade, ou seja, quando a empresa no dispe de todas as matrias-primas
necessrias para a satisfao de suas necessidades produtivas no seu pas de origem, ela
pode querer instalar uma unidade produtiva na regio onde h abundncia de matria-
11
prima, levando a empresa a expandir-se internacionalmente com o objetivo de reduzir
os custos de importao ou reduzir os riscos de dificuldades no suprimento dessa
matria-prima ao posicionar-se geograficamente prxima do seu fornecedor.
Mercio (2008) defende que a existncia de executivos com vocao para a
atuao internacional pode fornecer segurana para que a empresa procure expandir as
suas atividades para alm das fronteiras domsticas.
1.4- TEORIAS CLSSICAS DA INTERNACIONALIZAO
O envolvimento da empresa em operaes internacionais tem sido objeto de
propostas tericas que se baseiam nas teorias tradicionais do comrcio internacional e
nas teorias clssicas da internacionalizao das empresas. Ambas as abordagens no so
contraditrias, mas sim, complementares visto que elas procuram explicar o processo de
internacionalizao das empresas sob dois pontos de vistas importantes para qualquer
organizao.
As teorias tradicionais sobre o comrcio internacional tm a sua origem na teoria
mercantilista desenvolvida na Europa no sc. XVII. Esta teoria afirmava que a riqueza
de uma nao se mede pela manuteno sistemtica de excedentes comerciais face ao
resto do mundo e o consequente aumento de reservas sob a forma de metais preciosos.
Para isso era necessrio estimular as exportaes, inibir as importaes e manter uma
ausncia da mobilidade de capitais, dando impulso ao desenvolvimento interno s
custas do exterior.
Posteriormente surgiram formalizaes mais rigorosas do modelo clssico sobre
as teorias do comrcio internacional nos sc. XVIII e XIX por Adam Smith e David
Ricardo como reao ao modelo mercantilista. Smith, na sua obra A Riqueza das
Naes publicada em 1776, desenvolveu a teoria das vantagens absolutas defendendo
que um pas tem vantagem absoluta na produo de um bem quando este mais
eficiente que outro pas a produzi-lo, especializando-se no mesmo por ser a melhor
alocao dos seus recursos, tirando proveito dos recursos naturais, condies de clima,
qualificao dos trabalhadores, bem como da localizao privilegiada (Roratto, 2006).
Partindo da teoria das vantagens absolutas de Smith, David Ricardo em 1817,
desenvolveu a teoria das vantagens comparativas, levando em considerao a
possibilidade de um pas poder ter vantagem absoluta em todos os produtos. Nesta
teoria, Ricardo mostra que um pas deve produzir apenas os bens nos quais tem maior
eficincia relativa e importar os bens que produz com menor eficincia relativa do que
12
os outros, isto , mesmo que aquele pas seja mais eficiente em todos os produtos,
mais vantajoso para o mesmo especializar-se naqueles em que relativamente mais
eficiente (Cechella, 2011).
Por outro lado, a abordagem econmica do processo de internacionalizao das
empresas teve incio com as teorias do comrcio internacional, apesar de no
evidenciarem especificamente a evoluo das empresas. Essas primeiras teorias
lanaram as bases para explicar os motivos que levam ao comrcio entre as naes. Tais
teorias defendem que os pases, tal como as empresas e os indivduos que fazem parte
do comrcio internacional, podem ser beneficiados pelas suas diferenas, produzindo
vantagens absolutas, comparativas ou relativas.
Segundo Verruck (2009), os estudos realizados dentro da abordagem econmica
no esto direcionados para descobrir como as empresas se internacionalizam, mas
procuram analisar os benefcios e as vantagens obtidos depois de a empresa ter
internacionalizado as suas operaes, preocupando-se com questes como a interao
entre o crescimento da empresa e a localizao da produo, os fatores produtivos, de
custos, de acesso a matria-prima e mo-de-obra.
1.5 - TEORIAS EXPLICATIVAS DO IDE
A internacionalizao das empresas pode ter como resultado final o
Investimento Direto Estrangeiro. Neste contexto, as empresas que desejam crescer nas
suas atividades internacionais podem faz-lo horizontalmente alargando as suas
atividades, ou verticalmente entrando em novas atividades ou adquirindo novas
empresas em novos mercados.
Neste contexto, para Viana e Hortinha (2009), estas opes envolvem
investimentos e evidenciam que a empresa pode procurar internalizar vantagens
existentes noutras empresas desses mercados ou pode levar a executar as suas atividades
produtivas ou comerciais nos mercados externos se possuir vantagens prprias como
uma marca ou uma tecnologia inovadora. Pode ainda deslocalizar a produo para
captar vantagens de localizao como mercados, recursos e incentivos entre outros.
As abordagens que estudam o IDE e procuram explicar os seus determinantes
so numerosas. Segundo Silva, Chauvel e Bertrand (2010), as principais teorias so a do
Ciclo de Vida do Produto (Vernon, 1966), a teoria das vantagens competitivas (Hymer,
1960; Caves, 1971; Porter, 1990), a teoria do custo de transao e da internalizao
13
(Williamson, 1975; Buckley e Casson, 1976; Rugman, 1980), e o Paradigma Ecltico
(Dunning, 1988, 1993).
1.5.1.- TEORIA DO CICLO DE VIDA DO PRODUTO
Esta teoria foi desenvolvida por Vernon em 1966, modernizada e ampliada
posteriormente pelo mesmo autor em artigos publicados em 1971, 1977 e 1979. A
Teoria do Ciclo de Vida do Produto, procura explicar a expanso das Empresas
Multinacionais, tornando a especializao flexvel e associa o comrcio com o IDE.
