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  • 7/31/2019 Jogos de Escala

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    ..JOGOS DE

    A E X P E R I N C IA D A M IC R O A N L IS E

    dacques Revelorganizador

    traduo:

    Dora Rocha

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    ~,(lJN1S1NOS

    , i ? } J ? '- ! 9 teca IN') .QJ.C :J. .~ Y. .! . . f. . . .

    I ) II (li li,(,I 'd iC ; ( ) ,"s crvados

    1 '1 ) 1 1 '( lH A I I lJ N I A GETU LI O V AR GA S, .11 1~1 1 t i 1 1 0 1 1 11 1\l, I O _ 62 andarI1 1 I I00 I io d' Janeiro - Bras il' / ' 1 1 , O I ) .I, 110 _ Fax: (021) 536-9155

    1 1 1 1 1 1 I: 't ii l l l l I I r~v,br1 11 1 /1 :// w w w . l/. . v . hl'/publi acao

    li,V I,d 11t i ,I il rl'p~ll lu .!io coral ou parcial des ta obra

    IilVI'.'\(1 I I, _\I(:INAIS: Maria Lucia Leo Velloso de Magalhes1IIIIIlItA(:( I'.I.H'I'I NI A: Denilza da Silva Oliveira, Jayr Ferreir a V az,M ~ r l l/ l A/I'V 'ti B~lrhoza Simone Ranna

    Iltvl\'\I\: AI 'itliis d' 13'Itran e Mamo Pinco de Faria

    1'1111 111/(, '\1\ :1\ I'I A: H 'Iio Loureno Netco

    H ha atalogrfica elaborada pela Biblioteca

    Mario Henrique Simonsen/FGV) l lflO , ~ le 's alas: a 'xl 'ri n ia da microanlise I Jacques Reve1; organi-

    "" '1 1 Ir; Iradu : o 01', Rocha. - Rio de Janeiro: Editora Fund ao:1 '1 ,,1 1 0 Vnrgas, ]l (8.

    It, 1I 101IlWI1Ii.I, ,P l ' 11 11 II loIsll~"('II, I. J l 'v l'i, /1 1 1111 1 ' ,11 ,11 1111 11 ,1

    1,1 1 +1'11 111 1 VIII I 1 ,

    Sumrio

    () ra ionalism o posto prova da anliseM ir Able

    ,'(lI/Sfm;/, o " m a f'()" pl to "1 1 1 ; ro " : htir;/.' Nr r,rtltI (HIII; '1'tJ,lfm ia"

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    "/11111111 I' I' !riAncia: indivdu os , g rupo s e identidades1 '/1 1 "" /1 1 1 I iOs ulo XVI I

    ,'III11!w/"r{lmentos, rec ursos, processos: antes da "revolu o"lI) m/I umo

    ,I bi(l/:ret/ia com o prob lem a

    I li

    Apresen tao

    Este livro nasceu de um seminrio. Em 1991, o Ministrio da P 'Slllli, I, Tecnologia francs tomou a iniciativa de organizar um encontro qu (1, (

    ria reunir (entre outros) historiadores e antroplogos em torno de UIIl 1'1111

    bastante vasto: "Antropologia contempornea e antropologia histri 'li",

    i I"ia no era exatamente original. Ao longo dos anos 70 e 80, encontros d ~ ,< (I ir> haviam sido freqentes. As quest es e o s mtodos de trabalho dos '( 111

    logos exerciam um fascnio duradouro sobre os historiadores, como 110,PII, ' 1

    cio O haviam feito os dos gegrafos e a s eguir dos economistas: a afirm:l:'n dll

    'lnologia histrica foi o resultado desse investimento e de uma t It:lliv,1 di

    hibridao que a posteriori parec e m enos h omognea, talvez, d qu' !,.1I1I'111

    nos pr tagonistas da aventura. A unio disciplin ar q ue s e o perou 'nt. 0:1111111

    J' 'li muitas coisas, freqentemente heterogneas, s vezes contradil lIi,I'/, I

    P 'ri 'ncias de pesquisa genunas e tambm falsas novidades. N( ' , ,1 1 1 ' Ilqlll1'1lZ-r s~u balano, que seria alis prematuro. Que o julgameilto a r 'SI 'il(l I( i Iposil ivo ou decididamente negativo - como recentemente tiv Inos o ',~I 1I1

    pio -, ningum pode negar que boa parte da renovao das inl 'rl!lI',I,' I

    do.' ohj 'I( s dos histOriadores foi, para o bem ou para o mal, fruco d 's.''' 11111111111- 111"hoj no parou de produzir efeitos. O movimento foi 1 arli 'Id:lllll liI, 'li,' v ,I na Fran'l, mas largamente atestado na historio rafia ioJ1t'lIl11r10IHd,III\(I npr -s 'nw os m 'smos traos caractersticos: uma notv 1 / ! . '11'Io.'idlld

    111'I' '111:d 1~lli:1Ia 101' lima sensibilidade difusa, um qua 1m d' 1"/"1 11('iI

    lI' I ic I,' ha,'lul1l' n, fv 'I, un 'I pdti ':1 n,uitas v 'I. 's S Ivag 'rn 10 'Illpll, I I11II'tllll' '1111ti, ,"lia 'xaJ.( '1'0 pr -I 'nd 'r ra ill'lWII '111' d' (:ll1l1dl 1 , ( vi1'11111'.'. 11" 1.1/' 'ito li' SIII di ('lplill,1 111111111)(1'10 l' llllli\ . 'Iw('il' dl' plll 11(111

    dllllllllllllll 1111'( III 1.1' li 11111'' ,111Ld' ;11I11I1PIIIII!',i.lplldi I plllllllllll ,I I II

    1111I11111t11I1 11 II1 1I1I I 11111 11111,111111,11111.1'11,11,111I '1111'\\1lillllld 111]111111

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    1111lilll(ltl li s' abrir a uma perspectiva histrica. Mas qualquer generalizao

    I I II Ilhllsiva. Enquanto ideologia cientfica prescritiva, o estruturalismo co-

    '111,'lIlI 1 i 1" '1lar j a partir do meado da dcada de 70. Ele no tinha alis im-111IIido 1111 ' sc desenvolvessem experincias de pesquisa decididas a levar

    I11\t'OIlIII a dimenso do tempo social: basta pensar nos trabalhos, em tudoilllli, 11'0 diferentes, de Jean-Pierre Vernant ou de Marcel Detienne sobre o

    111111110 grego, de Emmanuel Terray sobre os reinos africanos. Os exemplos'Iillll) b 'm mais numerosos no mundo anglo-saxo: a o bra de Marshall

    ,'i1l1iIlS I ode servir de emblema a essa abertura, que ela, alis, ajudou a mol-li 11 'lI) profundidade neste ltimo quarto de sculo.

    Antroplogos e historiadores adquiriram portanto o hbito de se ler eli 'li 'ontrar, s vezes em torno de projetos definidos em comum, em ge-111pll'll (;I/.er o balano de uma confrontao que nunca chegou a uma verda-

    11'lill 'Slllbilizao (nem, reconheamos, procurou chegar a uma codificaolilll I)()II '0n ai~ rigorosa: poderemos ver a, se quisermos, um sinal do empi-

    II'IIII() OI>SIinado da corporao dos historiadores). O encontro que nos foi pro-

    I () iI" ~'1l1 I {91 poderia por conseguinte no passar d e uma verso a mais de1111111P 'C,;I v:ria~ vezes encenada. Se foi mais que isso, sem dvida a seus 01'-

    / ! , 11Ii/',Idor 'S, Yves Duroux e Mareei Detienne, que preciso agradecer. A fr-111111111111' 'I's imaginaram pretendeu claramente fugir dos balanos e avalia-

    I', '111I>'n 'feio de uma dimenso nitidamente problemtica. A idia era

    1 1 1'1'1 1 1 1 1 ' III11asrie de pontos e de questes em torno dos quais as duas dis-

    111111111.. " mais amplamente, o conjunto das cincias sociais - pareciam11d('lillil SllllS interrogaes e suas apostas, pr prova suas certezas mais ar-I l i} " ltill,', 'xp 'ri, entar frmulas inditas. Trs temas nos foram propostos. O

    1I"l1ll'i1o r r'ria-se a "Os regimes de historicidade e os modelos de tempo-I t1ld Illt-"; o s 'glllldo intitulava-se "Micro-histria e microssocial"; o terceiro

    1 1 11 t il l pr 'o '1'1 ae~ recentes com "O espao pblico e os lugares do polti-I ,," o, '011 r'r 'n istas contactados, foi sugerido que preparassem o encontro

    1'"1 111(I" d ' 11111l:f ,balho de reflexo conjunta cuja frmula era deixada a seuI I I1 1 tio 't'lIjos rc.;sultado~ provisrios circulariam sob a forma de papers entre

    fi 11I1I ('IPIII1I's; Sl:es, por sua vez, seriam convidados a comentar c a Titi ar

    I I I 'XIO", I A r 'gra 10jogo era, como se pode ver, a um tempo clara e fi -VI I, ('()()I'li '1I1.1'o do s gun 10 tema foi nfiada a un anl'rol logo, 'rar I

    1 I' 1 I' I I' I I' I' , " I I' ' '1' I' , ,"I I 111 1111,',"" ) IVII( o,~ P' o "III1ISll'I'IO (11 'SCI'IISII' l'I'IIIII1I',1i1 I" 1111111111111'111 11)1)I t i 11'111 1 \ 1 '1111I 11 t1i:WII" I 011', N' 1IIIillllbo pl' 'pllnll lrill, 1';ln 11111111111'1111I "ti 111 1111'1 ('I

    I dI viii 111 dlllll 1I1 '111 ('111111 11111IIIlII 11 "II'lilllll,IIl'IIIIIIIIIIIII' "'1\ "I,\'IIIIIIIIiI~I'

    11/\11111111111111, d 1 11 1111I 111 1111111111111111111lil 11111'111'0111111\11, 111 110111111111 , 1I111t111/'1I ()

    I 111111111111"111" 111111111 dllll I 11 1111/11111111( :, 111.1 1111 1111"111'111111111l i, 11 \' I 1111 (:1'11111

    111111 d, 11,1111, I IlId, 1111:1111111 ' ;1111 di 111111\111 11111, I 111 I1I IIdllll di 1111)I

    Althabe, eao historiador que assina estas linhas. De comum acordo, I .j limos ento dar reflexo a forma de um seminrio fechado na cole des 11:111

    tes tudes en Sciences Sociales.2 Os textos que se seguem so o resultadocoletivo do trabalho que ento se realizou.

    "Micro-histria e microssocial": o ttulo do tema que nos foi sug ridoremetia claramente proposio historiogrfica elaborada e principalm '111 '

    posta em prtica por um pequeno grupo de pesquisadores italianos n finllldos anos 70 e na dcada de 80. Poder-se- dimension-Io melhor aps a I ,itura deste livro: a microstoria desempenhou um papel decisivo, que t 'nlllremos examinar mais de perto. preciso, contudo, evitar dar a posr ' rirri

    uma verso da microstoria simplificada e demasiado unvoca, e isso d vido lipelo menos trs razes. Primeiro, porque na Itlia (e fora dela) , as tes ~s los

    micro-historiadores tiveram, at muito recentemente, uma acolhida par 'imoniosa e reservada, muitas vezes francamente hostil, que hoje se tend '11 'sC[uecer. Depois porque, at a traduo para o francs do grande livro li '

    iovanni Levi, L 'eredit immateriale, em 1989,3 a temtica micro-hist ri '11...teve praticamente ausente do debate na Frana; em todo caso, os pOli 'o,'textos que circularam antes disso no tiveram repercusso sensvel. EsslI ,'111

    I z seletiva se explica enfim pela ausncia, praticamente, de u m p m 'rlllll IIlnificado e articulado que desde o incio desse micro-histria o estatlllO t i '

    lima proposio alternativa e a legitimidade de uma escola. Expli 'ando III'Ihor: a miero-histria no procurou nenhum desses t tulos; foi antes lII11l1"P 'rincia de trabalho, fei ta por historiadores que se aproximaram 'm 1'111)'11(1d . sua sensibilidade e trajetria, mas cujos projetos, reas e refern 'ia~ I ' )11'IIS I adiam ser muit o diferentes.4 Seria portanto f alacioso conferir-Ih 's, pl',

    ,'11los alguns anos, uma fora e uma coerncia que eles no tiveram, 1'111111

    " 'ria, < I m u ver, nos perguntarmos por que esses trabalhos, afinal di~1illit.) It1l11'lInr' vlnto tempo desconhecidos, num determinado momentO forlll)1 11('(I

    IlI,' . 'omearam a produzir efeitos. Era essa, afinal de contas, a (1'1,~t:l ) 0 1 1

    III ' li qlllll framos convidados a refletir.

