LEITURA: LAZER, PRAZER, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO QUADRO A QUADRO
autora: Jane Lopes Ferreira1
Orientador: Prof. Dr. Fábio Augusto Steyer2
RESUMO
Este artigo apresenta uma reflexão sobre a importância da leitura, sendo
que o acesso à leitura é um direito universal e é imprescindível a qualquer área do
conhecimento. Portanto, está profundamente ligada ao sucesso do ensino-
aprendizagem porque é um excelente meio de transmissão e transformação de
nossa cultura. A leitura iniciada na alfabetização deve continuar em todos os
graus do ensino, e para que isso aconteça propõe-se a aliança de um poderoso
recurso que é a utilização do gênero Histórias em Quadrinhos (HQs), pois os
desenhos atraem e despertam a imaginação e criatividade das crianças.
A criança desde cedo já observa, antecipa, interpreta, interage com o
mundo, dando significado aos seres, objetos e situações que a cercam. E dá
atenção especial a tudo que seja colorido e traga o lúdico, a fantasia para o seu
ambiente. Um dos modos de enriquecer esse processo é utilizar textos variados
que divirtam, emocionem, envolvam e a façam perceber que fala e escrita não
são línguas diferentes, mas modalidades linguísticas que se completam.
Durante a infância e a adolescência o indivíduo passa por um processo de
socialização. Aprende o que é certo e o que é errado com os pais ou professores
e começa a agir de acordo com o senso comum. A leitura só vem favorecer e
propiciar o desenvolvimento de ideias próprias, conceitos e valores.
E se faz necessário que nossos alunos adquiram as habilidades para a
escrita, e nada melhor do que ler para aprimorar estas habilidades, pois a
1 Professora de Língua Portuguesa da Rede Pública Estadual
2 Professor Doutor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
dificuldade em escrever acontece por esta falta de intimidade com a leitura que
nossas crianças estão deixando de ter .
E para que elas sejam motivadas e, nós educadores, conseguirmos
despertar o interesse de nossos alunos podemos fazer uso deste material farto
que o gênero Histórias em Quadrinhos oferece. E o seu caráter lúdico só contribui
trazendo para a sala de aula muita informação e momentos prazerosos. E as HQs
são também consideradas uma forma de arte, pois constituem um sistema
narrativo composto por dois canais (visuais e linguísticos) que atuam em
constante interação e auxiliam de maneira considerável na aprendizagem dos
conteúdos escolares, principalmente no ensino da Língua Portuguesa .
Palavras – chave: leitura, lazer, prazer, informação e conhecimento.
1 INTRODUÇÃO
“Dos homens das cavernas até hoje, a humanidade sempre se comunicou
através de desenhos.” “... A utilização de desenhos para a comunicação é um
recurso que atravessou milênios, usado por civilizações diversas, associado ou
não à linguagem verbal.” (MENDONÇA, 2002, p. 104).
Baseando-se nas características positivas das HQs e na tentativa de
demonstrar como é possível realizar um trabalho consistente com as histórias em
quadrinhos, que ultrapasse o momento da motivação lúdica, este artigo procura
mostrar e discutir as várias possibilidades apresentadas aos alunos do Ensino
Fundamental do Colégio Estadual Jardim Alegre (Rua Acácia, 195 – Bairro Jardim
Alegre - Telêmaco Borba / Pr.).
As Histórias em Quadrinhos, enquanto literatura gráfico-visual, possuem
atrativos que possibilitam uma abordagem de sua narrativa a qual é capaz de
contribuir para o desenvolvimento da capacidade de análise, interpretação e
reflexão do leitor mais jovem.
É possível perceber, através da análise dos elementos que constituem os
quadrinhos, se observados os aspectos estéticos responsáveis pela narrativa, que
estes englobam os aspectos visuais, linguísticos e até sonoros das produções
audiovisuais. Um bom exemplo disso são os recursos utilizados para a
representação da fala que ocorrem neste gênero.
No mundo contemporâneo, esta técnica narrativa, que tem como base a
junção da imagem com o texto, vem tomando proporções cada vez maiores, as
quais permitem uma materialidade de linguagem que não apenas reflete, mostra
ou ilustra uma realidade, mas que, principalmente, significa e permite interpretar a
imagem por sua expressão enquanto linguagem capaz de sugestionar, entreter ou
emocionar.
