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Dezembro de 2011Edição Nº 15

Desapropriação já!É HORA DE DESAPROPRIAR POR TERRA, TRABALHO

E MORADIA! É HORA DE OCUPAR AS TERRAS, CAMPO E TERRENOS NAS CIDADES, AS FÁBRICAS

FECHADAS E FALIDAS.

ATO DIA 08 DE DEZEMBRO ÀS 9 HORAS, NO MASP, NA AV. PAULISTA (SÃO PAULO)

ÀS 15 HORAS: LANçAMENTO DA CAMPANHA SEM TETO COM VIDA, NA ALESP

Fotos: João Zinclar e Cristina Beskow

ESPECIAL

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02 /desapropriação já!

Nós, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), da fábrica sob o controle dos trabalhado-res Flaskô e militantes sem terra de Campinas, rea-lizamos no dia 12 de no-vembro um encontro no qual discutimos a necessi-dade de nos articularmos e organizarmos nossa luta conjunta dirigida ao go-verno federal no sentido de apontar as desapropria-ções como medidas urgen-tes de nossa pauta de luta.

A fábrica ocupada Flaskô está ocupada há 8 anos e os trabalhadores lutam para manter seus empregos. Têm sofrido diversos ataques por par-te do Governo e da Justi-ça em função das dívidas deixadas pelos antigos patrões. Os trabalhado-res têm mantido a fábrica aberta e em funcionamen-to, mas sob ataques cada dia maiores. Por isso é necessário que o Gover-no desaproprie a fábrica e a coloque sob o contro-le dos trabalhadores. É necessário que o gover-no desaproprie o terreno onde se construiu a Vila Operária regularizando as moradias. É necessário

É HORA DE DESAPROPRIAR POR TERRA, TRABALHO E MORADIA!É HORA DE OCUPAR AS TERRAS, CAMPO E TERRENOS NAS CIDADES, AS FÁBRICAS FECHADAS E FALIDAS.

Desapropriação já!que o governo desaproprie os galpões da Fábrica de Cultura e Esporte consoli-dando um verdadeiro cen-tro cultural público e sob o controle dos trabalha-dores da arte e cultura. A desapropriação é a forma de reaver o que os patrões não pagaram, garantido os empregos, as moradias e a cultura.

Nas cidades, as ocupa-ções Zumbi e Dandara do MTST mostram a disposi-ção de luta dos trabalha-dores por suas moradias, mas esbarram na falta de terrenos. É hora de acabar com a especulação imobi-liária desapropriando ter-renos para construção das moradias para as famílias. No campo é necessário de-sapropriar as terras para a Reforma Agrária popular e sob o controle dos traba-lhadores.

Tarefas urgentes estão colocadas para os traba-lhadores da cidade e do campo:

• No campo o governo não deu nenhum passo para a mínima aplicação da constituição, desapro-priando as terras para a Reforma Agrária, e entrará

para a história como não tendo realizado nenhum assentamento no primeiro ano de governo.

• Nas cidades as famí-lias não têm onde morar e pouco se fez no sentido de aplicar as leis, como o estatuto da cidade, que prevê a desapropriação de terras para a moradia de interesse social.

• Na fábrica ocupada Flaskô os ataques se am-pliam por parte do go-verno e nenhuma medida concreta é adota no senti-do de salvar os empregos.

• Nas fábricas prosse-gue o processo de ataques aos direitos dos trabalha-dores, com terceirizações e fechamento de unidades produtivas, como resulta-do a internacionalização das empresas para os pa-trões ganharem bilhões, tudo com dinheiro públi-co do BNDES.

• A criminalização dos trabalhadores na cidade e no campo a cada dia é maior. Não podemos acei-tar as ameaças aos mili-tantes, os processos crimi-nais e mais do que isso os

assassinatos que prosse-guem.

Por isso, e sabendo que é necessário construir a unidade na luta, decidimos organizar um ato unitário no dia 08 de dezembro no MASP em São Paulo para apresentarmos nossa pauta de reivindicações.

LOCAL: MASPDATA: 08 DE DEZEMBRO às 9 horasAs 15 horas: Lançamento da Campanha Sem Teto Com vida, na ALESP (Assembléia Legis-lativa de São Paulo).

Movimento das Fábricas OcupadasMovimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST - Regional Campinas)

- Desapropriação já da fábrica ocupada Flaskô!- Desapropriação já pelas moradias dos acampamentos Dandara e Zumbi!- Desapropriação já por reforma agrária da área do Sítio Boa Vista em Americana – SP!- Não à criminalização dos Movimentos Sociais.

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03/trabalho

A Flaskô é uma fábri-ca de transformação de plástico. Produz vários modelos de embalagens industriais, chamados de tambores ou bombonas. Tem cerca de 71 traba-lhadores atualmente, mas chegou a ter 600 em seu auge. Foi fundada no final dos anos 70 e per-tencia à Corporação Hol-ding do Brasil (CHB).

A CHB também era dona das marcas Cipla e Interfibra e integrou o Grupo Hansen Indus-trial S.A. até 1992, ano da partilha de bens familiar ocasionada pela morte de João Hansen Júnior (sócio fundador). Luís Batschauer (que era casa-do com Eliseth Hansen) e seu irmão Anselmo as-sumem a CHB, mas per-dem a massa de capital do Grupo Hansen neces-sária para a moderniza-ção tecnológica.

Assim, enquanto as outras empresas do gru-po cresciam, a CHB co-meça a definhar as fábri-cas sob seu comando. No entanto, os trabalhadores da Flaskô não assistem a tudo isso passivamente. Há registros de greves

História da Fábrica Ocupada Flaskô

em 1994 e 1997 contra a jornada de até 12 ho-ras, baixos salários e não cumprimento de acordos trabalhistas. Porém, uma mudança significativa na fábrica só foi possível após a ocupação e o esta-belecimento do controle operário.

Em outubro de 2002, após uma greve de ocu-pação, os trabalhadores da Cipla e Interfibra, em Joinville/SC, conse-guiram uma liminar na justiça e retomaram a produção sob gestão dos trabalhadores. Desde en-tão, impulsionaram a luta pela estatização sob con-trole operário, a partir da perspectiva de garantir os quase 1.000 postos de trabalho de forma du-radoura, e mostrando que a fábrica não pode-ria fechar. Sem ter uma apropriação privada da riqueza, a gestão operá-ria conseguiu impor as conquistas históricas da classe, como a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, de 44 para 40 e depois para 30 horas semanais – 6 horas diárias. Os trabalhadores deram um exemplo de

que não precisam de pa-trões, e mais, passaram a mostrar que se é possível fazer isso em uma fábri-ca quebrada, por que precisamos de capitalis-tas na sociedade como um todo? Junto com a Flaskô, o Movimento das Fábricas Ocupadas atuou em mais de 35 fábricas, lutando pelo direito ao trabalho, direito à digni-dade, dizendo que a cul-pa da fábrica fechar não

são dos trabalhadores e que podemos fazer uma gestão democrática ope-rária.

No entanto, a burgue-sia não poderia permitir tais avanços. De várias formas, sempre buscou conter este exemplo de luta e clara perspectiva de construção do socia-lismo. Por isso, em 31 de maio de 2007, a burguesia aplicou uma ação crimi-nosa nas fábricas de Join-

ville, sob a fachada de um processo judicial e com 150 membros da Polícia Federal, a mando do mi-nistro do Trabalho Luis Marinho, nomeia-se um interventor, acabando com o controle operário e as históricas conquistas sociais que haviam sido realizadas. Como disse o Juiz que mandou acabar com a gestão dos traba-lhadores, “imagine se a moda pega?”. O brutal

golpe contra o Movimen-to das Fábricas Ocupadas não foi suficiente para destruir a perspectiva histórica da estatização sob con trole dos traba-lhadores. A trincheira da Flaskô, em Sumaré/SP, aponta o caminho da re-sistência e da perspectiva socialista, mostrando que sem patrão, os trabalha-dores conseguem realizar uma nova forma de ges-tão da produção, onde

Foto: Natasha Mota

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/trabalho04

a prioridade são as con-quistas sociais da classe e não o lucro e a proprieda-de privada, bases do capi-talismo.

Em 12 de junho com-pletam 8 anos da ocupa-ção e controle operário na fábrica Flaskô. Diante da crise capitalista, e a decisão dos patrões de fechar a fábrica, os operá-rios levantaram a cabeça e organizaram-se para manter a fábrica funcio-nando na luta em defesa dos empregos. Ocupan-do a fábrica e tomando seu controle.

Sem o patrão e a par-tir do controle operário, da democracia operária, foi reduzida a jornada de trabalho para 30 ho-ras semanais, sem redu-ção nos salários. Sem o patrão, os operários, em conjunto com famílias da região, organizaram a ocupação do terreno da Fábrica e constroem hoje a Vila Operária e Popular com moradia para mais de 560 famílias. Sem o

patrão, os operários rea-tivaram um galpão aban-donado e iniciaram o projeto “Fábrica de Cul-tura e Esporte”, com tea-tro, cinema, futebol, balé, dança, curso de desenhos e aulas de violão.

Desde o início os ope-rários defenderam a es-tatização da fábrica sob controle dos trabalhado-res diante das dívidas dos patrões com o estado. Desde o inicio os operá-rios e operárias se soma-ram a luta do conjunto da classe trabalhadora. Defendendo a reforma agrária junto com os trabalhadores do cam-po, defendendo a luta pelas moradias com os operários na cidade, de-fendendo os direitos e a luta contra os patrões em dezenas e dezenas de fábricas. Defenden-do os serviços públicos como saúde e educação junto ao povo e aos tra-balhadores do setor pu-blico.

Lutaram desde o ini-

cio pela reestatização das ferrovias junto aos ferroviários, pela rees-tatização da Vale do Rio Doce e da Embraer, por uma Petrobrás 100% estatal. Os operários da Flaskô organizaram, junto ao Movimento das Fábricas Ocupadas em conjunto com os operá-rios da Cipla e Interfibra 8 caravanas a Brasília para exigir a estatização da fábrica.

