João Batista Araujo e OliveiraPresidente do Instituto Alfa e Beto
Por que o Joãozinho não aprende a ler
PISA 2012 - Língua Portuguesa
1o decil
470
340
420
9o decil
10o decilMédia
Brasil412
OCDE 500
Média
MATEMÁTICA(% acima de 225 pontos no Saeb)
1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011
21
14 15 1519
24
3336
LÍNGUA PORTUGUESA(% acima de 200 pontos no Saeb)
1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
36
25 24 26 27 28
3440
Prova Brasil 2011 - 5o ano
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Prova ABC 2012 - Leitura
2o ano
43,3
28,1
3o ano
<125Não lê
2o ano
34,3 32,2
3o ano 2o ano
22,4
39,7
3o ano
125-175Decodifica
> 175Compreende
Prova ABC 2012 - Escrita
As porcentagens foram corrigidas para incluir os 22,9% e 12,2% alunos não alfabetizados do 2o e 3o anos bem como os brancos e nulos. As médias não foram corrigidas por não termos acesso aos microdados.
2o ano
72,1
49,1
3o ano
<50
2o ano
19.128,0
3o ano 2o ano8,82
22,7
3o ano
50 a 75 75
Idade e desempenho dos alunos do 3o ano – escolas públicas
Leitura (>175) Escrita (>75)7 anos 47,5 30,4
8 anos 50,7 35,09 anos 48,1 32,410 anos 25,4 13,911 anos 5,6 6,1
Sem informação 15,8 13,0
Fonte:http://www.todospelaeducacao.org.br//arquivos/biblioteca/apresentacao_prova_abc_priscila_cruz.pdf
•identificar o tema com base na compreensão global do texto;
•localizar informação explícita em texto com vários personagens;
•identificar os diferentes personagens;
•estabelecer relações de causa/consequência entre as informações contidas no enredo;
•identificar características de personagens.
Alunos com mais de 175 pontos na prova de leitura são capazes de:
Taxa de reprovação dos alunos nas séries iniciais Brasil – escolas públicas (2012)
Série Total de alunos % reprovação Taxa de reprovação
1o ano 2.344.334 1,8 42.198
2o ano 2.616.250 5,7 149.126
3o ano 2.935.473 12,6 369.869
4o ano 2.724.599 8,9 242.489
5o ano 2.913.308 8,4 244.717
Total 13.533.964 7,7 1.048.399
Fonte: MEC/INEP - 2012
Evolução do Indicador de Alfabetismo Funcional População de 15 a 64 anos (em %)
2001/2 2002/3 2003/4 2004/5 2007 2009 2011/12
Analfabeto 12 13 12 11 9 7 6
Rudimentar 27 26 26 26 25 21 21
Básico 34 36 37 38 38 47 47
Pleno 26 25 25 26 28 25 26
Analfabetos funcionais (Analfabeto e Rudimentar) 39 39 38 37 34 27 27
Alfabetizados funcionalmente (Básico e Pleno) 61 61 62 63 66 73 73
Fonte: INAF BRASIL 2001 a 2011
Como conseguimos obter esses resultados?
1. Os Fundamentos
Bibliografia indicadaUniversidades Secretarias de EducaçãoFerrero e Teberosky – Psicogênese Ferrero e Teberosky – PsicogêneseFerrero – Alfabetização em Processo Ferrero – Alfabetização em ProcessoFerrero – Reflexões sobre Alfabetização Ferrero – Reflexões sobre Alfabetização Kleiman – Os significados do letramento Kleiman – Os significados do letramento Cagliari – Alfabetização e Linguística Cagliari – Alfabetização e LinguísticaCagliari – Alfabetizando sem o ba-be-bi Cagliari – Alfabetizando sem o ba-be-bi Freire – A importância do ato de lerSoares – Linguagem e escolaVygotsky – A formação social da mente
Teberosky – Aprendendo a escreverWeisz – O diálogo entre ensino e aprendizagemVygotsky – Pensamento e linguagemPCNsDocumentos ofiiais do MECDocumentos oficiais das Secretarias
•Total de 67 publicações citadas pelas Universidades e 55 pelas Secretarias. Nenhuma publicação foi citada por mais
de 30% das instituições.
•Diferentes obras de um mesmo autor, Emilia Ferreiro, tiveram 60 citações ao todo.
Referências utilizadas pelo PNAIC em 2013
Concepções O que ensinar Avaliação Sistema notacional
Braslavsky, 1988 Albuquerque, Morais e Ferreira, 2008
Albuquerque e Morais, 2006 Ferreiro, 1985
Chartier, 2000 Beauchamp, Pagel e Nascimento, 2007 Ferreira e Leal, 2006 Ferreiro e Teberosky,
1986
Cook-Bumperz, 1991 Cruz, 2008 Kramer, 2006 Leal e Morais, 2010
Moreira e Candau, 2007 Ferreiro e Teberosky, 1984 Leal, 2003 Morais, 2012
Oreira e Silva, 1994 Ferreiro, 1985 Soares, 1988
Mortatti, 2000 Leal e Morais, 2010
Stoer e Cortesão, 1999 Morais e Albuquerque, 2004
Rego, 1988
Soares, 1988
Soares, 1994
2. Conceitos de alfabetização
Parâmetros Curriculares Nacionais•… Tiveram grande impacto os trabalhos que relatavam
resultados de investigações, em especial a psicogênese da escrita (p. 20)
•… a alfabetização não é um processo baseado em perceber e memorizar… (p. 20)
•… é habitual pensar a área de Língua Portuguesa como se ela fosse um foguete de dois estágios… primeiras letras e o estudo da língua propriamente dito.. .. Um diz respeito à aprendizagem de um conhecimento de maneira notacional…. Por trás da prática em dois estágios está a teoria que concebe a capacidade de produzir textos como dependente da capacidade de grafá-los de próprio punho… (p 28).