Segundo esta abordagem, os produtos passam por um ciclo de iniciao, crescimento
exponencial, diminuio da velocidade e posterior declnio, uma sequncia que
corresponde ao processo de introduo, expanso, amadurecimento e perecimento
(Cechella, 2011). Desta forma, esta oferece uma interpretao do IDE, sobretudo para
os produtos manufaturados caraterizados pela tecnologia avanada e alta flexibilidade
de procura.
medida que se aceleram os ciclos tecnolgicos dos produtos, a fase de
inovao ser seguida da produo externa do bem em pases mais competitivos em
termos de custos. Assim, consideramos que as etapas do ciclo de vida do produto
correspondem com: i) a produo no pas de origem, ii) o Investimento Direto
Estrangeiro caso haja custos de produo inferiores aos do pas de origem e, iii) o incio
da exportao se os custos forem superiores. O IDE ser realizado medida que os
custos de produo se tornam importantes sobretudo nos casos em que o produto atinge
os estgios de amadurecimento e padronizao.
A teoria defende que caso sejam exploradas as oportunidades no mercado de
origem da empresa multinacional, essa exporta para outros pases suas tecnologias e
operaes ultrapassadas para recomear todo o ciclo de lucratividade. Nesta
perspetiva, as multinacionais vem os pases estrangeiros como locais de explorao e
suas subsidirias como incapazes de contribuir para o valor agregado da corporao. A
vantagem competitiva reside no pas de origem e no estrangeiro; a empresa ao transferir
suas tecnologias usufrui da vantagem comparativa.
O conceito de ciclo de vida do produto aplica-se a produtos ou categorias de
produtos dentro de um setor e no a marcas ou produtos especficos, ou seja, o
produto em si e no a vida de um produto de determinada empresa em particular.
Apesar dos estgios da vida do produto ter caratersticas bem definidas, muitas vezes
difcil perceber em que fase do ciclo se encontra um produto sobretudo pela reao cada
14
vez mais clere dos concorrentes e novos entrantes com a introduo de produtos
substitutos.
Para Ferreira et al. (2011a), afirmar que um produto tem um ciclo de vida
afirmar que: i) os produtos tm vida limitada; ii) as vendas do produto passam por
estgios distintos e cada um coloca desafios diferentes; iii) os lucros do produto crescem
e diminuem ao longo dos diferentes estgios do ciclo de vida do produto; e iv) os
produtos requerem diferentes estratgias mercadolgicas, financeiras, de produo, de
compras, de pessoal nos diferentes estgios.
Os estgios devem ser descritos agrupando os investimentos, preo do produto,
vendas, lucro unitrio, situao econmica do produto, concorrentes, comunicao e
difuso do produto junto ao consumidor.
Quadro 1- Resumo das Fases do Ciclo de vida do produto
Introduo Crescimento Maturidade Declnio
Localizao da
produo
No pas inovador
(geralmente
industrial)
Em pases
inovadores e
outros industriais
Mltiplos pases
Pases menos
desenvolvidos
Mercado
Principalmente nos
pases inovadores
com alguma
exportao
Principalmente
em pases
industriais
Crescimento em
pases menos
desenvolvidos.
Algum decrscimo
nos pases industriais
Principalmente nos
pases menos
desenvolvidos com
algumas
exportaes a partir
destes
Fatores de
competio
Posio de quase
monoplio; as vendas
so baseadas no
carcter nico do
produto e no no
preo;
desenvolvimento de
caratersticas do
produto
A procura em
rpido
crescimento; o
nmero de
concorrentes
aumenta; os
preos comeam a
diminuir; o
produto torna-se
mais padronizado
A procura
estabilizada; o
nmero de
concorrentes diminui;
o preo essencial,
especialmente nos
pases desenvolvidos
Declnio da
procura; o preo o
instrumento
principal; o nmero
de produtores
continua a diminuir
Tecnologia
usada na
produo
Desenvolvimento dos
processos para
coincidir com o
desenvolvimento do
produto; Trabalho
intensivo; produo
de pequenos lotes
Aumenta a
intensidade do
capital; Maior
padronizao dos
processos e
mtodos
Elevada
padronizao; Menor
necessidade de mo-
de-obra qualificada;
Produo capital
intensiva
Mo-de-obra no
especializada numa
produo
mecanizada.
Fonte: Ferreira, et al., 2011a.
Portanto, para compreendermos melhor esta teoria, descrevemos de forma
sucinta as etapas do ciclo de vida dos produtos:
15
a) Etapa da introduo ou lanamento- a fase da apresentao do produto no
mercado definindo o sistema de distribuio, abastecimento e posicionamento.
Nesta fase, nota-se um lento crescimento nas vendas e os lucros so negativos
ou inexistentes devido aos elevados custos associados promoo extensiva e
gastos com o lanamento do produto, j que o trabalho preparatrio tem por
objetivo lucros futuros.
b) Etapa do crescimento- esta fase comea quando a estratgia da empresa na
primeira fase comea a resultar, gerando lucros operacionais para a mesma.
Quando os lucros so altos, aumenta a concorrncia com a entrada no mercado
de novas empresas com produtos semelhantes que apostam em preos baixos
como diferencial para atrair os consumidores, forando a reduo de preos por
parte da empresa que lanou o produto.
c) Etapa da Maturidade nesta fase assiste-se ao aumento da procura pelo
produto pela maioria antecipada e timidamente pela maioria tardia que evitam
correr riscos. medida que for aumentando a concorrncia, diminui os
potenciais clientes; neste estgio, as diferenas entre os produtos concorrentes
diminui medida que os concorrentes descobrem as caratersticas promocionais
e de produtos mais desejados pelos consumidores. Assim as empresas podem
aumentar as suas vendas e participao no mercado somente custa dos
concorrentes.
d) Etapa do Declnio na fase final do ciclo de vida do produto as inovaes ou
mudanas nas preferncias do consumidor provocam um declnio absoluto nas
vendas da empresa. Quando um determinado produto estiver na fase do declnio,
significa o crescimento de um novo produto lanado no mercado. Desta forma,
medida que se nota uma quebra nas vendas, os lucros diminuem, pois as
empresas so foradas a baixar os preos numa tentativa de segurar o declnio.
1.5.2- TEORIA DA VANTAGEM COMPETITIVA
A teoria da Vantagem competitiva foi desenvolvida por Michael Porter em 1990
na sua obra A Vantagem Competitiva das Naes e procura mostrar a forma como a
estratgia escolhida e seguida pela organizao pode determinar e sustentar o seu
sucesso competitivo.