Os operários orga-nizam conferencias, se-minários, encontros na-cionais e internacionais, além de manifestações por todo o Brasil sem-pre discutindo com sua classe os caminhos da luta. Hoje desenvolvem a Campanha para que a prefeitura Declare a Fá-brica e toda a sua área de Interesse Social, dando um passo no caminho da desapropriação das propriedades do patrão para a sua definitiva es-tatização sob o controle dos trabalhadores.

A Vila OperáriaA luta na fábrica ocupada Flaskô começou, como em todas as fábricas,

como uma luta por melhores condições de trabalho e por salário. Foi as-sim que ocorreram várias greves principalmente na década de 1990. Já no começo dos anos 2000, frente a uma grande crise mundial, os patrões, mudaram a estratégia – sugaram o sangue que ainda havia na fábrica até a última gota já com a intenção de rapinar tudo que aqui havia e levar em-bora para acabar com o parque fabril. Então os trabalhadores se encon-traram em uma situação nova, frente à ameaça de desemprego geral. Foi assim que tiveram também que forjar um instrumento de luta que nunca haviam usado: diante do fechamento da fábrica e não aceitando sair com uma mão na frente e outra atrás (com muitos direitos e salários atrasa-dos) decidiram ocupar a fábrica, tomar seu controle e tocar a produção.

A partir do momento em que a fábrica foi ocupada muitas coisas mu-daram. A luta na Flaskô ultrapassou os limites da fábrica, pois todos sou-beram logo que essa luta nunca será resolvida sem união com outros trabalhadores. Ao mesmo tempo a própria fábrica não é uma luta só dos que aqui trabalham.

Foi assim que em 2005, junto com trabalhadores sem-teto da região, uma parte que representa três quartos do terreno da Flaskô foi também ocupada e é onde hoje está erguida a Vila Operária e Popular, onde mo-ram 560 famílias. Deste momento para cá, foram diversas mobilizações sempre em conjunto com a luta da fábrica, revindicando principalmente luz e água. A água foi uma recente conquista na qual o Governo se escon-dia atrás da imensa burocracia que se apresenta sempre que os pobres tem alguma demanda social. Mesmo assim, com muita mobilização, con-quistamos para todo o município de Sumaré uma lei permitindo a prefei-tura instalar rede de água em bairros ainda irregulares. Desde então já 4 bairros assim ganharam água. Mas ainda não acabaram as demandas, pois ainda há muita estrutura de que o bairro necessita – esgoto, asfalto, iluminação pública, etc.

Nestes seis anos a Vila Operária se ergueu rápida e solidamente. No entanto, toda esse bairro e essa vida nunca estarão em paz enquanto não se desapropriar a área e as moradias forem regularizadas. Soluções individuais desconsideram os companheiros e nunca resolvem. A única solução é a despropriação de todo o terreno seguindo os caminhos já provados por A+B que existem dentro da lei. Falta apenas vontade polí-tica. Desapropriação da Vila Operária e da Fábrica Ocupada Flaskô Já!!! Desapropriação também do bairro Pinheirinho em São José dos Campos, que passa por situação semelhante!

Fábrica de culturaAlém da Vila Operária e do parque fabril, a ocupação da Flaskô gerou

também a Fábrica de Esporte e Cultura. É um grande galpão, onde antes funcionava parte da produção e onde hoje ocorrem diversas atividades como aulas de balé, de espanhol, de danças populares, de futebol, de tênis-de-mesa, de xadrez e dama, de teatro, de bateria, etc. Todas ati-vidades são gratuitas. A nossa luta e reivindicação é que, para além da desapropriação do parque fábril e da Vila Operária, também seja feita a desapropriação da Fábrica de Cultura e Esportes transformando o galpão em um centro cultural público controlado pelos artistas, educadores e de-mais trabalhadores que ali atuam.

Foto: Natasha Mota

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05/moradia

A ocupaçãoNo dia 13 de agosto o

MTST ocupou uma área abandonada no Jd. Minda e, desde então organizou uma das maiores ocupa-ções que a cidade já teve, com 800 famílias. O MTST reivindica o direito básico à moradia.

A justiça, como de cos-tume, demonstrou priori-zar a propriedade privada sem função social em rela-ção à vida de milhares de homens e mulheres. Cerca de 20 mil famílias não tem onde morar em Hortolân-dia.

O descaso da prefeitura

O movimento exigiu que o prefeito Ângelo Pe-rugini negociasse uma so-lução para essas famílias. Tentou por várias oportu-nidades marcar uma reu-nião com o prefeito, por meio de seu secretário de habitação, mas esta nunca

História da Ocupação Dandara do MTST, em Hortolândia

aconteceu.No dia 30 de agosto,

cerca de mil trabalhado-res da ocupação Danda-ra organizada pelo MTST realizaram na manhã uma manifestação no prédio da prefeitura municipal de Hortolândia.

As famílias da ocupação Dandara do MTST (Mo-vimento dos Trabalhado-res Sem Teto) acamparam durante 4 dias em frente à prefeitura de Hortolândia. Exigiam da prefeitura que resolvesse o problema de moradia das 800 famílias do acampamento e dessem uma solução provisória em caso de despejo.

O prefeito recebeu as fa-mílias no dia 26 de setem-bro. Nessa reunião o pre-feito não atendeu nenhuma das reivindicações. Apenas disse que faria o cadas-tro das famílias. Também tentou negociar com cada família em particular, ten-tando tirar a legitimidade do movimento.

Prefeitura de Hortolândia

mentiu e difamou MTST

A prefeitura de Hor-tolândia usou dinheiro pú-blico para atacar e difamar o MTST. Fez um panfle-to e distribuiu na cidade atacando o movimento. O panfleto dizia que a maio-ria das famílias do acam-pamento Dandara não é de Hortolândia. Mentira da prefeitura.

Panfleto tentou enganar população de Hortolândia

O panfleto feito pela prefeitura de Hortolândia teve a intenção de jogar as famílias que estão no cadastro da prefeitura por moradia contra as famílias do MTST. Essa é uma mais uma tentativa do poder público de dividir as famí-

lias e poder enrolar mais a entrega das casas.

Movimento esclareceu

população no ato do dia 4 de

outubroO MTST deixou claro

que a prefeitura de Hor-tolândia rompeu com um acordo feito há mais de dois anos com 235 famílias de Hortolândia cadastradas, que estavam acampadas no Zumbi dos Palmares, em Sumaré. A prefeitura também enganou o movi-mento, pegando nome dos coordenadores e acampa-dos e entregando para os proprietários, para mover processos.

“As famílias da ocupa-ção Dandara não são vân-dalas, elas estão revoltadas pelo descaso por parte da prefeitura. O direito a mo-radia e a manifestação está na Constituição Brasileira,

por isso continuaremos”, dizia um material entregue pelo movimento à popula-ção de Hortolândia.

Faltam 20 mil moradias em Hortolândia

A prefeitura de Hor-tolândia construiu apenas 1000 casas no últimos sete anos. Prometeu construir 7000 casas, mas não cum-priu. “Se a prefeitura aban-donou seu povo, nós do MTST continuaremos lu-tando. Até a vitória!”, disse o vídeo do movimento no site www.mtst.org.

Foto: Natasha Mota

Foto: Fósforo Quadros

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Carta do MTST a população de Hortolândia após o despejo da ocupação Dandara

À população de Hortolândia

Desde 13 de agosto, cen-tenas de famílias ocuparam o terreno abandonado no Jardim Minda em Hortolân-dia, construindo ali um es-paço concreto de luta e re-sistência frente à opressão diária ao trabalhador que reside na periferia urbana Brasileira.

Após dois meses de Dan-dara, a polícia invadiu na segunda-feira (24/10) de madrugada com centenas de viaturas a ocupação, para realizar um despejo surpre-sa.

Trata-se de mais um dos inúmeros ataques ao povo

brasileiro, representado aí por mais de 800 famílias que ali depositam esperança na luta por moradia e vida dignas.

A luta deve prosseguir e a resistência será fundamen-tal para a vitória das famí-lias.

OCUPAR! RESISTIR! E MORAR AQUI!

MTST! A LUTA É PRA VALER!

Os moradores do acam-pamento Dandara recebe-ram a solidariedade dos trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô e estão acampados em um galpão da fábrica, em Sumaré

Neste galpão, enquanto acontecia a aula de desenho com as crianças (realizada pelo setor de cultura da fábrica ocupada), na quarta feira, 26 de outubro, o Jornal Atenção escutou o depoimento de Lenilza, 55 anos, moradora da ocupação Dandara:

“Tava muito difícil a vida que eu tava levando. Meu marido ga-nha mil e cem reais e a gente pagava quinhentos reais de aluguel. Eu tenho 3 filhos desempregados e uma neta, tomo dois remédios pra osteoporose, e a vida que a gente levava pagando aluguel era muito dura, o dinheiro não dava, a gente abria a geladeira e tava vazia, passava fome mesmo.

Depois que entrei pro movimento, pro MTST, parei de pagar aluguel e nunca mais passei fome. Por isso vou com o movimento onde ele for. O MTST mudou minha vida.”

O MTST é um movimen-to que existe em 7 estados do Brasil, mais o Distrito Federal. É um movimento sério, que luta por moradia há mais de dez anos, mas a prefeitura insiste em tra-

Depoimento de moradora do Dandara

MTST é um movimento nacionaltar as famílias como caso de polícia. Isso mostra cla-ramente que o prefeito de Hortolândia está do lado dos engravatados, dos ri-cos, dos patrões, e não dos trabalhadores.

Foto: Natasha Mota

Foto: Natasha Mota

Foto: Fernandão Martins

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07/campo

O Movimento dos Trabalhado-res Rurais Sem Terra (MST) reocu-pou no dia 10 de setembro de 2011 o Sítio Boa Vista, área invadida pela Usina Ester. Esta é a quinta ocupação realizada na região desde 2004 com o objetivo de realizar a regulariza-ção fundiária. É de conhecimento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) a existência de terras públicas em Americana que deve-riam ser destinadas para o assenta-mento dos trabalhadores.

