Transcript
Page 1: Jornal Lampião - 12ª Edição

2Edição: Nome dos Editores

Edição: Nome dos Editores

Abril de 2012

Jornal Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 3 - Edição Nº 12 - Dezembro de 2013

[email protected]

Tradição que flui entre as margensdo Ribeirão

Abra o guarda-chuva, vem água por aí...

Quanto vale a alimentação básica em Mariana?

Natal motiva ações solidárias na cidade

Eu te anuncio nos sinos das catedrais

03 05 11 16

Caderno especial

Page 2: Jornal Lampião - 12ª Edição

2 Arte: Pedro Carvalho

Dezembro de 2013

EditoriAl

Possibilidades e descobertastirinhA

FAlE ConosCo

LAMPIÃO é conhecer e reco-nhecer por experiência, é tentativa, é a busca por um novo jeito de se fa-zer um jornal impresso no mundo padronizado do papel. É fato que o jornalismo vive uma constante mu-tação e por isso nos propomos a fa-zer do LAMPIÃO parte de um processo de mudança, já que esta-mos em um lugar de aprendizado, mas sem perder a sua qualidade. É tempo de possibilidades e descober-tas, de ousar e de mexer em time que está ganhando por não temer a sensação de experimentar algo novo.

A 12ª edição do LAMPIÃO chega às ruas com diversas novida-des. Começando pela equipe, o jor-nal ganhou ajuda extra nesta edição com a chegada da professora Denise Figueiredo, que reforçou a orienta-ção dos repórteres. Além disso, des-sa vez contamos com uma equipe de produção composta por três turmas, de 25 alunos cada, o que fez com que o nosso jornal ganhasse quatro páginas e aumentasse o espaço de discussão de temas que interessam aos nossos leitores.

Com dois anos de existên-cia, 12 edições, e inovando a cada semestre, o jornal LAM-PIÃO encerra 2013 receben-do mais um reconhecimen-to da comunidade. Dessa vez, dos “coleguinhas” jornalis-tas, que elegeram a reporta-gem “Mulheres no Cárcere”, da aluna-repórter Jéssica Ro-mero, publicada na 9ª edição do LAMPIÃO, como uma das três melhores na categoria Impresso (Estudantes) no 7º Prêmio Délio Rocha de Jor-nalismo de Interesse Públi-co. Única universidade federal contemplada nessa categoria, a reportagem conquistou o 2º lugar. O prêmio é concedido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais.

Em setembro deste ano, o jornal foi contemplado na ca-tegoria Comunicação, do Tro-

féu Comunidade 2013, rea-lizado pela TV Top Cultura, de Ouro Preto, por meio da Fundação Cultural de Minas Gerais. A premiação desta-ca personalidades e institui-ções de Ouro Preto e Maria-na, que buscam trabalhar pelo desenvolvimento e bem-estar da população. A seleção é fei-ta pelo Conselho Consultivo da Top Cultura. São contem-pladas as categorias: Educa-ção, Saúde, Ação Social, Tra-balho Comunitário, Cultura, Patrimônio Histórico, Turis-mo, Meio Ambiente, Comuni-cação, Esporte e Lazer.

Em maio, durante o Con-gresso Intercom Sudeste, rea-lizado em Bauru (SP), o jor-nal conquistou, pelo segundo ano consecutivo, o Prêmio Expocom na categoria Jor-nalismo Impresso, como me-

[email protected]

facebook.com/jornallampiao

jornalismo.ufop.br/lampiao

Jornal Laboratório produzido pelos alunos do curso de Jornalismo – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/ Universidade Federal de Ouro Preto – Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Profa. Dra. Ednéia Oliveira. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Prof. Dr. Ricardo Augusto Orlando – Professores responsáveis: Adriana Bravin (Repor-tagem), Denise do Prado (Reportagem), Ana Carolina Lima Santos (Fotografia) e Priscila Borges (Planejamento Visual) – Editoras chefes: Janine Reis e Maysa Alves - Sec. de redação: Mylena Pereira - Editora de Arte: Rosi Silveira - Editor de fotografia: Pablo Bausujo - Editor Multimídia: Marcos

Resende - Reportagem: Bianca Cobra, Carolina Brito, Caroline Gomes, Dalília Caetano, Daniela Júlio, Daniella Andrade, Dayane Barreto, Éllen Nogueira, Ester Louback, Fernanda Belo, Fernanda de Paula, Fernanda Marques, Geovani Fernandes, Gisela Cardoso, Hiago Maia, Isadora Lira, Isadora Ribeiro, João Gabriel Nani, Júlia Mara Cunha, Kênia Marcília, Rafael Melo, Roberta Nunes, Teka Lindoso, Thaís Corrêa, Viviane Ferreira - Fotografia: Bárbara Monteiro, Gabriel Koritzky, Filipe Monteiro, Giuseppe Rondoni, Jéssica Moutinho, Kaio Barreto, Marllon Bento, Osmar Lopes, Paula Bamberg, Rodrigo Pucci, Rosana Freitas, Tamara Pinho, Thiago Anselmo, Thiago Huszar - Diagramação: Aldo Damasceno, Ana Elisa Siqueira, Bruna Fontes, Bruna Lapa, Danielle Diehl, Isabella Madureira, Israel Marinho, Laura Vasconcelos, Lucas Machado, Maria Fernanda Pulici, Mayra Santos Costa, Nathália Souza, Pedro Carvalho, Túlio dos Anjos - Multmídia: Bárbara Monteiro, Hiago Maia, Filipe Monteiro, Gabriel Koritzky, Júlia Mara Cunha, Maria Fernanda Pulici, Mayra Santos, Marllon Bento, Pedro Carvalho, Rodrigo Pucci - Revisão: Cristiano Gomes, Hélen Cristina, Cristiane Guerra, Jéssica Michelin - Monitora: Isabela Azi - Colaborador: Neto Medeiros - Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço: Rua do Catete, n° 166, Centro. Mariana - MG. CEP 35420-000

Com essa nova possibilidade, surge o caderno especial, que aborda algo que é muito peculiar na Região dos Inconfidentes, o patrimônio his-tórico arquitetônico. Pensando em promover reflexões e críticas sobre o tema, nossos repórteres e fotógrafos foram às ruas para retratar esta re-alidade, trabalhando basicamente a partir de três ângulos: tradição, ma-nutenção e dilemas.

O tema que abre o caderno des-taca os 300 anos da Catedral da Sé e sua importância na vida dos marianenses. Em seguida, aborda-mos as indefinições sobre as obras do PAC destinadas aos monumen-tos de Mariana e Ouro Preto. E encerramos o caderno evidenciando os dilemas que permeiam os patri-mônios históricos: impasses, desca-racterizações e custos.

Nessa edição também busca-mos registrar problemas que afe-tam diretamente o patrimônio do LAMPIÃO: nossos leitores. A chuva é um tema recorrente em todo fim de ano e agora é mostrada atra-vés de um levantamento das obras

Entre olhares

EntrE olhArEs

que foram feitas com a criação de um plano de contingência, servindo como prévia do que podemos esperar para o verão na cidade. A Arena Mariana também é destaque den-tre os transtornos que a população enfrenta. A dificuldade para utili-zar o espaço, as obras inacabadas (sem previsão de término) e o pro-blema com a nova lei dos assentos fazem com que esse tema reapare-ça no jornal.

Outra novidade dessa edição é o espaço destinado aos distritos, na página 15. Com o problema de lo-comoção que nos impede de retratar essas regiões no jornal da mesma forma que falamos sobre Mariana e Ouro Preto, a ideia dessa “colu-na” é contar histórias dos persona-gens reais que vivem afastados dos centros das cidades e a primeira história a ser contada aqui é sobre a tradição dos balaios presente em Lavras Novas.

Para fechar a edição, um ensaio de encher os olhos, sobre quem sem-pre vemos e nunca observamos.

Viva as mudanças!

LAMPIÃO premiado três vezes

lAmPEjos

lhor jornal-laboratório da Região Sudeste. Nessa pre-miação, concorrem trabalhos experimentais realizados por estudantes de Jornalismo. O prêmio é concedido pela So-ciedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comuni-cação (Intercom).

O LAMPIÃO é um pro-duto laboratorial do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), realizado pelos estudantes do 5º e 6º períodos na disci-plina Laboratório Impresso I – Jornal, sob orientação de professoras de redação e re-portagem, fotografia e plane-jamento visual.

“Eu acho que o ce-nário musical daqui é muito rico, princi-palmente se compa-rado a outras cidades do mesmo porte no interior de Minas”.

Vitor Olivei-ra, baterista da Groove de Vinil.Pág. 15

“Eu aprendi muito mais na re-gular, mas na questão de cuidado a Apae é melhor, não porque eles (a escola regular) não querem, mas como vão dar atenção pra todo mundo?”. Deisilaine Costa, estu-dante da Apae. Pág. 6

“Os exercícios são bem prazerosos. Cada uma de nós ti-nha algum problema como dor ou depres-são. Hoje as dores melhoraram, outras colegas dizem que não fazem mais uso de remédios e que até ajudou na cura da depressão”. Ma-ristela Avelino, dona de casa. Pág. 12

“Os produtos do distrito me trazem a gostosa lembran-ça da minha infância. Apesar de atualmen-te morar na cidade, os doces artesanais trazem um peda-ço do campo para o meu cotidiano”. Pas-tor Cilas de Oliveira.Pág. 13

Gabriel KoritzKy

Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada invisível, delicioso Que faz com que o teu ar Pareça mais um olhar, Suave mistério amoroso, Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!) e talvez de meu repouso…

Mário Quintana

O Mapa

“Rezando, suspirando, gemendo e chorando. Depois de cinco anos o crime prescreveu. Mas não na arte. A gente ainda tem esperança. Todo o ano eu toco o sino, mesmo sendo proibido. É a melhor forma de lem-brança”. Padre Simões. Pág 9

VeJa oUtraS iNForMaÇÕeS Na VerSÃo oNliNe: http://migre.me/glPol

“Precisamos passar por uma reestruturação viária, que inclui não só a questão do trânsito, mas também, questões sociais e econômicas”. Alexsandro Nunes de Oliveira, comandante da Guarda Municipal de Ouro Preto. Pág. 4

Page 3: Jornal Lampião - 12ª Edição

3Arte: Túlio dos Anjos

Dezembro de 2013

Gisela Cardoso

Inundações, enchentes e deslizamentos de terras são episódios que se repetem du-rante o período de chuva, em Mariana. Em dezembro de 2011, a cidade foi incluída na lista dos 21 municípios minei-ros que decretaram estado de emergência devido aos fortes temporais. Já no fim do ano passado, entre 15 e 19 de de-zembro, foram registrados 13 deslizamentos no município. Cerca de 200 pessoas ficaram desalojadas e 88 desabrigadas, segundo o Corpo de Bombei-ros e a Defesa Civil.

A doméstica Maria Apare-cida Souza, moradora do Bair-ro Vale Verde, foi uma das pessoas que deixou sua casa por conta das chuvas. “Co-meçaram a surgir rachadu-ras na minha casa, e nos dis-seram que a gente tinha que sair, pois o barranco pode-ria ceder a qualquer hora. Eu e minha família fomos para a casa de um parente, mas com o medo de voltar e não encon-trar mais nada no lugar”, con-tou a moradora.

De acordo com as previ-sões, as águas não tendem a ficar mais calmas para o fim deste ano. Segundo a Coor-denadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec-MG), a próxima temporada – que começa este mês e vai até o fim de janeiro de 2014 – será ainda mais car-regada de raios, e com volume de água previsto de 437,9 mi-límetros – ou seja, 30% a 40% maior do que no mesmo perí-odo em 2011 e 2012, que foi

aproximadamente de 262,74 milímetros. No entanto, para reverter os quadros anterio-res, a Prefeitura de Mariana já mobilizou a equipe da Defesa Civil municipal.

Segundo o coordenador da Defesa Civil, Welbert Sto-pa, foram feitas 160 visto-rias em áreas de risco na cida-de e 60 nos distritos. As áreas mais vulneráveis são os bair-ros Santa Rita de Cássia, Ca-banas, Vale Verde, Rosário, São Gonçalo e Santo Antônio. “Em todos os bairros nós ti-vemos algum transtorno cau-sado pela chuva do período passado. Nós visitamos e emi-timos um relatório aos órgãos responsáveis, e tomamos pro-vidências”, informou o coor-denador Welbert Stopa.

Além do mapeamento das áreas de risco, obras de pre-venção estão sendo realizadas, assim como palestras educati-vas nas comunidades. Em no-vembro, a Defesa Civil lançou o Plano de Contingência para o período chuvoso de 2013 e 2014. O evento, que foi aber-to ao público, contou com a presença de representantes da prefeitura, Guarda Municipal, Corpo de Bombeiros e da Po-lícia Militar.

O plano consiste em esta-belecer diretrizes e logísticas operacionais de preparação, prevenção e resposta que se-rão desencadeadas por todos os órgãos do município. Este é o primeiro Plano de Con-tingência de Mariana desde o ano de 2002.

Sobre as obras de preven-

ção, o secretário interino de Obras e Planejamento de Ma-riana, Leandro Rodrigues dos Santos, diz que já foram inves-tidos, até o momento, aproxi-madamente R$ 8 milhões em contratos de execução de ser-viços. Alguns projetos incluem a construção de muros de ga-bião às margens dos córregos que desaguam no Ribeirão do Carmo, como no Bairro San-to Antônio, e no córrego Ma-

dayane Barreto

O Ribeirão do Carmo atraves-sa toda a cidade e chegou a lhe dar nome quando Mariana ainda era um arraial. Nas épocas mais chuvosas, o nível do rio sobe e ele ganha for-ça. Os moradores da Rua Alfredo de Morais, no Bairro Santana, conhe-cem bem o poder do Ribeirão quan-do chove muito. Em dezembro de 2011, a força das suas águas derru-bou um muro de contenção, ao lon-go do leito, levando embora a mura-da dos fundos de diversas casas.

Segundo a moradora Karine de Almeida Procópio, durante a limpe-za do leito do rio, a contenção cedeu devido à retirada das pedras que aju-davam a segurá-la.

A cena foi desesperadora, o muro de contenção começou a puxar os fundos das casas e tudo que se en-contrava no quintal: fogão, máqui-na de lavar e até um galinheiro fo-

ram levados rio abaixo, enquanto os moradores tentavam puxar e salvar o que ainda era possível. “Começou a trincar desde lá de cima e foi cain-do tudo”, recorda a dona de casa Tâ-nia Maria de Melo, de 50 anos.

Como se não bastasse o risco de enchente, os moradores da Alfredo de Morais ainda sofrem com as en-xurradas que vêm do Bairro Gale-go, e sem escoamento apropriado, chegam a inundar as casas. “A gen-te sente como se não fizesse parte da cidade, como se aqui fosse uma ocupação irregular”, reclama a mo-radora Karine.

O próximo período de chuvas se aproxima e quem mora ali se pre-ocupa. “Pode acontecer do rio en-cher muito e a água derrubar o resto do barranco. Esse é o nosso maior medo”, relata o estudante Márcio Flavio de Melo, 30 anos. Depois do incidente em 2011, as pedras foram

recolocadas, mas os quintais das ca-sas continuam abertos, sem muro, o que faz com que os moradores en-frentem também o perigo de furtos. A dona de casa Maria da Concei-ção Delfino, 50 anos, conta que até sua caixa d’água, que estava no quin-tal, foi roubada. “Eles entram sem-pre durante a noite, não posso dei-xar mais nada lá fora”, diz.