    I I':m, , ,"11)111, rio r '1111ill reglllarmcntc M. Ab61t:s, G. Al[habc, A. l3ensa, S, ; 'rlllti, 1\1

    (:lililllllii, H . I. 'pel'il', c. Levi, S . Lariga c .I. Revel, aos quais se juntaram, 110 l'illlll dlllll'1111 11, I',A, I{os 'nl'lll 'M. Silllrellis, Agratl 'cenlos :Ias org:lni;o:atlor's do '11 '(11111'11ti Mil

    111111, 'I'Sp '('illllll '111" a ,1 .- 1 ' . livier ti, SIII'd:ln, pclo Ilj)(lio I1l:1t 'rilll li"' g'n '1'0,111111'111d \11111 , I\I),~, I1 inil'illi iVII,

    1 (: l/I i,I,'I',('

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    hssa questo p ar ec e s er ba st an te p er ti ne nt e, a in da m ai s p or qu e a a ve n-

    1111'11dos micro- hi st ori ad ore s n o fo i i so la da . A p ar ti r d o fi m d a d c ad a d e70,v I'i~s experincias ca min ha ra m p aral ela me nt e - e s v ez es ig no ran do -se

    11I11:ISs outras. Elas no devem ser conf undidas. Suas p r emis sas e s eus cami-

    IIhos foram por vezes mui t d if er en tes, e a lguns de s eus cons ider andos f or am'on ll'aditrios: b as ta p en sa r n aAlltagsgeschichte, a histria da vida cotidiana (se-

    Iill melhor trad uz ir: a h is t ri a d a e xp eri n ci a c ot id ia na ) n a A le ma nh a; 5 n as111 t'dli, Ias tentat iv as d e e mp arel ha r a h is t ri a e a a nt ro po lo gi a d e q ue fa l va -

    II\OS acima e, mais partic ul arm en te , n o f as c ni o q ue e x er ce ra m s ob re u m bo m

    111 1111'1'0 de pesq ui sa do re s e m to do o m un do a a nt ro po lo gi a i nt er pr et at iv a e ali, i '/( fescription de Cl if fo rd Geer tz ; bas ta l embrar enf im a r ef lexo c r ti ca so-

    111':I 'oncepo e os mtodos da hi str ia soc ia l e sboada pelos Annales nos l-I ililOs anos. Evi te mo s, m ai s u m a v ez , d ar a e ss as p ro po si es m ai s u ni da de d o

    1111 ' 'hs tiveram : q ua is qu er q ue s ej am o n v el d e su as e xi g nc ia s e o ri go r d e1111formulao, elas for am contempor neas de L im tempo de anarquia epi ste-

    111 0119i a do qua l talvez mal estejamos comeando a s ai r. E las compart ilham,

    lIinda a sim, um cert o n m er o d e t ra o s c ara ct er s ti co s. T od as g ua rd am u madis!. n ,ia crtica em relao abordagem macrossoc ia l que , s ob moda lidades

    di 'rS:lS e muitas vezes t ac it am en te , p or m ui to t em po d om in ou a p es qu isa111\ histria e em cincias soc ia is ; todas s e es foram par a dar exper inc ia

    dlHl 11101''s s ciais (o "co ti di an o" d os hi st ori ad or es a le m es , o " vi vi do " detil 11,',homlogos italianos) uma sign ifi ca o e u ma i mp or t nc ia f re nt e a o j ogodllH ','I f'IlCUras e eficcia dos p rocessos soc ia is mac ios , annimos, incons-

    (' I 111's, qlle por mu ito tempo par ecer am ser os n icos a chamar a ateno dos11(',qllisa 101''s. De modo mais am pl o, t od as v ie ra m n os c on vi da r a r ev er con-

    i( ' e , ' 's 'sta belecidas sobre a const ruo do soc ia l t al como a pensam as disci-

    Illillll.' 1111 s atribuem como taref a e st ud - Ia . V as to p ro gr am a, executado

    '1111\(' 'ITa d s orden., e que s progr es sivamente def in iu s eus p rpr ios cami-lIilll , 1(1, j onseguiu , porm, derrubar a lg um as c er tezas, e at mesmo subs-

    I 111 111,por novas. Que no se pode mais, hoje, explicar a industrializao ou

    1 Ildlllll iz,ay~(), ou ain Ia a mobilidade geogrfica ou social como fenmenosI 1\ I',loh 1111'S qlle imporiam sua lgica prpria ao comportamentos dos indiv-

    dlllll dos gl'lll)OS, provavelmente uma afirmao que no choca mais nin-

    1',11111\, 11' 1\ id neida le le urna coletivida le, de uma profisso ou le Ilm:l111, N\' 1110 pod mais S~I' onsiel rada evidene' por si s6 011 n ~o po I mais s 'I'

    d I i 11 itll 1iP nas 'om bas" I a d 'S 'rio 'st:Hsti ':1 I' Pl'oll"j '(1.\ I 's (HlJ 11ns,

    independentemente das t ra je t rias e da exper inc ia soc ia l dos membros q I 1 'a c om p em , t am b m o ut ra a fi rm a o q ue p are ce i nd is cu t ve l - m 'sl11O

    q ue p erm an e a e m a be rt o o p ro bl em a d e sa be r c om o a rt ic ul ar d e maneira ri-gor osa a r elao entr e a e xp er i nc ia s in gu la r e a a o c o le ti va . A s tentativ\,q ue a p re se nt am os a qu i p od em p or ta nt o s er e nt en di da s a nt es demai nadacomo s in tomas de uma insat is fao d iante do desgaste de pa radigmas ci'111fi co s q u e i ns pi ra ra m g ra nd es p ai n is d a pe sq ui sa e m c i nc ia s s oc iais apari il

    do f im do s culo XIX e qu e d e m od o g er al p ri vi le gi av am e nf oq ues deI'ipom ac ro an al t ic o. A o p o p or u ma a bo rd ag em m ic ro an al t ic a a presentou-, '

    portan to como um exper imento a lter na tivo .

    Q ue a co nt ec eri a s e c on ve nc io n ss em os m ud ar a o bj et iva, aumelltall-do o o bj et o d a ob se rv a o ? A ap os ta e ra q ue a pa re ce ri a u maoutra tralll ll,uma out ra o rgan izao do soc ia l. Mas i s so no e r a evidente paratodos. Alil, ,no fa lt ar am c r ti ca s a cu sa nd o a s m ic ro an l is es d e ce de r m oda do sm 1 1 1 /8beautiful, quando no ten tao de um novo i rr ac iona li smo; acusan IO-lIs,entre o ut ro s g ra ce jo s, d e s e t ra nc ar v ol un ta ri am en te d en tr o deum "armi, iode vas so ur as " o u, p io r a i nd a, d e " da r u m m i cr of on e s f orm igas". Dei '111 0,regist ra da s a s z om ba ri as , P or m ai s e x ce ss iv as q ue s ej am e msuas 1"01'11\1111

    es, e la s t ra du ze m u ma fo rt e r et ic n ci a e m r el a o a e st ra tgias d p'sq IIisa que v ie ram se con tr apor a uma t radio c ient f ica poderosa, arti '11I:ld I, \'

    qlle, no d ev em os esq ue ce r, m ost ro u se r d e e xce pc io na l f ecunclida I " Aclborclagem m ic ro an al t ic a c ol oc ou e m q ue st o c on vi c es que eram fOI'l

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    - Qu? - b radou o duque d 'Auge, - Que d iabo de l ngua es sa? Serhoje o teu Pentecostes?-' Perdo, senhor. o cansao, E o nervosismo. Essas balas de canhos:1o terrveis: diablica inveno!6

    vao - em que escolhemos nos si tuar . Fenmenos macios, queestamo.'habituados a pensar em termos globais , como o crescimento do Estado, af()I'~mao da sociedade indus tr ia l, podem ser l idos em termos completament 'diferentes se tentamos apreend-Ios por intermdio das estratgias indivic\ll.ais, das trajetrias biogrficas, individuais ou familiares, dos homens que ('oram pos tos d iante deles . E les no se to rnam por i s so menos important 's,

    Mas so construdos de maneira diferente.No su rp reende que a lguns h is to ri adores t enham esbar rado n ss'pon to com a refl exo dos an troplogos . O t raba)ho de campo , ao menos 'omo o imaginamos de fora, no uma i lustrao exemplar da abordagem Cilll'os primeiros tentavam definir? Ele consiste, afinal de contas , em levarfi s 'rio migalhas de in fo rmaes e em ten tar compreender de que m aneif'l 'Sll'deta)he individual , aqueles retalhos de experincias do acesso a lgicas sociais e s imblicas que so as lgicas do grupo, ou mesmo de conjuntos militoma iores . E ra essa em todo caso a vi so que os h is to ri adores do nosso grupo,leitores atentos dos etnlogos, t inham do trabalho destes . As coisass r 'v 'laram um pouo menos s imples, e ns descobrimos, ao longo deste trabalho'()njunto, que as preocupaes dos nossos parceiros cruzavam com.as nos.' I :

    ( ) que no s igni fi ca que fos sem exatamen te as mesmas nem que toss '111fil111'tricas). A deciso de dar espao his toricidade das configuraes 'SIII I,das - a dos a to res, a das s ituaes rel acionais , a dos enuncia los - s '1 1 1lvida alguma foi determinan te nessa aprox imao. No s porqu . faln I

    d' histria para historiadores. Mais importante, sem dvida, foi, vindo d('Itll a discipl ina que hoje t i ra l eg it imamente boa par te de seu [rescfgio d,1111'apacidade de fo rmali zao e de generalizao, a preocupao d ' r 'IklilI II I,blTl cm outros termos que no os de uma total izao implcita; L i 111i II Ti~lr a experincia dos atores reconstruindo em torno dela o cone "to (11111111's os contextos) que lhe d sentido e forma. Aq ui tambm, a {;s 'olllli 11I(I, dt 'rnaciva encre uma abordagem que privilegia a identificao d ' sisl 'Ilil

    Id01b )Ii 'os g rais, quando no universais, e uma outra que tentaria 11'I" 'Il "

    0

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    t i , IIllt,illl dilf lIll '~lueles que aceitaram tentar juntos esta experincia estot i 1('(lI(io 'm tudo, muito longe disso. Sua cultura disciplinar, seus instru-

    11\11110,'I ' 'I'li 'os, suas maneiras de trabalhar no so as mesmas, e esse, alis,, II 1111\los in cresses da confrontao, Mas h mais,~Ser possvel perceb-

    10 ilIlO,' 1 i I 'ieura destas pginas: duas posies essenciais se esboam entre11l1~1\0

    1' I'/I), I' I I X,' 1 1 1 .

    , 1111111111\\1111'1\IIIII~'\II 1111', 011111111101,'1I1'11I11l\111IIls

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    2. Um a das verses dom inantes - m as n o a nica - da hist ri:l. '0 'i:i1 a que se defin iu n a F ra n a - e a s eg uir m ais am plam en te fo ra lel,1'm to rn o d os AnnaJes. Su a f or mu la o n o f oi c on st an te n es te s lt im os e ) o

    anos. A p es ar d e t ud o, e la ap re se nt a u m c er to n m e ro d e t ra o s r elat ivam '1 1LC estve is , q ue te mo s to da s a s ra z es p ara re la cio na r c om o p ro gram a 'd I i 'oque, u m qu ar to d e s c ul o a nt es d o n as ci me nt o d osAnnaJes, o du rkheirni:ll loFr anoi s S im ia nd e la bo ro u p ar a u s o d o s h is to ria do re s.4 S im ia nd relembr:lv I:I estes lt im os as reg ra s d o m to do s oc io l gic o, d es tin ad o, s eg un do ele, :.1 I' '.g'r urna ci nc ia s oc ia l u ni fi ca da e d a qu al a s d if er en te s d is ci pl inas ap'Il :lHpropo ri am m od alid ades p ar ti cu la re s. O s h is to ri ad or es d ev er ia m, dali em diant e, se a fa st ar d o n ic o, d o a ci de n ta l ( o i nd iv d uo , o a co nt ec im en to, () < ;:1 ,osin gul ar ), p ar a i n ve st ir n a ni ca c oi sa q ue p od er ia t or na r- se o bj etode um "tu 1 0 cien t fi co : o r ep et it iv o e s ua s v ar ia es , a s r eg ul ar id ad es obse rv(jv ,i, Ipclr tir da s q ua is s er ia p os s ve l i nd uz ir l ei s. E ss a o p o i ni cia l, l arga rnenl ' 1 ('('o rna da pelo s f un da do re s d os AnnaJes e d ep oi s p or s eu s s uc essor es, nos I' 1 1 ,'ompree n der as c ara cte r st ic as o ri gi na is d a h is t ri a s oc ia l f rances a: o pl'i iI'g i da do a o e stu do d os a g re ga do s. m a is m a ci o s p os s ve is ; a p rioridad ' '01 1,. li da m ed id a n a a n li se d os fe n m en os s oc ia is ; a e sc ol ha deuma dlll 'II'n ') em rea s m a is i nes pe ra da s, c omo a d a hi st r ia d a a rt e, p or e x e mpl o) ,lIll ' (1 tlll 'o a pouc o em er gi ra m f or mul a e s ( in te rr og a e s, uma t emt ic a, su -I', " I 's) comuns. O ca r te r e xtre ma me nte e mp ric o d a a bo rd ag em e xp lic a1 1 1 1 ' lI\a l ex ista um texto fu nd ad or, u m .m ap a te ri c o d a m i c ro - hi st ri a,3 1 1 1 1 ,1" no constitui um co rpo de p r op o si e s u n if ic a ci'a~-,~em um a escola,11 1 ('11 0, ' :li nda um a disc iplin a au t no ma, co mo IDuit as v ezeLs_e q JJi~crer. E la 1 1 1 ,('plldv ,I de uma prti ca de hi storiadores, d os o bs t cu lo s e d as i ncertezas1 11 1 '1'llIa los ao longo de ca minhos alis m u ito d ivers os, e m s uma, deur na ex -P 'I 'i 1 \ 'ia I pes quisa. Esse primad o da prtic a est prov av elm ent e ligado sP I('I't'1 n 'i:ls inst in tiv as de um a d isc iplina qu e de mod o ge ral desconfia da s1 I1 11 1 11 t1 II ('s erals e da abstr ao. M as , para alm des ses hbit o s pr o fi ss io -

    1 l,IiN , 1 '0 I '1 1 os reco nhec er a um a opo vo luntarista: a m icro-hi st ria nasceulllllH I IIl na r 'a , co mo uma tomada de pos io frent e a um ce rto estado daIti'lIlil iu so 'ial, Ia qual ela suge re reform ular concepes, ex ign ias c pr e-d ill ll'I\I ON . )1 ,la po le [ r, nes se ponto, valo r de sin tO IT1 a hi sto riogrfi O .