A vantagem competitiva vista como um conjunto de caratersticas que permite
a uma empresa ser diferente por possuir ativos que do ponto de vista dos clientes so
16
valiosos, o que lhe permite diferenciar-se da concorrncia. Para Ferreira et al. (2012),
citando Porter, a vantagem competitiva surge fundamentalmente da proposta de valor
que uma determinada empresa consegue gerar para os seus clientes e que vai mais alm
dos custos de produo.
Esta proposta de valor que resulta da oferta de um produto ou servio com
caratersticas percebidas idnticas aos da concorrncia mas por um preo mais baixo ou,
alternativamente, da oferta de um produto ou servio com benefcios superiores aos da
concorrncia que compensam um preo mais elevado.
A empresa deve procurar identificar o tipo de vantagem competitiva a explorar
em cada segmento de mercado, devendo saber onde competir de maneira a estar numa
posio privilegiada. Desta forma, a rentabilidade de uma empresa ser superior quando
a qualidade relativa dos produtos, a quota do mercado, a utilizao da capacidade e a
produtividade dos trabalhadores so elevados e quando a intensidade de investimento e
os custos unitrios diretos so reduzidos (Ferreira, et al., 2012).
Nesta ordem de ideias, a eficcia operacional e a estratgia so ferramentas que
permitem obter vantagem competitiva numa organizao. Na sua atividade corrente a
empresa executa um conjunto de operaes que lhe permitem projetar, produzir,
comercializar, entregar e sustentar o seu produto. Hahn (2010), citando Porter, sugere a
separao por grupo de atividades, designando-as de principais as que mais contribuem
para a eficcia operacional da empresa, e de apoio as que so transversais a toda a
atividade empresarial.
Outro eixo da construo da vantagem competitiva a estratgia. Schneider
(2002) afirma que a essncia da formulao de uma estratgia competitiva relacionar
uma empresa com o seu meio ambiente. Desse modo, a estratgia de liderana no custo
envolve a orientao da empresa para operar com o menor nvel de custo possvel,
possibilitando a liderana por custo. A estratgia de diferenciao constitui uma maneira
de oferecer um produto ou servio exclusivo e nico em algum aspeto valorizado pelos
clientes atuais e potenciais. Essa diferenciao leva a uma proteo contra as foras
competitivas da indstria.
A estruturao da vantagem competitiva baseada na eficcia operacional e na
estratgia ocorre a partir de uma anlise interna detalhada dos processos. Esta anlise
contribui para a identificao das competncias essenciais da organizao, ou seja, ser
determinante analisar todas as atividades desempenhadas pela empresa, partindo do
princpio que cada uma destas atividades pode contribuir para a formao dos custos ou
17
a gerao de rendimento para a empresa, devendo a mesma ser desenvolvida de forma
sistemtica, utilizando-se como instrumento analtico a cadeia de valor.
A definio de uma estratgia competitiva visa estabelecer uma posio
lucrativa e sustentvel contra as foras que determinam a competio industrial e o seu
objetivo principal ser diferente, ou seja, a essncia da vantagem competitiva
sustentvel consiste em escolher uma posio diferente em relao s estratgias usadas
pelas empresas rivais.
As fontes gerais das vantagens competitivas numa empresa so o reflexo da sua
capacidade de aplicar recursos de uma forma mais eficiente que a concorrncia,
evidenciando superioridade na eficincia, na qualidade, na adequao e na inovao do
produto. Estas vantagens podem ser exploradas atravs de estratgias genricas de
liderana de custos e diferenciao ou foco:
a) Liderana no custo, em que a empresa procura produzir com baixos custos na
sua linha de atividade, atingindo diversos segmentos de mercado, sendo a extenso da
empresa um fator importante desta vantagem ao nvel dos custos. Geralmente quando
uma empresa opta por uma estratgia de baixo custo gera um produto padronizado,
focando-se no essencial do produto e colocando a nfase na obteno de vantagens de
custo absoluto e de escala;
b) Diferenciao ou foco, onde a empresa procura ser nica no seu setor de
atividade nas dimenses mais valorizadas pelos consumidores, selecionando os
atributos mais valorizados no mercado, posicionando-se de uma forma nica para
satisfazer as necessidades dos consumidores. Esta estratgia leva a empresa a reduzir
custos em todas as reas que no afetem a diferenciao.
Esta teoria tem como objetivo explicar a razo de determinados pases reunirem
condies domsticas que garantem uma competitividade no baseada em custos, mas
na qualidade, diferenciao e inovao. Certas empresas localizadas em determinados
pases so mais propensas a criar inovaes consistentes, melhorar constantemente as
inovaes e superar as barreiras da mudana.
1.5.3- TEORIA DO CUSTO DE TRANSAO E DA INTERNALIZAO
A Teoria do Custo de Transao foi apresentada por Coase em 1937, abraada e
desenvolvida por Williamson em artigos publicados em 1971 e 1975. Esta abordagem
baseia-se na ideia de que uma empresa tem custos de aquisio de bens e servios
quando utiliza o mercado para obteno dos recursos necessrios ao seu funcionamento,
18
custos estes que no existem quando as transaes so realizadas internamente. Para os
tericos desta linha de pensamento, as vantagens competitivas das empresas podem ser
exploradas atravs de relaes contratuais estabelecidas no mercado ou atravs da
internalizao dessas mesmas vantagens, ou seja, as empresas realizam as suas prprias
operaes.
Na viso de Ferreira, et al. (2011a), o ncleo da teoria dos custos de transao
reside no conceito de que as partes para consumar uma transao tm de empregar
recursos no abrangidos nos termos da transao. Estes custos podem ser os de
conceber e redigir o contrato para que as partes conheam os seus benefcios e
obrigaes, alm dos custos associados garantia da sua aplicao.
Quando a empresa decide entrar no mercado de forma mais comprometida, tal
como uma aliana estratgica, subsidiria prpria ou adquirida surgem novos custos
os chamados custos de internalizao. Tais custos esto relacionados com a obteno de
melhor conhecimento do mercado, construo da empresa no exterior, custo de controlo
e coordenao das atividades, bem como os custos de flexibilidade e reversibilidade dos
investimentos.