•… a alfabetização, considerada em seu sentido restrito de aquisição da escrita alfabética, ocorre dentro de um processo mais amplo de aprendizagem da Língua Portuguesa… (p. 28)
•… Se o objetivo é que o aluno aprenda a produzir e a interpretar textos, não é possível tomar como unidade básica de ensino nem a letra, nem a sílaba nem a palavra, nem a frase que, descontextualizadas, pouco têm a ver com a competência discursiva, que é a questão central… Dentro desse marco, a unidade básica do ensino só pode ser o texto, mas isso não significa que não se enfoquem palavras ou frases nas situações didáticas especificas que o exijam.
PROLETRAMENTO•De acordo com Ferreiro e Teberosky, o aprendizado
do sistema de escrita não se reduziria ao domínio de correspondências entre grafemas e fonemas, mas se caracteriza como um processo ativo por meio do qual a criança … construiria e reconstruiria hipóteses sobre a natureza e o funcionamento da língua escrita (pp 9 e 10)
•Com o surgimento do termo letramento muitos passaram a utilizar o termo alfabetização em seu sentido restrito … e reservar o termo letramento (ou alfabetismo funcional) para designar os seus usos. (p.12)
•Entende-se como alfabetização o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibita ao aluno ler e escrever com autonomia. (p 12)
•Entende-se letramento como o processo de inserção e participação na cultura escrita. (p 12)
•São processos diferentes, cada um com suas especificidades, mas complementares e inseparáveis, ambos indispensáveis (p 12).
PNAIC
•O alfabeto não é um código, é um sistema notacional.Assim como a numeração decimal e a moderna notação musical com pentagrama, claves de sol, fá e ré), a escrita alfabética é um sistema notacional. Nesses sistemas temos não só um conjunto de “caracteres” ou símbolos (números, notas musicais, letras), mas, para cada sistema, há um conjunto de regras ou propriedades que determinam rigidamente como aqueles símbolos funcionam para poder substituir os elementos da realidade que notam ou registram (p. 11).
•Quando os adultos julgam que a escrita alfabética é um código, eles adotam uma visão adultocêntrica... equivocada e que atribui à criança um funcionamento que não corresponde ao modo real como sua mente opera (pp 10 e 11).
O conceito de alfabetização 1. 2. ...6. As letras NOTAM ou substituem a pauta sonora das palavras que pronunciamos e nunca levam em conta as características físicas ou funcionais dos referentes que substituem.7. As letras NOTAM segmentos sonoros menores que as sílabas orais que pronunciamos.8. ...
3. Quando o aluno deve ser alfabetizado?
Quando Número de Secretarias
Final do 1o ano 6Final do 2o ano 6Final do 1o ciclo (2o ou 3o ano) 1Final do 1o ou 2o ano - indiferente 2Final do 5o ano 1É um processo permanente 4Total 20
Secretários Estaduais de Educação, 2002 e outros
Fonte: Câmara dos Deputados, 2003
4. Métodos
… o conhecimento atualmente disponível a respeito do processo de leitura indica que não se deve ensinar a ler por meio de práticas centradas na decodificação. Ao contrário...
.. os materiais feitos exclusivamente para ensinar a ler não são bons para aprender a ler; têm servido apenas para ensinar a decodificar, contribuindo para que o aluno construa uma visão empobrecida da leitura.
PCN
… didática da alfabetização. A principal delas é que NÃO se deve ensinar a escrever por meio de práticas centradas apenas na codificação de sons e letras…. É preciso … aprender a escrever em condições semelhantes às que caracterizam a escrita fora da escola.
…Para tanto é preciso que, tão logo o aluno chegue à escola, seja solicitado a produzir seus próprios textos, mesmo que não saiba grafá-los, a escrever como lhe for possível, mesmo que não o faça convencionalmente… (p 48/49)
MEC/PNAICTexto de Artur Gomes Morais e Tania Maria S.B. Rios Leite
… Dispomos atualmente de uma série de teorias e pesquisas demonstrando que o alfabeto é um sistema notacional, conceito bem diferente de um código…
…A primeira (pesquisa) foi desenvolvida por Albuquerque, Moais e Ferreira e envolveu um grupo de 9 professoras…
Orientações curriculares para o Ensino de Língua Portuguesa 1o ano – Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (2013)
Habiidades Sugestões
Identificar relações fonema/grafema (som/letras)
Utilização do alfabeto móvel, propondo ao aluno a formação de palavras, através de acréscimo, troca e supressão de letras.
