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ANO IX – Nº 75 NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015

J O R N A L

Entrevista com o diretor do Planetário, Juan Bernardino, destaca 45 anos de existência da unidadep. 3

Laboratório promove inclusão digital para comunidade do município de Catalãop. 14

Mesa-redonda discute a transexualidade e a luta pelo fim do preconceitop. 6 e 7

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Pesquisa analisa conforto térmico de feiras livresTemperaturas altas ocorrem até mesmo em horários amenos, como no início da manhã, o que provoca desconforto a quem frequenta esses ambientesp. 12 e 13

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ão EDITORIAL

Direto do Instagram @ufg_oficial

O balanço de um ciclo de trabalhoMichele Martins*

A última edição do ano do Jornal UFG, pela maior extensão, adquire um caráter especial para a equipe de Jornalismo da Ascom, além de

representar o fechamento de um ciclo em nosso tra-balho. Ao finalizarmos esta edição, percebemos com satisfação a variedade de temas abordados, os quais contemplam ações de ensino, pesquisa e extensão em todas as Regionais da instituição.

Ao longo deste ano nossa equipe conseguiu pautar assuntos relacionados à inclusão e à permanência no ensino superior, como foi o caso da acessibilidade e a adoção de cotas na pós-graduação. Nesta edição, dois temas ganharam destaque: a Transexualidade e o Pro-grama de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC--G). O primeiro foi abordado em uma mesa-redonda que revela um grande tabu na sociedade brasileira mantido pela falta de informação e pelo preconceito. Nesta seção, produzida em conjunto com a Rádio Uni-versitária e a TV UFG, foi possível unir especialistas em um debate que expõe as dificuldades que os tran-sexuais precisam superar para exercer seus direitos.

Na Universidade existem vários exemplos de equipes dedicadas a oferecer à sociedade serviços e conheci-mentos importantes. Uma destas equipes é a do Plane-tário UFG, vinculado ao Instituto de Estudos Socioam-bientais (Iesa). Em outubro de 2015 ele completou 45 anos e, neste período, foi responsável por encantar e ensinar milhares de crianças e adultos que nunca es-quecem do dia em que assistiram uma sessão dentro da cúpula. Em entrevista, o diretor do Planetário rela-ta o imenso sentimento que o impulsiona a se dedicar diariamente a este importante espaço museológico.

– Universidade – Reitor:

Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor:

Manoel Rodrigues Chaves; Pró-reitor de Graduação:

Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação:

José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação:

Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura:

Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças:

Carlito Lariucci;Pró-reitor de Desenvolvimento

Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva;

Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária:

Elson Ferreira de Morais.

– Jornal UFG – Coordenadora de Imprensa:

Michele Martins; Editora:

Kharen Stecca;Editora-assistente:

Angélica Queiroz; Conselho editorial:

Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Estael de Lima Gonçalves (Jataí), Luís Maurício Bini, Pablo

Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira, Silvana Coleta Santos Pereira, Thiago Jabur

(Catalão) e Vitor Sousa Freitas (Cidade de Goiás); Suplente:

Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração:

Reuben Lago; Fotografia:

Carlos Siqueira; Reportagem:

Angélica Queiroz e Serena Veloso; Revisão:

Fabiene Batista e Bruna Tavares; Estagiários:

Italo Wolff e Wanessa Olímpio (Jornalismo); Bolsistas:

Michel Gomes (Diagramação); Anna Carolina Mendes (Jornalismo);

Adriana Silva e Camila Caetano (Fotografia); Impressão:

Centro Editorial e Gráfico (Cegraf ) da UFG; Tiragem:

7.000 exemplares

Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás

ANO IX – Nº 75 – NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2015www.jornalufgonline.ufg.br

ASCOM Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia

Caixa Postal: 131 – CEP 74001-970Goiânia – GO

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J O R N A L

@renatoribeiro02 @yscyuri

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Outro assunto de destaque é a pesquisa que estam-pa a capa: a variação nos parâmetros climáticos a partir de dados coletados na Feira Hippie e no Mer-cado Aberto de Goiânia. Vivemos um período de elevação na temperatura global, sentimos os seus efeitos diariamente e pesquisas como esta apon-tam para a necessidade de considerar as condições atmosféricas como subsídio ao planejamento e de-senvolvimento urbano.

Atividades relacionadas ao empreendedorismo cres-cem na universidade. Nesta edição, abordamos dois exemplos desenvolvidos na UFG. Uma na área de Educação Ambiental, com a empresa júnior dos cur-sos de Ciências Ambientais e Geografia da Regional Goiânia, e outra com a pesquisa financiada pelo Mi-nistério da Cultura e CNPq na área da economia cria-tiva, com participação de integrantes da comunidade da Regional Goiás.

Todo o conteúdo que pautou este jornal revela a ma-turidade e o protagonismo da UFG no cenário nacio-nal. Essa maturidade abriu caminhos para oportuni-dades de ampliação do acesso ao ensino superior e motivaram a articulação política de gestores nas três esferas governamentais. Um dos mais importantes resultados dessas articulações foi anunciado no iní-cio de novembro: a criação de duas novas universi-dades no Estado de Goiás a partir da Regional Cata-lão e da Regional Jataí. Esperamos que juntas essas universidades possibilitem alavancar o desenvolvi-mento de nosso Estado e que exemplos de projetos de pesquisa, ensino e extensão continuem pautando o jornalismo. Tenham uma boa leitura!

*Coordenadora de Imprensa da Ascom

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3nos quais os alunos têm aulas no Planetário. Na extensão, atendemos uma quantidade significa-tiva de estudantes da educação básica, cerca de 25 mil por ano. Atendemos os grupos de forma personalizada, por faixa etária e grau de escola-ridade. Na área de pesquisa, temos vários proje-tos financiados pelo CNPq, que estão vinculados a projetos de pós-graduação. O Planetário tem uma função importante do ponto de vista institucional e continua sendo um espaço para a comunidade.

Quais os planos futuros para o Planetário?

Na área externa do Planetário temos um projeto, já aprovado pelo CNPq, de construir dois obser-vatórios didáticos. Só depende da liberação do recurso. A infraestrutura física para a instala-ção será feita com recursos do próprio Planetá-rio. Queremos construir uma pequena réplica de Stonehenge (ruínas da Inglaterra, que misturam conhecimento religioso com conhecimento astro-nômico, um símbolo da Astronomia antiga) e um Sistema Solar, ao longo do túnel do trenzinho no Mutirama. E também um laboratório didático de Astronomia e Astronáutica na parte superior do Planetário, que tem cerca de 450 metros de área, preservando a arquitetura do prédio.

O Planetário é uma constante fantasia, um sonho. É uma utopia. Não vou chegar no pote de ouro no final do arco-íris nunca, mas eu quero caminhar para lá. No nível coletivo, quero dar às pessoas o que acho fantástico, o que me faz feliz

Entrevista Juan Bernardino Marques Barrio

Contemplar o céu é preciso

Kharen Stecca

O Planetário da UFG, vinculado ao Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), comple-tou, em outubro de 2015, 45 anos. O plane-

tário mais antigo do Brasil, localizado no Parque Mutirama, é um marco tanto para a Universidade, quanto para a cidade de Goiânia. É um local onde conhecimento é gerado, mas também é um ponto turístico. Mais de 25 mil pessoas assistem por ano as sessões do Planetário que ocorrem todos os do-mingos e também com agendamento para escolas. Para falar um pouco sobre a trajetória desse espa-ço museológico, conversamos com o atual diretor do Planetário da UFG, Juan Bernardino Marques Barrio, que se dedica há 26 anos ao trabalho nessa Unidade. Confira a entrevista.

O que se destaca na história do Planetá-rio da UFG?

O Planetário da UFG é o mais antigo em funciona-mento no Brasil. Antes dele existiam apenas o Pla-netário do Ibirapuera, em São Paulo, e o da Escola Naval do Rio de Janeiro, ambos hoje fechados. Nós conseguimos ao longo desse período não parar de funcionar, exceto entre 1974 e 1977 quando, por problemas de infraestrutura física, houve um fecha-mento temporário. Uma característica do Planetá-rio é que, nos últimos dez anos, entregamos para a sociedade mais do que atividades lúdicas e de exten-são. Temos as disciplinas de graduação na Univer-sidade e também um programa de pós-graduação de Mestrado e Doutorado em Educação em Ciências e Matemática. O Planetário tem sido sempre uma referência no país. Temos, hoje, quatro professores trabalhando no Planetário, o que não é comum. To-das as sessões do Planetário são ministradas por

um dos professores. Fazemos questão disso, o que faz diferença porque sempre realizamos um diálo-go com os alunos após a sessão. Hoje o Planetário também é a sede permanente da Associação Brasi-leira de Planetários, da qual sou o atual presidente e o professor Paulo Henrique Sobreira, o tesoureiro. Isso nos dá também outra perspectiva dentro dos planetários brasileiros.

O aparelho é o mesmo desde a criação do espaço?

O aparelho é o mesmo e isso é um de nossos luxos. Esse tipo de aparelho antigo tem maior facilidade de manutenção com uma qualidade de céu que os novos equipamentos não têm. No Planetário Móvel – uma estrutura inflável que pode ser levada para outros locais a fim de realizar exibições – que é di-gital, fazemos projeções de filmes produzidos. No fixo, como é o nosso no Parque Mutirama, temos um céu permanente, onde trabalhamos com esse céu e, com os projetores auxiliares, fazemos novos efeitos. Brinco dizendo que temos um fusquinha que funciona perfeitamente. Às vezes é preferível um fusquinha do que uma Ferrari que você não consegue dar manutenção. E isso é o que aconte-ce com os equipamentos modernos: de alto custo, com upgrades constantes e caros.

Qual a influência do Planetário hoje para Goiânia e para a UFG?

Internamente o Planetário atende ao tripé da Universidade: ensino, pesquisa e extensão. Te-mos uma série de disciplinas na graduação para cursos como Física, Ciências Biológicas, Ciências Ambientais e Geografia, além dos Núcleos Livres,

O senhor está no Planetário desde 1989. O que significa, pessoalmente, o Planetá-rio em sua vida?

Em 2003 fui convidado a ficar na Europa dirigindo um espaço museológico, um Espaço da Ciência com Planetário. Um espaço novo, recém-inaugurado, para morar a 200 metros do local de trabalho, e não aceitei. Preferi voltar para o meu canto. O Planetário é uma constante fantasia, um sonho. É uma utopia. Não vou chegar no pote de ouro no final do arco-íris nunca, mas eu quero caminhar para lá. No nível co-letivo, quero dar às pessoas o que acho fantástico, o que me faz feliz. Eu me sinto bem e ofereço às pesso-as algo que acho fundamental, o conhecimento, po-dendo entendê-lo sem muito misticismo, mostrando a beleza de olhar para o céu. Nos últimos 12 anos, desde que voltei do doutorado, acredito que cresce-mos muito, mas ainda temos muito pela frente. Meus sonhos pessoais acabaram me levando para o Plane-tário. Muitos espaços museológicos têm um pouco de personalismo e há críticas quanto a isso, mas eu acho que se alguém não dá sequência ao trabalho, ele é interrompido e morre. Espaços museológicos precisam disso e, enquanto puder, o Planetário é a minha casa. Ver as pessoas saírem de lá felizes é o que é importante. Eu já poderia aposentar, inclusive, mas vou esperar que me mandem embora!

Você pode participar enviando sugestões de temas e convidados pelo telefone: 3521-1311 ou [email protected]

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tomadas de decisões em todos os po-deres, tanto na construção de novos instrumentos normativos no legisla-tivo, quanto no julgamento das ações e na política de ações administrati-vas. Espero que o trabalho implique em melhoria de vida, não só para os quilombolas, mas para todos”, afirma Rangel Donizete.

Os trâmites da desapropriação são promovidos individualmente em cada propriedade. “O processo ain-da está lento. Na fase administrativa são definidos o perímetro da área e os marcos, além de avaliar a pro-posição de ações de desapropria-ção”, acrescenta ele. Segundo Rangel Donizete, todo esse processo pode levar mais de 30 anos, o que pode dificultar o pedido de registro da indicação geográfica e, consequen-temente, a promoção dos APLs.

Gado Curraleiro

Desde 2000, a Pró-reitora de Pes-quisa e Inovação da UFG e professo-ra da Escola de Veterinária e Zootec-nia da UFG, Maria Clorinda Soares Fioravanti, desenvolve projetos para evitar a extinção do bovino Curralei-ro Pé-Duro no Brasil. Na busca por exemplares da raça, a pesquisadora soube que havia alguns na região de Monte Alegre, Teresina e Cavalcante com os quilombolas Kalunga.

Devido a uma demanda da própria comunidade, que queria voltar a criar o bovino Curraleiro Pé-Duro em Ca-valcante, a professora coordenou um projeto para reintrodução da raça na região. O projeto adquiriu 80 animais que foram repassados para dez fa-mílias. Dois anos depois, receberam uma doação de mais 80 cabeças, que foram utilizadas para repor a perda de animais que faleceram e para au-mentar as famílias participantes do projeto. A metade dos bezerros que nascem pertencem ao projeto e são utilizados para a formação de novos lotes para distribuição.

Com as frequentes visitas à comunida-de, outras necessidades foram apare-cendo. “Começamos a perceber outras demandas e daí nasceu o Kalunga Ci-dadão”, lembra Maria Clorinda Fiora-vanti. O Kalunga Cidadão é um projeto interdisciplinar que, desde 2011, or-ganiza ações com o objetivo de levar inclusão a essas comunidades e que promove a inserção de outras áreas de conhecimento, como Direito, Odon-tologia, Geografia, Agronomia e Enge-nharia, visando levar mais qualidade de vida aos quilombolas Kalunga.

Regulamentação da terra

Para prosseguir com o processo de registro da indicação geográfica é necessário que os moradores do Quilombo Kalunga tenham um docu-mento que comprove que são donos das terras onde vivem, mas a maio-ria não possui tal titulação de posse. Segundo o pesquisador, Rangel Doni-zete, que escreveu uma dissertação sobre o tema em 2012 no Programa de Pós-graduação em Direito Agrário da UFG, o quilombo do Sítio Históri-co e Patrimônio Cultural Kalunga é o maior em extensão territorial do país, abrangendo aproximadamente 262 mil hectares. O local não é ocu-pado apenas pelos Kalunga, a terra sofreu ação de grileiros e há também outros fazendeiros que possuem a certidão dos imóveis.