Na mesma linha de pensamento, Cechella (2011) afirma que quando os custos
de internalizao forem maiores que os custos de transao a empresa procura no se
instalar com subsidirias no mercado e o contrrio tambm vlido. Portanto, a deciso
da empresa em incrementar as suas formas de internacionalizao passa pelo trade-off
dos custos de transao com a internalizao. Mas a simples considerao destes
custos no a ferramenta suficiente para decidir sobre a melhor estratgia de entrada e
atuao nos mercados externos, devendo para o efeito considerar aspetos como a
localizao, que incluem custos de transporte e produo; a estratgia da empresa que
pode passar pela centralizao versus disperso das atividades e da concorrncia em
cada mercado externo.
Por sua vez, a teoria de internalizao elaborada por Buckley e Casson explica o
Investimento Direto Estrangeiro como forma de explorar as vantagens especficas no
mercado estrangeiro e defende que as empresas internalizam mercados quando os seus
custos de transao so inferiores aos custos deste mercado. Caso no se verifique a
reduo nos custos, as empresas procuram realizar alianas estratgicas para diversificar
os riscos dessas operaes.
Por outro lado, a internalizao significa tambm que a empresa pode realizar
internamente as operaes no recorrendo a subcontratao ou o licenciamento. Ela
19
pode ocorrer em resposta a qualquer tipo de externalidade nos mercados de fatores
produtivos e de produtos (Martins, 2011).
Para Abrantes (1999), a teoria da internalizao parte da ideia segundo a qual a
empresa, como uma estrutura organizativa nasce para integrar, sob o mesmo princpio
hierrquico as transaes que o mercado realiza de uma maneira ineficiente ou mais
dispendiosa para a empresa, sendo uma boa parte das transaes de bens intermdios de
carter intangvel (conhecimentos, tecnologia, capacidade gestora e de marketing) um
exemplo desta realidade. Quando essa internalizao se processa atravs das fronteiras,
estamos em presena de um processo de internacionalizao.
A teoria da internalizao assenta em dois postulados fundamentais: i) a
empresa internalizar as operaes at ao momento em que os custos de transao
dessas operaes sejam mais elevados dos que derivam da sua integrao
organizativa; ii) a empresa cresce internalizando mercados at ao ponto em que os
benefcios da internalizao compensem os custos.
A teoria surgiu com a inteno de se converter numa teoria geral do IDE, j que
todos os aspetos da internacionalizao so avaliados na perspetiva dos custos de
localizao e/ou dos custos de transao. Esta teoria ressalta que a empresa tem a
funo de internalizar ou integrar as transaes que quando realizadas pelo livre
mercado so mais ineficientes ou mais dispendiosas.
As transaes vo desde produtos at tecnologia, passando pelas formas de
gesto e principalmente conhecimento. Sendo que quanto mais transaes baseadas em
conhecimento, maior ser a propenso para a internalizao, logo maior a probabilidade
da empresa adotar formas de atuao mais complexas no exterior distanciando-se da
simples exportao.
Ferreira, et al. (2011a), afirmam que a internalizao permite aumentar o poder
de mercado com eventual capacidade de influenciar os preos, reduzindo a incerteza e
aumentando o controlo dos mercados e das suas operaes internacionais. Por outro
lado, permite ainda aproveitar a utilizao eficiente dos preos de transferncia de
forma a minimizar os encargos fiscais pela localizao do excedente em zonas de menor
incidncia fiscal, bem como manter a propriedade do conhecimento desenvolvido
internamente, evitando que este se difunda no mercado.
Num mercado em expanso a empresa beneficia-se de um crescimento que
comea com atividades de exportao numa primeira fase e medida que for
aumentando a dimenso do mercado, pode passar para o licenciamento at atingir a
20
ltima fase deste processo que o investimento direto estrangeiro (Silva, et al., 2010).
Porm, esta evoluo no absoluta. Por exemplo, se o mercado pequeno e estvel,
no existe incentivo para a empresa substituir a exportao por outra forma de
participao.
As multinacionais usam a internalizao para superar as imperfeies dos
mercados de capitais. Apesar de ser uma teoria muito importante na compreenso do
processo de internacionalizao, ela apresenta algumas limitaes porque aplica-se
apenas s multinacionais e ao investimento no exterior, sendo a internacionalizao
avaliada de uma forma esttica e esquecendo aspetos como as formas de colaborao
inter-empresariais.
1.5.4- O PARADIGMA ECLTICO
O Paradigma ou teoria ecltica foi desenvolvida por John Dunning em 1976, que
procurou inicialmente explicar a razo das empresas americanas na Inglaterra serem
mais produtivas em relao s concorrentes inglesas, mas menos produtivas do que as
suas matrizes nos Estados Unidos. Dunning desenvolveu o paradigma ecltico,
defendendo a ideia de que as empresas passam a operar nos mercados estrangeiros
quando possuem vantagens competitivas de propriedade (ownership), localizao
(location) e internalizao (internalization).
Esta teoria tambm chamada de OLI procura explicar a extenso, a forma e os
padres da produo internacional determinada pela configurao daquelas trs
vantagens (Verruck, 2009). Estas vantagens (competitivas ou monopolistas) precisam
ser suficientes para compensar os custos de estabelecer e manter uma operao no
estrangeiro, em comparao com aquelas que so enfrentadas pelos produtores
domsticos.
A primeira vantagem diz que a empresa ao atuar no mercado externo procura
aproveitar as suas vantagens especficas como um diferencial para competir com os
novos concorrentes. Essas vantagens foram denominadas por Dunning de efeito
especfico da propriedade - O (ownership) onde so includos os ativos tangveis e
intangveis como o caso das marcas e patentes, capital intelectual e tecnologia de
informao.
