Licenciatura em Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria e
Multimédia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Técnicas de Expressão Jornalística I – Televisão
Prof.ª Helena Lima
KOREAN CENTRAL
TELEVISION
A história e desenvolvimento da televisão norte-coreana
Por Diogo Azeredo e Pedro Maia, Turma 2
Técnicas de Expressão Jornalística I – Televisão Korean Central Television: a história e desenvolvimento da televisão norte-coreana
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Por Diogo Azeredo e Pedro Maia, Turma 2 Abril de 2012
Índice ........................................................................................................................ 1
Introdução .............................................................................................................. 2
Korean Central Television ................................................................................ 3
o Contextualização histórica ................................................................ 3
o Dos primórdios à atualidade ............................................................ 5
o A Evolução do Telejornalismo ....................................................... 12
Conclusão .............................................................................................................. 17
Referências Bibliográficas .............................................................................. 18
o Imagem 1: Olimpíadas de Berlim, 1936 – A primeira transmissão
televisiva da história ........................................................................................... 3
o Imagem 2: “Liberation Tower”, a torre de televisão da KCTV em
Pyongyang ............................................................................................................... 5
o Imagem 3: Imagens de publicidades norte-coreanas retiradas do ar
..................................................................................................................................... 9
o Imagem 4: Ficha de Teste da KCTV e a Philips PM5544, utilizada a
nível global ........................................................................................................... 11
o Imagem 5: Comparação dos cenários e pivots dos noticiários da
KCTV em 1980 e 2005...................................................................................... 13
o Imagem 6: Cenário atual do noticiário da noite da KCTV .................. 13
o Imagem 7: Print de 2005 do VOD da KCTV no site oficial da Coreia
do Norte ................................................................................................................. 15
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Por Diogo Azeredo e Pedro Maia, Turma 2 Abril de 2012
Este trabalho, no âmbito de TEJ – Televisão, tem como principal
objetivo o estudo da história e evolução de um canal televisivo mundial.
A nossa escolha recaiu sobre a análise da Korean Central
Television (KCTV), visto ser uma estação televisiva relativamente
desconhecida no panorama mundial.
Pela facto desta ser um canal estatal, é relevante analisar os
pontos convergentes entre a KCTV e o poder político norte coreano e
referir no que é que a política influencia a programação e a identidade
da estação.
A República Democrática Popular da Coreia é um estado
unipartidário, liderado pelo Partido dos Trabalhadores da Coreia. O
governo deste país é seguidor da ideologia Juche, promovida por Kim Il-
Sung, ex-líder da nação, na política e na educação desde 1955. Esta
defende que o homem é o guia da revolução e que as massas populares
são donas do mundo e do seu próprio destino. Então, constata-se que a
Coreia do Norte é uma república socialista ainda que considerada por
muitos no mundo como sendo uma ditadura totalitarista estalinista.
Deste modo, e tal como acontece em muitos outros países, este
regime totalitário viu-se na necessidade de estabelecer contacto com os
norte-coreanos, influenciando-os ideologicamente, utilizando uma
estação de televisão para promover a história e os ideais pelos quais o
país se rege. É neste contexto que surge a Korean Central Television em
1963, a principal fonte de informação oficial da nação.
Com efeito, neste trabalho iremos destacar alguns dos elementos
caracterizadores desta estação, nomeadamente o contexto em que
surgiu, história, evolução, identidade, programação na atualidade e o
desenvolvimento do telejornalismo na KCTV e, portanto, em toda a
Coreia do Norte.
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o CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Quando em 1928 surgiu em Nova York, nos Estados Unidos, a
primeira “pastilha elástica dos olhos” da história, como chamou Frank
Lloyd Wright à televisão, a República Democrática Popular da Coreia
estava a décadas de ter essa denominação e o avanço tecnológico
necessário para idealizar tal invenção. Mesmo em 1935, quando a
Alemanha criou o primeiro serviço de televisão pública, inicialmente
com o intuito de transmitir as Olimpíadas de Berlim, a primeira grande
transmissão da história, a península coreana continuava sob domínio do
Império Japonês e completamente distanciada do conceito de televisão.