Para que as propriedades voltem a pertencer aos quilombolas, o Insti-tuto Nacional de Colonização e Re-forma Agrária (Incra) promove ações na justiça de desapropriação das ter-ras. São averiguadas as fazendas nas quais os proprietários possuem o do-cumento de propriedade da terra, es-tes são desapossados e recebem uma indenização pelo imóvel que, poste-riormente, é devolvido aos Kalunga. Em seu trabalho, Rangel Donizete defende que a terra é o instrumen-to de subsistência daquela comuni-dade. “Espero poder influenciar nas

Dire

ito Estudo propõe selo de qualidade para produtos KalungaRegistro de indicação geográfica para produtos da região promove distinção e valorização no mercado

Wanessa Olímpio

Situada no Nordeste de Goiás, a Comunidade Quilombola Ka-lunga reúne povoados situados

em regiões de difícil acesso e longe de cidades. Os moradores destas lo-calidades sobrevivem do plantio de roçados, da criação de animais e, em alguns lugares, do turismo. No en-tanto, estas práticas são insuficien-tes para garantir o sustento de mui-tas famílias. Atento a essa realidade, o advogado Rodolfo Franco desen-volveu em seu mestrado no Progra-ma de Pós-graduação em Direito Agrário da UFG uma dissertação, defendida em 2014, com a propos-ta de criação de arranjos produtivos locais (APLs) para os Kalungas.

Os APLs são empreendimentos for-mados por uma comunidade ou um conglomerado de cidades pró-ximas que produzem um determi-nado produto com características relacionadas à região de origem. A ideia é organizar um modelo assim na Comunidade Kalunga. Os produ-tos a serem comercializados seriam a carne e o leite do gado Curraleiro Pé-Duro, que é criado na região. Por esses animais se alimentarem ape-nas da pastagem nativa, seus sub-

produtos possuem um sabor que só é encontrado naquela localidade.

Devido aos atributos dos derivados desta espécie de bovino, Rodolfo Franco sugeriu em sua dissertação o reconhecimento de propriedade intelectual destes produtos, com o registro de indicação geográfica na modalidade denominação de ori-gem, possibilitando a distinção no mercado destes artigos pelas suas particularidades. “A carne e o leite do bovino Curraleiro Pé-Duro têm composição e sabor diferenciados vinculados aos atributos da região como as pastagens, o tipo de água e de manejo”, detalha.

A proposta visa inserir os APLs Ka-lunga na Política Nacional de Desen-volvimento Regional (PNDR) para que eles consigam apoio governa-mental. “Primeiro avaliamos a viabili-dade econômica daquele produto, se a carne e o leite do bovino Curraleiro Pé-Duro terá retorno para aquela co-munidade e para o próprio Estado e, então, tentamos lançar esse produto no mercado”, acrescenta Franco. Com a indicação geográfica, os produtos poderiam ser reconhecidos com um selo de qualidade, proporcionando aumento da renda dessa população.

Carne e leite do bovino Curraleiro Pé-duro tem composição e sabor diferenciados vinculados aos atributos da região, o que possibilita o registro

de indicação geográfica

Rede Pró Centro-oeste: Curraleiro e Bovino

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5Regionais

Empreendedorismo cultural contribui na manutenção histórica

da Cidade de GoiásPesquisa financiada pelo Ministério da Cultura e CNPq avalia contribuição de

trabalhadores da arte e cultura do município na dinâmica econômica do Estado

Serena Veloso

Primeira capital do Estado de Goiás, a antiga Vila Boa, hoje denominada Cidade de Goiás,

guarda imensa riqueza histórica e cultural em cada uma de suas ruas, becos, praças e construções. Um pou-co da trajetória de seus três séculos de história e do período colonial no Brasil se faz presente na cidade, des-de seu traçado urbano, até o artesa-nato e a culinária típica. Não é por acaso que, em 2001, a cidade foi re-conhecida pela Organização das Na-ções Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) como Patrimônio Histórico da Humanidade, título que faz jus à memória histórica, tradição cultural e beleza natural conservadas durante tantos anos.

Graças às mãos de alguns dos em-preendedores da cultura que vivem na cidade, essas tradições podem se perpetuar de geração em geração. Em reconhecimento à importância desses sujeitos não só para a história do mu-nicípio, mas para a economia do Es-

tado de Goiás, uma docente e quatro estudantes do curso de Administração da Regional Goiás da UFG estão desen-volvendo projeto que investiga a orga-nização coletiva de pessoas que traba-lham com arte e cultura na região.

O projeto, intitulado As práticas de organização dos empreendedores cul-turais: etnografando a cidade de Goiás, integra o Observatório de Economia Criativa de Goiás (OBEC-GO), sediado pelo laboratório Media Lab, da Regio-nal Goiânia da UFG. Com financiamen-to do Ministério da Cultura e do CNPq, as atividades do projeto serão desen-volvidas até dezembro de 2016.

De acordo com a coordenadora da pesquisa e professora da Regional Goiás, Josiane Oliveira, a ideia é en-tender os modelos de organização, a gestão desses empreendedores e co-tidiano de trabalho, mas, também, os mecanismos utilizados para a sobre-vivência a partir dessas atividades. “O que motivou as pesquisas foi a neces-sidade de compreender o processo de organização coletiva dos empreende-

dores culturais, destacando um olhar administrativo sobre essa dinâmica, o que ainda é incipiente”, explica.

Josiane Oliveira alega que, em geral, esses trabalhadores não possuem estrutura de trabalho, mercado, nem acesso a recursos e políticas públicas que apoiem o desenvolvimento de suas atividades, por isso a importân-cia de pesquisar a fundo os impactos econômicos que têm na economia criativa de Goiás.

Políticas públicas

Até o momento, 13 empreendedores foram entrevistados sobre a origem dos recursos de suas atividades, o modelo organizacional e a relação com suas histórias de vida. O estudo constatou que, em sua maioria, são mães e filhas que trabalham com ar-tesanato e que, por meio de suas prá-ticas de organização, contribuem para a reprodução cultural vilaboense, seja pela memória coletiva ou pela valori-zação histórica da cidade. “A pesquisa ajudará a compreender as práticas co-tidianas destes empreendedores para o desenvolvimento de políticas e pro-gramas que atendam as necessidades locais e as rotinas de trabalho destas pessoas”, enfatiza Josiane Oliveira.

As informações levantadas também serão utilizadas para avaliar a dinâ-mica de ocupação do centro histórico da Cidade de Goiás pelas atividades de arte e cultura. Com base nisso, será construído um mapa com a localização geográfica dos empreendedores. Outra frente do projeto envolve o desenvolvi-mento de um banco de dados estatísti-co sobre os empreendedores culturais com informações quantitativas, como indicadores econômicos, disponibili-zadas pelo IBGE e IPEA, e qualitativas, entre fotos, filmagens e textos produzi-dos pelas pesquisadoras.

Divulgação

Observatório de Economia Criativa

O Observatório de Economia Criativa de Goiás (OBEC-GO) faz parte de uma rede de observatórios instituída em todo o país, em 2012, pela Secretaria da Economia Criativa, atualmente sob direção da Secretaria de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, com o objetivo de centralizar informações sobre mapeamento da dinâmica da área e agentes envolvidos no Brasil. Em Goiás, além da UFG, a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) compõe o projeto. Outras instituições de ensino superior também integram a rede no país: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal Fluminense (UFF).

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Transexualidade e a luta para vencer o preconceito

Você pode participar das próximas mesas-redondas enviando sugestões de temas e convidados pelo telefone: 3521-1311 ou [email protected]

Ascom, Rádio Universitária e TV UFG

A Transexualidade ainda é um tema de grande tabu na sociedade brasileira. A falta de informação e o preconceito fazem com que as pessoas transexuais encontrem barreiras para exercer seus direitos com plenitude. Dificuldades que chegaram a atingir, inclusive, o Projeto Transexualismo do Hospital das Clínicas (TX), referência nacional e internacional na área, mas que, por falta de profissionais, tem sua fila de espera, que conta com mais de 200 pacientes, parada há quase três anos.

Hoje a UFG, tem um coletivo de pessoas que vivem nessas condições de identidade de gênero, além de familiares e apoiadores. A Universidade tem 16 alunos que se reconheceram na condição de trans. Para discutir os desafios enfrentados por essa população, a mesa-redonda desta edição, realizada pelo Jornal UFG em parceria com a TV UFG e a Rádio Universitária, convidou a representante do Coletivo de Mulheres e Homens Transexuais, Transgêneras, Familiares Apoiadores da Causa Trans na UFG (TransAção), Ester Sales, a chefe de equipe do Projeto TX, Mariluza Terra, e a vice-presidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual da OAB e presidente da Comissão de Direito Homoafetivo da OAB-GO, Chyntia Barcellos.

Quais são as maiores dificuldades en-frentadas pelas pessoas trans em rela-ção à família, ao mercado de trabalho e à saúde?

Ester Sales – Ainda há um preconceito muito grande. As pessoas que nascem na condição de transexualidade enfrentam uma série de bar-reiras. A primeira é enfrentar a si mesma, en-frentar o seu próprio corpo, se autoconhecer, se reconhecer enquanto pessoa no mundo que nasceu em condição física totalmente diferente daquela de identidade de gênero, como se reco-nhece interiormente. Fazer esse enfrentamento é difícil e precisa de acompanhamento psicoló-gico e apoio da família que, geralmente, a pes-soa não tem. Então, quando finalmente conse-gue ter esse apoio, também precisa lidar com a questão social, porque ela vai fazer mudança de nome e mudanças físicas no seu corpo para que ele seja adequado a quem ela é interiormente, para que sinta-se plena e realizada enquanto pessoa que pode olhar-se no espelho e se ver como ser humano, como quem ela é no mun-do, através do seu próprio corpo. Esse proces-so, que é muito rico para a pessoa que vivencia, mas não é fácil, também vai ao encontro não só de você consigo mesma, mas com o outro, tanto no mercado de trabalho que muitas vezes não recebe essa pessoa, não porque ela não tem qualificações profissionais, mas porque ela tem uma condição de identidade de gênero diferen-te daquela do padrão social. Na escola, a pessoa tem um comportamento diferenciado desde a infância e, na adolescência, isso se torna ainda mais visível quando a pessoa quer se expressar corporalmente através das roupas, a partir da sua identidade. E a escola é, em alguns casos, um espaço de exclusão. Além disso, quando a pessoa passa a assumir quem ela é, a família também exclui e essa pessoa, muitas vezes, vai parar na rua. Dessa forma, como o processo de exclusão é muito grande, poucas pessoas con-seguem seguir uma carreira acadêmica. E nós temos, hoje, finalmente, um grupo que tem con-seguido, apesar de tantas dificuldades, chegar ao nível superior. Temos pessoas transexuais e travestis que tem conseguido essas vitórias. Isso tem contribuído para quebrar um pouco o preconceito. Hoje a UFG têm um coletivo de pessoas que vivem nessas condições de identi-dade de gênero, familiares que participam, se envolvem e apoiadores. Nós já temos 16 alunos que se reconheceram nessa condição. Temos assim, ajudado a construir caminhos e políticas públicas. De que forma o Direito atende às de-mandas dessa parcela da população? Ele tem conseguido acompanhar ou é preciso avançar?

Chyntia Barcellos – É preciso avançar bastan-te. Nós não temos ainda uma lei de identidade de gênero que autorize a mudança de nome e sexo pela simples ida a um cartório, como acon-tece na Argentina. Lá as pessoas travestis, tran-sexuais e transgêneras podem se dirigir a um cartório e, pela simples afirmação de identida-

de, conseguem fazer essa alteração. No Brasil, precisamos de um processo judicial, vários do-cumentos, laudos médicos, psicológicos e psi-quiátricos. Não é um processo simples. É um processo rico para a pessoa transexual, porque é um processo de mudança interior e exterior, mas a justiça é lenta. Tivemos grandes avanços nessas decisões, não só em Goiânia, como em todo o Brasil. Já temos algumas decisões em que as pessoas não precisam se submeter à re-definição de sexo para conseguir alterar o nome judicialmente. Existem decisões nesse sentido, inclusive em Goiás, mas realmente a lei precisa existir para que as pessoas tenham garantia de sua dignidade, igualdade e liberdade, para que possam existir de uma forma fiel ao seu corpo e sentimento. O sistema de saúde consegue atender a essas pessoas ou ele ainda passa por esse conflito da mudança?

Mariluza Terra – Não, o sistema de saúde não consegue atender a essas pessoas. O nosso pro-jeto, o Projeto Transexualismo (TX), cuja finali-dade principal é auxiliar essas pessoas, foi obri-gado a parar de atender novos pacientes desde 2012 porque não tínhamos profissionais. Nossa equipe é uma das menores do Brasil e não tem condições de ajudar todas as pessoas que ne-cessitam de nossos cuidados. Também na rede pública, essas pessoas não encontram a atenção que necessitam, não existe aqui nenhum posto de saúde com pessoas capacitadas pra atender a essa população. Como funciona a cirurgia de redesigna-ção de sexo no Projeto TX? Como a pes-soa que se percebe transexual pode ter acesso a essa cirurgia?

Mariluza Terra – Em junho de 2015 nós perde-mos o nosso endocrinologista e o nosso cirur-gião principal. Com isso, as cirurgias pararam totalmente. Nós já havíamos fechado as ins-crições para pacientes novos, mas as cirurgias continuaram. Nós fechamos porque tínhamos que dar conta da realização dessas cirurgias para os pacientes que já estavam lá há 4, 5 anos esperando, devido a essa capacidade pequena que nós temos de atender. Hoje temos aproxi-madamente 35 pessoas que estão prontas para serem operadas de masculino para feminino e que não podem ser por falta do médico cirur-gião. Isso é uma coisa muito séria. E não é que nós não tínhamos pensado que poderíamos perder esses profissionais, sabíamos que esses profissionais iam se aposentar, tanto que nós fechamos para novas pessoas em 2012, mas nós não conseguimos treinar ninguém que pu-desse ficar no lugar. O que acontece é que, infe-lizmente, são poucas as pessoas que se interes-sam em tratar dessa população. Um elemento muito importante é o preconceito, temos que reconhecer. Eu sempre digo que existe um per-fil específico do profissional que trabalha com essa população, não é qualquer profissional de saúde, tem que ser alguém que consiga olhar essas pessoas transexuais e enxergar através do corpo, ver a alma. Essas pessoas sofrem muito. Imagine você estar preso em um corpo que não te pertence. Todo mundo pode fazer esse exercício: você que é mulher, imagine que no dia seguinte acorde no corpo de um homem, como é que você vai se sentir? É isso que essa população sente, é um desacordo total. Portan-to, nós estamos nesse momento vivendo uma situação terrível no projeto, porque 35 pessoas estão aguardando uma cirurgia e vocês podem imaginar quão desesperadas estão essas pesso-as, que estão na expectativa, pois acharam que tinham uma luz no fim do túnel. Hoje estamos lutando para substituir esse cirurgião, estamos juntos tentando fazer o projeto funcionar como era antes.