Uma destas áreas é o Sítio Boa Vista que pertence ao governo fede-ral. Apesar de ser proibido o arren-damento de terras públicas federais, a Usina Ester utiliza a área para plan-tar cana-de-açúcar. Em todas as ve-zes em que foi ocupado o Sítio Boa Vista, a Usina Ester, por meio de li-minares falsas e em conjunto com a Polícia Militar, conseguiu retirar as famílias.

O governo a favor dos usineiros

No dia 05 de agosto o MST rea-lizou uma ocupação com aproxima-damente 700 famílias, que perma-neceram na área por 24 dias. No dia 30 de agosto pela manhã, a tropa de choque da Polícia Militar executou de forma intimidadora o despejo das famílias a favor da Usina Ester. Na madrugada anterior, a Polícia ater-rorizava os trabalhadores com luzes em direção aos barracos, rojões e ti-

A luta pela Reforma Agrária na região de Americana

ros de armas de fogo, assustando a todos ao longo da noite.

A justiça mais uma vez defendeu os interesses dos ricos contra os di-reitos dos pobres, garantiu o inte-resse dos usineiros contra o dos tra-balhadores. A juíza Cinthia Elias de Almeida, da 2ª vara civel de Ameri-cana, emitiu a reintegração de posse, ignorando o fato da área ser pública. Também não levou em considera-ção o pedido do Ouvidor Agrário Nacional do INCRA, o desembarga-dor Gercino José da Silva Filho, para adiar o cumprimento da liminar até

que a situação da terra ocupada fosse investigada.

A Usina EsterA Usina Ester grila terras por toda

a região de Americana para a mono-cultura de cana-de-açúcar. Estima--se que 4 mil hectares de terras são usadas irregularmente pela empresa. São áreas Municipais, Estaduais e Federais que devem ser destinadas para a Reforma Agrária . Além disso, a usina polui o meio ambiente com produtos químicos que envenenam o

solo, os animais e as águas consumi-das pela população da região.

A luta pela produção na terra

na regiãoO processo de luta pela terra na

região resultou na conquista de varias áreas que hoje são assentamentos. Os mais recentes são o assentamento Comuna da Terra Milton Santos, em Americana, e o Elizabeth Teixeira, em Limeira. As duas áreas, mesmo

Foto: João Zinclar

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sem financiamento e apoio gover-namental, produzem alimentos sem veneno para os trabalhadores das cidades. Atualmente são entregues semanalmente mais de 10 toneladas de alimentos para cerca de 45 ins-tituições nas cidades de Cosmópo-lis, Americana, Limeira, Campinas, Sumaré e Nova Odessa. Enquanto a usina Ester só planta cana-de-açúcar e produz álcool e açúcar para expor-tação.

O dia a dia do acampamento

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra não luta apenas por ter-ra, mas também pela construção de outras relações sociais, de uma vi-vência mais humana e diferente das periferias da cidade. Para que isso aconteça, criamos outra organização no acampamento, que prioriza a co-letividade. Esta organização é muito importante para o bom convívio e andamento das atividades de resis-tência.

Realizamos assembléias e reuni-ões quase diariamente entre os acam-pados, que se dividem em setores para organizar o trabalho coletivo. Alguns setores, como Infraestrutura, Disciplina, Saúde e Educação já es-tão operando, outros serão construí-dos conforme o desenvolvimento da comunidade.

No nosso acampamento foi cons-truída também uma farmácia, um almoxarifado, cozinhas, banheiros, um barracão para as atividades cul-turais e formativas, além da Ciranda, momento no qual as crianças apren-dem e brincam juntas no período em que não estão na escola.

Todo o trabalho é realizado em mutirões e dividido entre os acam-pados, sem distinção entre homens e mulheres ou condição física, de acordo com as possibilidades de cada um. Trabalhamos juntos, com

responsabilidade pela construção da comunidade e não apenas de nossos barracos, individualmente. Juntos, tornamos o acampamento uma co-munidade unida, cheia de coopera-ção e vontade.

O despejo... Na segunda-feira, dia 27 de agos-

to, por volta das 18 horas, a polícia cercou todo o acampamento e colo-cou barreiras nas estradas que davam acesso à área, anunciando que reali-zaria a reintegração de posse a favor dos interesses dos usineiros.

Durante toda a noite, os policiais impediam até a passagem dos mora-dores do assentamento Milton San-tos. Os assentados não conseguiram levar as crianças para a escola, alguns tiveram que dormir dentro de seus carros e toda a produção da horta não pôde ser levada para ser distri-buída e vendida.

Os acampados passaram a ma-drugada sendo aterrorizados por fogos e tiros de fuzil disparados pela polícia. As famílias tiveram que dei-xar seus barracos e sequer tiveram tempo de retirar seus pertences. Pela manhã presenciaram o despejo. Per-to de 100 policiais entraram na área e com cassetetes batiam nas lonas dos barracos e rasgavam para verificar se ainda tinha gente. Depois, as máqui-nas da Usina Ester vieram e derruba-vam as estruturas que depois foram recolhidas com caminhões.

Os acampados viram todo o tra-balho de organização ser desfeito, todo o material usado foi perdido. A usina fez questão de recolher, des-truir, queimar tudo que ao longo de 24 dias deu vida, abrigo e sustento para mais de 600 famílias.

Algumas das famílias que não ti-nham lugar para ir e foram acolhidas no barracão do assentamento e agora estão acampadas em condições bem precárias numa área de recuo.

A luta continua!!!Após alguns dias de aperto e pre-

cariedade num pequeno terreno de recuo no assentamento, as famílias resolveram retomar o processo de reivindicação da área do sítio Boa Vista. Na madrugada do dia 10 de setembro, fizemos uma nova ocupa-ção na área remanescente do sítio,

dessa vez, ao lado direito do Milton Santos.

O acampamento tem se reorgani-zado e caminha com suas atividades coletivas. Acreditamos que a perma-nência nessa área mostra que não desistiremos de lutar pelo direito de construir uma comunidade, produ-zir na terra e ter uma vida digna.

Quem são os lutadores e lutadoras do acampamento de Americana...

Edna, de Cosmópolis, 48 anos faz parte do setor de Infraestru-tura:

“Ajudo onde precisar: farmácia, cozinha, ciranda. Nunca tinha vivido uma experiência como essa, é maravilhosa! É um entrosa-mento com as pessoas, amizades novas, pessoas decentes, tudo de bom! Eu não tenho nada para reclamar. Aqui eu já chamo de meu novo lar. Aqui é meu novo lar. Eu não saio daqui por nada!”

Conquistar um pedaço de terra: esse sempre foi o meu sonho. E com essa oportunidade que o pessoal nos deu... isso é maravi-lhoso. Meu sonho é ter a minha casa, meu pedaço de terra para plantar, colher e ter meu auto-sustento. Não depender de mais ninguém para sobreviver.”

Maria Auxiliadora, Campinas, Jd. Rosália, 56 anos, participa do setor de saúde, auxilia na higiene e limpeza e no tratamento de algumas doenças.

“O dia a dia no acampamento é bem atarefado, com um pesso-al bem ocupado, com força de vontade de sobreviver, de plantar e de união... um clima de união, de família mesmo, muito bom! O meu sonho é ter um pedaço de terra para plantar, colher, eu gosto plantas, flores, frutos. No campo, manter a cidade, porque se não se planta no campo, na cidade ninguém come.”

Foto: João Zinclar

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Segundo levantamentos re-alizados pelo professor da USP Ariovaldo Umbelino, cerca de 58% das terras do Brasil são devolutas, ou seja, públicas. Isto dá um total de quase 500 milhões de hectares. No caso de São Paulo são mais de 5 mi-lhões de hectares (21% da área total do Estado).

Em Americana, são quase 11 mil hectares de terras pú-blicas (82 % da área total do município). Estes dados foram apresentados em Brasília em 16 de junho de 2010 à Comissão de Defesa dos Direitos Sociais.

Na mesma ocasião, o pro-fessor fez uma estimativa, ba-seada em dados do último Censo Agropecuário de 2006, para avaliar o reflexo de uma reforma agrária ampla e massi-va no Brasil e chegou a seguinte conclusão: existem cerca de 47 mil estabelecimentos de 1.000 hectares cada que ocupam uma área de mais de 146 milhões de hectares. Temos assim uma média de 3.125 hectares por propriedade. Se esta terra, que está na mão de apenas 47 mil grandes proprietários, fosse dis-tribuída em lotes com tamanho médio de 50 hectares por famí-lia, seriam criados 2 milhões e 920 mil novos estabelecimen-tos agrícolas. Contando que a agricultura camponesa ocupa 15 pessoas a cada 100 hectares, esta reforma agrária criaria tra-

Se o campo não planta a cidade não janta

balho para 21 milhões de pesso-as, quase dez vezes mais que os 2 milhões e 400 mil criados hoje através do agronegócio. Con-tando que na agricultura cam-ponesa cada hectare gera uma renda média de R$ 677,00, a renda gerada nas áreas distri-buídas chegaria a mais de R$ 99 bilhões por ano e não só os R$ 53 bilhões gerados hoje.

Transferindo isto para o caso de Americana: se fossem distri-buídos os quase 11 mil hectares , poderiam ser assentadas 1092 família em lotes de 10 hectares (10 vezes o tamanho do lote das famílias do Assentamento Milton Santos). A renda gerada seria de R$ 739.856,00, que se-riam gastos no município e não fora dele.

A Usina Ester planta cana em cerca de 17.000 hectares de terra. Gera apenas 1470

empregos. Produz álcool para ser utilizado na indústria de cosméticos (Avon e Natura) e açúcar cristal para exportação. A família Nogueira, proprie-tária da Usina, que também é acionista da Parmalat e da EPTV, sequer reside no mu-nicípio de Cosmópolis, onde fica a sede da empresa e, por-tanto, toda a arrecadação de tributos. Em compensação, as 72 famílias assentadas no As-sentameto Milton Santos, em Americana, entregam cerca de 10 toneladas de alimentos por semana para entidades assis-tenciais da região pelo projeto Doação Simultânea e para ali-mentação escolar de Cosmó-polis e Nova Odessa, ou seja, são cerca de 400 toneladas de alimentos por ano!!!