IMAGEM 1: OLIMPÍADAS DE BERLIM, 1936 – A PRIMEIRA TRANSMISSÃO TELEVISIVA DA HISTÓRIA
Apenas com o final da Segunda Guerra Mundial, quando a
televisão ganhou grande popularidade devido aos avanços tecnológicos
e económicos que o mundo presenciou, e com a capitulação nipónica
que resultaria, posteriormente, na formação da Coreia do Norte, é que
se começa a falar das potencialidades da “caixa mágica” em Pyongyang.
Em 1948, Kim Il-Sung, o eterno líder da Coreia do Norte, assume
o cargo de primeiro-ministro e expõe a sua visão sobre o
desenvolvimento das transmissões televisivas e da sua importância na
DPRK. A figura máxima e incontornável da história norte-coreana
reconheceu a importância do poder da imprensa para mover o povo
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norte-coreano, espalhar a sua ideologia Juche e para confundir e
alarmar a Coreia do Sul e os seus aliados ocidentais. Kim Il-Sung
afirmou por diversas ocasiões, em declarações a repórteres e
jornalistas, a necessidade duma educação do jornalismo para
corroborar e ajudar a Coreia do Norte com os seus objetivos. Iniciava-se
a era da Televisão para lá do Rio Amnok.
Em 1954, enquanto a televisão a cores surgia nos Estados Unidos
da América, a Coreia do Norte tinha realizado a sua primeira
transmissão televisiva de teste em setembro do ano anterior. Contudo,
devido às consequências adversas da posterior Guerra da Coreia (1950-
1953), o capital e as matérias-primas não eram suficientes para a
construção das infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento da
televisão no país. A guerra causou estragos em por todo o território e as
pessoas concentraram as suas energias na reabilitação do pós-guerra.
Após oito anos de tentativas e erros, Pyongyang realizou uma
nova emissão teste, muito mais séria que a anterior, a setembro de
1961. Através deste teste, os obstáculos ao desenvolvimento da
televisão norte-coreana foram derrubadas e o país actualizou as suas
capacidades de edição e habilidade técnica.
Finalmente, a Korean Central Broadcasting System da República
Democrática Popular da Coreia foi estabelecida, composta por
emissoras de rádio e uma estação televisiva estatal: a Pyongyang
Broadcasting Network (PBN), mais tarde designada por Korean
Central Television (KCTV). Esta começou a transmitir formalmente a 3
de março de 1963, com quase duas décadas de atraso
comparativamente ao aparecimento da BBC no Reino Unido, quinze
anos depois do nascimento da NBC nos Estados Unidos e quase oito
após a constituição da RTP por iniciativa do governo português, a 15 de
Dezembro de 1955.
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o DOS PRIMÓRDIOS À ATUALIDADE
A Korean Central Television é a estação de notícias estatal da
Coreia do Norte e a única fonte oficial de notícias para os norte-
coreanos. Está localizada na capital do país e a sua torre de transmissão,
conhecida como “Liberation Tower”, construída em abril de 1967 para
aumentar o alcance das transmissões, atinge os 200 metros de altura e é
um dos pontos turísticos do país. Existem também outras estações
secundárias localizadas em cidades importantes, como Chngjin,
Kaesong, Hamhng, Haeju, e Siniju.
IMAGEM 2: “LIBERATION TOWER”, A TORRE DE TELEVISÃO DA KCTV EM PYONGYANG
Desengane-se no entanto quem pensa que a KCTV é o único
canal televisivo da Coreia do Norte. Como se pode constatar pela lista
oficial de estações televisivas publicada pela CIA, existem ainda mais
três estações no país:
o “Mansudae Television”, fundada em dezembro de 1973, canal
cultural, unicamente disponível na capital e que se distingue por
exibir filmes estrangeiros adaptados, informação sobre as atuais
relações internacionais e as tendências do desenvolvimento
tecnológico.