A vantagem ownership refere-se s capacidades especficas de uma empresa
deter um melhor posicionamento no mercado estrangeiro, em comparao com os
produtores locais ou com outros produtores estrangeiros. o acesso privilegiado a
21
algum ativo, s economias de escala, patentes, marcas, capacidades tecnolgicas e
gesto, a diferenciao de produtos, que devem compensar o custo de montar e manter
uma operao no exterior.
A segunda vantagem defende que a empresa se internacionaliza para explorar as
vantagens de Localizao-L (Location), ou seja, as vantagens especficas que a empresa
ganha por transferir a sua produo no estrangeiro ou as vantagens oferecidas pelo pas
recetor como recursos naturais abundantes, mo-de-obra mais barata em relao ao do
pas de origem, infra-estrutura adequada e tamanho do mercado atraente, interveno
governamental (barreiras tarifrias, incentivos fiscais), presena de concorrentes ou de
clusters, estabilidade poltica e econmica, fazendo com que a produo nestes pases
reduza os custos das empresas, tornando-as mais competitivas (Alem & Cavalcanti,
2005).
Estas vantagens esto tambm relacionadas com o menor custo de transporte e
comunicao se comparado com a atividade exportadora.
Por ltimo, a terceira vantagem diz que a empresa decide internacionalizar-se
para explorar as vantagens de Internalizao-I (Internalization), ou seja, as empresas
preferem atravessar as fronteiras utilizando as suas vantagens especficas do que vend-
las para algum num mercado estrangeiro (Verruck, 2009). Esta vantagem segue o
raciocnio das teorias da internalizao e dos custos de transao.
A motivao pela busca de mercados reflete-se na disputa pelo aumento da
participao das empresas nos mercados internacionais; ao passo que a busca por
eficincia tem que ver com a racionalizao da produo para explorar as economias de
especializao e de localizao num grau mais avanado de internacionalizao.
Desta forma, as grandes empresas multinacionais passam a distribuir as vrias
etapas da sua cadeia produtiva por pases diferentes que possuam vantagens na
produo daquela parcela especfica. Nesse nvel de internacionalizao, as filiais
deixam de ser meras reprodues das empresas-me, podendo especializar-se em
apenas uma fase especfica do processo produtivo (Alem & Cavalcanti, 2005).
As vantagens de propriedade e de localizao consideram a possibilidade da
empresa internalizar os seus recursos, produzindo fora das suas fronteiras com a sua
prpria estrutura (por meio de subsidirias ou associadas), ou a cedncia do uso da sua
vantagem de propriedade atravs de contratos ou licenas. Produzir no exterior uma
deciso bastante influenciada pela natureza dos ativos intangveis, destacando-se o
22
conhecimento implcito, que a empresa pode usar, sem no entanto poder vender ou
licenciar, e que estimulam o investimento na produo internacional.
Apesar de tudo quanto foi abordado anteriormente, o paradigma ecltico tem
recebido muitas crticas por possuir muitas limitaes, uma vez que apresenta uma viso
subjacente de que apenas as grandes empresas e que desfrutam de grandes vantagens
competitivas devem ingressar na produo internacional. Por outro lado, a maior parte
dos estudos de Dunning concentram-se nos pases desenvolvidos, onde o papel do
governo na vantagem de localizao menos abrangente e expressivo do que nos pases
emergentes. Nestes, preciso um esforo concentrado de polticas pblicas para atrair
investimentos de Empresas Multinacionais (EMNs), especialmente em atividades de
inovao que contribuem para a capacitao tecnolgica.
As teorias acabadas de enunciar procuram compreender o IDE, sem no entanto
explicar as diversas formas que as empresas usam na sua internacionalizao, no
referem as formas de cooperao empresarial, ficando mais voltadas para as atividades
industriais do que dos servios. Por outro lado, centra-se fundamentalmente no enfoque
econmico, no considerando a funo desempenhada pelos executivos nos processos
de internacionalizao.
1.6 - TEORIAS COMPORTAMENTAIS
A abordagem comportamental ao processo de internacionalizao das empresas
foi desenvolvida na dcada de 70 do sc. XX. Esta abordagem teve incio com os
estudos desenvolvidos na Universidade de Uppsala (Sucia) e tornou-se num modelo
amplamente utilizado para estudar e explicar o processo de internacionalizao das
empresas. Os pensadores desta teoria acreditavam que o crescimento de qualquer
empresa est intrinsecamente ligado sua capacidade de aprender e adquirir
conhecimento e que este fruto de um processo evolutivo baseado na acumulao de
experincias.
A abordagem comportamental explica a internacionalizao como um processo
gradual ou evolutivo, que depende de atitudes, percees e do comportamento daqueles
que tm poder de deciso, ou seja, um processo no qual intervm fatores no econmico
(Silva, et al., 2010). Na abordagem comportamental destaca-se o modelo de Uppsala
(U-model) e a teoria das redes (Networks).
23
1.6.1- O MODELO DE UPPSALA
O modelo de Uppsala tambm conhecido como modelo U, desenvolvido por
Johanson e Vahlne em artigos publicados 1977 e 1990, defende que a falta de
conhecimento o maior obstculo internacionalizao, pois o conhecimento adquirido
atravs da experincia considerado o mais importante na internacionalizao e que a
empresa deve internacionalizar-se investindo os recursos de maneira gradual, j que se
trata de um processo de aprendizagem. Assim, a experincia que uma empresa adquire
no exterior torna-se o fator fundamental para os processos de internacionalizao (Silva,
et al., 2010).
Neste sentido, a internacionalizao vista como um processo em que as
empresas vo gradualmente incrementando o seu envolvimento internacional. Este
modelo baseado em observaes empricas de estudos em negcios internacionais na
Universidade de Uppsala, Sucia. Tais estudos mostraram que algumas empresas suecas
regularmente desenvolviam as suas operaes internacionais, realizando exportaes via
agente, depois estabeleciam uma subsidiria de vendas e, eventualmente, em alguns
casos, comeavam a produzir num pas estrangeiro.