Quem somos e o que pensamos?Nós, militantes do MST –

Regional Campinas, lutamos com os trabalhadores do campo e da cidade em busca da cons-trução de uma nova sociedade. Acreditamos que somente a luta pode modificar a situação de miséria em que vivem milhões de famílias neste país. Lutamos pela Reforma Agrária, pois não é razoável que mais da metade das terras do Brasil estejam nas mãos de grandes fazendeiros e de empresas poderosas. Ainda mais quando essas terras são PÚBLICAS e não cumprem sua função social.

O governo federal nunca defendeu um plano de reforma agrária no Brasil. Infelizmente os governos Lula e Dilma tam-bém abandonaram esse projeto.

Inclusive tem defendido os in-teresses dos grandes fazendeiros do agronegócio. Aqui só se faz justiça em nome dos ricos e são eles que a polícia protege.

Para combater essa situação indecente, OCUPAMOS os la-tifúndios para denunciar esta situação e reivindicar a Reforma Agrária. É apenas com o enfren-tamento e com a luta política radicalizada que os diferentes se-tores da sociedade passam a dis-cutir a reforma agrária e necessi-tam se posicionar, mostrando de qual lado estão: dos patrões ou dos trabalhadores. Acreditamos que a OCUPAÇÃO segue sendo a principal forma dos trabalha-dores conquistarem direitos.

Somos aliados de movimen-tos sociais rurais e urbanos, sin-dicatos combativos, intelectuais e estudantes que acreditam na luta da classe trabalhadora. Somente com a união dos trabalhadores do campo e da cidade avançare-mos em nossas conquistas. Por isso participamos das greves, ocupações e mobilizações dos trabalhadores nas cidades.

Enquanto existirem traba-lhadores sem moradia, sem tra-balho, sem terra para plantar e sem um mínimo de dignidade para viver, seguiremos lutando!

Na greve, na rua e na ocupação.

Construindo alianças pra fazer Revolução!

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10 /campo

Apesar de todas as pro-pagandas do governo, con-tinua a existir miséria, po-breza, desemprego...

O Brasil foi eleito o país com maior concentração de terras no mundo. Apro-ximadamente 1% dos pro-prietários de terra possui 48% das terras cultiváveis do país. Milhões de hecta-res de terras públicas são invadidos por grandes em-presas do agronegócio e o governo nada faz. Ao con-trário, expulsa com violên-cia as famílias sem terra quando tentam denunciar esses crimes e reivindicar seus direitos. Essas grandes empresas plantam produ-tos para exportação usan-do agrotóxicos e sementes transgênicas*, que preju-dicam o meio ambiente e a saúde de quem consome estes alimentos.

Nas cidades, o povo sofre com desemprego e baixos salários. Uma das maiores dificuldades dos trabalhadores é ter que pa-gar aluguel e garantir um lugar decente para viver com sua família. Enquan-to isso, proprietários de casas, apartamentos e pré-dios inteiros abandonam seus imóveis que valori-zam cada vez mais sem pa-gar um real de imposto às prefeituras. Isso se chama especulação imobiliária. Na cidade de São Paulo,

Ocupação é a solução!!!!O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo

segundo matéria publica-da na Folha, existem cerca de 400 mil imóveis vazios, moradia suficiente para todos os sem-teto da cida-de. Com a copa do mundo, as olimpíadas, o PAC e os projetos de "limpeza" ur-bana, milhares de famílias já estão sendo expulsas de suas casas sem qualquer solução decente para a mo-radia. Em geral as prefeitu-ras dão um cheque de cer-

ca de 10 000 reais pra cada família e esperam que se virem para achar um novo local para morar com este valor ridículo.

Esse é o jeito que o po-der público lida com a po-breza e as dificuldades do povo: migalhas, indiferen-ça, violência!

Por isso movimentos sociais como o MST (Mo-vimento dos Trabalhado-res Rurais Sem Terra) e o

MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) surgem para que o povo possa lutar por seus direi-tos. Os direitos à terra e à moradia estão previstos na lei. Porém a lei só é cum-prida nesse país com mui-ta pressão social. A for-ma que esses movimentos sociais encontraram para fazer essa pressão e serem ouvidos pelas autoridades é a OCUPAÇÃO de terras

no campo e de terrenos nas cidades.

Apenas com a união dos trabalhadores do campo e da cidade e com as ocu-pações combativas iremos garantir uma vida digna aos trabalhadores e traba-lhadoras desse país.

Viva a luta dos trabalha-dores e trabalhadoras!

Quando o campo e a cidade se unir, a burgue-

sia não vai resistir!

*Para saber mais sobre agrotóxicos e transgênicos assista o documentário “O Veneno está na Mesa”, que está no endereço:www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg

Page 11: Jornal Atenção - 15ª Edição

O que é grilagem de terras?A grilagem de ter-

ras é um crime grave muito praticado no Brasil. Os grileiros, nome dado a esses criminosos, são gran-des fazendeiros que pegam ilegalmente terras PÚBLICAS, através da falsificação de documentos.

Os fazendeiros corruptos grilam ter-ras de várias formas: expulsam com violên-cia os pequenos pro-dutores (chamados posseiros) de suas ter-ras; simplesmente in-vadem e cercam uma terra abandonada; ou utilizam nomes fal-sos, conhecidos como “laranjas”, para se apossar da terra. Por trás disso tudo existe também uma grande corrupção de funcio-nários públicos e po-líticos interessados na grilagem.

Existem hoje no Brasil cerca de 100 milhões de hectares de terras griladas*. As grandes empresas do AGRONEGÓ CIO** são hoje as maiores grileiras de terras em nosso país. A Usina Esther é uma delas. Essa empresa é uma das mais ricas pro-dutoras de cana de açúcar e grila terras por todo o Brasil. Os

governos em geral sabem que essas em-presas grilam terras públicas e fazem vista grossa, protegendo os ricos e reprimindo o povo sem terra.

Enquanto milha-res de trabalhadores e trabalhadoras sem--terra lutam por um pedacinho de terra para sustentar a famí-lia e produzir alimen-tos saudáveis, essas

empresas se benefi-ciam de terras PÚBLI-CAS, com a ajuda dos políticos. Elas contro-lam a nossa riqueza e tiram o pão da boca do trabalhador.

*1 hectare de terra é igual a 10.000 m2. Essa medida equivale aproximadamente a 1 campo de futebol.

**Agronegócio é o conjunto das grandes empresas da agricul-

tura e da pecuária. Essas empresas domi-nam o campo com a monocultura de cana--de-açúcar, laranja, eucalipto e soja para exportação. O Agro-negócio não está inte-ressado em produzir alimentos para a po-pulação.

Reforma Agrária não aconteceu no governo DilmaA presidente Dilma não desapropriou nenhuma fazenda até agora desde que começou seu mandato. Já rejeitou 90 processos de desapropriação. Apenas o governo de Fernando Collor tinha ficado tanto tempo sem desapropriar uma área para assentamento rural.

/campo 11

Page 12: Jornal Atenção - 15ª Edição

No Brasil faltam 8 mi-lhões de residências para as famílias que não possuem casa própria, vivem de favor ou de aluguel! Sendo que nós temos 7 milhões de casas e apartamentos vazios!

Sabe o que isso significa?Que é mentira que falta

terreno e casa pro povo bra-sileiro!

O que falta é uma política pública que torne essas casas e terrenos moradia para os

MTST: Luta de casa pro povo do Brasil

trabalhadores!Isso é desapropriação!

Mas não a desapropriação que fazem todo dia com os pobres: despejos, demissões e precarizações dos nossos direitos! Desapropriação para diminuir a desigualda-de social.

O MTST acredita que a única forma de garantir mo-radia ao povo é através da mudança desse sistema que os governantes e os patrões

tanto gostam e querem dei-xar como está (ou pior). Por isso fazemos lutas e estamos aqui desafiando o poder do Estado pela nossa dignidade!

O povo gosta de esporte, mas com certeza não quer ser despejado por causa dele! E é isso que a Copa do Mun-do e as olimpíadas vão trazer: 1 milhão de despejos! Tirar a gente da nossa casa pra cons-truir hotel pros estrangeiros virem, é mole?

O MTST faz luta no Bra-sil todo pela reforma urbana, contra os patrões e sem ma-racutaia com os governantes. Acredita na luta do povo! Não dá pra se aliar com go-vernantes (sendo do PT ou do PSDB) que dizem que querem dar casa pro povo, mas fazem mesmo é acerto com as grandes construto-ras! Tem uma, muito rica, que recebe terreno e incenti-vo dos governantes pra cons-

truir muita coisa da copa. O nome dessa empresa é Ode-bretch e ela sim vai faturar muito dinheiro com a Copa do Mundo. Vai construir 4 estádios pra Copa (inclusive o Itaquerão!)

Na busca pela moradia popular e pelas conquistas de nós, trabalhadores, é pre-ciso estar atento e sempre disposto a lutar! É isso que o MTST acredita!

MTST! A luta é pra valer!

Foto: Natasha Mota

12 /moradia

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Governo e meios de comunicação não cansam de dizer que a crise econômica não chegará por aqui. O quê eles escondem? Que vários setores da indústria já estão em crise. Frigoríficos e alimentos, calçados e têxtil, entre outros, estão demitindo e fechando as portas.

Crise na indústria: Fábricas importantes fecharam as portas em 2011

Fechamento de empresas no Brasil? Isso mesmo! Isto se tornou tão “normal” para sindicatos e o governo que ninguém fica sabendo. Com exceção dos trabalhadores que sofrem anônimos, nin-guém parece se importar. E pior. Para os empresários virou um bom negócio. Re-clamam da crise, mas com-pram empresas com ajuda do BNDES – portanto com dinheiro público -, para em seguida, desativá-las da noi-te para o dia. Vejamos al-guns exemplos.