As trincas que insistem em apa-recer a cada dia nas paredes das ca-sas formam uma espécie de mapa de uma tragédia anunciada. “Se cho-ver mesmo o tanto que estão falan-do que vai chover esse ano, eu pos-so dar tchau pra essa casa”, lamenta Maria da Conceição.

O tempo que Karine viveu às margens do Ribeirão do Carmo lhe ensinou a compreendê-lo. “Esse rio aqui prega cada peça, só a gente que mora aqui há mais de 30 anos é que sabe do que ele é capaz”.

Após 11 anos, o município volta a ter um plano para reduzir problemas causados pelos temporais; vistorias e obras de prevenção já foram realizadas, mas algumas ainda não foram concluídas; volume de água será até 40% maior que em 2011/2012

Mariana em guerra com a chuva

Gisela Cardoso

Apesar da iniciativa da De-fesa Civil e das obras realiza-das pela prefeitura, ainda há um longo caminho pela fren-te para evitar maiores estragos e transtornos causados pelas chuvas que se aproximam. A conclusão da obra do talude na Avenida Nossa Senhora do Carmo, estava prevista para setembro, mas foi transferida para este mês.

Segundo o vice-prefeito Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior (Du), o atraso foi de-vido às chuvas dos últimos meses. No final do mês pas-sado, quando foi apurada esta reportagem, a nova previsão para a finalização do talude era de 30 dias.

As margens do Ribeirão do Carmo, no Bairro Santana, ainda necessitam de maiores cuidados. As casas ribeirinhas poderão ser facilmente inun-dadas em épocas de cheias. Além disso, o muro de algu-mas delas está visivelmente

inclinado, podendo desabar a qualquer momento - conse-quência da erosão próxima às margens.

O vice-prefeito também se manifestou a esse respeito. “O que mais me preocupa é o Ribeirão do Carmo. Estamos planejando muros de conten-ção na beira do rio, e o gabine-te do prefeito já os pediu com urgência”, afirmou Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior.

Além disso, as obras do talude na encosta do Bairro São Gonçalo já foram inicia-das, e também na Rua Bahia, do Bairro Colina. De acor-do com o vice-prefeito, es-sas obras ainda não têm uma data de finalização exata, mas a previsão é que sejam con-cluídas antes do período crí-tico de chuvas previsto para este mês.

Correndo contra o tempo

Moradores sofrem com risco constante Kaio Barreto

Marllon Bento

cidAde

tadouro, na Rua Senador Ba-wden. Também foi construído um muro de contenção na en-costa da Rua Erico Veríssimo, no Vale Verde – um dos locais que mais sofreu com as últi-mas chuvas. A Defesa Civil garante que, a partir de agora, os moradores não terão mais problemas com deslizamentos de terras. Confira, abaixo, a re-lação das obras de prevenção no município.

Em 2011, a Igreja do Rosário teve parte do cemitério destruido pela chuva. Apesar disso, nenhuma ação preventiva foi realizada

Realizadas:

Não concluídas:Retaludamento, drenagem e estabilização das encostas na Avenida

Nossa Senhora do Carmo.

Obras de contenção na Cartuxa, Santa Rita de Cássia, alto do Rosá-rio e Colina.

Construção de dois muros de contenção no Bairro Santana (Ruas Senador Bawden e Lucy de Moraes).

Construção de dois muros de contenção no Bairro Santo Antônio (próximo à ponte de madeira e abaixo da creche CMEI Santo Antônio).

Construção de muro de contenção estaqueado no Bairro Vale Ver-de (Rua Érico Veríssimo).

Limpeza dos córregos adjacentes de Mariana (iniciada na Rua Cô-nego Amando, do Bairro Chácara).

Obras em Mariana

Desassoreamento do Rio Brumado, localizado no distrito de Cacho-eira do Brumado.

Construção de um muro de gabião no Bairro São Cristóvão (aces-so à Vila Maquiné).

Construção de muro de matacão, enrocamento e pavimentação na estrada de acesso ao distrito de Paracatu.

Desassoreamento e limpeza do Ribeirão do Carmo (iniciado na Rua São Jorge, do Bairro Colina, e na Rua Cascalheira do Bairro Barro Preto).

Retaludamento na encosta do Bairro São Gonçalo.

Desassoreamento dos rios dos distritos de Bandeirantes e Monse-nhor Horta.

1

3

4

5

62

7

8

Família de Karine convive com a insegurança de ter uma lona como parede

VeJa o MaPeaMento DaS ZonaS De riSCo na VerSÃo online eM: http://migre.me/gHntv

1

2

3

4

linCon ZarBietti

Page 4: Jornal Lampião - 12ª Edição

4 Arte: Mayra Santos Costa

Dezembro de 2013

Estresse constante, solução distantePrevisto para 2015, o Plano de Mobilidade Urbana pretente resolver problemas no trajeto entre Ouro Preto e Mariana

prudência dos motoristas são outros fatores que contribuem para a ocor-rência dos desastres. O Presidente da Associação Comunitária do Bair-ro Santana, que abrange os bairros Cruzeiro do Sul e Bandeirantes, José Geraldo Borges, diz que os proble-mas ocorrem há muitos anos e já se reuniu diversas vezes com vários prefeitos para discutir possíveis so-luções. Em reunião feita no dia 2 de outubro entre o prefeito Celso Cota e a Associação, os moradores apre-sentaram ofícios feitos de 2008 até 2013, que pediram soluções rápidas,

“Rodovia da morte” ainda é um problema

Fluxo intenso de veículos em horários de pico torna trânsito mais lento no Alto da Cruz

Excesso de velocidade e desrespeito às placas de sinalização, imprudências comuns no km 143, são algumas das causas de acidentes

RodRigo Pucci

CIDADE

Geovani Fernandes

Notícias sobre acidentes nas es-tradas do país não são novidade nos jornais. Com o aumento do tráfe-go nas rodovias brasileiras durante os feriados, esse risco é ainda maior. De acordo com o Ministério dos Transportes, dados da Polícia Ro-doviária Federal (PRF) e estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), cerca de 50 pesso-as morrem por dia nas estradas, ruas e avenidas nacionais. Segundo o De-partamento Nacional de Trânsito (Denatran), cerca de 20 mil mortes acontecem anualmente.

Em Mariana não é diferente. Na Rodovia do Contorno, MG 129, km 143, próximo à distribuidora da Skol, os acidentes constantes são um transtorno na vida dos cidadãos do Bairro Cruzeiro do Sul, onde está localizado o trecho conhecido pe-los marianenses como “rodovia da morte”. De fevereiro à outubro des-se ano, a imprensa noticiou três aci-dentes com cinco vítimas fatais. Curvas sinuosas e o declive acentu-ado nos dois lados da pista, estimu-lam o aumento de velocidade dos veículos, elevando as chances de aci-dentes graves ocorrerem. Em dias de chuva, o risco é ainda maior, pois a pista se torna escorregadia.

O Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG) diz que uma das causas para o aumento do número de acidentes foi o crescimento populacional registra-do nas últimas décadas nas proximi-dades da pista, criada há trinta anos para a retirada do tráfego na cidade. Para a moradora do bairro Elizabe-th da Silva, animais na pista e a im-

Caroline Gomes Estresse e cansaço. O deslocamento entre

as cidades de Ouro Preto e Mariana se tornou motivo de revolta entre os passageiros. O que antes era um passeio realizado em trinta minu-tos, hoje é uma viagem que pode durar mais de uma hora.

O número de veículos que circulam pe-las cidades, a lentidão do transporte público e a estrutura de algumas ruas contribuem para que o trajeto de 12 km se torne mais longo. Mesmo com a presença de guardas municipais e câmeras de monitoramento, a falta de sinali-zação e o estreitamento da rua dificultam um controle mais rigoroso do congestionamento local. Um dos principais casos é a estrada que passa pelos Bairros Alto da Cruz até a saída do Taquaral, em Ouro Preto.

Em busca de solucionar o transtorno, a Guarda Municipal de Ouro Preto, em parce-ria com o Instituto da Mobilidade Sustentável (Ruaviva), está elaborando o Plano de Mobili-dade Urbana, que tem previsão para entrar em vigor no início de 2015. “O Plano de Mobili-dade Urbana vai traçar rotas alternativas. Pre-cisamos passar por uma reestruturação viária, que inclui não só a questão do trânsito, mas também, questões sociais e econômicas”, diz o comandante da Guarda Municipal de Ouro Preto, Alexsandro Nunes de Oliveira.

O Plano de Mobilidade Urbana irá facili-tar a vida de pedestres e condutores, além de torná-la mais segura. Isso porque durante a passagem em vias engarrafadas, muitos veí-culos tentam circular pelas calçadas, causando transtorno aos pedestres. Os motoristas tam-bém ficam muito incomodados com os con-gestionamentos. É o que conta o Lúcio Flávio, 39 anos, que transporta os universitários para Mariana. “O congestionamento dificulta mui-to, porque de três a quatro minutos que você perde ali, já atrapalha tudo. Antigamente era bem melhor, porque a gente chegava rápido, hoje em dia demora muito”, diz Lúcio.

O engarrafamento não atrasa somente os motoristas, mas também as pessoas que de-pendem do transporte público, boa parte da

população, para se deslocarem de uma cida-de para outra. O tempo gasto no percurso re-flete diretamente no dia a dia dos passageiros que, para se adaptarem aos horários e às va-riações de tempo dos ônibus, mudam de roti-na. O atendente Marcus Alves, 23 anos, é um dos usuários e passa por essa situação todos os dias. “Trabalho em Mariana e preciso pegar esse ônibus de segunda a sexta. Para chegar lá às 8h, preciso pegar o ônibus com, no mí-nimo uma hora de antecedência. Se não, cor-ro o risco de chegar atrasado ao meu serviço. É muito desconfortável essa situação, porque eu tenho que adiantar sempre o meu horário”, diz o usuário.

Em nota de esclarecimento a empre-sa Transcotta Turismo explica que o percur-so entre Ouro Preto e Mariana deve ser re-alizado em aproximadamente uma hora, por determinação do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG). “É importante salientar que existe uma lentidão dentro das cidades de Ouro Preto e Mariana como em todo o percurso que as une, quer pelo grande número de caminhões e carros de passeio que ali trafegam, como também pelos inúmeros declives e curvas perigosas, aliando tudo isto às paradas para embarques e desem-barques de passageiros”, afirmou a empresa.

Outro aspecto que influencia na questão dos engarrafamentos e, consequentemente, no aumento do tempo gasto pelo transpor-te público são os motoristas infratores. “São condutores que ignoram a sinalização e esta-cionam em lugares proibidos. Há um número significante, ainda, de pessoas que dirigem fa-lando ao celular mesmo com todas as campa-nhas públicas preventivas”, afirma o coman-dante da Guarda Municipal de Ouro Preto.

Sair de casa com antecedência, escolher ca-minhos alternativos e mentalizar coisas boas quando estiver no trânsito podem ser medi-das provisórias para evitar a “dor de cabeça” do dia a dia. Enquanto pedestres e motoristas esperam pela implantação do Plano de Mobi-lidade Urbana, paciência, tranquilidade e bom senso não tem contraindicação.

como instalação de um radar, que-bra-molas e proteção do viaduto. O prefeito diz que a responsabilidade do trecho é do Governo do Estado, mas alega que há um projeto junto a Câmara dos Vereadores para a mu-nicipalização da rodovia. Para que isso se efetive, é necessária a aprova-ção do DER/MG.

A Câmara afirma que há três propostas apresentadas nas assem-bleias desse ano, que visam a melho-ria do local. Entre elas, estão a insta-lação de semáforos para motoristas e pedestres, construção de passare-

las e obras de drenagem na margem esquerda da rodovia. Ainda segun-do a Câmara, o aumento do risco de acidentes é causado pela depre-dação da sinalização da pista e pelo uso irregular das margens da rodo-via como estacionamento. O DER/MG informa que a 17º Coordenado-ria de Ponte Nova é a regional res-ponsável por esse trecho. Essa Co-ordenadoria não deu mais detalhes sobre projetos para aumentar a se-gurança do km 143, mas diz haver uma vistoria e estudos sendo fei-tos junto à Prefeitura nos trechos de

sua responsabilidade. Para a Coor-denadoria, uma possível solução é a construção de um novo trevo ou ro-tatória na região.

Desde março de 2010, a Secre-taria de Transporte realiza obras de recuperação e manutenção da rodo-via, enquanto a conservação per-manente é feita pelo DER/MG. O Departamento de Estradas de Roda-gem informa também que foram fei-tas obras de recapeamento da pista de rolamento, sinalização horizontal e vertical, recomposição de aterros e de trechos defeituosos da pista.

BáRBaRa monteiRo

Page 5: Jornal Lampião - 12ª Edição

5Arte: Maria Fernanda Pulici

Dezembro de 2013

cialmente decretada pelo Go-verno Federal em 1938. É im-portante lembrar que ela não representa todos os gastos de um indivíduo com alimen-tação, mas pode ser adotada como referência para a análi-se do poder de compra do sa-lário mínimo na cidade.

Para fazer o cálculo mé-dio do valor da cesta básica, os produtos são analisados em quantidades padronizadas e considerados pelas marcas mais baratas (ver infográfi-co). De acordo com o proje-to de extensão CiDATAnia, da Universidade Federal de

Ouro Preto (Ufop), o custo da cesta básica em Mariana re-presentou, no mês de agos-to, 34,62% do salário míni-mo, que é de R$ 678,00. Em setembro, a porcentagem foi de 33,9% e em outubro subiu para 34,39%.

Se pouco mais de um ter-ço da renda dos trabalhadores que recebem um salário mí-nimo mensal vem sendo gas-to somente com a cesta bá-sica, será que os outros dois terços são suficientes para su-prir as demais despesas do mês? Segundo o Departamen-to Intersindical de Estatística

e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Salário Mínimo Necessário, que é uma estima-tiva de quanto deveria valer o salário mínimo nacional, equi-valeu a R$ 2.729,24 no mês de outubro. Esse valor considera as despesas básicas de uma fa-mília formada por dois adul-tos e duas crianças.

Para a feirante Vanderli da Conceição Messias, o custo de vida em Mariana sempre foi consideravelmente alto. “O custo de vida em Mariana é muito caro, muito difícil”, afir-ma. Moradora do distrito de Furquim, ela se dirige para a cidade diariamente, onde ven-de verduras e frutas que culti-va. Trabalhando como feiran-te há catorze anos, ela ressalta que o valor que ganha não co-bre todos os gastos do mês.

Conforme aponta o se-cretário de Desenvolvimen-to Econômico do município, Helielcio Jesus Vieira, o au-mento da procura por bens de consumo e serviços é im-portante na análise dos custos de Mariana. Ele explica ainda que essa demanda é fomenta-da especialmente pela mine-ração, pelo ensino superior e pelo turismo. “Estes três seg-mentos fazem com que a ci-dade receba muitas pessoas”, completa o secretário.

Custo da alimentação em MarianaValor da cesta básica no município chega a consumir mais de um terço do salário mínimo

Isadora rIbeIro

Açúcar, arroz, banana, ba-tata, café, carne, farinha de trigo, feijão, leite, margarina, óleo, pão e tomate. Com ape-nas 13 produtos, a cesta bási-ca correspondeu a R$ 233,19 do salário mínimo em Maria-na no mês de outubro, o que representa mais de 30% do valor total.