Confira o vídeo completo do Programa Conexões no QR

Code ao lado.

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Chyntia Barcelos

Mesa-redonda

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Mariluza Terra

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O Coletivo TransAção na UFG colocou em debate na Universidade a possibilidade de implementação de uma disciplina de sexualidade humana e suas temáticas nos currículos dos cursos de graduação da UFG, especialmente na área de saú-de e afins. Quais são os objetivos dessa proposta? Como estão essas discussões?

Ester Sales – O Coletivo TransAção identificou que o problema maior que nós tínhamos é de pessoal. Então precisamos pensar em como ter mais profissionais trabalhando no projeto e fazer com que o projeto seja sustentável, que os pro-fissionais que se aposentarem possam ser, natu-ralmente, substituídos por novos profissionais. Nossa primeira ação foi a de captar profissionais individuais que já estão formados para entrar no projeto. É no que estamos trabalhando, tra-zendo um novo cirurgião e negociando a vinda de outros profissionais. O segundo passo é pen-sar na formação, porque o problema começou lá na formação familiar, na formação social, mas, também, na formação enquanto profissional de saúde, porque o profissional de saúde formado pela própria universidade federal e por outras

universidades não estuda sexualidade humana, não tem conhecimentos adequados. Quando es-tudam a sexualidade o foco é mais na dimensão fisiológica, assuntos muito específicos, como a reprodução feminina ou a disfunção erétil do homem. Isso é um erro, porque reduz a sexuali-dade à pura dimensão reprodutiva genital e a se-xualidade é algo muito amplo na diversidade do ser humano, na forma como o ser humano vive e existe no mundo, como ele vive sua energia fun-damental. Sendo assim, entender a sexualidade plena e ampla da mulher, do homem e de todas as pessoas, nas suas mais diversas formas, é im-portante, desde a infância, a adolescência, a fase adulta e a fase idosa, entender a sexualidade. En-tão, temos feito parcerias com a Coordenadoria de Ações Afirmativas da UFG (Caaf), o Coletivo e outras organizações sociais, como a Organiza-ção dos Homens e das Mulheres Transexuais do Brasil (Origem) e, também, na conversa com vá-rias Pró-reitorias da UFG para dialogar sobre o assunto. Para aprofundarmos o debate, tivemos uma reunião ampliada com as coordenações de todos os cursos de saúde, o curso de psicologia, algumas Pró-reitorias, o Reitor, a direção do Hos-pital das Clínicas e a coordenadora do Projeto TX. Agora nós estamos discutindo no espaço in-terdisciplinar dos cursos de saúde, o Pró-Saúde, estudando ações em conjunto para criar meios de fazer com que os profissionais novos tenham conhecimento sobre sexualidade, possam abor-dar a sexualidade, atender bem e, inclusive, par-ticipar de projetos como o TX que são tão ricos para nós e que já produziram tanto conhecimen-to médico e científico.

se empoderem de quem são, reconheçam o seu valor e busquem isso dentro da sociedade, não deixem passar, não contribuam com o preconcei-to. Isso é o combate à homofobia todos os dias!

Como enfrentar os preconceitos nessa so-ciedade que ainda não aceita o diferente?

Chyntia Barcellos – Eu acredito que essas ques-tões pontuais, como o uso do banheiro, nome em chamadas na escola, devem ser enfrentadas com naturalidade, simplicidade, sem preconceito, olhando para a pessoa como ela se enxerga, com o direito de exercer a sua cidadania e a sua sexu-alidade da forma como bem entender. A mulher transexual deve utilizar o banheiro da forma que desejar e da mesma forma o homem transexual. Em casos de impedimento, já temos decisões ju-diciais caracterizando preconceito, a transfobia, com condenações. O preconceito é combatido to-dos os dias, as pessoas precisam passar a atentar para essas questões dentro do trabalho e na socie-dade porque, aos poucos, a justiça está começan-do a responder ao preconceito. A forma de comba-ter na justiça é criminal ou indenizatória e, nesses casos, doendo no bolso, as pessoas começam a se transformar. Isso não é o ideal. Necessitamos de uma lei, não só de identidade de gênero, mas que criminalize a homofobia. As transformações vêm acontecendo e a sociedade está começando a lidar de forma mais ampla e aberta, apesar das resis-tências. São problemas pontuais que precisam ser encarados, principalmente no âmbito social e no trabalho de forma humana. É preocupante esse preconceito recorrente. As empresas precisam estar atentas a essas questões com seus funcioná-rios e seus dirigentes. Mariluza Terra – Existe uma falsa impressão de que o ponto máximo da vida da pessoa transexual é a cirurgia. Não é bem assim. A cirurgia é extre-mamente importante, mas a mudança do nome e do sexo na certidão de nascimento, vocês nem podem mensurar o quanto é importante. Coisas simples para nós como, por exemplo, abrir uma conta no banco, algo banal, para essa pessoa que agora tem seu nome de acordo com o seu gênero, se torna uma forma de euforia muito grande, usar finalmente o seu nome. Essa sensação é inimagi-nável para nós que fazemos isso tranquilamente. É muito importante tentar se colocar no lugar des-sas pessoas. Esse é um exercício saudável porque é uma vida muito difícil. Essas pessoas que conse-guem passar e chegar lá, do outro lado, até onde pegam sua certidão de nascimento, os rapazes transexuais que pegam a certidão de reservista, nesse longo caminho, para mim são grandes he-róis, porque é muito difícil. Totalmente diferente do que muitas pessoas acham, de que isso é sa-fadeza, uma coisa que não é de Deus. Isso não é escolha e jamais será, porque ninguém escolhe so-frer e passar por esse processo. Ester Sales – Temos que nos mobilizar para que o outro reconheça você como pessoa, como ser humano. Você, como pessoa, tem direito a ter um nome, você é alguém e tem direito a ser reconhe-cido como tal. Você tem direito que o outro te re-conheça como quem você se reconhece, através do seu próprio nome. O quanto é gostoso alguém te chamar pelo seu nome e você atender, você gostar de ouvir a sua mãe, o seu pai, uma pessoa querida, às vezes te chamar até por um apelido carinhoso. É como se, ao nominar alguém, você trouxesse luz para aquela pessoa, destacando-a como um ser no mundo, individualmente reconhecido como ser naquele espaço. Quando você tira de uma pessoa o direito de ter um nome pelo qual ela se reco-nhece, você está tentando invisibilizar a existên-cia daquela pessoa. Ao reconhecer o nome, você respeita naquela pessoa a dignidade de ser um ser humano no mundo, de ser alguém. Isso é funda-mental. Quem não passa por esse processo, não tem noção de quantas vezes no dia a dia você tem que mostrar seu nome.

Ao reconhecer o nome você respeita naquela pessoa a dignidade de ser um ser humano no mundo, de ser alguém. Isso é fundamental

Eu acredito que essas questões pontuais, como o uso do banheiro, nome em chamadas na escola, devem ser enfrentadas com naturalidade, simplicidade, sem preconceito...

Todo mundo pode fazer esse exercício: você que é mulher, imagine que no dia seguinte acorde no corpo de um homem, como é que você vai se sentir? É isso que essa população sente, é um desacordo total

A UFG adotou o uso do nome social. Em que medida ele auxilia em todo esse processo?

Chyntia Barcellos – O nome social é uma garan-tia de qualquer pessoa. Independente se existe uma norma, a pessoa precisa se fazer respeitar e requerer sempre a utilização do nome social. Mesmo não tendo lei, as pessoas precisam fazer valer seus direitos constitucionais, sua dignida-de, sua personalidade. Recentemente o Colégio de Presidentes do Conselho Federal da OAB de-cidiu pelo uso do nome social na carteira profis-sional, estamos avançando aos poucos também nas universidades. Mas a principal questão é que as pessoas exerçam seu direito de personalidade,

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Transpondo o AtlânticoEstudantes do continente africano fazem ensino superior na UFG por meio de convênio entre Brasil e países do Sul

Wanessa Olímpio

Cursar uma graduação em ou-tro país e conhecer uma nova cultura são as expecta-

tivas de muitos estudantes estrangeiros que vêm para a Universidade Federal de Goiás. Alguns deles saíram de países afri-canos e ingressaram na Universidade pelo Programa de Estudan-tes Convênio de Gradua-ção (PEC-G), uma parceria entre o Brasil e países afri-canos, asiáticos e latino-ame-ricanos, que conta atualmente com 40 estudantes na UFG.

O PEC-G, que completou 50 anos em 2014, visa oferecer cursos de ensino superior gratuitamente para pessoas dos países do Sul. São firmados convênios entre institui-ções federais, estaduais e particu-lares brasileiras e as embaixadas dos países do Sul. O candidato deve ter preferencialmente entre 18 e 23 anos, ensino médio completo e declarar que consegue se manter financeiramente no Brasil. Sendo aprovado, ele tem a permissão de permanecer no país até o término da graduação. “Por ser uma seleção internacional, é uma modalidade de ingresso disputada”, afirmou o coordenador de Inclusão e Perma-nência, da Pró-Reitoria de Gradu-ação da (Prograd), Jean Baptista, responsável pela coordenação do PEC-G na UFG.

Chegada

Alguns estudantes estrangeiros, ao chegarem no Brasil, se sentem apreensivos e desprotegidos por estarem em um país novo. “Exis-tem pessoas muito diferentes aqui na Universidade, que trazem his-tórias de vida muito distintas. E, no caso dos estudantes estrangei-ros, o desafio envolve a adaptação a uma sociedade e a uma cultura diferente da deles. Em alguns ca-sos, inclusive, não falam portu-guês como a língua nativa,” afir-mou o pró-reitor de Graduação, Luiz Mello.

Muitos problemas e desencontros já ocorreram, acrescentou Saturni-

na da Costa, estudante do curso de Ecologia e Análise ambiental e pro-veniente da Guiné-Bissau. Segundo ela, uma moça que veio do seu país foi de Brasília a Uberlândia de táxi, pois o motorista disse que não ha-via ônibus para Minas Gerais.

Para evitar imprevistos na chegada, desde o início deste ano, a coorde-nação de Inclusão e Permanência vem contactando os estudantes a partir do momento em que são se-lecionados no PEC-G, antes mesmo deles marcarem a viagem para o Brasil. Eles também são recebidos no aeroporto, e convidados para conhecer a universidade e os ser-viços que existem. “São, também, vinculados ao Programa de Acom-panhamento Acadêmico, criado pela Prograd em 2014, onde são ofertados Núcleos Livres, suporte psicopedagógico e um acompa-nhamento individual atento às de-mandas particulares de cada aca-dêmico”, salientou Jean Baptista. A Prograd também criou o Espaço de Convivência, localizado no segundo andar do Centro de Convivência da UFG, no Câmpus Samambaia, Re-gional Goiânia, onde concentram- se ações e atendimentos ofertados pela Universidade para esses e ou-tros acadêmicos.Semana da África ocorre anualmente na UFG e tem se consolidado como um espaço de esclarecimento sobre o continente

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Estudantes intercambistas divulgam riqueza artística de seus países de origem

Intercâmbio

Essa iniciativa tem a intenção de deixá-los mais à vontade com o

novo ambiente. “Possibilitar a in-tegração desses estudantes é uma das metas do programa. Para que esse estudante não fique isolado, sobretudo durante o primeiro ano, considerado pelos veteranos como o mais difícil. Pretende-se promo-ver sua integração com os demais estudantes, por meio de um conta-to mais caloroso e positivador das diferenças”, acrescentou o coorde-nador de Inclusão e Permanência.

Bolsas

Existem duas modalidades de bolsa, no valor de R$ 622,00, que os estudantes que fazem parte do PEC-G podem concorrer. Uma é a do Projeto Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior (Promisaes), que é anual e é ofertada pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Ministério da Educação. Os estudantes PEC-G concorrem entre si e o critério de classificação é por média global, IDH do país de origem, atuação acadêmica, entre outros aspectos. A UFG possuí 18 bolsas nesta modalidade. A outra é a Bolsa Mérito, ofertada em edital semestral e de concorrência nacional pelo Ministério das Relações Exteriores.

Outras bolsas ofertadas pela Universidade, tal qual as de ensino, pesquisa e extensão, são permitidas a esses estudantes, que podem concorrer como qualquer outro aluno. A partir de avaliação feita pela Pró-Reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária (Procom), o estudante PEC-G que não possui Promisaes também pode receber da UFG auxílio-moradia ou bolsa permanência.

Mudança de ares

A estudante Saturnina da Costa fi-cou sabendo do PEC-G por meio de um primo que a convidou para participar do processo de seleção. A intenção era fazer o curso de En-genharia Ambiental em Brasília ou em Fortaleza, mas foi encaminhada para Goiânia. “A embaixada envia a documentação para uma banca de seleção coordenada pelo Ministé-rio das Relações Internacionais do Brasil. Se não for ofertado o curso almejado nas cidades escolhidas, o candidato é encaminhado para ou-tra cidade que tenha vaga disponí-vel e que possa recebê-lo,” explica a estudante.

Inserir-se em uma nova cultura pode levar um tempo até a adaptação com as particularidades locais: “No meu país, o básico não é feijão, lá eu como uma ou duas vezes no ano, quando tem feijoada. Eu estranhei algumas coisas, como banana frita, que nunca havia comido”, conta a estudante de Ecologia e Análise Ambiental.

A língua falada no Guiné-Bissau é o português, mas a estudante sentiu uma certa dificuldade com as particu-laridades brasileiras. “Quando eu che-guei aqui, eu falava tão rápido que às vezes a pessoa falava: o quê? Não es-tou entendendo nada. Agora eu estou falando um pouquinho mais devagar e as pessoas me entendem. As pessoas acham que eu falo errado, e eu acho que vocês é que falam errado”, acres-centou Saturnina da Costa.

Outra estudante que ingressou na UFG pelo PEC-G foi a cabo-verdiana Osval-dina Soares. Ela está no 6º período do curso de Biotecnologia. Contou que estava no ensino médio quando sou-be que poderia disputar uma vaga de curso de graduação em outros países. “Eu concorri para Portugal e Brasil, e consegui a vaga para Goiânia e vim,” informou Osvaldina Soares.