O grupo JBS-Friboi se tornou o maior produtor de carnes bovinas do mundo com dinheiro do BNDES. Em maio deste ano a em-presa anunciou aumento dos lucros em 48%, com-

parado a 2010. Mas à custa de quem? As condições de trabalho nos frigoríficos do grupo são péssimas: ritmos de trabalho desumanos le-vando a doenças como a LER e acidentes graves com mutilações. Logo, seus fun-cionários não têm nada a comemorar. Como se não bastasse, depois de “suga-dos”, são descartados. Ao longo de 2011 a empresa demitiu centenas de traba-lhadores, fechando diversas unidades pelo Brasil a fora. Como mostraram os jor-nais, em julho foram 740 demitidos, em agosto, mais 300, e em setembro, mais 1300 funcionários foram “pro olho da rua”. E como sempre, são sempre os últi-mos a saberem.

Em setembro, mais de mil trabalhadores demitidos da JBS de Presidente Epitácio se manifestaram contra o fechamento do frigorí-fico. No ato de porta de fábrica, o representante da Federação dos Tra-

Trabalhadores não aceitam fechamento de frigorífico da JBS em Presidente Epitácio (SP)

balhadores da Indústria de Alimentação, Mel-quíades de Araújo, dis-se indignado: “Hoje o BNDES é sócio de um terço da JBS. Os sócios têm que dar resposta. Já que o BNDES tem fun-ção social, qual é agora

a função social dele com estes trabalhadores? Ele que chame uma reunião com a direção da em-presa e reabra o frigorí-fico.” Com apoio do Pre-feito os trabalhadores bloquearam por mais de uma hora a principal

ponte de acesso à cida-de na Rodovia Raposo Tavares. O presidente do sindicato, Carlúcio Gomes afirmou: “Va-mos fazer outros atos... os trabalhadores são muito fortes prá receber um golpe deste e ficar calado. Nós não vamos ficar calados!”. Um dos trabalhadores demiti-dos, antes de começar a chorar, explicou clara-mente à repórter como

os patrões se compor-tam: “Foi um golpe sujo. Igual quando uma pessoa tem uma bola e convida os outros pra jogar. Mas quando não quer mais, põe a bola debaixo do braço e vai embora. E larga todo mundo... como larga-ram o pessoal de Epitá-cio.” 80 trabalhadores, sindicalistas da Força Sindical e o Prefeito são recebidos por Luciano

Coutinho no BNDES, e questionam: “o ban-co está financiando a empresa para demitir?”. Coutinho diz que con-vocaria a JBS para se explicar. Mas o BNDES também deve explica-ções: Como deixa isto acontecer? Já se passa-ram dois meses e até agora, nada. Trabalha-dores da JBS, é hora de “OCUPAR, RESISTIR E PRODUZIR!”.

Trabalhadores em greve na JBS-Friboi na cidade de Presidente Epitácio

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - é um banco público usado pelo Governo Federal para emprestar dinheiro para empresas.

/trabalho 13

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Desde 29 de agosto cerca de 200 trabalhadores do Fri-gorífico PUL estão ocupan-do a planta em Cerro Largo, Uruguai. Um dos motivos foi a demissão de um delegado sindical. Mas os trabalhado-res também reclamam que a empresa opera acima do acordo de desempenho por

Empregos desaparecem por todo o Brasil

Em setembro a Elegê de São Leopoldo (RS) - do grupo Brasil Foods – que também se formou com di-nheiro do BNDES - fechou as portas da fábrica de lati-cínios, demitindo os cerca de 70 funcionários que res-taram dos 200 que havia. Como disse Darci Rocha, coordenador da Confede-ração Nacional dos Traba-lhadores em Alimentação "Não há justificativa para o fechamento. No último ano, houve ampliação da produção". A própria mul-tinacional - maior expor-tadora mundial de carne avícola -, informou em ou-tubro que seus lucros cres-ceram 73% comparado ao mesmo período de 2010. Então, porque fechar?

Em 2010, a Bom Gosto une-se a Leitbom para for-mar a LBR Lácteos Brasil. Para variar, também com dinheiro do BNDES. E em 2011, o que acontece? Em setembro, os cerca de 90 trabalhadores da Bom Gosto de Erechim (RS) também foram pegos de surpresa com a demissão. Mais uma empresa fecha-

da. A pergunta que não

quer calar é: O BNDES in-jeta dinheiro se tornando acionista de todas estas empresas, para quê? Para fecharem? E ainda lucran-do com isto?

No setor de calçados e têxtil a crise também não é de hoje. Depois de o Grupo Grendene fechar em maio a Azaléia (RS) demitindo 800 trabalhadores, agora anunciou o fechamento da Alpargatas em São Leopol-do (RS), deixando cerca de 70 trabalhadores sem emprego. E por aí vai... a Santista acaba de anunciar o fechamento no Nordeste: mais 300 demissões. Isto é só uma amostra. Em Espí-rito Santo do Turvo, inte-rior paulista, a usina de ál-cool Agrest, que pertencia à Petroforte, foi desativada e demitiu 800 trabalhado-res. A JBS segue fechando mais frigoríficos: em Ron-dônia, Mato Grosso, Goi-ás, etc. Enfim, fábricas e empregos estão desapare-cendo silenciosamente por todo o Brasil. E a crise não chegou???

DANDO EXEMPLO: Trabalhadores ocupam frigorífico no Uruguai

hora, chegando a suspender e punir os trabalhadores que não alcançam a exigência de aumento da produção. Os trabalhadores reunidos em assembléia no dia 24 de agos-to entraram em greve, e com a recusa da empresa em ne-gociar resolveram ocupar a planta.

Trabalhadores em greve na JBS-Friboi na cidade de Presidente Epitácio

14 /trabalho

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15/trabalho

Greve na Honda, em Sumaré, após a demissão de mais de mil trabalhadores

As empresas fecham uni-dades, mas aumentam seus lucros. Como é possível? A resposta é que os empresários estão se antecipando à crise, fechando unidades de modo preventivo. E se com aumento dos lucros eles já fogem, ima-ginem se a situação piorar. Esta crise está se espalhando por diversos países há cerca de 4 anos. O governo engana quan-do diz que aqui ela não chega-rá. Pode chegar, sempre pode, e os empresários sabem disso. Se estão levantando acampa-

Por que as empresas estão fechando? Há mesmo uma crise?

mento, fechando fábricas, é porque suspeitam que a cri-se se aproxima. Do contrário, estariam contratando. Dizem que fecham numa cidade para abrir em outra, ou seja, que estão “reestruturando” seus negócios antes que a situação piore. Começam pelas unida-des de “menor importância” (para eles), para que no total, mantenham o crescimento de seus lucros. Mas há décadas já sabemos que “reestruturação” significa demissões e portas fe-chadas. Portanto, para grande

A crise econômica pelo mundo

parte da classe trabalhadora, a crise já chegou! Quem ainda mantém seu emprego, pode ser o desempregado de amanhã.

O que fazer? Se os patrões estão se antecipando no ata-que, os trabalhadores também devem antecipar seu contra--ataque! É hora de união dos trabalhadores. É hora de luta e resistência. O lema é “Mexeu com um, mexeu com todos!” Basta de demissões! Fábrica fechada é fábrica ocupada! Fá-brica ocupada tem que ser de-sapropriada!!!

população para salvar empre-sários e bancos. Os ataques a população trabalhadora são de todos os lados: destruição da indústria e dos serviços pú-blicos, o desemprego, o fim de direitos sociais, aumento de impostos, aumento do custo de vida e consequente aumen-to da miséria.

Empresas importantes estão fechando as portas. A Nokia, maior fabricante de celulares do mundo, em se-tembro cortou 3500 postos de trabalho. Na Romênia a em-presa fechou a unidade que tinha apenas 4 anos de funcio-namento. Resultado: 2200 mil postos de trabalho destruídos. E já anunciava mais 1300 de-missões. Em Portugal, em outubro os jornais noticiaram que mais de 1.200 empresas da construção civil deixavam de operar de 2010 para cá. As obras foram todas abandona-

das e consequentemente o de-semprego neste setor explodiu. Neste país, as indústrias que lá se alojaram há alguns anos em busca de mão-de-obra barata, agora estão abandonando o terreno. E o povo trabalhador, que se lixe!

Na Espanha a situação não é diferente. Em setembro, a Ford Visteon decidiu fechar sua unidade de Cádiz e colo-cou 450 trabalhadores na rua. Seguem unidos em luta pela reabertura da empresa. Ini-ciaram novembro com uma marcha até a Delegacia Regio-nal do Emprego. Lá, o secre-tario geral da UGT afirmou: “é mentira que Visteon perde dinheiro, ela está indo embora por pura questão econômica, quer dizer, para lucrar mais, não porque aqui não lucre.” Como não foram recebidos, decidiram acampar diante da delegacia. Indignados, disse-

ram: “Só saímos daqui com nossos empregos!”.

Até mesmo na Suécia, país mais rico da Europa, as em-presas estão fechando. Em outubro a Volvo anunciou o encerramento das atividades na fábrica sueca de Uddvalla, onde é produzido o belo con-versível C70. Segundo a em-presa, “o motivo é a crise eco-nômica mundial”. De outro lado, por toda a parte greves com ocupação das fábricas es-tão acontecendo. Turquia, Ar-gentina, Uruguai, etc. No Egi-to, em maio, durante o levante da praça Tahir, trabalhadores ocuparam uma fábrica de açúcar e reclamam o direito de retomar a produção. Um deles diz num vídeo reportagem: “Assim como nossos irmãos estão lutando pela revolução, nós estamos lutando aqui. Da-qui não sairemos!” É isso aí: Ocupar, Produzir e Resistir!!!

Na Europa, países como Grécia, Portugal, Itália, Espa-nha, Irlanda, e também nos Estados Unidos, a crise está atacando a todos os trabalha-

Greve geral na Espanha

dores. Os empresários, depois da farra, estão abandonando o barco, como sempre fazem. Os governos por sua vez, estão cortando direitos sociais da

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16 /moradia

Bilhões de pessoas no mundo estão privadas de uma habitação ou de condições mínimas para uma moradia digna. Essa característica re-vela o alcance da expropriação social do mundo globalizado da mercadoria, que lança seres humanos a um circuito de hu-milhações e sofrimentos, além de os expor a riscos de morte pela iminência de desmorona-mentos, soterramentos, desli-zamentos de encostas etc. No Brasil, o problema é crônico. Dados oficiais indicam o dé-ficit de aproximadamente 6,3 milhões de moradias, contes-tado por muitos pesquisado-res e pesquisadoras por não abarcar um quadro de degra-dação que é maior e mais am-plo.