Esses produtos compõem a cesta básica oficial, que é di-ferente da tradicionalmente vendida nos supermercados. Baseada nas despesas com ali-mentação de um trabalhador adulto, a cesta básica foi ofi-

Comerciantes e prestadores de serviço de Mariana já têm conheci-mento da lei e do prazo final para se adequarem, que é junho de 2014. Todos os tipos de empresa deverão cumpri-la, inclusive as microempre-sas. “Os empresários têm que citar no corpo da nota fiscal ou no cam-po observações o percentual ou o valor dos impostos que o consumi-dor está pagando”, explica Patrícia Camêllo, contadora e consultora de gestão empresarial. Além de discri-miná-los nos documentos fiscais, o comerciante tem a opção de desta-cá-los em paineis a serem afixados em local visível no estabelecimento. No entanto, a lei não obriga a divul-gação de cada tributo separado, ape-nas o total aproximado.

Os consumidores de Mariana já estão recebendo os documentos fis-cais com a aplicação da nova lei e di-vergem de opinião sobre os bene-fícios que ela proporciona. “Essa transparência na carga tributária vem somar à conscientização com relação à prática do Governo me-diante aos gastos, à aplicação des-tes tributos em projetos que visem

melhoria na educação e saúde”, diz a professora Andreia Costa. Já para a coordenadora de recebimento de notas fiscais, Dirlene Bretas, a dis-criminação dos impostos é desne-cessária, pois acredita que vai fazer mais confusão na cabeça das pesso-as. “Eles deveriam pensar em sim-plificação da área tributária e da nota fiscal, e baixar os impostos para cair o preço dos produtos”, comenta Dirlene.

Para o secretário de Desenvol-vimento Econômico, Helielcio Je-sus Vieira, essa medida pode auxi-liar a população a compreender a carga tributária. “É importante que a população tenha conhecimento de como a elevada carga tributária in-terfere na economia municipal, esta-dual e nacional”. O secretário perce-be ainda a possibilidade de redução dos impostos a longo prazo. “Em um futuro próximo, será possível realizar um estudo de como reduzir a alta carga tributária incidente so-bre produtos e serviços, tornando os preços praticados no Brasil mais competitivos e atrativos como nos outros países”, diz ele.

Consumidor tem acesso a impostos na notadanIela KarIne

O Natal e o Ano Novo se aproxi-mam e o comércio de Mariana já se prepara para o aumento das vendas.Com a implantação da Lei de Dis-criminação dos Impostos, os consu-midores passam a saber o valor dos tributos embutidos no preço dos produtos. Para isso, basta solicitar a nota fiscal no ato da compra.

A Lei Federal 12.741/2012 esta-belece a obrigatoriedade a todos os estabelecimentos comerciais de in-formarem ao consumidor, nos do-cumentos fiscais, os valores apro-ximados dos tributos federais, estaduais e municipais. Os impos-tos a serem discriminados são: IOF (Imposto sobre Operações Finan-ceiras), IPI (Imposto sobre Produ-tos Industrializados), PIS/PASEP (Programa de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servi-dor Público), Cofins (Contribuição para o Financiamento da Segurida-de Social), Cide (Contribuições de intervenção no domínio econômi-co), ISS (Imposto Sobre Serviços) e ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Projeto CiDATAniaEm Mariana, não há um

órgão ligado à administração do município que seja respon-sável por fornecer o índice de custo da cesta básica. Os da-dos disponíveis são do pro-jeto CiDATAnia, desenvolvi-do por cinco professores da Ufop, quatro deles do De-partamento de Ciências Eco-nômicas e Gerenciais (De-ceg) e um do Departamento de Estatística (Deest). A meta é gerar indicadores que re-presentem a realidade socioe-conômica da região de Ouro Preto e Mariana.

Em sua primeira fase, o projeto focou a cesta básica, que este ano teve seus pro-dutos isentos de tributos por medida presidencial. Os resul-tados iniciais partem da apu-ração de dados coletados nos principais supermercados de Mariana entre os meses de agosto e outubro.

O professor Chrystian Mendes, que participa da pes-quisa, ressalta que “são resul-tados preliminares, ainda há muita coisa para ser feita”. Po-rém, já é possível estipular o impacto dos produtos da ces-ta básica no consumo em Ma-riana e comparar com outras cidades da região como, por exemplo, Viçosa.

Produtos orgânicos, como os vendidos por Vanderli, são mais valorizados que os tradicionais

filipe monteiro

Tributos pagos nas compras

O gráfico mostra a parcela que cada produto ocupou do valor total médio da cesta básica no mês de ou-tubro, em Mariana. Ao lado, são lis-tados os preços médios e as quanti-dades de cada produto que devem ser consideradas para o cálculo. Os va-lores se baseiam no consumo men-sal de um trabalhador em idade adulta.

Valores médios dos produtos da cesta básica em outubro

econoMiA

Lá, o Departamento de Economia (DEE) da Uni-versidade Federal de Viço-sa (UFV) disponibiliza men-salmente um boletim com o Índice de Preços ao Consu-midor (IPC). No IPC, cons-tam sete grupos de referên-cia para a análise do custo de vida: alimentação; vestuário; habitação; artigos de residên-cia; transporte e comunicação; saúde e cuidados especiais; educação e despesas especiais.

Cruzando os dados do projeto CiDATAnia com o IPC -Viçosa, é possível com-parar o custo da cesta básica nas duas cidades. Com cer-ca de 18 mil habitantes a mais que Mariana, Viçosa está a 116 quilômetros e também possui demanda de estudantes.

Entre os meses de agos-to e outubro, a diferença en-tre os preços da cesta básica nas duas cidades cresceu. Em agosto, o valor foi R$ 1,76 mais barato em Mariana. Em setembro, ficou R$ 5,17 mais caro que em Viçosa. Em ou-tubro, o preço voltou a subir, fechando R$ 6,18 mais caro em Mariana. Segundo Chrys-tian, a intenção é que o proje-to possa se aprofundar, possi-bilitando medir não só o valor da cesta básica, mas o custo de vida geral da região.

9 kg R$ 22,79 6 kg

R$ 51,96

3 kg R$ 3,73

1,5 kg R$ 3,73

4,5 kg R$ 17,30

3 kg R$ 5,28

7,5 kg R$ 17,57

7,5 l R$ 18,70

6 kg R$ 12,16

6 kg R$ 68,73

750 g R$ 3,62

600 g R$ 5,45

750 ml R$ 2,19

fonte: projeto cidataniailustração: mayra santos costa

IOF: Incide sobre operações de crédito, de câmbio e seguro e operações relativas a títulos e valores mobiliários.

IPI: É um imposto federal e incide sobre produtos industrializa-dos no Brasil.

PIS/Pasep: São impostos pagos por pessoas jurídicas e utilizados para o pagamento de seguro desemprego, abonos e participação na receita dos órgãos e entidades para os trabalhadores.

COFINS: É um tributo federal que incide sobre a receita bruta das empresas em geral. Ele é destinado ao financiamento da seguri-dade social (previdência social, saúde e assistência social).

CIDE: É um imposto federal. Incide sobre a importação e a comer-cialização de petróleo e seus derivados, gás e álcool etílico.

ISS: É um tributo municipal e incide sobre os serviços prestados mediante a utilização de bens e serviços públicos.

ICMS: É um imposto estadual. Incide sobre a circulação de merca-dorias, serviços de transporte interestadual e intermunicipal, co-municações, energia elétrica, entrada de mercadorias importa-das e sobre serviços prestados no exterior.

fonte: site da receita federal

Pão 22,28%

Tomate 9,77%

Arroz (tipo 2) 2,26%

Açúcar Cristal 1,60%

Banana 7,53%

Batata Inglesa5,21%

Café2,34%

Carne Bovina (segunda) 29,47%

Farinha de trigo 1,60%

Feijão7,42%

Leite (tipo C)8,02%

Margarina1,55%

Óleo de Soja0,94%

Page 6: Jornal Lampião - 12ª Edição

6 Arte: Bruna Fontes

Dezembro de 2013

EDUCAÇÃO

Medidas inclusivas desafiam escolasPolíticas públicas asseguram a inclusão, mas faltam qualificação, estruturas acessíveis e conscientização sobre tema

Deisilaine (esq.) voltou a Apae por não se adaptar à escola regular. Salas de recursos (dir.) podem mudar essa realidade

RobeRta NuNes

As salas de recursos são ambien-tes dotados de equipamentos, mo-biliários e materiais didáticos para a oferta do atendimento educacional especializado. Elas oferecem apoio aos alunos com deficiência. Na re-lação do Ministério de Educação (MEC), sete escolas foram contem-pladas com o kit para a implantação das salas em Mariana, mas apenas três estão em funcionamento. “A previsão é que todas estejam funcio-nando ano que vem”, afirma a coor-denadora Elisabeth Araújo.

Em Ouro Preto, somente duas salas de recursos estão ativas. Se-gundo a responsável pelo apoio à inclusão na Secretaria Municipal, Wanderly Ferreira, foram destinadas nove salas pelo MEC, mas “não é só abrir a sala e colocar o professor, é preciso capacitá-lo, adaptar, equi-par o mobiliário. Estamos abrindo as salas de recursos de forma grada-tiva”, esclarece.

Uma das instituições regulares que tem se adequado é a munici-pal Simão Lacerda, em Ouro Preto, que trabalha a inclusão já no proje-to pedagógico escolar. A escola re-aliza atendimento especializado na sala de recursos, adota um progra-ma de aula flexível, avaliações dife-renciadas e faz o Plano de Desen-volvimento Individual do aluno, levando em conta as demandas es-pecíficas. A professora Solange Marques compartilha a importância da conscientização no espaço esco-lar sobre a inclusão.

Sala de recursos

Atividades culturais reduzem evasão escolar

Literatura atrai alunos na Educação de Jovens e Adultos

IsadoRa lIRa Pedreiro e feirante, Mau-

rício José Osório Ciriaco, 15 anos, trabalha desde os 9. Por sentir dificuldades em conci-liar o trabalho com os estu-dos, Maurício foi reprovado três vezes seguidas na 5ª série. Por este motivo, pensou em abandonar a escola, mas aca-bou matriculando-se na Edu-cação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade de ensino voltada para alunos que não puderam concluir os estudos no ensino regular.

Estudante da escola Wil-son Pimenta Ferreira, no Bair-ro Santo Antônio (Prainha), Maurício conheceu os proje-

tos desenvolvidos pelos pro-fessores que organizam apre-sentações de música, teatro e literatura para auxiliar no aprendizado dos alunos da EJA. Embora fique com ver-gonha de participar, Maurício prefere os projetos do que as aulas, e diz que fica mais ani-mado para ir à escola nos dias das atividades porque “os pro-jetos são bons demais”.

Segundo a pedagoga da es-cola, Aparecida Valaniel, “na EJA é tudo diferente. Cria-mos os projetos para dimi-nuir a evasão, que é grande, e incentivar os alunos a es-tudarem mais”. Esses proje-tos usam temas do cotidiano

dos estudantes para incentivar a criatividade e resgatar o pra-zer de aprender. É uma didáti-ca diferenciada que atrai o alu-no através da arte e o envolve com a matéria estudada.

A professora de Portu-guês, Aparecida de Sá, consi-dera a evasão dos alunos um desafio a ser vencido. “Alguns trabalham em turnos, outros faltam por problemas familia-res. Além disso, as aulas, que são no período noturno, já co-meçam atrasadas, pois a maio-ria dos estudantes vem direto do trabalho.

É difícil dar continuidade às matérias e ensinar o con-teúdo previsto, por isso, os

Auxílio transporte sairá em 2014teka lINdoso

Rozebel Damas tem 22 anos e é estudante de Enfer-magem na Faculdade Dinâmi-ca do Vale do Piranga (Fadip), em Ponte Nova. Ela se cadas-trou em setembro no Pro-grama de Auxílio Transporte para Universitários, ofereci-do pela Prefeitura de Maria-na, mas até hoje não recebeu seu benefício e não sabe quan-do começará a usá-lo. “Eles só receberam meu envelope com

os documentos e não infor-maram mais nada”, relata.

A proposta do benefí-cio é de depositar a quantia de R$100,00 na conta bancá-ria do estudante que cadastrar seus documentos no Progra-ma. “O dinheiro para finan-ciar este auxílio sairá dos 30% dos impostos arrecadados em Mariana que devem ser obri-gatoriamente destinados à área de Educação”, diz o ve-reador Cristiano Vilas Boas,

autor da iniciativa. A estimati-va é de que o Programa aten-da a 1,5 mil pessoas nesta pri-meira remessa, sendo possível ainda realizar o cadastro até o final deste mês.

Rozebel diz que seus cole-

gas de faculdade se cadastra-ram e foram informados de que no mês seguinte o dinhei-ro seria depositado em suas contas. Contudo, o decre-to que autoriza a concretiza-ção desta proposta ainda não

foi assinado pelo prefeito Cel-so Cota. O vice-prefeito Du-arte Júnior informou que “o Projeto da Lei está na Procu-radoria municipal aguardando aprovação dos documentos e, em seguida, será assinado pelo Prefeito”. Está previsto que o projeto entre em vigor no iní-cio do próximo ano.

“A fiscalização do projeto será feita por uma comissão avaliadora, com a possibilida-de de visitas a domicílios e li-

gações para averiguar se o es-tudante reside em Mariana”, afirma Duarte.

Para renovar o benefício, a cada semestre o interessado deverá entregar, na Secretaria de Educação de Mariana, um comprovante de rematrícula.

Para novas inscrições, os estudantes devem cadastrar seus documentos e esperar que o auxílio seja depositado no período de renovações do próximo semestre letivo.

IsadoRa lIRa

Com a intenção de criar algo diferente para os estu-dantes jovens e adultos, a Pre-feitura de Mariana está pro-movendo o I Concurso de Poesia da EJA. A coordena-

Basta levar cópia dos documentos abaixo na Secretaria de Educação de Mariana. Telefone: (31) 3557-9030

Jéssica moutinho

thiago huszar

. Comprovante de residência;

. Cartão bancário.. RG. CPF

RobeRta NuNes

Quando o assunto é inclusão de pessoas com deficiência, a falta de estrutura física acessível e apoio es-pecializado ainda é algo a ser sana-do nas escolas de ensino regular. Em Mariana, 34 alunos nessa situação estão matriculados na rede munici-pal, enquanto em Ouro Preto são 109. As escolas atendem esses estu-dantes de acordo com as demandas específicas de cada diagnóstico, mas nem sempre isso acontece.

A aluna do 2º ano do ensino bá-sico da Associação de Pais e Ami-gos do Excepcional (Apae) de Ouro Preto, Deisilaine Costa, 16 anos, que teve paralisia infantil, afirma que a escola regular ainda não está total-mente preparada para recebê-la.

Ela estudou um ano em uma es-cola pública em Jequeri, na Zona da Mata mineira, e critica a discri-minação, falta de estruturas aces-síveis e apoio profissional. Apesar disso, admite a qualidade do currícu-lo escolar. “Eu aprendi muito mais na regular, mas na questão de cui-dado a Apae é melhor; não porque eles (a escola regular) não querem, mas como vão dar atenção pra todo mundo?”, questiona Deisilaine.