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o “Korean Educational and Cultural Network”, que transmite
programas informativos que ajudam os trabalhadores a aumentar
os seus níveis de conhecimento sobre ciência, tecnologia e cultura
e a cultivar o seu espírito de identidade nacional e de patriotismo.
o “Kaesong Television”, aberta em 1971, canal de propaganda que
tem como alvo os sul-coreanos residentes no complexo industrial
da cidade de Kaesong.
Contudo, é a Korean Central Television que se assume como a
principal estação televisiva do país e o único canal transmitido fora da
capital norte-coreana, alcançando toda a nação.
Como anteriormente foi referido, a KCTV foi oficialmente
lançada a 3 de março de 1963 como Pyongyang Broadcasting Network.
A PBN manteve esta designação por aproximadamente dez anos, até 3
de janeiro de 1973, quando foi relançada às 17h00 locais.
Após o início das transmissões de televisão, os programas de
transmissão em direto espalharam-se rapidamente. Assim, em outubro
de 1970, ainda como PBN, a KCTV conquistava a sua primeira grande
vitória: cobriu ao vivo todos os procedimentos do 5º Congresso Partido
dos Trabalhadores da Coreia. Este sucesso nas transmissões em abriu
também um novo caminho para espalhar a TV em todo o país.
Intensificaram-se os trabalhos para fornecer equipamentos
como câmaras de estúdio de gravação e carros para a afinação de
transmissões. Como resultado do trabalho de construção de torres de
retransmissão de televisão por todo o território, o televisionamento de
todo o país foi realizado no início de 1970. A KCTV tinha assim a
capacidade para atingir todos os cantos da República Democrática
Popular da Coreia.
Ainda assim, apesar do poder de alcance de transmissão fosse
extenso, o alcance da KCTV ainda hoje se encontra muito limitado pela
reduzida quantidade de aparelhos de televisão no país. A maior parte da
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população norte-coreana é constituída por camponeses que vivem na
miséria e para os quais uma televisão é um luxo que não podem
suportar. É estimado que o número total de aparelhos de televisão em
uso na Coreia do Norte, no início da década de 90, rondasse os 250 000.
Nos dias de hoje, de acordo com recentes estatísticas da UNdata, apenas
55 a cada 1000 norte-coreanos têm uma televisão no seu lar. Estima-se
que existam 1,2 milhões televisores no país de mais de 23 milhões de
habitantes. Adicionalmente, a maior parte dos norte-coreanos que
possuem televisões vivem em cidades.
Em abril de 1974, iniciaram-se as transmissões televisivas a cor,
usando o sistema PAL, curiosamente, seis anos antes das emissões a
cores começarem a ser regulares na RTP. Inicialmente, a maior parte
dos televisores, quer a cores, quer a preto e branco, eram importados e
de fabrico japonês e tinham uma marca norte-coreana sobreposta. A
partir de 1980 começaram a ser produzidos localmente televisores a
preto e branco de 19 polegadas.
O seu sistema televisivo PAL é incompatível com o sistema NTSC
sul-coreano, não possibilitando que programas da Coreia do Sul possam
ser recebidos na Coreia do Norte. Contudo, o contrário já não se verifica.
Em outubro de 1999, a Korean Central Television começou a
retransmissão de comunicação por satélite. Sensivelmente uma década
depois, no final de outubro de 2010, moveu-se para o satélite Thaicom-
5, alterando a sua frequência de 3504MHz H para 3695MHz H. A KCTV
estava a transmitir no seu trasponder atual desde 2007, data em que o
Thaicam-5 foi lançado. Devido às semelhantes características de ambos
os satélites, os equipamentos de recepção não necessitaram de ser
alterados. O raio de alcance do Thaicom-5 cobre toda a Ásia, o Médio
Oriente e grande parte da Europa, ainda que com um sinal muito fraco.