    \(, ' I '() , I' '),1 1 1 1\1 1 1.t'V I, n 11 1 1'1 '0 1 IS IOI'Y ,In I "I' 'r 811 1 'k,("ti,),N 'W /I 'fSp '('r;II's 011iJ;S(()I'; '1/1 " 11 1 ';.1 /1 1 / 1 () I'I) ld , "o lity l'I "sN , lI)') ,1 ',9 ,1 .1 1 :1 1 N , do 'I:: lI 'lld . hl'ilS ,: , '0 1 >1 "1 1 IlliC I'() lIi sl61 'ill,1 111 '1 1 1 I 1\\1 1 1I 1 )1 1' ", 1\ ("li'l;r I ti" I';SI(II;/I: I/III'IIS I' 'I 'S/lI 'I'(;I'I/, I',,'I l I 1 "lI do , t 1 11 ('/1 1 ',li)i) I,() 1 1 1 1 1dI (:, (:illy ,hlll l', , '1 1 1 1 1 1, H 1 I, , d I' 1 11 1 11 )llI lld ll ',1 11 1illd ll'll1 l 1 1 ,l'h 'ld ll 1 1 1 1 1 I1 1 11 ,1 1 1 1 1dl l\' dll I1 V I 1 1IllId ll~ '1 1 1dI 1 '1 1I 1d ,1 I1 1 1 1 11 1 11Ii Jll llidll\1 1 I1 1 Itllllll! 1 '1 1 , 1 1 '1 1 1I ~\1 I1 1) ',llIlI d 1 1P ,1 11 III 1 1 1\,1 1 1 1 11 1" 1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 '1 1 1 111 1 11 1 1 1 11 IIII Id N lll llllill ,I'II IIIIIIIII ''1 I1 1 I' 1 1 11 1 1 1 1 plll'll llI 'llIdll l, lllI 1ti li 1 11I1 1 1 1 1 1 11 I li 1 1 1 I I1 '1 1 1 11li 1 1 1 11 '1 1 1r i li II~ 11

    I 1 1IIIII~ 'I1 1 '1, '1 11 1li11, d, 1 \ I (i1 l1 ldi 1 1 1~IIl1 lqlll I 1 1/1 11 I1 1 1I /1 1 1 ,1 1 1 1( , N ( ' \'/l i' (/e, ' '1/r III ,1 '1 ' llil rI/I/i lI/I ,I'H) \, liI," 1 11 1 1 1 1 '1 1 1 11 1 1 1 :1llil \1 1 1 1 11 1 1dl l" llI 1 1 11 1 1 11 1 1 1llii/l ,"I I',I'IIN dll" A 1/ 1 li/ir'" , 1 ,1 ',,I , I 11 '1 I,1 1 1 1 1 1 1 "1'I I I r 1 1 1 '1I 1 1 11 1 1 1 1I,I 1 1 1 11 1 1 1 1 1 1 '1 1 1 11 1 1~ \III1iI/I'~l ,\IIIIII/I'~ II'SI,', ,1 li,)' I, I t,l) /I"IIJ/IJ

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    llll 'ismo cientfico : a convic o d e q ue no e xis te obj eto a n o ser co nstrudo," 'lind o procedim en tos explcitos, em f uno de um a hip tese sub me tid a

    :\ 1 1n a va lid a o em pr ica , Essas re gra s m etodo lg icas elem en ta res, com opllssar do temp o, deram a im presso de s ve zes es tarem se nd o perdi da s de

    iSI a . Se m dvida , os m todos d e trabalho se torn aram ca da vez mais so fis-I i 'ados. M as, provavelm ent e dev ido prpria di nmi ca da pe squ isa , se u es -

    I allltO de experimen ta o fo i mui tas vezes esqu ec ido. O s obje tos que olIi sloriado r se at r ibua eram hipteses sobr e a rea lid ad e , mas tend eu- se'a Ia vez mais a tom-Ios com o coi sa s. E ss e d esvio, em ce rto s casos, co me -

    \'01 1 mui to ce do ,5 A lgum as vezes el e fo i den unciado, a prop sito d a h istriaI)s pr e os , do uso das un idades espac ia is de o bservao , das ca teg ori aso 'iO I rofiss io nais, m as sem que ess as advert ncia s bas tas se m pa ra d eter a

    I '1 1 I 'ncia geral. Notem os tam bm que esses m todos de pes qui sa se in s-'I 'v iam globalm ente numa perspe ctiva m ac ro-hi stric a que el es no expli-

    ri III va m nem tes tava m , Ou , mais ex atam ente, e les considerav am que a" 'Itia le obse rvao no const itua um a das varivei s da experimentaoIHi lq ll' supun ham , ao menos tacitam ent e, um a continuidade de fa to do so -,j 1 1

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    nio do objeto de anlise; a uma representa o do rea l que m uitas vezespar' e req uere r a in scri o de um problema nu ma unidade "c on creta" , tan-)' v '1 , visve l. O espa o mono grfico habitualmente con cebido como um'spa prtico , aquele no qu al s e re nem dados e se co nstroem provas (e no

    qu al tambm recomendvel que se de m provas da p r pr ia c ompetncia),fV I:IS ac redit a-se q ue e le seja inerte - j se d i ss e i sso. Centenas de monogra-

    rias, co nstrud as a p ar ti r de um q u es tionrio g er al , f orn ece ram o embasamen-'o da histr ia social. O problem a co loc ado por cada uma delas no era o da's 'ala de observa o, m as o da represe nt ativ idade de ca da am os tr a em rela-

    ~ 'a o a o c onju nto no qu al ela tend ia a se int eg rar, assim como uma p ea de ve'1 1 'ontrar se u lu ga r num puzzle. Nenhuma d vida fundamen tal, port ant o,

    sol r' a po ssibilidade de situ ar osres ult ados da pes qui sa monogrfi ca frenteII lim a mdia ou a um modo, n um a ti polog ia etc.

    A abord ag em micro-histrica pr ofundamente diferente em su as i n-t 'li ' es, assim com o em se u s p r oc e dimentos. El a afirma e m p ri ncpio que a" 'olha de um a escala par ti cu la r d e obse rv a o produ z efeitos de co nheci-

    1 1\'nt > , e p od e s er po sta a servio de 'es tr atg ias de co nh ec imentos. Variar aol>j '( iva no significa apenas aum ent ar (o u d im in u ir) o tamanh o do objeto

    11 0 visor, signi fica modi ficar sua form a e sua tram a. Ou , para rec orrer a umOll(rcl sist ma de refer ncias, mud a r a s e sc alas de repr ese nta o em ca rtog ra-Iiil n:'o 'onsiste ape nas em repr ese nt ar um a re alid ade co ns tante em tam a-nllll 1 11 aior ou menor, e sim em tr ansform ar o conted o da repr ese nt ao (ou,c 'ia , a 's 'olha daquil o qu e rep rese ntv el). Notemos des de j que a dimen-1 ,1 0 "mi '1 '0" no goza, nesse sentido, de nenhum privilg io e spec ial. opl in 'pio Ia variao qu e co nt a, no a e scolha d e u ma es cala em parti cular.

    () 'O\TC qu e o enfoq ue m icro-h is tri co conhece u, nest es ltim os ano s,11 1 1 1,'U ' 'sso es pec ial. A conjuntura hi storiogrfica qu e res umi brevemente aci-11 l.1 p 'rm il'c comp ree nd-lo. O r ecur so microa nlise de ve, em p rime iro lugar,'('1 'l1 t'n li I omo a express o de um distanciam ent o do modelo comumen-li' ,li' 'iL O , O d e uma hi stria socia l que des de a origem se in screveu, ex plcita

    01 1 'a 1 :1 v,o/. mais) imp licitamente, num espao "macro" . N ess e se ntido, ele1H 'lll1it! t1 ron 1 er com os hbitos adq uiridos e to rn ou poss ve l um a reviso r-,ir I dos i1 1 SII '1I l1 'l'nt 'e proce dimento s da anlise scio- hi stri ca . M as, em se-

    /' ,1 11 1 (1 0 11 1 ).';[\1 ','1(: foi a figur a hi storiog rfi a in teir am ent e prt ica por inte rm '-li io li I q Il ld 1111 1 1 1al 'n o nova foi Ii spensa Ia ao problen a Ias es 'alas I, a n .-li, , 1 1 1 1!li,'1 >I'ia ( 'on O 11 1 1 "1pou '0 an l' 's L inha O Ol'ri 1 0 na IIIHr opologill),H

    4. Co nv m, nes te ponto, refletir so br e os efeitos de co nh ec im ento a,',' ) iad os (ou ao menos esper ados da) passagem para a esca la "m icro", 1 ':1 1lamOS de algun s do s raro s texto s pr og ramticos que contriburam p:II 'ad 's enh ar o s c ontorno s e as ambies do pr ojet o mi cro-histrico. N um afl '1 '0pu blica do em 1977, E. Gr endi observa q ue a hi stria social d omin ante, t '1\1 0 d e cidid o organizar se us dados dentr o das categ orias que perm item Sllll

    a 'r' ao mx im a (nve is d e f o rt una, pr ofi sse s etc.), de ix a e sc apar ~u ~ooC I ' I ' diz respeito ao s comportamentos e ex peri ncia so cial, co nst ltlll ~ .": oI ' id ent idades de grup os, e se probe, por fo ra de s eu prprio mro 10 d '

    trabalho, de int egr ar dados os mais di ve rsifi cad os possveis. A es a n 11 11 1 1 ,,1, ont rape a d a a n tropolog ia (anglo-sax, esse ncialm ent e), cuj.a ori~ ill i~1 i

    d \ I res ide, a seu ve r, "meno s na metodolog ia que nat nfase slgnlfl 'a llv Iql l' Ia d abordage m holstica do s comportament os" .~ Deixemos I, 1 :1

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    III 'pO I s' na dur a o com o no esp a o , perm itind o-n os assim e nc on tra r o1 1 H ',~Il\O in liv duo em con texto s soc ia is d iver sos ". !] no fu nd o o velho so-1 1 1 10 I, 1 1 1 1 1 '1h ist ria to tal, m as dessa vez cons tru da apartir de ba ixo, que(:il\~d IIr g e Po ni ree ncontram . A se u ve r, ela i nseparve i de um a " re cons-I illli 't i < 1 0 viv id o" : a e ss a f or m ula o um tanto fr ouxa e n o f un do amb gua,pot l 'mo s preferir o pr ograma de uma an lise da s co ndi es da experincia

    ,~O 'i:lI, restituda s em sua m x im a com plexidade.N o mais abs trair , ma s, n um primeiro momento , enriq uecer o rea l, se

    :Issi,l) S ' lesejar, lev and o em co nsiderao os aspe ctos ma is di versif icadostI:1 ' P 'ri~ncia soc ial. esse o procedimento que G .Lev i, po r ex empl o ,iltl,'II':1 '1 scu livro Le pouvoir au viJ1age.Num universo res trit o , ele re cor-1 ' :1 lima tcnica int ensiva co le tand o "to dos o s aco ntec imentos biogrficosI ' 10 los os habitant es da alde ia de Santena que deixa ram um ve stg io docu -

    1 1 \'1 )(:1 1 " d ma nte um pero do d e cerca de 50 anos no fim d o s c ulo XVII e!II 'io do s ulo XVIII. O pr ojeto fazer aparecerem , po r trs da ten d ncia" , ',:1 1 ma is vi'v c l, as estra tg ias soc ia is desenvolvid as pe los diferente s ato-I', 'I)) flln dc sua pos io e de seu s re cursos re spectivos, individuai s, fa-Iltili:1I 's, ti' gru po etc. ve rdade que, "com o tempo, todas as estratgias

    IH 'S ,' ollis ' fam ili ares tend em , ta lvez, a p~recer em botadas e a sefu nd ir nu mlI' Id la tio 'OlTlum de equil brio relati vo. Mas a parti cipao de cada um naItil"")1 ia / . ! ; 'ral, na fo rm ao e n a mod if ic ao das estrutu ras de sustentaod,l I\':di Ia I, O 'ial, no pode ser av aliada apenas com base em resultados1 1 1 '1 (' '!lI li 'is: no cur so da vida de c ad a u m, de um a m an eir a cc lica , n asce m1 1 Illill 'm as, inccrtc zas, esco lhas, um a polti ca da vida co tid iana que tem seut' '1\1 1 0 1 1 :1 IItiliza o estrat gica da s reg ras soci ais" . 1 2 Num a loca lidade geo -1' ,1d 'i 'l\ll 1 ' n te prx ima, mas hi strica e histo riograficament e mui to a fa stada ,,I 1\1 ('SIl\l\ orienta o propos ta po r M , Gribaudi p ar a o e studo da formaoI! I '1 :lss ' operria cm Tu rim no incio do s cul o Xx.1 3 Num a situa o emql l' ," insistia ss cn ialment e nu ma co mu nidade de ex perincias (im igra-

    1\1 1 IlIl>ana , rabalho, lu ta social, co nsc incia po lti ca e tc .) qu e co nst ituiria a11,1'0\' d:1 IIn i lad " d'a idc ntidade e da co nsc incia da c las se operria, o auto r,I 1(' ilingil l a a '01 T11 anh ar itin crri os ind ividu ais qu e fazem apa rccc r a mu l-I ip li ,i Ia I' Ias 'xperincias, a p lllralida dc de scus co nt ex tos de rcferncia ,1 1 1 '()1 1 1 1ItI i 's i nl ' 'rnas c ex tc rn as Ias q ua is elas s portad oras . 1 , Ic as r '-(1 1 1 1 '.1 1 ('); a p al'l'ir los p 'r 'ur sos ge o rrH 'i os e pr fiss ionais, dos 'oml orcam n-1m I! "!lO 'li I'i 'os, Ias 'S lr:1 I 'g ias r 'Ia 'iona is que :1'ompa nham a pass ag 'n