O modelo de Uppsala assume que o processo de internacionalizao comea de
acordo com o grau de conhecimento que a empresa tem do mercado e ocorre de forma
gradual seguindo quatro estgios: a) ausncia de atividade de exportao; b) incio da
exportao por meio de agentes; c) estabelecimento de uma subsidiria no exterior para
as vendas; e d) estabelecimento de uma subsidiria no exterior para a produo. Esse
carter gradual e incremental da internacionalizao est associado distncia psquica,
isto , s diferenas entre pases (de cultura, de idioma, de prticas de negcios), que
causam a incerteza e fazem com que as empresas se internacionalizem (Verruck, 2009).
De acordo com esta teoria, em funo dessas diferenas, as empresas procuram
internacionalizar-se primeiramente para pases vizinhos ou semelhantes, com os quais a
distncia psquica menor, resultando num menor grau de incerteza. A tese defendida
por esta teoria, segundo a qual o incio da operao de uma unidade de produo no
exterior requer um conhecimento profundo do mercado, gerou muitas crticas por parte
de vrios autores e o surgimento de novas teorias sobre internacionalizao de
empresas.
O crescimento e desenvolvimento cada vez maior da globalizao e os seus
efeitos levou a uma maior contestao do modelo gradualista de Johanson e Vahlne no
24
incio da dcada de 1990. Tal constatao levou alguns investigadores a perceber que
muitas empresas so suscetveis de ter um processo muito acelerado de
internacionalizao que salta algumas fases deste processo (Silva, et al., 2010).
Os autores do modelo de Uppsala, num artigo publicado recentemente
mostraram que o conceito de distncia psquica tem vindo a perder a sua importncia
nos dias de hoje. Nas suas pesquisas determinaram que a internacionalizao depende
mais de questes relacionadas com o network, ou seja, da rede de relacionamentos onde
a empresa esteja inserida do que da empresa isoladamente.
Para os autores deste modelo, as principais fontes para a internacionalizao das
empresas so o conhecimento e o networking internacional e ignoram outros aspetos
que influenciam ou aceleram o processo de internacionalizao como os fatores
ambientais, caratersticas da firma, elementos individuais e fatores de relacionamento, a
formao de recursos e suas conexes com as oportunidades externas que podem
reduzir os impactos da distncia psquica.
Os estudos realizados por Johanson e Vahlne na Universidade de Uppsala foram
confirmados por Cavusgil em 1980, relacionado ao processo gradual e incremental de
internacionalizao de empresas e concordou com pesquisas anteriores em relao
existncia da incerteza e ao fato das empresas buscarem reduzir esses riscos por meio de
um processo gradual de entrada no exterior. Cavusgil (segundo Silva, et al., 2010)
desenvolveu um modelo com vrios estgios de internacionalizao que so: i) ausncia
de atividade no exterior; ii) anlise da viabilidade de internacionalizar; iii) incio das
atividades no mercado externo de forma limitada; e iv) expanso das atividades no
mercado externo, estgio onde a empresa passa a tomar suas decises, pensando tanto
no mercado domstico quanto no externo.
Fruto das limitaes que o modelo de Uppsala apresenta, tem recebido muitas
crticas. Rezende (2002) mostrou que este modelo evidencia a falta de informao como
um grande obstculo para a entrada nos mercados externos das empresas, o que faz com
que ocorra esse processo gradual de internacionalizao. Porm, com o advento do
fenmeno da globalizao e a consequente facilitao na obteno de informaes e
comunicao entre pessoas, permitiu a diminuio da importncia da distncia psquica
como elemento preponderante no processo de internacionalizao para os mercados
mais distantes, podendo as empresas no passar necessariamente por todas as fases
previstas no modelo.
25
1.6.2- AS REDES DE RELACIONAMENTO (NETWORKS)
A noo de network foi introduzida na teoria comportamental por Johanson &
Vahlne num artigo publicado em 1990 e defendem que a empresa deve estar inserida
numa rede de relacionamentos. Essas redes de relacionamentos podem ser pessoais ou
empresariais e desempenham um papel fundamental quer nos mercados externos como
nos internos. A rede externa fruto do relacionamento da subsidiria com os parceiros
(fornecedores, instituies de pesquisa, empresas de propaganda dentre outros). A rede
interna resulta do relacionamento da subsidiria com as outras subsidirias, j que
muitas empresas no seguem a forma sequencial dos modos de entrada.
A teoria das redes de relacionamentos considerada uma evoluo natural do
pensamento dos tericos de Uppsala e ao mesmo tempo um complemento a este modelo
que introduziu de forma clara a minimizao dos custos de transao como elemento
determinante dos processos de internacionalizao. O modelo de Uppsala e as teorias
das redes passaram a ser posteriormente designadas de Escola Nrdica.
Os estudiosos dessa corrente tm desempenhado um importante papel no
desenvolvimento da perspetiva das networks industriais, destacando os relacionamentos
entre empresas e mercados industriais. Para Carvalho e Gomes (2007), a lgica das
networks pressupe que o processo de internacionalizao facilitado pelo
estabelecimento de redes de relacionamento entre empresas, uma vez que a troca de
conhecimento entre as mesmas auxilia a entrada em novos mercados.
De acordo com esta nova viso, a distncia ou proximidade geogrfica no
uma condio indispensvel para que a empresa se internacionalize, visto que as
mesmas podem aceder a mercados externos atravs da sua ligao com clientes ou
fornecedores. Os autores reafirmam a importncia do conhecimento dos mercados e do
envolvimento gradual dos recursos, mas introduzem a capacidade das empresas
estabelecerem relaes a longo prazo com outras empresas como fator crtico para o
sucesso do seu processo de internacionalizao (Cechella, 2011).
Nas empresas em que existe um elevado grau de internacionalizao, as foras
competitivas e os fatores de produo criam um padro vasto de oportunidades de
entrada, que podem ser diferentes do padro previsto no modelo tradicional de Uppsala,
mas isso s pode acontecer caso haja a formao de networks nos novos mercados. Esta
abordagem analisa as trocas de mercado como o resultado da interao e das relaes de
troca entre diferentes atores do mercado. Isso ocorre segundo Hemais (apud Martins,
2011), porque a rede de relacionamento de uma empresa tem grande valor como uma
26
fonte de informaes e conhecimento, que pode economizar tempo e recursos de uma
organizao e, dessa forma, facilitar o seu processo de entrada nos novos mercados.