Identificar sílabas de palavras ouvidas e/ou lidas
Associação de sons iniciais e finais de seu nome e de outros (amigos, parentes, palavras conhecidas), estabelecendo a relação gráfico-sonora.
Ler palavras
Utilização de embalagens para construir um “mercadinho” (leitura de rótulos) e classificação dos produtos por tipos.
Reconhecer palavras como unidade gráfica no texto
Confecção de um caderno de vocabulário ilustrado (palavra/figura)
Identificar a existência de espaços, separando uma palavra de outra
Pintura dos espaços entre as palavras em um pequeno texto.
Escrever palavas Dominó de palavras: jogo da memória (palavra/gravura)
Escrever frases
Decalque de provérbios e ditos populares, mantendo ou mudando o sentido, acrescentando palavras, etc. considerando a produção coletiva ou individual.
Direção da escrita: identificar a direção da escrita (esquerda para a direita)
Leitura coletiva de textos no “blocão” sinalizando as direções da leitura/escrita, melodia e entonação.
Bibliografia utilizada para fundamentar as cartilhas de alfabetização
Categoria Total de referências % do total
1. Literatura/gêneros/discurso 50 18
2. Compreensão de textos 14 5
3. Produção de textos 3 1
4. Linguística (geral) 30 11
5. Lingüística (fonética) 11 4
6. Teorias/discurso sobre alfabetização 34 12
7. Ensino do código alfabético/decodificação 5 2
8. Assuntos gerais (sociologia, filosofia, etc.) 147 55
Total 265
5. Avaliação
Matriz de referência da Provinha Brasil
1o eixoApropriação do sistema de escrita: habilidades relacionadas à identificação e ao reconhecimento de princípios do sistema de escrita
D 1. Pintura dos espaços entre as palavras em um pequeno texto.
Reconhecer letras
Diferenciar letras ou outros sinais gráficos, identificar pelo nome as letras do alfabeto ou reconhecer os diferentes tipos de grafia das letras.
D 2 Reconhecer sílabas
Identificar o número de sílabas que formam uma palavra por contagem ou comparação das sílabas de palavras dadas por imagens.
D 3Estabelecer relação entre unidades sonoras e suas representações gráficas
Identificar em palavras a representação de unidades sonoras como:• letras que possuem correspondência sonora
única (ex. p, b, t, d, f)• letras com mais de uma correspondência
Sonora (ex. c, g)• sílabas
2o eixo Leitura
D 4Ler palavras
Identificar a escrita de uma palavra ditada ou ilustrada, sem que isso seja possível a partir do reconhecimento de um único fonema ou de uma única sílaba.
D 5Ler frases
Localizar informações em enunciados curtos e de sentido completo sem que isso seja possível a partir da estratégia de identificação de uma palavra ou de uma única sílaba
D 6Localizar informação explícita em textos
• Localizar informação em diferentes gêneros textuais.
Fonte: MEC/INEP: Provinha Brasil, s/data
ANA – Avaliação Nacional da Alfabetização
H 1 Ler palavras com estrutura silábica canônicaH 2 Ler palavras com estrutura silábica não-canônicaH 3 Reconhecer a finalidade do textoH 4 Localizar informações explícitas em textosH 5 Compreender os sentidos de palavras e expressões em textosH 6 Realizar inferências a partir da leitura de textos verbais
Leitura
H 7 Realizar inferências a partir da leitura de textos que articulem a linguagem verbal e não-verbal
H 8 Identificar o assunto de um texto
H 9 Estabelecer relações entre partes de um texto marcadas por elementos coesivos
H 10 Grafar palavras com correspondências regulares diretas
H 11 Gravar palavras com correspondências regulares contextuais entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro
H 12 Produzir um texto a partir de uma situação dada
Escrita
Fonte: MEC/INEP, 2013 – ANA – p, 17
Descritor ProvinhaBrasil SPAECE SIMAVE SAERS RS
Identificar letras X X X XReconhecer letras X X X XUsar maiúsculas, minúsculas, cursivas XIdentificar a direção da escrita X
Ordenar a escrita (disposição no papel) X
Segmentar palavras escritas XSegmentar palavras em sílabas XIdentificar rima em textos escritos X X
Contar sílabas X X X
Identificar sílaba no início da palavra X X
Identificar sílaba no meio da palavra X
Identificar som da sílaba X
Decodificar palavras (sílabas CV) X X X X
Decodificar palavras (sílabas CVC) X X X X
Identificar o conceito de palavras X
Ler palavras X XIdentificar e escrever palavras,observando sinais de nasalização X
Testes (Artigo de JB publicado na Revista Ensaio) Quadro comparando os itens que apa-recem nos vários testes de alfabetização
•Joãozinho não sabe ler.
•Joãozinho não saber ler porque as políticas públicas de alfabetização no Brasil foram implementadas com sucesso.
•Em outras palavras: o sucesso das políticas públicas é o fracasso do Joãozinho.
Conclusões
Obrigado!