Quanto à adaptação ao Brasil, Soa-res afirmou que o que mais a afetou foi o clima.“O verão aqui é diferente do meu país. Aqui quando faz frio é mais intenso e, como eu sou asmáti-ca e Goiás é muito seco, isso me afe-tou muito.” Quanto à alimentação, foi tranquilo, “Tem comida que é muito parecida com as nossas. Mas eu expe-rimentei muita coisa nova, tapioca e pamonha, que eu amei. Como quase todo final de semana,” afirma a estu-dante de Biotecnologia.

Durante Semana da África 2015, diversas oficinas valorizaram a cultura africana

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Eurípedes Júnior

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Italo Wolff

Para que uma indústria mantenha sua licença ambiental é necessá-rio que, entre outras exigências,

tenha seus despejos líquidos descar-tados em conformidade com as reso-luções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Entretanto, o tra-tamento pode ser oneroso, especial-mente se considerarmos que, de acor-do com a última pesquisa do IBGE, em Goiás apenas 69 dos 246 municípios possuem redes de esgoto. Portanto, reduzir os custos do tratamento dos efluentes industriais é uma contribui-ção importante para a manutenção da qualidade dos corpos hídricos.

Estudo da UFG coordenado pela pro-fessora Tatianne Ferreira de Oliveira, do Departamento de Engenharia de Alimentos da Escola de Agronomia, busca métodos alternativos de baixo custo para o tratamento de efluen-tes da indústria. A pesquisa consis-te em isolar bactérias lipolíticas, ou seja, capazes de decompor gordura quimicamente e desenvolver um ex-trato enzimático que pode ser apli-cado aos rejeitos industriais. O ex-trato produzido por essas bactérias apresenta baixo custo de produção e pode ser uma solução para o trata-mento de efluentes.

A gordura existe em grande quan-tidade nos rejeitos da indústria ali-mentícia e é um problema grave quando presente nos corpos de água em níveis acima dos autorizados pelo Conama (50 miligramas de óleos ve-getais ou gorduras animais por litro de água). Quantidades maiores po-dem entupir vias hídricas e obstruir o oxigênio de bactérias aeróbias que degradam detritos. Atualmente, para barrar a passagem da gordura para as fases posteriores do tratamento dos efluentes líquidos, são utilizadas caixas retentoras de gordura.

Na pesquisa, bactérias lipolíticas são encontradas na própria matéria que fica retida nessas caixas de gordura, isoladas e cultivadas em laboratório. Por se utilizar óleo vegetal comum para o cultivo dessas bactérias, o custo é relativamente baixo, mesmo para escalas industriais. O extrato en-zimático produzido pode ser usado juntamente com a caixa retentora de gordura, aumentando sua eficiência. Segundo Tatianne Ferreira de Olivei-ra, o método – capaz de decompor gorduras, óleos e graxas – é útil na etapa de pré-tratamento, antes dos efluentes seguirem para as lagoas de estabilização, onde a maior parte dos poluentes é removida.

Micropoluentes

Outra pesquisa desenvolvida pela professora Tatianne Ferreira de Oli-veira diz respeito à degradação de micropoluentes em rejeitos aquosos por meio de tecnologias avançadas. Micropoluentes são substâncias pre-sentes em pequenas quantidades, mas que são altamente tóxicos e can-cerígenos; podem ser produzidos pela indústria farmacêutica, química, entre outras. Atualmente, não há re-soluções ou legislação específica para o tratamento desses compostos.

De acordo com o professor da Esco-la de Engenharia Civil e Ambiental, Eraldo Henriques de Carvalho, os micropoluentes não são atualmente tratados por uma questão econômi-ca, visto que, “50% dos municípios brasileiros não têm nem tratamento básico – que é a remoção de matéria orgânica e remoção de patogênicos. Por enquanto, tratar esse universo de hormônios e antibióticos está lon-ge da nossa realidade”, explica. Para o professor, embora seja possível apresentar projetos para remoção de micropoluentes não se pode per-der de vista o contexto econômico.

A pesquisa da professora Tatianne Ferreira de Oliveira procura a remoção de micropoluentes de rejeitos aquosos por meio de um tratamento oxidativo avançado. Apesar dos custos altos na remoção destes micropoluentes, ela acredita que o avanço das tecnologias nessa área pode contribuir para que esse processo seja barateado.

Bactérias são usadas para tratar rejeitos industriaisPesquisas da UFG buscam soluções para a remoção de gorduras e micropoluentes de efluentes líquidos industriais

Bactérias lipolíticas são retiradas das caixas de gordura

Resíduos saem das indústrias e passam para as caixas de gordura

Elas são isoladas e criadas em laboratório, produzindo o extrato

enzimático

Extrato enzimático é aplicado ainda nas

caixas de gordura

Efluente segue para lagoas de estabilização com menor carga de gordura

Cadeia de tratamento de rejeitos industriais

O lodo da lagoa deve ser retirado e enviado

para processamento periodicamente

Entenda como é aplicado o extrato enzimático na cadeia de tratamento dos rejeitos industriais

Após sedimentação da matéria pesada, o efluente retorna para o meio ambiente

com alto nível de pureza

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Laboratório da UFG é pioneiro na produção

de anticorposCentro de Produção de Anticorpos também

realiza projetos que geram avanços para Goiás em pesquisas científicas

Anna Carolina Mendes

A tuando desde 2006, o Centro de Produção de Anticorpos do Centro-Oeste (Cepraco)

é pioneiro na produção de anticor-pos em Goiás. Com o projeto apro-vado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Cepraco é res-ponsável por produzir e expandir hibridomas, células que dão origem a anticorpos. Para a produção, os pesquisadores do Cepraco utilizam as células dos camundongos. Ape-sar de localizado em um pequeno espaço próximo à Faculdade de Farmácia da UFG, o centro possui estrutura com tecnologia de ponta, contando com estufa para trabalho com cultivo celular, microscópio in-vertido, cromatógrafo, sala de imu-noquímica e leitor de elisa, para os testes com anticorpos.

Biotecnologia

Segundo a coordenadora do Cen-tro, Lucimeire Antonelli, na épo-ca em que o Cepraco foi implan-tado, a biotecnologia não tinha um desenvolvimento satisfatório no Estado: “Existia dificuldade por parte de nossos pares em en-tenderem a importância da Uni-versidade se afirmar como polo produtor biotecnológico no Esta-do”, explica. Para ela, o Centro de Produção de Anticorpos surgiu em um contexto de emergência da área. A coordenadora enxerga no

Cepraco possui estrutura com tecnologia de ponta

aparato biotecnológico um meio inovador para o progresso da pes-quisa que, por sua vez, pode vir a gerar patentes.

“Nunca vislumbrei a produção biotecnológica e a pesquisa como algo separado e incongruente, ao contrário, são complementares e uma pode fomentar e fortalecer a outra”, afirma Lucimeire Anto-nelli. Com a implantação do curso de Biotecnologia na UFG, esta área passou a se desenvolver com mais força dentro da Universidade, com o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) avançando no âmbito de pesquisas. A coor-denadora acredita que o Cepraco tem potencial de atuação tanto no desenvolvimento de produtos e insumos biotecnológicos, dentro de sua área de atuação, quanto na pesquisa básica e aplicada.

Projetos

Os pesquisadores do Cepraco estão envolvidos em diversos projetos de pesquisa de mestrado, doutorado e em colaboração com professores do IPTSP e das faculdades de Farmácia e Química. Uma das pesquisas que mais chamam a atenção, devido ao seu valor científico, é o estudo da imunopatogênese da dengue, que busca entender o que acontece no organismo do indivíduo com den-gue que o faz desenvolver a forma mais grave da doença.

Segundo a estudante de douto-rado do Programa de Medicina Tropical e integrante da pesquisa, Isabela Junqueira, o estudo tem como objetivo entender por que o indivíduo desenvolve a forma mais grave da doença, focando na resposta do indivíduo ao vírus, e não na questão viral em si. “Seria interessante detectarmos marca-dores de que o paciente irá desen-volver a forma grave da doença antes que isto ocorra”, observa a estudante.

Outro importante projeto realizado no Cepraco busca alternativas para o tratamento de pacientes com tu-mor. Os tratamentos contra o cân-cer, em geral, são nocivos ao orga-nismo. A intenção deste projeto é estimular o sistema imune para que ele regrida a massa tumoral, explica Layanny Kelly, uma das pesquisado-ras do projeto. Para tanto, os pes-quisadores utilizam adjuvantes, que são potencializadores da resposta imunológica, para fortalecer o siste-ma imune e combater o tumor.

Células de camundongos são utilizadas para produção de anticorpos

Reconhecimento de projetos em premiações científicasNa esteira para conseguir mais visibilidade para seus projetos, o Cepraco foi premiado em 2010 com o projeto de adjuvantes na resolução do tumor na categoria Saúde pelo Banco Santander, na premiação de Ciência e Inovação. Desenvolvida pela coordenadora Lucimeire Antonelli, juntamente com o aluno de iniciação científica do curso de Medicina, Daniel Magalhães, a pesquisa foi uma das três selecionadas a nível nacional.

O Cepraco ganhou, ainda, outro prêmio na categoria Biotecnologia, com o projeto de imunoterapia contra o câncer. O prêmio foi uma bolsa Ibero-americana, cujo valor em dinheiro deveria ser obrigatoriamente gasto em estágios ou cursos no exterior, por um período de pelo menos dois meses. “Utilizamos o recurso em estágio, treinamento e realização de experimentos no Center for Vaccine Research da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos”, detalha a coordenadora do Cepraco.

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sa Estudo avalia conforto térmico em feiras livres de GoiâniaLaboratório de Climatologia Geográfica da UFG coletou dados na Feira Hippie e no Mercado Aberto sobre a variação nos parâmetros climáticos em diferentes meses do ano

Variações na temperatura da Feira Hippie e do Mercado Aberto de Goiânia foram avaliadas entre 2013 e 2014

Desconforto térmico é mais percebido nos meses de agosto e setembro

Serena Veloso

As feiras ao ar livre são uma das mais tradicionais formas de comércio popular em Goiâ-

nia e constituem parte da história da capital. Atualmente, a cidade possui mais de 150 feiras livres dedicadas ao comércio de alimentos, roupas, calça-dos, artesanatos, entre outros artigos, o que envolve um grande número de trabalhadores. Mas será que as estru-turas e a organização desses espaços estão adequadas para os trabalhado-res realizarem suas atividades?

Uma pesquisa desenvolvida pelo La-boratório de Climatologia Geográfica do Instituto de Estudos Socioambien-tais (Iesa) da UFG avaliou, entre 2013 e 2014, o conforto térmico em duas feiras abertas da capital: a Feira Hi-ppie, localizada no setor central, e o Mercado Aberto de Goiânia, situado na avenida Paranaíba. A proposta era coletar os dados ao longo do ano nos dois ambientes e observar as va-riações nos parâmetros climáticos, principalmente nos períodos em que as condições climáticas favorecem a elevação da temperatura. A partir do levantamento, foram analisados os períodos do ano e os horários do dia com maior desconforto térmico para os comerciantes no desempenho de suas atividades.

De acordo com a coordenadora da pesquisa e professora da UFG, Gislai-ne Cristina Luiz, o crescimento urba-no nos últimos anos tem influenciado na modificação da variação espacial e temporal da temperatura e umidade relativa do ar, o que favoreceu, tam-bém, a mudança na sensação de con-forto térmico em diferentes épocas do ano, em especial nas áreas onde há maior ocupação demográfica. No

caso das duas feiras, essa mudança é perceptível, sobretudo, nos meses de agosto e setembro, quando o calor e a baixa umidade determinam maior desconforto térmico. Segundo a co-ordenadora da pesquisa, esses im-pactos apontam para a necessidade de considerar as condições atmosfé-ricas como subsídio ao planejamento e desenvolvimento urbano.

“O excesso de calor associado a bai-xos índices de umidade do ar, bai-xa velocidade dos ventos, ruídos e, ainda, quando associados à estrutu-ra urbana não adequada, afetam a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas provocando desconforto”, explica Gislaine Cristina Luiz sobre o que motivou a realização do estudo, ligado a um projeto para detecção de ilhas de calor e frescor em Goiânia.

Um dos aspectos considerados pela pesquisa foi a sazonalidade climática de Goiânia. Com duas estações bem definidas, a capital goiana apresenta ao longo do ano um período marcado por elevadas temperaturas e baixa umidade relativa do ar, especialmen-te no final do inverno e início da pri-

mavera, entre os meses de agosto e outubro; e outro chuvoso, que vai de outubro a março, momento de maior intensidade das chuvas. Nesse con-texto, a pesquisadora ressalta que durante as estações da primavera e verão a temperatura do ar chega aos seus maiores índices de elevação, o

O excesso de calor associado a baixos índices de umidade do ar, baixa velocidade dos ventos, ruídos e, ainda, quando associados à estrutura urbana não adequada, afetam a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas provocando desconforto

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13Pesquisa

Organização da estrutura das feiras é uma das responsáveis pelo aquecimentoApenas no mês de julho foram registradas temperaturas dentro

da faixa de conforto térmico nas duas feiras

que influencia de forma determinan-te na sensação de desconforto térmi-co, principalmente se acompanhado de baixos índices de umidade.

Para fazer a avaliação, foi realizada mensalmente, em diferentes horários, a medição do índice de conforto térmi-co em cada uma das feiras e o acompa-nhamento das variações apresentadas na umidade do ar e na temperatura ao longo do dia. Com essas informações, foi traçado um comparativo dos meses e horários do dia em que os termôme-tros indicaram as temperaturas mais elevadas associadas a baixos índices de umidade. A partir daí, foi possível identificar os meses e os horários em que as condições climáticas de Goiâ-nia, associadas às estruturas das duas feiras livres, propiciavam maior des-conforto térmico.

Comércio popular x clima

Considerada a maior feira a céu aber-to da América Latina, a Feira Hippie existe há mais de 30 anos e já fun-cionou em diversos locais nas proxi-midades da região central da capital goiana, até se estabelecer ao lado do Terminal Rodoviário, na Praça do Trabalhador. Criada inicialmente como espaço para venda de produtos artesanais, próximo ao Parque Mu-tirama, a feira logo se popularizou e alcançou grandes proporções, sendo transferida para diferentes pontos com o crescimento do comércio e o aumento do fluxo de pessoas. Além da importância econômica, Gislaine Cristina Luiz destaca o papel da área

comercial na reconfiguração espacial da cidade, já que, segundo ela, a feira "estimulou transformações socioes-paciais que atingem, de forma signi-ficativa, as imediações da rodoviária de Goiânia".