    1 I 1 1 1 1 1 1,p 1 \ 1I' I, I 1 \ I, I I 11/1 1/\ / 1 1 / ,/1/ \ 1/1 ,/);( " P 1 "I \ ~Lillll 1/1 1 1 1 1 1 .,1 1 1 1 1 1 ,1 ""1 /1/1 1 /1/1 1 1/1 '" 1 ''' 1 '''1 1 '' , '//1 1//" \ \/lI/Ii//I ,I 1 1 /1 / 1 ,i/I l/I /1 11 1'/1 1 \\' /ll ft ( 1 1 11 11, 1 ' 1 1 1 'i~" I I IH /)

    do campo cidade e fbrica . C om o m uitos outros, G ribaudi pari i , iI I ! Iidia d e um a cultur a o pe r ria homognea ou , em todo caso , que homog '1\ ,iZ 'lVa os com portamentos, No meio do ca m inh o (e espe cial me nt e ao r' '011 1 'II 'po im entos ora is sobre o p assado fam ili ar dos protagonistas dahi str ia '1 "(''swdava) , de scobriu a diversidade das form as de ingresso e d e vida na ('01 1

    Iio operria:

    A idia er a ve r p o r i nt er mdio de qu e ele me nto s cada um a das f:ll1 1 lli,1da amostra tinh a ne gociado seu prprio per curso e sua p r p r ia i I'nl id :ld(soc ia l; qu e mec ani smos tin ha m de ter minado a flu id ez de un s C" 'SlllJ',1 I 1 o de ou tro s; p or qu e modalidade s se t inham modificado, mu ita s l'jll (dras tica me nte, as or ientae s e as estra tgias de ca d a in div du o, \0 :1 11(li ltras pa lavras , e co loc ando o prob lema dopo nto d e vist a da condi ': II llJlrria, iss o significava pesquisar os di ferentes mater iais co m os (1I 1 1 1 i1 1 ttinham constru do as d ive rsa s expe rincias e fisionomias opcrdl'j~ls t' I1sim e sclarecer as din mi cas qu e tinham p erm iti do tant o suas aJ.!,1 '" '1 1 ' I

    d -!4quanto suas esagregaoe s.

    mo se v, a abord agem m icro-hi st ric a sepr ope enri qu . "I 1 1 1 1li,' , social to rn ando suas va riv eis mais num erosas, mais c ml I' 'tiS ' ( 1 I1 1\) "1 1\ n ais mveis. M as esse ind iv idu alismo metod olg ico tcm lill\il< ',I, I

    '1 1 1 ' " dc um co njunto so cia l - ou melhor, de uma ex perincia '01 " i .1ql l' 'SC lTlpre pr ec iso pr oc urar definir as reg ras de co nstiwi 1 'I' IIIII! 1 1 1

    1 1 1 1 1 \1'nt o.

    5. I~m sua vcrso "cls sica" , ahistria so cia l foi majori tariill1 1 '1 1 1 11 1 11'1 1 i(l:1 '01 10 uma hi stria da s cnt idades soc iais: a comuni Ia I' I, I " i I 1 1 1 0 1

    Idl! 'j,l, pa rqll itl, ida dc, bairro c tc .) , o grup o profissional, a (l I' I '1 1 1 ," '!lll I

    Ik(' '1 '1 0 po lia-sc dis utir o~ cont arnos dcssas cnt idades " ma is :d lld \, 1 1 11( 1 1 '1 'l 'I('i;1 'S lIlI si/!:ni fi 'a o sc i -hi trica , mas no se as '(1) 'li :1 1 1 1 1 1 1 1 .,1 11 '1 1 1 :1 "1 1 'IH' 'm qll 'sto.IS Dond a im l res so, a I '1 "01 '1 ' 'r O 'I\O lll H ' ( " ' 1 1 1

    1 1 11li, '01 1 1 1 ' 'ilil 'III OS a '1I ITlul a 10 lu ranl'e. 001 1 40 anos, ti '1 11 1 )1 1 ','\H 'I diri i \'/1 ' I ' in 'r 'i:1 'Iassifi ';Il )ri tl. I 'lim a Sil'll ll '; o p ,ll ';1 01 11 1 ':1 I .' d i" dllll i

    I1 IIi d , li, : 1 I1 1 t1 1 111 1 1 1 1 1I'", Ilrl 1 1 '1\1 1 1 (I1 1 11 1 '1 1 1 ',1 1 1 1p'lll \1 11 1011 '1 1\"I'II ~ I 1 I1 11 1 1 1 ""Iil' ,lit11 1 101 1 1I1 I.1 1I' 1 1 1/1 1li, 1 1 (1 1 1 1 1 1 1 1 ,( 11 1 1 111111pl'lIll l1 11 1\1 1 1 11 1lI ', . j 1 1 1 1( 1 1 1 (1 1 1 11 11 1 1 "I, 1 ,1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11 1 dI 1 1 1 1 1 dll 1 1 11 11 1 11 1 11 1 1lU 11 "1 I' 1 ""1 1 1/ 1 ( 1 111 1 1 1 1 1 1 1dll PI I'I'III di 11 1/1 11 1 1 11 1 1 1 " II IllJllll lld I r i I 1 1 1 1 1 1 '11 111 1 1 1 1 1 1 1 "IIi ,1 1 1 1 1 1 11 11 1 1li ill 'llI ,,1 11 ,1 11 1 1 11 1 1 1 1 1 1 1 1 11 11 1 1 1 1IJ III1 1 1 1 ,1 ,1 11 1 1 1I' 1 ,, 1 1 1 1 1 1 11II II ~IIIII II Ii I 1 11 1 1 1 1"1 1 1 "1 1 1 1 IIIi " r " 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1(lI)

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    I' V iii illlll, ' 'Ia ro, mas os persona ge ns da pe a quase no mu da m . Se r1 "1 { 'i:,o Il Ilt Iia nos ind ag armos sobre as ra ze s, ce rt am ente mltiplas , qu e1 '1 1\1 ('1 1 1 'xpli 'ar es se m ov imento em direo so ciograf ia de sc ritiva. El e foiIO I! 'o I aslant , em tod o ca so , par a re tar dar po r um bom tem po na Fran a a1 1 I1 !t1 1 1 'i:1 d' um livro co mo o de E. P . Thompson, The making ofthe En-

    :Iisll II'orkinK Jass (pu blicado em 1963, ma s tradu zido pa ra o francs ap enas

    ( 1 1 I 1( HH), qu e evitava part ir de um a definio pr -c on strud a (ou q ue se su-plllllla a' 'iw) da classe operria para in sistir nos mec ani sm os da sua forma-

    \,.1 1 1 ,1 1 .Foi ta rd iamente , a partir de in iciativas a prin cpi o iso lad as , 17 que pou-

    ('O :1 pO li 'o s' imp s a convic o de qu e a an lise no pod ia ser fe ita apenas

    1 1 1I 'rm os le dis tribui es , e iss o p or du as ra zes pr incipais qu e se de ve di s-lill)'lli r m 'sm o que em part e elas interfir am mut uamente. A prim eira rem e-lI' dO prol I I a, h m ui to coloc ado, da natur ez a dos crit rios de c las sificao( 1 I1 (Pl ' s' l ase iam as tax in omi as his tr icas ; a segunda tem a ver com a n-Iil/, , da Ia b 'I mais recent em ent e pe la hi stori og rafia ao papel dos fenm e-

    1 1 0 ', d ' illl 'r-relacs na produo da sociedade .1 8

    N I1 I1 1 'aso e noutro , a es colha de um enfoque m icro-h is tri co tem1 1 1 11 1 1illlportJ ncia Iccisiva . l'btand o-se da nature za d as categor ias de anlise

    dll , 'm 'ial, " 'om cert eza no nve l loc al que a defa sa gem entr e ca teg ori as ge -1 1 1 ' 01 1 'x >g 'nas) c categ ori as endg enas m ais marcad a . H muito reco-lillI ,ido , o I roblcm a tornou- se m ais se nsvel nes tes l t imos anos devid o

    iIlilll Il('ill I' I roblemt icas antropo lgicas (es pec ialm ente da antr opo log ia1 1 1 1 1 1 1 1 1 1um 'ri :an 'I), que se exerceu pr eferencialmente sob re an lise s loc ais.

    N llo ',Ih ' IIq ll i nt rar nos pormenores das solu e s esboadas . R eg istrem os1 0 1 1\'1 l0S qu ' o balano des sa rev iso nec ess ria (e qu e a li s no terminou)

    ( 1 1 1 1 I1 lJ ;UO , S 'm IL lvida ela to rn ou po ss vel um exa me crtico da uti liza od ' 'I I1 ~ I ios ' Ic recortcs cuj a pe rtinncia quase semp re parecia in discutvel;('1 1 1 [l'lld " por outro lado, a encorajar um relat iv ismo de tipo cul tura lista qu e

    1 1 1 1 1dos '(" iI 'OS tcndcn ,i ais do "g eertz ism o" na hi s tri a soc ia l.

    1 10hilw,lIi1 1 ', '1 '1 1 01 1 1 1so n, L:I (onn:ltion c/e (:I cI"sse Olll/fiefe ilng/aise (P aris, all im ar 1/11 1 1 1 1 ,II)H H ; I '(!. : Lond res, 1963) IN. do T: trad . br as.: A (onn";/o C /" '1"8s' op r;1,.i:l11 /1 '1 r'1 1 1 ,IUo d ' .I i1 n 'ir'O , ;1 " . 'I"rr:l, 1987 1. I 'm br 'mos qll t: O t:Stll 1 0 d' 'I 'honq so n s '1 1 1 1 1 1 1 '1 '1 1 \1 1 \1 1 1P 'rsp ' '(iv :1 rna 'rosso 'ia!.1/ (:II II\1 0~ , pO I 'x '1 i\1\lo , 1 11 'S(; d ' I\li '1 1 ,1 1 , P 'rr O l, L 's O llvri 'rs '1 1/; 1 ' v ': 1 '1 ';1 1 1 " IH7 1 -IH il l) l'III1 '" lllli 'IS il\d 'I,ilk III ""IV i(' d I~ 'p lodll 'liO lld 'T lIl. ', ', I

    d ll'l p lo ld('llI li('I II' \' dO~III\('llldo , d(' 1 1 ,1 1 1rlI lo ~ IIH ,' illl" llic I '1 I! Il' I, dlll, di,

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    l iplinas.20 Ele me parece ser portador de vrias rede finies cuja importn-via no pode se r d espreza da:

    Rcdefinio dos pressupostos da anlise scio-histrica, cujos pontos prin-'ipais aca bamos de mencionar. O recurso a sistemas classificatrios basea-ti s em critrios explcitos (gerais ou loca is) substitudo na microanlisepela dec iso de levar em considerao os comportame nto s po r meio dosluais as identidades coletivas se constituem e s e d eformam. Isso no im-

    pli a que se ignore nem que se despreze as propriedades "objetivas" da

    I opulao estudada, e sim que se as tra te c omo recursos diferenciais cujaimp rtncia e cuja significao deve m ser ava liadas nos usos sociais delple so objeto - ou seja, em sua atualizao.

    I~ 'defi nio da noo de estratgia social. O historiad or, c on trariamenteao antroplogo ou ao s ocilogo, trabalha com o f ato consumado - com"aquilo que efetivamente aconteceu" - e que por d efinio no pas-

    ~ v'l de se repetir. excepcional que as fontes aprese ntem por si mes-IlHIS as alternativas, e mais ainda as ince rtezas com que se defrontaramO~ alores sociais do passa do. De corre da um recurso freqente e amb-

    1',110, n o d e e stratgia: muitas vezes ela serve para su bs ti tu ir umahi-p )1 '~ ' funciona lista geral (e que geralmente permanece implcita);,i1)'.tlmas vcz es ela serve para qualifica r, de maneira mai s prosa ica, os

    VOlllportamentos dos atores individuais ou c oletivos q ue f oram bem-Stl-\' di los (c que em geral so o s que conhecemos melho r) . Nesse ponto, apo~lllr:1 lecididamente antifuncionalista adot ada pelos micro-historiado-

    I'~, ri 'a de significaes. Levando em conta em suas anlises uma plu-

    11IIitla " Ic destinos particulares, eles procuram reco nstituir um espaotios I)Ossveis - em funo dos rec ursos prprios de cada indivduo ou

    d' ':1 1:1grupo no interior de uma configurao dada. G. Levi sem d-

    ida qll 'm foi mais longe ne ss e s entido ao reintroduzir noes como asi1' 1'1':1'asso, de ineerteza e de racional idade limitada em seu estudo das1','11111~ 'ias familiares cam[ oncsas desenvolvidas em torno do merca 10

    d,1 1 'rra no s ulo XVII.21

    '111\1 11\(1qll' 1111\1I':IIl:lIho '01110o ti M:II" I\b'l S sob!" as I'ormus . os 111'':1I1islllOSdilpllllll 111(1( 'ld11,110'1,111\,"l'Olll '111pOlnl1'i1- .lIIIII'S r/lllllllli//s (' 11 WJ, /ir!lllllltl/:i' IIII/i,ill'"1 /'1 1 1 1 di /,111' "li '111 /illll\",i, (1',lIi ,n, ,1a('oll, I1 1111

    I\"a "m trivial, na csca la da nao faz-se histria nacional; na. 's '111:'11111ti,rai'.-~ hisrria 1 0 ai (o quc, em si, no implica uma hicrarqllla li' IIIIJlIII1.111'ia, 'sP' ia In 'nt 10 I ont0 de vista da h i 'c6ria so ia\), O\), '('I V\1I1:1"11l1 li v 'I do 'ho", a histria " um onjllnco so ,ia I apar '111 '111 'liI( 'Idisp 'I'~:I 1l11111il11irfa I' I' a 'onl ' 'im 'ncos min(ls '1110S, lif'f' 'is ti ' 0'1.', III~'I.iII. '011' 'p\': () Iralli 'ion:11 da 11101\{)gral'ia pro 'IIra faz -10 ao ~: \lllti)llll

    1'11111111:i1t:i'1I \1 'I iri '11\'\o 10 ':11 < I !lip li 'st's ' (\ , r 'SII1I:I(\OS g '1\11" () 11,1IlItlllo tk ('0111' '11I .l1i/,1I '1\0 1l\(tilipl.l Pllllic 110 P '10,' 111i '10 !li, IOli ItllIl

    "I: 1,'\I,I)III'IIIIIIIiIIlIlI\',I' '(1 ',1 1 1111111"1111 1"llIllIldll/\ 111/111111,1 1 1 1 , ,li '1 1 '1 1 1 IIHi.