A professora Vera Lúcia, 42 anos, sabe do longo caminho a percorrer para a inclusão, pois é docente do 3º ano do ensino básico na Esco-la Municipal Monsenhor José Cota, em Mariana, onde a filha Wellidiany Reis, 16 anos, deficiente visual, cursa o 4º ano. “Antes era bem mais difí-cil. Hoje minha filha tem apoio, mas a professora e a monitora se desdo-

bram para dar conta”. A pedagoga da escola, Sueli de Souza, comenta que “na teoria o regimento escolar insere a inclusão, mas na prática há muitas dificuldades”.

Já na Escola Estadual Dom Sil-vério, em Mariana, entre os 21 alu-nos com deficiência está Franciele de Paula, 17 anos, com surdez, que frequenta as aulas do segundo ano do ensino médio com o auxílio da intérprete Renata Reis. A aluna co-menta que “sempre faltam professo-res e, às vezes, intérpretes também”.

Para o ano que vem, a coordena-dora da educação inclusiva da Secre-taria de Educação de Mariana, Eli-zabeth Araújo, anuncia o concurso municipal para a contratação de 18 monitores e a criação da quarta sala de recursos na escola Dom Lucia-no. Atualmente, são quatro intérpre-tes de libras, um professor de braile e 16 monitores contratados.

Este ano foram oferecidos cur-sos de capacitação a 36 profissionais em Mariana. Além deles, toda a rede já pôde aprender como fazer o Pla-

no de Desenvolvimento Individual (PDI), instrumento para atender às necessidades dos estudantes.

As políticas públicas asseguram os diretos dos alunos com necessi-dades educacionais especiais, mas a legislação por si só não garante a efetivação da inclusão.

O texto original do Plano Nacional da Educação, diretriz para próxima década, já traz avanços im-portantes para a educação inclusiva, mas há ainda mais desafios a serem superados e vencidos.

projetos têm se apresenta-do como uma opção de en-sino com bons resultados, não apenas em relação às no-tas dos alunos, que melhora-ram, mas em relação à fre- quência nos dias de atividades também”, relata a professora.

Para a auxiliar de serviços gerais Marta Aleixo de Morais, 44 anos, “os projetos são mui-to bons, uma forma mais dinâ-mica e interessante de apren-der e interagir com os outros alunos”. Marta é um dos 52 estudantes da EJA da escola Wilson Pimenta Ferreira, cur-sa a 6ª série, e está entre os mil estudantes da modalidade no município de Mariana.

dora dessa modalidade na Se-cretaria de Educação, Vanilza Ribeiro, explica que o con-curso surgiu da intenção de apoiar esses alunos que, mui-tas vezes, são prejudicados em relação aos do ensino regular.

As três melhores poesias com o tema “Sou fruto do meu passado e semente do meu futuro” receberão os se-guintes prêmios: 1° Lugar – Notebook; 2° Lugar – Tablet; e 3° lugar – Câmera digital. A

premiação será realizada em 3 de dezembro, às 19 horas, no Centro de Convenções de Mariana. As melhores poesias serão publicadas em um livro distribuído gratuitamente no dia da entrega dos prêmios.

Concurso de poesia

Como se cadastrar:

Page 7: Jornal Lampião - 12ª Edição

7Arte: Laura Vasconcelos

Dezembro de 2013

Peças de um tesouro chamado catedral

PATRIMÔNIO

Bianca coBra

Com a voz grave, em um ritmo ensaiado e palavras que, de tanto repeti-las, foram de-coradas, Paulo Gomes da Sil-va, 37 anos, conduz o caminho pela Catedral da Sé. Bem ves-tido e sorridente, vai contan-do a história da igreja constru-ída há 300 anos. Paulo é guia dos pontos turísticos de Ma-riana há 20 anos, por isso, não gagueja nem hesita. Seu reper-tório de histórias já foi ouvido por muitas pessoas e turistas.

Com passos lentos, paran-do para apontar os ricos de-talhes da arquitetura, o guia marianense dá informações detalhadas sobre vários aspec-tos: desde a presença das três fases do Barroco, distribuídas pelos dez altares, às pinturas chinesas que adornam algu-mas das paredes. Sabe tam-bém das histórias dos santos presentes nesses altares, além das datas que são informadas com precisão durante as lon-gas explicações.

De repente, Paulo inter-rompe seus passos e me per-gunta se quero conhecer a cripta que contem os restos mortais dos bispos e arcebis-pos da Arquidiocese. Diz que muitas pessoas preferem não visitá-la, pois têm medo de encontrar um lugar sombrio.

Porém, ao descer as esca-das e adentrar a cripta, encon-tro um espaço pacífico e si-

Thiago huszar

O brilho dos 365kg de ouro dos altares reflete o valor da Catedral da Sé, em Mariana, mas as pessoas que constroem a sua história continuam a ser o maior patrimônio da igreja

Ministério Público exige estudos de impacto ambiental para obras de pavimentação em Ouro Preto

Página 9

Crescimento desordenado é desafio para a manutenção de características da arquitetura barroca

Página 10

ção para os fiéis, ainda possui tesouros que a fazem ser úni-ca e são fundamentais para a construção de sua identidade. Qualquer pessoa que entre na igreja é surpreendida pela be-leza e imponência de seus al-tares. O brilho abundante de ouro é o que dá ao seu interior um aspecto valioso.

Outro atrativo singular, o órgão alemão Arp Schnitger,

do Século XVIII, é um dos itens mais autênticos da igreja, pois faz parte de um grupo se-leto de instrumentos. São so-mente 30 no mundo e esse é o único fora da Europa.

Josineia Godinho é or-ganista e sabe da importân-cia que o órgão tem para a catedral marianense. “A jun-ção dele com a arquitetura faz com que a igreja seja algo que

lencioso. O local é também um ambiente de orações para os fiéis. No túmulo do últi-mo bispo enterrado lá, Dom Luciano Mendes de Almeida, existem muitas flores e preces.

Essa fé das pessoas que frequentam a igreja é uma das coisas que mantém a tra-dição religiosa da catedral. Com missas celebradas todos os dias, católicos fazem da ida à igreja uma atividade diá-ria. É o caso de Juracy de Oli-veira, ou Dona Ceci, como é mais conhecida. Essa senho-ra de 86 anos diz que o valor da missa é único; é quando ela sente a presença de Deus na sua forma mais intensa.

Dona Ceci diz começar e terminar o dia na igreja. De manhã e à noite passa por lá, seja para assistir as missas ou para fazer orações. Ela faz parte da Pastoral do Batismo e tem uma relação muito próxi-ma com a igreja. Para a senho-ra, a catedral ficou pequena para tantos fieis, mas continua bela e acolhendo a todos.

Além de acolhedora, é a mãe de todas as igrejas da ci-dade, isso de acordo com o padre Nedson Pereira de As-sis, pároco de Mariana. “Nela os padres foram ordenados, além dela estar presente em todo o período de formação deles. É um templo de espiri-tualidade e fé”.

A matriz, além dessa tradi-

Bianca coBra

No mês de dezembro são realizados os concertos de Natal na Igreja da Sé. A pro-gramação se inicia após o dia oito e as apresentações acon-tecem nos finais de semana, depois das missas da noite.

O padre Geraldo Buzia-ni afirma que esses concertos são muito importantes para a comunidade e a igreja porque “é uma forma de evangelizar através da arte, mostrar o va-lor da família e da confraterni-zação entre todos”.

As canções natalinas que preenchem a igreja através das vozes dos corais são um meio de aproximar as pessoas e lembrá-las o significado do Natal, de acordo com Adeu-zi Batista, maestro dos Corais Silvinha Araújo e Tom Maior.

Com a ajuda dos partici-pantes dos corais, ele também faz arrecadação de brinque-dos para crianças dos distritos

de Mariana no final do ano.O maestro diz que as pes-

soas esqueceram o que é o Na-tal, e os corais, através de suas músicas, ajudam a lembrar do nascimento de Jesus e do espí-rito natalino.

Batista ensaia participantes dos corais como Terezinha de Paula, 75 anos, ou Terezinha Morango, como é mais conhe-cida. Para ela, o Natal é uma festa especial que merece ser celebrada. “No último con-certo fomos aplaudidos de pé. Foi emocionante e lindo”, de-clara a coralista.

A programação desse ano deverá ser anunciada nos pró-ximos dias pela Paróquia Nos-sa Senhora da Assunção, mas grupos de corais, como Tom Maior, Silvinha Araújo e Co-ral Catedral se apresentam to-dos os anos. Há também o Auto de Natal, da Comunida-de de Padre Viegas, que sem-pre emociona a todos.

Vozes que encantam

impressiona”. A organista co-ordena os concertos realiza-dos na catedral e faz com que o raro som possa ser ouvido por todos.

As relações das pessoas com a igreja da Sé são muitas. Tem o turismo e quem se sus-tenta com isso como o guia Paulo, tem a religião que dá sentido para a vida de pessoas como Dona Ceci e tem o ins-

trumento de trabalho de pes-soas como Josineia.

Isso faz com que a cate-dral tenha um grande valor para a população. Não é ape-nas um valor material, arquite-tônico e artístico, mas sim um valor simbólico, de presença no cotidiano, de influência na própria vida. É esse valor que transforma as pessoas no mais precioso tesouro da Sé.

Thiago huszar

O Órgão Arp Schnitger, de 1753, carrega o nome de seu criador

Confira o ensaio “Olhares que se revelam”, na versão on line: http://migre.me/gLLUG

PAC aguarda finalização de projetos para liberar recursos para Mariana

Página 8

Page 8: Jornal Lampião - 12ª Edição

8 Arte: Nathália Souza

Dezembro de 2013

PATRIMÔNIO

À espera dos milhões do PACValores só serão liberados após projetos serem concluídos; não há previsão de início das obras

João Gabriel NaNi

Muito se especula sobre a ver-ba do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que em sua se-gunda edição é destinada à recupe-ração das estruturas históricas, mas pouco ainda se sabe. Na cidade de Mariana a questão não é diferente. Segundo anunciado pelo Ministério do Planejamento, em agosto deste ano, o município deve receber apro-ximadamente R$ 67 milhões.

Quinze projetos de restauração conseguiram ser aprovados, no en-tanto, os valores de cada um, nem ao menos os critérios elaborados para determinar quais receberiam a ver-ba, além das datas de início e conclu-são das obras, não foram divulgados.

Listada pelo órgão federal como uma das principais cidades históricas do país, Mariana está em um seleto grupo de 44 que tiveram o benefício aprovado pela verba do PAC 2 - o processo levou em conta municípios com patrimônios reconhecidos pela Unesco ou indicados pela entidade como “merecedores” do projeto.

Aguardando os milhões prome-tidos pela presidenta Dilma Rous-sef, durante uma cerimônia realiza-da em agosto, em São João Del Rey, a verba ainda não foi disponibiliza-da. Apesar da assertiva por parte do Governo Federal, questões relativas ao recebimento e emprego da verba continuam indeterminadas.

O processo de elaboração dos projetos, idealizados por meio da

parceria entre o Instituto de Patri-mônio Histórico e Artístico Nacio-nal (Iphan) e Prefeitura Municipal de Mariana, não é claro. Os critérios adotados para a elegibilidade de es-truturas históricas, merecedoras das ações enviadas ao Ministério do Pla-nejamento, não estão amplamente explicados, omitindo, por diversas vezes, se outras estruturas históricas com problemas causados pelo tem-po ficaram de fora.

As únicas informações divulga-das pelas instituições são o montan-te a ser recebido e quais estruturas foram agraciadas, no caso, 15.

De foraSegundo matéria divulgada no

dia 21 de agosto de 2013, no site do jornal “O Estado de Minas”, 40 pro-jetos de Mariana foram enviados ao PAC. Tomando em conta tal afirma-ção, constata-se que outras 25 estru-turas devem ficar de fora do pacote.

Não se tem informações oficiais de quais sejam elas e se, com a au-sência na lista, correm riscos de te-rem as estruturas comprometidas gravemente por problemas estrutu-rais. Tão pouco se serão incluídas no Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), que viabiliza, por meio de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que entidades privadas deduzam de-terminados valores de seus impos-tos e destinem às instituições que cuidam do patrimônio histórico.

Outra questão que chama a aten-ção é em relação ao valor de cada obra. Segundo as determinações do PAC 2, cada projeto é aprovado in-dividualmente, ou seja, não há a de-manda de verba por cidade, mas sim por cada iniciativa proposta.

Não foi divulgado, nem pelo Iphan nem pela Prefeitura de Maria-na, o valor exato ou aproximado que será investido em cada obra. A úni-ca informação disponibilizada sobre o assunto é que somente na Matriz da Sé seriam investidos aproxima-damente R$ 17 milhões, quase um quarto do montante total prometi-do à cidade.

Também entre as estruturas a receberem uma fatia da verba está a Igreja de São Francisco de Assis, localizada no principal cartão pos-tal de Mariana, o conjunto arqui-tetônico da Praça Minas Gerais. O monumento encontra-se com sérios problemas estruturais, e permanece fechado há mais de três anos.

Quanto ao início das obras, não há previsão. O modelo de desem-bolso do programa não prevê repas-se integral às prefeituras, mas sim a liberação de recursos na medida em que as obras forem licitadas. Não foi divulgada a data do início dos pro-cessos de licitação. A única infor-mação quanto aos prazos é de que as prefeituras terão três anos para resgatarem a verba e aplicá-la, mas para isso é necessário que os proje-tos estejam devidamente apresenta-dos e aprovados aos ministérios en-volvidos: Cultura, Desenvolvimento e Planejamento.

O Iphan de Mariana não quis es-clarecer nenhuma questão relativa ao PAC 2, tais como critérios, pra-zos e patrimônios que não serão contemplados. Também não houve esclarecimento quanto aos projetos, e se estão dentro do prazo ou ade-quados às exigências do programa.

À frenteEm Ouro Preto a situação é di-

ferente. A cidade receberá um mon-tante de R$ 36 milhões, a serem dis-tribuídos entre 13 estruturas. O Iphan da cidade já divulgou o valor

Falta manutenção

de cada obra como, por exemplo, a da Igreja de Nossa Senhora da Con-ceição, a mais cara, orçada em R$ 6,5 milhões. A estrutura, devido a fato-res como o tempo, encontra-se em processo de deterioração e com pro-blemas estruturais.

Segundo o diretor estadual do Iphan, João Carlos Oliveira, parte das obras devem começar até mar-

ço de 2014. Os projetos já foram en-caminhados ao PAC 2, e estão aptos a receber a verba, que está prevista para o orcamento de 2014 do giver-no federal. Até a segunda quinzena de dezembro será aberto o proces-so de licitação das obras, geridas e fiscalizadas pelo próprio órgão. As obras devem ser concluídas em até três anos.

João Gabriel NaNi

Com a verba a ser investida na restauração do patrimônio de Ouro Preto e Mariana, o que de fato re-cebeu atenção foi a conservação das obras. No entanto, nota-se que o valor envolvido demonstra a gran-de necessidade de intervenção nas estruturas deterioradas pelo tem-po. Esse fato se dá devido à ausên-cia de projetos que priorizem não a restauração dos bens, mas sim a ma-nutenção. Quem afirma é o diretor estadual do Instituto do Patrimô-nio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), João Carlos Oliveira.

Segundo ele, não há, no momen-to, uma cooperação entre as partes envolvidas (Iphan, Prefeitura e Igre-ja) para a manutenção dos pequenos problemas estruturais que afetam o patrimônio. “Se houvesse (inicia-tivas na manutenção) evitaríamos problemas maiores, como os que enfrentamos hoje”. O diretor ressal-ta ainda que sem esse apoio mútuo, não tem como haver intervenções tangenciais, já que o órgão, por si só, não tem total poder de interferência. “O Iphan não pode entrar na igre-ja e dizer: vamos mudar isso, mudar aquilo. É necessário que, no caso, a igreja trabalhe junto conosco. O res-ponsável do lugar nos informe o que é importante e precisa ser mudado, e nós conciliaremos com as possibili-dades de intervenção”.