Nas histórias em quadrinhos, através da união de elementos verbais e
icônicos, pode-se perceber uma dupla articulação da linguagem. A técnica
narrativa da história em quadrinhos envolve uma organização sofisticada entre os
seus elementos visuais e linguísticos que permite acrescentar as possibilidades
de condução da mensagem e as maneiras como esta será recebida pelo
destinatário.
Os quadrinhos representam, atualmente, um dos valiosos recursos da
escrita diante dos inúmeros atrativos do audiovisual. E o leitor encontrado nas
escolas de Ensino Fundamental e Médio apresenta dificuldades para adquirir
hábitos de leitura, pois está envolvido de forma muito intensa pelos atrativos
oferecidos pelas diferentes mídias; os quadrinhos, enquanto literatura, podem se
tornar excelente material para iniciar nesta criança ou adolescente o hábito de ler
e a habilidade de interpretar.
Modernamente, o único reduto onde a leitura tem ainda a chance de ser desenvolvida é a escola. O fracasso da escola nessa área significa a morte dos leitores através dos mecanismos de repetência, evasão, desgosto e/ou frustração. A qualificação e a capacidade contínua dos leitores ao longo das séries escolares colocam-se como uma garantia de acesso ao saber sistematizado, aos conteúdos do conhecimento que a escola tem de tornar disponível aos estudantes. (SILVA, 2005, S/P)
E, a leitura, sem dúvida, desempenha um papel fundamental, necessário
tanto no individual como no coletivo: aquele que lê está contribuindo para o seu
enriquecimento pessoal e para sua compreensão do mundo. E o crescimento
econômico e social de uma nação depende em grande parte do grau de instrução
e sabedoria do seu povo.
Uma das metas básicas da Educação é o estímulo à leitura, e é por esse
motivo que desenvolver o hábito de leitura através das Histórias em Quadrinhos
é um grande benefício para depois, na elaboração do texto, estimulada a
criatividade favorece-se também a escrita. O aluno motivado, a partir daí, poderá
adquirir o hábito da leitura para toda a vida.
As Histórias em Quadrinhos, por estas várias características, são um
material educacional poderoso e um importante instrumento para transmitir
conhecimentos aos nossos alunos.
Uma razão que leva os quadrinhos a terem aprovação nas salas de aula é
a atração das crianças e adolescentes pelos desenhos e gravuras. A união de
palavras e imagens representa um recurso eficiente de ensino, um alto nível de
formação, um enriquecimento da comunicação, um auxílio no desenvolvimento do
hábito da leitura e na ampliação do vocabulário.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais ( PCN, 1997, p. 23 )
a imagem gráfica que se utiliza nas histórias em quadrinhos faz parte da nossa
história e desperta o interesse do ser humano nas várias etapas de sua vida. E as
HQs utilizando –se de figuras e textos, contribuem bastante no aprendizado das
crianças e auxiliam para que elas progridam com mais eficiência na leitura. E,
também que é um meio de comunicação que atinge a população e o gosto tanto
das crianças e quanto dos adultos. A recomendação para se utilizar este gênero
nas escolas consta do volume dos PCNs que é dedicado ao ensino da Língua
Portuguesa, pois mesmo sem terem tido contato com a leitura propriamente dita
as crianças têm condições de compreenderem a história somente pela
observação das imagens.
O Quadrinho é uma narrativa visual e verbal como o cinema e a televisão,
mas com a vantagem de ser fácil de transportar como a literatura e
aparentemente ser uma sequência fácil e óbvia; mas não é tão simples assim,
porque antes de iniciar a leitura o jovem leitor precisa tomar conhecimento de
suas características, já a sua produção não exige grandes investimentos e ainda
irá desenvolver competências verbais, visuais e lógicas, podendo tratar diversos
assuntos da pré-história aos futuros imaginários, do universo humano à vida dos
animais, da ficção ao documentário científico, da comédia açucarada ao
jornalismo de guerra.