Mulheres e homens Sem Teto insurgem-se contra essa situação e descobrem que só um processo coletivo, organi-zado e diversificado de lutas possibilita erradicá-la. Com isso, passam a atuar como mo-vimentos sociais, organizados politicamente. Essa atuação não contém apenas o clamor de reverter a precariedade material: de alguma maneira, agrega também a expectativa de participar da construção da vida cotidiana em outros ter-mos, sem a expropriação do tempo, do espaço e das capa-

SEM TETO COM VIDACriminalização dos Sem Teto

cidades criativas. Diante dessa atuação crí-

tica dos Sem Teto, o sistema econômico e o aparato de po-der revelam a barbárie enrai-zada. O papo é reto: sem casa e tiro no Sem Teto.

Destacamos, dentre vários, três fatos violentos envolven-do militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que motivaram a realização desta Campanha. Além do mais, está sendo elaborado um relatório, que apresentará outros fatos violentos e tra-rá mais informações sobre os elencados neste manifesto.

No Amazonas, estado as-solado pela grilagem, houve uma série de ameaças seguida de tentativas de homicídio ao companheiro Júlio César e a companheira Jóia, integran-tes das coordenações estadu-al e nacional do Movimento. O companheiro Júlio sofreu sete atentados e encontra-se entre as trinta e uma pessoas listadas pela Comissão Pasto-ral da Terra, no estado, com ameaças de morte geradas da luta por terra ou moradia. Em virtude das ameaças, sua filha recém-nascida permanece es-condida. A companheira Jóia foi ameaçada, com arma na cabeça, por policiais militares do Amazonas, que ocultaram a identificação.

Em Minas Gerais, no dia 14/06/2011, a companheira Elaine (uma das coordena-doras do MTST no estado de Minas) e sua filha Sofia (de apenas quatro anos) sofreram uma tentativa de homicídio. A menina Sofia só não foi morta porque a arma, apon-tada para sua cabeça, travou depois de três tentativas. Ao chegar desesperado ao lo-cal, o companheiro Lacerda, pai de Sofia, no momento da fuga com a menina foi alvo de disparos que não o atingiram. O comportamento da polí-cia de Minas Gerais diante

do horror transcorrido figu-ra como mais um exemplo da criminalização em curso da pobreza e dos Movimen-tos Populares, marcado pela seletividade racial. O com-panheiro Lacerda, vítima de tentativa de homicídio, foi colocado, momentaneamen-te, na posição de criminoso, por meio da acusação de por-te de arma e desacato à auto-ridade. Alguns companheiros e companheiras que presen-ciaram o horror e a posterior atuação da autoridade poli-cial sofreram, ainda, ameaças anônimas.

No Distrito Federal, o companheiro Edson, da coor-denação nacional do MTST, teve sua casa invadida por dois homens, na noite de 6 de setembro, que dispararam 18 tiros. Um dos tiros atingiu o companheiro, de raspão. Me-ses antes, Edson sofreu um grave constrangimento insti-tucional ao ser arrolado como testemunha de defesa num processo. Inicialmente, foi objeto de uma tentativa de ser conduzido a força para depor. Ao chegar no Fórum, sofreu pressões psicológicas. O epi-sódio foi tão absurdo que o

Porque o papo é reto: sem casa e tiro no Sem Teto

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companheiro foi mantido no Fórum após o seu fechamen-to e ainda sob pressões; só foi retirado do local por causa da manifestação insistente do advogado, acionado por mensagem telefônica, envia-da às escondidas. O estranho ocorrido figura como mais um exemplo da criminaliza-ção em curso da pobreza, dos Movimentos Populares, mar-cado pela seletividade racial.

Além dos fatos denuncia-dos, é importante destacar-mos o papel dos interditos proibitórios e tutelas inibi-tórias na criminalização das lutas dos Sem Teto. Esses mecanismos jurídicos já fo-ram utilizados, por exemplo, nos municípios paulistas de Itapecerica da Serra, Taboão da Serra, Embu das Artes, Sumaré, Mauá para coibir o Movimento dos Trabalhado-res Sem Teto de se reunir em espaços públicos e prédios dos municípios.

Ante o exposto, SEM TETO COM VIDA!

Participem das atividades da nossa Campanha (a serem divulgadas), cujo início acon-tecerá no dia 4 de outubro de 2011, com um ato público no Senado Federal (Plenário 2, Ala Senador Nilo Coelho), às 9 h. Pedimos que assinem nosso manifesto!

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO (MTST) E RESISTÊNCIA URBANA FRENTE NACIONAL DE MOVIMENTOS.

Lançamento da Campanha SEM TETO COM VIDA, às 15h, na ALESP (Assembléia

Legislativa de São Paulo)

Fotos: Natasha Mota

/moradia

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18 /moradia

“Durante a noite do dia 6 de setembro, dois ho-mens armados invadiram a casa de Edson Francis-co, membro da coorde-nação nacional do MTST em Brazlândia – DF. Os homens arrombaram o portão, entraram na casa e dispararam vários tiros contra Edson que conse-guiu fugir sem ferimentos graves.”. Assim a coorde-nação do MTST denuncia mais um ataque àqueles que levam a vida por um fio.

Pode-se morrer a qual-quer momento pelas más condições de vida e/ou de trabalho (ou pela da falta dele), causas disfarçadas nos atestados de óbito sob o registro de doenças in-fectocontagiosas, típicas daquelas condições, ou por causas externas, nome genérico para designar a violência que afeta mais as pessoas que vivem na insalubridade urbana e envergam o peso da cons-trução da pujante riqueza dessa máquina de cresci-mento, que é a cidade ca-pitalista, sem dela desfru-tar; mas também se morre por ousar lutar contra tais condições, é o recado que os atiradores queriam dar aos que lutam com o ca-dáver que, felizmente, não conseguiram fazer de Ed-son.

Um dos efeitos ideo-lógicos mais perniciosos

A Vida Por Um Fiodas décadas de neolibera-lismo foi a naturalização da pobreza; esta, que nas décadas de 1970 e 1980 provocava indignação mo-ral e política e mobilizava a luta contra a ditadura porque ninguém duvidava que suas causas eram so-ciais. Havia, portanto, que mudar a sociedade.

Entretanto, uma nova abordagem da pobreza, cultivada em certos círcu-los supostamente esclare-cidos, deslocou do modelo social para o desempenho individual o debate so-bre as causas da pobreza e, com isso, passou-se a apregoar como tratamento para o problema a carida-de pública ou privada.

A individualização da pobreza abriu uma lar-ga vereda onde vicejou o culto ao indivíduo apto à competição no mercado e, figura complementar, o indivíduo disponível para o trabalho de preparação dos inaptos para a compe-tição, a que se deu o nome de inclusão social. A isto se reduziu o sentido de solidariedade. Neste clima ideológico, a luta contra as causas sociais da pobreza passou a ser apresentada como geradora de violên-cia, como se não fosse vio-lência a pobreza, e cruel, pois negação cotidiana dos direitos humanos bá-sicos por um ente sem ros-to, o modelo social, que

não pode ser interpelado judicialmente, só politica-mente.

Mas como este aspecto da pobreza é obscurecido, atentados contra militan-tes, como o que abre este artigo, adquire a aparência de consequência natural a que se expõem aqueles que escolhem o caminho errado para lutar contra a pobreza; sentido sub--repticiamente transmiti-do pela nova abordagem da pobreza.

Interditado o caminho da luta política contra as

causas sociais da pobreza, está aberto o espaço para o Estado democrático de exceção, expresso, sobre-tudo, na complacência do Estado com os autores desses atentados, do que dá mostra o número de as-sassinatos de trabalhado-res no campo desde 1985 (1.186 casos com 1.580 vítimas) em contraste com o de condenações (92 ca-sos julgados, 21 mandan-tes e 74 executores con-denados), e na ação ilegal de forças policiais con-tra acampamentos, como

ocorrido no dia 12/09/11, em Americana, no interior de São Paulo.

Nisso consiste o Estado democrático de exceção: complacência com as milí-cias privadas, com as ações de provocação das forças oficiais e judicialização da política, até que todos se acostumem com a redução de seus direitos políticos e civis à regulação pelo có-digo penal, e a exceção se torne a regra, se já não o é.

Jair Pinheiro, professor da Unesp/Marília

Foto: Natasha Mota

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Por conta das conquistas sociais da Flaskô, servindo de exemplo de resistência para a classe trabalhadora, a burgue-sia tenta, a todo o momento, acabar com o controle operá-rio da Flaskô. A grande maio-ria das vezes, o ataque se dá via judiciário, um dos aparelhos repressores do Estado, onde todos sabem que não é a “jus-tiça”, mas sim que há um duplo tratamento: há leis para ricos e outras para os pobres e os luta-dores sociais. Assim, a Flaskô sofre um constante processo de repressões, num sentido mais amplo de criminalização dos movimentos sociais que estamos vivenciando ao longo da histórica da luta de classes. Esta repressão se expressa pe-los leilões de máquinas, pe-nhoras de faturamento, pro-cessos contra os membros do Conselho de Fábrica, respon-sabilização tributária da época patronal, restrição ao direito de defesa, entre outras tantas ilegalidades.

A Flaskô já sofreu diversas tentativas de fechamento. Em 2003, quando o patrão aban-donou a fábrica, a instabilida-de e insegurança eram muito grandes. Os patrões quiseram fechar a fábrica, mas os tra-balhadores se organizaram e garantiram a continuidade da produção e da defesa dos em-

A repressão contra a Fábrica Ocupada Flaskô

pregos. De lá para cá, foram mais de 200 leilões de má-quinas, prejudicando a conti-nuidade da Flaskô, tudo para pagar dívidas da época dos pa-trões. O Poder Judiciário ini-ciava a contradição de cobrar dos trabalhadores a responsa-bilidade pela sonegação fiscal dos patrões.