Quando há uma parceria, os trâmites legais se tornam mais fa-cilmente resolvidos, e, por fim, as verbas necessárias para sanar as de-mandas são enviadas, afirma. No entanto, João Carlos aponta como principal problema a falta de coope-

ração entre as instituições na ques-tão da conservação. Os projetos do PAC elaborados em parceria com a Prefeitura e as demais instituições foram aprovados e receberão, em tese, a verba. No entanto, o processo poderia ser diferente. “Se trabalhás-semos juntos em projetos contínuos de manutenção do sítio arqueológi-co, a aprovação de valores seria mais fácil, já que as obras seriam mais ba-ratas, e evitaríamos que determina-das estruturas chegassem a apresen-tar problemas mais sérios”.

A burocracia para que se reali-zem intervenções também atrapa-lha. Quando trata-se de patrimô-nio histórico, qualquer intervenção depende da elaboração de um pro-jeto prévio, gerenciado pelo insti-tuto, afim de que os valores neces-sários para arcar com os custos das obras sejam recebidos. Na questão do PAC, João Carlos ressalta. “É er-rado dizer que as cidades receberam dinheiro. Ninguém ainda recebeu nada; o que houve foi uma tentati-va (sic) de empenho, assim digamos, para que comecem as intervenções”.

Ou seja, sem a elaboração cola-borativa de projetos prévios de con-servação, não há verba. Para o ini-cio de 2014, o Iphan já trabalha em uma iniciativa para formar um gru-po com os líderes locais das institui-ções envolvidas para manter a con-servação dos bens históricos.

É errado dizer que as cidades receberam dinheiro. Ninguém ainda recebeu nada”. João Carlos Oliveira

Font

e: Ip

han

$0mi $50mi $100mi $150mi $200mi $250mi $300mi

MarianaOuro Preto

ALAMBACE

GOMAMGMSMTPAPBPEPI

PRRJ

RNRSSCSESP

67,28 36,46 29,85 33,77 202,09 37,44 49,75 133,75 257,16 19,6910,49 47,6 50,76 170,96 38,97 16,98 230,47 43,48 151,21 38,54 22,57 54,68

Relação de recursos destinados

Page 9: Jornal Lampião - 12ª Edição

9Arte: Nathália Souza

Dezembro de 2013

Falta manutenção

40 anos na escuridãoSem o brilho das peças sacras furtadas da Igreja do Pilar, a cidade ainda lamenta o crime sem resposta

Thaís Corrêa

“Rezando, suspirando, gemendo e chorando. Depois de cinco anos, o crime prescreveu. Mas não na arte. A gente ainda tem esperança. Todo ano eu toco o sino, mesmo sendo proibido. É a melhor forma de lem-brança”. Essas foram as palavras do padre Simões, na última entrevis-ta concedida para a jornalista Laura Godoy, meses antes de morrer.

Padre Simões era o pároco da Igreja Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, no ano de 1973, quan-do peças sacras foram roubadas do museu que fica no subsolo da Basí-lica, entre elas três cálices de prata folhada a ouro, usados no Triunfo Eucarístico, em 1733. Segundo Lau-ra, que além de jornalista é pesquisa-dora e desenvolveu uma monogra-fia sobre o assunto, o padre nunca se conformou com o que aconteceu. Para ela, quando o religioso afirma-va que “o crime prescreveu”, sua

intenção era dizer que foi abando-nado por não ter solução, uma vez que judicialmente crimes de roubo de peças sacras não expiram, como ressalta o promotor de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Tu-rístico de Minas Gerais, Marcos Pau-lo de Souza Miranda, para o jornal Estado de Minas, na edição do dia 01 de novembro de 2013.

O atual diretor de Arte Sacra de Ouro Preto da Basílica Nossa Se-nhora do Pilar, Carlos José Apare-cido de Oliveira, menciona que atu-almente muita informação sobre o caso é vaga, principalmente porque, desde a época do roubo, o governo proibiu a divulgação de informações sobre o crime, o que pode ter oculta-do outras possíveis descobertas.

O chefe do escritório técnico do Instituto do Patrimônio Histó-rico e Artístico Nacional (Iphan), João Carlos de Oliveira, declara que a causa dos roubos ocorrentes

na época, podem ter sido resulta-do de falhas na gestão e de dificul-dades encontradas, pelas paróquias, em administrar a sua própria segu-rança. Oliveira alega ainda que nos anos seguintes, não houve registros de roubos em outras igrejas da re-gião, em função do avanço da tec-nologia que proporciona diversos meios, cada vez mais eficazes, de vi-gilância e proteção.

Quanto aos novos projetos de segurança, João Carlos declara que desde 2010 o Projeto de Segurança Eletrônica para Bens Protegidos foi aprovado e já está em vigor , e que através do PAC Cidades Históricas, que conta com a iniciativa do Iphan e recursos federais, mais investimen-tos serão realizados até 2015. Essa iniciativa completa um projeto de in-trusão nas igrejas, que abrange tan-to a segurança na prevenção de rou-bos, quanto na solução de incêndios e outros acidentes.

Asfalto causa polêmicaThaís Corrêa

Desde outubro, um conflito en-tre a Prefeitura de Ouro Preto e a Promotoria de Justiça da 4ª Vara da comarca, paralisou as obras de asfal-tamento que eram produzidas pelo poder público, em diversos bairros da cidade. As obras do programa Promova, orçado em R$25 milhões, foram realizadas em diversos bair-ros, como Bauxita, Santa Cruz, Vila Aparecida e São Cristóvão e não apresentavam estudos de impacto ambiental que, segundo o Ministério Público, comprovassem que as ruas com asfalto não representassem ris-co à segurança dos moradores.

Além disso, a Promotoria afir-ma que o asfalto causa dano às áreas tombadas como patrimônio e ofere-ce riscos de deslizamento de encos-tas na região.

Dentre as obras, a realizada na Vila Aparecida causou maior polê-mica, já que o asfaltamento chegou à Rua Engenheiro Corrêa, que dá

acesso ao museu Casa dos Inconfi-dentes, construção que data do Sé-culo XVIII. De acordo com infor-mações divulgadas na imprensa, em reportagem publicada no jornal Es-tado de Minas em 25 de outubro de 2013, a Promotoria alegou que se tratava de uma obra que não condiz com o município reconhecido como Patrimônio Histórico da Humani-dade pela Unesco. A Promotoria de Defesa do Patrimônio Cultural e Tu-rístico de Minas Gerais não atendeu a reportagem do LAMPIÃO.

Já o Instituto do Patrimônio His-tórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão que é responsável por dar o aval para a realização de obras que se relacionam ao perímetro tomba-do, autorizou as intervenções.

Segundo o chefe de escritó-rio técnico do Iphan de Ouro Pre-to, João Carlos de Oliveira, mesmo o museu sendo um patrimônio do Século XVIII, ele está inserido em uma área de ocupação contempo-

JÉssIca MoutINho

Carlos José mostra fotos em livro, únicas recordações das peças roubadas

Pavimentação da rua do Museu destoa do patrimônio histórico

Paula BaMBerg

rânea. Ele afirmou ainda que a Vila Aparecida, bem como os demais lo-cais que receberiam a pavimentação, localizam-se fora do centro históri-co da cidade.

Já para Maria Moreira, que mora há trinta anos do bairro, a mudança foi essencial. De acordo com Dona Mariinha, como gosta de ser chama-da, a estrada ficou mais limpa, me-nos perigosa e muitas pessoas que antes não passavam por lá, hoje fa-zem até caminhada de manhã.

A assessora do museu, Gabrie-la Barone, afirmou que, no princí-pio, os funcionários estranharam um pouco a mudança com a chegada do asfalto, mas que por outro lado o acesso melhorou muito a qualida-de de vida de quem sempre passa por ali. Segundo ela, “também é im-portante ver o lado humano do as-faltamento”. A secretaria de Obras de Ouro Preto quando procurada para comentar o assunto, não quis se pronunciar.

gaBrIel KorItzKy

Page 10: Jornal Lampião - 12ª Edição

10 Arte: Aldo Damasceno

Dezembro de 2013

Possibilidades e limites para se construir em Ouro PretoConstruções desordenadas sem projetos comprometem a arquitetura barroca da cidade Patrimônio Mundial

Dalilia Caetano

Uma cidade originada da explo-ração do ouro, onde aventureiros de várias partes do Brasil estiveram em busca de riqueza. Hoje mundial-mente conhecida e reconhecida pelo seu conjunto arquitetônico barro-co, principalmente do centro histó-rico da cidade, Ouro Preto guarda relíquias como casarões, igrejas, ar-ruamento, chafarizes e outros mo-numentos construídos no Século XVIII. No entanto, a preservação e conservação desse patrimônio vêm sendo um desafio em função do crescimento da população e ocupa-ção do solo.

De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), devido ao volu-

me de imóveis construídos desorde-nadamente, tornou-se inviável con-tabilizar o número de casas em áreas impróprias. Bairros como Morro do Piolho, São Sebastião, Morro Santa-na e Alto da Cruz são os que apre-sentam maior quantidade de cons-truções irregulares. Isto porque o custo elevado dos projetos faz com que a população realize as obras sem esse planejamento.

A lei nº 65/2010 criou o Serviço Municipal de Engenharia e Arquite-tura Pública para oferecer assistên-cia técnica gratuita para qualquer in-tervenção no imóvel, mas por falta de convênio, ainda não foi coloca-da em prática.

Conciliar o cenário paisagísti-co do Século XVIII com estruturas

O valor da conservação de um imóvel tombado

O crescimento desordenado contrasta com o cenário histórico. A vista da rua Claudio Manuel tem ao fundo o bairro Alto da Cruz, que apresenta grande número de construções irregulares

Éllen nogueira

O centro histórico de Ma-riana é um referencial da cida-de, patrimônio tombado onde há importantes edificações do período Barroco que consti-tuem a riqueza da primeira ca-pital de Minas. Mas, morar em imóveis construídos no Sécu-lo XVIII tem seu preço.

Principalmente porque a conservação dos casarios par-ticulares é responsabilidade de seus proprietários e qualquer intervenção nesses imóveis deve ser aprovada pelos ór-gãos competentes, o que im-plica em adequações muitas vezes onerosas, como gastos

com materiais que devem ser mantidos como os originais.

Para realizar qualquer obra, seja de reforma, amplia-ção, demolição, comercial ou residencial é preciso pedir au-torização e apresentar o proje-to para a Prefeitura e o Insti-tuto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Quando aprovado, e com o Alvará de Construção, elas podem ser iniciadas.

O aposentado Elógio da Silva Pontes, proprietá-rio e morador de um imóvel na Rua Waldemar de Mou-ra Santos mantém a fachada de sua casa original, uma exi-

Kaio Barreto

PAtriMônio

Saiba mais:• Antes de começar uma obra é necessário obter

o Alvará de Construção na Prefeitura, que evita mul-tas e o embargo da obra. Para obter esse Alvará é ne-cessário apresentar o projeto da obra que você quer realizar.

• Contrate um arquiteto ou engenheiro civil para ser seu responsável técnico e elaborar o projeto arqui-tetônico com suas necessidades.

• O recolhimento de IPTU pela prefeitura não sig-nifica legalidade da edificação. Regularize seu imóvel com habite-se, a baixa de construção que certifica se sua edificação está de acordo com o projeto aprovado e inteiramente acabado e seguro.

• Quando o imóvel está dentro da poligonal de tombamento o projeto deverá ser aprovado também pelo Iphan.

• Para mais informações sobre a documentação ne-cessária para solicitar a análise de projetos, consulte o setor de Documentação e Arquivo ou Secretaria Ad-junta de Desenvolvimento Urbano na Prefeitura de Mariana.

Fonte: Prefeitura Municipal de Mariana

modernas é um desafio que mere-ce ser discutido e repensado na ci-dade, como salienta o chefe do es-critório técnico do Iphan de Ouro Preto, João Carlos de Oliveira. “A ci-dade é um organismo vivo, por isso, sua expansão é natural, porém, ela não pode continuar acontecendo de forma inconsequente como vemos hoje. Para que seja viável a preser-vação desse conjunto arquitetôni-co é necessário que a população ou-ro-pretana saiba que não é possível restaurar, construir ou inserir ele-mentos em edificações históricas de modo seguro sem haver projeto”, pontua João.

A comerciante Maria da Con-solação Rezende adquiriu um imó-vel no Bairro Antônio Dias e solici-

tou ao instituto a aprovação do seu projeto, antes do início das obras. “Comprei uma casa que data do Sé-culo XVIII e que necessitava de re-forma. Pretendo realizar a obra de forma segura e com qualidade, por isso contratei um engenheiro e um arquiteto para o projeto. Procurei o Iphan que analisou as adaptações para que a obra pudesse ser execu-tada. Hoje me sinto realmente tran-quila em saber que vou reformar uma casa antiga contribuindo para a preservação da história de Ouro Preto”, comenta Consolação.

Para a arquiteta aposentada Ma-rília Machado, é necessária a preser-vação da materialidade da história de Ouro Preto, tendo em vista a quali-dade da arquitetura que se pretende

inserir em uma estrutura já existente. “Acredito que é possível introduzir elementos modernos na arquitetura histórica da cidade sem que haja per-da da identidade arquitetônica. Mas tais intervenções devem primar pela qualidade dos materiais utilizados para que estes possam dialogar com a estrutura preexistente, preservan-do a história da cidade e, sobretudo respeitando a memória que continua viva”, salienta a arquiteta.

O Iphan dará início a fiscalização de obras irregulares e a aplicação de multas a partir desse mês. Segundo o órgão, o início da fiscalização esta-va previsto para 2010, mas isso não foi possível devido a falta de estrutu-ra administrativa para atender as de-mandas existentes neste período.

gência do Iphan, e leva todos seus projetos de reforma para a aprovação do órgão. O imó-vel já passou por muitas obras e, para conservá-lo é preciso gastar muito dinheiro, afirma o proprietário, “pois os mate-riais são muito caros, como as telhas coloniais’’.

A aposentada Graciana Fernandes de Oliveira, pro-prietária de um imóvel na Rua Santana há 69 anos, fez várias mudanças na sua casa, quan-do ainda nem era necessá-ria a autorização. A residência era pequena, com um grande quintal de torrefação. Foi mo-dificada para conforto da fa-mília que nasceu lá. Dos nove filhos, oito nasceram na resi-dência, e também um neto.

Sua filha, Angêla Maria de Oliveira Cota, bancária apo-sentada, conta que na última reforma feita pela família o projeto foi levado ao Iphan e na mesma semana foi aprova-do. “Tivemos que usar as te-lhas coloniais mesmo, que são

tamara Pinho

o dobro do preço das que a gente já tinha feito o orçamen-to”. Para ela, “a reforma é di-fícil quando tem que trocar as janelas, que devem ser exata-mente iguais. E tem que man-dar fazer na marcenaria por-que elas não são de modelos comuns e também são mui-to caras”. Angêla não vê pro-blemas em preservar a facha-da, só acha que não precisava das restrições internas, por-que quem está na casa conhe-ce as necessidades.