Já o Mercado Aberto, instalado no canteiro central da Avenida Parana-íba, é mais recente, foi construído em 2003 pela Prefeitura de Goiânia como estratégia para a retirada dos ambulantes das ruas do centro da cidade e regularização das ativida-des por eles desenvolvidas. Ambas se situam justamente em uma área de grande impacto das ilhas de calor na cidade. Junto às condições climá-ticas, a pesquisadora alerta que a or-ganização da estrutura dos espaços, a circulação de um grande número de pessoas, a dinâmica de funcionamen-to e a cobertura das barracas em lona provocam o aquecimento do local e dificultam a circulação de ar, o que incide na redução da umidade. “Prin-cipalmente nos meses de setembro e outubro, nós temos, nas duas feiras, um desconforto térmico já efetivado ao longo do dia para quem está tran-sitando”, alega.

A estudante do curso de Ciências Am-bientais, Késia Christina Santos da Paixão, pôde experimentar a sensa-ção térmica nesses comércios duran-te vários dias em que realizou a pes-quisa de campo e confirmou: “É bem desconfortável ficar nesses locais, pois até em dias frescos ou em dias em que estava chovendo, com o aglo-merado de pessoas que circulam no espaço, fazia bastante calor”, declara.

Desconforto térmico prevalece

A pesquisa demonstrou que na Feira Hippie o desconforto térmico pre-dominava em grande parte do dia ao longo do ano e que, em alguns me-ses, as altas temperaturas causavam um aumento nesse índice, mesmo em horários com menor incidên-cia solar, como às 8h da manhã. “Ao longo do período analisado, na Fei-ra Hippie, apenas o mês de junho de 2013 se inseriu em condições favoráveis de conforto térmico ao longo do dia, com temperatura efe-tiva entre 23,2°C e 25,4°C”, comenta Gislaine Cristine Luz, que apontou a coincidência do conforto térmico no mesmo mês, além de julho, no Mer-cado Aberto.

No mês de fevereiro, que corresponde a estação do verão, e setembro, início da primavera, foram registradas as maiores temperaturas em ambas as feiras. Na Feira Hippie, os termôme-

tros chegaram a marcar 43ºC, às 13h, horário com grande incidência solar; enquanto no Mercado Aberto, entre 15h e 17h, a temperatura chegava à casa dos 38ºC. Para a pesquisadora, um dos fatores que determinaram menores temperaturas no Mercado Aberto em relação à Feira Hippie é a própria distribuição das barracas, dispostas em sentido linear na feira da avenida Paranaíba e, também, o fato de se situar em uma via ampla, o que facilita a circulação do ar.

Segundo Gislaine Cristina Luiz, as condições de desconforto térmico têm sido apontadas como extrema-mente prejudiciais à saúde dos in-divíduos, sendo responsável pelo agravamento de problemas cardio-vasculares, respiratórios, alérgicos, sobretudo entre a população de crianças e idosos. Por isso, ela acredi-ta que os resultados obtidos podem ter aplicabilidade em pesquisas di-versas que relacionam as condições climáticas à saúde dos feirantes e dos frequentadores desses comércios.

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Variações de temperatura nas feiras livres

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Planos

Para os próximos anos, a coorde-nação da Assincat planeja atender mais pessoas e criar cursos não só de inclusão digital, mas também voltados ao uso da informática para o fomento da cultura digital. “A As-sincat, em parceria com a Fundação Cultural de Catalão, tem planos de, a partir desta etapa de nivelamento básico dos alunos, desenvolver cur-sos mais complexos, como a edito-ração de textos, produção de filmes em stop motion e desenhos digitais. Os recursos necessários para esse programa estão sendo providencia-dos pela Prefeitura de Catalão”, de-talha André Carlos Silva.

Comunidade inserida na sociedade da informaçãoAssociação, que funciona na Regional Catalão da UFG, oferece cursos e acesso a computadores para população

Angélica Queiroz

A cidade de Catalão tem mais de 90 mil habitantes e parte significativa dessa popula-

ção ainda é excluída digitalmente. Atentos a essa realidade e visando romper com o processo de reprodu-ção das condições de miséria, deses-perança e falta de perspectivas das populações carentes, professores da UFG Regional Catalão, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) possibili-taram a implantação de um infocen-tro de inclusão digital na cidade, com a criação da Associação Infocentro e Cultura Digital de Catalão (Assincat). A associação foi instalada no início do ano numa sala localizada na Fun-dação Cultural Maria das Dores Cam-pos, na Regional Catalão da UFG.

“Trata-se de uma iniciativa funda-mental para incrementar a educação da população, assegurar a preserva-ção cultural, iniciar a requalificação profissional de trabalhadores e in-centivar a criação de postos de traba-lho de maior qualidade”, detalha o co-ordenador da Assincat, André Carlos Silva. Em funcionamento desde o mês de junho, o local oferece gratuitamen-

te cursos voltados à inclusão digital, como nivelamento básico, internet, uso do Pacote Office e cursos mais avançados para públicos específicos, como Wix Web Design e AutoCad. São oferecidos, também, horários livres àqueles que necessitam utilizar a in-ternet ou os computadores para de-senvolver algum tipo de trabalho. Os professores são alunos graduandos e mestrandos da própria UFG, que pos-suem bolsa da Fapeg para se dedica-rem às atividades do projeto.

Para André Silva, apesar de as primei-ras turmas ainda estarem em anda-mento, já é possível identificar alguns resultados preliminares. “Existe alta carência por parte da comunidade catalana no conhecimento inicial so-bre o uso de computadores, tanto que o curso mais procurado é o de nivelamento básico”, afirma. Segundo ele, a população de Catalão necessita de políticas de incentivo à inclusão digital, bem como dos serviços que o Infocentro oferece hoje. “Estamos focados em oferecer, além de qualida-de nos cursos, cidadania aos nossos alunos, pois a cidadania está entrela-çada ao acesso à informação e pode ser melhor obtida através das tecno-logias da informação”.

Foco na terceira idade

Apesar de ser aberta a toda comu-nidade catalana, o foco do infocen-tro vem sendo a promoção da in-clusão digital de alunos da terceira idade. “Notamos que existe alta ca-rência por parte desse público no conhecimento inicial sobre o uso de computadores”, afirma o coor-denador da Assincat. Atualmente, estão em funcionamento várias turmas de nivelamento básico es-pecíficas para esse público, nas quais são ensinadas noções iniciais como, por exemplo, domínio do mouse e teclado e uso de aplicati-vos e da internet, entre outros.

Há ainda turmas de cursos especí-ficos para artesãos e pequenos em-preendedores, que compreendem tanto noções básicas de informática, como o uso das redes sociais e a cria-ção de sites para a promoção de seus negócios. “Sabe-se que esse público é de grande importância para o de-senvolvimento socioeconômico do município, sendo essencial o fomen-to e a expansão dos negócios desses alunos”, ressalta André Silva.

• A inscrição deve ser realizada junto à secretária da Fundação Maria das Dores Campos. • Os interessados devem levar documentos pessoais como CPF, RG e comprovante de endereço.

• Para a matrícula de menores de idade, o responsável deve comparecer e levar seus documentos, bem como os do futuro aluno.

• Não existe nenhuma taxa ou mensalidade.

“Há muito tempo estava com vontade de fazer curso de informática, mas não

encontrava um local”.Marcos Paulo Gonzaga Lopez, 12 anos

“Nunca tinha usado o computador antes e agora já tenho até Facebook”.

Alda Maria Alves, 45 anos

“Soube da Assincat em visita à Fundação Cultural, ao procurar outros cursos,

como violão ou guitarra, mas preferi fazer o curso de informática. Quando

crescer, vou trabalhar num emprego que possui computador”.

Eduardo Henrique de Oliveira, 10 anos

“Acredito que o diploma pode me ajudar a arrumar emprego”.

Paula Andressa Antunes, 20 anos

“Já havia usado o computador antes, mas tinha dificuldades com o uso do

Pacote Office. Agora, com as aulas, tenho muito mais facilidade para fazer

textos no Word referentes aos trabalhos solicitados pelas professoras na escola”.

Gabriel Alves de Souza, 11 anos

“O curso tem me ajudado a abrir a mente. Acesso a internet para ver sobre

desenhos, pois trabalho com desenhos de relógio”.

Lucas Peixoto de Campos, 28 anos

Na Assincat, idosos aprendem noções básicas de computação

Alunos de todas as idades têm acesso gratuito a diversos cursos que vão do básico, como pacote Office, até específicos como AutoCAD

Fotos: Assincat

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15

Timossi destaca que as crotalárias e braquiárias têm se adequado bem ao sistema de rotação de culturas no Cerrado e, por isso, têm possibilita-do a diminuição do uso de herbici-das, sem, no entanto, dispensá-los. Isso tem sido possível desde que se adotem espécies que sejam sensíveis à molécula herbicida glyphosate.

Regionais

Pesquisas demonstraram efetividade de espécies utilizadas na cobertura vegetal sobre o solo para a redução do uso de herbicidas em áreas de plantio direto

Fotos: Paulo César Timossi

Plantas de cobertura reduzem pragas e uso de herbicida em plantações

Serena Veloso

O controle de plantas daninhas em lavouras ainda é um pro-blema sério encarado pelos

agricultores no Sistema de Plantio Direto, pois tais plantas além de re-duzirem a produtividade e eficiência da terra ao dificultarem o crescimen-to das culturas, aumentam os custos na produção. Atualmente, os produ-tores têm recorrido ao uso de herbi-cidas para o controle dessas plantas indesejadas. No entanto, tal ferra-menta não tem agido com eficácia para essa finalidade, pois algumas espécies têm se mostrado resisten-tes a adoção de produtos químicos.

Para pensar no manejo sustentável da produção agrícola, pesquisas de-senvolvidas pela equipe do Labora-tório de Plantas Daninhas (LPD), da Regional Jataí da UFG, investigaram espécies de plantas de cobertura que possam minimizar o impacto ocasio-nado pela disseminação de plantas daninhas resistentes nas culturas de oleaginosas e de cereais. As plan-tas de cobertura são resultantes do aproveitamento de plantas e de re-síduos vegetais de outras safras, a chamada palhada, a qual favorece a cobertura do solo e tem auxiliado na supressão de pragas que podem se alastrar nas culturas.

As pesquisas foram realizadas nas culturas de soja em primeira safra, na época da Primavera/Verão, e de milho em segunda safra, durante o Outono/Inverno, localizadas no sudoeste goiano. Segundo o coor-denador das pesquisas, Paulo César Timossi, o objetivo é também buscar espécies que, além de influenciar na diminuição dessas plantas daninhas, se encaixem em programas de rota-ção de culturas, um dos pilares do Sistema de Plantio Direto.

Três espécies de plantas de cober-tura foram identificadas como efi-cientes para reverter o problema no cultivo de soja e milho: a braquiária ruziziensis (Urochloa ruziziensis) e dois tipos de crotalárias (Crotalaria junceae e Crotalaria ochroleuca). “O cultivo de crotalárias e braquiárias, isoladas ou em cultivo simultâneo ao milho, tem se destacado no manejo de plantas daninhas de difícil com-bate, diminuindo-as em quase a sua totalidade em áreas com altas infes-tações”, salienta o pesquisador.

Sistema de Plantio Direto

O esquema de manutenção da qua-lidade do solo por meio da cober-tura vegetal integra uma das prá-ticas do Sistema de Plantio Direto. Atualmente, estima-se que 50% das plantações brasileiras de grãos utili-zam essa modalidade para o manejo sustentável do solo, uma das alter-nativas que podem contribuir para reduzir os impactos causados por práticas da agricultura tradicional, como a aração e a gradagem, e tra-zer maior estabilidade na produção. Entre os pontos positivos, o sistema possibilita a redução das emissões de carbono pelas queimadas, as per-das de solo e água pelo processo ero-sivo e a compactação do solo.

Isso porque, explica Paulo César Ti-mossi, um dos pilares do modelo agrícola é a gestão da terra pela rota-ção de culturas, que permite, a partir dos resíduos vegetais e raízes deixa-das por plantações anteriores, a ma-nutenção permanente do solo. Esses restos das culturas contribuem para o enriquecimento do solo com maté-ria orgânica, que irá ser decomposta gradualmente e se tornará nutrientes importantes para o melhor desen-volvimento do plantio. A cobertura promove ainda melhor infiltração da água das chuvas no solo e, assim, re-duz a ocorrência de erosões.

Benefícios

Para Paulo César Timossi, um dos benefícios do manejo das plantas de cobertura é a diminuição do uso de produtos químicos nas lavouras. Ele explica que, atualmente, o Sistema de Plantio Direto no Cerrado tem se sus-tentado a partir do uso do herbicida glyphosate para o controle das plan-tas daninhas, em função das próprias características climáticas da região, que têm dificultado a alternância de culturas e, consequentemente, o esta-belecimento da palhada na superfície do solo, de forma a favorecer o cres-cimento dessas plantas. Tais herbici-das não têm se mostrado eficientes, durante o processo de pré-semea-dura, na redução da incidência de espécies de plantas daninhas como a buva (Conyza sp.), o capim-amargoso (Digitaria insularis), a erva-quente (Spermacoce latifolia) e a trapoeraba (Commelina benghalensis).

“Devido ao uso incorreto de tecno-logias e excesso de uso do herbicida glyphosate, tem ocorrido a seleção de espécies de plantas daninhas tole-rantes à molécula, o que tem levado alguns agricultores a retornar para o sistema convencional de cultivo por não conseguirem controlá-las quimi-camente”, alerta o pesquisador, que acredita ser um retrocesso para a agricultura. No entanto, Paulo César

Uso de braquiárias no cultivo de soja favorece a manutenção do solo e promove controle de plantas daninhas

Espécie de crotalária contribui na redução do uso de herbicidas em safrinha

Pesquisas do Laboratório de Plantas Daninhas, coordenada pelo professor

Paulo César Timossi, aposta no manejo sustentável

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Serena Veloso

A necessidade de um espaço para que pudessem colocar em prática os conhecimen-

tos adquiridos em sala de aula e ampliar a capacitação profissional como preparativo para o mercado de trabalho fez com que estudan-tes de Ciências Ambientais, do Ins-tituto de Estudos Socioambientais (Iesa), se unissem em prol de uma ideia. Em 2012, foi criada a pri-meira empresa júnior da Unidade Acadêmica, gerida exclusivamente pelos discentes: a Gaia Consultoria Ambiental Júnior.