Em 2007, o maior golpe contra as ocupações de fábri-ca veio do Poder Judiciário, com o apoio de 150 Policiais Federais. A intervenção cri-minosa acabou com o contro-le operário nas fábricas Cipla e Interfibra, em Joinville/SC. Tentou-se destruir a Flaskô, mas esta conseguiu resistir e depois de 45 dias sem luz re-tomou a produção e seguiu como exemplo para a classe trabalhadora. É bom lembrar o que o juiz de Santa Catarina, aliado dos empresários, disse em 2007: “imagina se a moda pega?”. Isso mostra o medo da classe empresarial em relação as experiências de gestão dos trabalhadores sem patrão.

Na Flaskô, todos estão cientes de que a luta continua, pois justamente os interesses da classe trabalhadora são contrários aos dos capitalistas. O Estado é seu “comitê de ne-gócios” e o Poder Judiciário é onde muitas de suas decisões são tomadas. Por isso, sabe-se

que para garantir seus direitos os trabalhadores da Flaskô es-tarão nas ruas, pressionando junto com seus apoiadores, para que as conquistas his-tóricas realizadas a partir da Flaskô continuem e possam se expandir para toda a classe trabalhadora.

Em 2011, os ataques foram muitos. Houve muitas tentati-vas de repressão e fechamento da Flaskô. Um novo leilão de máquinas da Flaskô se iniciou em outubro. Trata-se de um processo de 1998, ou seja, da gestão do patrão. Desta vez, iniciou-se um leilão virtual, on-line, o que reduziu a ca-pacidade de resistência dos trabalhadores. O ato do dia 7 de outubro contou com a so-

lidariedade do MST, MTST, Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, estudantes, entre outros militantes apoiadores. Os trabalhadores paralisaram a principal avenida do centro de Sumaré. A bateria seguiu com os manifestantes que pa-raram o centro e a rua da pre-feitura. “O prefeito também é responsável por esse ataque, pois não declarou a fábrica área de interesse social. Por isso estamos aqui na frente da prefeitura”, disse Pedro Santi-nho, coordenador do conse-lho da fábrica.

A dívida do processo em questão é de 1998, da época do patrão. A lei diz que a dívi-da deve ser cobrada de quem a fez. A gestão operária tam-

bém explicou que junto com os leilões, as penhoras de fatu-ramento são indevidas, pois já somam mais de 300%, e, neste caso, com base na lei, a Flaskô propôs diversas medidas para resolver a questão, para que os credores, entre eles o Estado, recebam as dívidas deixadas pelos patrões, seja via unifica-ção das execuções fiscais*, seja com a desconstituição da per-sonalidade jurídica*.

A Constituição Federal e as demais leis demonstram que os trabalhadores não po-dem pagar pelas dívidas dos patrões, ainda mais quando os trabalhadores não têm seu direito de defesa garantido. Quando é para se defender, os trabalhadores não são reco-

Foto: Luciano Claudino

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20 /trabalho

da Flaskô e se manifestou, por escrito, contra qualquer tenta-tiva de fechamento da fábrica, considerando a experiência da Flaskô “um exemplo de luta social e de grande importância para a cidade de Sumaré”. Dr. Buck, chefe da Procuradoria Geral do Município, repre-sentando o Prefeito Bacchim, ajudou a garantir uma reunião da comissão da Flaskô com o Diretor do Fórum, Dr. André Gonçalves Fernandes, marca-da para o dia 11/10, terça-feira.

Após esta conquista junto à Prefeitura Municipal, os tra-balhadores seguiram em dire-ção ao Fórum. Lá chegando, se depararam com barreiras de policiais militares, incluin-do 16 viaturas e o um bloqueio de dois quarteirões até chegar o Fórum. “Um absurdo, que mostra como os trabalhado-res, quando organizados, são tratados”, falou um dos tra-balhadores barrados. Isso não

obstruiu a determinação do ato em defesa da Flaskô, que seguiu até a frente do Fórum. Os trabalhadores disseram que não permitirão qualquer arremate de uma máquina, pois isso levará ao fechamento da Flaskô, perdendo-se todas as conquistas sociais, não só da fábrica em si, mas da Vila Operária e do Projeto da Fá-brica de Cultura e Esportes.

Nesse sentido, os trabalha-dores da Flaskô explicaram que este leilão era só mais um dos ataques jurídicos que a fá-brica vem sofrendo, e que esta situação precisa mudar. “A contradição é muito grande. Quando é para fazer nossa de-fesa, não somos considerados os responsáveis pela fábrica. Quando é para atacar, respon-sabilizar, criminalizar, a “Justi-ça” quer que os trabalhadores paguem a conta. O que não pode é continuar esta prática de dois pesos e duas medidas”,

explicou Alexandre Mandl, advogado da fábrica ocupada Flaskô. Como exemplo, ele cita o próprio leilão deste dia, que se refere a um processo de 1998, ou seja, da gestão patro-nal, e ao fazer a defesa, os tra-balhadores tiveram seu direito restringido, mas, por outro lado, eles é que irão pagar por esta dívida, por meio do possí-vel arremate da máquina. “São mais de 200 processos em Su-maré, e a prática do Poder Ju-diciário tem sido esta. Os Juí-zes da cidade precisam mudar seu posicionamento, acatando nossos pedidos, que, vale di-zer, estão todos baseados nas leis já existentes”, argumentou o advogado.

Por isso, o ato público in-sistiu para que o Diretor do Fórum e os demais juízes re-cebam uma comissão de tra-balhadores da Flaskô para que parem com os ataques contra os trabalhadores da fábrica ocupada Flaskô, compreen-dendo sua importância para a classe trabalhadora e popular, especialmente para a popula-ção de Sumaré.

Os trabalhadores da Flaskô exigem das autoridades judi-ciais que reconhecessem a ex-periência da fábrica como um exemplo prático da aplicação dos direitos constitucional-mente garantidos. Exigiram que fossem recebidos por uma comissão e tratasse dos se-guintes pontos:

Contra os leilões de má-quinas da Flaskô!

A fábrica ocupada Flaskô não pode fechar!

Pelo atendimento das rei-vindicações dos trabalhadores da Flaskô!

- Quem fez a dívida é o pa-

trão! Juiz, vá leiloar sua man-são, sua fazenda e avião!

- Fim das penhoras de fatu-ramento!

- Fim dos leilões on-line! - Fim da criminalização

dos trabalhadores da Flaskô! - Pelo reconhecimento ju-

dicial definitivo da Associação dos Trabalhadores como ges-tora da Flaskô!

- Pela Unificação das Exe-cuções Fiscais com o paga-mento de uma porcentagem do faturamento!

- Pela aprovação do projeto de declaração de interesse so-cial da área da Flaskô!

- Pela aprovação da pro-posta de projeto de lei de de-sapropriação de fábricas aban-donadas!

- Pela estatização sob con-trole operário da Flaskô!

Cabe agora acompanhar, pressionar e lutar, para todas as reivindicações sejam atendidas e mostrar as contradições na criminalização da Flaskô!

nhecidos pela lei como legíti-mos representantes da Flaskô. Por outro lado, quando é para responsabilizar, criminalizar, a gestão operária é reconhecida pelos Juízes. Ora, tal contradi-ção do Poder Judiciário não pode continuar!

Não há dúvidas de que o que é pedido pelos trabalha-dores da Flaskô está na lei e por isso deve ser garantido. Não é esta a função do Poder Judiciário? A Flaskô estará em luta para fazer valer seus direi-tos e contará com o apoio de todos para que na prática suas conquistas sejam garantidas e assim avançar para a efetiva transformação social. Desta forma, seguem firmes contra o fechamento da Flaskô, di-zendo “Juiz, vá cobrar as dí-vidas do patrão, leiloando sua fazenda e sua mansão!”

Pressionados pelo ato pú-blico, a Prefeitura acatou o pe-dido feito pelos trabalhadores

*O que são:

Unificação das execuções fiscais?

Significa reunir todas as dívidas deixadas pelo patrão e pagar mensalmente uma porcentagem do faturamento da fábrica.

Desconsideração da personalidade jurídica?

Significa atingir os bens dos sócios da Flaskô que fi-zeram a dívida na época do patrão, ao invés de insistir em leiloar os bens da fábrica ou penhorar o faturamento da gestão dos trabalhadores.

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/moradia 21

Os moradores da Ocu-pação Pinheirinho inicia-ram no dia 24 de novembro um “manifesto vermelho” contra a tentativa de rein-tegração de posse por parte da juíza da 6ª Vara Cível de São José dos Campos, Már-cia Loureiro. Toda a área ocupada está coberta por bandeiras e faixas verme-lhas, como forma de sinali-zar que, se a Polícia Militar tentar retirar os moradores, haverá resistência.

A mobilização é em resposta à decisão da ju-íza para dar reintegração de posse à massa falida da Selecta S/A. A Selecta deve cerca de R$ 10 milhões em IPTU à Prefeitura de São José dos Campos e que esse tributo nunca foi pago. Os moradores do Pinheirinho defendem a desapropriação da área pela Prefeitura.

“O poder público não pode continuar fomentan-do esse impasse jurídico. No meio desse imbróglio, o povo será o único prejudi-cado. Para que esta história termine bem, tanto a Pre-feitura quanto o Judiciário terão de parar de olhar so-mente para os interesses da Selecta”, afirma o coordena-dor do MUST, Valdir Mar-tins de Souza, o Marrom.

A ocupação Pinheirinho existe desde 2004, tem 1843 famílias, em torno de 9000 pessoas.

Moradores da ocupação Pinheirinho sofrem ameaça de despejo e fazem manifestações

Governo do Estado tentou intermediar negociação

Em meio ao impasse en-tre a Prefeitura de São José e as lideranças do Pinheiri-nho, o governo do Estado tenta intermediar no dia 29 de novembro um novo mo-delo para a regularização do acampamento.

Líder do acampamento, Valdir Martins, o Marron, está confiante. "O Estado e o governo federal estão dis-postos a ajudar. A prefeitura é que está retardando o pro-cesso, mas há outros meios de regularizar", disse.

Segundo ele, 70% dos moradores do Pinheirinho estão inscritos no programa habitacional de prefeitura.