A Prefeitura de Maria-na tem um setor responsável pela aprovação dos projetos e fiscalização de obras em exe-cução. E também para orien-tar quanto aos procedimen-tos que devem ser realizados para regularização, notifican-do casos em que haja descum-primento da lei. A Secretaria Adjunta de Desenvolvimen-to Urbano fornece mais in-formações aos engenheiros e arquitetos, responsáveis técni-cos das obras.

Placas sinalizam o patrimônio tombado em casas históricas

xemplar típico das construções urbanas do final do Século XViii e início do XiX, que traziam janelas em rótulas -

esquadrias constituídas de peças de madeira sobrepostas diagonalmente, de modo a formar desenhos variados, com a finalidade de resguardar a intimidade, segundo costume árabe.

CASA COM JANELAS DE RÓTULAS

e

Page 11: Jornal Lampião - 12ª Edição

11Arte: Israel Marinho

Dezembro de 2013

Uma encomenda de Natal Correios buscam padrinhos para criancas da comunidade; Prefeitura arrecada R$ 5 mil para casas de apoio

Fernanda Marques

À medida que as comemora-ções de fim de ano se aproximam, as campanhas que promovem doações diversas se intensificam. Roupas, ali-mentos não perecíveis, brinquedos e livros estão entre os donativos mais comuns destinados a crianças, ado-lescentes e adultos. Em Mariana não é diferente.

É o caso da campanha promovi-da pela Prefeitura com a Associação dos Guardas Municipais de Mariana (Asgum), que, responsável por coor-denar o estacionamento dos shows de comemoração da festa da cidade durante o mês de julho, arrecadou R$ 5 mil destinados a Associação

Portal da Transparência a serviço do cidadãoCarolina Brito

No período de festas de fim de ano há diminuição no número de doadores de sangue, embora a de-manda por transfusões aumente de-vido aos acidentes de trânsito. Se-gundo Ana Célia Milagres, do setor de captação da Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia de Mi-nas Gerais (Hemominas), as campa-nhas são reforçadas principalmen-te durante os feriados de dezembro (Natal e Ano Novo) e no Carnaval. Ana Célia ressalta, ainda, que cada bolsa de sangue pode beneficiar até quatro pessoas.

Em Mariana, a coleta de sangue

teka lindoso

Você sabia que Ouro Preto, no período de janeiro a agosto des-te ano gastou cerca de R$ 137 mil com indenizações por demissões do servidor público? E com a Seguran-ça Pública foram aproximadamente R$ 300 mil em despesas no mesmo período? Todos os valores são pagos com o dinheiro do cidadão. Já pen-sou em fiscalizar aonde é aplicado o imposto que você paga?

A Lei de Acesso à Informação entrou em vigor em maio de 2012. Ela regulamenta o direito de rece-ber dos órgãos públicos as informa-ções produzidas por eles. Para uni-ficar o acesso do público aos dados administrativos, o Governo Federal elaborou o Portal da Transparência, que transmite os dados da União e também de uma localidade especí-fica pela internet. No portal é pos-sível analisar as quantias repassadas do Governo para sua cidade e as-sim cobrar que os investimentos se-jam feitos.

O detalhamento do repasse de recursos do Governo Federal para Ouro Preto este ano, no valor de R$ 59,2 milhões, pode ser consultado no site do Portal da Transparência.

Através de informações forneci-das no portal, a estudante universi-tária do Espírito Santo, Thainã Tau-fner, 20 anos, consultou os dados de sua cidade, Alegre. O município apresentou problemas relacionados à merenda escolar e Thainã acessou o portal para verificar se o dinhei-

de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e à Comunidade da Figuei-ra. “Tiramos os gastos que tivemos com funcionários e logística e desti-namos essa quantia”, afirma o res-ponsável por Relações Públicas da Guarda Municipal, Valério Freitas.

Diretora da Comunidade da Fi-gueira, Neuza Elena de Olivei-ra Melo, destacou a importância da preocupação da Asgum. “É um di-nheiro que veio pra somar e que nos ajudou a oferecer melhores con-dições e acessibilidade para os alu-nos daqui”. A comunidade atende a crianças, adolescentes e adultos, com deficiência física e mental, pro-curando proporcionar condições de

Rosana

reabilitação e convivência institucio-nal e social dos usuários.

CartasUma bola, um caderno e um es-

tojo. Esses foram os pedidos de Pe-dro, 12 anos, em sua carta para o Papai Noel esse ano. A correspon-dência, que será adotada por um pa-drinho, faz parte do projeto desen-volvido pelos Correios há mais de dez anos na cidade.

A campanha “Papai Noel dos Correios” existe há trinta anos no país e, além de incentivar a adoção de cartinhas de Natal, objetiva apa-drinhar e arrecadar brinquedos para as crianças de famílias com baixa renda. “Eu entendo que meus pais não podem me dar essas coisas, mas acho que alguém pode. Sei que Pa-pai Noel não existe, mas tem pesso-as boas por aí”, afirmou o menino, que mora no Bairro Cabanas, com a mãe, Luciene Souza, 32, atendente de supermercado.

Ela considera importante uma ação como essa. “Já é a terceira vez que participamos e o Pedro não abusa. É só para ajudar a gente nas maiores dificuldades. O menino pre-cisa de bem pouco pra ficar feliz”, esclareceu. A mãe disse que é muito prático participar do projeto: é só le-var a correspondência para a agência dos Correios com o endereço corre-to e esperar o retorno.

De acordo com o gerente da Agência dos Correios da cidade, Marco Antônio Braga, apesar de ser aberta a toda a comunidade, a cam-panha seleciona, a cada ano, uma es-cola ou creche. Esse ano o convê-nio estabelecido foi com a Creche de Passagem. “Selecionamos principal-mente áreas com crianças em situa-

ções de risco”. Braga explicou que orienta as crianças a limitar o pre-ço do presente, para não correrem o risco de ficar sem apadrinhamen-to. “Já conseguimos até cadeira de rodas durante a campanha, mas fica mais fácil quando são coisas mais baratas e acessíveis”.

Procurando garantir um Na-tal especial para uma criança, a es-tudante de Filosofia da Universida-de Federal de Ouro Preto (Ufop), Ana Paula Barbosa, 24, decidiu ado-

... por isso, ficaria feliz se ganhasse o kit de livros que pediu na cartinha

seRvIço

ro destinado chegava ao município corretamente; com isso notou que a lacuna era regional. “Também entrei no site para verificar a distribuição dos recursos dos royalties do petró-leo explorado no meu estado”.

JB Donadon Leal é professor doutor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Leciona no cur-so de Jornalismo e afirma que “o es-pírito da lei é o de criar a cultura da informação pública. Dessa forma, o cidadão não terá que requerer in-formações e esperar que elas sejam disponibilizadas, mas as encontrará disponíveis”. Esta iniciativa propõe que os costumes sejam mudados e incentiva a participação ativa do ci-dadão na gestão pública.

A linguagem burocrática e a fal-ta de divulgação são notadas como falhas do portal. O ex-presiden-te da Comissão Permanente de Li-citações de Ouro Preto Guilherme Silva considera que o Portal “é de extrema utilidade sendo um dispo-sitivo não só de consulta, mas tam-bém de fiscalização. Porém, ao efe-tuarem suas consultas, as pessoas encontram linguagem técnica, o que dificulta a compreensão do que lhes é exposto”.

O município de Ouro Preto pos-sui, desde 2010, seu próprio Portal da Transparência. Você pode acessá-lo junto ao site da Prefeitura (www.ouropreto.mg.gov.br). Já o Portal da Transparência do Governo Federal pode ser analisado no site www.por-taltransparencia.gov.br.

Hemominas reforça campanha por doação de sangue

A universitária Paula Nogueira participa da campanha pela primeira vez

Rosana fReitas

solIdARIedAde

é feita de duas a três vezes por ano, e as reservas locais são abastecidas pela Hemominas de Belo Horizon-te. Somente no hospital Monsenhor Horta são utilizadas cerca de 60 bol-sas por mês. A dona de casa Gló-ria Nascimento recebe transfusões mensalmente no hospital e acredita que doar é um ato nobre.“É muito triste precisar de sangue e não ter”.

Na campanha realizada em no-vembro, em Ouro Preto, além de coleta de sangue, também foi fei-to cadastro para possíveis doado-res de medula óssea. Quando um paciente precisa de tal transplante e não possui um doador compatí-

vel na família, esse cadastro é con-sultado. Segundo dados do Ministé-rio da Saúde, a chance de encontrar uma medula compatível é, em mé-dia, de uma em cem mil.

Em relação ao processo de do-ação de sangue, caso não ocorra transtornos, a duração é de aproxi-madamente 40 minutos. O mecâ-nico Adriano Cardoso, morador de Ouro Preto, foi doador na campa-nha de novembro pela primeira vez. O que me motivou foi o fato de po-der ajudar a quem precisa”. Na oca-sião, foram coletadas 120 bolsas de sangue - quantidade preestabelecida pela Hemominas.

- Pesar acima de 50 kg;

- Dormir bem na noite ante-rior à doação;

- Não ter tido hepatite após os 11 anos de idade;

- Não ter feito tatuagem ou piercing nos últimos doze meses;

- Não doe sangue em jejum. Pela manhã, alimente-se an-tes. À tarde ou à noite, dê um intervalo de 3 horas após o almoço ou jantar.

Mais informações podem ser obtidas no site: www.hemominas.mg.gov.br

Para colaborar:

tar uma cartinha. Ana esclarece que sente vontade de ajudar as crianças. “Na minha casa éramos muitos ir-mãos, nove no total, nem sempre ti-nha presente pra todo mundo e não dava pra comprar pra todos. Cresci querendo ajudar a trazer felicidade pra outras crianças”.

Os presentes devem ser levados por funcionários dos Correios nas escolas e creches conveniadas antes do final do semestre letivo, e, para a comunidade local até o Natal.

Rosana fReitas

Rosana fReitas

Tayná de Oliveira, 8 anos, gosta muito de ler e escrever ...

Page 12: Jornal Lampião - 12ª Edição

12 Arte: Ana Elisa Siqueira

Dezembro de 2013

A cidade ficou cerca de cinco anos sem ginásio e recebeu primeira parte do Complexo Olímpico apenas em 2012

Fernanda de Paula

Em 2007, a cidade perdeu seu único ginásio e recebeu a promes-sa da construção de um Comple-xo Olímpico para a prática de várias modalidades esportivas. Problemas políticos enfrentados pela adminis-tração do município entre 2008 e 2010 foram os causadores dessa de-mora na entrega da primeira parte do Complexo. Esse atraso causou prejuízos à cena esportiva de Maria-na e os atletas ficaram cerca de cin-co anos sem um espaço para treinos e para competições. Mesmo após a entrega desse novo ginásio, o espor-te ainda sofre prejuízos, já que o lo-cal não recebe treinamentos.

O projeto do Complexo surgiu no mandato de 2005-2008 do pre-feito Celso Cota e terá duas loca-ções e equipamentos de várias mo-dalidades esportivas (vide box). Para isso foram investidos R$ 27 mi-lhões na construção de um Comple-xo Olímpico. Segundo o secretário de Esportes Helerson Freitas, esse projeto foi criado para incentivar o esporte na cidade. “O planejamento é que Mariana tenha o maior com-plexo esportivo do estado”, explica o secretário.

As obras iniciaram em 2008, mas ficaram paralisadas por dois anos. Segundo o secretário de Esportes, isso aconteceu devido às trocas de prefeitos que a cidade enfrentou en-tre 2008 e 2012. “Tivemos vários problemas políticos, um prefeito aceitava a construção do ginásio, ou-tro não”, disse Helerson. Por isso, a entrega da primeira parte do Com-plexo só aconteceu em 2012, com a inauguração da Arena Mariana.

Ainda assim, o esporte continua prejudicado com a derrubada do an-tigo espaço. O presidente da As-sociação Marianense de Voleibol, Wallace Barros, reclama que não há liberação do Complexo para trei-nos, afetando o time. “Isso prejudica muito as equipes, pois quando chove

não podemos treinar na Quadra da Chácara, porque ela não é coberta”, diz Barros. O secretário de Espor-tes justifica a não liberação do espa-ço, dizendo que “a quadra da Arena é de um piso flutuante, demandando muitos cuidados e impossibilitando o uso o dia todo”.

A equipe de atletismo também é prejudicada. De acordo com o pre-sidente da Associação Marianense de Atletismo Luís Gustavo Gomi-des, os atletas já foram realocados várias vezes para diferentes bairros da cidade à espera da finalização das obras e ainda não encontraram um local apropriado para treinar.

Há outras equipes na cidade, como a de skate, natação e ginás-tica olímpica, que passam por pro-blemas piores, já que não possuem local para treinos e tampouco para competições.

Outro problema a ser enfrentado pela Arena Mariana é a não adequa-ção à Portaria 622/2012, publicada logo após a inauguração da Arena. Essa norma estabelece que as arenas olímpicas de todo o país devem ter arquibancadas com cadeiras de plás-tico ou estofadas certificadas pelo Inmetro. Atualmente, a arquibanca-da da Arena Mariana é feita de de-graus de cimento. De acordo com o

secretário de Esportes, não há pla-nos para adequação a essa norma. “A Arena cumpre todos os requisi-tos exigidos pela União, apenas nes-se quesito que ela não se adéqua. Futuramente, pretendemos cuidar desse assunto”, diz ele.

A construtora responsável pela Arena segue no local fazendo pe-quenos acertos. O projeto inicial do Centro Olímpico sofreu algumas modificações e está em fase de re-estruturação. Por isso, a construção dos outros espaços que vão compor o Complexo será iniciada em janeiro ou fevereiro de 2014, sem data pre-vista para conclusão.

Ginástica na Praça incentiva atividade física ao ar livre

daniela Karine

Todos sabem que praticar exercícios físi-cos faz bem para o corpo e para a mente. Para estimular os moradores de Mariana à prática de atividades físicas e proporcionar melhor qualidade de vida, a Secretaria Municipal de Desportos desenvolve o Projeto Ginástica na Praça. Ele foi criado para atender principal-mente a pessoas com idade superior a 40 anos.

A iniciativa acontece em quatro bairros da cidade: Praça Gomes Freire (Centro); Toca do Zé Pereira (Chácara); Escola Municipal Dom Luciano (Rosário) e Ginásio Poliesportivo (Passagem de Mariana). A iniciativa consiste em oferecer atividades ao ar livre, orientadas por professores de educação física. “Quere-mos levar a prática de atividades físicas a lo-cais diferentes, para incentivar as pessoas a fa-zer algo que não fosse somente dentro das praças esportivas”, explica o secretário Muni-cipal de Desportos, Helerson Freitas da Silva.

A professora do projeto Raiane Aparecida Pereira disse que as alunas que participam das atividades começaram a sentir vontade de pra-ticar regularmente exercícios físicos. “Eles fa-zem bem física e psicologicamente”, comple-menta Raiane.

A dona de casa Maristela Avelino Guer-ra Coelho participa do Ginástica na Praça há quatro meses e já percebeu os benefícios do projeto. “Os exercícios são bem prazerosos. Cada uma de nós tinha algum problema como dor ou depressão, por exemplo. E hoje a gente ouve comentários que as dores melhoraram, outras colegas dizem que não fazem mais uso de remédios e algumas falam que até ajudou na cura da depressão.”