Assim sendo, graças à intercepção do sinal via satélite, as
transmissões da Korean Central Television podem ser facilmente
acompanhadas na Internet, através de live streaming promovido por
desertores norte-coreanos a viver na Coreia do Sul. Os jornalistas
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desertores norte-coreanos, tal como se pode ler em “North Korean
Defectors: A Window into a Reunified Korea”, publicado na “Korea
Briefing 2000-2001: First Steps Toward Reconciliation and
Reunification”, desempenham cada vez mais um papel único na
compreensão e estudo do universo paralelo da Coreia do Norte, visto
oferecerem uma rara visão de um país onde a maior parte dos
jornalistas estrangeiros são incapazes de entrar, quanto mais ter acesso
a informações pertinentes e importantes.
Inicialmente, na década de setenta, as transmissões da KCTV
aconteciam apenas durante uma hora por semana. Em 1980,
começaram a transmitir das 19h00 às 21h00 nos dias úteis, encerrando
nos fins-de-semana e feriados nacionais. Somente em 1982 é que as
emissões passaram a ser realizadas todos os dias, inclusive nos feriados
nacionais. De 1987 a 1992, o tempo de transmissão aumenta uma hora e
passa a ser realizado das 19h00 às 22h00.
Atualmente, e desde 1992, as transmissões da KCTV são de seis
horas a seis horas e meia por dia (17h00 – 23h00/23h30), excepção
feita para os eventos de emergência na Coreia do Norte que possam
surgir durante a noite ou de dia. Aí a estação abre sem qualquer aviso
prévio, permanecendo aberta até ao final do evento e ao regresso à
normalidade.
Apesar de oferecer inúmeros blocos noticiosos e reportagens ao
longo das horas de emissão, a Korean Central Television pode ser
classificada como um canal não de informação mas generalista. A
estação também proporciona aos telespectadores norte-coreanos
programas de entretenimento, como concursos musicais, comédias,
combates de wrestling norte-coreanos, ou até mesmo dramas que na
Ásia possuem grande popularidade. Também são frequentes as
transmissões de programas infantis com elevado conteúdo
propagandístico, jogos de futebol da liga e da selecção norte-coreana,
quer masculina, quer feminina.
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O resto da programação da estação é dominado por noticiários e
programação de propaganda com foco na história e conquistas do
Partido dos Trabalhadores da Coreia, no Exército Popular Coreano
(KPA), na família Kim e na ideologia Juche, ideologia oficial do país que
está inclusive representada no logótipo da estação, desenhado em 1996,
através do fogo da Torre Juche, um dos símbolos do país. Como acontece
com a maioria da propaganda, a precisão desses acontecimentos nem
sempre é credível, distorcendo muitas vezes os factos em favor do
enaltecimento do governo. Outros programas sobre temas como saúde,
educação, política e cultura também estão no ar.
Os programas não têm tempo definido, ou seja, a programação
não está indexada a cada meia hora ou hora. Embora o início de
programas em horários inusitados seja um procedimento padrão,
mesmo em canais de televisão europeus, presume-se que tal não se
verifique na KCTV devido à abolição da publicidade no canal.
Em setembro de 2009, a televisão estatal norte–coreana
abandonou o “estilo capitalista comercial” após o então líder supremo,
Kim Jong–Il, ter expressado a sua contestação perante os anúncios que
começaram a aparecer na Korean Central Television no início de Julho.
De acordo com a agência de notícias Yonhap, Kim comparou a
publicidade exibida pela estação com as mesmas que surgiram na China
quando esta começou com as suas reformas e aberturas ao exterior, há
três décadas atrás. O “Querido Líder” opunha-se fortemente às
sugestões de que a Coreia do Norte deve seguir os passos da China. Cha
Sung-Su foi demitido do cargo de chefe da estação a 31 de outubro do
mesmo ano.