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    Pllf'l' le premissa s muito diferentes. Ele afirma, em prim eiro lugar, que

    ':I Ia ator histrico participa, de maneira prxima ou distante , de proces-

    ,'O~ - e portanto se inscreve em contextos - de dim enses e de nveis

    variveis, do mais local ao mais g lobal. No existe por ta nto h ia to , menos

    ui 11 Ia opos io , entre histria l oc al e h ist r ia g lobal. O que a exper incia

    I ' 11m indivduo, de um gr up o, d e u m espao permite perceber uma

    lll) lulao particular da histria global. Particular e original, pois o que opont de vista micro-histrico oferece observao no uma ver so ate-

    l1ua Ia, ou parcial, ou mu tilada, de realidades macrossociais: , e este o

    S /!:llndo ponto, uma verso diferente.

    guerra, a difuso da cultura escrita, a industrializao, a urbanizao, '11( I 'muitos outros.

    Esses fenm enos so extraordinariamente compl exos, como se sab " 1ital po nt o q ue na maioria das vezes imposs ve l para os historiadores I '1ll;11cal ' seus limites. Ond e c essa a es f era do Estado, onde o s ef ei tos in 1II'I,idwi

    pelo t ra balho e a p roduo industriais, onde aqueles de que o livro 6 I Ol'llldor? Quando os descrevem, os historiadores podem portanto hesitar qllalllll

    sua morfologia, quanto descrio de sua articulao interna. Mas 6 SUr'!)1('ende nte notar que sua eficc ia, ao menos tendencial, qua se nunca ' po, 1,1em dvida. As "mquinas" do po de r s e autorizam por si mesmas e so ri ,ientes precisamente porque so mquinas. (Seria mais correto diz r: '\a,' 'liso eficientes aos olhos dos historiadores porque eles a s imaginam como 111,1quin as). Tende-se portanto a procurar na regulao da prpria mquina 1i ('Xplicao de seus desempenhos, assumindo-se ingenuamente uma iel 'Ollll',i I

    Ia racionalizao e da modernizao que p er tence ao sistema que S' aS,11miu a tarefa de estudar . Q uando muito, procura-se identificar aqu 'I 's '1111parece terem -se oposto a essas grandes transformaes, que se cmp 'nilal 1111

    'n denunci-Ias e em bloque-Ias em nome de valo re s s ociais altl:1"I1111iVII

    S 'm dvida no foi po r a cas o que a mesma gerao intelectual '111 ' llil (I:lnos solenizava os aparelhos do poder foi tambm a que mai " '1)[11 . ii!

    II)OU pelos marginais, pelos rejeitados, pelos alternativos da hisl )ria, 11

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    pl illy; o cm todos os nve is. importante aqui ser bastante claro: os historia-dor 'S , cm sua mai oria , trabalham com soci edades fortemente hierarquizadasI' 11 : )-igualitrias, nas quais o prpri o princpio da hierarquia e da desigual-1:1(1. cst profundamente interiorizado. Seria ridculo negar essas realidades

    t' ringir que a s o peraes que acabamos de ci ta r - c ir cu la o, negociao,lpropriao - podem ser p ensadas fora desses efeitos de poder. Ao c ontr-

    I io, 'u gostaria de sugerir aqui que elas so inseparveis deles e que foram,

    d ' ralO, maneiras de compor com os poderes; mas tambm que elas deforma-I :11)) Os cfeitos dess es poderes, inscreve ndo-os em contextos diferentes da-

    lIll 'I 's que originariamente eram os seus e subm etendo-os a lgicas sociaisplilli 'ulares,

    RctOmemos o exemplo do Es tado monrquico na Era Moderna, VistodI' I lIris C d e V ersalhes, ou de Berlim, ou de Turim, ele se apresenta como

    1111\a 'SI cie de v asta arquitetura cujas formas no p ar am d e se desdobrar,d' s ' ram ificar, at p enetrar no mais fundo da soci edade que ele enquadra e1 SIIII1 " 1 \ realid ade , bem o sabem os, um pouco mais comp licada e menos

    il.lllllOniosa, No nvel dos fatO s, as instituies se sobrepem, entram em

    11111' )rr~ncia, s v ez es s e opem umas s outras; algumas j esto foss iliza-

    11 I I))as, segund o a lgica do Antigo Regime, geralmente so substitudasI 111 por isso serem suprimidas, o que pode de te rminar embaralhamentos

    111 '(lli ':tv 'is de autoridades, de competncias, de g estes); outras esto empl, li,) tI's nvolvimento, seja porque so mais recentes, seja porque so pro-

    \', (11111111'nl 'as mais bem adaptadas a uma determinada configurao da so-iIi dlld .. I\in Ia assim o pensamento do Estado, aquele que tiveram a seu11' P 'ilo S 'IIS [ romotores dos sc ulo s passados o u q ue tm os histOr iadoresIloi " 11111pensame nto global que, mesmo nas hesitaes, ,nas contr adies,11.1',1I1 IItlan 'as dc ritmo, reconhece u m nico grande proc es so e m a o atra-

    1'1I' Ips s' ulos, Quando se fala do cresc imento do Estado e se tenta darlIlll.I II/IIIia '50 aproximada de le ( a famosa "pesagem global" cara a P . Chau-

    1111),11m 'x 'mp l medindo o peso do sistema fiscal pblico, ou o nmero de11111t'iollrtrios, ou os progressos quantitativos da justia real, est-se pensando1I1,. Ii pil l'Lir 10 modelo do cresc imentO econmico, afirmando que um

    1 11 lIIIl"IIO n(l/1'l 'ro d indicadorcs se lecionados permite explicar a cvoluo(Olljl ll\lll d' 11m sisccma que scria a um s tClrlpo contnuo c intcgr'~do, cr-1IIIII'III l' 'l\1 ilis I 'li -::Ido t 'ntar uma mcdi Ia cm tcrmos de ,fi '1 'i'l: mas1I111111do:1 I' 'Ial () 'nrr' O nn '1'0 dos funcion{)rios I (1I )Ii 'os o n(lI')') '1'0 da

    II'IPld I 'i o J"oi>:lIl 'nd' a alll11 'nllll', a' 'ita-s - qllas' S '1\1 dis '1II i r lill' I' 'sllllaIil 11111:1,li 'ikia Illaiol, 1':1\\ ,odas 'ssas op 'I'a(;( 's, 'lIl lodo 'il,'O, Illir lllll-s'

    1(11110011 i I I ('xisl Il('i:1 d' 1111111IIJ'it'11 ('OII\llI ll 1111 ('IllIil'iellli 10 ('Olljllllll tllleli 1111 1li' 1.1 ' (',', tio I ': , Illllo,

    (), II, IIl1d I I 1I1 (1111 ' ('('1111 ,'(' '.I' 1('IIII III'illl I1 'li 1111'1" (111'.1 11111111

    tI"1 I lllllilllIIlIlIIlILIIII,d'l 1111111111111"11111111 IlId(1 111111I1tllll'l"l

    produzida a argumentao ideolgica que o subtende ), sese mudar a es ':":1

    de observao, as realidades que aparecem podem ser muito diferentes. Foi

    o que mostrou recentemente Giova nni Levi na pesquis a, v ria s v ezes icadll

    aqui, que fez sob re uma comunidade rural do Piemonte, Santena, no fim do

    sc ulo XVI I, Que acontece quando s e o bserva o process o de constru10 10

    I~stado "no nve l do cho", em suas mais longnquas conseq~ncia5? ( ,

    grandes movimento s do s culo, a afirmao tardia do Es tado absoluti 'ta l\llI iemonte, a guerra europia, a com petio entr e as grandes casasaristocl';l i

    'as esto presentes a, claro, mesmo que seu ras tro seja recuperado por i11

    I 'rmdio d e um a p oei ra de acontecimentos minsculos, Mas , atr avs d '~sn iIi ontec imentos, precisamente uma outra configurao das relaes enll' ' o

    rorte e o fraco que surge.

    Poder ia ter sido tentador reduzir toda e ss a histria das tens '~ q 1i

    01 em uma comunidade perifrica s exigncias insistente s de um 'Ib~olll

    lismo em pleno desenvolvimento. Mas a cena tem m uitos outros parti iP:11I

    1 '~, Entre Santena e Turim se in te rpem e interferem a s p retens( 's di

    (:hieri, cidade mdia e que quer se fazer ouvir; as do a rcebispo de 1lHim, di

    (JlI 'm d ep ende a parquia; aquelas, rivais entre si, dos principais feudat:'l ill',

    do lugar, que faze m q ue sto de a firmar sua pre eminncia. A prpria ~o,i 'dll" ' ai le se decompe, se fratur a em fu no dos interesses diverg 'nl s do'

    ",111) )05 particulares que a constituem, Esse s a tores coletivos s -nrr '1111111 1,

    111:ISrambm se aliam ao sabor de possibilidades que so elas mesmas 111I11.1,js. I\s frentes soc iais ( e "polticas" , se se prefe rir ) no param Ic S ' (k,',11

    1'111 'para tornar a s e f ormar de outra maneira, Foi precisamente mllll ipli('i,1.1(\, do' interesses em pauta, compl exidade do jogo social, CjU' 111 I/1f1li' Sant 'na deveu, durante a segunda metade do sculo XVl I, :1 ('11"1111

    '1l1 ,tiva le perman ecer um paese nascosto, mantido como qu' a s:1I I1 (LI

    /',lllil I 's 1 anobra d Es tado central. A neutr alizao recpro 'a da,' (','11111

    / ' , i \ , ' li11' visavam a ai leia, e tambm a inteligncia poltica Ias 1'1''111 (" 111

    lei,' p )(1 -I faz I' entenel r e se estado de coisas; ma s tambm I od . I'U/, I, I 11

    11,'1)('1d ' 11111n 'gociad r x epcional, o notrio-J odcsCil iulio ~ 'Slll ' (:11111 ,

    '!"' I' 'illOIl -11), ant 'na dllranc 40 anos: foi ele quem ~oub - lirar plll 1111d 'li ('onh' 'im -nlO f nrimo Ias r -dcs ~o iais, d sell lomfni() da illll Ill1l1l

    Il lilo 11' - 'Ss~rio I S 'strar' rias fll l i liar s - - da m -mria '01 'I i I plll II ill'lHlI ('onlO IIJ Il 111-diador ohri 'ai lrio no int 'rior Ia 'ol11lln idlld'" 'il',ltill

    1 111 ,1111'111 ', ,I, 11110'. 'slW 'illlll\ 'llI . I'i 'o ' " 'li 'Slatlllll pt'ol'is,'ioll d II"d I

    11 1I1 ti' X(' 'I)('iolllll. 1 ,;1 ' 111111P('II '11(" 110 1I11111do(\0,' pod '10,'0,' 1(' 'ollll( (I

    dw IIi 1I POtl 1

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    Se m d v id a o notano Croce um perso nagem fora do comum, e

    (pi ando ele desa pa rece, n o f inal do s culo XVII, no alis su bstitudo. San-I 'na sai ento da sua semicland estinidade, a gesto loca l do s pode res se de-

    ,'lIgrega e, aprov eitando-se de um a cri se a um s temp o econmica , social epolft ica, o Est ad o ce ntra l retoma os seu s d ireitos (ou a o menos um a partede -

    I 's). D e toda forma , se pre starm os ateno, os arquivos fazem apa rec er um

    'ran te nmero de sses pe rsonagens qu e, dese mp enhando o pap el de medi a-

    dores, regularam , limitaram, ma s tam bm abon aram a co nstru o do Es tado.N 'm t od os pu deram ou q uise ram subtrair seu grup o de pertencimento l-Vi 'a 10 po d er c en tral: m as trabalharam para compor osinteress es loca is (e'I) prim eiro luga r os seus prprios) com as exigncias deste , com as suas pr-

    I i 'as, uas instituies, seu pes soa l. 23 N a verd ade, a escolha no alterna-

    I ill:1 ntre du as verses da rea lid ade histrica do E st ado, um a qu e seri a

    "llIa '1'0" e a outr a "micro", Uma e outra s o "verd adeiras " (e muitas outras

    Il lllis m nv eis intermed irios que se ria conveniente recuperar d e mod o e x-p 'rim mal), e nenh uma rea lmente satisfatria porque a constituio do

    I':SI:I 10 moderno pr ec isament e feita do conjunto d es ses nve is, cuja s arti cu-1,1,'0 's aind a prec isam se r id entifica das e pensadas. A apos ta da anlise mi-

    t'/ossO 'ial - e sua op o experim ental - qu e a ex perincia mais elemen-I 11, a do grupo res trito, e at me smo do indivduo, a mais es clarece doraIlll lljll ' 'a mais comp lexa e porqu e se inscr eve no maior nmero de conte x-111'1di r'r 'nt es.