Refletir sobre o ensino da Língua e Literatura implica pensar também as
contradições, as diferenças e os paradoxos do quadro complexo da
contemporaneidade. “Mesmo vivendo numa época denominada “era da
informação”, a qual possibilita acesso rápido à leitura de uma gama imensurável
de informações, convivemos com o índice crescente de analfabetismo funcional,
e os resultados das avaliações educacionais revelam baixo desempenho do aluno
em relação à compreensão dos textos que lê.” (DCE, 2008, p. 48)
Segundo Silva (2005, p.16) “a leitura ocupa um espaço privilegiado,
não só no ensino de língua portuguesa, mas também no de todas as disciplinas
que objetivam a transmissão de cultura e valores para as novas gerações”.
As Diretrizes assumem uma concepção de linguagem que não se
fecha “na sua condição de sistema de formas (...), mas abre-se para a sua
condição de atividade e acontecimento social, portanto estratificada pelos valores
lógicos” (Rodrigues, 2005, p.156). Dessa forma, a linguagem é vista como
fenômeno social, pois nasce da necessidade de interação (política, social,
econômica) entre os homens.
O fenômeno da leitura, por sua complexidade, deve ser estudado numa
perspectiva interdisciplinar, integrando as diferentes ciências da linguagem e da
comunicação. (ZILBERMAN, 2005)
É no processo de interação social que a palavra significa, o ato de fala é de
natureza social (BAKHTIN/VOLOCHINOV,1999, p.109). Os homens não recebem
a língua pronta para ser usada, eles penetram na corrente da comunicação
verbal, ou melhor, somente quando mergulham nessa corrente é que sua
consciência desperta e começa a operar.
De acordo com Bakthin (1992, p. 289) é através dos enunciados que o
emprego da língua se efetua, sejam eles orais e / ou escritos.
Conforme Faraco (2002, p. 101):
[...] (as artes visuais, a música, o cinema, a fotografia, semiologia gráfica, o vídeo, a televisão, o rádio, a publicidade, os quadrinhos, as charges, a multimídia e todas as formas infográficas ou qualquer outro meio linguageiro criado pelo homem), percebendo seu chão comum (são todas práticas sociais, discursivas) e suas especificidades (seus diferentes suportes tecnológicos, seus diferentes modos de composição e de geração de significados).
Para Candido (DCE, p.57) a literatura é vista como arte que
transforma/humaniza o homem e a sociedade. O autor atribui à literatura três
funções: a psicológica, a formadora e a social. [...] a literatura por si só faz parte
da formação do sujeito, atuando como instrumento de educação, ao retratar
realidades não reveladas pela ideologia dominante.
A escola, sendo a instituição responsável pela preparação de pessoas para
o mundo da escrita, tem a obrigação de oportunizar aos alunos meios que os
possibilitem sua percepção e reconhecimento – mesmo que inconscientemente –
dos elementos de linguagem que o texto manipula e nada melhor que as histórias
em quadrinhos para iniciar nossos futuros leitores e escritores.
Em nossa cultura grafocêntrica, o acesso à leitura é considerado como
intrinsecamente bom. Atribui-se à leitura um valor positivo absoluto: ela traria
benefícios óbvios e indiscutíveis ao indivíduo e à sociedade – forma de lazer e de
prazer, de aquisição de conhecimentos e de enriquecimento cultural, de
ampliação das condições de convívio social e de interação. (Zilberman/Silva,
2005, p.19)
“É preciso transformar o Brasil num país de leitores.” Ler é mais
importante que estudar... Palavra não é só a pá, é também a lavra... (ZIRALDO)
Segundo Ramos (2005, p.6) “devemos incentivar nossos alunos a ler e a
escrever em todos os dias letivos. Lendo o próprio texto ou textos alheios o aluno
passa a ter intimidade com a leitura e faz desse recurso um modo efetivo de
construir conhecimento”.
Os quadrinhos são definidos como a Arte Sequencial, ou mais conhecida
por todos como Histórias em Quadrinhos, e nada mais são do que desenhos em
sequência que narram uma história, um poema ou um conto. As HQ podem ter
balões contendo o texto e as imagens ou somente o visual.