IMAGEM 3: IMAGENS DE PUBLICIDADES NORTE-COREANAS RETIRADAS DO AR
Na página seguinte apresentamos uma grelha típica de um dia de
transmissão na Korean Central Television:
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o 16h15 – Ficha de Teste com um relógio a marcar o tempo.
o 17h00 – Hino nacional, abertura da emissão, músicas do “Grande
Líder” Kim Il-Sung, seguidos da grelha da programação do dia.
o 17h10 – Bloco de Notícias da Tarde da KCTV.
o 17h20 – Boletim Meteorológico.
o 17h30 – Revisão dos jornais diários.
o 17h45 – Comédia norte-coreana.
o 18h00 – Documentário noticioso, geralmente de índole política.
o 18h20 – Programa educacional.
o 18h30 – Música da Coreia do Norte.
o 18h50 – Programa infantil.
o 19h00 – Eventos/Acontecimentos especiais.
o 19h40 – Drama norte-coreano.
o 20h00 – Bloco de Notícias do Horário Nobre da KCTV.
o 20h20 – Boletim Meteorológico.
o 20h30 – Filme/Teatro sobre a Guerra da Coreia.
o 22h30 – Programa de desporto.
o 23h00 – Bloco de Notícias da Noite da KCTV.
o 23h20 – Boletim Meteorológico.
o 23h25 – Música da Coreia do Norte.
o 23h30 – Programação para o dia seguinte, anúncio do fim de
emissão e exibição da bandeira da Coreia do Norte.
o 23h35 – Fade out e ficha de teste.
Desde o encerramento da emissão até ao retomar da mesma, a
KCTV exibe uma ficha de teste com barras de cores EBU e,
curiosamente, muito semelhante à ficha de teste Philips PM5544,
utilizado nas televisões um pouco por todo o mundo. A única grande
diferença prende-se com a exibição do fogo da Torre Juche, um dos
grandes símbolos nacionais.
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IMAGEM 4: FICHA DE TESTE DA KCTV E A PHILIPS PM5544, UTILIZADA A NÍVEL GLOBAL
A transmissão inicia-se às 17h00, com o hino nacional do país
acompanhado de imagens do Monte Baekdu e do seu lago vulcânico,
Heaven Lake, localizado na fronteira da Coreia do Norte com a China.
Surge de seguida a bandeira do país e o monumento de Chollima, a
estátua de um cavalo voador mitológico similar a Pegasus que
representa o espírito lutador do povo coreano.
Posteriormente, um locutor aparece dando as boas vindas aos
telespectadores e anunciando um novo dia de emissão. Segue-se a
canção do General Kim Il-Sung enquanto uma bandeira vermelha com o
retrato do falecido presidente surge na tela. Por fim, a interpretação do
mesmo tema pela banda militar. Toda esta sequência de abertura tem
mais de seis minutos e repete-se diariamente.
O fecho da emissão do dia acontece por volta das 23h30 com
uma visualização ampliada da programação do dia seguinte seguido por
um anúncio de encerramento, com a bandeira da Coreia do Norte no
fundo da emissão.
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o A EVOLUÇÃO DO TELEJORNALISMO
Os media da Coreia da Norte são dos mais rigorosamente
controlados no mundo. Apesar da constituição norte-coreana prever a
liberdade de expressão e de imprensa, na prática, o governo proíbe o
exercício desses direitos. A liberdade de expressão e imprensa é apenas
concedida quando se trata da divulgação de notícias a favor do regime
vigente. Em 2010, a “Reporters Sans Frontieres”, organização não-
governamental internacional cujo objectivo declarado é defender o
direito de informar e ser informado em todo o mundo, classificou, no
seu anual Índice de Liberdade de Imprensa, o ambiente repressivo dos
media na Coreia do Norte em 172º de 173, atrás apenas da Eritreia.
Apenas as notícias que exaltem a nação são permitidas, enquanto
outras que cubram os problemas políticos e económicos do país ou que
critiquem o regime, são imediatamente reprimidas. Os media defendem
o culto à personalidade de Kim Sung-Il e de toda a família Kim,
relatando diariamente todas as atividades do atual homem-forte do
país, Kim Jong-Un, através de blocos noticiários, documentários e filmes
de conteúdo propagandístico.