O Ginástica na Praça atende hoje cerca de 120 pessoas. Em dezembro, mais três locali-dades serão contempladas pelo projeto. Have-rá atividades nos bairros Cabanas, Santo An-tônio e na Arena Mariana. Para participar do

Ainda sem espaço para treinar, equipe de atletismo utiliza pista improvisada ao lado da quadra do Centro de Referência da Infância e do Adolescente

Marianenses aproveitam as manhãs para fazer exercícios aeróbicos no Jardim, um dos quatro locais onde o Projeto Ginástica na Praça acontece

daniela Karine

A prática de exercícios ao ar livre é cada vez mais frequente no país. Projetos que es-timulam esse tipo de atividade motivam mais pessoas a praticar exercícios físicos. Em Mi-nas Gerais, existe o Projeto Academia a Céu Aberto, idealizado pelo Deputado Marques Abreu, ex-jogador do Clube Atlético Mineiro.

O projeto consiste na implantação de aca-demias a céu aberto em diversos municípios do estado. No momento, 52 municípios fo-ram beneficiados e, em 2013, serão mais 36. O projeto prevê a instalação de 150 acade-mias. O deputado Marques comentou que esse é um projeto pioneiro e explicou: “Os equipamentos das academias não utilizam pe-sos, trabalhando mais as atividades aeróbicas. Os exercícios podem ser praticados por pes-soas de todas as idades”.

Mariana foi uma das cidades contempla-das pelo projeto, mas a academia ainda não foi instalada. Segundo o secretário de Des-portos de Mariana, Helerson Freitas, ela será instalada no Bairro Rosário após término das obras de urbanização que estão acontecendo no bairro. A previsão de término das obras e da academia instalada é maio de 2014. O de-putado Marques informou que está ciente que o projeto ainda não foi implantado. “Acom-panho todo o processo desde a indicação até a efetiva execução e faço questão de verificar pessoalmente as instalações”, comentou.

O secretário de Desportos, Helerson Frei-tas, informou que o município terá mais dez conjuntos de aparelhos a ser instalados em di-versos bairros de Mariana. “Ainda está na fase de licitação, em breve teremos mais dez loca-lidades sendo contempladas com estas acade-mias”, diz ele.

Academia a Céu Aberto no Bairro Rosário

Giuseppe Rindoni

projeto, os interessados devem se cadastrar no local onde são realizadas as atividades.

ESpOrtE

Status dos Espaços do Complexo Olímpico

Vila apaRecida

Ginásio olimpico obra inaugurada

pista de skate elaboração do projeto

2 quadras elaboração do projeto

Ginásio de ginástica olímpica

elaboração do projeto

cabanas

pista de atletismo elaboração do projeto

piscina olimpicaelaboração do projeto

Exercite-se:Segundas e quintas-feiras Horário: 8h às 9hChácara – Toca do Zé Pereira Rosário – Escola Municipal Dom Luciano

Terças e sextas-feiras Horário: 8h às 9hCentro – Praça Gomes Freire (Jardim)Passagem de Mariana – Ginásio Poliesportivo

As inscrições podem ser feitas no local.

Fonte: Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Desportos

osmaR lopes

Obras atrasadas afetam esporte em Mariana

Page 13: Jornal Lampião - 12ª Edição

13Arte: Isabella Madureira

Dezembro de 2013

O doce pedaço da história

#eu no Lampião

Tradição secular da fabricação de doces é mantida viva e atrai turistas ao distrito de São Bartolomeu

EstEr Louback

Há mais de dois séculos São Bartolomeu adoça a região de Ouro Preto. A produção de doces é o principal atrativo turístico e já foi considerada a profissão mais importante des-te local. A tradição é repassada entre mem-bros da própria família, mas a população está de braços abertos para transmitir esse estilo de vida para os forasteiros. As guloseimas do distrito são variadas, desde geleias, licores até compotas. Porém, os quitutes mais famosos são o doce de leite e a goiabada cascão.

Os primeiros registros históricos do dis-trito datam do Século XVII, quando esta re-gião tinha como função produzir e abaste-

cer de alimentos a capital mineira Vila Rica. A economia se baseava na extração do ouro, na agricultura e em uma tímida produção de marmelada. A produção deste doce se inten-sificou a partir do Século XIX e continuou até 1940, quando uma praga se instalou no local e extinguiu o marmelo. Para solucionar o pro-blema, os doceiros adotaram a goiaba como seu principal ingrediente, pois na região sem-pre houve uma abundância de goiabeiras.

Em São Bartolomeu, utilizam-se frutas en-contradas nos quintais como goiaba, figo, pês-sego, laranja-da-terra, cidra, limão e mamão. Não há uma plantação, as árvores são todas semeadas pelo vento e agentes naturais. Além

disso, a produção do doce respeita o ciclo da colheita. O ritmo pacato do distrito se adap-ta ao tempo da natureza e é esta mansidão que deixa o doce tão saboroso e único. Como afir-ma o pastor Cilas de Oliveira: “Os produtos do distrito me trazem a gostosa lembrança da minha infância. Apesar de atualmente morar na cidade, os doces artesanais trazem um pe-daço do campo para o meu cotidiano”. Além de gostosa, a goiabada cascão faz bem para a saúde. Segundo a engenheira agrônoma Leila de Castro, o doce ajuda a combater a anemia, devido às vitaminas encontradas na goiaba.

O processo caseiro de produção une di-versas gerações desde a colheita e o prepa-

ro, até os retoques finais. Antes do amanhe-cer, as frutas são colhidas e preparadas para o cozimento imediato. A doceira Pia Chaves, que trabalha neste ramo há mais de vinte e cinco anos, afirma ter deixado a capital minei-ra para criar sua família no distrito. Ela acredi-ta que a tradição familiar e o ritmo próprio do local são o alicerce da tradição de São Bartolo-meu. Segundo Pia, atualmente, é raro encon-trar doces de frutas caseiros sem agrotóxicos, sendo este o diferencial do distrito.

O doceiro Vicente “Tijolo”, 79 anos, como é conhecido entre os moradores, tem como sua única fonte de renda a venda de doces. Desde criança ajudava o seu pai na produ-ção e fala sobre a dificuldade em manter o trabalho devido à imigração dos jovens para os centros urbanos. “A maioria dos doceiros morreram e seus filhos foram para a cidade. Na minha época, a cada cinco casas, três fa-ziam doce. Hoje já diminuiu mais de 50% dos produtores”, afirma Vicente.

No ano de 2008, a produção de Doces de São Bartolomeu foi considerada Patrimônio Imaterial Municipal pelo Instituto do Patri-mônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, desde então, o distrito está conseguindo maior visibilidade para a região, aprimorando a produção sem perder a qualidade e a carac-terística artesanal. Para auxiliar nesse trabalho, no ano seguinte, os doceiros criaram a Asso-ciação dos Doceiros de São Bartolomeu, com o intuito de orientar os profissionais na otimi-zação e produção de doces.

Apesar das dificuldades para a manuten-ção da tradição, o doce de leite e a goiabada cascão de São Bartolomeu são inconfundíveis entre os turistas e os consumidores da região. O mito da culinária que flui no distrito mais antigo de Ouro Preto vai além da sua impor-tância econômica: ele conta a doce história de um povo que acolhe moradores e curiosos da maneira mais saborosa possível.

VEJA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE ESSES DOCES NA VERSÃO ONLINE : http://migre.me/gHNYG

GIuSEppE RINDONI

GIuSEppE RINDONI

O doce é aquela coisinha assim... Sabe aquela coisa que toca o coração? Que todo mundo gosta de pelo menos um pedacinho. O doce consegue tocar o coração das pessoas. Quem vem à São Bartolomeu sempre recebe esse toque, esse carinho através do doce.” Pia Chaves, 69 anos.

Este é o doce de maior brasilidade que eu conheço, lembra samba, o famoso ‘Romeu e Julieta’. Combinação perfeita que está na mesa de varias classes sociais brasileiras. É romântico, pois é uma combinação perfeita entre o queijo mineiro e este delicioso doce.” Leila de Castro, 48 anos.

Os protestos populares que aconteceram em diversas regiões do Brasil em junho e ju-lho desse ano deram o que falar. Milhares de brasileiros foram às ruas, clamando por me-lhorias e por respeito a seus direitos. O preço abusivo das passagens do transporte co-letivo, a corrupção política e os altos gastos com as obras esportivas foram alguns dos principais motivos dos protestos. Em Mariana, a população abraçou as causas sociais e fez sua voz ser ouvida. Veja como algumas pessoas avaliaram esse episódio histórico:

CulInárIA

“Vi as manifestações com bons

olhos. principalmente pela juventude ter se manifestado em favor de um Brasil melhor,

onde ela poderia ter oportunidades melhores não só para si, mas para as gerações posteriores. O difícil é a efe-tivação das propostas que foram lançadas, especialmente

aquelas que podem trazer resultados concretos para a sociedade.”

Lucas Henrique, 22, estudante

“O que me motivou a ir às manifestações foi a mobilização

geral, que dava a ilusão de que alguma coisa ia mudar, mas as manifestações foram abafadas quando o Brasil ganhou a Copa

das Confederações.”Gessica Silva, 21, estudante

O preparo artesanal dos doces de São Bartolomeu dá singularidade ao produto final

Assim como as receitas, os materiais utilizados na produção são herdados pelos doceiros

“Só de ter abaixado a passagem, já representa alguma

mudança. O problema é o vandalismo, porque enquanto alguns tentam melhorar, outros tumultuam. Foi um ato nobre dos

que foram se manifestar.”Michele Juventino, 25, secretária

“Fui para a rua e ainda levei meus filhos junto comigo.

Queria que eles vissem um pouco do que eu tive o prazer de ver em 1992, pelo

impeachment do Collor. Foi histórico, uma coisa linda ver novamente tantas pessoas

juntas por uma causa.”Fernando Maciel, 41, bancário

TExTO: HIAGO MAIA FOTO: BáRBARA MONTEIRO

“Ainda falta uma sacudida. As

pessoas estão brincando que o gigante acordou, fez xixi e voltou a dormir. Deveriam

ter outras manifestações, mas com fundamentos, porque vimos coisas bem ‘sem noção’ e pessoas protestando por qualquer coisinha. Eu, que trabalho

com comédia, percebo muitas piadas em torno de tudo o que aconteceu.”

Flavio Souza, 36, professor

Page 14: Jornal Lampião - 12ª Edição

14 Arte: Danielle Diehl

Dezembro de 2013

turismo

Memória trilhada em um vagão de históriastrem a vapor que fazia o percurso de 18 quilômetros entre mariana e ouro Preto foi substituido por máquina a diesel

Daniella anDraDe

Trilhos, barulho, carvão, chaminé, fumaça e fuligem são características peculia-res do trem a vapor, mais co-nhecido como Maria-Fumaça, que chega ao Brasil em mea-dos do Século XIX. Usadas como principal meio de trans-porte por quase 100 anos, as locomotivas foram palco de novelas da vida de muitos que nela viajaram e tiveram papel fundamental no desenvolvi-mento das cidades.

Na Região dos Inconfi-dentes, os 18 quilômetros de percurso férreo que separam Mariana e Ouro Preto eram vencidos por uma Maria-Fu-maça. A vida passava deva-gar por essas bandas. As car-gas e notícias não chegavam com menos de seis horas vin-das da capital Belo Horizon-te. Ao redor da estação, co-nhecida também por Estação Parque, pequenos comércios eram instalados na praça onde

hoje está localizada a Prefeitu-ra Municipal de Mariana.

A população esperava os jornais impressos chega-rem por intermédio da Cen-tral do Brasil, principal ferro-via do país, que inaugura, em dezembro de 1888, seu pro-longamento e criação do Ra-mal de Ouro Preto. Depois a continuação até Mariana, con-cluída em 1914. Após 43 anos, em 1957, por processo de mo-dernização, as máquinas a va-por foram substituídas por lo-comotivas a diesel.

Composta por quatro li-nhas, a estação de trem loca-lizada na primeira capital de Minas, possuía cerca de 200 vagões para a locomoção de cargas e passageiros . O advo-gado Frederico Ozanan Tei-xeira, 72 anos, passou a ju-ventude andando de trem de Mariana a Ouro Preto para es-tudar, nos anos 50. “Os mais espertos usavam guarda-pós”, afirma Ozanan, referindo-se

às capas de proteção contra a fuligem expelida pela chaminé da Maria-Fumaça.

Um vestígio daquele tem-po está guardado na oficina da Ferrovia Centro-Atlânti-ca (FCA), ao lado da Estação de Trem de Mariana. Trata-se da locomotiva a vapor fabri-cada na República Tcheca, em 1949, utilizada no passeio tu-rístico do Trem da Vale, entre Mariana e Ouro Preto, inicia-do em 2006.

A Maria-Fumaça, de 169 toneladas e 22m de compri-mento, está paralisada há mais de um ano para manutenção, de acordo com o inspetor de tração da Vale, Gilberto Bas-tos da Cruz. Desde o início

das atividades do trem turísti-co, a locomotiva a vapor con-tava com a ajuda de uma mo-vida a diesel, para aliviar o peso e diminuir a quantida-de de vapor necessário para a locomoção do trem, ou seja, menos queima de carvão, le-nha e abastecimento de água.

PrivatizaçãoEm 1996, com o processo

de privatização das ferrovias, a FCA, empresa do Grupo Vale, ficou com a extensão dos 18 quilômetros entre Ouro Pre-to e Mariana. No mesmo ano a Vale paralisou as atividades na ferrovia por conta das más condições físicas da estrada de ferro. Em 2005, iniciou o pro-

cesso de recuperação da linha férrea para o turismo, inaugu-rada em 05 de maio de 2006. O percurso possui belas pai-sagens naturais e arquitetôni-cas que selam as cidades irmãs na história.

Hoje, composto por uma locomotiva a diesel e cinco va-gões para passageiros, o trem turístico comporta 292 pesso-as por viagem, com velocida-de média de 20 km/h. Os va-gões que mantêm os mesmos desenhos dos antigos trens ali-menta a saudade da chaminé e, como na poesia de Mano-el Bandeira, faz o embalo do “café com pão” da Maria-Fu-maça deixar a viagem sobre os trilhos muito mais nostálgica.

Tradicional Maria-Fumaça, sem peças para reposição, está parada há mais de um ano na garagem da Ferrovia Centro-Atlântica

thiago anselmo

thiago anselmo

Atuais locomotivas que fazem trajeto Ouro Preto-Mariana

crônicAs

Um lugar de “estórias”ViViane Ferreira

Andando pelas ruas de Maria-na me deparo com um casarão típi-co de uma cidade histórica. Locali-zado em uma esquina, imponente, pintado de branco, com suas janelas de madeira, em um tom de azul es-curo. Diante a sua porta, uma pla-ca me chamou à atenção: “Bibliote-ca Municipal”.

Em segundos, voltei ao meu pas-sado e veio à mente várias cenas da época de escola, quando era fre-quentadora assídua da biblioteca do meu bairro. Era um lugar sem-pre cheio de vida, muitos estudantes dos bairros vizinhos utilizavam des-te espaço para estudar. A nostalgia me fez rapidamente entrar no local.

No interior do casarão me de-parei com muitas estantes abarrota-das de histórias e autores. Machado de Assis, Fernando Pessoa, Car-los Drummonnd de Andrade, Jor-ge Amado, contos e crônicas surgi-ram a minha frente. Impossível não se deixar envolver pelas lembranças, as sensações e emoções que aqueles livros me propiciaram.

Em princípio tive a impressão que a biblioteca estava vazia, mas num canto avistei um senhor, trajan-do roupas simples, olhar concentra-do, segurando com firmeza um livro em suas mãos.