De acordo com Vergueiro (2006, p. 20), atualmente os livros didáticos
fazem grande utilização dos quadrinhos para a transmissão de conteúdos,
abrindo caminho para sua utilização em ambiente didático, tanto como elementos
para tornar mais agradáveis as aulas como para a discussão de temas
específicos. Em muitos países, os próprios órgãos oficiais de educação
reconheceram a importância da inserção dos quadrinhos no currículo escolar,
desenvolvendo orientações específicas para isso (no Brasil isso ocorreu na LDB,
Lei de Diretrizes e Bases, e nos PCN Parâmetros Curriculares Nacionais).
De fato, há vários motivos que levam os quadrinhos a terem bom
desempenho nas salas de aula, destacando-se:
• Os estudantes querem ler os quadrinhos – as histórias em quadrinhos
aumentam a motivação dos estudantes para o conteúdo das aulas, aguçando sua
curiosidade e desafiando seu senso crítico.
• Palavras e imagens, juntos, ensinam de forma mais eficiente – a
interligação do texto com a imagem, existente nas histórias em quadrinhos,
amplia a compreensão de conceitos de uma forma que qualquer um dos códigos,
isoladamente, teria dificuldades para atingir.
• Existe um alto nível de informação nos quadrinhos – as revistas de
histórias em quadrinhos versam os mais diferentes temas, sendo facilmente
aplicáveis em qualquer área.
• As possibilidades de comunicação são enriquecidas pela
familiaridade com as histórias em quadrinhos – devido aos variados recursos
da linguagem quadrinhística – como o balão, a onomatopeia, os diversos planos
utilizados – os estudantes têm acesso a outras possibilidades de comunicação
que colaboram para seu relacionamento familiar e coletivo.
• Os quadrinhos auxiliam no desenvolvimento do hábito da leitura.
• Os quadrinhos enriquecem o vocabulário dos estudantes – na medida
em que tratam de assuntos variados, introduzem sempre palavras novas aos
estudantes, cujo vocabulário vai ampliando.
• O caráter elíptico da linguagem quadrinhística obriga o leitor a pensar
e imaginar – os estudantes são constantemente instados a exercitar o seu
pensamento, complementando em sua mente os momentos que não foram
expressos graficamente dessa forma desenvolvendo o pensamento lógico.
• Os quadrinhos têm caráter globalizador – por serem veiculadas no
mundo inteiro, as revistas de histórias em quadrinhos trazem normalmente
temáticas que têm condições de ser compreendidas por qualquer estudante, sem
necessidade de um conhecimento anterior específico ou familiaridade com o
tema, seja ela devida a antecedentes culturais, étnicos, lingüísticos ou sociais.
• Os quadrinhos podem ser utilizados em qualquer nível escolar e com
qualquer tema – a grande variedade de títulos, temas e histórias existentes
permite que qualquer professor possa identificar materiais apropriados para sua
classe de alunos, sejam de qualquer nível ou faixa etária, seja qual for o assunto
que deseje desenvolver com eles.
Todos os pontos acima, mencionados por Vergueiro no livro “Como usar as
histórias em quadrinhos na sala de aula” (2006, p. 21, 22 e 23) e citados no
Trabalho PDE 2008 de Ruth Schwichtemberg de Camargo levam ao
aproveitamento das histórias em quadrinhos no ensino. Outros poderiam ser
apontados, mas, mais do que listá-los, basta apenas salientar a grande vantagem
que os quadrinhos têm sobre outras mídias: sua acessibilidade e baixo custo.
Mesmo neste momento, início do século 21, quando a indústria dos quadrinhos
está muito longe das tiragens astronômicas que atingiu no seu período de maior
popularidade, pode-se dizer que sua disponibilidade é um fator ainda
incontestável, fazendo de sua aplicação em ambiente didático uma possibilidade
viável e proveitosa para alunos e professores.
Os quadrinhos são, sem dúvida, um riquíssimo material de apoio didático.
Sendo bem trabalhados, trarão ótimos resultados no desenvolvimento da leitura e
escrita.
Segundo Eisner (1999, p.7), quando se examina uma obra em quadrinhos
como um todo, a disposição de seus elementos específicos assume a
característica de uma linguagem. As histórias em quadrinhos comunicam numa
“linguagem” que se vale da experiência visual comum ao criador e ao público.