    tin ta f osse gasta. Ele e xerc e o fascnio dos c on ce ito s q ue s e go staria d ' JlOder u t il iza r se ao menos sesoubesse defini-Ios exatam ente. Dev e-se li '1' 11 0"exce pcional normal" um ec o, i nteiramente conso ant e co m a sensibili cla ! t-

    dos anos p s-1968 , da con vico de que as ma rgens de um a soc iedad ' tiizem mais a seu respeito d oque o se u ce ntro ? D e q u e o s lo ucos , os mar!')nais, os doentes, as mulheres (e o c on ju nt o d os grupos dominado') ~f() li,letentores pri vilegiados de um a espcie de verd ade soci al? Deve-se nl '/1

    d-Io n um se ntid o d if erente, o de um distanci amento significa tivo (m fls d 'qu? )? Ou ainda como uma primei ra f o rmu lao do paradigma indi i. rio,n,a is tard e prop osto p or Ca do G inzburg?

    d if c il d ec id ir e nt re essa s diferent es leituras poss veis que tall l"I, I 'nham coexistido no pens amento deGrendi, Podemo s, prudentemel r', pl ll

    I r um a leitura suplementar qu e parece ser coe rente com as pr IOS i\l 'ant eriormente enunciadas, Grend i reflete a p ar ti r de modelos d anrtlis(' ,'o'ial u t il izados pel o s h i st or iadores e qu e so , em sua maioria, mo I 'Ios .'11 11

    'ionalistas, baseados n a i nteg rao do maior n mero de trao s, 1 \ 'Oi1ll' ,

    II"C muit os deles res istem a es se trabalho de int egrao; const itl/'111 'X' '.t,'( 's que nos habituamos de bom grado a tratar como "exee 's" 011 ('O llll)

    "ti 'svios " em relao norma que o hi storiador estabel eu. 1 \ I ropo, it,'llnd' rendi, que iri a ao enc ontr o aqui da reflexo inaugur ad a p ,10 :lIl1/'OJl do1',0 F . Ba rth , seria eonstruir modelos "generat ivos ": ou~eja, mod 'Ios qlll' 1)('1Illil" in teg rar. completam ente (e no mais com o ex e 's 0 11 ti 's io, (I '

    P 'I' '1l rs s e as esco lhas individuais. Nesse sentido po I 'r-s .ia di i'. 'I 1111( 11. I" ." I" 2S" 'x "p lOna se tornana norma "

    No debate que pe rmanece aberto, otraba lho I, (;i(JVlllllti 1,1' i 1I II

    plr ' ,. traze r um ce rto nmero de respost as '11 1' I 'SIO(':1I11 dI' 11 1111 111I 11111 I

    11/',/11 11'l1I'a o, Ele lemb ra em pr im ira Itl ga r

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    sin lular. Testar a validad e do modelo conSistira por tanto no em fazerurna verificao de tipo estatstico, mas em p- Io pro va em condies extre-mas, quando urna ou vr ias das var iveis q ue e le inclui estiverem submetidasa deformaes excepcionais. A con stituio d e u m f ichrio sistemtico pre-ci amente o que torna poss vel uma verificao des se tipo.

    'onvida o leitor a participar da construo de um objeto de pesquisa; el;1 o li~o ia elabo rao de uma interpretao,

    Entre os ins trumentos que esto d is posio dos historiado r '~, 11,1lIqueles clss icos, ou que ao men o s s o reconhecidos como tais pela prol'i':10.to caso do mate rial conceitual, das diversas tcnicas de investi~a~':Io.los mtod os de medio etc. H outros, que no s o menos imporranl ' ,

    I\\:IS sobre os quais nos inter rogamos mais raram ente, seja porque s olJj '111I, uma espcie de conveno tcita , seja porque, mai s simpl esmente, .11111", 'm bvios. to caso das formas argumentativas , dos modos de enun 'Ia ':10,d:ls modalidades da citao, do uso da metfora e, em geral, das man ira~ d,',' 'rever a histria. Toca mos aqu i n um con ju nto extremamente vaslO di'

    !lI )blemas que i rrompem hoje de maneira selvage m, ou pelo menos I ','(lidcnada, nas preoc upaes dos historiadores.27 Durante mui to tempo, " ,I1111'stes pareceram nem mesmo deve r constituir ma tria de intel~rop;a: o,,I ~l'fira da histria era espontaneamente pen sada como o formulam) '~1,1 I(Id,' un trabalho cientfico . Quanto mais ela se tornava cientfica, cons 'qh'1I11'11\'nte menos o problema se colocava. A massa do mate rial anexa 10 dod()('llmentos, e a segu ir , cada v ez mais, de um arsenal em constanl ' 'I', ( I111('ntOele sries, de tabelas, de grficos, ele mapas - parecia garantir :I 11111'1'~lionvel objetividade do enunciado e fazia crer que ele eril o 1'1111111l i " " " v , I (ou, ao menos, o mais prximo do enun ciado pe~fei.to). ~h_'/-',:1V\I ,I' ',il\\ : 1 esquecer que mesmo um a srie de preo s constitui urna jOl'l\\:I til1IIIIIIiva - ela organiza o tempo, produz uma forma de represenl':l: () I11'1' lima n o to comple xa como a de " conjunt~lra", .to pre~tigia \1111:1111\'1110 'r:lfia frances a dos Annales, engloba em seu II1tenor, II1dlSSO !l, 'IIIH 11II1'I',lldos, 11m m toclo de anlise, urna hiptese interpretativa e Ill1l;1l I\till 1iI

    di 1 111 1'1 ' :1 1 '.1)' maneira mais clifusa ainda, a esc rita da histria s - I -r'lill, '1111

    111111,''lll)1r' O sab r, ao modelo clssico do romance, cujo aUIOI'-(1I/',\\1I11tidll111111'(" lomina soberanamclitc os personagens, suas inl '11

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    po~ io ex istentes. Um do s efeitos da passagem par a o " m ic ro" trall~frl l

    IlIar, po r exe mplo, a natur eza da informao e a relao que o hi stOriat!OI

    Il\antm com ela. G. Le vi gosta de comp arar se u trabalho com o da hero Ila

    ti' lima no vela de Henry Jame s intitulada In the cage: teleg rafista tran 'ad ll

    II !'rtS de seu gu ic h , e la rec onstri o m un do ex terior a partir das miga lh as d

    illrorm ao que recebe a f im d e t ransm itir. Ela no as esco lhe, mas tem lIll '

    pro uzi r i nteligibilidade a partir delas . M as a par bol a tem l im ites qu 'illl\lortante marca r: pois o que di stin gue o historiad or da teleg rafista de .l~Il ' "

    I' ql l ,sendo to desm uniciad o quanto ela,ele sabe que a sua informa : o (

    IlIllll esco lha dentro da realidade que lhe imposta, qua l ele acres l1la t.

    li IS pr prias escolh as . De ssa sri e de vieses sucessivos , ele pode tentar 111'

    t i i I ()' efeitos , e tir ar deles as ne cessrias conseqnc ias .

    De toda forma, vista de muito perto, a im agem no f cil de L I . i 1'111

    11I1(,IP te. Ne ssa profuso de detalhes , o que e o que no imporcalll .? ()Id~I!ori:ldor se v ent o, par a passar de Henry Jam es a Stendhal, na posi, o dI

    hd)d 'io na batalha de W aterloo, na Carwxa de Parma: da grand hi sl lIill

    Itil i mplesmente da hi stria - ele s con segue perceber a desord 'm. ;. I/I

    \'1 ~ . in t rrog ou, na abertura de seu liv ro, "sobre o que e sob r o lIll ' Iltll

    111\lol'llln t qu and o se escreve um a bi og rafi a".30 Na orga niza o I' S 'li I ,,11,1,IIIIH 'II I'OIl em seguida a comp os io mais ad equada para dar 'ont ':1 d ' 1111\11VI

    d \,.1 10 'ura Giovan Batti sta Croce, que s conh ecem s por Ira 'Ill 'rllO, I

    llill ,') a Iluir e sentido por sua inse ro nu ma sri d 'onl 'XIOS d 1'1'1'1 11

    1 li' l's 'ontnu os . A esco lha de um modelo narrat ivo - 011 , III ti, "111111 1 1I

    11 positivo - tambm a es co lha de um mo 10 I, '0111 1 'l'il\W lllll, NI I I

    1 IlI ido, no - indiferente que tenh am si 10 v -lhos f I1 '1'0,' lti, IlI"ll)',1 lill li '

    1 I 11111',1lICi ll, O r -lat do acontec im entO - '111 ' S' 101'11111111 11,d I 1111111ill 1"1 111I' II!.I, lIhj '10 io 'l':lria .2 R

    problema es t hoj e colo ca do no n v el do "mi cro" . Nada impede ,

    '\lIro, IUC seja coloc ado em outr os nv eis, em outras dim enses da pesqui sa

    hisl lri 'a, como o exemp lo de Fern and Braud el acaba de n os lemb rar .29 N o

    roi 'ontu 10 po r acaso que algum as obr as da mi cro-hi stria desem penharam

    111 11 papel determinante no surgim ento de ssa preoc upao nova (ou mais

    'X II!:aIT lentc renovad a). A mu dana de es cala dese mp enhou, com o j se d is-.. " () I apcl de um estrangement, no senti do dos semitico s: de um estranh a-

    111'1110 -m rela o s ca tegorias de anlise e aos modelos int erpretat ivos do

    d i,' '1II 'SO histOriogrfico domi nante; ma s tamb m em relao s formas de ex -

    '11Holl 'rio Z:lpp -ri, A lltli/):I1 ' arm ci. Ricm ro (/i arcisra da !!i IVUtl . ('Ibrillf>, Ein lllldi ,II)HI)

    "1 1':1' iloj' '~l. ('010 'lido 1111Fr:1I1~':1110 II(V ,I d ll ilisl ria 1111'iol1l1l 111111\11'~\'111i1d Tidid lllll '111 ' 11111('1'0Ili, I lil'll, 1\11',II II1I1~h:r1i~,:ISpoli '11 ' ~ 'I' \'III'Ollllldll" 1111\. 1111' 1',11i I c", 1,I{ \I 1 \'d ll" PI (,('lI lllioll, ill/lisloit"(/('/u/'I/I/,('r'.I.I, '/I'SI'II('(/II//I\ ,l/i,\ 1\lllill,,' , r il , 11H I)) ,I' (I ' 1 ; I, , 1'(111111 111111,1111I', NOI I, :0111 1;1'11 1 'I'dll 1'''i'IIIIOI d i 11111111', 111I', NII III(Iri" 1 1 "/1//\ 111/11" '1111 11 1 1 1 I '\1"'1111 1'(',I ,'nnl/ll\I'( )11/1/1/'I 1\111 1,(lIIIII/llIlId , 111')' ,I' 1I \'

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    \'1 ic,:,() com base na e vidncia, o encadeamento das causas e dos ef ei tos etc.

    qllC acontece com os objetos que o h is toriador se atr ibui?3!

    Eles se tornam objet os problemticos. Uma experincia biogrfica, a

    10 pa Ire Croce ou a do pintor Annibale Carracci, pode assim ser relida como

    11111 onjunto de tentativas, de escolhas, de tomadas de posio diante da in-

    , 'rI' 'za. Ela no mais pensvel ape na s sob a f orma da necessidade - esta

    vi 1 : \ existiu e a morte a transformou em destino -, mas c omo um campo de

    po~~ibilidades entre as quais o a to r his trico t eve de escolher. Um aconteci-

    III ")to coletivo, um motim, po r e xemplo, deixa de s er um objeto opaco (uma

    ,'illlpl 's lesordem) ou, ao cont rrio, sobreinterpretado (o acidente insignifi-

    ('111" " mas na verdade sobrecarregado de significao implcita): podemos

    1 'Il[c\r mostrar como, na des ord em, o s atores sociais inventam um sentido do

    IJlI:II tomam simultaneamente conscincia. A escolha de um modo de e xposi-

    ,'lio pltllI 11I "111111111,11111I '1IIItll,IIIIIIIIIIIIIIII"" I

    rllI 111/.11111"111'11111d' IIII( "li hlllll.lll ",1111 1111I \1111I, til" 1111111111111'111I 1111li 111111ti 11I I

    1111111,pl 11'01pllll" "I i 111111'1111111111111,I 11 ItI" 111,ti 111, 11'1' 1111" I 11111111'111111111"1111111"11'1111111',"11", I'" \)\111\11 111,/11/1/1111/11/1 11111/11,11/1111//111111,1'111,11)\111,1111')

    I ~ J t111'1:.Ili1I1,llIil, 1 11111111\"11(/I/{III/,"IIIII ," {,li, \ 1I 'I/ 1/111111111\/111/111i/1i)'1 1 11,\ /111111,/

    1/'111'/111/11 i1i1I/i1illl/lii'IlI', III~IIII!I I' 111 0 1 , ,,11111( 111111111,'lI! ',111',11111" 11111

    (:IIIII1I,tI, I'!ti \ l( 1 1'111 III!I ti I 1 1

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    'illr dess es gran de s a fresco s, a firm an do q ue o fa to so ci al , e msua especifici-dll I" escapava s l im i ta es d o te mp o e n o p od ia a ssim s er c on fu nd id o'om um fat o h is t r ico. Na antropologia, a ruptura foi ainda mais radical

    qll (lndo Ra dcliffe-Brow n e Ma lin owski opuseram explica o histric a aanlisc fun cional e sincrnic a que atribua adive rsidade da s s ocied ades con-'r 'tas, entendidas com o tot alid ades, a princpi os gerais e perm anentes : a'(l 'so soc ial, a sati sfao d as necessidades biolg icas,

    Se m dese mbocar numa reflexo to generalizante, a hi stria, por se uIa 10, viveu na m esma p oc a u m m o vi mento comparv el, quando Simiand 3

    'ri, i ou o estud o das singularidades insti tucionais, dos acon tec imentos polti-'os ' los personagen s mais marcantes de um a poca. O int eress e pelo co ti-

    di~lno, pe lo numeroso e pela longa du rao - credo da escola dos AnnaJes

    ab riu caminho para um a aprox imao entre a hist ria e a antropolog ia. Oid lio onhec eu seu s melhores dias aps a 11 Gu erra Mundial com o desen -vo lvimcnto conjun to da histria e d a a nt ropologia estruturais. O en controdlls luas disciplinas , quando a lon ga durao se eterni zou na estrutura, per-111;ln 'ccu contudo problemtico. Assim , s refle xes de Braud el sob re a "his-, )ria i n 'onsciente" e o "temp o es trutural", concesses tericas extremas qu eI hist ria poderia faz er antropolog ia,4 respond eria a lacnica argume ntao

    d - I,'vi- tra uss:

    Na me dida em que a histria aspira significao, ela s e c ond ena a esco-lher regies , po cas , grup os de homens e indivdu os dentro de ss es grup os ,. a faz-Ios des taca rem- se, como figuras descontnuas, de um co ntnuo

    que po de apenas servir como pano de fundo.5

    Mas os est ruturalismo s antr opo lg ico ehi strico, qu er procur ass emIdillr-s -, q ler procur assem di sting uir-se, lo go s eriam descartados, sem que a11Ii', () ross dada a nenhu m dos do is,

    Na antropologia, j em 1961, Evans-Pritchard anunciava a necess ida-

    d - d - um r - urso hi stria: "No vejo diferena cap ital entre a histria so-

    I I': ,'i111i llll d, M 'cli dI.: hiscoriqu e ec s iencc sociak , J(l,;v//1,; 111,;, ynrh \s' llisroriq// " I( O ,11 d. ill/llllllll's h',' " 15(1):8 .119,1%0).