Na perspetiva das networks, a estratgia de internacionalizao das empresas,
pode ser caraterizada com base nas suas necessidades de: i) minimizar os investimentos
e o desenvolvimento de conhecimento de mercado; ii) minimizar as necessidades de
ajustes da organizao para operar em novos mercados; e iii) explorar posies j
estabelecidas na network. Outros autores que tambm analisaram a internacionalizao
na perspetiva das networks relacionam as redes de relacionamento e o planeamento
estratgico como os condutores do processo de internacionalizao das empresas.
As subsidirias desempenham papel decisivo na concepo da rede de
relacionamento da empresa no mercado externo, pois quanto maior for a integrao da
subsidiria na rede externa do pas estrangeiro maior ser o seu grau de integrao com
a rede interna (subsidirias e matriz) da companhia multinacional e consequentemente
maior ser o grau de comprometimento tanto em termos de recursos, capacidades e
competncias da companhia no mercado externo.
A teoria das redes de relacionamento (networks) procura dar resposta a algumas
insuficincias que o modelo de Uppsala apresenta. Esta teoria traz uma viso da
empresa multinacional sobre as suas operaes no estrangeiro. Na medida em que a
empresa-me adquire mais conhecimento sobre o mercado e reduz a sua incerteza sobre
as operaes estrangeiras, ela procura alocar maiores investimentos na subsidiria, quer
em termos financeiros, como em termos estratgicos (Carvalho & Gomes, 2007).
Um outro aspeto em que a teoria das Redes ultrapassa as deficincias da escola
de Uppsala concernente distncia psquica. Esta teoria demonstra como a perceo
psquica pode afetar o processo de deciso e de seleo dos mercados, ou seja, como a
deciso de quem est no comando da operao influencia as decises estratgicas de
internacionalizao.
27
CAPTULO II
FORMAS DE ENTRADA NOS MERCADOS INTERNACIONAIS
As formas de entrada nos mercados externos, muitas vezes designadas como
estratgias de internacionalizao, compreendem diversos modos de envolvimento,
desde a exportao, licenciamento, alianas estratgicas, constituio de joint-ventures
at ao investimento direto estrangeiro.
Essas estratgias variam de acordo com as caratersticas e requisitos do mercado
no qual a empresa pretende entrar. A adequao de cada um dos modos de entrada
depende das motivaes da empresa quer para cada um dos negcios, quer para cada
pas onde se estabelece. Assim, na anlise das estratgias de internacionalizao deve-se
contemplar a razo que leva umas vezes as empresas a realizarem investimentos
greenfield, outras vezes aquisies, joint-ventures ou a preferirem mecanismos
contratuais como o franchising ou o licenciamento.
2.1- ESCOLHA DAS FORMAS DE ACESSO AOS MERCADOS EXTERNOS
Quando uma empresa decide internacionalizar-se, os gestores questionam-se
quanto aos mercados onde pretendem estar presente, s formas de entrada nesses
mercados, s opes estratgicas e polticas de marketing-mix a desenvolver, bem como
ao modo como se vo organizar as atividades de marketing internacional.
Baseando-se na literatura de marketing internacional, vrias so as abordagens
sobre as formas pelas quais as empresas entram para os mercados internacionais. Nesta
perspetiva, segundo Xavier e Turolla (2006), a abordagem dos mercados internacionais
obriga que a empresa adote quer a estratgia de concentrao no qual concentra a sua
atuao num nmero reduzido de pases, quer a estratgia de diversificao entrando
em vrios mercados, repartindo o risco e minimizando o investimento necessrio.
Na estratgia de concentrao, o objetivo da empresa alcanar uma quota de
mercado relevante. Ela pressupe um maior envolvimento da empresa, que aposta no
investimento direto com produo local. J na estratgia de diversificao, as formas de
entrada mais comuns so a exportao e o licenciamento. Neste caso, o sucesso depende
da escolha do distribuidor ou do licenciado, que normalmente so os responsveis pelo
programa de marketing.
28
A literatura internacional defende que no existe uma nica estratgia de entrada
adequada a todos os produtos e a todos os mercados. Cada estratgia de entrada parte
de um cenrio de risco, recompensa, controlo e quota de mercado, que variam de pas
para pas. A empresa deve ser flexvel quanto s opes de entrada num mercado e deve
rever periodicamente o seu progresso no mercado e as suas opes, ajustando a
estratgia de acordo com as situaes (Bettencourt, 2009).
De acordo com Viana e Hortinha (2009), as alternativas de produo no exterior
podem ser efetuadas atravs do contrato de produo, licenciamento, franchising,
transferncia de tecnologia, contratos de servio, contratos de gesto, consrcio,
alianas estratgicas, joint-ventures ou propriedade total por via de investimento direto.
O grau de envolvimento na produo e marketing no exterior depende da forma de
acesso utilizada.
Alguns autores dividem as categorias das empresas em trs grandes grupos: de
exportao, no qual se subdivide em exportao indireta e exportao direta; de formas
mistas ou relacionais, onde se encontram as empresas que usam estratgias como
licenciamento, franchising, alianas estratgicas e joint-ventures; e de investimento
direto no estrangeiro. As empresas precisam avaliar qual o potencial de lucro em cada
uma destas alternativas, de acordo com o potencial de vendas e custos associados a cada
uma destas estratgias de entrada.
O modo ou a forma de entrada pode variar bastante, a julgar pela diversidade de
atividades que os negcios internacionais apresentam. O modo de entrada no mercado
internacional tem grande importncia para a vantagem competitiva de uma empresa.
2.2- FATORES DETERMINANTES NA DECISO DE ENTRADA NOS
MERCADOS EXTERNOS
Um dos pressupostos essenciais para a operao nos mercados externos prende-
se com a definio dos modos de entrada nos mercados selecionados, pois trata-se de
uma deciso muito difcil de ser tomada. Para isso, necessrio fazer uma anlise dos
fatores polticos, econmicos, sociais, tecnolgicos e legais (anlise PESTLE) do
mercado onde se pretende entrar e consequentemente uma anlise dos fatores internos e
externos da empresa, atravs de uma anlise SWOT da empresa em questo.