Pode-se esperar dos leitores modernos uma compreensão fácil da mistura
imagem-palavra e da tradicional decodificação de texto. A história em quadrinhos
pode ser chamada “leitura” num sentido mais amplo que o comumente aplicado
ao termo. No emprego habilidoso de palavras e imagens encontra-se o potencial
expressivo do veículo.
Eisner (1999, p. 7) ainda salienta a função fundamental da arte dos
quadrinhos (tira ou revista), que é comunicar ideias e/ou histórias por meio de
palavras e gravuras, envolve o movimento de certas imagens (tais como pessoas
e coisas) no espaço. Para lidar com a captura ou encapsulamento desses
eventos no fluxo da narrativa, eles devem ser decompostos em segmentos
sequenciados. Esses segmentos são chamados quadrinhos.
Para Umberto Eco (2006, p. 9, 12, 63) qualquer narrativa de ficção é
necessária e fatalmente rápida porque, ao construir um mundo que inclui
multiplicidade de acontecimentos e de personagens, não pode dizer tudo sobre
esse mundo. Alude a ele e pede ao leitor que preencha toda uma série de
lacunas. Sustenta a ideia de que os textos são máquinas preguiçosas que
necessitam, a todo momento, da cooperação dos leitores. Dessa forma, Eco
procura compreender quais são os aspectos mais relevantes que atuam durante
a atividade interpretativa dos leitores, observando os mecanismos que
engendram a cooperação interpretativa, ou seja, o “preenchimento” de sentido
que o leitor faz do texto, procurando, ao mesmo tempo, definir os limites
interpretativos a serem respeitados e os horizontes de expectativas gerados pelos
próprios textos, em confronto com o contexto em que se insere o leitor.
2 DESENVOLVIMENTO
O termo “história em quadrinhos” é relativamente recente, pois foi somente
no século XVIII que as imagens em sequência ganharam uma narrativa escrita.
Elas podem retratar diversos aspectos do cotidiano e são as mais eficientes
alianças da literatura com as artes visuais. A arte sequencial, outro nome da
história em quadrinhos, é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o
objetivo de narrar histórias dos mais variados estilos. As HQs são editadas no
formato de revistas, livros ou em tiras publicadas em revistas e jornais. São
conhecidas como comics nos Estados Unidos, bandes dessinées na França,
Fumetti na Itália, tebeos na Espanha, historietas na Argentina, muñequitos em
Cuba e mangás no Japão. Diferentemente de todas as narrativas visuais
sequenciais que antecederam as HQs ao longo da cultura humana, como as
pinturas de parede de cavernas, as histórias em quadrinhos são desenhos e
textos feitos para serem lidos como reprodução impressa.
A manifestação da HQ é algo remoto, pois desde a pré-história o homem
de Cro Magnon retratava suas experiências de caças e crenças nas paredes das
cavernas; depois, vieram as escritas dos assírios e dos babilônicos, até que, nas
pirâmides do Egito , foram reproduzidas imagens das batalhas, de cerimônias
religiosas e da vida dos faraós. Também os gregos, em seus palácios e casas,
gostavam de fazer desenhos em alto-relevo, e foi assim que a civilização
conheceu as Olimpíadas – através de histórias desenhadas nos vasos e nas
estátuas gregas. Há também, os quadros da Via Sacra, a história de Jesus Cristo,
que podem ser encontrados em todas as igrejas católicas, bem como outras
narrativas figuradas em estandartes chineses, tapeçarias medievais, vitrais
góticos. O que não deixa de ser uma história em quadrinhos, uma sequência
lógica de desenhos criada por Will Eisner, por exemplo, para definir o arranjo de
imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma idéia. Os comics
modernos começaram a aparecer em 1889 na frança e em 1896, com a forma
atual, nos EUA.