    I 'I ' ",. I I' '( I ")11 11"lISS II'1, '011 1 'xcr '(I II1Spr ' ',IIl 'S: n~ Ingll:lg '1Y1< : t llSI rlll 111 '01110il 1"1 [11\"10,IIh lllc'lllI l '11 1' 1110 pOl i' 'x i,lir sill '!'l) lIi ll P 'rl"il ll": I': Ilrllll(l-I, Ilisloir . I-I SI'i 'Il("~ SIl('i'l-1 i 1 1 h, 111111',11 1-dlll " 1 I/)lIlc,\ I;S :, 1 .1 (.1 : 7 .. . 1, 1

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    " 'rvas em relao a uma das importantes correntes d e pensa mento de sua dis-'ipli na, prefer i t en ta r most ra rde que mane ira as implicaes a me u v er m ai s

    1 " '11ndas da micro-histria pod em alimentar u ma c r tica con strutiva da antro-

    pologia tal como ela ai nd a praticada, principalmente na F rana, apesa r daobra pioneira de Victor Turner,12 das proposies (por certo amb guas, cf.

    ;11 fm p. 64) de Clifford Gee rtz, dos trabalhos da escola dita "de Manchester"ou ain Ia das pesquisas francesas que leva m em considerao a reduo ou a

    I11l1dana de escala.13Os dese nvolvimentos mais at ua is da antropologia podem serestimula-

    los pela ateno marcada que as pesquisas dos micro-hi storiadores tm da-

    (\n sobretudo s noes de contexto, de temporalidade, de esca la e de

    sll1bolo; essas noes, referentes a um s tempo ao mtodo e teoria, pro-vo 'am necessariamente um percurso episte mol gico em espir al pelo qual seVO IL:l mesma questo mas to mando-a num o utro nvel ou sob um outro n-"Ido, Para conduzir um a tal reflexo, base ei-me em exemplos diversos, a

    1)laior parte dos quais fo i tirada das minhas pesquisas no oeste rural da Fran-

    ll sobre tudo n o s ul da Melansia (Nova Calednia) .

    "Todo testemunho deve ria satisfazer s condies contr aditrias de que:l testemun ha sa ss e d o grupo qu an do observa fatos sensveis e entrassenova mente nele para relat-Ias." 14

    1\0 fazer da "anlise co m lu pa d e f at os c ircunscritos" um a das tarefas

    bsi 'as d'a micro-histria, Cado Ginzburg desenv olve uma preocupao como I '1:i1h e que pretende remete r as propriedades de fenmenos fortementei'1(\ividualizados s caractersticas gerais do s c onjuntos nos quais eles se ins-

    I (:1'. v . w , '.IlifI1 '1', Schism and continuiry in an African sociery. A swdy ofNdembu \/ilJagel'vllll\t'il 'SI' '1', l\lhinch(;stcr University Press, 1961).

    1\ :il '1l1()S, li titlllo lk (;x(;mplo, G. ndominas, Nous :Jvons mang 1a Fore. Chronique

    "'11 11 " ; 11 11.11.. II/IIOII!! !!:/r, IlIIlIrs pl:lrt;:lIJx c/li \lit;rNalll (Paris, Mcrcurc de Francc, 1957);

    I., 1 \ '11101 ' I. "hlll'ard, ollvil/': IIn I,ill://!. rr:/Il('i1is (Paris, InSliwt d'Ethnol gic.11I .\ : I', ''''i Ili.1Ili, , /l/,I/'i I!:C 1,~;!:,1I1 '. 1111' . ,/,tl/llll1i' ri' J1:'I1('lIill's ('hc% I's UIIII/S c/. flll-I/~ 1',1,1,(,1.'I11l1I1I,111 11I\" I.d', II)H'I); 1\1. 1>'1 I\, .fllllrs 11111 11/11;1/('"('/' ,'jl). 11'''"II)/II!:i no1i."rl'l' '/'//1 1 c / I 1 '1 //( (" //1 '1 111 /(1 11 \,( ; - 1'llIis, n, hl('oh, I I > H I I) .11 1\1 11111 1111 '11111, /,1/ 111/11 11"' 1/,/1/1't l r " {"tlll/il/(' 1'11 I '/11 ' /u'III1, /lflllil lil 1IIIIIIIll'l' 1 '1 1/

    /11 //1 1 (1'1111,1'111', lI/li, I 111 11/11 ,

    crevem . Ele se inspira, para tanto, no "mtodo indicirio"ls utilizado no 111

    timo quartel do sculo XIX por Giovanni Morel li . E~ se histo riado~' da ,111 1111111111111I IlIdll',lrllI I I 11I""r111 11

    I,' (:1 , ,11 lI/li, 'I '111 11111"li 11'11111"""111111,,'li 1 1 11 d 'lltillllld'llIrI I'; 1'1111li d'llIl 11111",li 1111111'111111,I'1 "tll 1 1 1 1 /1 1 " 11/11~n l(ll \I,II)1j1

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    Iorna r cu id ado para nunc a r ei ficar a fal a e m categorias sui generis transcenden-

    1 's prtica, e s im a companh-Ia em sua circulao efetiva .

    possvel ento mostrar, por exemplo, que as narrativas que os an-I roplogos se comprazeram em chamar de "mitos" ,35 m~ito aqum das

    Iil 'ditaes transculturais que podem inspirar, participam de maneira intei-

    ramente pragmtica de um a m icro-hi stria social conhecida pelo narrador

    , por seus ouvintes. Esse "sa ber compartilhado,,36 incessantemente soli-

    'iLado no interior da narrativa por um rico sistema de aluses, de piscade-las Ic olhos e de subentendidos que aq uele q ue estranho "s falas da

    Iribo" no conseg ue e nt en der. O sentido n o p erceptvel do exterior; ele

    s) se mostra ao observador se e ste lt im o ca paz de situar a narrativa no

    t'arnl O das int er lo cues que a prece dem e a s eg uem . Essa d ime nso i nt e-

    r:lliv

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    I ,,40 d' b .( "onte xtos q ue n unca para m e a g Ir un s so re os outr os e com os qualsos ind ivduos tecem cada qu al a sua prpria tel a.

    Enquanto a micro-hi stria permite o acesso pr ese na passada do tem-

    po, cI antropolog ia se instala nu m eter no p re s en te. Para desc reve r as socieda-d 's es tud adas, o "pre se nte etnog rfico" (q ue li mi tarei aqu i ao recurso ao

    pr 'ente gramatical) se afas ta de qualqu er influncia histrica. 41 Devemosa Im itir, com Umberto Eco, qu e os etnlog os so "os jornalistas do eterno" ,

    lU ento sublinhar o que essa atitude metodo lg ica tem de irr ea lista? Corn omostrou Johannes Fabian,42 a escrita da etno grafia no prese nte mascara as

    'ontr adies, as rup turas, os solava ncos da vi da s oc ial e ressalta em troca , po r

    lima espc ie d e d epu rao do rea l, tud o a qu il o q ue, na so ciedade , encerra

    11 m 'arter n or ma ti vo. O temp o im ve l da e tno logia lemb ra oda anatomia,

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    I lido rea l da sociedade, justapondo, conform e a necess idade, inf orm aes ti-

    I li 1:ls de diferentes fases hi st ri ca s d o m un do e stu dado e as regras argumen-

    1111i vas qu e perm item dar con ta d esse m undo, e dedu zir de uma sincronia

    1)[lramcnte metodolgic a a permanncia das es t ru turas .

    Ta is artef at os ( "a lt eraes produ zidas artificialmente porocas io de1111'1 xame de laboratrio,,)46 revelam-se com c la reza qu ando interroga mos a

    variabi lidade do uso dos nome s pr pri os num determinado conjunto socio-'1Ililll'al. Se gundo a boa reg ra, seu leva ntamento et nog rfico nodeve ria ser

    I ,r 'rido aos outros pr oc edimento s de identificao com os qu ais os mem-i)m s da soc iedade es tud ada ev entualm ente j se defrontaram ?47 Por exem -

    plo, a lec ifr ao das orga nizaes sociais ka nak do ce ntro-norte da Nova

    :111, lnia pa ssa pela co leta e a anlise do sistema de n om es p el os qu ais os

    il) livduos , os grupos e os luga res s o des ignados. M as e ss e a pa relho sim b-

    Ii 'o joga do como uma rede d e m a lha fin a s ob re a so ciedade tal com o ela sePl'Oj 'ra no espao conheceu, ao que parece, n um erosos a va ta re s d esde o in-

    ('io tia olonizao oficial em 1853. As sim , o s n omes de f am l ia f orn ec idos Id ll1 in istrao em 1946 par a a con stituio do primeiro reg istro civil melan-

    ~io s~ o em ge ral, mas nem semp re, nomes de anti gos hbitats qu e os Kanak

    I iv 'ram qu e aba ndonar entre 1860 e 1890, sob a presso do s co lonos e das111 ' li Ias de distribuio em rese rvas . Se m dvida, a des igna o das un ida-t i 's ti . parentes co por topnimos co rrespondentes a locais de resid ncia 6

    111 11;1I dtica anti ga . Encontr amos , nos mapa s militares do s cul o XIX, os no-

    111'.' dos luga res retom ados ap s 1946 co mo patronmicos . Mas sua atribui-

    \'\ O a lln a ou outr a famlia e a m a neira pela qual cad a um a delas ju stifica1)()SI riorm ente sua liga o com o top nim o que a des igna parece resul tar I'

    IlIllU inl 'rpreta o kanak da situ ao no pr pri o momento em que o reg istro

    'ivil roi 'fetuado. Na medida em que o sistema social que hoje se pode 1 's -('I 'v 'r ~ inte irament e tributrio da s relaes comp lexas cstabelee idas nl rl'

    lodos 's s 's nomes de famlia, no errado pensar que ele omb ina aheral1

    ';I ti lima soc iedad e kanak mais antiga com a situao criada para os n 1'' si mesma se no se pr oporcionasse os me ios metodolgico s d' f'll'.('1 I1

    I1 I i 'li le suas font es, a f im d e apont ar as mo dalid ades se gun do as 11" 11i , fi

    1I III Iportament os e as falas q ue o bse rvo u participava m de uma evohl~ '1 o hi'

    1/1 11'a local.1\0 no relac ionar os doc umentos com qu e lid a com o SC II '011 1' '111

    d B " ' ,, 48 . 1 '1111 , i '11;IIn O ateso n, com a sua es trutura no temp o, a alul ol o o 'llI 'W

    11 I\lIlol'iza da a no ter qu e di stin guir o atual d o an tigo , pensa po I'r id '1I1i

    1/111 o ~ingular com o geral, o c on ju ntu ra l c om oestrutural. A dis iplin ll Ilpl l'

    I Il tI 'li :lss im o contex to ant es co mo o lu ga r semnti co da repeti l . :dll)lI flll

    I Itlc'i 1 ti . qu e a cultura e a tradi o consag ram a pr egnncia do '(' '1 '11 01('111 1

    11 11,I1 111i 11 Iazia do pa ssa do so bre o pr es ent e, do pr ev isve l sobr I,

    111 11 1'1 ('1i~ ':lo 1)lIl11 a r 'n,pOl'ali lati pr pria, in lei

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    I ' I' 'metid os d eve m ser apreen dido s co mo proc essos. Po r meio d ele s, a c ul-1III'a se tor na u m f en m en o h is to ri za do .