Para além da promoção das ideologias do regime e da
condenação regular das ações da Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos e
outras nações, ao longo dos últimos anos, os noticiários da KCTV têm
condenados igualmente as Nações Unidas e a sua posição contra o
programa nuclear do país. Nos últimos anos, os media norte-coreanos
retratam o resto do mundo como um “ inimigo”, afirmando que todas as
nações estrangeiras, incluindo a Rússia e a China, o seu maior aliado
económico da atualidade, estão a conspirar contra o regime.
Em julho de 2005, o KBS (Korean Broadcasting System), estação
televisiva sul-coreana, noticiava que a Korean Central Television estaria
a começar a mudar. O primeiro sintoma foi o aparecimento de inéditos
panos de fundo nos programas noticiosos.
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Após maio de 2005, a estação passou a alternar imagens da
cidade de Pyongyang e do Rio Daedong, que atravessa a capital norte-
coreana, com fundos em madeira tradicional. Até então, o pano de fundo
do locutor era uma tela de cor azul escura, sólida e monótona, sem
Uquaisquer imagens ou grafismos. m grande plasma passou igualmente
a constar no estúdio de notícias, sendo usado para ilustrar questões
particulares, indo ao encontro daquilo que se faz no resto do mundo.
IMAGEM 5: COMPARAÇÃO DOS CENÁRIOS E PIVOTS DOS NOTICIÁRIOS DA KCTV EM 1980 E 2005
Em março de 2012, a KCTV voltaria a actualizar o visual do seu
noticiário da noite. As mudanças seriam pequenas, mas representariam
uma nova evolução no estilo de apresentação do canal. Neste novo
formato, os pivots surgem à frente de um fundo computorizado. Um
gráfico em caixa surge por cima do ombro direito ou esquerdo do
jornalista, onde passam imagens para acompanhar a história, que
substituiu o grande plasma anteriormente colocado no estúdio. Este
estilo, que se tornou completamente padrão nos blocos noticiosos das
estações de todo o mundo, só agora alcançou notoriedade na Coreia do
Norte, representando assim um grande salto para a estação.
IMAGEM 6: CENÁRIO ATUAL DO NOTICIÁRIO DA NOITE DA KCTV
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Os pivots mais antigos foram igualmente substituídos por mais
jovens, vestidos com roupas ocidentais em detrimento das tradicionais
vestes coreanas. Estes usam a mesma roupa todos os dias, embora
possam variar na cor: preto e azul para locutores do sexo masculino e
verde e rosa para as mulheres. Os indivíduos do mesmo sexo têm todos
o mesmo corte de cabelo.
A principal locutora da KCTV, Ri Chun Hui, bem conhecida pelo
tom sublime que usa para elogiar os líderes da nação e o ódio que
carrega na voz na denúncia do Ocidente, tem vindo a afastar-se da
programação do canal para dar lugar a locutores mais jovens. Em
entrevista à China Central Television, em janeiro de 2012, Ri explicou
esta decisão da estação: “Os programas noticiosos na TV necessitam de
alguém jovem e bonito”.
Como reportou o “The Wall Street Journal”, Chun Hui saiu do ar
em Outubro de 2011 e só retornou aos ecrãs dois meses depois para
anunciar a morte de Kim Jong-Il, a 19 de dezembro, não mais
aparecendo nas emissões da estação norte-coreana. Ri também já tinha
anunciada a morte de Kim Sung-Il em 1994 e o primeiro teste nuclear
da Coreia do Norte em 2006. Era a cara mais conhecida do canal e uma
das personalidades mais respeitadas em toda a Coreia do Norte.
Para além destas transformações no cenário e na mudança das
figuras dos locutores, o telejornalismo na Korean Central Television tem
assistido a mais evoluções. A atmosfera geral dos programas, por
exemplo, é agora mais brilhante e natural em relação ao que era. Novas
secções foram também introduzidas, onde os repórteres falam com
entrevistados acerca de programas específicos. Anteriormente, o
locutor introduzia as notícias de forma rígida e autoritária, de acordo
com protocolos rigorosos e específicos.