As HQs são narrativas que possibilitam aos seus autores o questionamento
da realidade observada, permitindo a eles, dessa forma, construir críticas dos
vários temas que compõem uma sociedade, sugerindo, então, que o leitor
perceba tais situações, de modo a levá-lo a desenvolver a própria opinião. Há
também uma versão resumida das HQs, as tiras. As tiras de quadrinhos
representam jogos interativos explícitos como as HQs, só que em versão mais
resumida, pois são produzidas em um, dois, três ou, no máximo, quatro
quadrinhos. Na composição dos personagens e na construção das histórias, com
intenção quase sempre de fazer crítica, o autor parte do jogo interativo entre os
personagens para produzir humor e denunciar ou criticar atuações ou
comportamentos de elementos da sociedade. Nas histórias em quadrinhos
podemos encontrar muitos personagens que apresentam diversos assuntos como
política, educação, discriminação, entre outros.
O ensino de Língua Portuguesa para o ensino Fundamental e Médio no
Brasil enfrenta várias dificuldades. Existe um grande desinteresse dos alunos na
aprendizagem. A leitura que a escola propõe aos alunos, na maioria das vezes,
não tem qualquer sentido para eles, pela maneira como é trabalhada. Para que o
ensino seja produtivo é preciso que as aulas de Língua Portuguesa tragam o
lúdico, a vida e a sociedade para dentro da sala de aula através de diversos
textos e mídias que nela circulam.
Como tornar a leitura um momento prazeroso e reconhecê-la como fonte
de entretenimento, informação e conhecimento?
Como desenvolver as histórias em quadrinhos em sala de aula?
Como estimular essa prática de leitura?
Como auxiliar o desenvolvimento de habilidades de atenção e observação
usando os quadrinhos?
Partindo desses critérios de escolhas de textos, introduziu-se o gênero
Histórias em Quadrinhos no ensino de Língua Materna. E as Histórias em
Quadrinhos (HQs) são um gênero que despertam grande interesse dos alunos,
porque interligam o texto e a imagem, ampliando assim a compreensão de
narrativas. Os aspectos visuais são bem recebidos pelos alunos, dessa forma, o
professor tem acesso a esse suporte pedagógico, para o ensino de Língua
Portuguesa.
As histórias em quadrinhos aumentam a motivação dos alunos para o
conteúdo das aulas, estimulando sua curiosidade e despertando seu senso
crítico. Além disso, podem ser utilizadas tanto como reforço a pontos específicos
do programa como para propiciar exemplos de aplicação dos conteúdos teóricos
desenvolvidos em aula. Pode-se acrescentar que as histórias em quadrinhos
auxiliam no desenvolvimento da leitura, enriquecem o vocabulário dos estudantes
e podem ser utilizadas em qualquer nível escolar com qualquer tema. Dessa
forma nota-se o papel importante que as HQs desenvolvem no processo de
ensino e aprendizagem.
Com o objetivo de introduzir o gênero Histórias em Quadrinhos nas
produções nossos alunos e despertar o interesse pela leitura foi apresentada a
proposta na turma da sexta série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual
Jardim Alegre, em Telêmaco Borba, que consistiu primeiramente em trabalho em
sala de aula envolvendo os quadrinhos e as tirinhas de personagens como Chico
Bento, Mônica e sua turma, Calvin, Hagar, entre outros. Apresentado um texto e
um vídeo que retrata e relatou o histórico do surgimento da História em
Quadrinhos e a sua importância, leram revistas (gibis) e textos envolvendo HQs
(notícias, curiosidades, indicação de sites para pesquisa), leitura e análise de
histórias em quadrinhos (Livro didático Araribá Português (Ensino Fundamental) –
6.ª série), estudo dos principais elementos (Linguagem verbal e visual, quadro,
balões, legenda, onomatopeias, metáforas visuais, etc.), tipos de histórias,
enfocando a linguagem utilizada nas HQ, a intertextualidade, as vozes presentes
no texto e a dialogicidade.