Para Schneider (2002), as empresas antes de decidirem a sua entrada nos
mercados globais, devem tratar do gerenciamento das questes de marketing, da cadeia
de valor e de condicionantes que afetam esta deciso como investimento, controlo e
29
atitude da empresa face aos riscos. Desta forma, o primeiro passo da estratgia de
internacionalizao consistir em analisar como a poltica, a economia, as influncias
sociais e culturais podem afetar as relaes entre as empresas interessadas em negociar.
Este conjunto de aspetos corresponde anlise dos fatores:
a) Polticos como estabilidade e tipo de governo, liberdade de imprensa, nveis de
burocracia e corrupo, tendncias de regulao e desregulao, legislao
social e de emprego, poltica fiscal, controlo do comrcio e das tarifas,
legislao ambiental e de proteo do consumidor, bem como possveis
mudanas no ambiente poltico;
b) Econmicos como o estdio do ciclo de negcios, crescimento econmico atual
e projetado, inflao e taxas de juro, desemprego e oferta de trabalho; custos
laborais, nveis de rendimentos disponveis e de distribuio dos rendimentos,
impacto da globalizao, possveis impactos da tecnologia e de outras mudanas
na economia e/ou possveis mudanas no ambiente econmico;
c) Sociais como aspetos culturais, rcio de crescimento populacional, distribuio
por idades, cultura organizacional, atitudes em relao ao trabalho, estilo de
gesto, atitudes dos subordinados, educao, ocupao, poder de compra, nvel
de vida, questes ticas, diversidade, imigrao/emigrao, fatores tnicos e
religiosos, media, leis que podem conduzir a mudanas sociais, tendncias,
publicidades e demografia;
d) Tecnolgicos como maturidade tecnolgica, desenvolvimentos tecnolgicos,
financiamento da investigao, legislao sobre tecnologia, novas descobertas,
tecnologia de informao, internet, comunicaes globais e locais, acesso
tecnologia, licenas, patentes, potencial de inovao, substituio tecnolgica,
invenes, questes de propriedade intelectual, avanos na produo, transporte,
usos e fontes de energia, rcios de obsolescncia tecnolgica, reciclagem e
tratamentos de lixo;
e) Legais como legislao atual e futura sobre produtos e servios, processos e
rgos de regulao, regulamentao industrial especfica e regulamentao
sobre concorrncia;
f) Ambientais como ecolgicos e regulamentao ambiental.
Para Nickels e Wood depois da anlise do meio ambiente internacional pode-se
partir para a escolha da estratgia de entrada no mercado externo (Schneider, 2002).
30
Assim, a empresa pode optar por uma estratgia diferente para cada mercado alvo ou
combin-las de acordo com o seu plano para cada linha de produto.
Uma vez analisados os fatores que caraterizam o meio ambiente envolvente,
surge a necessidade de se analisar os fatores internos e externos que vo ditar a deciso
de se internacionalizar, como as foras e fraquezas da prpria empresa (fatores
internos), as oportunidades e ameaas (fatores externos). A anlise SWOT da empresa
permite avaliar qualitativa e quantitativamente a situao em que a mesma se encontra e
investigar os elementos que podem influenciar no futuro quer no interior como exterior
da empresa.
Os pontos fortes (foras) como competncia distintiva, recursos financeiros
adequados, elevada aptido para concorrer nesses mercados, boa reputao diante dos
clientes, liderana num setor de atividade no mercado, isolamento das fortes
concorrncias, vantagens de custos, vantagens competitivas, capacidade de inovao e
experincia de gesto, so fatores internos da empresa que contribuem bastante na
deciso de se expandir para os mercados externos;
Os pontos fracos (fraquezas) como a falta de uma clara direo estratgica,
posio competitiva em declnio, equipamentos e instalaes obsoletos, falta de
competncia em rea-chave, problemas operacionais internos, vulnerabilidade s
presses da concorrncia, linha de produtos bastante estreita, fraca imagem de mercado,
falta de vantagem competitiva e incapacidade para financiar alteraes de estratgias
necessrias, so fatores internos da empresa que constituem entraves na sua atuao
internacional.
Por outro lado, as oportunidades como entrar em novos mercados, alargar a
linha de produtos, diversificar os produtos relacionados, adicionar produtos
complementares, integrao vertical, aproximao a grupos estratgicos, diminuio da
rivalidade entre as empresas existentes, bem como a acelerao do crescimento do
mercado, so motivadores na atuao em mercados externos e constituem incentivos
para a atuao internacional da empresa.
Quanto s ameaas, como a facilidade de entrada de novos concorrentes,
crescimento da agressividade da concorrncia, polticas governamentais adversas,
vulnerabilidades s recesses e ciclos econmicos, o aumento do poder negocial dos
clientes e/ou fornecedores, estagnao do mercado, alterao das necessidades/gostos
dos consumidores e aumento das vendas dos produtos substitutos, constituem fatores
que obstaculizam a deciso de entrada nos mercados externos.
31
2.3- ESTRATGIAS DE INTERNACIONALIZAO
As estratgias usadas para a entrada de uma empresa no mercado externo so
mltiplas e de grande importncia no processo de internacionalizao de uma empresa
tendo em conta as especificidades de cada uma delas. Assim sendo, para escolher uma
determinada estratgia de entrada, as empresas devem segundo Martins (2008) ter em
conta a gesto do processo, que pode ser comercial, integrada, contratual e participativa;
a natureza das trocas, onde engloba o capital, servios, mercadorias e tecnologia e, por
ltimo as estratgias de ao que incluem a exportao, o licenciamento, o franchising,
a constituio de joint-ventures ou de alianas estratgicas atravs de aquisies
internacionais de empresas j existentes ou realizando novos investimentos na criao
de estruturas comerciais ou industriais, tambm chamados de investimentos direto
estrangeiro.
Para Serra, et al. (2010), na seleo do modo d