Em setembro de 2005, a agência sul–coreana de notícias Yonhap
informava que a KCTV começara a utilizar o serviço VOD, que permitia
ao telespetador assistir parcialmente aos programas através da
internet, no site oficial da Coreia do Norte (www.dprkorea.com).
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Contudo, o site sofreu profundas modificações com o passar dos anos e
atualmente apresenta um design e disposição completamente
diferentes, não sendo possível afirmar se o serviço de VOD continua a
encontrar-se disponível.
IMAGEM 7: PRINT DE 2005 DO VOD DA KCTV NO SITE OFICIAL DA COREIA DO NORTE
Apesar das mudanças ao nível do formato e de aparência, o
conteúdo das emissões norte-coreanas permanece a mesma. A
proporção dada aos ensinamentos de Kim Sung-il e Kim Jong-Il e a
essência ditatorial da estação permanece praticamente intacta,
mantendo-se fiel à sua origem.
Comparando com os noticiários ocidentais, os norte-coreanos
são muito melodramáticos ao nível do estilo. Muitos dos jornalistas
desertores norte-coreanos que fugiram para o Sul, já mencionados
previamente neste trabalho, notaram os contrastes entre os dois estilos,
destacando o caráter mais conversacional imposto pela Coreia do Sul na
sua programação noticiosa. Segundo Ri Chun Hui, na mesma entrevista
prestada à China Central Television, cada pivot deve ter o seu próprio
estilo e deve anunciar os diferentes tipos de notícias de diferentes
maneiras: “Por exemplo, quando lemos o “Democratic People’s Republic
of Korea” (jornal norte-coreano), não devemos soar como se
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estivéssemos a disparar armas de fogo mas sim harmoniosamente para
os telespectadores”. Estas declarações traduzem o estilo emocional do
telejornalismo da KCTV, onde, a quando da morte de Kim Sung-Il e Kim
Jong-Il, os jornalistas da estação transmitiram as notícias lavados em
lágrimas e num tom de desespero.
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A partir deste trabalho, concluímos que existem
diferenças no aparelho televisivo a nível mundial. Se é verdade
que a maioria das estações se tem moldado à atualidade, indo ao
encontro dos desejos do telespectador, existem ainda países
onde isso não acontece. Na República Democrática Popular da
Coreia a liberdade de imprensa e de expressão ainda não são
elementos presentes no quotidiano, visto o poder político estar
presente em grande parte da grelha das estações.
Deste modo, a Korean Central Television, sendo a
principal fonte de informação para os norte-coreanos, tornou-se
também no principal meio propagandístico desta nação.
Efetivamente, sendo esta uma estação estatal, vemos que
existem diferenças em relação àquilo que se faz nos países
ocidentais, sobretudo na Europa, com o que é corrente na
Coreia. Se no velho continente assistimos a um desprendimento
progressivo da televisão ao Estado, na Coreia do Norte este é um
cenário que ainda não acontece.
Em suma, a partir da análise da KCTV percebemos que
existem diversas formas de fazer televisão, e que estas se
relacionam com a realidade de cada país. Com efeito, foi
gratificante perceber a realidade televisiva da Coreia do Norte, pois
apesar de terem formas e conteúdos diferentes, o objetivo da
televisão é o mesmo: informar as pessoas.
Mesmo que grande parte das vezes as informações
transmitidas sejam mal desvirtuadas ou manipuladas de forma a
enaltecer o bem do estado, é através da KCTV que o mundo
ocidental toma conhecimento dos acontecimentos mais
importantes na Coreia do Norte, como o falecimento de Kim Jong-Il
ou, mais recentemente ainda, o lançamento falhado do foguete
Unha-3 que fez tremer o planeta.
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Por Diogo Azeredo e Pedro Maia, Turma 2 Abril de 2012
BUTLER, R. (1993). “North Korea-Telecommunications”.
Mongabay.com. Acedido em:
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https://www.cia.gov/library/publications/the-world-
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