Além das atividades acima citadas, ainda foram desenvolvidas por nossos
alunos na sala de aula:
• continuação de uma HQ;
• preencher balões sobre um texto lido;
• análise de personagens no texto narrativo (personagens principais e
secundárias);
• caracterização de personagens (traços físicos, sentimentos,
comportamentos);
• tipos de narrador (narrador-personagem, narrador-observador);
• criação de uma personagem de histórias em quadrinhos e uma tira em que
ela seja o protagonista;
• Produção de uma HQ obedecendo uma sequência lógica de diálogo com
personagem e fala;
• Assistiram vídeos com desenhos animados como “A cigarra e a formiga”,
em seguida, leram as fábulas “A cigarra e a formiga” em suas várias versões e,
também “A formiga e o grão de trigo”;
• Os alunos leram outras fábulas, piadas e as transformaram em Hqs;
• Em seguida, o trabalho desenvolvido com nossos alunos aconteceu no
laboratório de informática, através de uma oficina em que eles produziram suas
próprias Histórias em Quadrinhos e as apresentaram aos colegas da sua sala e
expuseram no mural para os alunos de outras salas do nosso Colégio;
• Apresentaram-se aos alunos das quintas séries dramatizando algumas
Histórias em Quadrinhos.
As atividades que foram propostas e trabalhadas pelos nossos alunos em
sala de aula, na biblioteca e no pátio do Colégio Estadual Jardim Alegre
propiciaram a eles momentos de conhecimento, lazer, prazer e grande
encantamento pela leitura das histórias em quadrinhos, muitos dos alunos, que
participaram, continuam visitando a biblioteca e emprestando os clássicos,
atualmente, editados em quadrinhos. Algumas das atividades desenvolvidas
pelos alunos estão anexadas no final deste artigo.
E para que o trabalho com a turma acontecesse de forma ainda mais
eficiente foi produzido um material, o qual foi utilizado na implementação
(aplicação do trabalho com os alunos na escola).
Paralelo à implementação, no Colégio Estadual Jardim Alegre, aconteceu o
GTR (Grupo de trabalho em rede), onde os professores da rede pública estadual
participaram do programa refletindo, debatendo sobre todas as ações e
atividades propostas e contribuindo intensamente com o projeto tanto no
desenvolvimento quanto na implementação deste. E estes professores relataram
algumas experiências desenvolvidas com a utilização das HQs nas suas salas de
aula em diversas localidades do nosso Estado. Todos foram unânimes ao afirmar
que as histórias em quadrinhos são valiosas para os alunos das séries iniciais por
unirem os aspectos linguísticos, visuais e sonoros, além de motivarem bastante
os educandos, favorecerem à leitura, à escrita, à produção e dramatização de
textos, portanto auxiliando o ensino- aprendizagem em nas escolas.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A leitura é feita de maneiras diversas e, desde cedo, as crianças aprendem
a ler o mundo que as cerca e os pequenos são capazes de ler mesmo sem terem
ainda sido alfabetizados, pois reconhecem as figuras, cores e os personagens
que gostam como, por exemplo, aqueles dos desenhos animados que costumam
assistir em suas séries preferidas ou muitos desses personagens são os
protagonistas de vários filmes que saíram dos quadrinhos e invadiram as telonas.
E, quando as crianças crescem, as histórias em quadrinhos são ótimas por
ofertarem humor, cor e uma sequência da história, o que dá a esta criança uma
percepção narrativa. Por estas múltiplas características as HQs são um
extraordinário recurso para formar leitores de outros livros.
Atualmente, muitos professores estão recorrendo às HQs como um meio
de incentivar a leitura e estão alcançando resultados primorosos, pois nossos
alunos demonstram grande interesse por este gênero e, assim, estimulados,
acabam despertando o gosto pela leitura e passam a buscar por outros gêneros.
Laerte Coutinho é um dos maiores cartunistas do Brasil e, segundo ele,
(revistatpm.uol.com.br/so-no-site/entrevistas/Laerte-coutinho.html) as histórias em
quadrinhos foram mais que úteis em sua formação e não foram benéficas só do
ponto de vista de leitura, mas também pelo aprendizado da língua que oferece
possibilidades narrativas com imagem, pela importância simbólica de certas
figuras, de construção de roteiros, etc. atualmente, foram editados em
quadrinhos.
As Histórias em Quadrinhos (HQs), um rico e fascinante universo,
contribuem significativamente com o trabalho em sala de aula, pois possuem
todos os recursos necessários para despertar, estimular o gosto das crianças,
adolescentes e até mesmo dos adultos para o mundo mágico da leitura.
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