A empresa, sem fins lucrativos, busca a integração acadêmica no desenvolvimento de projetos e serviços de cunho socioambiental, com a intenção de proporcionar aos estudantes experiência profis-sional e estimular suas habilidades de gestão e empreendedorismo. Atualmente, o curso de Geografia

Empresa júnior oferece consultoria ambientalEntre os projetos estão a adequação de mapas das cidades brasileiras e a promoção do correto descarte de bitucas de cigarro

Ações de educação ambiental com a população integram iniciativas da empresa júnior

Oficina sobre construção de horta escolar realizada durante evento da Gaia na cidade de Mambaí (GO)

conscientizou crianças e jovens sobre importância da alimentação saudável

também aderiu à iniciativa, da qual integram 25 estudantes, além de colaboradores externos, com orien-tação de professores do Iesa. Para o diretor vice-presidente da empresa júnior e estudante do curso de Ci-ências Ambientais, Humberto Viní-cius Carrijo, a empresa vem com-plementar a formação acadêmica dos alunos. “Nós ganhamos muito na questão da experiência, não só de gerir, mas, também, na parte da nossa área de atuação”, destaca.

Dentre os serviços e projetos que envolvem a consultoria ambiental, a Gaia trabalha com mapeamento, geoprocessamento, licenciamento ambiental, sensoriamento remoto, educação ambiental e cadastro rural ambiental para empresas e órgãos governamentais. Segundo Humber-to Vinícius Carrijo, alguns dos ser-viços oferecidos ainda são voltados para o atendimento de demandas da Universidade, no entanto, a ideia é ampliá-los para o público externo.

Projetos

Para promover essa aproximação com o mercado, os estudantes tam-bém têm colaborado em projetos da iniciativa privada. Um deles, o Map Creator, criado por uma empresa desenvolvedora de aplicativos para celular e GPS, envolve diversas equi-pes em todo o país que trabalham na atualização e adequação de mapas de cidades brasileiras. Com mote competitivo, o projeto oferece pre-miação à equipe que realizar o maior número de atualizações no mês e aos integrantes que obtiverem destaque no trabalho. “Já ficamos em sexto lu-gar no Brasil e, em junho deste ano, tivemos três destaques individuais que estiveram no top 30 de editores”, comemora o diretor de projetos da Gaia, João Vitor Silva Costa.

Entretanto, não só demandas de organizações podem se tornar tra-balho. Ideias que surgem na sala de aula acabam também sendo agrega-das à rotina dos estudantes, como é o caso do projeto Bituca Zero. De-senvolvido durante a disciplina de Educação Ambiental do curso de Ciências Ambientais, em parceria com a Incubadora Social da UFG, o projeto visa conscientizar a comuni-dade universitária sobre o descarte correto de bitucas de cigarro. A pro-posta é espalhar bituqueiras feitas de PVC dentro do Câmpus Samam-baia. “Esse é o início de um projeto que queremos desenvolver de coleta seletiva dentro do câmpus”, explica Humberto Vinícius Carrijo.

Educação ambiental

Além do desenvolvimento e parti-cipação em projetos, os estudantes também podem se envolver na or-ganização de eventos voltados para a educação ambiental. Desde o ano passado, a Gaia, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conser-vação da Biodiversidade (ICMBio), realiza o Encontro de Pesquisa e Ex-tensão do Vão do Paranã. Motivados por projetos científicos desenvolvi-dos em aulas de campo na região, que possui cinco Unidades de Conserva-ção, graduandos da UFG e técnicos do ICMBio perceberam a necessidade de apresentar os resultados à comuni-

dade local, o que veio a convergir na proposta de realização do evento.

“O intuito é justamente proporcionar o conhecimento da região e tentar agre-gar mais pesquisas, principalmente nesses ambientes cársticos, que são ex-tremamente frágeis e suscetíveis à con-taminação de rios e cavernas, causada pelo avanço da agricultura extensiva no oeste da Bahia”, afirma o estudan-te do curso de Ciências Ambientais e coordenador geral do evento, Gustavo Rodrigues de Mendonça Neto. Preocu-pados, também, com a conscientização ambiental da população local, os estu-dantes incorporaram ao evento ações que envolvessem a comunidade e suas demandas, por meio de oficinas, mini-cursos, capacitações e vivências.

UFG Júnior

Com o objetivo de estabelecer um sistema de acompanhamento, regu-lamentação, consultoria e apoio téc-nico às empresas juniores na Univer-sidade, além de fomentar a cultura do empreendedorismo, o Conselho Universitário (Consuni) instituiu, em 2009, a resolução que cria o Progra-ma de Empresa Júnior – UFG Júnior, vinculado a Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação (Prpi).

O Coordenador de Transferência e Inovação Tecnológica, Cândido Bor-ges, explica que essas empresas não possuem fins lucrativos e são geridas por estudantes, onde têm “a oportuni-dade de desenvolver o comportamen-to empreendedor e aprender a gerir uma organização”. Cada curso da UFG pode ter apenas uma empresa júnior a ele vinculada. Os procedimentos e a documentação necessárias para a criação estão disponíveis no sítio da Prpi: <www.prpi.ufg.br>.

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niversidade

Pilão mecânico, desenvolvido por professor da Escola de Agronomia da UFG , Celso José de Moura,

recebeu carta patente em setembro deste ano. Equipamento é a primeira patente de invenção da

unidade. Registro foi solicitado em 2003.

ARTIGO

Daniel Brito*

Periódicos Predatórios: o lado negro do open access

das editoras open access é fachada para aproveitado-res que perceberam um mercado lucrativo em po-tencial. Eles estão interessados apenas em receber as taxas de publicação e nem um pouco preocupa-dos com a qualidade da ciência publicada em suas revistas.

Existem revistas com corpos editoriais fantasmas ou que usam indevidamente o nome de pesqui-sadores conhecidos. Uma revista chegou a incluir um pesquisador falecido como seu editor chefe! As editoras tradicionais apresentam um volume grande de submissões e uma dificuldade de en-contrar revisores. Isso faz com que o processa-mento de um manuscrito dure meses.

Uma das iscas muito usadas por revistas open ac-cess é alardear um tempo incrivelmente rápido de processamento (de poucos dias ou semanas). Na maioria dos casos não existe processo de revisão por pares, e o que limita o tempo de publicação é o quanto os autores demoram para pagar a taxa de publicação. Pesquisadores antiéticos aproveitam para inflar seus currículos, publicando manuscri-tos que seriam rejeitados em revistas sérias. Pseu-docientistas encontraram o veículo perfeito e pu-blicam pseudo-artigos (“comprovando” astrologia, criacionismo, homeopatia, OVNIs, etc), dando um falso status de comprovação científica para temas que não possuem nada de ciência. Estas revistas in-clusive são palco de crimes, onde cópias de outros artigos, livros e/ou teses são publicados.

Como resultado destas práticas, as revistas open access estão recheadas de pseudociência, plágio e artigos de péssima qualidade. As consequências disso vão muito além de prejudicar o avanço da ci-ência. Um público leigo pode não saber distinguir entre uma revista confiável e uma fraudulenta, en-

A comunidade científica vem debatendo me-lhorias na forma de divulgar suas desco-bertas. As revistas tradicionais, que cobram

uma taxa para que o leitor tenha acesso aos artigos publicados, têm sido bastante criticadas. As revis-tas open access, onde os autores arcam com o custo de publicação, que é disponibilizada gratuitamente para o público, ganharam força. O número de edi-toras open access aumentou rapidamente. Em um mundo científico competitivo, este crescimento rápido e desregulado do sistema se mostrou um campo fértil para profissionais antiéticos, aprovei-tadores, pseudocientistas, e até mesmo criminosos.

Em 2013, um manuscrito com sérios erros de dese-nho amostral, análise de dados e interpretação de resultados, que seriam facilmente detectados por qualquer profissional, foi submetido para centenas de revistas do sistema open access. O manuscrito foi aceito na maioria delas, sem nenhum processo de revisão. Este é um exemplo, dentre uma quantidade crescente de evidências, que mostram que a maioria

Kharen Stecca

Durante o 12º Congresso de Ensino, Pesquisa e Pós-graduação foi realizado o Seminário de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação. A palestra de abertura, ministrada pelo Consultor Legislativo do Senado Federal, ex-professor da UFG e UnB, Luciano Póvoa, tra-tou sobre o tema Pesquisa Acadêmica, Proprie-dade Intelectual e Desenvolvimento Social. A intenção era discutir como é possível unir es-sas três vertentes, fazendo com que a universi-dade possa trazer inovação de forma a garantir o desenvolvimento da economia e da socieda-de. Conheça algumas das discussões apontadas por Luciano Póvoa sobre esse perfil brasileiro:

• No Brasil as universidades lideram o registro de patentes. Em outros países, como os Estados Unidos, as empresas são responsáveis pelos pri-meiros lugares no ranking.

• Empresas investem pouco em inovação no Brasil. A ideia dos polos e parques tecnológicos é unir setor produtivo e universidades para bus-car o aumento da inovação e facilitar sua chega-da ao sistema produtivo.

CAMINHOS DA PESQUISA

Universidades lideram registros de patentes no Brasil

• As áreas das patentes não condizem com as áreas em que mais produzimos conhecimento científico no Brasil, que são Agricultura, Física e Saúde.

• A Lei de Patentes (1996) potencializou o inte-resse em registro de patentes no país. Antes não havia entendimento sobre o registro, no caso de pesquisas de universidades. Hoje a patente é registrada conjuntamente entre instituição e pesquisador.

• Entre as instituições que mais registraram pa-tentes entre 2003 e 2012 estão a Petrobrás com 450 patentes, Unicamp com 395, USP com 284 e UFMG com 163 patentes.

• Uma das grandes polêmicas é se a universi-dade deve registrar patentes, já que o conheci-mento produzido por ela foi gerado com recur-sos públicos.

• Patentes não são suficientes para transferência de conhecimento tecnológico. Isso porque mui-to do conhecimento gerado na academia tem a ver com novos processos de produção, que tem baixa correlação com registro de patentes.

tre um artigo científico e um pseudocientífico. Isso fica evidente quando a mídia divulga notícias de re-sultados “científicos” encontrados nestas revistas.

Um exemplo é o aumento de casos de diversas doenças erradicadas ou controladas nos Estados Unidos (ex: sarampo) em virtude de movimentos anti-vacinação. Estes movimentos usam argu-mentos pseudocientíficos publicados em artigos falaciosos para relacionar vacinas com aumento nos casos de autismo em crianças. Um grande volume de pesquisas sérias demonstram que tal relação não existe e as vacinas são seguras. Um problema de saúde pública que existe apenas por uma educação científica falha, e reforçado por pseudociência sendo publicada e divulgada como ciência séria.

O processo tradicional não é perfeito e tem muito o que melhorar, mas é definitivamente mais cui-dadoso com a qualidade da informação. O sistema open access possui revistas sérias (por exemplo, as do sistema PLoS), mas estas são uma minoria em um imenso mar de lama. No Brasil, mais de 200 re-vistas predatórias estão no sistema QUALIS da CA-PES. Ao incluir tais revistas nos sistemas nacionais de avaliação, estamos prejudicando pesquisadores éticos e responsáveis, e beneficiando pesquisado-res antiéticos e/ou de baixa qualidade, além de pre-judicar o avanço e a credibilidade da ciência e das instituições de pesquisa brasileiras.

* Professor do Laboratório de Ecologia Aplicada e Conservação - Departamento de Ecologia, UFG

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O Jornal UFG não endossa as opiniões emitidas nos artigos, por serem de inteira responsabilidade de seus autores.

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destacou o kit que recebeu, contendo uma mochila; itens para cuidado da higiene corporal e bucal; preservati-vos; folders educativos; e um chine-lo. Além do kit, fornecido a todos os que participam do projeto, os indiví-duos positivos para HIV são encami-nhados para o Centro de Testagem e Acompanhamento (CTA) de Goiânia e recebem um bilhete de ônibus, para que possam receber tratamento.

Até outubro de 2015, em todas as ações realizadas, já foram coletadas amostras de sangue de 319 pessoas, sendo que dez delas apresentaram resultado positivo para HIV, onze para hepatite C, três para hepatite B e 55 para sífilis. O estudo confir-mou a hipótese dos pesquisadores: 60% a 80% dos indivíduos testados são usuários de crack.

Com base nas informações cole-tadas, foi constatado ainda que os indivíduos em situação de rua pos-suem grande necessidade de aten-dimento odontológico. Por isso, o Núcleo realizou uma parceria com a Faculdade de Odontologia para ofe-recer tratamento adequado a essa população. O Laboratório de Virolo-gia do Instituto de Patologia Tropi-cal e Saúde Pública da UFG (Iptsp) também entrou como parceiro para trabalhar na redução de danos, es-tratégias de adesão ao tratamento e avaliar as características dos agen-tes infecciosos identificados.

Os desafios enfrentados pelos inte-grantes do Núcleo envolvem a sen-sibilização da população em geral sobre o atual descaso com os mo-radores de rua e a capacitação dos profissionais de saúde que atuam junto a essas pessoas. Além disso, o objetivo é fazer com que a popula-ção de rua busque atendimento de saúde, tenha condições de aderir ao tratamento e seja assistida de for-ma integral e humanizada.

Lorena de Sousa

Há cerca de um ano e meio, o Núcleo de Estudos em Epide-miologia e Cuidados em Agra-

vos Infecciosos, com ênfase em He-patites Virais (Necaih) da Faculdade de Enfermagem da UFG realiza tra-balhos de pesquisa com moradores de rua em Goiânia. A ação teve início quando os pesquisadores foram es-colhidos para atuarem como parcei-ros em um levantamento nacional sobre o uso de drogas, comandado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fio-cruz). Após a parceria, as atividades se desdobraram em projetos de pes-quisas e extensão, envolvendo a po-pulação em situação de rua.

“Por meio do levantamento da Fio-cruz, percebemos que a maioria dos usuários de crack são moradores de rua e, por isso, decidimos realizar um trabalho envolvendo doenças infectocontagiosas”, conta Marcos André de Matos, coordenador do Necaih. As ações são feitas em par-ceria com a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) e a Se-cretaria da Saúde do Estado de Goi-ás em albergues, abrigos e nas ruas de Goiânia. Os indivíduos passam

por testes para apontar a presença das hepatites B e C, HIV e sífilis.

Casa de Acolhida

Integrantes do projeto, Haysa Na-dinne de Faria, Jéssyca Pereira, Andressa Cunha e Wilian Santana comentam sobre as ações realiza-das na Casa de Acolhida Cidadã, em Goiânia. Segundo eles, ao chegar ao local, o indivíduo responde a um questionário com cerca de 100 per-guntas sobre detalhes de sua vida. Entre outras coisas, são contempla-das questões sobre o uso de drogas, existência de doenças sexualmente transmissíveis e de fatores de ris-co. Os estudantes, por sua vez, re-cebem treinamento adequado para realizarem suas funções no projeto.