Resolvi me aproximar. Comecei a conversar e descobri nele uma ver-dadeira paixão pelos livros. Contou-me que desde criança gostava de ler,

pois assim conhecia outros mundos diferentes do seu. Por causa das di-ficuldades de sua família não conse-guiu seguir adiante nos estudos, mas nunca perdeu o entusiasmo e o fas-cínio pela leitura. Sinto a emoção nas suas palavras, o brilho no seu olhar ao contar o encantamento pe-los livros.

“Venho toda semana pegar li-vros, a leitura é viciante”, me diz com um sorriso estampado no ros-to. E assim, mais uma vez , aquele senhor irá cumprir a sua praxe se-manal. Depois de olhar atentamen-te entre as estantes, escolheu o livro e foi para casa como se estivesse car-regando um tesouro, o que para ele realmente é.

Novamente eu fui transporta-da ao meu passado e aquela sensa-ção prazerosa tomou conta da mi-nha mente. A de ver que a biblioteca é sim, um lugar cheio de vida, histó-rias e paixões. Para todos os gostos e tipos de leitores.

Pegando carona na terapiaKênia Marcília

Dedo polegar em haste, um sim-ples gesto de “joia”, a linguagem universal da “carona” pode ser o iní-cio de grandes mudanças. Bem mais que “um jeitinho mais fácil e bara-to” de se locomover, é uma terapia sobre quatro rodas.

Quando abrimos a porta do car-ro de alguém que nos oferece ca-rona é como se adentrássemos um consultório pela primeira vez, como um paciente espe-rando ser atendi-do pelo terapeuta, a diferença é que nesse caso não há distinção de pa-peis, caroneiro e motorista, ambos são pacientes e terapeutas. Depen-de de quem quer se fazer ouvir, de quem quer falar ou apenas silenciar, silêncio quebrado por aquele “oi” desconcertante ou pela indagação: tá indo pra onde mesmo?

Quando sentamos no divã, quer dizer, na poltrona de um carro, so-mos tomados pela ansiedade e isso não foge ao motorista. Uma ansie-dade parecida com aquela da lon-ga espera por ser atendido em uma consulta, à espera por ouvir chamar o seu nome e no caso da carona, a espera pela quebra do gelo, o início de uma conversa.

Muitas vezes essa conversa acon-tece instantaneamente, motorista e caroneiro falam sobre a infância, a rotina, os traumas, os prazeres ou sobre coisas triviais; outras vezes, o percurso termina sem a troca de nenhuma palavra, afinal o silêncio pode ser a melhor terapia - quere-mos apenas alguém na poltrona, no divã ao lado.

Assim como é necessária con-

fiança entre paciente e terapeuta, na carona ocorre o mesmo . É claro que somos alertados “para anotar a pla-ca do carro”, “ligar pra alguém e avi-sar que está pegando carona”, como medidas seguras, mas preferimos acreditar que quem para pra ofere-cer carona, principalmente em dias chuvosos ou de sol a pino, é apenas

alguém generoso ou que quer com-panhia naquele dia em que tudo deu errado ou que nos sentimos solitários.

A carona é qua-se um livro de au-

toajuda motorizado, exercitamos a paciência como em nenhuma ou-tra situação, em intensidades dife-rentes para caroneiro e motorista. O caroneiro necessita de uma paci-ência maior em ficar esperando, na expectativa que alguém interrompa a constante do movimento e diga a frase tão esperada: “quer carona?”.

O motorista exercita uma paci-ência menor, mas não menos ime-diata: a de esperar que o caroneiro entre no carro e se acomode logo, de que coloque o cinto, muitas vezes pressionado por outros motoristas que buzinam insistentemente por-que não exercitaram a paciência de esperar a generosidade alheia.Trân-sito! Irônico que com tantos tera-peutas em potencial seja responsável por precisarmos de terapia.

E como não lembrar do fa-tor primordial no nosso comparati-vo? A sorte! Contamos com ela para conseguir um horário para consul-ta, contamos com ela para conseguir uma carona no horário, de preferên-cia na poltrona detrás, pois assim como na sala de espera ou no divã, é sempre bom um cochilo.

thiago anselmo

A Biblioteca Pública Benjamin Lemos tem um acervo de mais de 12 mil títulos

a hora da estrela, de Clarice lispector

e no final a morte, de agatha Christie

o Cortiço de, aloisio de azevedo

Caçadas de Pedrinho, de monteiro lobato

grande sertão Veredas, de guimarães Rosa

Fonte: Biblioteca Benjamim Lemos

Inspire-se! Confira alguns dos livros mais lidos:

antologia Poética, de Vinícius de morais

o encontro marcado, de Fernando sabino

Dom Casmurro, de machado de assis

ninguém é de ninguém, de Zibia gasparetto

Capitães de areira, de Jorge amado

Quando abrimos a porta do carro de alguém que nos oferece carona é como se adentrássemos um consultório pela primeira vez.”

Viagens de trem:Embarques de Mariana:Sexta e sábado: 13h e 16hDomingos: 11h30 e 15h

Embarques de Ouro Preto:Sexta e sábado: 10h e 14h30Domingos: 10h, 13h30 e 16h30

Preços:Inteira:R$ 40,00 idaR$ 50,00 ida e volta.Meia:R$ 20,00 idaR$ 25,00 ida e volta.

Vagão Panorâmico:R$ 60,00 idaR$ 80,00 ida e volta

Fonte: www.tremdavale.org

Page 15: Jornal Lampião - 12ª Edição

15Arte: Lucas Machado

Dezembro de 2013

Mão na massa e som na caixa

da década de 70, um dos pre-cursores da cultura indepen-dente, foi criado o Rock Ge-nerator. O festival nasceu a partir da aquisição de um ge-rador a gasolina, que levado a diversos lugares de Ouro Preto, possibilita a apresen-tação de bandas convida-das que, além do gosto pela música, compartilham tam-

bém a falta de espaço, apoio e reconhecimento.

A última edição, em julho, atraiu cerca de 160 amantes do bom e velho rock no alto do Morro da Forca.. Os festi-vais Pepita, Grito Rock e Lupa são outros exemplos de um circuito que busca dar maior visibilidade para bandas inde-pendentes da região.

Dayane Barreto

O ritmo da bateria se fun-de ao som grave do baixo e tudo se mistura com /a potên-cia inconfundível da guitarra. O som fica tão alto, no peque-no espaço em que ocorrem os ensaios, que parece pulsar dentro da gente. As composi-ções vão direto para o compu-tador, onde são tratadas pelos próprios membros das ban-das e disseminadas pela inter-net. É assim, palpitando pai-xão pela música e colocando a mão na massa, que o cenário independente de Ouro Preto e Mariana ganha a sua força.

Com repertórios autorais e integrantes que tentam con-ciliar a atividade com alguma outra ocupação profissional, bandas como a Groove de Vi-nil e a Arquelogia Siderúrgica fazem parte dessa verdadei-ra conexão de sons e pensa-mentos. “Eu acho que o cená-rio musical daqui é muito rico, principalmente se compara-do a outras cidades do mes-mo porte no interior de Mi-

nas”, comenta César Raydan, baterista da Groove de Vinil, que com uma produção inspi-rada no funk, mesclada com elementos do jazz e soul, es-teve presente na programa-ção da Virada Cultural de Belo Horizonte, evento que em 24 horas distribuiu por vá-rios espaços da capital minei-ra, diversas atrações artísticas

e culturais, conseguindo reu-nir cerca de 200 mil pessoas.

Já a Arqueologia Siderúr-gica, de Ouro Preto, define seu som como uma mistura de stoner rock, um subgênero do metal, com neo-psicodelia, inspirado na música psicodé-lica dos anos 60. “A gente vê muita banda de samba e MPB se destacando por aqui, mas

para o rock mesmo falta espa-ço”, destaca o guitarrista An-dré Silva, que se torna o Tio André durante as manhãs, de segunda à sexta-feira, quando deixa a guitarra de lado para cuidar de seus alunos na cre-che Casa da Criança Jesus Ma-ria e José, em Mariana.

No rastro do movimento “faça você mesmo” do punk

FernanDa Belo

Lavras Novas está quie-ta, com apenas algumas pes-soas começando a trabalhar ou abrindo seus comércios. O tráfego nas ruas é peque-no. Ao andar por esses cami-nhos tranquilos, alguns mora-dores circulam pelas casas de uns e outros. Conversa não falta. Seja ao telefone ou pes-soalmente, não se vê uma pes-soa sozinha. Percebe-se que a atividade predominante está no turismo: cartazes de esca-ladas, de passeios de canoa, de diversos restaurantes e pousa-das, estão por toda parte.

Porém, essa não é a única opção de entretenimento do distrito ouro-pretano. Lavras Novas também se mantém por meio da construção civil e do artesanato local: o balaio trançado. São cestos, vasilha-mes e esteiras de vários tipos e formas. Essas peças artesa-nais feitas de taquara, princi-pal matéria-prima, são utiliza-das como utensílios e artigos decorativos. A produção des-ses materiais segue uma tradi-ção, que passa de geração em geração através dos anos.

A técnica, praticada desde a ocupação do distrito, três sé-culos atrás, servia para arma-zenar as cargas transportadas pelos tropeiros. Também se utilizavam as esteiras na cons-trução civil, para o forro das casas locais e dos arredores. Já no Século XX, o transpor-te de cargas se moderniza e a produção da cestaria é reduzi-da. Foram poucos os habitan-tes que permaneceram com a atividade para sustento das fa-mílias. O balaio passa, então, a ter maior valor artistico, do que utilitário.

Desde os nove anos de ida-de, o artesão Carlos Aurélio de Carvalho, 65, presencia a exe-cução dessa atividade pela sua família. Recorda de fazer o ba-

laio com os restos que caiam ao chão, quando seu pai pro-duzia o verdadeiro material a ser vendido. Hoje, referência no artesanato local, é o pró-prio Carlos quem ensina a prática do balaio na região. O modo de produção e a comer-cialização atuais são mais cô-modos e realizados nas resi-dências, quintais das casas ou nos ateliês de cada artesão. As vendas ocorrem nesses mes-mos lugares. Os artistas já possuem uma clientela fixa e a maioria das peças são fei-tas sob encomenda. O cresci-mento do turismo também fa-

Atividade rentável segue tradição que sobrevive por conta própria, sem investimentos de órgãos públicos

cilitou esse conforto e amplia, cada vez mais, a produção.

MATÉRIA-PRIMA A coleta da taquara é feita

em matas da região, em pro-priedades privadas da Barra-gem do Custódio e da Serra do Macaco, que ficam em torno de 20 quilômetros de Lavras Novas. Os cesteiros compram as taquaras dos proprietários e pagam por um carro que en-trega o material nas casas dos produtores. A matéria-prima não é difícil de ser encontra-da, porém, os custos para ob-tê-la são altos e isso reflete no

preço final dos produtos, que podem variar de R$ 5,00 até R$ 150,00. De acordo com o artesão Carlos Aurélio, o ca-pital investido para a produ-ção do balaio é por conta pró-pria dos artesãos. O mecânico Paulo Sabin, 45, e o aposen-tado Celso, 64, moradores de Lavras Novas, também afir-mam não ter nenhum investi-mento externo para a produ-ção das cestarias.

As peças também po-dem ser produzidas com ou-tros tipos de materiais. Segun-do Carlos Aurélio, o bambu e a vara são mais fáceis de se-

rem encontrados, mas reque-rem técnicas peculiares, como ferramentas específicas e for-mas de tratamento adequado.

Já a taquarí, espécie de ta-quara, é a matéria-prima utili-zada pelos antigos produtores e, se torna a ideal para a con-fecção do balaio, como afir-ma o artesão. Essa peça ainda não está disponível para uso, apenas daqui a sete anos; isso acontece, pois o ciclo de vida da espécie finda logo depois da sua reprodução, portanto, ao produzir sementes, ela seca e morre e, só após dez anos estará apta para ser coletada

de novo. A taquarí apresenta uma maior facilidade de ma-nuseio e encontra-se em qual-quer lugar, como, por exem-plo, na beira de córregos.

A produção artesanal do balaio com taquara trançada não está ligada apenas à ren-da para os produtores. As ces-tarias fazem parte da cultura e da tradição dos habitantes de Lavras Novas, e o artesão Carlos Aurélio defende que essa cultura permanecerá viva, mesmo com o passar dos anos porque “aquela pessoa que tem amor, que quer continuar com aquilo, vai seguir”.

cuLturA

distrito: LAvrAs NovAs

Paula BamBerg

Carlos Aurélio mostra peças em taquara trançada em seu ateliê. Este tipo de artesanato é produzido no distrito desde o Século XVIII

Produção de balaio trançado atravessa os séculos e sustenta famílias

marllon Bento

Por falta de espaço para se apresentar , Vitor Oliveira, um dos idealizadores do festival Lupa, aprecia, toca e produz música independete na região

Page 16: Jornal Lampião - 12ª Edição

16 Arte: Bruna Lapa

Dezembro de 2013

Isadora rIbeIro (texto) Patrimônios cruzados em eixos de visão

opostos. O que é matéria estática se ergue ao alto. O que é tradição viva se prolonga no fluir das águas. A arquitetura barroca tombada em pedra e cal faísca o ouro bateado com o mes-mo sacolejar iniciado no Século XVII. En-tre a disseminação dos gestos, a perpetuação das técnicas e a propagação de uma cultura, os faisqueiros fazem de sua tarefa um patri-mônio imaterial da antiga Vila de Nossa Se-nhora do Ribeirão do Carmo. É no leito desse mesmo ribeirão, que outrora nomeou aquela que viria a ser Mariana, que as bateias seguem seu compasso. O embalo das treinadas mãos orientam os olhares de quem acima caminha e de quem abaixo busca um mínimo cintilar do que se procura com teimosia. Na incerteza a que se lançam em repetidos dias, os distintos personagens completam a arquitetura do cen-tro de Mariana. Em uma rotina que se cru-za nas buscas imprevisíveis, a moldura barro-ca reveste o perpetuar contemporâneo de uma herança diluída pelos séculos que a trouxeram e que a conduzirão no tempo.

FIlIpe MonteIro (Fotos)Patrimônios cruzados por olhares distin-

tos. Estaria o belo restrito ao legado que se firma em pedra nas montanhosas terras? As mãos calejadas pelas bateias, assim como a dos pais, não são desejadas às gerações futu-ras. Encarar a água fria logo pela manhã vira hábito. Às vezes, usar um chinelo é suficien-te. É preciso aproveitar as manhãs de sol. Es-cavar, esperar e, enquanto isso, coexistir com as picadas de insetos e com as consequên-cias físicas do repetitivo esforço de se incli-nar. Entre muitos descasos, há um que se des-taca: pela mesma água que garimpam, correm resíduos dos mais variados. Esgotos que de-sembocam sem nenhum tratamento e lixos lançados por incontáveis mãos compõem o ambiente de um rio onde o ouro é o reluzir mais valioso, mas não o único. Também não é o suficiente. Faiscar é renda complementar, sujeita às próprias vontades da natureza. Se a chuva vem, como é frequente nas tardes de verão, o trabalho iniciado com afinco ao ama-nhecer se perde entre as águas pela força da correnteza. Então é preciso aguardar até que o mesmo sol que castiga a pele retorne.

CONFIRA O ENSAIO COMPLETO NA VERSÃO ONLINE: http://migre.me/gHNuV

margensmargens

I

I


Top Related