"A prefeitura teria que ter encaminhado a inscrição no Cidade Legal. Queremos agi-lizar o processo para garantir a permanência das famílias no local", afirmou.

O Programa “Cidade Legal” foi criado em agosto de 2007 com o objetivo de implementar, agilizar e desburo-cratizar as ações e os processos de regularizações fun-diárias de núcleos habitacionais. Por meio do programa, a Secretaria de Estado da Habitação, através de um Convênio de Cooperação Técnica, oferece orientação e apoio técnico às prefeituras para a regularização de par-celamentos do solo e de núcleos habitacionais, públicos ou privados, para fins residenciais, localizados em área urbana ou de expansão urbana.(fonte: http://www.habita-cao.sp.gov.br)

Como parte da mobilização contra a ameaça de desocupa-ção, os moradores da Ocupa-ção do Pinheirinho iniciaram uma campanha que pede a en-tidades sindicais e populares, bem como a organizações da sociedade civil de todo o país,

Moção de solidariedade pede suspensão de desocupação

o envio de moções de solida-riedade.

A moção repudia a liminar de desocupação da Justiça e pede a imediata interferência do poder público para suspen-der a medida. O objetivo é que o maior número de entidades reencaminhem a nota para au-toridades públicas, do Executi-vo, Legislativo e Judiciário.

“Queremos que todos sai-bam o quanto é insana e des-cabida a decisão da juíza Már-cia Loureiro, contra cerca de 2 mil famílias e o mais grave, em meio ao processo de regulari-zação da área pelos governos federal, estadual e municipal”, afirma um dos coordenadores do MUST (Movimento Urba-

no Sem Teto), Valdir Martins, o Marrom.

A iniciativa é uma das ações da campanha iniciada esta se-mana para impedir a ordem de desocupação. Na última se-gunda-feira, cerca de 500 mo-radores do Pinheirinho ocupa-ram a Prefeitura, para cobrar do prefeito Eduardo Cury que agilize a regularização da área, iniciada este ano.

“A nossa luta vai continuar para impedir que se tente cum-prir essa decisão absurda. Uma desocupação seria a maior tra-gédia na história de São José dos Campos “, afirma Marrom.

Mais informações: solidariedadepinheirinho.

blogspot.com/

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22 /movimentos

A violência contra os movimentos sociais vem se tornando cada vez mais corriqueira em nosso cená-rio e traduz com perfeição o crescente processo de cri-minalização dos movimen-tos sociais, resumindo-se na penalização da miséria.

A barbárie capitalista empurra cada vez mais a grande maioria da huma-nidade para a exclusão so-cial. Como conseqüência, crescem os “sem teto”, os “sem emprego”, os “sem terra”. Incapaz de fornecer respostas no plano das po-líticas sociais para a desi-gualdade social, o Estado, sendo ele um instrumen-to de classe, oferece a es-ses setores marginalizados apenas o braço da repres-são estatal, fortalecendo o controle social exercido pela classe dominante de-tentora dos meios de pro-dução.

Nessa lógica de crimi-nalização da pobreza, o Estado capitalista, voltado aos interesses da minori-tária elite transnacional e brasileira, coloca os movi-mentos sociais em uma ca-tegoria de "perigosos", em particular, os que acabam exercendo sua cidadania através de ações de enfren-

A Criminalização dos Movimentos Sociais

tamento à ordem legal es-tabelecida, exigindo novos mecanismos de controle social.

Tal processo de cri-minalização toma maior destaque com relação ao Movimento dos Trabalha-dores Rurais Sem Terra – MST. Porém, não podemos esquecer dos constantes ataques sofridos pelos mo-vimentos sindicais, pelos militantes dos movimentos de luta pela moradia, pelo movimento estudantil, en-tre outros.

Não obstante os ata-ques contra os movimen-tos sociais fazem parte de um projeto maior da classe exploradora de criminali-zar a pobreza. Lembremos das situações das nossas periferias, onde no Rio em especial, a população que mora nos morros sofre diariamente com as medi-das de eliminação de “Lei e ordem”.

Ou ainda, das condi-ções dos trabalhadores informais que lutam pela sobrevivência neste siste-

ma opressor. Nesse caso, lembremos das prefeituras de São Paulo e Rio de Ja-neiro, que como em outras, governadas pela burguesia, vem fazendo uma verdadei-ra “limpeza social” na cida-de, desalojando os morado-res de ruas, e os ocupantes de áreas abandonadas, tudo em favor da “linda vista” que pretende proporcionar aos seus cidadãos endi-nheirados, e da especulação imobiliária, ainda mais em tempos “eufóricos” de Copa do Mundo e Olimpíadas.

Quanto ao Movimen-to das Fábricas Ocupadas, lembremos o que ocorreu nas fábricas Cipla e Inter-fibra, em Joinville/SC, em 2007. Durante toda a ges-tão operária nas fábricas, os trabalhadores e os apoia-

dores da luta dos operários foram perseguidos por di-versos setores, justamente por incomodar os capita-listas, já que desmascaram o sistema de exploração da força de trabalho existente neste sistema econômico. A fábrica Flaskô, em Sumaré/SP, que permanece sob ges-tão operária, continua so-frendo uma onda de repres-são contra a perspectiva da estatização sob controle dos trabalhadores, crimi-nalizando suas principais lideranças, com o objetivo de desmoralizar e conter um exemplo de resistência socialista.

O Estado capitalista, como instrumento de ma-nutenção da ordem, não quer “deixar a moda pegar” (frase retirada da sentença

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/movimentos

que determinou a interven-ção nas fábricas de Joinvil-le). Essa “moda” refere-se ao exemplo que deram os trabalhadores dessas fábri-cas no sentido de demons-trarem a irrelevância dos patrões para gerir uma fá-brica. Ao invés de punir os trabalhadores, o Estado de-veria punir os empresários, que deixam milhares de trabalhadores desemprega-dos e desfalcam os cofres públicos.

Assim, não podemos deixar de analisar que em decorrência do papel de classe que cumpre o Poder Legislativo, criando leis para impor as regras do jogo da dominação, o Po-der Judiciário é um instru-mento de sustentação dessa lógica conservadora, apon-tando para um endureci-mento dos discursos da “lei e da ordem” como forma de contenção das massas em-

pobrecidas, freando as lutas dos movimentos sociais. A ciência jurídica cria novos crimes, os adequa e estipu-la penas conforme os inte-resses que lhes convém, e a “Justiça” com seu critério punitivo selecionador, julga quem são os “criminosos”.

Sabe-se que a tática de criminalização dos movi-mentos sociais, utilizando--se do poder concentrador da mídia – observemos o papel da VEJA, por exem-plo - , é gerar uma matriz de opinião na população, desqualificando a pauta dos movimentos induzindo ideologicamente à um pen-samento único.

Desse modo, esses meios de comunicação tentam es-conder da opinião pública o verdadeiro debate que pau-tam esses movimentos: o vergonhoso índice de con-centração de terras; o direi-to legítimo ao trabalho; o

direito à propriedade pri-vada; a democratização da gestão do espaço público; o direito à saúde, educação e transporte gratuitos e de qualidade; e a garantia da dignidade da pessoa huma-na.

Como exemplo recente dessa estratégica dos de-tentores do poder, vimos o processo de criminalização sofrida pelas mulheres da Via Campesina, dos traba-lhadores que ocuparam as ferrovias tomadas pela Vale do Rio Doce, dos compa-nheiros do MST na fazenda grilada da Cutrale, dos estu-dantes da USP, dos militan-tes do MTST, da ocupação Dandara em BH, dos diver-sos interditos proibitórios às entidades sindicais, entre tantas outras. Primeiro se faz um campanha midiática contra os militantes, depois há a repressão policial, se-guida da legitimação desta

opressão por meio da ação judicial.

Portanto, cabe aos mo-vimentos sociais denuncia-rem os aparatos de poder, que articulados, tentam coibir a luta da classe traba-lhadora. Mas, nós sabemos, que a nossa luta vai para além da ordem capitalista, e, por isso, seremos com-batidos. Sabemos quem são nossos inimigos. Nos-sa tarefa é lutar e apontar as contradições do Estado Burguês. A luta é de classes.

“Eles podem matar uma,

duas ou três rosas, mas

nunca deterão a primavera”

Contra a criminalização

dos Movimentos Sociais!

/movimentos 23

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24 /moradia

O Brasil tem qua-se 10 milhões de famílias sem-teto. Passam os anos e os governos conti-nuam prometendo uma política habita-cional séria. A última promessa é o Minha Casa, Minha Vida e suas 3 milhões de casas prometidas.

Mesmo que essas 3 milhões de casas fossem destinadas aos que mais pre-cisam (trabalhado-res com renda até

OCUPAÇÃO: Única forma de conquistar moradia no Brasil

3 salários) não se-riam suficiente para acabar com o déficit habitacional. O fato é que foram entre-gues menos de 300 mil casas populares em todo o Brasil.

A situação se agrava se pensar-mos que todo o orça-mento para habita-ção popular (exceto o MCMV) não passa de R$ 4 milhões, o que não dá pra cons-truir nenhum conjun-to habitacional!

Por isso, o MTST continua fazendo ocupações de ter-renos urbanos em todo o Brasil. É atra-vés delas e das lu-tas que fazemos que os governos apren-deram a nos ouvir e não porque o go-verno tenha alguma intenção de realizar política habitacional.

No estado de São Paulo nos últimos anos fizemos mais de 10 ocupações de grandes terrenos

que não serviam pra nada. Milhares de famílias volta-ram a sonhar com sua moradia, ago-ra conquistada na luta. Entendemos que a única forma de conquistar não é esperar e confiar em ninguém, mas arre-gaçar as mangas e ir pra luta contra quem nos impede de ter o que é nosso por di-reito!

Reivindicamos a desapropriação de

todos os grandes terrenos vazios na cidade que servem apenas aos especu-ladores imobiliários! Queremos que es-ses terrenos sirvam de moradia para os trabalhadores e exi-gimos que a presi-dente Dilma atenda nossa reivindicação.

Desapropriar já! Por Terra,

Trabalho e Moradia!


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