Para os alunos, cria-se uma relação afetiva que vai além do lado profis-sional, já que é possível perceber as carências e dificuldades das pes-soas atendidas. “Esse contato com eles não é só enfermeiro-paciente. O questionário tem perguntas bem íntimas, o que faz com que eles nos enxerguem como um amigo”, conta Wilian Santana. Para Haysa Nadin-

ne, o projeto proporciona um bene-fício para ambos os lados: “Fazemos nossa pesquisa e oferecemos esse serviço a eles. É muito gratificante pessoalmente, pois lidamos com histórias bem diversas”.

Depois desse primeiro momento, chamado de pré-aconselhamento, é realizada a coleta de sangue. “Cole-tamos o sangue e fazemos um teste rápido, que dá o resultado em 15 minutos”, explica Marcos André de Matos. Assim, as pessoas atendidas têm uma resposta imediata em re-lação à testagem. O passo seguinte é uma consulta de pós-aconselha-mento em que são realizadas ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e sensibilização da vul-nerabilidade a essas infecções.

Balanço positivo

Adalberto da Silva, morador da Casa de Acolhida Cidadã há mais de um ano, já foi atendido pelo projeto e faz um balanço positivo da ação. Ele

Moradores de rua recebem

atendimento e serviços

Núcleo de Estudos realiza pesquisa sobre doenças infectocontagiosas e promove ações de bem-estar e

acolhida para população em situação de rua

Kit é fornecido aos atendidos pelo Necaih. Eles também recebem bilhetes de ônibus para que possam frequentar o tratamento

Professor Marcos André coordena ações em parceria com a Semas e a Secretaria da Saúde do Estado de Goiás

Fotos: Adriana Silva

NecaihEndereço: Rua 227, quadra 68 Setor Leste UniversitárioTelefone: 3209-6280

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19Saúde

Síntese Tutoria de 2014 a 2015

2014 2015

Mar

ço

Abr

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Agos

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Dez

embr

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Jane

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Mai

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Sete

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TUTORES 1 3 4 5 6 7 8

SUPERVISORES 6 15 45 52 55 61 70

MÉDICOS 180 200 347 444 444 527 538

MUNICÍPIOS 68 80 120 132 132 143 144

Regiões de Saúde 12 14 16 17 17 17 17

Médicos com supervisão 38 141 347 419 438 496 538

Médicos sem supervisão 142 59 0 25 6 31 0

A UFG tem 8 tutores. Cada tutor acompanha e presta orientação acadêmica a um grupo de cerca

de 9 supervisores.

O projeto conta, atualmente, com 71 supervisores, que acompanham o trabalho dos médicos com visitas mensais nas unidades para verificar como está sendo o atendimento e o

acompanhamento dos pacientes.

538 médicos, entre intercambistas, cooperados e brasileiros, levam

atendimento à 144 municípios goianos.

UFG supervisiona Programa Mais MédicosUniversidade participa dando apoio aos supervisores, que acompanham o trabalho dos médicos nos municípios

oriundos de cerca de 180 países e, também, brasileiros. Os estrangei-ros não têm registro nos conselhos regionais de medicina, mas possuem um registro do Ministério da Saú-de, que os autoriza a trabalhar com atenção primária no país.

Para a apoiadora institucional do Ministério da Educação (MEC), em Goiás, Cássia Carneiro, a avaliação do programa nesses dois anos é bastante positiva, pois impactou os indicadores do Estado, princi-palmente os relacionados a óbitos infantis e quantidade de consultas. Ela ressalta que os médicos do pro-jeto não tomaram a vaga de outros médicos. “Não existiam médicos nesses locais”, afirma.

Desafios

A professora do IPTSP, Ana Maria Oliveira, é uma das tutoras do pro-jeto. Segundo ela, a tutoria apresen-ta muitos desafios, como compati-bilizar as atividades com as demais existentes, criar canais de comuni-cação com os supervisores para a educação continuada e propiciar ferramentas de educação perma-nente para os supervisores acompa-nhados pelos tutores. “A minha ava-liação é de que ainda temos muitos desafios pela frente, mas a caminha-da de mil passos começa com o pri-meiro. E o primeiro foi dado. Houve mudanças na forma de fazer saúde e na atenção básica; o cuidado em saúde tem chegado em locais nunca antes visitados”, afirma.

Angélica Queiroz

Com pouco mais de dois anos de existência, o Programa Mais Médicos, do Governo

Federal, que abrange um conjunto de ações e iniciativas para o for-talecimento da atenção básica no país, tem impactado diretamente na vida de milhões de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Pes-quisa conduzida pela Universidade Federal de Minas Gerais e pelo Ins-tituto de Pesquisas Sociais e Políti-cas e Econômicas de Pernambuco aponta aprovação de 95% entre as mais de 14 mil pessoas entrevista-das em cerca de 700 municípios. Os pontos mais citados na pesqui-sa foram mais atenção por parte dos médicos e mais consultas em lugares onde antes, muitas vezes, esse atendimento era inexistente.

Em Goiás, o Programa Mais Médi-cos começou em outubro de 2013. Inicialmente a supervisão do pro-grama ficou a cargo da Universida-de de Brasília (UnB), sendo que, em março de 2014, a UFG assumiu essa tarefa. Desde então, a UFG é a insti-tuição responsável pela tutoria des-ses médicos no Estado, dentro do Projeto Mais Médicos. A Universi-dade participa do projeto com oito professores tutores, que dão apoio acadêmico aos supervisores.

Atualmente, 538 médicos integran-tes do projeto realizam atendimento nas unidades de saúde em diversos municípios do Estado. Esses médi-cos são intercambistas individuais

Programa impactou na criação de novos cursos de Medicina na UFG

Entre as metas do Programa Mais Médicos para o Brasil, está a de que o país saia de 374 mil para 600 mil médicos até 2026, atingindo a meta de 2,7 médicos por mil habi-tantes. Para formar mais profissio-nais com qualificação em Atenção Básica, já foram abertas 5,3 mil va-gas de graduação distribuidas em universidades federais e institui-ções privadas, em todas as regiões do país. A meta é de que 11,5 mil novas vagas de graduação sejam criadas até 2017.

Outro objetivo do Programa é a in-

teriorização da formação. Nesse contexto, foi autorizada para a UFG a criação de dois novos cursos de Medicina nas Regionais Jataí e Ca-talão. Em Jataí são oferecidas 60 vagas desde o segundo semestre de 2014. Em Catalão, serão oferecidas 50 vagas e a previsão para o início do curso é 2017. De acordo com a Coordenadora de Projetos Espe-ciais da UFG, Sandramara Matias Chaves, com os novos cursos a Uni-versidade contribui “com a forma-ção de médicos qualificados para atender às necessidades de saúde da população goiana e brasileira”.

Para Ana Maria Oliveira, com o tempo devem ser criadas vagas permanentes para esses locais onde os supervisionados atendem. Segundo ela, a tendência é a de que haja ampliação da cobertura

no território brasileiro, com médi-cos com especialização em Saúde da Família. “Isso representa mais acesso da comunidade à assistên-cia médica e, enfim, à atenção bá-sica”, detalha.

Fonte: IPTSP

Como funciona o projeto?

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UFG representa o Brasil em experimento com neutrinosExperimento NOvA, um dos maiores já concebidos no mundo, tem como objetivo entender o comportamento dessas abundantes partículas elementares

Angélica Queiroz

O Prêmio Nobel de Física 2015, anunciado em outubro, foi con-cedido a Arthur B. McDonald,

da Queen's University, no Canadá, e a Takaaki Kajida, da Universidade de Tóquio, no Japão. Pesquisadores que lideraram experimentos, nos anos 90, sobre oscilação de neutrinos, o assun-to do momento na Física. Mas, afinal, o que são neutrinos? Por que eles des-pertam tanto interesse dos cientistas?

Neutrinos são partículas elementa-res resultantes de reações nucleares e, junto com os fótons, são as partí-culas mais abundantes no universo: cerca de um trilhão de neutrinos pas-sam por nós a cada segundo. Apesar de abundantes, eles raramente inte-ragem com a matéria, tornando mui-to difícil sua detecção. Por esse moti-vo, ainda há muito mistério sobre o comportamento dessas partículas, o que leva cientistas de todo o mundo a dedicarem-se a experimentos sobre o assunto.

A UFG possui um grupo de pesqui-sadores do Instituto de Física (IF) que estuda os neutrinos, colocando a Universidade como única represen-tante do Brasil em um dos maiores experimentos do momento: o NOvA*, realizado no Fermilab, laboratório de

aceleradores de física de partículas mais importante da América, capaz de produzir o feixe de prótons mais intenso do mundo, o que é excelente para o estudo de neutrinos. O experimento NOvA é uma colabora-ção composta por 210 cientistas e en-genheiros de 39 instituições nos Esta-dos Unidos, Brasil, República Tcheca, Grécia, Índia, Rússia e Reino Unido. O grupo da UFG foi convidado a parti-cipar por sua experiência em física de neutrinos e de raios cósmicos. Se-gundo o professor do IF, Ricardo Go-mes, que lidera o grupo brasileiro, os pesquisadores da área estão com as atenções focadas no experimento, um dos maiores já concebidos no mundo, com um detector de PVC e cintilador líquido de 14 mil toneladas: a maior estrutura de plástico autossustentá-vel já feita. Para o professor, entender o comportamento dos neutrinos pode ajudar os pesquisadores a compreen-der alguns mistérios ainda não des-vendados no universo.

Resultados e expectativas

Com pouco mais de um ano de dados do experimento NOvA, que deve cole-tar informações até 2020, cientistas já comemoram os primeiros resultados, apresentados na conferência da Divi-são de Partículas e Campos da Ame-

rican Physical Society em Ann Harbor, Michigan. Segundo Ricardo Gomes, foi observada a primeira evidência de neutrinos oscilando no NOvA, “confirmando que o enorme detector construído para o projeto não ape-nas funciona tal como o planejado, mas também está fazendo um grande progresso em direção a seu objetivo, o que representa um grande passo na compreensão dessas partículas”.

Experimentos de longa distância si-milares, como o T2K, no Japão, e o MINOS, no Fermilab, recentemente mediram precisamente os parâme-tros da oscilação de neutrinos. O NOvA está observando resultados quase equivalentes em um intervalo de tempo mais curto, com apenas cer-ca de 8% do total de dados esperados para o experimento. “Já conseguimos ter um resultado muito competitivo com relação aos experimentos ante-riores”, comemora Ricardo Gomes. O professor explica que a pesquisa não tem aplicações práticas imediatas, mas contribui para a compreensão do universo, embasamento de futu-ros estudos e formação de recursos humanos. Segundo ele, em breve, cientistas terão a chance de combi-nar os resultados de neutrinos obti-dos por T2K e MINOS com o NOvA, produzindo respostas mais precisas sobre os neutrinos.

O experimento

O feixe de neutrinos gerado no Fermi-lab, localizado próximo a Chicago, nos Estados Unidos, atravessa um detector no subsolo, chamado de Near Detector, que serve para medir a composição do feixe de neutrinos antes que ele saia do laboratório. A partir daí, as partí-culas viajam por mais de 800 km atra-vés da crosta terrestre, oscilando até Minnesota onde está localizado outro detector, o gigante Far Detector. Apro-ximadamente uma vez por segundo, o Fermilab envia trilhões de neutrinos para Minnesota, mas apenas alguns, aqueles que realizam alguma intera-ção, são registrados pelo Far Detector.

Quando um neutrino se choca com um átomo no detector do NOvA, ele pro-duz um sinal que é bem característico para cada tipo de neutrino: o eletrô-nico, o muônico ou o tauônico. O feixe original do Fermilab é composto quase que exclusivamente de um tipo de neu-trino – o muônico – e cientistas conse-guem medir quantos desses neutrinos muônicos desapareceram durante sua jornada e quantos deles reapareceram como neutrinos eletrônicos.

O acelerador principal do Fermilab já definiu um recorde mundial de in-tensidade para um feixe de neutrinos, mas está trabalhando para melhorar ainda mais para o NOvA e o futuro projeto DUNE (Deep Underground Neutrino Experiment), que deve come-çar em 2020. Pesquisadores esperam alcançar 700 kW no início do próximo ano, acumulando uma enorme quan-tidade de interações de neutrinos e triplicando a quantidade de dados até o final do próximo ano.

*NOvA é uma sigla para NuMI Off-Axis Electron Neutrino Appearance.

NuMI, por sua vez, é uma sigla para Neutrinos

from the Main Injector – o principal acelerador do

Fermilab. O complexo de aceleradores do Fermilab é uma instalação do DOE

Office of Science, maior fomentador de pesquisa

básica em ciências físicas nos Estados Unidos.

Far Detector é uma das maiores estruturas já construídas para um experimento

Fotos: Divulgação

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21Pesquisa

Eliana Martins realizou pesquisa no laboratório do professor Robert Langer, no MIT

As moléculas poluentes que não possuem afinidade com a água são atraídas pela superfície da nanopartícula, que também não possui afinidade com a mesma. Quando

ocorre a aglomeração e precipitação das partículas induzidas pela radiação, as moléculas contaminantes são capturadas pela superfície das nanopartículas e depois removidas do meio

Nanotecnologia pode ajudar em processos de despoluiçãoPolímero, inicialmente planejado para a produção de medicamentos, é base para a criação de sistema capaz de eliminar resíduos do meio ambiente

Wanessa Olímpio

Uma pesquisa realizada no Massachusetts Institute of Te-chnology (MIT) em busca de

novos nanomedicamentos resultou em um novo método que utiliza a luz ultravioleta para, rapidamente, extrair e isolar diversas moléculas contaminantes do solo e da água. A professora da Faculdade de Farmá-cia da UFG, Eliana Martins Lima, foi uma das responsáveis pela desco-berta, junto com os pesquisadores Ferdinand Brandl e Nicolas Ber-

trand, no laboratório do professor Robert Langer, no Koch Institute for Integrative Cancer Research do MIT.

A pesquisadora da UFG esteve no MIT em um projeto de colaboração para estudar nanopartículas para a fabricação de nanomedicamen-tos, sua área de atuação na UFG. Durante as pesquisas, ela e os co-legas encontraram um polímero (macromoléculas formadas a partir de unidades estruturais menores) que não se mostrou adequado para a produção de medicamentos, mas que acabou servindo de base para a criação de um sistema capaz de eli-minar resíduos tanto da indústria farmacêutica, como de outros po-luentes do meio ambiente. “Foi uma dessas coincidências felizes”, conta a professora.