    Ba sta m ul tip li ca r a s p es qu is as d ur an te u m p er o do b as ta nt e lo ng o n u-111 :1mesma re a p ara v er a p ar ec er em , s ob a o bs cu ra d en sid ad e d o co tid ia no ," 'q ncias tem porais qu e p erm ite m su ge rir qu e u m c on ju nto de in fo rm a-

    v ( 's corresponde a um estado do mundo social num a determ inada poca,nqu ela ao lon go d a qu al um a m esm a prob lem tic a se im p s ao esprito d os

    p 'squisado s, A s an ota e s d e "cam po" se inscrev em n um a tem po ra lid ad e'spc fica. P or e xem plo, tod a a do cum en ta o q ue co nseg ui reu nir na N ova;;llednia entre 1973 e 1978 m os tr a-s e i nt eir am en te d om in ad a p ela p re oc u-

    pao dos m eu s i nte rl oc uto re s k an ak d e te re m r es titu d as a s t err as d e o nd ea'ol'on iza o o s e xp ul sa ra u m s cu lo a nt es .50 A s a ti tu de s e a s d ec la ra es te n-

    di :lm a recons tituir o m ap a da ocu pa o k an ak do espa o an terio r a o c on fina-III 'nto nas reservas (1876-90). E ss a f or te e xi g nc ia , q ua l a p es qu isa(lI' 'I' 'cia um m eio de exp re ss o inesp erado , reforav a a au to rida de das pes-

    ,'OllS mais vel ha s, c uj a m em ri a e ra a p rin cip al f on te d es se i nt en so t ra ba lh o. Na1\\ 'sma poca, os e fe ito s f in an ce ir os d a e le va o d os p re o s d o n q ue l a br iam111 iIis amplamen te ao s K an ak o a cesso a o m erca do eco n mico eu rop eu,sem

    '(lI)) isso inse ri -I os n a s oc ie da de c al ed n ia d om in an te . E e ss as c on tr ad ie s'li 'ontravam em desp esas o sten tatria s, n o co nsu mo ex cessiv o de lcool,,'1l1 outras condutas t o p ar ox s tic as q ua nto d es es pe ra da s, s ua fo rm a mais ma-

    II i r 'st a Ic ex travasamento. A ssim , a fe bril ativ id ade intelec tua l d os meusi n-1 ,do 'licores - decidido s a p r tod o o seu sabe r e sua h abilidad e retrica as '('vio Ia recuperao de seu s d ireitos so bre a te rra - se ex erc ia n umau-I ios :1 atmosfera em que sobriedade e bebedeira conviviam perf eitament ,111)) pOli o como nas caves de Saint-Germain-des-Prs no ps-guerra.

    1 es cjo menos insistir aqui na to na lid ad e de um perodo parti cular 10

    !lII ' na nec ess idade, para o etng rafo, dedefinir os mo mento s em que suas

    p ','(I (:1 ',.1 , I )lllIpll 11l, I,/w '\IJlI/llllluIiSIiIIlI'i I{'S/'T' Nu,,\, '//(' ,'II!t dllll!t' 1'lIli ,1,'1111111111111111 ,I '1H I!)

    I l' 1\11111 111111,1 , '1 1 " I dI/I 1'1111 , r - . I 1111I, 1'11/ IN tlll 'I' IllItI 11111/1I,'", li 1/1111\, no1111'1111 111,1\111111111 I , 11)')111

    \11 ,( :lllllIriqll l", li 'N 1I'II Ip ll 111111111111 :1111 dlh 1111 I1 I 111 1111111IlIlIrI, 1'//11/11I I I, 11i(I )o Ij~ ,\, 1 1 )11 1 ),

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    Ildtl, 1 1 1 1 1 1 1 /

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    mas, a fi nal d e c ontas, o que ele fa z m uito mais reve lar uma est rutur a culturaldo que in tro du zir compreenso de um proc ess o tem poral. Sahlins co loca o

    prin cpi o da historicid ade dos sistem as culturais eressa lta a im po rtncia do

    ac ont ecim ent o sem co m is so se envo lver num raciocn io d e t ipo his tr ico quearticularia entre si diferent es seqncias de f at os tempo ralizados.57

    Sucedendo-se no eixo do tem po, os fat o s s oc iais participam objet iva -

    ment e de um a evoluo hi st rica, seja es ta pe nsada ou n o como ta l por

    se us au to res. E stes l tim os , em troc a, conseguem cheg ar his to ri ci da de d osoc ial po r in ter mdio de sua prpr ia e xp erincia cu ltural do tempo. Nesse

    do mnio , a etn og rafia deve e xami nar, junt o comas "representaes" do tem-

    po, os pr o ce ss os s egun do os qu ais o tempo solicitado para trabalh ar a vidasoc ial. A me mr ia, o esquec im ento, o prognstico selec ionam osfa tos so-

    ciais, f az em deles elementos signi fica nt es , e isso de diversas maneira s, se-

    gundo a s c ulturas, L vi-Strauss, entr etanto, acred ita poder es tabelecer que"o p rp rio do pensamento selv agem ser intemporal".58 Mas para tanto ele

    oblitera as f un e s cognitiva s e soc iolg ica s das rela es co m o tem po. Ao

    ex cluir a dime nso do tem po da o bserv a o ernogrfica , a an tro polog ia corre

    o risco de f ica r p risio neira ora d e f ilosofias rg id as da his tria, ora , o qu e no

    muito dife rent e, de hip te se s e str utur alis tas atem porais.Como lembra Giorg io A ga mb en, "to da cu ltura ant es de m ais nada

    um a ce rta experi ncia do tem po, e no e xiste cu ltura nova sem transfo rm a-

    o dessa experincia".59 Co mo es sa ex perincia se encontra alojada no

    mais fun do da nossa apr eenso "espontnea" do mun do, difc il pe rceb crseu carter construdo. sem dvida por isso q ue o Ocidente contempo r-neo tem dificu ldade de obj et ivar su as prpri as expe rinci as e f iloso fias 1 0temp o. Se u etnoce ntrism o nessa matr ia - talve z m ai s a gudo que em ou-

    tros dom nios - o leva a julga r a s o utras co ncepe s d a t empo ralidade co m

    bas e n as suas prprias . Somente uma difcil cr tica das ideo logias modern asI B ' ,60 d'do tempo - na linha das r ef lexes de um W a ter enJamm - po eJ'Ja at '-

    nu ar e s sa c e gu eira e ab rir cam inh o para o conh ec ime nto (e orec onhcc imcn-

    to) da hi stor icidade especfica da s s ociedades no-industri ais.61

    57 Cf. a v igorosa crtica do "estruturalismo histrico" desenvolvi Ia por N, 'I'homa~, ()/l t

    01' rime. J-Jisrory and evolurion in illlrhropologicill discours' ( ,:lmbl'id~ " ::lInbl'id~','

    Univcrsity Prcss).sx . Lvi-SII':II1SS, Ilisroir' 'C diait:cciqllc, p, 341,

    S'I C, t\g:llllb '11, JinJiul('c '( IIisroi, .c, J

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    n ( 'l11pO jamais neutra, assim como no o so os usos da inform a o f orne-

    ('ida a o etnlogo; os Kanak mobilizam, com efeito, intelectual e afetivamen-

    1 " IIITla constelao de relaes mais ou menos profundas com as coisas

    passa Ias, atuais ou previsveis.63 Assim, a antropologia no pode apena s se

    IlIribuir como tarefa descobrir as "representaes" do tempo; ela deve tam-

    I m most ra r em que medida o s mo delos da temporalidade precondicionam10 Ias as informaes recolhidas ao longo de uma pesquisa.

    Esse enquadramento numa perspectiva temporal, ou seja, essa imer- lona temporalidade tanto do "indgena" quanto do etnlogo, tem como

    l'l' 'ilO principal tornar di fcil a uniformizao e a imobilizao da viso do

    1I1I1IHJOsocial. Sempre hipottica, a norma se apaga diante das singularida-

    (it-s luando a pesquisa destaca o modo pelo qual cada u m cria o aconteci-

    III '1110, assume a durao e tenta mudar o curso das coisas em seu prprio

    I > '11 r r 'io. rlda concepo historizante da antropologia, ao restaurar a origi-Ittilida le do "presente passado" (do passado enquanto ele foi um presente),

    I '.'s:ilLa a fora do acontecimento e o papel determinante das individualida-

    d 's liuc nele participaram. Mas preciso, para isso, renunciar a toda genera-lida I,?

    s cstudos micro-histricos nos do uma conscincia aguda do tem-

    po '1Ir>, aquele que os homens acionam efetivamente em suas vidas. EmIlot'll, . tambm o peso do tempo longo que desvendado, porque muitas

    d.I,' I'ormas que os atores integram ao seu prprio presente se encontram

    1110111r:1S pocas e mesmo em outros lugares. Por exemplo, enquanto os

    111(Il' 'ssos por bruxaria se desenrolam numa urgncia inteiramente poltica,

    I, I'allls (PIC neles so pronunciadas reveJam crenas, idias, imagens qu "

    Itlllllpassam os momentos em que so proferidas. por isso que, em sell" Illdo sobre Lc sabbat des sorcieres, Ginzburg levado a constatar qu

    ", '.'1 '11111nhos mcsmo muito recentes podiam conservar vestgios de fen

    II1 'IIOS milito mais antigos; inversamente, testemunhos afastados no tempo

    pndi 1111's I,trecer fenmenos muito mais tardios [ ... ) Nos proce sos, I"

    11(1111Ivam-s(; I apenas duas culturas, mas tambm dois tempos ra li 'al-

    11ll'III' "'L rog':.n 'os".64 Os micro-historia lores se recusam a onsid 'fill'

    111'' IlIll domin ' O outrO, Eles tentam no opor morfologia 'histria I ro 'U

    1111\viII 'ltI:lr aquilo ljUl.: a listn ia a lescontinuida 1(; Ia inform:lno nos

    li/,'111 l:tr"'"r ins riro na m(;sma rcmporali la(l(; a insticuie "S hislori 'U'

    ItI I,; II '1"1'('11\lllIlltilidi'Il('I\"illll:i1 do l'II1JlO '\II\I'I'lizl .('111dll idll III,ri~ 1IIIIJll.IIII'111,11111111tllIIll1 1',1111111('11,111'111111111111dlIN, o('ivdlld:. 1IIIIIilidllN 1111t i 1111',11dll I ~lil t i 111'111dllIlItllldltll 1111I htll'll/, 1'111111qlll'dil'ililllil' I',('IIIIIIIN 111111'1Jl~'lll 1'llItllIIl1 til 11111111I11'1111iri 11111,1111\I I' tII I , 11I11'11I1'11111 11111/111:1 (: 1'111'''"11,1"11/11111111111\111/11,li 1I \ \ ( l, , j ( ' ( ; 11111111)',/ 1 ,,,/,, '11/,I' I ,I,

    11\'nte comprovadas. Simultaneamente, "o carter concreto superficial 1 0

    1~'ontecimento"65 inserido na sua durao prpria. Assim so destaca los,

    l'0r11 contextos, estratos temporais que o historiador percorre vertical hoI i1,ontalmente. Com efeito, como lembra Ginzburg, "na seco transv 'I'S:"

    ri' qualquer presente encontramos tambm as incrustaes de num rI), mi

    p,lssa los, de espessura temporal diferente (sobretudo no caso de test '11)1i

    tillos folclricos), que podem remeter a um contexto espacial muito I1HI.

    I l'n50".66

    "Muitas vezes desejamos que a iluminao mude, assim como '\ Silli:l~': Il

    lus objetos para os quais olhamos; diminumos ou aumentamos os illl 'I

    vai s e multiplicamos nossos ngulos de viso at que o aspc 'co \l1\', 11I1Ilu objeto corresponda ao julgamento que lhe prprio,,,67

    lJIT'" situa o so cial, ou seja, historicamente definida, ombin[1 111111111111'onjuntural e atual que seja - fenmenos que tm ada 11111~\III 11111

    1'1111(H':"a temporal e espacial. Assim, argumenta G. Levi, "a nallll' "/,1 JlI(

    , I >I da 's ala que opera na realidade revehda pelas lim "r1~(I~', rlllIIIII\' IIIOS so iais prprios de diferentes categorias d p 'SSO:IS ' d' dil"l 'liI "llllq os ti ' relaes estruturadas".6R egundo a boa I' '/,,1':1,11tllll'tli, (' rll'l'l

    I 1 IIllrl('I' Iljllstar sua lente s dimenses peJ'tin nr 's elo ol>j 'l(I (' IIlI'lili/ll 11'

    11111IILI~"( 's l1i:t I 'ss' jog I I ~ 's alas", do !I11:" .I:II'f1IlI' I , \I I, 1 1 , 111111 I 11I I IIIldlllllll,l1l) :1 produlivi laeJ' ""111 Sli('II,(I'I, plll'''11I1I 11 11111 1111111111I I1 11\

    11111/11111lodo' 1 so 'j 'dali"; 'Ia I' ~'II 1 Illrll 1 I I 1111 rll "111111/

    1 1 , r i, I ' \ ( ,

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    I ""111,/'/1'/1 1/ 1\111'1/1//1"'1"1'\,11, \ II (1'1),111/,I , I , ( )" 111l'II,lti 1111v , p, '1/

    'I 111 1I, 1,'1111Ii11 ,1111'1'rllI 111,11111,1111I t. I,II I, 11'111, 1111111111111,I" "1'1'1t1III, I1 '''111

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    ( 'lI -Iecer um a conexo unvoca entr e o sin gul ar (uma de terminada in gles :l1 I1 111 1a 'alada d e L ondres num a determi na da da ta) e o gera l ( a s o ciedade bri -I,lll i 'a ) S m aplain ar toda s as c1i va gens internas (de classes, ge ra es, esta tu-

    10,' -[ ',) prprias d a s ociedade in gles a, sem redu zir todos os espaos sociais

    di,. 'r 'n 'iados a um esp ao nico, a uma totali dade homognea? Devemos

    IIp or 'lU o "melansio de sta ou daquela ilh a" adere plenam ente aoco njllll-

    10 ,'0 'ia l ma is amp lo, com o qual ele tende assim a


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