A aplicação da nanotecnologia ao polímero pelos pesquisadores, ini-cialmente planejado para a pre-paração de nanopartículas para o transporte de fármacos a tecidos tumorais, resultava em partículas que sofriam agregação após expo-sição à radiação ultravioleta, o que abriu perspectivas para a inves-tigação das propriedades destas partículas em adsorver e remover hormônios e outros contaminantes tóxicos do ambiente. Foi observado

que quanto menor a nanopartícula, maior é a sua capacidade de apre-ender poluentes.

Para Eliana Martins, os resultados encontrados são importantes para processos de remoção de subs-tâncias tóxicas do meio ambiente, principalmente em desastres e em áreas contaminadas com resídu-os da indústria farmacêutica ou de pesticidas. A tecnologia tem, ainda, potencial para aplicações nas áreas farmacêutica, clínica e diagnóstica. “A partir desde princípio, a mesma

abordagem pode ser utilizada como estratégia não apenas do ponto de vista da toxicologia ambiental, mas, também, da clínica e terapêutica”, afirma a professora.

Nature Communications

No dia 21 de julho deste ano, o ar-tigo referente à pesquisa do estágio sênior de pós-doutorado, do qual Eliana Martins é coautora, foi pu-blicado na revista científica Nature Communications, uma das revistas mais lidas na comunidade científi-ca internacional. De acordo com a professora, nas primeiras 48 horas após a publicação online do artigo, ele foi lido mais de 1.700 vezes, re-plicado em cinco dos maiores sítios de divulgação científica do mundo e compartilhado em contas de re-

des sociais de diversos países ao redor do planeta. “Como professora e pesquisadora, é um privilégio le-var e elevar o nome da Universida-de Federal de Goiás aos mais altos patamares da nossa missão maior, a de contribuir na geração de co-nhecimento novo e transmiti-lo no processo de formação de nossos alunos e orientandos”, comemora a pesquisadora.

O Pró-reitor de Pós-Graduação da UFG, José Alexandre F. Diniz Filho, também comemorou a publicação. Segundo, ele as revistas da Nature são, junto da Science, as publicações científicas mais importantes do mundo. “A publicação de um artigo em uma revista assim mostra que alguns pesquisadores da UFG estão fazendo pesquisa de alto nível, in-ternacionalmente reconhecidas e de máxima qualidade”.

Como professora e pesquisadora, é um privilégio levar e elevar o nome da Universidade Federal de Goiás aos mais altos patamares da nossa missão maior, a de contribuir na geração de conhecimento novo e transmiti-lo no processo de formação de nossos alunos e orientandos

Nicolas Bertrand

Divulgação

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Terapia que vem da músicaProjetos de extensão do curso de Musicoterapia da Escola de Música e Artes Cênicas oferecem diversas ações à comunidade

Lorena de Sousa

D estinado a habilitar pro-fissionais musicoterapeu-tas desde 1999, o curso de

Musicoterapia da Universidade Fede-ral de Goiás (UFG) proporciona ao alu-no uma formação interdisciplinar, que envolve conhecimento de três grandes áreas: música, que é sua linguagem principal; saúde e psicologia. Empe-nhados em levar esse trabalho até seu público-alvo, ações de extensão têm sido criadas e consolidadas por profes-sores musicoterapeutas da Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) e alu-nos de diferentes áreas de formação, dispostos a trabalhar para atender as demandas da comunidade.

O campo de atuação do musicote-rapeuta é extenso. A musicoterapia pode ser utilizada em indivíduos de qualquer idade, sem qualquer conhe-cimento musical prévio e se aplica tan-to à prevenção quanto ao tratamento de doenças. Apesar de ofertado pela EMAC, Tereza Raquel Alcântara-Silva, coordenadora do curso de Musicote-rapia, explica que ele integra a área da saúde, pois lida com aspectos de prevenção e tratamento de estados de adoecimentos e manutenção da saú-de. Para ela, é importante enfatizar tal definição para compreender melhor o trabalho musicoterapêutico.

Clínica de Musicoterapia

Atualmente sob a coordenação da pro-fessora Tereza Raquel Alcântara-Silva, a Clínica de Musicoterapia foi criada em 1993 para atender demandas das tur-mas de especialização da Emac/UFG, ganhando força com a implantação do curso de graduação em Musicoterapia, em 1999. O local funciona como campo de estágio para os acadêmicos do curso e abriga, além da extensão, pesquisas de graduação e pós-graduação.

“O espaço está aberto para receber a comunidade interna e externa da UFG, por meio de encaminhamentos de profissionais, principalmente das áreas da saúde e da educação, além de demanda espontânea”, garante Tereza Raquel Alcântara-Silva. Os atendimen-tos são realizados, principalmente, por estagiários do curso de graduação em Musicoterapia sob a supervisão clínica semanal de professores do curso.

O tratamento ocorre por meio de um

processo terapêutico que consiste em vários encontros com frequên-cia semanal. O paciente passa pelo acolhimento, pela entrevista musi-coterapêutica, por avaliações que ocorrem durante todas as etapas do tratamento, por sessões de musicote-rapia e, por fim, a alta.

Laborinter

O Laboratório Interdisciplinar de Educação em Saúde Comunitária (Laborinter) conta com uma equipe interdisciplinar formada por alunos dos cursos de Musicoterapia, Peda-gogia, Ciências Sociais, Artes Cênicas, Direção de Arte e Odontologia. São realizadas ações musicoterapêuticas de intervenção breve em espaços es-colares e comunitários como creches, praças, entre outros locais, estabele-cendo parcerias com instituições e pessoas dos territórios atendidos. A coordenação do Laborinter está nas mãos da professora e musicotera-peuta Sandra Rocha do Nascimento.

As ações envolvem diversas ativida-des de sensibilização utilizando temas relacionados à saúde. No ano passado, o projeto realizava, no mínimo, uma intervenção mensal dentro de escolas. “Com as ações dentro das escolas, co-meçamos a ter o entendimento de que seus atores se sentem ilhados dentro da comunidade, então lançamos como proposta trabalhar os parceiros que estão envolta dela”, afirma Sandra Ro-cha. Dentro desta perspectiva, neste ano, diversas atividades de formação e capacitação têm sido oferecidas à equipe do laboratório.

Clínica de Musicoterapia

Para ter acesso ao atendimento na clínica, é preciso entrar em contato pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (62) 3209-6090 e agendar

uma entrevista inicial. Não há necessidade de conhecimentos musicais prévios e o

tratamento é gratuito.

Laborinter Qualquer membro da comunidade pode solicitar o trabalho do Laborinter entrando em contato por meio do e-mail [email protected] ou do telefone da coordenadora do projeto, (62) 8186-5023. Todas as ações são gratuitas.

Ações envolvem atividades de sensibilização com temas relacionados à saúde

Atendimentos são realizados por estagiários do curso de Musicoterapia, sob supervisão de professores

Fotos: Laborinter

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23Serviço

Programa incentiva permanência de estudantes de OdontologiaPrograma fornece instrumentos odontológicos para estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica para cursar disciplinas práticas

Italo Wolff

O Programa Instrumental Odontológico de Incentivo à Permanência, desenvolvido pela Pró-Reitoria de Assuntos Comuni-

tários (Procom) e a Faculdade de Odontologia (FO) da UFG, possibilita o custeio de instrumen-tos odontológicos àqueles alunos que se encon-tram em situação de vulnerabilidade socioeco-nômica. Utilizando verbas do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), o programa, que faz parte do conjunto de ações de apoio ao discente, contempla atualmente 36 alunos com instrumental clínico e laboratorial – 12,4% do total de alunos matriculados no Curso de Odon-tologia da UFG.

Segundo a diretora da Faculdade de Odontologia, Enilza Maria Mendonça de Paiva, “as listas de ins-trumental, requisito para aulas práticas, mesmo em universidades públicas, representam barreiras na escolha da profissão e dificuldades para famí-

Verba do Pnaes possibilita empréstimo de intrumentos para aulas práticas

lias de baixa renda”. Com o suporte do programa, os alunos contemplados recebem esses materiais, utilizam-nos no decorrer do curso e os devolvem para a instituição quando sua necessidade for superada. Para a diretora da FO, o programa tem vantagens comprovadas pela evasão universitária nula entre os alunos beneficiados.

O programa vem crescendo desde sua criação, em 2009, ano em que contemplou cinco dos 60 alunos ingressantes. Enilza Paiva explica que este movi-mento busca acompanhar o aumento da política de cotas, já que em 2016, 50% das vagas serão destinadas a alunos cotistas. O programa é tido como exemplo e já despertou atenção de outras universidades, sendo debatido em eventos, como o Encontro Regional do Fórum Nacional de Pró- Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), no qual o Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária, Elson Ferreira de Mo-rais, explicou a pró-reitores de outras universida-des seu funcionamento.

COMUNIDADE PERGUNTA

Cleomar Rocha, professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG

As Faculdades de Odontologia e de Farmácia comemoraram 70 anos em 2015. Como isso é possível, já que a

UFG faz 55 anos em 2015?

Nelson Cardoso Amaral , Assessor Especial da Reitoria

A UFG foi criada em 1960, com a união de cinco escolas superiores existentes em Goiânia. A

Faculdade de Farmácia e Odontologia de Goiás era uma delas. Ela foi criada em 1945, por isso a unidade

comemora em 2015, 70 anos, e não 55, como a UFG. As outras quatro escolas superiores eram: a

Faculdade de Direito de Goiás, criada em 1898, na Cidade de Goiás, com o nome de Academia de Direito

de Goyaz; a Escola de Engenharia do Brasil Central, autorizada a funcionar em 1954; a Faculdade de

Medicina de Goiás, autorizada a funcionar em abril de 1960; e o Conservatório Goiano de Música,

originalmente Instituto de Música, criado em 1955. Essas unidades acadêmicas, no ato de criação da

UFG, passaram a denominar-se, respectivamente, Faculdade de Farmácia e Odontologia, Faculdade

de Direito, Escola de Engenharia, Faculdade de Medicina e Conservatório de Música.

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e Badminton ganha adeptos no BrasilO esporte é o segundo mais praticado no mundo, mas só agora os brasileiros estão se interessando pela modalidade

Wanessa Olímpio

Desde fevereiro deste ano, o Cen-tro de Esportes Câmpus Samam-baia promove um Projeto de Ex-

tensão que oferece aulas gratuitas de badminton para estudantes da Univer-sidade e para pessoas da comunidade. Tudo começou com a ex-aluna do curso de Educação Física da UFG, Marianne Sousa, praticante de badminton desde os 13 anos de idade. “Dentro da facul-dade, os meus professores sabiam que eu trabalhava com esse esporte, que é novo no Brasil, então a maioria dos meus trabalhos e a maioria das aulas experimentais que eu tinha que dar, o envolvia. O meu Trabalho de Conclusão de Curso também foi sobre a modalida-de”, informou a licenciada.

Após Marianne Sousa terminar a gra-duação, surgiram demandas de alunos de outros cursos com interesse em praticar o esporte e, assim, iniciou-se o projeto. Hoje, ela e seu pai, Saulo So-ares, Presidente da Federação Goiana de Badminton, conduzem os treinos na UFG. O Centro de Esportes Câmpus

Samambaia foi inaugurado no ano pas-sado com a proposta de incentivar a prática esportiva na comunidade aca-dêmica. De acordo com o coordena-dor de Esporte e Lazer e professor da Faculdade de Educação Física e Dan-ça (FEFD), Juracy da Silva Guimarães: “uma das primeiras coisas que nós fi-zemos questão foi buscar práticas que fugissem do convencional, que não ficassem restritas ao futebol de salão, basquete e vôlei. O badminton veio como uma dessas possibilidades”, afir-mou Juracy Guimarães.

O fato de o badminton ser um esporte pouco praticado no país despertou a curiosidade do estudante de Relações Públicas da UFG, Wildson Messias. Ele começou a participar dos treinos na Universidade em abril deste ano. “Quando eu pratiquei pela primeira vez ,percebi que é um esporte que trabalha com todo o corpo, inclusive com sua concentração. Além de ser bem diver-tido e de fácil aprendizado. Quando te-mos treinos o movimento é constante e, inclusive, consegui manter meu peso apenas com o badminton, mas isso exi-

ge dedicação”, expli-cou Wildson Messias.

A prática do esporte pode trazer alguns benefícios especí-ficos para a saúde, de acordo com o Presidente da Federação Goiana de Badminton e professor de Educação Física, Saulo Soares: “O badminton é o esporte de raquete que mais quei-ma calorias e ajuda quem tem pro-blema de déficit de atenção. Pode ser jogado nas escolas, pois faz a criança focar na peteca”, explicou.

Paraolimpíadas

A partir de 2020, o badminton fará parte das paraolimpíadas, no Japão.

Marianne Sousa, que é deficiente física, está se preparando para conseguir uma vaga. “Eu estou em período de treina-mento e, sempre que possível, vou aos campeonatos. Em 2013 fui a Teresina, no Piauí, foi o primeiro campeonato que joguei para-badminton. Nunca ti-nha jogado com outros deficientes”, explicou a atleta. Nesta competição, ela ficou em terceiro lugar na categoria feminino simples, individual, e em pri-meiro lugar em dupla com outro colega.

Mas, como todo atleta amador de nos-so país, Marianne Sousa está à procura de patrocínio para auxiliá-la nas des-pesas com o treinamento e as viagens para os campeonatos, para assim con-seguir ter classificação no ranking de para-atletas. “Nos treinamentos, eu tenho me dedicado o máximo possível, mas viajar com o dinheiro próprio é complicado. E a maioria das competi-ções é fora do Estado”, ressalta a atleta.

Características

O badminton é um esporte olímpico, originário na Índia e muito popular nos países asiáticos e europeus. Semelhante ao tênis, pode ser jogado entre duas duplas ou entre duas pessoas. Os instrumentos utilizados são uma raquete, uma rede e uma peteca. O objetivo do jogo é fazer com que a peteca caia no campo do adversário para marcar um ponto. A partida é composta por três sets de 21 pontos cada. A equipe que vencer dois dos três sets, ganha o jogo.

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Badminton na UFG

Local: Centro de Esportes Samambaia.Contato: (62) 3521-1526Horário: Terça-feira, das 14h às 16h; Domingo, das 9h às 12hInscrição: Gratuita

Projeto de Extensão oferece aulas gratuitas de badminton para comunidade acadêmica da UFG


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